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COMPORTAMENTO DE AUTOCUIDADO DE PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: RELAÇÃO COM VARIÁVEIS SOCIODEMOGRÁFICAS E CLÍNICAS

RESUMO

Objetivo:

avaliar o comportamento de autocuidado e sua relação com as variáveis sociodemográficas e clínicas de pacientes com insuficiência cardíaca.

Método:

estudo transversal e correlacional realizado em um ambulatório de miocardiopatia da cidade de São Paulo. O período da coleta de dados ocorreu entre os anos de 2018 a 2020. A amostra foi constituída por pacientes com insuficiência cardíaca que não apresentavam déficit visual, auditivo e/ou cognitivo. O comportamento de autocuidado foi avaliado pela European Heart Failure Self-care Behavior Scale. As variáveis sociodemográficas e clínicas foram selecionadas por meio de uma revisão de literatura. Para análise dos dados, utilizou-se o coeficiente de correlação de Spearman e o teste de Mann-Whitney. Fatores que apresentaram valores de p≤0,10 e as variáveis de interesse clínico foram incluídos na análise múltipla, e considerados significativos os valores de p≤0,05.

Resultados:

analisou-se 340 pacientes que tiveram escore médio de autocuidado de 24,7 pontos. Observou-se que pacientes que tomam mais medicamentos e aderem ao tratamento farmacológico têm tendência ao melhor autocuidado (p≤0,001), e pacientes sem companheiro (p=0,022), sedentários (p<0,001) e com vínculo empregatício ativo (p<0,001) tendem a ter piores escores de comportamento de autocuidado.

Conclusão:

os fatores relacionados ao comportamento de autocuidado foram a adesão ao tratamento farmacológico, o número de tomadas de medicamentos, o estado civil, o vínculo empregatício e o sedentarismo.

DESCRITORES:
Insuficiência cardíaca; Comportamento; Autocuidado; Enfermagem; Cardiologia

ABSTRACT

Objective:

to assess self-care behavior and its relationship with the sociodemographic and clinical variables of patients with heart failure.

Method:

a cross-sectional and correlational study was conducted in a cardiomyopathy outpatient clinic in São Paulo, SP, Brazil. Data were collected between 2018 and 2020. The sample consisted of patients with heart failure without visual, auditory, or cognitive deficits. Self-care behavior was assessed using the European Heart Failure Self-care Behavior Scale. Sociodemographic and clinical variables were selected through a literature review. The Spearman’s correlation coefficient and the Mann-Whitney test were used for data analysis. Factors presenting p≤0.10 and the variables of clinical interest were included in the multiple analysis, and p-values ≤ 0.05 were considered significant.

Results:

340 patients with a mean self-care score of 24.7 were analyzed. Those taking more medications and adhering to the pharmacological treatment tended to present improved self-care (p≤0.001). In contrast, patients without a partner (p=0.022), with a sedentary lifestyle (p<0.001), or employed (p<0.001) tended to present worse self-care scores.

Conclusion:

The factors related to self-care behavior were adherence to pharmacological treatment, the number of medications taken, marital status, employment, and sedentary lifestyle.

DESCRIPTORS:
Heart Failure; Behavior; Self-Care; Nursing; Cardiology

RESUMEN

Objetivo:

evaluar el comportamiento de autocuidado y su relación con las variables sociodemográficas y clínicas de pacientes con insuficiencia cardíaca.

Método:

estudio transversal y correlacional realizado en un ambulatorio de mi cardiopatía de la ciudad de Sao Paulo. El período de recogida de datos se realizó entre los años de 2018 a 2020. La muestra estuvo constituida por pacientes con insuficiencia cardíaca que no presentaban déficit visual, auditivo y/o cognitivo. El comportamiento de autocuidado fue evaluado por la European Heart Failure Self-care Behavior Scale. Las variables sociodemográficas y clínicas fueron seleccionadas por medio de una revisión de literatura. Para el análisis de los datos se utilizó el coeficiente de correlación de Spearman y el test de Mann-Whitney. Los factores que presentaron valores de p≤0,10 y las variables de interés clínico fueron incluidos en el análisis múltiple, y considerados significativos los valores de p≤0,05.

Resultados:

se analizaron 340 pacientes que obtuvieron un puntaje medio de autocuidado de 24,7 puntos. Se observó que pacientes que toman más medicamentos y adhieren al tratamiento farmacológico tienen tendencia a obtener un mejor autocuidado (p≤0,001); por otro lado, los pacientes sin compañero (p=0,022), sedentarios (p<0,001) y con vínculo de trabajo activo (p<0,001) tienden a tener peores puntajes de comportamiento de autocuidado.

