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FATORES ASSOCIADOS AO USO DE ÁLCOOL POR ADOLESCENTES

RESUMO

Objetivo

analisar a associação entre uso de álcool por adolescentes e os fatores ambientais, familiares e de relações sociais.

Método

estudo epidemiológico, de coorte transversal, com amostra constituída por 303 estudantes do 9º ano do ensino fundamental de escolas públicas e particulares de Divinópolis, Minas Gerais, Brasil. Os dados foram coletados por meio da replicação dos módulos “Informações Gerais” e “Uso de Álcool” da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar - 2015. A variável resposta foi consumo de álcool na vida, associando-a a variáveis explicativas relacionadas com: morar com os pais, escolaridade materna, dependência administrativa da escola, uso de álcool por amigos e perspectivas futuras. Utilizou-se de análise univariada e multivariada por meio dos testes de qui-quadrado de Pearson e modelo de Poisson para as variâncias robustas.

Resultados

obteve-se associação na análise multivariada entre fazer uso de bebidas e pretender estudar apenas até o ensino médio ou técnico (p=0,007), continuar a estudar e trabalhar (p= 0,003), não morar com os pais (p=0,010) e ter amigos que fazem uso de álcool (p= 0,009).

Conclusão

as relações sociais foram o fator mais relevante para o uso de álcool por adolescentes, influenciado principalmente pelos amigos que fazem o uso e as relações interpessoais estabelecidas por eles.

DESCRITORES
Adolescentes; Estudos transversais; Serviços de saúde escolar; Comportamento do adolescente; Transtornos relacionados ao uso de substância; Alcoolismo

ABSTRACT

Objective

to analyze the association between alcohol use by adolescents and environmental, family and social relations factors.

Method

and epidemiological study, of the cross-sectional cohort type, with a sample consisting of 303 students from the Brazilian 9thgrade of elementary level of public and private schools in Divinópolis, Minas Gerais, Brazil. Data was collected through the replication of the “General Information” and “Use of Alcohol” modules from the National Survey of School Health - 2015. The answer variable was alcohol consumption in life, associating it with explanatory variables related to: living with parents, maternal schooling, administrative dependency of the school, alcohol use by friends, and future perspectives. Univariate and multivariate analyses were used using Pearson's chi-square tests and Poisson's model for robust variances.

Results

an association was found in the multivariate analysis between consumption of beverages and intending to study only until high school or technical school (p=0.007), continuing to study and work (p=0.003), not living with parents (p=0.010), and having friends who make use alcohol (p=0.009).

Conclusion

social relationships were the most relevant factor for alcohol consumption by adolescents, mainly influenced by friends who use it and by the interpersonal relationships established by them.

DESCRIPTORS
Adolescents; Cross-sectional studies; School health services; Adolescent behavior; Disorders related to substance use; Alcoholism

RESUMEN

Objetivo

analizar la asociación entre el consumo de alcohol por parte de adolescentes y los factores ambientales, familiares y de relaciones sociales.

Método

estudio epidemiológico de coorte transversal, con una muestra constituida por 303 estudiantes del 9º año do enseñanza fundamental de escuelas públicas y privadas de Divinópolis, Minas Gerais, Brasil. Los datos se recolectaron por medio de la replicación de los módulos de “Información general” y “Consumo de Alcohol” de la Investigación Nacional de Salud Escolar - 2015. La variable de respuesta fue el consumo de alcohol en la vida, asociándola a las variables explicativas relacionadas con lo siguiente: vivir con los padres, escolaridad materna, dependencia administrativa de la escuela, consumo de alcohol en amigos y perspectivas a futuro. Se empleó análisis univariado y multivariado por medio de las pruebas de chi-cuadrado de Pearson y el modelo de Poisson para las varianzas robustas.

Resultados

se obtuvo una asociación en el análisis multivariado entre consumir bebidas alcohólicas y tener pensado estudiar solamente hasta el nivel medio o técnico (p= 0,007), seguir estudiando y trabajar (p=0,003), no vivir con los padres (p=0,010) y tener amigos que consumen alcohol (p=0,009).

Conclusión

las relaciones sociales fueron el factor más relevante para el consumo de alcohol por parte de los adolescentes, influenciado principalmente por los amigos que lo consumen y por las relaciones interpersonales por ellos establecidas.

DESCRIPTORES
Adolescentes; Estudios transversales; Servicios de salud escolar; Comportamiento del adolescente; Trastornos relacionados con el uso de substancias; Alcoholismo

INTRODUÇÃO

O uso de álcool se encontra praticamente em todas as culturas, inclusive a brasileira.11. Jones SC. Parental provision of alcohol: a TPB-framed review of the literature. Health Promot Int [Internet]. 2016 [cited 2019 June 25];31:562-71. Available from: https://doi.org/10.1093/heapro/dav028
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Tem-se a ideia de que “todos bebem” e que o lazer está relacionado a esse ato. Poucos eventos no país ocorrem sem a venda de bebidas, assim como é forte a sua vinculação em propagandas e até patrocínio de eventos esportivos.22. Ferreira LN, Bispo Júnior JP, Sales ZN, Casotti CA, Braga Junior ACR. Prevalência e fatores associados ao consumo abusivo e a dependência de álcool. Ciênc Saúde Coletiva [Internet]. 2013 [cited 2018 Oct 20];18(11):3409-18. Available from: https://doi.org/10.1590/S1413-81232013001100030
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A superexposição do álcool também ocorre nas redes sociais nas quais os adolescentes postam fotos com bebidas e em locais em que ocorre a sua venda, tornando o consumo desejável e fonte de inclusão social.33. Torronen J, Roumeliotis F, Samuelsson E, Kraus L, Room R. Why are people drinking less than earlier? Identifying and specifying social mechanisms with a pragmatist approach. Int J Drug Policy [Internet] 2019 [cited June 25 2019];64:13-20. Available from: https://doi.org/10.1016/j.drugpo.2018.12.001
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Estudo nacional realizado em 2012 mostrou que 50% da população fazia uso de álcool, sendo que 6,8% eram dependentes e 16% bebiam nocivamente, além disso, 7,1% das mulheres e 27,3% dos homens bebiam e dirigiam,44. Laranjeira R, organizador. II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD) - 2012. São Paulo, SP(BR): Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas de Álcool e Outras Drogas (INPAD), UNIFESP; 2014. o que pode levar a acidentes automobilísticos, como apontado na Pesquisa Nacional de Saúde de 2013, em que constatou-se que, nos 12 meses anteriores à pesquisa, 3,1% da população geral havia se envolvido em acidente de trânsito com lesões corporais, sendo que esse número praticamente dobra entre os indivíduos que relataram o uso de álcool, com uma prevalência de 6,1%.55. Damacena GN, Malta DC, Boccolini CS, Souza Júnior PRB, Almeida WS, Ribeiro LS, et al. Alcohol abuse and involvement in traffic accidents in the Brazilian population, 2013. Ciênc Saúde Colet [Internet]. 2016 [cited 2019 June 25];21(12):3777-86. Available from: https://doi.org/10.1590/1413-812320152112.25692015
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Sobre os adolescentes, a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar de 2015(PeNSE 2015)66. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saúde Escolar 2015. Rio de Janeiro, RJ(BR): Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2016. mostrou que, no último mês, 23,8% fizeram uso de bebidas alcoólicas, sendo a prevalência nos meninos de 22,5% e nas meninas de 25,1%. A prevalência do uso na vida foi de 55,5% em adolescente do 9º ano do ensino fundamental.66. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saúde Escolar 2015. Rio de Janeiro, RJ(BR): Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2016.

