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TRANSMISSÃO INTERGERACIONAL ENTRE MÃES E FILHAS QUILOMBOLAS: AUTONOMIA REPRODUTIVA E FATORES INTERVENIENTES

RESUMO

Objetivo:

analisar a autonomia reprodutiva em mulheres quilombolas e os fatores intervenientes da transmissão intergeracional entre mães e filhas.

Método:

estudo transversal e analítico desenvolvido com 160 mulheres, mães e filhas de comunidades quilombolas do município de Vitória da Conquista, Bahia. Utilizou-se o questionário da Pesquisa Nacional de Saúde para verificar características sociodemográficas e fatores intervenientes; e a Escala de Autonomia Reprodutiva. Foram aplicados testes qui-quadrado, Mann-Whitney e Wilcoxon. Os dados foram analisados através de regressão linear simples e múltipla.

Resultados:

o grupo das mães apresentou maior frequência de mulheres casadas ou com companheiro (66,2%), que trabalhavam (51,2%) e maior renda (358,00 ± 663,00). As filhas apresentaram mais anos de estudo (10,50 ± 5,00). A autonomia reprodutiva e a transmissão intergeracional entre mães e filhas ocorrem, sobretudo, nos domínios Ausência de Coerção (CCI=0,70; p=0368) e Comunicação (CCI=0,69; p=0694). A idade da mãe (β-ajustado=-0,027; p=0,039) e cor/raça da filha (β-ajustado=0,423; p=0,049) foram fatores intervenientes na transmissão intergeracional relacionada a Tomada de Decisão, associados a menor idade da mãe e ao autorreconhecimento da filha como negra.

Conclusão:

as filhas não acompanham a mesma escolha das mães, o que pode ser entendido por uma maior acessibilidade aos serviços de planejamento reprodutivo e aumento nos níveis de escolaridade. A transmissão intergeracional entre quilombolas apresenta especificidades importantes para decisões reprodutivas e possibilita melhor entendimento das informações e qualificação da assistência dos profissionais de saúde no cuidado com essas mulheres.

DESCRITORES:
Grupos Étnicos; Autonomia; Gênero; Relações familiares; Mulheres

ABSTRACT

Objective:

to analyze reproductive autonomy in quilombola women and the intervening factors of intergenerational transmission between mothers and daughters.

Method:

a cross-sectional and analytical study developed with 160 women, mothers and daughters from quilombola communities in the municipality of Vitória da Conquista, Bahia. The National Health Survey questionnaire was used to verify sociodemographic characteristics and intervening factors; and the Reproductive Autonomy Scale was also employed. The Chi-square, Mann-Whitney and Wilcoxon tests were applied. The data were analyzed by means of simple and multiple linear regression.

Results:

the group of mothers presented higher frequency of women that are married or live with a partner (66.2%), who worked (51.2%) and who had higher incomes (358.00 ± 663.00). The daughters presented more years of study (10.50 ± 5.00). Reproductive autonomy and intergenerational transmission between mothers and daughters mainly occur in the Absence of coercion (ICC=0.70; p=0368) and Communication (ICC=0.69; p=0694) domains. The mother's age (β-adjusted=-0.027; p=0.039) and the daughter's skin color/race (β-adjusted=0.423; p=0.049) were intervening factors in intergenerational transmission related to Decision-making, associated with the mother's age and with the daughter's self-recognition as black-skinned.

Conclusion:

the daughters do not follow the same choice as their mothers, which can be understood due to greater accessibility to reproductive planning services and increased schooling levels. Intergenerational transmission among quilombolas presents important specificities for reproductive decisions and enables a better understanding of the information and qualification of the health professionals' assistance in the care provided to these women.

DESCRIPTORS:
Ethnic groups; Autonomy; Gender; Family relationships; Women

RESUMEN

Objetivo:

analizar la autonomía reproductiva en mujeres quilombolas y los factores intergeneracionales de transmisión entre madres e hijas.

Método:

estudio transversal y analítico desarrollado con 160 mujeres, madres e hijas de comunidades quilombolas de la ciudad de Vitória da Conquista, Bahía. Se utilizó el cuestionario de la Pesquisa Nacional de Saúde para verificar las características sociodemográficas y los factores intervinientes; y la Escala de Autonomía Reproductiva. Se aplicaron las pruebas de Chi-cuadrado, Mann-Whitney y Wilcoxon. Los datos se analizaron mediante regresión lineal simple y múltiple.

Resultados:

el grupo de madres presentó mayor frecuencia de mujeres casadas o con pareja (66,2%), que trabajaban (51,2%) y tenían mayores ingresos (358,00 ± 663,00). Las hijas presentaron más años de escolaridad (10,50 ± 5,00). La autonomía reproductiva y la transmisión intergeneracional entre madres e hijas ocurren especialmente en los dominios Ausencia de Coerción (CCI=0,70; p=0368) y Comunicación (CCI=0,69; p=0694). La edad de la madre (β-ajustada=-0.027; p=0.039) y la etnia / raza de la hija (β-ajustada=0.423; p=0.049) fueron factores que intervinieron en la transmisión intergeneracional relacionada con la Toma de Decisiones, asociada a una menor edad de la madre y al autorreconocimiento de la hija como negra.

Conclusión:

las hijas no siguen la misma opción que sus madres, lo que puede explicarse debido a la mayor accesibilidad a los servicios de planificación reproductiva y mayores niveles de educación. La transmisión intergeneracional entre quilombolas presenta importantes especificidades para las decisiones reproductivas y permite una mejor comprensión de la información y la calificación de la asistencia de los profesionales de la salud en el cuidado de estas mujeres.