Conclusión:

los factores relacionados al comportamiento de autocuidado fueron la adherencia al tratamiento farmacológico, el número de tomadas de medicamentos, el estado civil, el vínculo de empleo y el sedentarismo.

DESCRIPTORES:
Insuficiencia cardíaca; Comportamiento; Autocuidado; Enfermería; Cardiología

INTRODUÇÃO

A insuficiência cardíaca (IC) tem apresentado ascensão nos últimos anos, em razão de diversos fatores, como as transformações do perfil demográfico e características epidemiológicas da população e o avanço do tratamento11. Cestari VRF, Florêncio RS, Garces TS, Souza LC, Pessoa VLMP, Moreira TMM. Mobile app mapping for heart failure care: A scoping review. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2022 [cited 2023 Jul 8];31:e20210211. Available from: https://doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-2021-0211
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. Nos Estados Unidos da América, estima-se o aumento de 46% de casos nos próximos 15 anos22. Sokos GG, Raina A. Understanding the early mortality benefit observed in the PARADIGM-HF trial: Considerations for the management of heart failure with sacubitril/valsartan. Vasc Health Risk Manag [Internet]. 2020 [cited 2021 Nov 15];16:41-51. Available from: https://doi.org/10.2147/VHRM.S197291
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. Nos dias atuais, a IC é uma das principais causas de mortalidade no Brasil, sendo responsável pelo elevado número de internação hospitalar. No ano de 2021, o número de internações hospitalares por IC foi de 161.647 e o número de óbitos foi 21.751 em todo território nacional33. Brasil Datasus. Sistema de Informações sobre Mortalidade - SIM e Internações Hospitalares. Consolidação da base de dados de 2021 - Brasil - 2021 [Internet]. 2021 [cited 2021 Nov 15]. Available from: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sim/cnv/obt10uf.def
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. Atualmente, a cada 1.000 adultos, cinco possuem IC na Europa e espera-se que o número de internações relacionadas a esta doença seja de aproximadamente 50% nos próximos 25 anos44. McDonagh TA, Metra M, Adamo M, Gardner RS, Baumbach A, Böhm M, et al. ESC Scientific Document Group. 2021 ESC Guidelines for the diagnosis and treatment of acute and chronic heart failure. Eur Heart J [Internet]. 2021 [cited 2021 Dec 11];42(36):3599-726. Available from: https://doi.org/10.1093/eurheartj/ehab368
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. Pelas suas elevadas taxas de morbidade, os custos hospitalares também são altos. No Brasil, os custos relacionados a esta doença foram em média de R$ 37,1 bilhões entre os anos de 2010 e 2015, correspondendo a 0,7% do produto interno bruto (PIB), o que onera o Sistema Único de Saúde (SUS)55. Nascimento BR, Brant LCC, Oliveira GMM, Malachias MVB, Reis GMA, Teixeira RA, et al. Cardiovascular disease epidemiology in portuguese-speaking countries: Data from the Global Burden of Disease, 1990 to 2016. Arq Bras Cardiol [Internet]. 2018 [cited 2021 Sep 10];110(6):500-11. Available from: https://doi.org/10.5935/abc.20180098
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.

Para que se alcancem as metas planejadas do tratamento da IC, é importante que o indivíduo tenha comportamento de autocuidado adequado e adesão às recomendações farmacológicas e não farmacológicas66. Róin T, Á Lakjuni K, Kyhl K, Thomsen J, Veyhe AS, Róin Á, et al. Knowledge about heart failure and self-care persists following outpatient programme- A prospective cohort study from the Faroe Islands. Int J Circumpolar Health [Internet]. 2019 [cited 2021 Dec 11];78(1):1653139. Available from: https://doi.org/10.1080/22423982.2019.1653139
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. De acordo com a teoria de Orem, o autocuidado é uma função reguladora do ser humano com deliberação para cuidar de si mesmo ou ter ajuda de cuidadores para fornecer e manter as condições para manutenção da vida, funcionamento físico, psíquico e desenvolvimento das coisas essenciais para a vida77. Orem DE, Taylor SG, Renpenning KM. Nursing: Concepts of practice. 6th ed. St. Louis, MO(US): Mosby; 2001..

