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ANÁLISE DAS NOTIFICAÇÕES DE VIOLÊNCIA CONTRA GESTANTES NO BRASIL NO PERÍODO DE 2011 ATÉ 2018

RESUMO

Objetivo:

analisar as notificações de violência contra gestantes no Brasil entre 2011 e 2018.

Método:

pesquisa quantitativa do tipo analítica e retrospectiva. Foram analisados dados de gestantes com idade entre 11 e 49 anos de um banco contendo as informações das fichas do Sistema de Informação de Notificação de violência interpessoal/autoprovocada, de 2011 até 2018. A análise envolveu a descrição do perfil da gestante e do provável autor e as características dos eventos.

Resultados:

no ano de 2017 foram notificados cinco vezes mais casos de violência contra a gestante em comparação com 2011. A violência aconteceu mais em pessoas na faixa etária entre 20 a 29 anos (37,0%), pretas/pardas (54,4%), com ensino fundamental incompleto (34,2%) e solteiras (48,1%). A violência de maior ocorrência foi a física (61,9%), seguida pela psicológica (31,2%) e pela sexual (27,0%). A força corporal e o espancamento foram o meio de agressão mais utilizado pelo autor da violência (54,0%). O parceiro ou ex-parceiro (50,5%) foi o agressor mais descrito pelas gestantes.

Conclusão:

ao descrever as características das gestantes no Brasil que sofrem violência e do seu possível agressor propõe-se um avanço na construção de uma rede de atenção às mulheres vítimas de violência mais estruturada, pautada em políticas públicas que visem à garantia de um atendimento qualificado pelos profissionais que realizam o pré-natal nas unidades de atenção primária à saúde.

DESCRITORES:
Violência contra a mulher; Gravidez; Violência por parceiro íntimo; Notificação; Cuidado pré-natal; Enfermagem

ABSTRACT

Objective:

to analyze reports of violence made by pregnant women in Brazil between 2011 and 2018.

Method:

quantitative research of the analytical and retrospective type. Data from pregnant women aged between 11 and 49 years from a database containing information from the Information System for Reporting interpersonal/self-harm from 2011 to 2018 were analyzed. The analysis involved the description of the profile of the pregnant woman and the probable author and the characteristics of the events.

Results:

in 2017, five times more cases of violence against pregnant women were reported compared to 2011. Violence occurred more in people aged between 20 and 29 years (37.0%), black/brown (54.4%), with incomplete primary education (34.2%) and single (48.1%). The most frequent violence was physical (61.9%), followed by psychological (31.2%) and sexual (27.0%). Body strength and beatings were the means of aggression most used by the perpetrator of violence (54.0%). The partner or ex-partner (50.5%) was the aggressor most described by the pregnant women.

Conclusion:

to describe the characteristics of pregnant women in Brazil who suffer violence and their possible aggressor proposes an advance in the construction of a network of care for women victims of more structured violence, based on public policies aimed at ensuring qualified care by professionals who perform prenatal care in primary health care units.

DESCRIPTORS:
Violence against women; Pregnancy; Intimate partner violence; Notification; Prenatal care; Nursing

RESUMEN

Objetivo:

analizar denuncias de violencia realizadas por mujeres embarazadas en Brasil entre 2011 y 2018.

Métodoz:

investigación analítica cuantitativa y retrospectiva. Se analizaron datos de gestantes entre 11 y 49 años de una base de datos que contiene información del Sistema de Información del Sistema de Información para Notificación de Violencia Interpersonal/Autoinfligida, de 2011 a 2018. El análisis involucró la descripción del perfil de la mujer embarazada y el probable autor y las características de los hechos.

Resultado:

en 2017 se reportaron cinco veces más casos de violencia contra mujeres embarazadas en comparación con 2011. La violencia se presentó más en personas entre 20 y 29 años (37,0%), negras/morenas (54,4%), con educación primaria incompleta (34,2%) y solteras (48,1%). La violencia más frecuente fue física (61,9%), seguida de psicológica (31,2%) y sexual (27,0%). La fuerza corporal y los golpes fueron los medios de agresión más utilizados por el autor de la violencia (54,0%). La pareja o ex pareja (50,5%) fue el agresor más descrito por las gestantes.

Conclusión:

al describir las características de las mujeres embarazadas en Brasil que sufren violencia y su posible agresor, se propone un avance en la construcción de una red de atención más estructurada para las mujeres víctimas de violencia, basada en políticas públicas orientadas a garantizar una atención calificada por parte de profesionales que realizan atención prenatal en unidades de atención primaria de salud.