DESCRIPTORES:
Grupos étnicos; Autonomía; Género; Relaciones familiares; Mujeres

INTRODUÇÃO

Pessoas que vivem em comunidades quilombolas são caracterizadas pela sua etnia, relações de consanguinidade, familiaridade e herança de africanas(os) que foram escravizadas(os). O cotidiano revela um contexto de lutas e reivindicações pela posse de terra com exploração de maneira individual e coletiva, direito ao trabalho, cuidado à saúde e equidade, no território brasileiro11. Oliveira Freitas-Junior RA, Damasio SCA, Lisboa LL, Oliveira FAK, Azevedo GD. An innovative educational strategy to addressing cultural competence in healthcare for quilombola women, 2019. Educ Health (Abingdon) [Internet]. 2019 [cited 2020 Oct 28];32(3):146-9. Available from: https://www.educationforhealth.net/temp/educhealth323146-4859616_132956.pdf
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Nesse contexto, a socialização é considerada uma ferramenta para a formação da identidade das pessoas e a família, primordialmente mãe e pai, constitui a base inicial para esta socialização que é perpassada por gênero, raça, nacionalidade, sexualidade, classe, entre outras22. Campos MTA, Tilio RD, Crema IL. Socialização, gênero e família: uma revisão integrativa da literatura científica. Pensando Fam [Internet]. 2017 [cited 2020 Nov 28];21(1):146-61. Available from: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/penf/v21n1/v21n1a12.pdf
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A socialização cultural se refere aos processos de desenvolvimento pelos quais as crianças aprendem sobre histórias e tradições de uma cultura, adquirem crenças e valores culturais e desenvolvem atitudes positivas em relação a essa cultura, o que ocorre quase exclusivamente com os esforços das/dos mães/pais para ensinar e manter sua cultura como um patrimônio para suas/seus filhas/filhos33. Wang Y, Benner AD. Cultural socialization across contexts: family-peer congruence and adolescent well-being. J Empir Res Hum Ethics [Internet]. 2016 [cited 2020 Nov 28];45(3):594-611. Available from: https://doi.org/10.1007/s10964-016-0426-1
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As relações no contexto em que a criança se desenvolve são essenciais para a transmissão de conteúdos de forma transgeracional. Nesse sentido, a educação intrafamiliar se dedica a transmitir uma estrutura de valores que facilite o seu desenvolvimento social44. Botton A, Cúnico SD, Barcinski M, Strey MN. Os papéis parentais nas famílias: analisando aspectos transgeracionais e de gênero. Pensando Fam [Internet]. 2015 [cited 2020 Oct 28];19(2):43-56. Available from: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/penf/v19n2/v19n2a05.pdf
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Desta forma, podemos reforçar que os efeitos da socialização cultural da família são mais consistentes quando comparados à socialização entre pares, sugerindo que as/os mães/pais são agentes centrais de socialização e moldam a identidade racial/étnica das/dos filhas/filhos seguindo os valores culturais33. Wang Y, Benner AD. Cultural socialization across contexts: family-peer congruence and adolescent well-being. J Empir Res Hum Ethics [Internet]. 2016 [cited 2020 Nov 28];45(3):594-611. Available from: https://doi.org/10.1007/s10964-016-0426-1
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A literatura científica aponta, de forma expressiva, que a parentalidade é uma característica relevante da cultura e um importante sistema para a transmissão de valores culturais e comportamentos entre as gerações, pois acredita que as pessoas cuidadoras estão presentes nas atividades corriqueiras, nas escolhas, julgamentos e nas decisões que estes são orientados a tomar em relação a suas filhas/filhos55. Fonseca BR, Cavalcante LIC, Mendes DMLF. Metas de socialização da emoção: um estudo de mães residentes no meio rural. Psico (Online) [Internet]. 2017 [cited 2020 Nov 28];48(3):174-85. Available from: https://doi.org/10.15448//1980-8623.2017.3.25444
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Dentre as decisões tomadas pelas mulheres, podemos citar as reprodutivas. A autonomia reprodutiva é vista como um direito humano básico para uma vida digna e essencial, porém, as mulheres ainda encontram obstáculos para o exercício desta autonomia e da liberdade e uma das dificuldades está relacionada às suas características sociodemográficas66. Loll D, Fleming PJ, Manu A, Morhe E, Stephenson R, King EJ, et al. Reproductive autonomy and pregnancy decision-making among young Ghanaian women. Glob Public Health [internet]. 2019 [cited 2020 Dec 01];15(4):571-86. Available from: https://doi.org/10.1080/17441692.2019.1695871
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, a citar, idade, religião, estado conjugal, nível educacional, cor/raça77. Osamor P, Grady C. Factors associated with women’s health care decision-making autonomy: empirical evidence from Nigeria. J Biosoc Sci [Internet]. 2018 [cited 2020 Sep 20];50(1):70-85. Available from: https://doi.org/10.1017/S0021932017000037
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Marcado por características sexistas e patriarcais, a divisão entre o que compete ao homem e o que seria próprio da mulher ainda é transmitida e reforçada como um valor culturalmente determinado. Os estereótipos de gênero ainda estão presentes nos núcleos familiares e a perpetuação destes modelos gera impactos no modo pelo qual as gerações atuais entendem e significam a parentalidade bem como na forma como filhas e filhos reproduzirão e exercerão a maternidade e a paternidade nas gerações futuras44. Botton A, Cúnico SD, Barcinski M, Strey MN. Os papéis parentais nas famílias: analisando aspectos transgeracionais e de gênero. Pensando Fam [Internet]. 2015 [cited 2020 Oct 28];19(2):43-56. Available from: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/penf/v19n2/v19n2a05.pdf
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Estudos apontam que, no ambiente familiar, ocorrem as maiores violações ao direito das mulheres sobre a sua autonomia reprodutiva e que estas se dão em condições de desigualdades de gênero, classe e cultura88. Diuna V, Ventura M, Simas L, Larouzé B, Correa M. Women’s reproductive rights in the penitentiary system: tensions and challenges in the transformation of reality. Cienc Saude Colet [Internet]. 2016 [cited 2020 Oct 24];21(7):2041-50. Available from: https://doi.org/10.1590/1413-81232015217.21632015
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, inclusive em contextos culturais que aceitam o domínio masculino e as normas patriarcais99. Masho SW, Rozario S, Walker D, Cha S. Racial differences and the role of marital status in the association between intimate partner violence and unintended pregnancy. J Interpers Violence [Internet]. 2018 [cited 2020 Oct 24];33(20):3162-85. Available from: https://doi.org/10.1177/0886260516635317
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A efetivação da autonomia reprodutiva da mulher aponta a importância de se aprofundar a discussão, principalmente voltada para grupos populacionais com maior vulnerabilidade socioeconômica1010. Scott P, Nascimento FS, Cordeiro R, Nanes G. Redes de enfrentamento da violência contra mulheres no Sertão de Pernambuco. Rev Estud Fem [Internet]. 2016 [cited 2020 Oct 22];24(3):851-70. Available from: https://doi.org/10.1590/1806-9584-2016v24n3p851
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, como é o caso das mulheres quilombolas. A cultura das comunidades quilombolas é embasada em normas sociais e culturais e poderá ser repassada de mães para filhas em diversos aspectos, devido às questões relativas a sexismo, patriarcado e gênero.