Os adolescentes têm iniciado o uso de bebidas precocemente, com idade média 13 anos de idade ou menos.77. Raposo JCS, Costa ACQ, Valença PAM, Zarzar PM, Diniz AS, Colares V, et al. Binge drinking and illicit drug use among adolescent students. Rev Saúde Pública [Internet]. 2017 [cited 2018 Oct 20];51:83. Available from: https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2017051006863
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-88. Neves KC, Teixeira MLO, Ferreira MA. Fatores e motivação para o consumo de bebidas alcoólicas na adolescência. Esc Anna Nery [Internet]. 2015 [cited 2018 Oct 20];19(2):286-91. Available from: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-00862015000300010&lng=pt
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Quanto mais tenro o início do uso, maiores as chances de uso abusivo na vida adulta, principalmente se este uso for no padrão binge drinking.99. Gomes K, Amato TC, Bedendo A, Santos EL, Noto AR. Problemas associados ao binge drinking entre estudantes das capitais brasileiras. Ciênc Saúde Coletiva [Internet]. 2019 [cited June 25 2019];24(2):497-507. Available from: https://doi.org/10.1590/1413-81232018242.35452016
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Estudo realizado na Austrália relata que o uso de álcool na adolescência predispõe a piores níveis de saúde na vida adulta.1010. Bowden JA, Delfabbro P, Room R, Miller CL, Wilson C. Prevalence, perceptions and predictors of alcohol consumption and abstinence among South Australian school students: a cross-sectional analysis. BMC Public Health [Internet]. 2017 [cited 2019 June 25];17(1):549. Available from: https://doi.org/10.1186/s12889-017-4475-5
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Podendo-se ter alteração do desenvolvimento cerebral, influenciar no desenvolvimento comportamental, emocional e social,1111. Reis TG, Oliveira LCM. Pattern of alcohol consumption and associated factors among adolescents students of public schools in an inner city in Brazil. Rev Bras Epidemiol [Internet]. 2015 [cited 2018 Oct 20];19(1):13-24. Available from: https://doi.org/10.1590/1980-5497201500010002
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além de aumentar os níveis de dopamina, principalmente no córtex pré-frontal, desempenhando papel importante no sistema de recompensa.77. Raposo JCS, Costa ACQ, Valença PAM, Zarzar PM, Diniz AS, Colares V, et al. Binge drinking and illicit drug use among adolescent students. Rev Saúde Pública [Internet]. 2017 [cited 2018 Oct 20];51:83. Available from: https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2017051006863
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O uso precoce está ainda relacionado a insucesso escolar, com abandono dos estudos e reprovações, aumento dos comportamentos violentos e de risco, como iniciação sexual precoce, sexo desprotegido e podendo ser gatilho para o uso de outras drogas,22. Ferreira LN, Bispo Júnior JP, Sales ZN, Casotti CA, Braga Junior ACR. Prevalência e fatores associados ao consumo abusivo e a dependência de álcool. Ciênc Saúde Coletiva [Internet]. 2013 [cited 2018 Oct 20];18(11):3409-18. Available from: https://doi.org/10.1590/S1413-81232013001100030
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,44. Laranjeira R, organizador. II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD) - 2012. São Paulo, SP(BR): Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas de Álcool e Outras Drogas (INPAD), UNIFESP; 2014. mas as pesquisas tanto internacionais quanto nacionais são inconclusivas e contraditórias em vários fatores relacionados ao uso de álcool pelos adolescentes, como no caso da dependência administrativa escolar. A pesquisa Nacional de Saúde do Escolar do ano de 2015 relata maior uso entre adolescentes de escolas particulares e entre aqueles que faltam as aulas e sofrem bullying, já outras pesquisas demonstram maior uso entre estudantes de escolas particulares. O fato se daria devido ao maior poder de compra e o uso em binge drinking.1212. Locatelli D, Sanchez Z, Opaleye E, Carlini C, Noto A. Socioeconomic influences on alcohol use patterns among private school students in São Paulo. Rev Bras Psiquiatr [Internet]. 2012 [cited 2018 Oct 20];34(2):193-200. Available from: https://doi.org/10.1590/S1516-44462012000200012
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-1313. Malta DC, Mascarenhas MDM, Porto DL, Barreto SM, Morais Neto OLM. Exposure to alcohol among adolescent students and associated factors. Rev Saúde Pública [Internet]. 2014 [cited 2019 Jun 25];48(1):52-62. Available from: https://doi.org/10.1590/S0034-8910.2014048004563
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O mesmo ocorre quando se analisa a renda familiar e o consumo de bebidas por adolescente, estudo realizado em Uberlândia, Minas Gerais, relata maior uso em famílias com renda superior a três salários mínimos, já pesquisa conduzida em Diamantina, Minas Gerais, a baixa renda se associou ao uso de álcool pelo adolescente.1414. Paiva PCP, Paiva HN, Lamounier JÁ, Ferreira EF, César CAS, Zarzar PM. Consumo de álcool em binge por adolescentes escolares de 12 anos de idade e sua associação com sexo, condição socioeconômica e consumo de álcool por melhores amigos e familiares. Ciênc Saúde Colet [Internet]. 2015 [cited 2018 Oct 20];20(11):3427-35. Available from: https://doi.org/10.1590/1413-812320152011.18792014
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O uso de álcool pelos adolescentes é temático-complexo e mais pesquisas com amostragens e cenários diferentes são de extrema importância para se entender as características de uso, com o intuito de melhorias nas Políticas Públicas e de intervenções para esse público.

Tendo em vista a importância desse quadro, a escola é ambiente propício para conhecimento da realidade do uso de álcool, assim como é espaço privilegiado para implementação de Políticas Públicas. Devido a isso, a monitorização das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como o uso do álcool, tem na escola um local privilegiado para pesquisas e intervenções.1515. Faria-Filho EA. Perfil do consumo de álcool e drogas ilícitas entre adolescentes escolares de uma capital Brasileira. SMAD, Rev Eletr Saúde Mental Álcool Drog [Internet]. 2014 [cited 2018 Oct 20];10(2):78-84. Available from: https://doi.org/10.11606/issn.1806-6976.v10i2p78-84
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Assim, pesquisas devem ser realizadas para conhecer a realidade dos estudantes. Foi com esse intuito que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Ministério da Saúde (MS) conceberam em 2009 a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), cujo objetivo é o monitoramento dos fatores de risco para a saúde dos adolescentes Brasileiros, sendo que outras duas edições já foram realizadas, em 2012 e a última em 2015.66. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saúde Escolar 2015. Rio de Janeiro, RJ(BR): Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2016.