DESCRIPTORES:
Violencia contra la mujer; Embarazo; Violencia de pareja; Notificación; Cuidado prenatal; Enfermería

INTRODUÇÃO

A violência contra a mulher constitui “(...) qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como no privado”.11. Brasil. Secretaria Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres. Secretaria de Políticas para as Mulheres. Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres. Internet. Brasília, DF (BR). 2011 2021 Jan 21. Available from: Available from: https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/entenda-a-violencia/pdfs/politica-nacional-de enfrentamento-a-violencia-contra-as-mulheres
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:1919. Jaraba SMR, Garcés-Palacio IC. Association between violence during pregnancy and preterm birth and low birth weight in Colombia: Analysis of the demographic and health survey. Health Care Women Int Internet. 2019 2021 feb 24; 40(11):1149-69. Available from: Available from: https://doi.org/10.1080/07399332.2019.1566331
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Ela pode resultar em graves problemas físicos, mentais, sexuais e reprodutivos a curto, médio e longo prazos, afeta seus filhos, gera danos sociais e custos econômicos para elas, suas famílias e as sociedades.²2. World Health Organization. World health statistics 2018: monitoring health for the SDGs, sustainable development goals. Internet. Genebra: World Health Organization; 2018 2021 jan 21. Available from: Available from: https://apps.who.int/iris/handle/10665/272596
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A violência contra a mulher é uma violação dos direitos humanos, encontra-se enraizada na desigualdade de gênero, sendo considerada problema de saúde pública e um obstáculo ao desenvolvimento sustentável. No mundo, 30% das mulheres sofreram violência física e/ou sexual por parceiros íntimos durante sua vida e entre 38% e 50% dos homicídios são cometidos por estes.³3. World Health Organization. Respect women: Preventing violence against women. Internet. Genebra: World Health Organization ; 2019 2021 jan 21. Available from: Available from: https://apps.who.int/iris/handle/10665/312261
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O risco de sofrer violência pelo parceiro íntimo e violência sexual é maior em mulheres com baixa escolaridade, expostas a violência na infância, em posição desigual nos relacionamentos íntimos, com atitudes e normas de aceitação da violência e da desigualdade de gênero. Outro agravante refere-se ao fato de que a maioria das mulheres, entre 55% e 95%, que sobrevivem a violência não falam sobre o ocorrido e não procuram nenhum tipo de atendimento.³3. World Health Organization. Respect women: Preventing violence against women. Internet. Genebra: World Health Organization ; 2019 2021 jan 21. Available from: Available from: https://apps.who.int/iris/handle/10665/312261
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No Brasil, a Portaria número 104 de 25 de janeiro de 2011 definiu a violência doméstica, sexual e/ou outras violências como sendo de notificação compulsória. Tais agravos precisam ser notificados e registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), no qual é possível saber se a mulher que sofreu violência encontrava-se grávida no momento da notificação.44. Ministério da Saúde (BR). Portaria nº 104, de 25 de janeiro de 2011. Internet. Brasília, DF (BR). 2011 2020 dec 15. Available from: Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt0104_25_01_2011.html
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Sabe-se que durante a gestação a mulher encontra-se em uma fase de maior vulnerabilidade, agravando as consequências do ciclo da violência.55. Bonfim EG, Lopes MJM, Peretto M. Os registros profissionais do atendimento pré-natal e a (in)visibilidade da violência doméstica contra a mulher. Esc Anna Nery Internet. 2010 2020 dec 15; 14(1):97-104. Available from: Available from: https://doi.org/10.1590/S1414-81452010000100015
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Na prática assistencial nos serviços de saúde, em específico na rotina de pré-natal, profissionais que realizam o atendimento de gestantes precisam estar atentos aos sinais indicativos de que esta mulher possa estar sofrendo violência, momento em que a notificação da suspeita do caso precisará ser realizada em ficha individual específica do SINAN.