Considerando a importância do tema que envolve relação intergeracional entre mães e filhas e autonomia reprodutiva entre mulheres quilombolas, este estudo teve como objetivo analisar a autonomia reprodutiva em mulheres quilombolas e os fatores intervenientes da transmissão intergeracional entre mães e filhas.

MÉTODO

Estudo transversal e analítico realizado nas comunidades quilombolas no município de Vitória da Conquista-Bahia localizado no centro do Território de Identidade do Sudoeste Baiano (TISB).

A escolha pelo município se deve ao fato de ser um local pertencente ao Território de Identidade Sudoeste Baiano com uma quantidade de comunidades quilombolas com características culturais próprias.

No município de Vitória da Conquista, temos 23 comunidades quilombolas certificadas pela Fundação Cultural Palmares: Boqueirão, Corta Lote, Baixa Seca, Lagoa de Melquíades, Quatis dos Fernandes, Lagoa dos Patos, São Joaquim de Paulo, Furadinho, Alto da Cabeceira, Lagoa Maria Clemência, Batalha, Lagoa do Arroz, Ribeirão do Paneleiro, Lagoa de Vitorino, Cachoeira do Rio Pardo, Sinzoca, Laranjeiras, Barreiro do Rio Pardo, São Joaquim do Sertão, Barrocas, Cachoeira das Araras, Lamarão e Cachoeira dos Porcos1111. Fundação Cultural Palmares. Comunidades remanescentes de quilombos [Internet]. 2020 [cited 2020 Sep 02]. Available from: https://www.palmares.gov.br/?page_id=37551
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Em virtude da pandemia de COVID-19 e por dificuldades logísticas, não foi possível realizar um censo populacional envolvendo todas as comunidades deste município. A impossibilidade de acessar o registro do número de famílias por comunidade quilombola também inviabilizou a utilização de uma amostra probabilística. Assim, optou-se por conduzir a pesquisa em apenas nove comunidades, por meio de uma amostra do tipo não probabilística por conveniência que incluiu mulheres que atenderam aos seguintes critérios de inclusão: mulher em idade reprodutiva de 18 a 49 anos; mães e filhas de comunidade quilombola certificada pela Fundação Cultural Palmares no município de Vitória da Conquista, que autorizaram a visita para coleta dos dados e que assinassem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram excluídas as mulheres (mães e/ou filhas) que não residiam na comunidade no momento, que apresentassem doenças cognitivas ou psiquiátricas que pudessem dificultar a compreensão do instrumento da coleta de dados e as que, por algum motivo, não finalizassem a entrevista.

Buscando dar uma maior representatividade territorial, o município foi dividido em Eixos (Eixo 1 - Quadrante Central; Eixo 2 - Quadrante Norte; Eixo 3 - Quadrante Centro-Oeste; e Eixo 4 - Quadrante Sul). Então, as nove comunidades foram sorteadas, obedecendo à proporcionalidade por eixo, resultando na seleção das seguintes comunidades: Ribeirão do Paneleiro, Barrocas, Boqueirão, Sinzoca, Lagoa dos Patos, Laranjeiras, São Joaquim do Sertão, Lagoa Maria Clemência e Lagoa de Melquíades.

A aproximação inicial foi realizada com o Conselho das Associações Quilombolas do Território do Sudoeste Baiano (CAQSUB), participando de reuniões com a presença das lideranças representantes de cada comunidade deste território. Essa aproximação foi importante, pois estabeleceu confiança e parcerias com as mulheres lideranças de cada comunidade, permitindo o elo entre a pesquisadora e as participantes da pesquisa.

Esses encontros nas comunidades estudadas aconteceram de forma previamente agendada com as líderes destas comunidades após o contato feito por elas com as mulheres a serem entrevistadas. Os dias e horários foram estabelecidos de acordo com a disponibilidade da população em estudo para cada comunidade. Essa parceria foi extremamente relevante e necessária para o desenvolvimento da pesquisa.

As lideranças comunitárias realizaram o levantamento das mulheres quilombolas (mães e filhas) que se enquadravam nos critérios de inclusão da pesquisa e, a partir daí, foram realizadas visitas aos respectivos domicílios, onde foram feitos os convites às mulheres quilombolas com agendamento de horário e dia oportunos para a aplicação dos instrumentos para a coleta dos dados.

Considerando que não houve nenhuma recusa, todas as mulheres das nove comunidades selecionadas que preenchiam os critérios de inclusão fizeram parte da amostra. Desta forma, a amostra de estudo foi composta por 160 mulheres quilombolas (80 mães e 80 filhas), duas de Ribeirão do Paneleiro, 24 de Barrocas, 26 de Boqueirão, duas de Sinzoca, 10 de Lagoa dos Patos, 14 de Laranjeiras, 12 de São Joaquim do Sertão, 38 de Lagoa de Maria Clemência e 32 de Lagoa de Melquíades.