Tendo como base a relevância da temática, questiona-se: quais os fatores do ambiente, das relações sociais e familiares desses adolescentes que estão associados ao uso de bebidas alcoólicas em um município de porte médio?

O presente trabalho reaplicou os módulos de “informações gerais” e “bebidas álcoolicas” da PeNSE(2015),66. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saúde Escolar 2015. Rio de Janeiro, RJ(BR): Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2016. em uma cidade do interior de Minas Gerais, com intuito de analisar se os índices e fatores de uso de álcool por adolescente do interior do país correspondem às taxas apresentadas no inquérito Nacional, além de analisar os fatores associados ao uso por esses jovens. Tendo como objetivo: analisar a associação entre uso de álcool por adolescentes com base nos fatores ambientais, familiares e de relações sociais.

MÉTODO

Estudo epidemiológico, de tipo transversal, desenvolvido no período de maio a julho de 2017, com alunos do 9º ano do ensino fundamental de escolas públicas e particulares de Divinópolis, Minas Gerais. A cidade é de médio porte, sendo referência no Centro-Oeste mineiro, com população de mais de 200.000 mil habitantes, com perfil urbano.

O plano amostral seguiu as normas utilizadas na pesquisa original da PeNSE (2015),66. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saúde Escolar 2015. Rio de Janeiro, RJ(BR): Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2016. com uma amostragem estratificada por conglomerados em dois estágios. No primeiro estágio, as escolas da amostra foram selecionadas a partir de um cadastro de todas as escolas da cidade que possuíam turmas de 9º ano do ensino fundamental no ano de 2017. Foram relacionadas 53 escolas, sendo 10 particulares e 43 públicas, que contavam com aproximadamente 100 turmas de 9º ano e 3.000 alunos. Em seguida, foram criados dois estratos de alocação representados pela dependência administrativa (pública ou privada) das escolas e o tamanho da amostra foi distribuído proporcionalmente ao tamanho desses dois estratos, medido pelo número de turmas do 9º ano que cada um apresentava no cadastro.

O tamanho da amostra foi calculado para fornecer estimativas da prevalência do consumo de álcool nos últimos 30 dias por adolescentes do 9º do ensino fundamental, estimado em torno de 23% para Minas Gerais e Brasil de acordo com dados da PeNSE (2015). Considerando uma população de 3.000 alunos de 9º ano, com um erro amostral máximo de 5%, em valores absolutos, nível de confiança de 95% e efeito do plano amostral (efeito do desenho amostral de conglomerados) de 1,5; estimou-se uma amostra de aproximadamente 375 escolares do 9º ano.

Dado o número médio de aproximadamente 30 alunos por turma, segundo cadastro, estimou-se uma amostra de aproximadamente 13 turmas (=375/30), distribuídas proporcionalmente entre os estratos de alocação de escolas públicas e privadas, perfazendo, portanto, 2 turmas de escolas privadas e 11 de escolas públicas, sendo cada turma selecionada em cada escola sorteada. Ao todo foram aplicados 303 questionários nas 13 escolas sorteadas. As escolas foram sorteadas de forma aleatória, conseguindo abranger diferentes localidades da cidade, aumentando a diversidade da amostra.

Elencaram-se como critérios de inclusão: ser estudante do 9º ano do ensino fundamental das escolas selecionadas. Todas as turmas de 9º anos das escolas sorteadas foram visitadas anteriormente ao início da coleta de dados e receberam informações e esclarecimentos acerca da pesquisa. Para os que concordaram em participar, encaminhou-se o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para que seus pais/responsáveis consentissem com suas participações. Os alunos que possuíam alguma limitação para responder ao questionário, solicitou-se a uma monitora o auxílio.

O questionário aplicado correspondeu aos módulos de informações gerais e bebidas alcoólicas da PeNSE (2015),66. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saúde Escolar 2015. Rio de Janeiro, RJ(BR): Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2016. sendo administrado em sala de aula e preenchido pelos alunos sem a presença de professores ou funcionários da escola, no intuito dos participantes não se sentirem intimidados. Garantiu-se o total anonimato dos entrevistados. Todos os alunos que possuíam o TCLE assinado pelos pais/responsáveis e o Termo de Assentimento por eles assinados participaram da pesquisa.

Para o estudo da associação entre os fatores ambientais, familiares e de relações sociais, a variável resposta utilizada foi: consumo de álcool na vida, obtido por meio da pergunta: “Alguma vez na vida você tomou uma dose de bebida alcoólica (uma dose equivale a uma lata de cerveja ou uma taça de vinho ou uma dose de cachaça ou uísque etc.)? ” categorizada em sim ou não. Optou-se pelo uso da questão de uso de álcool na vida por ser mais abrangente e captar a experimentação do álcool pelo adolescente em algum momento em sua vida, conseguindo-se, assim, dialogar com as demais questões associadas ao desfecho. Se fosse utilizado o uso nos últimos 30 dias, se perderia a amplitude do fenômeno, pois o presente trabalho tem como foco relacionar os fatores que levam os adolescentes ao uso de álcool, seja em qual momento for. Além de ser prevalente o uso desta variável em outros estudos a respeito da temática.77. Raposo JCS, Costa ACQ, Valença PAM, Zarzar PM, Diniz AS, Colares V, et al. Binge drinking and illicit drug use among adolescent students. Rev Saúde Pública [Internet]. 2017 [cited 2018 Oct 20];51:83. Available from: https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2017051006863
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,1111. Reis TG, Oliveira LCM. Pattern of alcohol consumption and associated factors among adolescents students of public schools in an inner city in Brazil. Rev Bras Epidemiol [Internet]. 2015 [cited 2018 Oct 20];19(1):13-24. Available from: https://doi.org/10.1590/1980-5497201500010002
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As variáveis explicativas foram agrupadas em quatro categorias de covariáveis: a primeira englobou as características singulares do estudante, com indicadores quanto ao sexo (masculino/feminino); se o adolescente trabalhava (sim/não); recebia alguma remuneração(sim/não); fatores referentes a planos de futuro: escolaridade esperada (pós graduação/superior/ até médio técnico/não sabe) e quando terminar o ciclo escolar o que pretende fazer (somente continuar estudando/somente trabalhar/continuar estudando e trabalhando/seguir outro plano/não sabe). A segunda categoria referiu-se ao contexto familiar em que analisou-se a escolaridade materna (estudou até fundamental/médio ou superior) e com quem mora (pai e mãe/só mãe/nem pai e nem mãe); a categoria acerca do ambiente abrangeu a dependência administrativa escolar (pública ou privada) e a quarta categoria, o seu contexto social, por meio da questão sobre amigos que bebem (sim/não).