Mudanças físicas e psicológicas acontecem na mulher durante a gestação. Tais mudanças deixam as mulheres mais sensíveis ou fragilizadas e a violência é uma realidade na vida de muitas destas gestantes, desencadeando prejuízos, muitas vezes, irreparáveis ao binômio mãe-filho.66. Santos AG, Nery IS, Rodrigues DC, Melo AS. Violência contra gestantes em delegacias especializadas no atendimento à mulher de Teresina-PI. Rev Rene Internet. 2010 2021 jan 17; 11(Espec):109-16. Available from: Available from: http://www.periodicos.ufc.br/rene/article/view/4687/3489
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A violência durante a gravidez é considerada uma complicação importante, pois é mais frequente que patologias como a diabetes e a hipertensão arterial.77. Ministério da Saúde (BR). Pré-natal e puerpério. Atenção qualificada e humanizada. Manual técnico Internet. Brasília, DF (BR). 2006 2020 dec 15. Available from: Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_pre_natal_puerperio_3ed.pdf
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Um estudo sobre fatores associados à agressão física contra gestantes em São Luís, no Maranhão, mostrou que a prevalência da violência física contra mulheres grávidas foi igual a 12,4%, destas 66% sofreram o abuso em uma única vez. O parceiro íntimo foi o causador desta violência em 66% dos casos.88. Costa DCS, Ribeiro MRC, Batista RFL, Valente CM, Ribeiro JVF, Almeida LA, et al. Fatores associados à agressão física contra gestantes em São Luís, Maranhão, Brasil: uma abordagem com modelagem de equações estruturais. Cad Saúde Pública Internet. 2017 2021 feb 24; 33(1):1-14. Available from: Available from: https://doi.org/10.1590/0102-311x00078515
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A vivência de violência doméstica foi relato de uma pesquisa qualitativa realizada com mulheres internadas em razão de aborto provocado em Salvador, Bahia. O cotidiano das mulheres que fizeram o aborto é marcado pela violência doméstica durante sua infância e adolescência. Além disso, a violência pelo parceiro íntimo fazia parte da vida dessas mulheres, com interações conjugais conflituosas, em que ambos se agridem.99. Couto TM, Nitschke RG, Lopes RLM, Gomes NP, Diniz NMF. Cotidiano de mulheres com história de violência doméstica e aborto provocado. Texto Contexto Enferm Internet. 2015 2021 nov 16; 24(1):263-9. Available from: Available from: https://doi.org/10.1590/0104-07072015003620012
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Pesquisa realizada no município do Rio de Janeiro mostrou que nos casos de agressão física entre parceiros íntimos durante a gestação, houve aumento em duas vezes a chance de óbito neonatal e em três vezes de óbito pós-neonatal quando compara-se aos filhos cujas grávidas não sofreram agressões pelo pai da criança.1010. Viellas EF, Domingues RMSM, Dias MAB, Gama SGN, Theme Filha MM, Costa JV, et al. Assistência pré-natal no Brasil. Cad Saúde Pública Internet. 2014 2021 feb 17; 30(Suppl):85-100. Available from: Available from: https://doi.org/10.1590/0102-311X00126013
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Na Nigéria, inquérito demográfico e de saúde apontou que a prevalência da violência doméstica contra a mulher era igual a 22%, destas 8,1% relataram história de gravidez indesejada e 14,8% tiveram experiência de gravidez interrompida.1111. Yaya S, Amouzou A, Uthman OA, Ekholuenetale M, Bishwajit G, Udenigwe O, et al. Prevalence and determinants of terminated and unintended pregnancies among married women: analysis of pooled cross-sectional surveys in Nigeria. BMJ Glob Health Internet. 2018 2021 feb 17; 3:1-10. Available from: Available from: https://doi.org/10.1136/bmjgh-2018-000707
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A interseccionalidade entre gênero, raça/etnia e classe precisa ser considerada nas situações em que a mulher vivencia violência em suas relações de intimidade. Além disso, esse é um campo onde há o atravessamento de relações de dominação, nas quais as mulheres se encontram em um momento de tensionamento, porém marcado por desigualdade e opressão.1212. Silveira RS, Nardi HC. Interseccionalidade gênero, raça e etnia e a lei Maria da Penha. Psicol Soc Internet. 2014 2021 feb 17; 26(n.spe):14-24. Available from: Available from: http://dx.doi.org/10.1590/S0102-71822014000500003
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Avaliando os marcadores de gênero e raça, o Atlas da Violência apontou que em 2018, 68% das mulheres assassinadas no Brasil eram negras e que no período entre 2008 e 2018 a taxa de homicídio de mulheres não negras caiu 11,7%, contudo a taxa entre as mulheres negras aumentou 12,4%.1313. Brasil. Instituto de pesquisa econômica aplicada e Fórum brasileiro de segurança pública. Atlas da violênciaInternet. 2020 2021 feb 24. Available from: Available from: https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatorio_institucional/200826_ri_atlas_da_violencia.pdf
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Entender o fenômeno que leva uma gestante a sofrer qualquer tipo de violência envolve vários aspectos, inclusive a questão da desigualdade de gênero. O profissional de saúde encontra-se nessa mesma sociedade patriarcal, em que a violência contra a mulher por vezes é vista como algo culturalmente aceito.

Portanto, é importante dar visibilidade ao problema da violência contra a gestante no Brasil, com o intuito de sensibilizar os profissionais de saúde que realizam o pré-natal da mulher em situação de violência na identificação do risco e na prevenção de desfechos negativos. O objetivo desta pesquisa é analisar as notificações de violência contra gestantes no Brasil entre 2011 e 2018.

MÉTODO

O método escolhido para este estudo é a pesquisa quantitativa do tipo analítica. A natureza do levantamento de dados foi retrospectiva. Para identificar a frequência dos casos de violência contra a gestante no Brasil foram obtidos dados de fonte secundária provenientes do Departamento de Informática do SUS (DATASUS). O banco de dados utilizado contém informações das fichas SINAN de violência interpessoal/autoprovocada de gestantes com idade entre 11 e 49 anos, no período de 2011 até 2018.

No banco de fichas do SINAN foram avaliadas as seguintes variáveis:

- bloco perfil da gestante: UF de notificação; idade gestacional; faixa etária (11-14 anos; 15-19 anos; 20-29 anos; 30-39 anos; 40-49 anos); raça/cor (branca; preta/parda; amarela/indígena; ignorado); escolaridade (analfabeto; ensino fundamental incompleto; ensino fundamental completo; ensino médio incompleto; ensino médio completo; educação superior incompleta; educação superior completa; ignorado); situação conjugal (solteira; casada/união consensual; viúva; separada; não se aplica; ignorado); deficiência/transtorno (sim; não; ignorado); tipo de deficiência (intelectual; transtorno mental; transtorno de comportamento; outros).