O autocuidado pode ser afetado por alterações clínicas, físicas, psicológicas e por situações sociais88. Biddle MJ, Moser DK, Pelter MM, Robinson S, Dracup K. Predictors of adherence to self-care in rural patients with heart failure. J Rural Health [Internet]. 2020 [cited 2021 Nov 10];36(1):120-9. Available from: https://doi.org/10.1111/jrh.12405
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-99. Koirala B, Dennison Himmelfarb CR, Budhathoki C, Davidson PM. Heart failure self-care, factors influencing self-care and the relationship with health-related quality of life: A cross-sectional observational study. Heliyon [Internet]. 2020 [cited 2021 Nov 18];6(2):e03412. Available from: https://doi.org/10.1016/j.heliyon.2020.e03412
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. Estudo realizado em Fortaleza, com 57 pacientes, cujo objetivo foi averiguar a influência de características sociodemográficas nas práticas de autocuidado de pessoas com IC, evidenciou que os pacientes com companheiros apresentam melhor autocuidado1010. Cavalcante LM, Lima FET, Custódio IL, Oliveira SKP, Menses LST, Oliveira ASS, et al. Influence of socio-demographic characteristics in the self-care of people with heart failure. Rev Bras Enferm [Internet]. 2018 [cited 2021 Dec 15];71 Suppl 6:2604-11. Available from: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0480
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.

Outro fator que contribui para o déficit do autocuidado é a falta de conhecimento da doença e de seu tratamento. Estudo mostrou que o autocuidado inadequado estava relacionado ao fato de o paciente não conseguir identificar os sinais e sintomas de descompensação da IC e não ter confiança no gerenciamento de seus cuidados88. Biddle MJ, Moser DK, Pelter MM, Robinson S, Dracup K. Predictors of adherence to self-care in rural patients with heart failure. J Rural Health [Internet]. 2020 [cited 2021 Nov 10];36(1):120-9. Available from: https://doi.org/10.1111/jrh.12405
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.

Outro estudo transversal, realizado no Nepal, com 221 pacientes com IC, mostrou que pacientes com maior escolaridade tinham maior manutenção e manejo do autocuidado; os que moravam sozinhos e com melhor classe funcional tinham maior confiança no autocuidado; e pacientes com maior suporte social tinham melhor autocuidado99. Koirala B, Dennison Himmelfarb CR, Budhathoki C, Davidson PM. Heart failure self-care, factors influencing self-care and the relationship with health-related quality of life: A cross-sectional observational study. Heliyon [Internet]. 2020 [cited 2021 Nov 18];6(2):e03412. Available from: https://doi.org/10.1016/j.heliyon.2020.e03412
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No Brasil, ainda são incipientes estudos que analisaram as variáveis que influenciam o comportamento de autocuidado nessa população. Ainda, pesquisadores destacam que pela heterogeneidade das populações, estudos epidemiológicos são essenciais para novas descobertas e devem ser contínuos1111. Backer G. Epidemiology and prevention of cardiovascular disease: quo vadis? Based on the 21th ESC Geoffrey Rose lecture on population sciences, ESC Congress 2016, Rome, Italy. Eur J Prev Cardiolog [Internet]. 2017 [cited 2021 Nov 19];24(7):768-72. Available from: https://doi.org/10.1177/2047487317691875
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Nesse sentido e considerando que o comportamento de autocuidado pode impactar positivamente na saúde e qualidade de vida dos indivíduos, estudos que identifiquem as características sociodemográficas e clínicas associadas a ele são cruciais para que os enfermeiros possam adaptar as estratégias de manutenção e manejo da doença nos programas multidisciplinares.

Diante ao exposto, surgiu a seguinte questão de pesquisa: qual a relação das variáveis sociodemográficas e clínicas com o comportamento de autocuidado de pacientes com IC?

Assim, o objetivo do estudo foi avaliar o comportamento de autocuidado e sua relação com as variáveis sociodemográficas e clínicas de pacientes com insuficiência cardíaca.

MÉTODO

Trata-se de um estudo transversal e correlacional. A pesquisa foi realizada em um ambulatório de miocardiopatia de um hospital terciário da cidade de São Paulo, Brasil. Neste ambulatório, são acompanhados pacientes que apresentam alterações valvares, pós-infarto agudo do miocárdio (IAM), IC e pacientes com alterações cardíacas congênitas. São atendidos aproximadamente 250 pacientes por mês e com índice de absenteísmo em torno de 10 a 20%.

O cálculo do tamanho da amostra foi realizado a partir da coleta de dados de um estudo piloto com 21 pacientes, considerando que o tempo da doença é um dos fatores mais importantes que interferem no comportamento de autocuidado de indivíduos com IC. Ao calcular o tamanho amostral pelo coeficiente de correlação de Spearman, em que se considerou o coeficiente de correlação de - 0,251, nível de significância de 5% e poder de teste de 80%, obteve-se uma amostra mínima de 297 participantes. Pelas possíveis desistências do estudo, aumentou-se 10% do tamanho amostral (n=327 pacientes).

Os critérios de inclusão foram: pacientes com IC diastólica e ou sistólica e maiores de 18 anos. Não foram incluídos os pacientes com déficit visual e/ou auditivo e/ou com déficit cognitivo diagnosticado pela equipe médica e descrito em prontuário.