A entrada dos dados foi realizada concomitante ao período de coleta, sendo que tais informações foram armazenadas e organizadas em uma planilha eletrônica, no programa Excel for Windows (office 2013). Após a verificação e correção das inconsistências na digitação, os dados foram analisados eletronicamente com o auxílio do programa estatístico STATA, versão 12.0. Realizou-se uma análise descritiva de todas as variáveis estudadas e estimada a prevalência do consumo de álcool na vida com respectivo Intervalo de Confiança de 95% (IC95%). Para avaliar possíveis fatores associados ao consumo de álcool, na análise univariada, utilizou-se o teste do qui-quadrado de Pearson. Para as variâncias robustas, o modelo de Poisson foi utilizado, tanto uni como multivariado. Para a entrada das variáveis na análise multivariada, utilizou-se como referência um valor-p menor que 0,20 na análise univariada. No modelo final, permaneceram somente as variáveis com nível de significância igual ou menor do que 5%. Estimou-se os valores de Razão de Prevalência (RP), com Intervalo de Confiança 95% (IC95%).

O estudo respeitou os princípios da Resolução n° 466/12, do conselho Nacional de Saúde,

RESULTADOS

A pesquisa contou com 303 adolescentes, dos quais 54,7% eram meninos (n= 158), com idade média de 14 anos de idade. Na escolaridade materna, teve-se o predomínio do ensino fundamental, com 34,7% das mães (n=74) (Tabela 1).

Tabela 1 -
Caracterização da amostra de adolescentes do 9º ano do ensino fundamental, aplicação do módulo de informações gerais da PeNSE (2015), Divinópolis, MG, Brasil, 2017. (n=303)

A Tabela 2 traz os dados referentes aos dados sociodemográficos e a análise univariada dos fatores associados ao uso de álcool por escolares.

Tabela 2 -
Descrição sociodemográfica e análise univariada avaliando os fatores associados ao consumo de álcool, Divinópolis, MG, Brasi, 2017. (n=298)

Na caracterização do ambiente e das relações sociais desses adolescentes (Tabela 2), questionou-se quanto à escolaridade esperada, com predomínio dos alunos que pretendiam cursar a pós-graduação com 54,7% (n= 162), seguido por completar o nível superior e não saber o que fazer, ambos com a mesma porcentagem de 15,5% (n= 46). Quanto ao que esperavam fazer quando terminassem o ciclo escolar, a maioria esperava continuar a estudar e trabalhar, com 60,8% dos respondentes (n= 180). Apenas continuar a estudar apareceu em 14,2% dos questionários (n= 42).

No tocante ao adolescente trabalhar, identificou-se que a maior parcela não o fazia, mesmo percentual não possuía nenhum tipo de remuneração, 79,3%(n=238). Com relação ao ambiente do adolescente e sua rede social, 91,2%(n=249) dos amigos dos adolescentes faziam uso de bebidas alcoólicas. Quanto à pergunta com quem moravam, 64% (n= 190) moravam com ambos os pais. A descrição das características do uso de bebidas se encontra na Tabela 3.

Tabela 3 -
Caracterização dos dados do questionário sobre consumo de álcool, estudantes do 9º ano do ensino fundamental, Divinópolis, MG, Brasil, 2017. (n=298)

Na descrição das características de uso de bebidas (Tabela 3), obteve-se informação em 298 questionários, com prevalência de uso de 50,3% amostra (n=150). Analisou-se a frequência de consumo de bebidas nos últimos 30 dias, com predomínio do não uso, com 75,6% (n= 223) e média de idade para início do consumo de 13 anos de idade (12,8 ± 1,9).

Quando realizada a análise univariada dos fatores associados ao consumo de álcool (Tabela 2), estes foram significativos (p<0,05) nas seguintes associações: o que pretende fazer quando acabar o ciclo escolar, se trabalha, com quem mora e amigos que bebem. Os fatores dependência administrativa, escolaridade esperada e se possui remuneração tiveram significância limítrofe (valor-p próximo a 5%).

Observou-se maior consumo de álcool na vida na análise univariada entre adolescentes de escola pública (RP=1,63; IC95%=0,91-2,91), cuja escolaridade esperada era até ensino médio /técnico (RP=1,48; IC95%=1,14-1,92), que pretendem somente trabalhar quando terminar o ciclo escolar (RP=3,11; IC95%=1,60-6,06), que trabalham (RP=1,32; IC95%=1,04-1,67) e eram remunerados (RP=1,27; IC95%=1,01-1,63), que não moravam com nenhum dos progenitores (RP=1,82; IC95%=1,35-2,45) e que possuíam amigos que bebem (RP=4,30; IC95%=1,48-12,44). Os resultados da análise multivariada se encontram na tabela abaixo (Tabela 4).

Tabela 4 -
Análise multivariada avaliando os fatores associados ao consumo de álcool, estudantes do 9º ano do ensino fundamental, Divinópolis, MG, Brasil, 2017. (n=298)

As associações encontradas na análise multivariada foram: escolaridade esperada, o que pretende quando acabar o ciclo escolar, se trabalha, com quem mora e amigos que bebem (valores-p<0,05).

Segundo esses resultados, adolescentes que pretendem apenas estudar até o ensino médio ou técnico tem uma probabilidade 1,47 vezes maior de já terem consumido álcool que aqueles que pretendem estudar até a pós-graduação (IC95%=1,1,1-1,94).

Quando analisado o que pretendem fazer após o término do ciclo escolar, os que apenas esperam trabalhar tem uma probabilidade 1,94 vezes maior de já terem consumido álcool quando comparados àqueles que apenas pretendem continuar a estudar (significância limítrofe - IC95%=0,95; 3,95). Para os estudantes que ainda não decidiram o que seguir, a probabilidade aumenta para 2,30 vezes (IC95%=1,21-4,38). No entanto, a maior probabilidade de já terem feito o uso de álcool é dos estudantes que pretendiam trabalhar e estudar após o ciclo escolar, tendo uma probabilidade 2,36 vezes (IC9%=1,33-4,19) maior do que daqueles que gostariam apenas de continuar a estudar.

Adolescentes que trabalham tem uma probabilidade 1,87 vezes maior de já terem consumido álcool na vida (IC95%=1,54-2,28). Quanto à associação entre morar com os pais e fazer o uso de bebidas alcoólicas, observa-se que adolescentes que não moram com os progenitores tem uma probabilidade 1,44 vezes maior de já terem consumido bebidas do que os que moram com os pais (IC95%=1,09-1,90). Por fim, observa-se associação entre uso de bebidas e ter amigos que bebem (RP=3,87; IC95%=1,40-10,66).