Os dados foram coletados entre os meses de julho de 2019 e março de 2020, por meio de entrevista individual realizada pela própria pesquisadora em companhia de líderes quilombolas de cada comunidade estudada. Para a coleta de dados, foram utilizados dois instrumentos descritos a seguir:

O primeiro instrumento, o questionário adaptado da Pesquisa Nacional de Saúde1212. Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz). Pesquisa Nacional de Saúde - PNS. Delineamento da PNS [Internet]. 2013 [cited 2020 Aug 20]. Available from: https://www.pns.icict.fiocruz.br/index.php?pag=delineamento
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, foi utilizado para contemplar, como variáveis independentes, as características sociodemográficas relativas às mulheres (idade, estado civil, grau de instrução, cor/raça autodeclarada, se tem trabalho atual, renda individual, religião).

O segundo foi a Escala de Autonomia Reprodutiva1313. Upadhyay UD, Dworkin SL, Weitz TA, Foster DG. Development and validation of a reproductive autonomy scale. Stud Fam Plann [Internet]. 2014 [cited 2020 Dec 11];45(1):19-41. Available from: https://doi.org/10.1111/j.1728-4465.2014.00374.x
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, que foi adaptada culturalmente para aplicação em mulheres brasileiras e demonstrou boa confiabilidade1414. Fernandes ETBS, Dias ACS, Ferreira SL, Marques GCM, Pereira COJ. Cultural and reliable adaptation of the Reproductive Autonomy Scale for women in Brazil. Acta Paul Enferm [Internet]. 2019 [cited 2020 Dec 02];32(3):298-304. Available from: https://doi.org/10.1590/1982-0194201900041
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. Todas as informações sobre a estrutura, itens, propriedades psicométricas e forma de cálculo dos escores da Escala de Autonomia Reprodutiva podem ser encontradas em estudo previamente publicado por nosso grupo de pesquisa1414. Fernandes ETBS, Dias ACS, Ferreira SL, Marques GCM, Pereira COJ. Cultural and reliable adaptation of the Reproductive Autonomy Scale for women in Brazil. Acta Paul Enferm [Internet]. 2019 [cited 2020 Dec 02];32(3):298-304. Available from: https://doi.org/10.1590/1982-0194201900041
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Resumidamente, a Escala de Autonomia Reprodutiva é constituída por 14 itens e subdivida em três subescalas: (i) “tomada de decisão” (quatro perguntas), (ii) “ausência de coerção” e (iii) “comunicação” (ambas constituídas de cinco questões).

Para cada uma das três subescalas, é contabilizada uma pontuação média, com pontuações mais altas indicando níveis mais elevados de autonomia reprodutiva. Contudo, para calcular o escore da subescala “ausência de coerção”, é necessária a inversão da pontuação dos itens visto que as questões deste constructo são de cunho invertido (i.e., contrários à autonomia reprodutiva)1313. Upadhyay UD, Dworkin SL, Weitz TA, Foster DG. Development and validation of a reproductive autonomy scale. Stud Fam Plann [Internet]. 2014 [cited 2020 Dec 11];45(1):19-41. Available from: https://doi.org/10.1111/j.1728-4465.2014.00374.x
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Os dados foram tabulados em planilhas do Software Excel 2010. Utilizou-se procedimentos da estatística descritiva para expressar os resultados como frequências absolutas e relativas, médias ou medianas e desvios padrão ou amplitudes interquartis. Verificou-se a normalidade das variáveis quantitativas por meio do teste Kolmogorov-Smirnov.

Para a comparação das características sociodemográficas entre mães e filhas, utilizou-se os testes qui-quadrado, para as variáveis qualitativas, e o teste Mann-Whitney, para as variáveis quantitativas. Com o intuito de avaliar a transmissão intergeracional da autonomia reprodutiva, cada filha foi pareada a sua mãe e, então, procedeu-se com o teste Wilcoxon para comparar os escores entre mães e filhas. O coeficiente de correlação intraclasse (CCI) e o método de Bland e Altman1515. Bland JM, Altman DG. Statistical methods for assessing agreement between two methods of clinical measurement. Lancet [Internet]. 1986 [cited 2020 Dec 02];1(8476):307-10. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/2868172/
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, foram usados como medidas de concordância.

O grau de concordância pelo CCI foi interpretado da seguinte forma: CCI <0,40 = concordância pobre; 0,40≤CCI<0,75 = concordância satisfatória a boa; CCI ≥0,75 = concordância excelente1616. Matos DAS. Confiabilidade e concordância entre juízes: aplicações na área educacional. Est Aval Educ [Internet]. 2014 [cited 2020 Aug 20];25(59):298-324. Available from: https://doi.org/10.18222/eae255920142750
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. Análises de regressão linear simples e múltipla foram conduzidas para avaliar possíveis fatores intervenientes da transmissão intergeracional em constructos da autonomia reprodutiva que não foi observada evidência de transmissão de mães para filhas.

O modelo múltiplo foi construído usando o método backward, pelo qual todas as características sociodemográficas avaliadas (variáveis independentes) foram inicialmente incorporadas ao modelo e, subsequentemente, as variáveis com os maiores valores de alfa (α) foram removidas uma a uma até que fosse atingido o valor mínimo de 0,10. Assim, todas as variáveis independentes que alcançaram um α ≤0,10 foram mantidas no modelo final para fins de ajuste.

O nível de significância adotado no estudo foi de 5% (α = 0,05) e todas as análises foram realizadas no IBM SPSS Statistics para Windows (IBM SPSS. 21.0, 2012, Armonk, NY: IBM Corp.) e MedCalc versão 9.1.0.1 (2006, Mariakerke, Belgium).