O comportamento de autocuidado foi analisado pela Versão Brasileira da European Heart Failure Self-Care Behavior Scale (EHFScBs). Esta escala foi desenvolvida com base na teoria de Autocuidado de Orem e consiste em 12 questões relacionadas ao comportamento de autocuidado. As respostas para cada item variam de 1, “eu concordo plenamente” a 5, “eu discordo plenamente”. A pontuação total é obtida por meio da soma de todas as respostas, podendo variar de 12 a 60 pontos, sendo que pontuações com valores mais baixos indicam melhor autocuidado. Para a tradução no Brasil, seguiram-se as etapas de tradução, síntese, retrotradução, revisão pelo Comitê de Especialistas e pré-teste. A fidedignidade do instrumento foi avaliada pela consistência interna alfa de Cronbach e a reprodutibilidade por meio do pré e pós-teste. O alpha de Cronbach variou de 0,61 a 0,701212. Feijó MK, Ávila CW, Souza EN, Jaarsma T, Rabelo ER. Cross-cultural adaptation and Validation of the European Heart Failure Self-care Scale for Brazilian Portuguese. Rev Lat Am Enfermagem [Internet]. 2012 [cited 2021 Aug 21];20:988-96. Available from: https://doi.org/10.1590/S0104-11692012000500022
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.

As variáveis sociodemográficas e clínicas foram identificadas na literatura e categorizadas da seguinte forma: idade (anos completos), raça (branca, mestiça, negra e parda), sexo (masculino e feminino), religião (católico, evangélico, outras religiões e sem religião), escolaridade (anos de estudo), estado civil (casado/amasiado e sem companheiro), renda familiar (menos de um salário mínimo, um até três salários mínimos, mais de cinco salários mínimos e não sabe referir). Considerou-se o salário mínimo em vigor no ano de 2017 no Brasil, no valor de 937,00 reais1313. Brasil. Economia e Emprego - Política de valorização garante salário - mínimo de R$ 937 em 2017 [Internet]. 2017 [cited 2023 Jul 8]. Available from: http://www.brasil.gov.br/economiaeemprego/2016/12/politica-de-valorizacao-garante-salario-minimo-de-r-937-em2017
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, renda individual (menos de 01 salário mínimo, um até três salários mínimos, mais de três até cinco salários mínimos e não trabalha), número de pessoas que dependem da renda familiar (quantidade de pessoas), vínculo empregatício (ativo, do lar e inativo), etiologia da IC (classificada de acordo com dado contido no prontuário), classificação da IC (classe funcional I, II, III ou IV)55. Nascimento BR, Brant LCC, Oliveira GMM, Malachias MVB, Reis GMA, Teixeira RA, et al. Cardiovascular disease epidemiology in portuguese-speaking countries: Data from the Global Burden of Disease, 1990 to 2016. Arq Bras Cardiol [Internet]. 2018 [cited 2021 Sep 10];110(6):500-11. Available from: https://doi.org/10.5935/abc.20180098
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, estágio da doença (estágio A, B, C ou D)1414. Heidenreich PA, Bozkurt B, Aguilar D, Allen LA, Byun JJ, Colvin MM, et al. MM2022 AHA/ACC/HFSA Guideline for the management of heart failure: A report of the American College of Cardiology/American Heart Association Joint Committee on Clinical Practice Guidelines. Circulation [Internet]. 2022 [cited 2021 Apr 21];145(18):e895-e1032. Available from: https://doi.org/10.1161/cir.0000000000001062
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, tempo da doença (anos completos), medicamentos utilizados no domicílio (nome, dose e horário do medicamento e classe medicamentosa) e antecedentes pessoais (diagnóstico médico de hipertensão arterial sistêmica, sedentarismo, hipercolesterolemia, diabetes mellitus, síndrome coronariana aguda, arritmia, insuficiência renal crônica, doença vascular periférica, acidente vascular encefálico, depressão, hipertrigliceridemia, asma, bronquite, tabagismo, enfisema pulmonar, síndrome da imunodeficiência adquirida e ingestão de bebida alcóolica).

