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CONTRIBUIÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS DA ERGOLOGIA PARA A PESQUISA SOBRE O TRABALHO DA ENFERMAGEM

RESUMO

Objetivo:

o presente estudo consiste em uma reflexão teórica, com objetivo de sistematizar aspectos conceituais e metodológicos da perspectiva ergológica, destacando contribuições para pesquisas sobre o trabalho da enfermagem.

Método:

construído com base em textos escolhidos de autores que assumem a perspectiva ergológica para estudar o trabalho humano, tratando de aspectos teóricos ou metodológicos. Também integraram o estudo publicações sobre o trabalho em saúde e enfermagem que utilizaram a Ergologia. Inclui livros, Dissertações de Mestrado, Teses de Doutorado e artigos científicos publicados em periódicos indexados. Discute os conceitos de: trabalho prescrito e trabalho real; trabalho e atividade; saber investido e saber constituído; ingredientes da competência; e dispositivo dinâmico de três polos. Apresenta o método na Ergologia, destacando o processo de coleta de dados. A partir de estudos sobre o trabalho em saúde e enfermagem, e dos conceitos e método da Ergologia, foi realizada uma reflexão acerca das contribuições desta abordagem para compreensão do trabalho da enfermagem, destacando a fertilidade deste referencial teórico-metodológico para a pesquisa sobre este tema.

Resultados:

no trabalho em enfermagem há um encontro do saber e da prática que vai além da reprodução de normas, rotinas e procedimentos prescritos institucional e profissionalmente. A realização da atividade de trabalho manifesta-se como uma dramática que envolve o debate de normas e desafia o agir com competência, na impermanência dialógica entre o saber agir e o poder agir.

Conclusão:

a Ergologia pode ser um referencial teórico e metodológico profícuo para melhor entendimento da complexidade da atividade laboral da enfermagem.

DESCRITORES:
Ergologia; Atividade de trabalho; Trabalho; Enfermagem; Educação em Enfermagem

ABSTRACT

Objective:

the present study is a theoretical reflection aiming to systematize conceptual and methodological aspects of the ergologic perspective, emphasizing contributions to studies on the work in the nursing area.

Methods:

study developed based on selected texts by authors that take on the ergologic perspective to examine human work, discussing theoretical or methodological aspects. Publications about the work in the nursing and health fields that resorted to ergology were also included. The study considered books, master’s dissertations, doctoral theses, and scientific papers published in indexed journals and discusses the following concepts: prescribed work and real work; work and activity; experience and established knowledge; skill’s ingredients; and three-pole dynamic device. The study shows the method used in ergology, stressing the data collection process. A reflection about the contributions of this approach to understanding the work in the nursing area was carried out based on studies addressing the work in the health and nursing areas and ergology’s concepts and method, with emphasis on the richness of this theoretical-methodological framework for the development of research on this area.

Results:

work in the nursing area includes a combination of knowledge and practice that goes beyond reproducing standards, routines, and procedures prescribed by institutions and the profession itself. The execution of the work activity is complex and involves the debate of standards and poses a challenge to the act of working with competence, in the dialogical impermanence between knowing how to act and being able to act.

Conclusion:

ergology can be a fruitful theoretical and methodological framework to better understand the complexity of the work activity in the nursing area.

DESCRIPTORS:
Ergology; Work activity; Work; Nursing; Nursing education

RESUMEN

Objetivo:

reflexión teórica apuntando a sistematizar aspectos conceptuales y metodológicos de la perspectiva ergológica, destacando contribuciones a las investigaciones sobre el trabajo de enfermería.

Método:

estudio elaborado en base a textos elegidos de autores que asumen la perspectiva ergológica para analizar el trabajo humano, refiriendo aspectos teóricos o metodológicos. Se incluyeron publicaciones sobre trabajo en salud y en enfermería que aplicaron la ergología, así como libros, disertaciones de maestría, tesis doctorales y artículos científicos publicados en periódicos indexados. La investigación discute los conceptos de: trabajo prescripto y trabajo real; trabajo y actividad; saber invertido y saber constituido; ingredientes de la competencia; y el dispositivo dinámico de tres polos. Presenta el método en la ergología, destacando el proceso de recolección de datos. A partir de estudios sobre el trabajo en salud y enfermería, y de los conceptos y métodos de la ergología, se realizó una reflexión sobre las contribuciones del abordaje a la comprensión del trabajo de enfermería, destacándose la fertilidad del referencial teórico-metodológico para investigar la temática.

Resultados:

en el trabajo de enfermería existe una conjunción de saber y práctica que va más allá de la reproducción de normas, rutinas y procedimientos prescriptos, institucional y profesionalmente. Efectivizar la actividad laboral se manifiesta como un drama involucrando el debate de normas y el desafío al actuar con competencia, frente a la impermanencia dialógica entre el saber actuar y el poder actuar.

Conclusión:

la ergología puede constituir un referencial teórico-metodológico útil para mejorar la comprensión de la complejidad del trabajo de enfermería.