- bloco característica do evento: local de ocorrência (residência; via pública; outro; ignorado); ocorreu outras vezes (sim; não; ignorado); lesão autoprovocada (sim; não; ignorado); motivo da violência (sexismo; conflito geracional; situação de rua; outros; não se aplica; ignorado); tipo de violência (física; psicológica/moral; sexual; negligência/abandono; outras); meio de agressão (força corporal/espancamento; ameaça; objeto perfurocortante/objeto contundente; envenenamento/intoxicação; arma de fogo); tipo de violência sexual (assédio sexual, estupro; pornografia infantil/exploração sexual; outros); procedimento realizado (profilaxia para Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) e/ou para HIV e/ou hepatite B; coleta de sangue e/ou sêmen e/ou secreção vaginal; contracepção de emergência; aborto previsto em lei); encaminhamento (rede de saúde; rede de assistência social; conselho tutelar; rede de atendimento à mulher; outras delegacias; delegacia de atendimento à mulher; outro).

- bloco característica do autor: número de envolvidos (um; dois ou mais; ignorado); sexo (masculino; feminino; ambos os sexos; ignorado); provável autor (parceiro ou ex-parceiro; familiares; amigo/conhecido; desconhecido; própria pessoa; outro); suspeita de uso de álcool (sim; não; ignorado); ciclo de vida (criança; adolescente; jovem; pessoa adulta; pessoa idosa; ignorado).

A análise envolveu a descrição do perfil da gestante, as características dos eventos e do perfil do provável autor. Na construção do banco e cálculo de medidas utilizou-se o software SPSS 24.

Os dados utilizados são provenientes de um banco composto por informações sem possibilidade de identificação individual da população e disponíveis em livre acesso. Portanto, segundo a Resolução 510 de 2016 do Conselho Nacional de Saúde não são alvo de avaliação do sistema CEP/CONEP.

RESULTADOS

No período de 2011 a 2018 foram notificados 2.033.026 casos de violência interpessoal/autoprovocada. Deste total, 71,7% (1.456.936) eram do sexo feminino. Sobre estarem gestantes no momento da notificação, considerando mulheres em idade fértil (11 até 49 anos), 7,4% (74.256) disseram que sim.

Nas notificações de violência contra a gestante, a análise temporal indicou que houve aumento de cinco vezes mais casos em 2017 em comparação a 2011, sendo que de 2017 para 2018 há uma queda importante (Figura 1). Todas as Unidades Federativas (UF) apresentaram aumento do número de notificações de 2011 para 2018 (Tabela 1).

Como visto na Tabela 2, as mulheres encontravam-se em diferentes fases da gestação, contudo observa-se que quanto maior a idade gestacional menor é a frequência deste agravo. Sobre o perfil das grávidas os dados mostram que a violência aconteceu mais em pessoas na faixa etária entre 20 a 29 anos (37,0%), pretas/pardas (54,4%), com ensino fundamental incompleto (34,2%), solteiras (48,1%) e sem relato de deficiência (82,1%).

Figura 1 -
Evolução temporal das notificações de violência contra a gestante segundo ficha do SINAN. Brasil, 2011-2018. (n=74.256)

Tabela 1-
Número de notificações de violência contra a gestante segundo ficha do SINAN por UF. Brasil, 2011-2018. (n=74.256)
Tabela 2 -
Perfil das notificações de violência contra a gestante segundo ficha do SINAN. Brasil, 2011-2018. (n=74.256)

O local de ocorrência dos eventos de violência foi maior no ambiente da residência (66,5%) das gestantes em comparação com a via pública (12,8%). O relato da violência ser de repetição (43,0%) apareceu nas notificações com importante expressão. O sexismo (13,7%) e o conflito geracional (7,2%) foram os motivos da violência mais descritos. O preenchimento desta variável é baixo em comparação às outras descritas nas Tabelas 1 e 2, como pode ser visto pelo número alto de ignorados (36,4%) (Tabela 3).

O tipo de violência de maior ocorrência foi a física (61,9%), seguida pela psicológica (31,2%) e pela sexual (27,0%). A lesão autoprovocada aconteceu em 10,3% dos casos. O uso da força corporal e o espancamento foram o meio de agressão mais utilizado pelo autor da violência (54,0%), seguido pela ameaça (18,9%). O estupro apresentou-se como o tipo de violência sexual mais descrito (78,6%). Em relação aos casos de estupro, os procedimentos mais realizados foram: coleta de sangue (28,2%), profilaxia para IST (10,6%) e profilaxia para HIV (10,1%).

No atendimento, as vítimas de violência foram encaminhadas principalmente para a rede de saúde (32,7%), delegacias (21,9%) e conselho tutelar (12,3%) (Tabela 2). É importante destacar que os dados de encaminhamento de 2018 não foram encontrados no banco do SINAN.

Tabela 3 -
Características dos eventos de violência contra a gestante segundo ficha do SINAN. Brasil, 2011-2018. (n=74.256)

Sobre as características dos prováveis autores da violência, o número de envolvidos foi apenas um na maioria dos casos (76,5%), assim como o autor ser do sexo masculino foi mais predominante (70,3%). O parceiro ou ex-parceiro (50,5%) foi o agressor mais descrito pelas gestantes e a maior parte tinha idade entre 20 a 59 anos (46,7%). A suspeita do uso de álcool apareceu em um quarto dos casos (Tabela 4).