Considerou-se como tabagistas aqueles que fumavam diariamente ou que pararam há menos de seis meses e ex-tabagistas aqueles que pararam de fumar há mais de seis meses1515. World Health Organization. Guidelines for the conduct of tobacco smoking among health professionals, report WHO [Internet]. Canada (CA): Meeting Winnipeg; 1983 [cited 2023 Jul 8]. 19 p. Available from: https://apps.who.int/iris/handle/10665/66865
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. Indagou-se aos pacientes que relataram serem fumantes a quantidade de maços e anos que estes fumavam. O sedentarismo foi baseado nas recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), em que a realização de atividade física é definida como 150 minutos de atividade física moderada ou 75 minutos de atividade física vigorosa na semana1616. World Health Organization. Global recommendations on physical activity for health [Internet]. Genebra, (CH); 2010 [cited 2023 Jul 8]. Available from: https://www.who.int/dietphysicalactivity/global-PA-recs-2010.pdf
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. A intensidade da atividade física foi baseada no Compêndio de Atividade Física (CAF)1717. Ainsworth BE, Haskell WL, Whitt MC, Irwin ML, Swartz AM, Strath SJ, et al. Compendium of physical activities: An update of activity codes and MET intensities. Med Sci Sports Exerc [Internet]. 2000 [cited 2021 Sep 10];32(9):S498-504. Available from: https://doi.org/10.1097/00005768-200009001-00009
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. Para os pacientes que relataram fazer uso de bebida alcóolica, obteve-se informações sobre o tipo de bebida, a dose, a frequência e o tempo de uso.

A descrição das variáveis quantitativas foi feita por meio de média, desvio padrão e quartis e as qualitativas por frequências percentuais e absolutas. Para verificar diferenças de médias e distribuição entre o escore de autocuidado e as variáveis independentes categóricas, utilizaram-se os testes Mann-Whitney (variáveis independentes dicotômicas) e teste de Krukal Wallis (variáveis com mais de 02 categorias). Empregou-se o coeficiente de correlação de Spearman a fim de verificar a correlação do escore com variáveis independentes quantitativas.

Para avaliar a associação conjunta de diferentes variáveis independentes e o escore de autocuidado, inicialmente foi usado um modelo de regressão linear múltipla. Observou-se que os resíduos da regressão linear não tinham distribuição normal, por meio da construção de um gráfico de envelope. Assim, foi necessário avaliar métodos alternativos de regressão como a transformação na variável dependente ou consideração de outras distribuições de probabilidade (como Gama e Normal Inversa). A transformação logarítmica para a variável resposta foi a que apresentou melhores resultados. Todas as análises foram realizadas utilizando o Software estatístico R, versão 4.0 e consideradas estatisticamente relevantes as que obtiveram valor de p<0,05. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética Pesquisa.

RESULTADOS

Foram coletados os dados de 340 pacientes. A Tabela 1 mostra a caracterização sociodemográfica e clínica dos participantes.

Tabela 1 -
Frequências absolutas e percentuais para variáveis independentes. São Paulo, SP, Brasil, 2020-2021 (n=340).

O escore médio do comportamento de autocuidado foi de 24,7+7,8 pontos, variando de 12 a 48 pontos.

Ao analisar a relação do comportamento de autocuidado e as variáveis sociodemográficas e clínicas, observa-se que na análise univariada há uma correlação fraca e negativa no número de medicamentos tomados, em que quanto maior o número de medicamentos tomados, melhor é o autocuidado. Já os pacientes sem companheiro, com vínculo empregatício ativo ou do lar e sedentários tendem a ter piores escores de comportamento de autocuidado Tabelas 2 e 3.

Tabela 2 -
Coeficiente de correlação Spearman entre escore da European Heart Failure Self-Care Behavior Scale e variáveis independentes quantitativas. São Paulo, SP, Brasil, 2020-2021 (n=340).

Tabela 3 -
Relação do escore do comportamento de autocuidado e as variáveis independentes qualitativas. São Paulo, SP, Brasil, 2020-2021 (n=340).

A Tabela 4 apresenta os resultados do modelo de regressão com transformação logarítmica, em que se pode observar que pacientes não aderentes têm escore de autocuidado 1,223 vezes maior do que o escore de pacientes aderentes, ou seja, o paciente não aderente, em média, tem escore de autocuidado 22,3% maior do que o paciente aderente; o aumento de uma unidade no número de tomadas de medicamentos leva ao decréscimo no escore de cerca de 0,9% no escore de autocuidado; pacientes sem companheiro, em média, têm escore de autocuidado 8% maior do que os pacientes com companheiro; pacientes com vínculo ativo têm escore 11,7% maior do que os pacientes com vínculo inativo e os pacientes com vínculo do lar têm escore 20,5% maior do que os pacientes com vínculo inativo; e pacientes sedentários têm, em média, escore de comportamento de autocuidado 23,8% maior do que os pacientes não sedentários.

Tabela 4 -
Resultado do modelo de regressão múltipla considerando a transformação logarítmica para o escore do comportamento de autocuidado. São Paulo, SP, Brasil, SP, 2020-2021 (n=340).