DESCRIPTORES:
Ergología; Actividad laboral; Trabajo; Enfermería; Educación en enfermería

INTRODUÇÃO

A Ergologia como abordagem teórico-metodológica para a compreensão do trabalho humano, tem origem em estudos denominados de Análise Pluridisciplinar das Situações de Trabalho (APST), desenvolvidos na década de 1980 na Universidade de Provence, na França. A análise pluridisciplinar prevê um diálogo entre diversos saberes, por considerar a complexidade da atividade humana e por reconhecer que seu estudo não está restrito a uma única disciplina. A fertilidade desse cenário de debates possibilitou, sob a liderança intelectual do filósofo Yves Schwartz, a criação do Departamento de Ergologia no ano de 1999 e a emergência de um novo olhar teórico-metodológico para estudos sobre o trabalho humano denominado Ergologia.11. Trinquet P. Trabalho e educação: o método ergológico. Histedbr [internet]. 2010 Aug [cited 2016 Jul 10];(Spe): 93-113. Available from: https://dx.doi.org/10.20396/rho.v10i38e.8639753
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-22.Figueiredo M, Athayde M, Brito J, Alvarez D, editors. Labirintos do trabalho: interrogações e olhares sobre o trabalho vivo. Rio de Janeiro, RJ(BR): Editora DP&A; 2004.

A Ergologia articula diversas disciplinas sem sobrepô-las22.Figueiredo M, Athayde M, Brito J, Alvarez D, editors. Labirintos do trabalho: interrogações e olhares sobre o trabalho vivo. Rio de Janeiro, RJ(BR): Editora DP&A; 2004. -33. Pires DEP. Transformações necessárias para o avanço da Enfermagem como ciência do cuidar. Rev Bras Enferm. 2013Sept [cited 2019 Oct 03]; 66(Spe):39-44. Available from: https://www.abeneventos.com.br/anais_senpe/17senpe/pdf/9002cf.pdf
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e aos saberes acadêmicos associam-se as experiências intrínsecas ao trabalhador, incluindo valores e história do sujeito que realiza o trabalho, entendido como protagonista da ação. A Ergologia adota a perspectiva pluridisciplinar de investigação, situa-se no campo das pesquisas de intervenção, onde se destacam dois procedimentos metodológicos: o denominado de “autoconfrontação” e o “método do sósia”.22.Figueiredo M, Athayde M, Brito J, Alvarez D, editors. Labirintos do trabalho: interrogações e olhares sobre o trabalho vivo. Rio de Janeiro, RJ(BR): Editora DP&A; 2004.

O trabalho da enfermagem, como diversos trabalhos do setor de serviços, caracteriza-se pela simultaneidade entre produção e consumo, pela variabilidade e imprevisibilidade, com forte influência dos ambientes de prática, incluindo condições materiais para sua realização, modos de organização e relações do trabalho. Um trabalho predominantemente desenvolvido com características do trabalho coletivo, envolvendo diversos trabalhadores e profissionais, com saberes específicos, e necessários para o cuidado em saúde. Um trabalho em que o resultado tem forte influência das decisões e valores dos sujeitos que o realizam.33. Pires DEP. Transformações necessárias para o avanço da Enfermagem como ciência do cuidar. Rev Bras Enferm. 2013Sept [cited 2019 Oct 03]; 66(Spe):39-44. Available from: https://www.abeneventos.com.br/anais_senpe/17senpe/pdf/9002cf.pdf
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-44. Pires DEP. A enfermagem enquanto disciplina, profissão e trabalho. Rev Bras Enferm. 2009 Sept/Oct [cited 2019 Oct 03]; 62(5):739-44. Available from: https://dx.doi.org/10.1590/S0034-71672009000500015
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Assim, considerando-se a fertilidade da perspectiva teórico-metodológica da Ergologia para a análise do trabalho humano, e as características do trabalho da enfermagem que desafiam estudiosos a buscar abordagens que melhor contribuam para o seu entendimento, o presente estudo consiste em uma reflexão teórica com objetivo de sistematizar aspectos conceituais e metodológicos da perspectiva ergológica, destacando contribuições para pesquisas sobre o trabalho da enfermagem.

A reflexão foi construída com base em textos escolhidos de forma intencional, não exaustiva, nos quais os autores assumem a perspectiva ergológica para estudar o trabalho humano, tratando de aspectos teóricos ou metodológicos.11. Trinquet P. Trabalho e educação: o método ergológico. Histedbr [internet]. 2010 Aug [cited 2016 Jul 10];(Spe): 93-113. Available from: https://dx.doi.org/10.20396/rho.v10i38e.8639753
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-55. Schwartz Y. Os ingredientes da competência: um exercício necessário para uma questão insolúvel. Educ Soc [internet]. 1998 Dec [cited 2017 Feb 17]; 19(65):1-18. Available from: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73301998000400004
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Também foram incluídas publicações que tratavam do trabalho em saúde e enfermagem sob o olhar da Ergologia.22.Figueiredo M, Athayde M, Brito J, Alvarez D, editors. Labirintos do trabalho: interrogações e olhares sobre o trabalho vivo. Rio de Janeiro, RJ(BR): Editora DP&A; 2004. -44. Pires DEP. A enfermagem enquanto disciplina, profissão e trabalho. Rev Bras Enferm. 2009 Sept/Oct [cited 2019 Oct 03]; 62(5):739-44. Available from: https://dx.doi.org/10.1590/S0034-71672009000500015
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,117.Schwartz Y, Durrive L, organizers. Trabalho & ergologia: conversas sobre a atividade humana. Niterói, RJ(BR): Editora da Universidade Federal Fluminense; 2010.-711. Bertoncini JH. Pires DEP. Scherer MDA. Condições de trabalho e renormalizações nas atividades das enfermeiras na saúde da família. Trab. educ. saúde [Internet]. 2011 [cited 2019 Oct 02]; 9(1):157-173. Available from: https://www.scielo.br/pdf/tes/v9s1/08.pdf
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Os textos que deram suporte a esta reflexão estavam organizados em livros; integravam Dissertações de Mestrado ou Teses de Doutorado; ou eram artigos científicos publicados em periódicos indexados. Todas as publicações estavam acessíveis em português.