Tabela 4 -
Características dos prováveis autores da violência contra a gestante segundo ficha do SINAN. Brasil, 2011-2018. (n = 74.256)

DISCUSSÃO

Os números das notificações de violência contra a gestante apresentados neste estudo mostram a importância da temática no campo da saúde pública. Espera-se que uma gestante tenha acesso ao serviço de atenção primária à saúde para realização de acompanhamento pré-natal e que os profissionais envolvidos no acolhimento e assistência dessas mulheres tratem esse agravo como um problema, que precisa ser enfrentado para evitar desfechos negativos para a mulher e a criança. O pré-natal inadequado é apontado como um fator associado a qualquer tipo de violência sofrida pela gestante.1414. Khaironisak H, Zaridah S, Hasanain FG. Prevalence, risk factors, and complications of violence against pregnant women in a hospital in Peninsular Malaysia. Women & HealthInternet. 2016 2021 feb 24; 1-23. Available from: Available from: http://dx.doi.org/10.1080/03630242.2016.1222329
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O uso do banco de dados do SINAN auxilia na caracterização do perfil de vítimas que são acolhidas e atendidas nos diferentes pontos da rede de atenção à saúde, rede de apoio e proteção, o que permite o acompanhamento das vítimas.1515. Oliveira ML, Miranda CES. Caracterização das notificações de violência doméstica contra adolescentes. Rev Interd Internet. 2020 2021 feb 24; 13:1-8. Available from: Available from: https://revistainterdisciplinar.uninovafapi.edu.br/index.php/revinter/article/view/1683
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Porém, estudo nacional apontou que o risco de morte por agressão nas mulheres notificadas por violência no SINAN foi maior do que na população feminina geral, revelando a fragilidade das redes de atenção e proteção no atendimento às vítimas.1616. Barufaldi LA, Souto RMCV, Correia RSB, Montenegro MMS, Pinto IV, Silva MMA et al. Violência de gênero: comparação da mortalidade por agressão em mulheres com e sem notificação prévia de violência. CienC Saude Coletiva Internet. 2017 2021 feb 24; 22(9):2929-38. Available from: Available from: https://doi.org/10.1590/1413-81232017229.12712017
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Além disso, são descritas limitações com o uso do SINAN, como: a incompletude das informações notificadas que resultam em significativas situações “indefinidas” e dados desatualizados.1515. Oliveira ML, Miranda CES. Caracterização das notificações de violência doméstica contra adolescentes. Rev Interd Internet. 2020 2021 feb 24; 13:1-8. Available from: Available from: https://revistainterdisciplinar.uninovafapi.edu.br/index.php/revinter/article/view/1683
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Assim como o aumento das notificações de violência contra a gestante observada neste estudo ao longo dos anos, dados oficiais do Fórum de Segurança Pública mostram que houve um crescimento expressivo de 30,7% no número de homicídios de mulheres no país durante a década 2007-2017.1313. Brasil. Instituto de pesquisa econômica aplicada e Fórum brasileiro de segurança pública. Atlas da violênciaInternet. 2020 2021 feb 24. Available from: Available from: https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatorio_institucional/200826_ri_atlas_da_violencia.pdf
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Os dados do “disque 180” apontaram que nos primeiros quatro meses de 2020 houve um aumento de 14,1% de relatos de violência contra a mulher em comparação ao mesmo período do ano anterior.1717. Brasil. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Ligue 180: central de atendimento à mulher. Dados referentes ao primeiro semestre de 2020 Internet. Brasília, DF (BR). 2020 2021 feb 24. Available from: Available from: https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2020-2/maio/denuncias-registradas-pelo-ligue-180-aumentam-nos-quatro-primeiros-meses-de-2020
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Em comparação com estudos de diferentes continentes, em Bangladesh uma em cada quatro mulheres que relataram ter sofrido VPI também referiram ter um ou mais abortos espontâneos, natimortos e abortos induzidos.1818. Afiaz A, Biswas RK, Shamma R, Ananna N. Intimate partner violence (IPV) with miscarriages, stillbirths and abortions: Identifying vulnerable households for women in Bangladesh. PLoS ONE Internet. 2020 2021 feb 24; 15(7):e0236670. Available from: Available from: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0236670
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Na Colômbia, 8,9% (1.271) das mulheres sofreram violência durante a gravidez, sendo que metade foi agredida por um ex-companheiro (50,7%) e pelo atual companheiro (29,7%). Mulheres que sofreram violência, que não fizeram pré-natal ou fizeram menos de quatro consultas tiveram maior probabilidade de terem um filho prematuro.1919. Jaraba SMR, Garcés-Palacio IC. Association between violence during pregnancy and preterm birth and low birth weight in Colombia: Analysis of the demographic and health survey. Health Care Women Int Internet. 2019 2021 feb 24; 40(11):1149-69. Available from: Available from: https://doi.org/10.1080/07399332.2019.1566331
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Na Suécia, 38,7% (656) de mães reportaram história de violência e destas 2% (34) experimentaram violência doméstica durante a gravidez. Mulheres que relataram violência tiveram risco significativo de terem recém-nascidos prematuros (menos de 37 semanas). Identificar de forma precoce a presença de história de violência ou de violência contínua durante a gravidez é fundamental para fornecer apoio extra às mulheres, o que pode ter um impacto positivo no nascimento do bebê.2020. Finnbogadóttir H, Baird K, Thies-Lagergren L. Birth outcomes in a Swedish population of women reporting a history of violence including domestic violence during pregnancy: a longitudinal cohort study. BMC Pregnancy Childbirth Internet. 2020 2021 feb 24; 20(183):1-10. Available from: Available from: https://doi.org/10.1186/s12884-020-02864-5
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Em São Paulo, em uma pesquisa realizada com puérperas, 34,6% (49) das entrevistadas referiram ter sofrido violência doméstica durante a gravidez, sendo a violência psicológica mais prevalente (71,4%) e 25,3% referiram que a violência aumentou durante a gravidez.2121. Okada MM, Hoga LAK, Borges ALV, Albuquerque RS, Belli MA. (2015). Domestic violence against pregnant women. Acta Paul Enferm Internet. 2015 2021 feb 24; 28(3):270-4. Available from: https://doi.org/10.1590/1982-0194201500045