DISCUSSÃO

Os resultados sociodemográficos identificados na presente pesquisa são semelhantes a outros estudos1818. Wu JR, Mark B, Knafl GJ, Dunbar SB, Chang PP, DeWalt DA. A multi-component, family-focused and literacy-sensitive intervention to improve medication adherence in patients with heart failure - A randomized controlled trial. Heart Lung [Internet]. 2019 [cited 2021 Apr 12];48(6):507-14. Available from: https://doi.org/10.1016/j.hrtlng.2019.05.011
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-2020. Oscalices MIL, Okuno MFP, Lopes MCBT, Batista REA, Campanharo CRV. Health literacy and adherence to treatment of patients with heart failure. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2019 [cited 2021 Nov 11];53:e03447. Available from: https://doi.org/10.1590/S1980-220X2017039803447
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. Estudo mostrou que pacientes com IC apresentam média de idade entre 51 e 66 anos1818. Wu JR, Mark B, Knafl GJ, Dunbar SB, Chang PP, DeWalt DA. A multi-component, family-focused and literacy-sensitive intervention to improve medication adherence in patients with heart failure - A randomized controlled trial. Heart Lung [Internet]. 2019 [cited 2021 Apr 12];48(6):507-14. Available from: https://doi.org/10.1016/j.hrtlng.2019.05.011
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-1919. Scalvini S, Bernocchi P, Villa S, Paganoni AM, La Rovere MT, Frigerio M. Treatment prescription, adherence, and persistence after the first hospitalization for heart failure: A population-based retrospective study on 100785 patients. Int J Cardiol [Internet]. 2021 [cited 2021 Nov 10];330:106-11. Available from: https://doi.org/10.1016/j.ijcard.2021.02.016
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. Resultados de pesquisa, realizada em São Paulo, Brasil, com 100 pacientes com IC, que tinha como um dos objetivos identificar as barreiras para a não adesão, mostraram que a maioria dos participantes tinha renda familiar de até três salários mínimos2020. Oscalices MIL, Okuno MFP, Lopes MCBT, Batista REA, Campanharo CRV. Health literacy and adherence to treatment of patients with heart failure. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2019 [cited 2021 Nov 11];53:e03447. Available from: https://doi.org/10.1590/S1980-220X2017039803447
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.

No que se refere às comorbidades, observou-se que a mais prevalente foi a hipertensão arterial sistêmica, uma das causas mais frequentes para o desenvolvimento da IC44. McDonagh TA, Metra M, Adamo M, Gardner RS, Baumbach A, Böhm M, et al. ESC Scientific Document Group. 2021 ESC Guidelines for the diagnosis and treatment of acute and chronic heart failure. Eur Heart J [Internet]. 2021 [cited 2021 Dec 11];42(36):3599-726. Available from: https://doi.org/10.1093/eurheartj/ehab368
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. O número elevado de comorbidades associadas a estes pacientes pode estar relacionado ao aumento de sobrevida desta população e pelo fato de a IC ser a via final de outras doenças cardiovascularres2020. Oscalices MIL, Okuno MFP, Lopes MCBT, Batista REA, Campanharo CRV. Health literacy and adherence to treatment of patients with heart failure. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2019 [cited 2021 Nov 11];53:e03447. Available from: https://doi.org/10.1590/S1980-220X2017039803447
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.