DISCUSSÃO

O uso de bebidas alcoólicas entre adolescentes é fator observável no presente estudo, assim como seu início precoce. Realidade presente não apenas no país, mas em estudos internacionais. No México, 60,6% dos adolescentes de 13-14 anos tinham experimentado bebidas no ano de 2015, essa taxa é ainda maior em Portugal, com 80,5% dos adolescentes relatando o uso de bebidas em algum momento da vida.1616. Deodato S, Nunes E, Capelas M, Seabra P, Sarreira-Santos A, Medeiros-Garcia L. Risk behaviors to psychoactive substances use in children and young people in Lisbon. Enferm Glob [Internet]. 2017 [cited 2018 Oct 20];16(47):98-127. Available from: https://doi.org/10.6018/eglobal.16.3.253011
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-1717. Puente LAR, Castillo BAA, Castillo MMA, Castillo MTA, Garcia NAA, Rodriguez NNO. Consumo de alchohl y tabaco em adolescentes. SMAD, Rev Eletr Saúde Mental Álcool Drog [Internet]. 2016 [cited 2018 Oct 20];12(4):200-26. Available from: https://doi.org/10.11606/issn.1806-6976.v12i4p200
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A prevalência de uso de álcool no mês, encontrado no presente estudo (23,1%), concordou com a PeNSE(2015)66. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saúde Escolar 2015. Rio de Janeiro, RJ(BR): Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2016. e com estudo realizado em Diadema, São Paulo, em que se teve uma prevalência de uso de 22,6% entre os adolescentes.1818. Malbergier A, Cardoso LRD, do Amaral RA. Uso de substâncias na adolescência e problemas familiares. Cad Saúde Pública [Internet]. 2012 [cited 2018 Oct 20];28(4):678-88. Available from: https://doi.org/10.1590/S0102-311X2012000400007
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Todavia o estudo conduzido em Portugal mostra uma taxa alarmante de uso de álcool na vida por adolescentes, com 80,5% dos entrevistados relatando o uso de bebidas em algum momento da vida.1919. Jorge O, Ferreira RC, Ferreira EP, Vale MP, Kawachi I, Zorzar PM. Binge drinking and associated factors among adolescents in a city in southeastern Brazil: a longitudinal study. Cad Saúde Pública [Internet]. 2017 [cited 2019 June 25];33(2):e00183115.Available from: https://doi.org/10.1590/0102-311x00183115
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A experimentação do álcool ocorreu no início da adolescência, o que concorda com a literatura.88. Neves KC, Teixeira MLO, Ferreira MA. Fatores e motivação para o consumo de bebidas alcoólicas na adolescência. Esc Anna Nery [Internet]. 2015 [cited 2018 Oct 20];19(2):286-91. Available from: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-00862015000300010&lng=pt
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,1111. Reis TG, Oliveira LCM. Pattern of alcohol consumption and associated factors among adolescents students of public schools in an inner city in Brazil. Rev Bras Epidemiol [Internet]. 2015 [cited 2018 Oct 20];19(1):13-24. Available from: https://doi.org/10.1590/1980-5497201500010002
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O uso precoce e regular de álcool por adolescentes é responsável por alterações fisiológicas, psicológicas e imunológicas, já que o organismo do adolescente se encontra em maturação.2020. Coutinho BLM, Feitosa AA, Diniz CBC, Ramos JLS, Ribeiro LZ, Amorim SR, et al. Alcohol and drugs in adolescence: work process in health in school program. J Human Growth Develop [Internet]. 2017 [cited 2018 Oct 20];27(1):28-34. Available from: https://doi.org/10.7322/jhgd.127646
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Além dos comprometimentos físicos, o álcool influencia o comportamento, levando a um aumento da agressividade e intolerância, assim como exposição a agressões e acidentes.1919. Jorge O, Ferreira RC, Ferreira EP, Vale MP, Kawachi I, Zorzar PM. Binge drinking and associated factors among adolescents in a city in southeastern Brazil: a longitudinal study. Cad Saúde Pública [Internet]. 2017 [cited 2019 June 25];33(2):e00183115.Available from: https://doi.org/10.1590/0102-311x00183115
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Quanto ao uso de álcool entre meninos e meninas, a presente pesquisa trouxe um uso maior entre o sexo masculino, o que não concorda com a PeNSE (2015),66. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saúde Escolar 2015. Rio de Janeiro, RJ(BR): Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2016. em que o consumo foi maior entre as meninas. Já pesquisas realizadas no México e na Hungria corroboram com o presente estudo.1717. Puente LAR, Castillo BAA, Castillo MMA, Castillo MTA, Garcia NAA, Rodriguez NNO. Consumo de alchohl y tabaco em adolescentes. SMAD, Rev Eletr Saúde Mental Álcool Drog [Internet]. 2016 [cited 2018 Oct 20];12(4):200-26. Available from: https://doi.org/10.11606/issn.1806-6976.v12i4p200
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,2121. Varga S, Piko BF. Being lonely or using substances with friends? A cross- setional study of Hungarian adolescents’ health risk behaviours. BMC Public Health. [Internet]. 2015 [cited 2018 Oct 20];12:1107. Available from: https://doi.org/10.1186/s12889-015-2474-y
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Mas apesar da prevalência do uso em meninos, não se teve associação significativa entre uso de álcool e a variável sexo.