Jovens, pretas/pardas, com baixa escolaridade, solteiras, sem deficiência e no primeiro trimestre da gravidez são descritas como as características mais prevalentes das gestantes que sofreram violência neste estudo. Semelhante a esses dados, pesquisa na Etiópia identificou que as mães sem educação formal tiveram maior probabilidade de sofrerem violência física que aquelas com nível educacional avançado1111. Yaya S, Amouzou A, Uthman OA, Ekholuenetale M, Bishwajit G, Udenigwe O, et al. Prevalence and determinants of terminated and unintended pregnancies among married women: analysis of pooled cross-sectional surveys in Nigeria. BMJ Glob Health Internet. 2018 2021 feb 17; 3:1-10. Available from: Available from: https://doi.org/10.1136/bmjgh-2018-000707
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e na Malásia o status de solteira foi um fator associado à violência emocional e sexual.2222. Khaironisak H, Zaridah S, Hasanain FG. Prevalence, risk factors, and complications of violence against pregnant women in a hospital in Peninsular Malaysia. Women & Health Internet. 2016 2021 feb 18; 1-23. Available from: Available from: http://dx.doi.org/10.1080/03630242.2016.1222329
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Já no Irã não foi encontrada relação significativa entre a educação das mulheres e a violência física. Entretanto, houve correlação entre a educação masculina e a violência doméstica, ou seja, quanto maior o nível educacional do homem, menos violência doméstica existe.2323. Nejatizade AA, Roozbeh N, Yabandeh AP, Dabiri F, Kamjoo A, Shahi A. Prevalence of domestic violence on pregnant women and maternal and neonatal outcomes in Bandar Abbas. Electron Physician Internet. 2017 2021 feb 18; 9(8):5166-71. Available from: Available from: http://dx.doi.org/10.19082/5166
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A ficha SINAN não contém perguntas sobre a religião da vítima, renda e sobre a gravidez ter sido planejada. Tais variáveis foram apontadas como importantes em pesquisa realizada em São Paulo, pois houve associação estatisticamente significativa entre a ocorrência da violência doméstica na gravidez e as variáveis: ser da religião evangélica, ter renda familiar abaixo de mil reais e não ter planejado a gravidez.2121. Okada MM, Hoga LAK, Borges ALV, Albuquerque RS, Belli MA. (2015). Domestic violence against pregnant women. Acta Paul Enferm Internet. 2015 2021 feb 24; 28(3):270-4. Available from: https://doi.org/10.1590/1982-0194201500045

Assim como o encontrado nesta pesquisa, outros estudos apontam que as mulheres negras e pardas são as maiores vítimas de violência.1313. Brasil. Instituto de pesquisa econômica aplicada e Fórum brasileiro de segurança pública. Atlas da violênciaInternet. 2020 2021 feb 24. Available from: Available from: https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatorio_institucional/200826_ri_atlas_da_violencia.pdf
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-1717. Brasil. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Ligue 180: central de atendimento à mulher. Dados referentes ao primeiro semestre de 2020 Internet. Brasília, DF (BR). 2020 2021 feb 24. Available from: Available from: https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2020-2/maio/denuncias-registradas-pelo-ligue-180-aumentam-nos-quatro-primeiros-meses-de-2020
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Esses resultados denunciam o racismo de forma específica e velada. Eles apontam para a urgência e a necessidade de estudos voltados para a população negra, pois mesmo sendo o grupo mais violentado, é invisível socialmente.2424. Carrijo C, Martins PA. A violência doméstica e racismo contra mulheres negras. Estud Fem Internet. 2020 2021 feb 18; 28(2),e60721. Available from: Available from: https://doi.org/10.1590/1806-9584-2020v28n260721
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A intersecção entre os marcadores sociais de gênero, raça e classe faz com que as mulheres negras sofram violências múltiplas e tenham seu ápice na violência letal.2525. Garcia D. Violência contra a mulher negra no Brasil: ponderações desde uma criminologia interseccional. RBSD Internet. 2020 2021 feb 18; 7(2):97-120. Available from: Available from: https://doi.org/10.21910/rbsd.v7n2.2020.381
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A gravidez é um momento em que a mulher deve receber proteção e cuidado para poder ter uma gestação e parto sem complicações. Contudo, uma pesquisa de revisão2626. Araújo DL, Barbosa TA, Coimbra NX, Costa CSC. Violência doméstica na gestação: aspectos e complicações para mulher e o feto. RESAP Internet. 2020 2021 feb 18; 6(1):64-76. Available from: Available from: https://www.revista.esap.go.gov.br/index.php/resap/article/view/193/193
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apontou que a violência contra gestante não tem momento para acontecer e independe de raça, cor, escolaridade e classe social. Sobre os desfechos para a saúde materna e fetal, a violência contra a gestante contribui para o aumento da mortalidade materna, dos óbitos perinatais, baixo peso ao nascer, abortos e nascimentos prematuros. Por isso, o profissional que realiza o pré-natal deve ter um olhar ampliado para qualquer pequeno sinal implícito nas palavras das vítimas de violência, pois ele é o primeiro contato com a gestante vulnerável.