A pesquisa foi pautada nos preceitos éticos que regem a Resolução nº 466/ 2012 do Conselho Nacional de Saúde. Após a aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa, iniciou-se a coleta de dados, sendo as participantes inicialmente esclarecidas acerca dos objetivos da pesquisa, da garantia à privacidade e confidencialidade das informações, do direito de desistir a qualquer momento sem qualquer prejuízo e da sua contribuição voluntária. Não havendo recusa, todas assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

RESULTADOS

As características sociodemográficas verificadas nas 80 mães e 80 filhas incluídas no estudo são descritas na Tabela 1. O grupo das mães apresentou maior frequência (66,2%) de mulheres casadas ou com companheiro, que trabalhavam atualmente (51,2%) e maior renda individual mensal (mediana = 358 reais vs. 130 reais). Essas diferenças entre as proporções foram estatisticamente significantes, quando comparadas às do grupo das filhas.

Observa-se que, entre as mães que trabalham, as atividades laborais que mais se destacam são: lavradora (41,25%), empregada doméstica (16,5%) e diarista (6,25%); entre as filhas que trabalham, as atividades mais relatadas foram empregada doméstica (15%), babá (7,5%) e lavradora (6,25%). A fonte de renda mensal das mães e filhas se refere ao trabalho e ao programa Bolsa Família.

Por outro lado, as filhas apresentaram mais anos de estudo (10,50 anos),e não foram observadas diferenças estatísticas entre mães e filhas em relação a cor/raça e religião.

Quanto à cor/raça autodeclarada, obteve-se duas classificações que são branca e negra, sendo que negras representa a somatória das mulheres que se autodeclararam pretas e pardas. No que se refere à religião, consideramos na categoria de não católica as demais respostas que foram: não tem religião e a religião Evangélica.

Tabela 1 -
Diferenças entre proporções de mães e filhas participantes do estudo, segundo características sociodemográficas. Vitória da Conquista, BA, Brasil, 2020. (n=160)

Na Tabela 2, são apresentadas as comparações entre mães e filhas e o coeficiente de correlação intraclasse (CCI) para os escores de autonomia reprodutiva. As análises indicaram que não houve diferença estatística nos escores de autonomia reprodutiva entre mães e filhas, tanto no que se refere às três dimensões da escala (Tomada de decisão, Ausência de coerção e Comunicação) quanto na autonomia reprodutiva total. Apesar disso, observou-se, por meio do CCI, ausência de concordância entre mães e filhas para a dimensão Tomada de decisão (CCI- 0,22), enquanto para os constructos Ausência de coerção (CCI- 0,70), Comunicação (CCI- 0,69) e Escore total (CCI- 0,71) foi verificada concordância de satisfatória a boa, estatisticamente significantes.

Tabela 2 -
Distribuição das Médias ± DP, valor de p e CCI, entre mães e filhas participantes do estudo segundo variáveis da subescala de autonomia reprodutiva. Vitória da Conquista, BA, Brasil, 2020 (n=160)

A análise de Bland-Altman mostrou menor concordância na autonomia reprodutiva entre mães e filhas para a dimensão Tomada de decisão e maior concordância para os constructos Ausência de coerção, Comunicação e Escore total (Figura 1).

Figura 1 -
Gráficos de Bland-Altman para as diferenças médias entre mães e filhas nos escores de autonomia reprodutiva: A, tomada de decisão; B, ausência de coerção; C, comunicação; D, total. Vitória da Conquista, BA, Brasil, 2020.

A análise de regressão foi conduzida na tentativa de identificar fatores intervenientes da transmissão intergeracional na autonomia reprodutiva relacionada à subescala “Tomada de decisão”. Após a aplicação do método backward, apenas duas variáveis (idade da mãe e cor/raça da filha) permaneceram no modelo de predição da diferença entre filhas e mães no escore de autonomia reprodutiva do constructo Tomada de decisão, sendo que as demais variáveis foram excluídas por não terem atingido o critério estatístico de permanência no modelo (p-valor ≤0,10).

Na Tabela 3, são apresentados os resultados das regressões lineares simples e múltipla para a predição da diferença entre filhas e mães no escore de autonomia reprodutiva do constructo Tomada de decisão. A análise univariada indicou que apenas a cor/raça da filha foi associada diferença entre filhas e mães no escore de Tomada de decisão. Já o modelo de regressão múltipla demonstrou que a idade da mãe (associação negativa) e a cor/raça das filhas (associação positiva) foram preditores independentes da diferença entre filhas e mães no escore do constructo Tomada de decisão. Esses resultados sugerem que a transmissão intergeracional relacionada à “Tomada de decisão” é menor quando as mães são mais jovens e as filhas se autodeclaram como negras.

Tabela 3 -
Associação bruta e ajustada entre o escore de autonomia reprodutiva do constructo tomada de decisão de mães e filhas estudadas e variáveis sociodemográficas. Vitória da Conquista, BA, Brasil, 2020. (n=160)

DISCUSSÃO

As mulheres quilombolas constituem um grupo social marcado por influências culturais e por diferentes marcadores sociais como gênero, raça/etnia e geração que impactam nas suas condições de vida, trabalho, relações afetivas/sexuais, entretanto, é possível considerar, nos estudos de gênero, a possibilidade de reconstrução de uma nova realidade1717. Grossi PK, Oliveira SB, Oliveira JL. Mulheres quilombolas, violência e as interseccionalidades de gênero, etnia, classe social e geração. Rev Politicas Publicas [Internet]. 2018 [cited 2020 Aug 20];22:929-48. Available from: http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/rppublica/article/view/9825/5781
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Contudo, na análise de similaridade intergeracional entre as características sociodemográficas de mães e filhas quilombolas deste estudo, foi evidenciado que não houve diferenças estatísticas (p-valor>0,05) para as variáveis cor/raça e religião. Desta forma, podemos sugerir para estas variáveis que a mãe pode ter servido de referência ou modelo para a transmissão de comportamento social para a sua filha.