O escore médio da escala de autocuidado dos participantes foi de 24, resultado semelhante foi identificado em estudo realizado na Etiópia, em que os achados demonstraram que mais da metade dos participantes apresentavam bom comportamento de autocuidado2121. Fetensa G, Yadecha B, Tolossa T, Bekuma TT. Medication adherence and associated factors among chronic heart failure clients on follow up oromia region, West Ethiopia. Cardiovasc Hematol Agents Med Chem [Internet]. 2019 [cited 2021 Nov 10];17(2):104-14. Available from: https://doi.org/10.2174/1871525717666191019162254
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. Ao analisar a relação do comportamento de autocuidado com as variáveis sociodemográficas e clínicas, observou-se que pacientes não aderentes têm escore de autocuidado maior do que o escore de pacientes aderentes; o aumento do número de tomadas de medicamentos leva a um decréscimo no escore de autocuidado; pacientes sem companheiro, com vínculo ativo e sedentário têm escore de autocuidado maior. Resultados semelhantes podem ser identificados na literatura. Estudo realizado na Silésia, com 180 pacientes com IC, evidenciou que mais de 65% dos pacientes que seguiram as recomendações do uso dos medicamentos tiveram um nível bom de autocuidado2222. Mlynarska A, Golba KS, Mlynarski R. Capability for self-care of patients with heart failure. Clin Interv Aging [Internet]. 2018 [cited 2021 Oct 15];13:1919-27. Available from: https://doi.org/10.2147/CIA.S178393
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. Estudo multicêntrico, que analisou 295 pacientes com IC, observou que melhores comportamentos de autocuidado estavam relacionados com pacientes que tomavam mais de cinco medicamentos2323. Salvadó-Hernández C, Cosculluela-Torres P, Blanes-Monllor C, Parellada-Esquius N, Méndez-Galeano C, Maroto-Villanova N, et al. Insuficiencia cardiaca en atención primaria: Actitudes, conocimientos y autocuidado. Aten Primaria [Internet]. 2018 [cited 2021 Oct 12];50(4):213-21. Available from: https://doi.org/10.1016/j.aprim.2017.03.008
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. Entretanto, ainda não há um consenso na literatura sobre essa associação e os resultados dos estudos ainda são controversos, em que algumas pesquisas apontam que a polifarmácia aumenta as chances de não aderência às recomendações do tratamento1919. Scalvini S, Bernocchi P, Villa S, Paganoni AM, La Rovere MT, Frigerio M. Treatment prescription, adherence, and persistence after the first hospitalization for heart failure: A population-based retrospective study on 100785 patients. Int J Cardiol [Internet]. 2021 [cited 2021 Nov 10];330:106-11. Available from: https://doi.org/10.1016/j.ijcard.2021.02.016
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Quanto ao estado civil, dados de outro estudo corroboram nossos achados, em que evidenciou que morar sozinho foi associado a piores escores de comportamento de autocuidado66. Róin T, Á Lakjuni K, Kyhl K, Thomsen J, Veyhe AS, Róin Á, et al. Knowledge about heart failure and self-care persists following outpatient programme- A prospective cohort study from the Faroe Islands. Int J Circumpolar Health [Internet]. 2019 [cited 2021 Dec 11];78(1):1653139. Available from: https://doi.org/10.1080/22423982.2019.1653139
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. O apoio familiar é importante fator para o autocuidado destes pacientes2424. D’Almeida KSM, Barilli SLS, Souza GC, Rabelo-Silva ER. Cut-point for satisfactory adherence of the dietary sodium restriction questionnaire for patients with heart failure. Arq Bras Cardiol [Internet]. 2019 [cited 2021 Nov 21];112(2):165-70. Available from: https://doi.org/10.5935/abc.20190011
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e, nesse sentido, a família e os cuidadores devem ser inseridos no momento que o enfermeiro for realizar as orientações sobre o preparo das refeições com baixo teor de sódio, monitoramento dos sinais e sintomas do agravamento da doença e na elaboração de estratégias para garantir a adesão ao tratamento farmacológico2525. Jaarsma T, Hill L, Bayes-Genis A, La Rocca HB, Castiello T, Čelutkienė J, et al. Self-care of heart failure patients: Practical management recommendations from the Heart Failure Association of the European Society of Cardiology. Eur J Heart Fail [Internet]. 2021 [cited 2023 Jul 8];23(1):157-74. Available from: https://doi.org/10.1002/ejhf.2008
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Nesta pesquisa, os pacientes sedentários apresentaram piores escores de comportamento de autocuidado, conforme a Versão Brasileira da European Heart Failure Self-Care Behavior Scale. Estudo que avaliou o impacto de um programa de exercícios no comportamento de autocuidado de 69 pessoas com insuficiência cardíaca mostrou que houve melhora significativa no controle do autocuidado2626. Gary RA, Paul S, Corwin E, Butts B, Miller AH, Hepburn K, et al. Exercise and cognitive training intervention improves self-care, quality of life and functional capacity in persons with heart failure. J Appl Gerontol [Internet]. 2020 [cited 2021 Jun 20];13(2):809-19. Available from: https://doi.org/10.1177/0733464820964338
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. Ensaio clínico multicêntrico controlado, realizado na Austrália, com 132 indivíduos com IC, mostrou que o grupo intervenção que participou de um programa de exercício baseado no teste de caminhada de seis minutos teve melhora no comportamento de autocuidado (p=0,031) e no nível de atividade física (p=0,034)2727. Du H, Newton PJ, Budhathoki C, Everett B, Salamonson Y, Macdonald PS, et al. The home-heart-walk study, a self-administered walk test on perceived physical functioning, and self-care behaviour in people with stable chronic heart failure: A randomized controlled trial. Eur J Cardiovasc Nurs[Internet]. 2018 [cited 2021 Nov 20];17(3):235-45. Available from: https://doi.org/10.1177/1474515117729779