O atendimento na Estratégia Saúde da Família deve considerar a magnitude do aborto provocado para a saúde das mulheres e por isso os profissionais de saúde precisam ter um olhar sensível para o reconhecimento de fatores associados à decisão de abortar. A vivência de violência doméstica na infância e adolescência e na relação conjugal são questões que podem estar associadas a tal decisão. Na atenção primária à saúde, a enfermeira tem uma posição importante e será nesse cenário que ações de promoção à saúde e prevenção poderão ser realizadas na perspectiva de evitar o aborto.99. Couto TM, Nitschke RG, Lopes RLM, Gomes NP, Diniz NMF. Cotidiano de mulheres com história de violência doméstica e aborto provocado. Texto Contexto Enferm Internet. 2015 2021 nov 16; 24(1):263-9. Available from: Available from: https://doi.org/10.1590/0104-07072015003620012
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Referente às características dos eventos de violência contra as gestantes, o ambiente da residência foi o local com maior ocorrência, assim como ser de repetição, a principal violência ser do tipo física através do uso da força corporal e do espancamento e o parceiro ou ex-parceiro ser o agressor mais descrito. Dados semelhantes podem ser vistos em pesquisa realizada na Etiópia que identificou 100 (25,8%) puérperas que sofreram alguma violência dos seus parceiros íntimos durante o período de gravidez. A violência física foi a mais prevalente, seguida pelas psicológica e sexual.2727. Demelash H, Nigatu D, Gashaw K. A case-control study on intimate partner violence during pregnancy and low birth weight, southeast Ethiopia. Obstet Gynecol Internet. 2015 2021 feb 18; 1-6. Available from: Available from: https://doi.org/10.1155/2015/394875
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Porém, diferente dos dados do SINAN, um estudo no Irã encontrou prevalência maior de violência sexual (14,8%) sofrida durante a gravidez, seguido pela psicológica (9,9%) e física (6,5%),2323. Nejatizade AA, Roozbeh N, Yabandeh AP, Dabiri F, Kamjoo A, Shahi A. Prevalence of domestic violence on pregnant women and maternal and neonatal outcomes in Bandar Abbas. Electron Physician Internet. 2017 2021 feb 18; 9(8):5166-71. Available from: Available from: http://dx.doi.org/10.19082/5166
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e uma pesquisa com puérperas na Malásia apontou prevalência maior de violência psicológica na gravidez (29,8%) em comparação com a física (12,9%) e sexual (9,8%).2222. Khaironisak H, Zaridah S, Hasanain FG. Prevalence, risk factors, and complications of violence against pregnant women in a hospital in Peninsular Malaysia. Women & Health Internet. 2016 2021 feb 18; 1-23. Available from: Available from: http://dx.doi.org/10.1080/03630242.2016.1222329
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Essas diferenças dos tipos de violência encontradas ocorrem porque os estudos utilizam diferentes tipos de abordagens metodológicas para obtenção dos dados. Por se tratar de casos de notificação em que geralmente a gestante procurou atendimento em um serviço de saúde, a violência física ganha destaque, pois a violência que faz uma mulher procurar atendimento em uma unidade de saúde geralmente foi porque teve repercussão física, ou seja, algum tipo de agressão ou espancamento.

Muitas mulheres procuram o Sistema Único de Saúde (SUS) buscando cuidado e, por diferentes motivos, nem sempre relatam a causa de seus agravos, mesmo quando foram vítimas de violência.2828. Signorelli MC, Auad A, Pereira PPG. Violência doméstica contra mulheres e a atuação profissional na atenção primária à saúde: um estudo etnográfico em Matinhos, Paraná, Brasil. Cad Saude Publica Internet. 2013 2021 feb 25; 29(6):1230-40. Available from: Available from: https://doi.org/10.1590/S0102-311X2013000600019
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Por trás de um caso de violência física, existe a violência psicológica na sua relação familiar e/ou íntima com um parceiro, na qual a própria mulher não considera como sendo uma violência real.