Uma possível explicação para a não associação seria que uso de álcool pelos adolescentes tem outros fatores associados que são mais relevantes que o sexo, pois se teve, nas últimas décadas, mudanças culturais que não mais diferenciam o uso entre os homens e mulheres.1111. Reis TG, Oliveira LCM. Pattern of alcohol consumption and associated factors among adolescents students of public schools in an inner city in Brazil. Rev Bras Epidemiol [Internet]. 2015 [cited 2018 Oct 20];19(1):13-24. Available from: https://doi.org/10.1590/1980-5497201500010002
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,1515. Faria-Filho EA. Perfil do consumo de álcool e drogas ilícitas entre adolescentes escolares de uma capital Brasileira. SMAD, Rev Eletr Saúde Mental Álcool Drog [Internet]. 2014 [cited 2018 Oct 20];10(2):78-84. Available from: https://doi.org/10.11606/issn.1806-6976.v10i2p78-84
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,2222. Malta DC, Oliveira- Campos M, Prado RR, Andrade SSCA, Mello FCM, Dias AJR et al. Psychoactive substance use, family context and mental health among Brazilian adolescents, National Adolescent School-based Health Survey (PeNSE 2012). Rev Bras Epidemiol [Internet]. 2014 [cited 2018 Oct 20];Suppl:46-61. Available from: https://doi.org/10.1590/1809-4503201400050005
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-2323. Silveira RE, Santos AS, Pereira GA. Consumo de álcool, tabaco e outras drogas entre adolescentes do ensino fundamental de um município brasileiro. Rev Enf Ref [Internet]. 2014 [cited 2018 Oct 20];IV(2):51-60. Available from: https://doi.org/10.12707/RIII12112
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Entre os fatores que estão associados ao uso de álcool por adolescentes, destaca-se as relações sociais e o ambiente em que esses indivíduos circulam. Essas ligações e caminhos influenciam as suas escolhas e expectativas futuras. Na pesquisa, teve-se que a maioria dos adolescentes almeja cursar a pós-graduação, mas ao mesmo tempo trabalhar. Esse planejamento futuro relaciona-se a ter uma formação, mas ao mesmo tempo uma renda que garantirá uma inserção no mundo adulto.2424. Almeida RMM, Trentini LB, Klein LA, Macuglia GR, Hammer C, Hammer M. Uso de álcool, drogas, níveis de impulsividade e agressividade em adolescentes do Rio Grande do Sul. Psico (Porto Alegre) [Internet]. 2014 [cited 2018 Oct 20];45(1):65-72. Available from: https://doi.org/10.15448/1980-8623.2014.1.12727
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Adolescentes que aspiram esse planejamento possuem maiores chances de fazerem uso de bebidas do que aqueles que apenas desejam estudar após o término do ciclo escolar. Fato que se relaciona a contemporaneidade, em que o uso de substâncias psicoativas é tido como um bem de consumo.2525. Almeida ND. Uso de álcool, tabaco e drogas por jovens e adultos da cidade de Recife. Psicol Argum [Internet]. 2011 [cited 2018 Oct 20];29(66):295-302. Available from: https://periodicos.pucpr.br/index.php/psicologiaargumento/article/view/20285
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Assim, jovens que já usam bebidas esperam sua manutenção na idade adulta, pois circulam e se relacionam com pessoas com os mesmos padrões e hábitos, constituindo sua rede social, que o influencia a querer um trabalho que gere renda para a sua manutenção. Essa renda irá propiciar ao jovem frequentar festas e locais com uso de bebidas, sendo esses considerados ambientes influentes e almejados socialmente.2626. Huang GC, Soto D, Fujmoto K, Valente T. The interplay of friendship networks and social networkin sites: longitudinal analysis of selecion and influence effects on adolescente smoking and alcohol use. Am J Public Health [Internet]. 2014 [cited 2018 Oct 20];104(8):51-59. Available from: https://doi.org/10.2105/AJPH.2014.302038
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A própria mídia e os eventos esportivos despertam nos adolescentes essas expectativas. Muitos times de futebol e eventos culturais são patrocinados por marcas de cerveja, assim como filmes e novelas relacionam o uso de álcool à desinibição social e a ambientes mais agradáveis.2727. Pettigrew S, Biagioni N, Jongenelis MI. Anticipating and addessing event-specific alcohol consumption among adolescentes. BMC Public Health [Internet]. 2016 [cited 2018 Oct 20];16:661. Available from: https://doi.org/10.1186/s12889-016-3355-8
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O uso de bebidas por esses jovens que desejam trabalhar e se verem emancipados também foi encontrado em estudo realizado na Austrália, em que, no último ano escolar, eles realizavam festas em que ocorriam grande uso de bebidas, o qual era percebido como um ritual de passagem para a vida adulta, onde não teriam mais a vigilância de pais e professores.2727. Pettigrew S, Biagioni N, Jongenelis MI. Anticipating and addessing event-specific alcohol consumption among adolescentes. BMC Public Health [Internet]. 2016 [cited 2018 Oct 20];16:661. Available from: https://doi.org/10.1186/s12889-016-3355-8
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Quanto ao adolescente que já trabalha, o presente estudo encontrou associação com o uso de álcool. Não se tem na literatura pesquisas que associam diretamente o uso de álcool e o trabalho por adolescentes. O quesito da renda familiar é mais discutido nas pesquisas, mas sem um consenso. Estudo conduzido em Uberlândia/MG associou maior consumo em famílias com rendimentos de até um salário mínimo,2323. Silveira RE, Santos AS, Pereira GA. Consumo de álcool, tabaco e outras drogas entre adolescentes do ensino fundamental de um município brasileiro. Rev Enf Ref [Internet]. 2014 [cited 2018 Oct 20];IV(2):51-60. Available from: https://doi.org/10.12707/RIII12112
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já outros estudos não relacionaram o uso de bebidas e renda per capita.33. Torronen J, Roumeliotis F, Samuelsson E, Kraus L, Room R. Why are people drinking less than earlier? Identifying and specifying social mechanisms with a pragmatist approach. Int J Drug Policy [Internet] 2019 [cited June 25 2019];64:13-20. Available from: https://doi.org/10.1016/j.drugpo.2018.12.001
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,2828. Jorge KO, Ferreira RC, Ferreira EF, Vale MP, Kawaci I, Zarzar PM. Bingr drinking and associated factors among adolescentes in a city in southeastern Brazil. a longitudinal study. Cad Saúde Pública [Internet] 2017 [cited 2018 Oct 20];33(2):e00183115. Available from: https://doi.org/10.1590/0102-311X00183115
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No caso do estudo em questão, deve-se atentar para o trabalho do adolescente e a importância das relações sociais por ele criadas. O adolescente, quando inserido em um mercado de trabalho, passa a conviver com outros grupos sociais, sendo que o autoconceito do indivíduo depende em grande parte do grupo ao qual ele pertence ou está inserido no momento.2626. Huang GC, Soto D, Fujmoto K, Valente T. The interplay of friendship networks and social networkin sites: longitudinal analysis of selecion and influence effects on adolescente smoking and alcohol use. Am J Public Health [Internet]. 2014 [cited 2018 Oct 20];104(8):51-59. Available from: https://doi.org/10.2105/AJPH.2014.302038
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Assim, o convívio em locais de trabalho com adultos ou outros jovens que fazem o uso de bebidas pode levá-lo a uma aprendizagem social.1616. Deodato S, Nunes E, Capelas M, Seabra P, Sarreira-Santos A, Medeiros-Garcia L. Risk behaviors to psychoactive substances use in children and young people in Lisbon. Enferm Glob [Internet]. 2017 [cited 2018 Oct 20];16(47):98-127. Available from: https://doi.org/10.6018/eglobal.16.3.253011
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,2626. Huang GC, Soto D, Fujmoto K, Valente T. The interplay of friendship networks and social networkin sites: longitudinal analysis of selecion and influence effects on adolescente smoking and alcohol use. Am J Public Health [Internet]. 2014 [cited 2018 Oct 20];104(8):51-59. Available from: https://doi.org/10.2105/AJPH.2014.302038
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,2929. Whiteman SD, Jensen AC, Maggs J. Similarities and diferences in adolescentes sibling’s alchohol - related atitudes, use, adn delinquency: evidence for convergente and divergente influence processes. J Youth Adolesc [Intermet]. 2014 [cited 2018 Oct 20];43(5):687-97. Available from: https://doi.org/10.1007/s10964-013-9971-z
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Outra análise importante e que se relaciona ao ambiente e às relações estabelecidas por esses jovens é a do núcleo familiar. Essa pode informar qual o nível socioeconômico e o grau de vulnerabilidade social do jovem. Na pesquisa, predominou-se famílias nucleares, com 64%(n=190), percentual um pouco maior do que o da PeNSE (2015) com 59,4% dos adolescentes morando com ambos os pais.66. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saúde Escolar 2015. Rio de Janeiro, RJ(BR): Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2016.