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. A diretriz europeia de IC enfatiza a importância da realização do exercício físico em razão da melhora da qualidade de vida e capacidade funcional desta população44. McDonagh TA, Metra M, Adamo M, Gardner RS, Baumbach A, Böhm M, et al. ESC Scientific Document Group. 2021 ESC Guidelines for the diagnosis and treatment of acute and chronic heart failure. Eur Heart J [Internet]. 2021 [cited 2021 Dec 11];42(36):3599-726. Available from: https://doi.org/10.1093/eurheartj/ehab368
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Outro resultado encontrado foi que os pacientes com algum vínculo empregatício apresentaram piores escores de comportamento de autocuidado. Estudo realizado com 100 pacientes árabes com IC mostrou que estar desempregado foi um dos preditores de melhor confiança no autocuidado (72,45±21,3 versus 64,02±18,2, p=0,05)2828. Massouh A, Abu Saad Huijer H, Meek P, Skouri H. Determinants of self-care in patients with heart failure: Observations from a developing country in the Middle East. J Transcult Nurs [Internet]. 2020 [cited 2021 Nov 21];31(3):294-303. Available from: https://doi.org/10.1177/1043659619865587
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. Este achado pode estar relacionado ao fato de que, ao trabalhar, o indivíduo reduz o suporte social, a alimentação consumida na maioria das vezes não é a recomendada e não há tempo para realização de exercícios físicos. Entretanto, esta associação também é controversa, pois resultados de outras pesquisas têm mostrado que o fato de estar desempregado piora o comportamento de autocuidado2929. Tawalbeh LI, Al-Smadi AM, AlBashtawy M, AlJezawi M, Jarrah M, Musa AS, et al. The most and the least performed self-care behaviors among patients with heart failure in Jordan. Clin Nurs Res [Internet]. 2020 [cited 2021 Oct 20];29(2):108-16. Available from: https://doi.org/10.1177/1054773818779492
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Diante dos resultados encontrados, há a necessidade da implantação de programas multidisciplinares que visem a melhora do comportamento de autocuidado de indivíduos com IC, em que o enfermeiro enfoque em ações direcionadas aos que possuem má adesão ao tratamento, sem companheiros, com vínculo empregatício ativo e sedentários. Intervenções de autocuidado reduzem os desfechos clínicos negativos da doença e melhoram a qualidade de vida dos pacientes com IC2525. Jaarsma T, Hill L, Bayes-Genis A, La Rocca HB, Castiello T, Čelutkienė J, et al. Self-care of heart failure patients: Practical management recommendations from the Heart Failure Association of the European Society of Cardiology. Eur J Heart Fail [Internet]. 2021 [cited 2023 Jul 8];23(1):157-74. Available from: https://doi.org/10.1002/ejhf.2008
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,3030. Cestari VRF, Florêncio RS, Garces TS, Souza LC, Negreiros FDS, Pessoa VLMP, et al. Codesign of a care-educational app for people with heart failure: Design, prototyping and co-implementation. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2022 [cited 2023 Jul 8];31:e20220163. Available from: https://doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-2022-0163en
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Como limitações deste estudo, tem-se que estes dados são provenientes de um estudo de desenho transversal, o que impede o estabelecimento de relações causais; a avaliação da adesão ao comportamento de autocuidado foi medida em um único momento e sabe-se que podem se modificar com o tempo. Deve-se considerar ainda que o estudo foi realizado em um único centro e em um ambulatório, e os resultados encontrados não podem ser generalizados para pacientes com características distintas da nossa população e/ou para pacientes hospitalizados. Sugere-se a realização de estudos com o intuito de investigar o impacto de intervenções de enfermagem direcionadas para indivíduos com estas características.

CONCLUSÃO

A maioria dos participantes possuía comportamento de autocuidado adequado. Os fatores relacionados aos melhores escores de autocuidado foram maior número de medicamentos tomados e adesão ao tratamento medicamentoso, e os relacionados aos piores escores foram pacientes sem companheiro, sedentários e com vínculo empregatício ativo ou do lar.

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NOTAS

  • ORIGEM DO ARTIGO

    Extraído da dissertação - Adesão ao tratamento farmacológico e comportamento de autocuidado de pacientes com insuficiência cardíaca, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, da Universidade Federal de São Paulo, em 2022.
  • APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

    Aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo - Hospital São Paulo, parecer n. 2.555.873/2018, Certificado de Apresentação para Apreciação Ética 82703318.1.0000.5505.

Editado por

EDITORES

Editores Associados: José Luís Guedes dos Santos, Ana Izabel Jatobá de Souza. Editor-chefe: Elisiane Lorenzini.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Dez 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    02 Ago 2023
  • Aceito
    03 Out 2023
Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós Graduação em Enfermagem Campus Universitário Trindade, 88040-970 Florianópolis - Santa Catarina - Brasil, Tel.: (55 48) 3721-4915 / (55 48) 3721-9043 - Florianópolis - SC - Brazil
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