Este fato pode ter ocorrido por considerar a mãe como o principal agente de socialização que busca estimular, entre as suas filhas, comportamentos que são considerados pertinentes ou corretos1818. Fernandes AV, Alexandre MES, Galvão LKS. Socialização em sentimentos empáticos com díades mãe-filho. Rev Bras Iniciaç Cient [Internet]. 2014 [cited 2020 Sep 10];2(3):112-27. Available from: https://periodicos.itp.ifsp.edu.br/index.php/IC/article/view/22/450
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O núcleo familiar possui relações interpessoais próprias e singulares que podem transmitir diversos modelos de comportamento e vivência e, nesse sentido, parte da identidade de cada sujeito está relacionada à estrutura de sua família. Sendo assim, as experiências socializadoras, aquelas mantidas no ambiente familiar, definirão as possibilidades e limites de suas trajetórias44. Botton A, Cúnico SD, Barcinski M, Strey MN. Os papéis parentais nas famílias: analisando aspectos transgeracionais e de gênero. Pensando Fam [Internet]. 2015 [cited 2020 Oct 28];19(2):43-56. Available from: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/penf/v19n2/v19n2a05.pdf
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Com relação à variável cor/raça, reafirmamos a existência do racismo estrutural na nossa sociedade que molda todos os aspectos da vida social. Assim, a mãe quilombola negra pode ter sido influenciada por fatores externos, como a religião católica, ou internos, pela presença de mulheres brancas que se casaram com homens negros e vivem nos quilombos. As mães se esforçam para preservar a cultura e a herança em diversos contextos entre os seus filhos, inclusive na relação com grupos pertencentes ao mesmo grupo étnico para o bem-estar socioemocional, caso contrário, torna-se mais difícil o convívio quando ocorre diferenças em expectativas e valores, o que poderá gerar sentimentos conflitantes e estressores do bem-estar psicológico33. Wang Y, Benner AD. Cultural socialization across contexts: family-peer congruence and adolescent well-being. J Empir Res Hum Ethics [Internet]. 2016 [cited 2020 Nov 28];45(3):594-611. Available from: https://doi.org/10.1007/s10964-016-0426-1
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A relação entre religião e a similaridade intergeracional neste estudo pode ter ocorrido porque esta variável é frequentemente sujeita às influências sociocultural, histórica e familiar, sendo que a mãe tem maior prática com a religião e maior probabilidade de modelar a filha por ser mais semelhante a si mesma. Situação semelhante ocorreu em um estudo realizado com mães e filhas que apontou que as crenças religiosas das mães estavam associadas às crenças das filhas, o que pode sugerir um processo de socialização da filha devido ao ambiente familiar1919. Halgunseth LC, Jensen AC, Sakuma KL, Mchale SM. The Role of mothers' and fathers' religiosity in African American adolescents' religious beliefs and practices. Cult Divers Ethn Minor Psychol [Internet]. 2016 [cited 2020 Sep 20];22(3):386-94. Available from: https://doi.org/10.1037/cdp0000071
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Não há similaridade intergeracional em duas variáveis: estado conjugal e a escolaridade. Mesmo sendo o estado conjugal de casada considerado como um padrão familiar entre famílias tradicionais, neste estudo, ocorreu com maior frequência para a primeira geração de mulheres. Contrapondo este resultado, pode-se dar pelo fato que as filhas têm como média de idade 21 anos e, com o passar do tempo, a mulher vai determinando prioridades, a exemplo, antes, planejar uma família, hoje, entrar no mercado de trabalho2020. Almeida APF, Assis MM. Efeitos colaterais e alterações fisiológicas relacionadas ao uso contínuo de anticoncepcionais hormonais orais. Rev Eletron Atualiza Saúde [Internet]. 2017 [cited 2020 Mar 12];5(5):85-93. Available from: http://co.unicaen.com.br:89/periodicos/index.php/UNICA/article/view/57/51
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Com relação ao nível de escolaridade, identifica-se que as filhas apresentaram mais anos de estudos quando comparadas às mães. Há um esforço das mães para aumentar a escolarização das filhas, pois reconhecem os benefícios da educação para a mudança de status social, para diminuir as desigualdades a que são sujeitas. Ainda assim, a comunidade quilombola apresenta fatores desfavoráveis para desigualdades sociais, dentre elas, o nível de escolaridade2121. Freitas IA, Rodrigues ILA, Silva IFS, Nogueira LMV. Perfil sociodemográfico e epidemiológico de uma comunidade quilombola na Amazônia Brasileira. Rev Cuid [Internet]. 2018 [cited 2020 Oct 19];9(2):2187-200. Available from: https://doi.org/10.15649/cuidarte.v9i2.521
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, sendo o baixo nível de escolaridade comum entre famílias desfavorecidas2222. Freire BH, Roazzi A, Roazzi MM. O nível de escolaridade dos pais interfere na permanência dos filhos na escola? Rev Investing Psicol (Online) [Internet]. 2015 [cited 2020 Oct 11];2(1):35-40. Available from: https://doi.org/10.17979/reipe.2015.2.1.721
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Esta característica se tornou um ponto diferencial e positivo quando se trata de questões relacionadas à transmissão intergeracional, pois reflete a existência de um comportamento positivo entre as filhas para a busca de uma melhoria de vida2222. Freire BH, Roazzi A, Roazzi MM. O nível de escolaridade dos pais interfere na permanência dos filhos na escola? Rev Investing Psicol (Online) [Internet]. 2015 [cited 2020 Oct 11];2(1):35-40. Available from: https://doi.org/10.17979/reipe.2015.2.1.721
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Sabe-se da complexidade e dificuldade de avaliar a autonomia reprodutiva e a relação intergeracional entre mulheres, em especial, as quilombolas. Para entender como se mostrou esta relação com a população deste estudo, foi utilizado a Escala de Autonomia Reprodutiva e a análise das subescalas1313. Upadhyay UD, Dworkin SL, Weitz TA, Foster DG. Development and validation of a reproductive autonomy scale. Stud Fam Plann [Internet]. 2014 [cited 2020 Dec 11];45(1):19-41. Available from: https://doi.org/10.1111/j.1728-4465.2014.00374.x
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As mães e filhas quilombolas não apresentaram diferença estatisticamente significante (p-valor>0,05) para as subescalas “Tomada de decisão”, “Ausência de coerção” e “Comunicação”, ou seja, apresentaram similaridade de comportamento para cada uma destas subescalas. Este resultado poderá ser justificado devido ao processo de socialização ter maior alcance quando a modelação acontece em indivíduos que são mais semelhantes em relação a contextos históricos e culturais1919. Halgunseth LC, Jensen AC, Sakuma KL, Mchale SM. The Role of mothers' and fathers' religiosity in African American adolescents' religious beliefs and practices. Cult Divers Ethn Minor Psychol [Internet]. 2016 [cited 2020 Sep 20];22(3):386-94. Available from: https://doi.org/10.1037/cdp0000071
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Porém, na análise mais rebuscada através do teste de concordância, foi possível identificar que existiu concordância entre filhas e mães de forma satisfatória a boa para as subescalas “Ausência de coerção” e “Comunicação”. A primeira mede a presença da coerção, por parte dos parceiros, relativa a questões como: se houve impedimento por parte do seu parceiro de usar um método para evitar a gravidez quando você queria usar um; se seu parceiro atrapalhou ou dificultou o uso de um método, quando você queria usar um; se seu parceiro te fez usar algum método quando você não queria; se seu parceiro te impediu de usar um método para evitar gravidez se você quisesse usar um e se seu parceiro te pressionou a engravidar. A segunda este relacionada à situação de confortabilidade da mulher em conversar com seu parceiro sobre suas escolhas reprodutivas.