Quando se relacionou uso de álcool e o contexto familiar, os adolescentes que não moram com os pais tem maior probabilidade de uso de álcool. Esse resultado aparece em outras pesquisas sobre a temática. O não ter os pais presentes ou ter menos vigilância parental aumenta as chances de uso de álcool pelos adolescentes.2222. Malta DC, Oliveira- Campos M, Prado RR, Andrade SSCA, Mello FCM, Dias AJR et al. Psychoactive substance use, family context and mental health among Brazilian adolescents, National Adolescent School-based Health Survey (PeNSE 2012). Rev Bras Epidemiol [Internet]. 2014 [cited 2018 Oct 20];Suppl:46-61. Available from: https://doi.org/10.1590/1809-4503201400050005
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A presença de ambos os progenitores pode ser apontada como facilitador para a vigilância e imposição de limites. Pesquisa realizada na Inglaterra relata que o consumo de bebidas pelos adolescentes depende da comunicação dos pais para com eles, além da imposição de limites. Sendo que, uma das preocupações principais dos pais não seria com o consumo em si, mas com a quantidade de bebida ingerida.3030. Jacob N, MacArthur GJ, Hickman M, Campbell R. A qualitative investigation of the role of the Family in structuring Young people’s alcohol use. Europ J Public Health [Internet]. 2015 [cited 2018 Oct 20];26(1):102-10. Available from: https://doi.org/10.1093/eurpub/ckv123
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Destaca-se que 32% (n=95) dos entrevistados moravam apenas com a mãe, porcentagem próxima a da PenSE (2015)66. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saúde Escolar 2015. Rio de Janeiro, RJ(BR): Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2016. que foi de 30%. Sendo uma realidade nacional, que acarreta sobrecarga nas responsabilidades femininas, as quais necessitam chefiar a família e cuidar dos filhos.1212. Locatelli D, Sanchez Z, Opaleye E, Carlini C, Noto A. Socioeconomic influences on alcohol use patterns among private school students in São Paulo. Rev Bras Psiquiatr [Internet]. 2012 [cited 2018 Oct 20];34(2):193-200. Available from: https://doi.org/10.1590/S1516-44462012000200012
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Sabe-se que a maioria das mulheres recebem menos que os homens, além de muitas vezes terem uma carga maior de trabalho, podendo dificultar a vigilância parental.

A escolaridade materna pode ser utilizada como marcador socioeconômico e esperava-se uma associação com o uso de bebidas, mas não se teve associação significativa. A escolaridade materna na pesquisa foi mais elevada do que a encontrada na PeNSE (2015),66. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saúde Escolar 2015. Rio de Janeiro, RJ(BR): Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2016. sendo que o ensino superior das mães foi informado por 33,3%(n=77) dos adolescentes, já na PeNSE (2015) o percentual foi de 13,3%.66. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saúde Escolar 2015. Rio de Janeiro, RJ(BR): Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2016.

A literatura traz que a baixa escolaridade materna está relacionada a uma menor renda e com o aumento da vulnerabilidade social. Pesquisa ainda relata que a baixa renda e seu quadro de vulnerabilidade têm piores consequências quando se trata de famílias chefiadas por mulheres, pois se tem uma autorresponsabilização destas e de seus filhos adolescentes sobre a realidade vivenciada, muitas vezes levando essa família ao uso abusivo de álcool e ao abandono escolar.3131. Galhardi CC, Matsukura TS. O cotidiano de adolescentes em um Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e outras Drogas: realidades e desafios. Cad Saúde Pública [Internet]. 2018 [cited 2018 Oct 20];34(3):e00150816. Available from: https://doi.org/10.1590/0102-311x00150816
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Essa associação não foi encontrada na pesquisa, como já relatado. O que pode explicar o fato é que, em uma cidade de porte médio do interior de Minas Gerais, como a da pesquisa, os fatores interpessoais, de socialização e de circulação dos sujeitos nos ambientes são mais importantes que a renda, pois os adolescentes com renda menor circulam nos mesmos ambientes de festas e de consumo de bebidas que os de renda maior.

Isto também pode ser visualizado quando não se teve uma associação na análise multivariada, entre dependência administrativa escolar e uso de bebidas. Apenas na análise univariada essa variável surge com associação limítrofe, mostrando que estudar em escola pública seria fator de risco para o uso de álcool. A PeNSE (2015)66. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saúde Escolar 2015. Rio de Janeiro, RJ(BR): Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2016. traz uma prevalência de uso de álcool por adolescentes de escola pública de 56,2%, já a presente pesquisa trouxe uma prevalência de 52%(n=142) em escolares de escolas públicas, mas sem associação na análise multivariada.

A rede de amigos dos adolescentes merece destaque, sendo a associação mais forte presente na pesquisa. Na pesquisa, teve-se que 91,2% (n= 249) dos adolescentes têm amigos que bebem, na PeNSE (2015) esse número foi inferior, com 43,8% dos escolares afirmando possuírem amigos que consomem bebidas alcoólicas (PeNSE, 2015).66. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saúde Escolar 2015. Rio de Janeiro, RJ(BR): Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2016.