Referente aos dados de violência sexual contra a gestante, observa-se que o estupro aparece como o mais relatado pelas gestantes. Esse tipo de violência é subnotificado no Brasil e geralmente está associada ao meio intrafamiliar. O suspeito é descrito como sendo desconhecido ou não é informado na maioria das vezes, sendo difícil obter dados sobre seu perfil.1717. Brasil. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Ligue 180: central de atendimento à mulher. Dados referentes ao primeiro semestre de 2020 Internet. Brasília, DF (BR). 2020 2021 feb 24. Available from: Available from: https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2020-2/maio/denuncias-registradas-pelo-ligue-180-aumentam-nos-quatro-primeiros-meses-de-2020
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Os prováveis autores da violência contra as gestantes eram adultos, do sexo masculino, parceiro ou ex-parceiro. Sobre esse perfil, estudo realizado em uma delegacia no Nordeste do Brasil mostrou que nos registros policiais de violência contra a mulher, a agressão física foi a mais comum, seguido de ameaça e agressão verbal, sendo a violência doméstica mais prevalente que a comunitária. O companheiro ou o ex-companheiro foi apontado como principal agressor.2929. Bernardino IM, Barbosa KGN, Nóbrega LM, Cavalcante GMS, Ferreira EF, d’Avila S. (2016). Violência contra mulheres em diferentes estágios do ciclo de vida no Brasil: um estudo exploratório. Rev Bras Epidemiol Internet. 2016 2021 feb 25; 19(4):740-52. Available from: Available from: https://dx.doi.org/10.1590/1980-5497201600040005
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A suspeita de uso de álcool pelo autor da violência apareceu em um quarto dos casos, contudo essa variável tem um percentual alto de ignorado. Outros estudos apontam essa variável como destaque. Na Bahia, em quatro unidades de saúde da família, a violência física durante a gestação foi associada ao consumo frequente de bebida alcoólica pelo companheiro.3030. Santos SMAB, Oliveira ZMO, Coqueiro RS, Santos VC, Anjos KF, Casotti CA. Prevalência e fatores associados à violência física contra mulheres grávidas. Rev Baiana Saúde Pública Internet. 2016 2021 feb 25; 40(1):190-205. Available from: Available from: https://doi.org/10.22278/2318-2660.2016.v40.n1.a1881
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Na Malásia o consumo de bebida alcóolica pelo parceiro foi associado a maiores chances de as mulheres serem vítimas de violência emocional ou física.2222. Khaironisak H, Zaridah S, Hasanain FG. Prevalence, risk factors, and complications of violence against pregnant women in a hospital in Peninsular Malaysia. Women & Health Internet. 2016 2021 feb 18; 1-23. Available from: Available from: http://dx.doi.org/10.1080/03630242.2016.1222329
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Pelo registro do SINAN não foi possível identificar os desfechos da violência sofrida para a saúde da gestante e de seu bebê.

A violência contra a mulher é um problema grave de saúde pública e vem ganhando centralidade no debate público da sociedade brasileira. Existem muitos desafios na implementação de políticas públicas consistentes para reduzir os casos, principalmente ligados à flexibilização em curso da posse e do porte de armas de fogo. A possibilidade de que cada vez mais cidadãos tenham uma arma de fogo dentro de casa tende a vulnerabilizar ainda mais a vida de mulheres em situação de violência, pois há no Brasil altos índices de violência doméstica.1313. Brasil. Instituto de pesquisa econômica aplicada e Fórum brasileiro de segurança pública. Atlas da violênciaInternet. 2020 2021 feb 24. Available from: Available from: https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatorio_institucional/200826_ri_atlas_da_violencia.pdf
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Apontam-se como limitações desse estudo: o banco de dados utilizado não permitir a identificação de cada indivíduo, sendo possível que haja mais de uma notificação para uma mesma pessoa e algumas variáveis (ciclo de vida do agressor, suspeita do uso de álcool e motivo da violência) foram marcadas como ignoradas ou deixadas em branco em muitas fichas, o que comprometeu a análise destes itens.

CONCLUSÃO

No campo da saúde pública este trabalho contribui para dar visibilidade ao problema vivenciado por mulheres que sofrem violência dos seus parceiros mesmo estando grávidas e o quanto este agravo gera consequências no ciclo-gravídico puerperal, principalmente com desfechos negativos para a gestante e o concepto. Os profissionais que realizam o pré-natal precisam estar atentos aos possíveis sinais de que a gestante esteja sofrendo violência e cuidar desta mulher para que o ciclo de violência seja rompido e seus efeitos mitigados.

Ao analisar as características das gestantes no Brasil que sofrem violência e do seu possível agressor propõe-se um avanço nos estudos sobre o tema em nível loco-regional e na construção de uma rede de atenção às mulheres vítimas de violência mais estruturada, pautada em políticas públicas que visem à garantia de um atendimento qualificado pelos profissionais que realizam o pré-natal nas unidades de atenção primária à saúde

AGRADECIMENTO

Agradecemos ao Programa de Pós-graduação em Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (PPGSP/ENSP) pelo apoio financeiro a esta publicação

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NOTAS

  • ORIGEM DO ARTIGO

    Extraído do projeto de doutorado - A violência contra as gestantes pelo parceiro íntimo: uma análise do pré-natal ao puerpério, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública, da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, em 2021
  • FINANCIAMENTO

    O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001
  • APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

    Os dados utilizados são provenientes de um banco composto por informações sem possibilidade de identificação individual da população e disponíveis em livre acesso no site do Datasus

Editado por

EDITORES

Editores Associados: Glilciane Morceli, Monica Motta Lino. Editor-chefe: Roberta Costa

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Maio 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    01 Jun 2021
  • Aceito
    25 Nov 2021
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