Nos estudos científicos, é apontado que nas comunidades quilombolas, o homem assume papel social associado à masculinidade e a mulher um papel submisso ao homem2323. Barroso SM, Melo AP, Guimarães MDC. Factors associated with depression: sex differences between residents of Quilombo communities. Rev Bras Epidemiol [Internet]. 2015 [cited 2020 Dec 07];18(2):503-14. Available from: https://doi.org/10.1590/1980-5497201500020017
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. Situação semelhante foi observada em mulheres dentro de famílias em uma comunidade rural mais conservadora em termos de relações de gênero, na África2424. Adjiwanou V, N’bouke A. Exploring the paradox of intimate partner violence and increased contraceptive use in sub-Saharan Africa. Stud Fam Plann [Internet]. 2015 [cited 2020 Dec 18];46(2):127-42. Available from: https://doi.org/10.1111/j.1728-4465.2015.00020.x
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Provavelmente o homem quilombola tem total domínio sobre os desejos reprodutivos da companheira, pois entre as mulheres negras, a coerção reprodutiva ocorre em maior probabilidade quando comparada a mulher branca, indicativo de uma construção social profundamente enraizada de que o homem é que decide pela mulher2525. Holliday CN, Miller E, Decker MR, Tancreti DJ, Burke JG, Tancredi DJ, Ricci E, Mccauley HL, et al. Racial differences in pregnancy intention, reproductive coercion, and partner violence among family planning clients: a qualitative exploration. Women's Health Issues [Internet]. 2015 [cited 2020 Dec 19];28(3):205-11. Available from: https://doi.org/10.1016/j.whi.2018.02.003
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O empoderamento das mulheres possibilita tomada de decisões e ampliação da capacidade crítico-reflexiva das mesmas para olhar a realidade onde se relacionam, vivem e trabalham, além de ser considerada ferramenta da promoção da saúde pois busca alicerçar estratégias de fortalecimento de populações vulneráveis e consequente melhoria da qualidade de vida, cidadania e redução das iniquidades em saúde2626. Durand MK, Heidemann ITSB. Quilombola women and Paulo Freire’s research itinerary. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2020 [cited 2020 Dec 08];29:e20180270. Available from: https://doi.org/10.1590/1980-265X-tce-2018-0270
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Esta construção social e histórica poderia reforçar a coerção reprodutiva a ser sofrida pela mulher quilombola, porém, chama a atenção neste estudo, no tocante à subescala “Ausência de coerção” que, visto que as mães afirmaram não sofrer coerção reprodutiva, subentende-se que este desempenho foi apreendido pela filha, através da relação intergeracional1919. Halgunseth LC, Jensen AC, Sakuma KL, Mchale SM. The Role of mothers' and fathers' religiosity in African American adolescents' religious beliefs and practices. Cult Divers Ethn Minor Psychol [Internet]. 2016 [cited 2020 Sep 20];22(3):386-94. Available from: https://doi.org/10.1037/cdp0000071
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, Como já exposto, mulheres quilombolas vivem em um contexto social e culturalmente conservador e desigual em termos de desigualdade de gênero ao se considerar a autonomia das mulheres. Isso reforça que as mulheres em diferentes contextos, podem apresentar similaridades ou não sobre autonomia reprodutiva. Assim, torna-se relevante a necessidade de mais estudos para uma melhor compreensão sobre o tema coerção reprodutiva e comunidades tradicionais.

Com o intuito de identificar fatores intervenientes da transmissão intergeracional entre mães e filhas para a autonomia reprodutiva na subescala “Tomada de decisão”, foi preciso uma análise mais aprofundada. Identificou-se duas variáveis independentes que foram: a idade da mãe e a cor/raça da filha, sendo que a redução na transmissão intergeracional desse constructo foi associada à menor idade da mãe e ao pertencimento racial das filhas.

Sobre estes aspectos da não transmissão intergeracional não foram encontradas evidências na literatura, contudo, hipóteses foram levantadas, a começar sobre a menor idade da mãe. A geração atual tem sido retratada como mais crítica às questões que envolvem liberdade de escolhas e opiniões, o que poderá influenciar na continuidade ou não da transmissão intergeracional, pressupondo-se que uma mulher mais velha, no contexto familiar, tem mais experiências, o que poderá proporcionar comportamentos a serem apreendidos.