Sobre a temática, estudo realizado nos Estados Unidos da América demonstra que os adolescentes que bebem são mais extrovertidos e tendem a fazer amizade mais facilmente.2626. Huang GC, Soto D, Fujmoto K, Valente T. The interplay of friendship networks and social networkin sites: longitudinal analysis of selecion and influence effects on adolescente smoking and alcohol use. Am J Public Health [Internet]. 2014 [cited 2018 Oct 20];104(8):51-59. Available from: https://doi.org/10.2105/AJPH.2014.302038
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Pertencer a um círculo de amizade mais extrovertido é uma ambição para muitos jovens, além do que, adolescentes que pararam de fazer uso de substâncias psicoativas tem maiores dificuldades em encontrar novas amizades, ficando excluídos de diversos grupos sociais.3131. Galhardi CC, Matsukura TS. O cotidiano de adolescentes em um Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e outras Drogas: realidades e desafios. Cad Saúde Pública [Internet]. 2018 [cited 2018 Oct 20];34(3):e00150816. Available from: https://doi.org/10.1590/0102-311x00150816
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A pesquisa mostrou que ter amigos que bebem aumentam as chances de o adolescente beber em quase quatro vezes, o que corrobora com a literatura sobre a necessidade do adolescente de pertencer a um grupo. Adolescentes que usam bebidas alcoólicas tendem a selecionar indivíduos com o mesmo comportamento para o seu grupo social, assim como adolescentes que não bebem podem iniciar o uso para serem aceitos nesses grupos sociais.1818. Malbergier A, Cardoso LRD, do Amaral RA. Uso de substâncias na adolescência e problemas familiares. Cad Saúde Pública [Internet]. 2012 [cited 2018 Oct 20];28(4):678-88. Available from: https://doi.org/10.1590/S0102-311X2012000400007
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Destaca-se que, para uma análise da influência dos amigos no uso de bebidas, deve-se ampliar o escopo, captando os amigos da igreja, do bairro e de clubes. Como em pesquisa que demonstrou que grupos mais vulneráveis possuem mais amigos de sua comunidade e da igreja local, diminuindo o uso de bebidas, enquanto adolescentes menos vulneráveis tendem a um consumo em binge drinking.1818. Malbergier A, Cardoso LRD, do Amaral RA. Uso de substâncias na adolescência e problemas familiares. Cad Saúde Pública [Internet]. 2012 [cited 2018 Oct 20];28(4):678-88. Available from: https://doi.org/10.1590/S0102-311X2012000400007
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A pesquisa aqui apresentada possui o limitador de não diferenciar o tipo de amizade, sendo apenas conhecida a associação geral dessa categoria. Por isso, novos estudos sobre a rede de amizade e o uso de bebidas são de extrema importância para se entender a relação entre amizade e uso de bebidas pelos adolescentes.

O tema apresentado é complexo, sendo que o álcool é aceito culturalmente e possui fator socializador importante.2828. Jorge KO, Ferreira RC, Ferreira EF, Vale MP, Kawaci I, Zarzar PM. Bingr drinking and associated factors among adolescentes in a city in southeastern Brazil. a longitudinal study. Cad Saúde Pública [Internet] 2017 [cited 2018 Oct 20];33(2):e00183115. Available from: https://doi.org/10.1590/0102-311X00183115
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Não se tem como analisar o fenômeno sob uma única ótica. As relações sociais e os ambientes de circulação desses adolescentes merecem destaque nessa pesquisa, mas as características biológicas, familiares e psicológicas fazem parte do contexto e devem ser pesquisadas e aprofundadas.2121. Varga S, Piko BF. Being lonely or using substances with friends? A cross- setional study of Hungarian adolescents’ health risk behaviours. BMC Public Health. [Internet]. 2015 [cited 2018 Oct 20];12:1107. Available from: https://doi.org/10.1186/s12889-015-2474-y
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O segundo entrave é a própria formação dos educadores, que advém de uma comunidade com valores e verdades, e que durante a sua graduação os saberes repassados asseguram a reprodução de um contexto social. Mas em escolas em que os profissionais e a própria coordenação conseguem questionar essa reprodução social e criar um ambiente que a temática é tratada de forma aberta, tem-se chances de uma mudança comportamental. Assim, um dos importantes focos para uma prevenção e promoção em saúde perpassa por valorização do ambiente escolar, com criação de programas voltados a um diálogo construtivo e crítico sobre a temática de álcool e outras drogas.3232. Buss PM, Pellegrini Filho A. A saúde e seus determinantes sociais. Physis (Rio J). [Internet]. 2007 [cited June 26 2019];17(1):77-93. Available from: https://doi.org/10.1590/S0103-73312007000100006
https://doi.org/10.1590/S0103-7331200700...

A pesquisa foi do tipo auto aplicação, por isso algumas inconsistências podem ocorrer.3333. Santos ARP, Jaqueline GA, Silva TTM, Lopes MVO, Frazão IS. Instruments related to drug use in adolescents: an integrated review. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2018 [cited 2019 Feb 04];27(3):e0370017. Available from: https://doi.org/10.1590/0104-07072018000370017
https://doi.org/10.1590/0104-07072018000...
Em estudo realizado sobre a consistência das respostas da PeNSE de 2009 e 2012, os autores relataram que os autorrelatos sobre comportamentos de risco, principalmente entre adolescentes, podem ser omitidos ou subestimados por medo ou vergonha dos respondentes.3434. Ramos DO, Daly M, Seidl-de-Moura ML, Jomar RT, Nadanovsky P. Inconsistent reports of risk behavior among Brazilian middle school students: National School Based Survey of Adolescent Health (PeNSE 2009/2012). Cad Saúde Pública [Internet]. 2017 [cited 2018 Oct 20];33(4):e00145815. Available from: https://doi.org/10.1590/0102-311x00145815
https://doi.org/10.1590/0102-311x0014581...
Como fator de controle, foram tomadas precauções para minimizar as inconsistências.

CONCLUSÃO

O uso de álcool é socialmente aceito no país, sendo mesmo incentivado pela mídia e familiares. Analisar os fatores que levam ao adolescente a fazer o uso é complexo e multifatorial. A análise deve abranger os fatores macrossociais e microssociais. Como principal associação teve-se o uso de álcool e suas relações sociais, sendo que o adolescente tem a necessidade de aceitação e pertencimento grupal, o que o influencia nas escolhas dos amigos e nas suas perspectivas futuras.

Destaca-se os amigos como forte fator para o uso de álcool entre os adolescentes. Outras pesquisas são necessárias para aprofundar a temática, destacando local em que essa amizade se estabeleceu e o ambiente de convívio desses adolescentes, traçando, assim, a influência das amizades no uso ou não de álcool.

Quanto à comparação com os resultados da PeNSE (2015), teve-se semelhanças entre as duas amostras, demonstrando, portanto, que o uso de álcool não é fenômeno restrito às grandes cidades do país, com taxas semelhantes de uso em cidades do interior. Mostrando que o uso de álcool é fenômeno que extrapola fronteiras e se encontrada enraizado na sociedade brasileira.

Acredita-se que a presente pesquisa possa aumentar o conhecimento sobre os fatores relacionados ao uso de álcool por adolescentes, ao trazer dados que elucidam o porquê desse fenômeno. Com base nos resultados, as ações e intervenções sobre o assunto devem focar não somente no indivíduo, mas em seu grupo social. Como limitador, tem-se a autoaplicação dos questionários e a seleção de apenas alunos do 9º ano do ensino fundamental.

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NOTAS

  • FINANCIAMENTO

    Apoio da coordenação de aperfeiçoamento de pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.
  • APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

    Aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais, parecer n. 2.007.097/2017, Certificado de Apresentação para Apreciação Ética 65627317.2.0000.5149.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Ago 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    06 Fev 2019
  • Aceito
    04 Out 2019
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