Com relação ao fato de a filha negra estar associada a uma menor transferência, ou seja, o autorreconhecimento da filha como negra prejudica a transferência intergeracional, há menos clareza, no entanto, é possível supor que devido ao preconceito racial sofrido, o estigma étnico afete negativamente o ajuste psicossocial2727. Barnes STB, Martin PP, Hope EC, Linder NC, Scott ML. Religiosity and coping: racial stigma and psychological well-being among African American Girls. J Relig Health [Internet]. 2018 [cited 2020 Dec 05];57(5):1980-95. Available from: https://doi.org/10.1007/s10943-018-0644-9
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Esta situação poderá comprometer a modelagem de comportamento entre mãe e filha, principalmente levando em consideração um estudo que apontou que mães negras enfrentam diariamente a probabilidade de suas filhas serem tratadas injustamente como resultado de sua raça, exigindo que mantenham níveis excessivos de vigilância diante do implacável racismo estrutural, cultural, institucional e interpessoal2828. Colen CG, Li Q, Reczek C, Williams DR. The intergenerational transmission of discrimination: children’s experiences of unfair treatment and their mothers’ health at midlife. J Health Soc Behav [Internet]. 2019 [cited 2020 Dec 07];60(4):474-92. Available from: https://doi.org/10.1177/0022146519887347
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Além disso, para a desigualdade racial dos jovens, pré-requisito para o desenvolvimento da identidade racial, o indivíduo deve primeiro escolher um membro da família antes de desenvolver sentimentos e comportamentos2929. Cheon YM, Bayless SD, Wang Y, Yip T. The development of Ethnic/Racial Self-Labeling: individual differences in context. J Youth Adolescence [Internet]. 2018 [cited 2020 Dec 07];47(10):2261-78. Available from: https://doi.org/10.1007/s10964-018-0843-4
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. Quando é identificada a discriminação racial, isto poderá causar sofrimento psicológico e diminuir o bem-estar entre os jovens3030. Seaton E K, Iida M. Racial discrimination and racial identity: daily moderation among black youth. Am Psychol [Internet]. 2019 [cited 2020 Dec 10];74(1):117-27. Available fromhttps://doi.org/10.1037/amp0000367
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Dessa forma, à medida que a filha explora uma identidade racial, ela poderá tomar decisões sobre qual comportamento seguir e ajustar os seus rótulos próprios, nesse processo, poderá resultar em mudanças nas atitudes2828. Colen CG, Li Q, Reczek C, Williams DR. The intergenerational transmission of discrimination: children’s experiences of unfair treatment and their mothers’ health at midlife. J Health Soc Behav [Internet]. 2019 [cited 2020 Dec 07];60(4):474-92. Available from: https://doi.org/10.1177/0022146519887347
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Dito isto, sugere-se que futuros estudos incluam a questão intergeracional entre mães e filhas negras, avaliando questões sobre a autonomia reprodutiva de forma mais densa, como sugestão, através de estudos qualitativos.

Apesar de sua relevante contribuição, o presente estudo apontou limitações, necessitando da realização de estudo qualitativo para o aprofundamento das questões apresentadas nos resultados.

CONCLUSÃO

Com base nos resultados apresentados, é possível concluir que a autonomia reprodutiva é transferida de forma intergeracional entre mães e filhas quilombolas, sendo que essa transmissão ocorre, sobretudo, nos domínios “Ausência de coerção” e “Comunicação”. Com relação ao domínio Tomada de decisão, conclui-se que a autonomia reprodutiva da mãe não tem concordância com a autonomia reprodutiva da filha o que demonstra não ter transmissão nesse constructo.

Assim, a idade da mãe e a cor/raça da filha foram fatores intervenientes na transmissão intergeracional relacionada ao constructo “Tomada de decisão”, sendo que redução na transmissão intergeracional desse constructo foi associada a menor idade da mãe e o autorreconhecimento da filha como negra.

É possível afirmar que as filhas não acompanham a mesma escolha das mães, o que pode ser entendido por uma acessibilidade maior aos serviços de planejamento reprodutivo e ao aumento nos níveis de escolaridade que possibilita um entendimento melhor das informações e dos cuidados com a saúde, embora as comunidades quilombolas vivenciem um contexto com dinâmicas peculiares.

Além disso, contribui para a nossa compreensão dos processos que envolvem a autonomia reprodutiva e a transmissão intergeracional, um valor cultural particularmente importante para as mulheres quilombolas que apresenta especificidades comparadas a mulheres de outras raças/etnias.

Dito isto, a transmissão intergeracional entre mães e filhas quilombolas são aspectos fundamentais a serem compreendidos por profissionais da área saúde e em particular da enfermagem que atuam em comunidades quilombolas, que podem oferecer tanto um atendimento de acordo com suas especificidades como também trabalhar estratégias que venham a empoderar essas mulheres nas questões que envolvam sua saúde reprodutiva

Compreender as questões relacionadas às decisões reprodutivas é importante para aprofundar nosso conhecimento e qualificar o cuidado prestado às mulheres quilombolas.

AGRADECIMENTO

As mulheres quilombolas das comunidades estudadas do município de Vitória da Conquista - BA.

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NOTAS

  • ORIGEM DO ARTIGO

    Extraído da tese - Autonomia reprodutiva intergeracional em mulheres quilombolas, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, da Universidade Federal da Bahia, em 2021.
  • APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

    Aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal da Bahia - UFBA, parecer n. 3.448.011/2019, Certificado de Apresentação para Apreciação Ética 14087019.1.0000.5531.

Editado por

EDITORES

Editores Associados: Natália Gonçalves, Monica Motta Lino. Editor-chefe: Roberta Costa.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Fev 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    31 Jan 2021
  • Aceito
    24 Ago 2021
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