ERGOLOGIA: CONCEITOS BÁSICOS

Trabalho prescrito e trabalho real

O trabalho prescrito é entendido como um conjunto de normas que regulam a forma como o trabalho deve ser realizado. Nessa expressão estão contidas normas, regulamentações, portarias, as rotinas prescritas, os procedimentos, as ordens e os resultados a serem obtidos, determinados por pessoas ou instituições. Contempla também o contexto organizacional em que se desenvolve o trabalho, ou seja, o ambiente físico, os materiais e equipamentos e as condições socioeconômicas.

O trabalho prescrito vai além das prescrições, da característica do meio, considera também o que o trabalhador prescreve para si mesmo, como o indivíduo sofre influências do coletivo de trabalho - uma variabilidade permanente - e, nesse movimento, as emoções, seu corpo biológico, seu saber, as experiências e a sua história, bem como o modo com que as suas relações influenciam a realização do trabalho.22.Figueiredo M, Athayde M, Brito J, Alvarez D, editors. Labirintos do trabalho: interrogações e olhares sobre o trabalho vivo. Rio de Janeiro, RJ(BR): Editora DP&A; 2004. -33. Pires DEP. Transformações necessárias para o avanço da Enfermagem como ciência do cuidar. Rev Bras Enferm. 2013Sept [cited 2019 Oct 03]; 66(Spe):39-44. Available from: https://www.abeneventos.com.br/anais_senpe/17senpe/pdf/9002cf.pdf
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,1313. Verdier É. Planifications et régulations territoriales de la formation et de l’emploi à l’épreuve du travail. Ergologia [Internet]. 2016 [cited 2017 May 10]; 16:113-30. Available from: https://www.ergologia.org/uploads/1/1/4/6/11469955/f6._art._1.pdf
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As normas antecedentes orientam as atividades indo além das regras e regulamentos, considerando aspectos culturais, históricos e sociais que não são impostos e nem absolutos,77.Schwartz Y, Durrive L, organizers. Trabalho & ergologia: conversas sobre a atividade humana. Niterói, RJ(BR): Editora da Universidade Federal Fluminense; 2010. “[...] sinalizam valores que tanto podem espelhar a preocupação com a afirmação da vida (é o caso da saúde, da educação, direito ao trabalho e ao ócio, da segurança, da preservação ambiental, da equidade etc.) como podem veicular interesses econômicos do tipo mercantil”.1414. Brito J, Muniz HP, Santorum K, Ramminger T. O trabalho nos serviços públicos de saúde: entre a inflação e a ausência de normas. In: Assunção AA, Brito J, editors. Trabalhar na saúde: experiências cotidianas e desafios para a gestão do trabalho e do emprego. Rio de Janeiro, RJ(BR): Fiocruz; 2011. p.23-43:25

O trabalho real, que se refere à atividade de um indivíduo singular, é a situação do ato do trabalho em si, e, sob a ótica da ergologia, a prescrição surge de uma ordenação desse trabalho. Os autores que tratam desse conceito66. Scherer MDA, Oliveira CI, Carvalho WMES. Cursos de especialização em Saúde da Família: o que muda no trabalho com a formação? Interface. 2016[cited 2019 Oct 03]; 20(58):691-702. Available from: https://dx.doi.org/10.1590/1807-57622015.0020
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sinalizam para uma lacuna existente entre o prescrito e o realizado; para eles, esse “espaço vazio” requer um movimento próprio do trabalhador, que não pode tudo prever ou antecipar. Todavia, são necessários exercício permanente e motivação pessoal para conduzir as arbitrariedades impostas pela prescrição. Essa realização da atividade envolve uma dramática do uso de si e do corpo-si, “[...] um universo em que reinam normas de todos os tipos: quer sejam científicas, técnicas, organizacionais, gestionárias, hierárquicas, quer remetam a relações de desigualdade, de subordinação, de poder - há tudo isso junto”.7:194 “[...] a atividade envolve sempre uma dialética entre heterodeterminação (uso de si por outro), e singularização (uso de si por si)”,1414. Brito J, Muniz HP, Santorum K, Ramminger T. O trabalho nos serviços públicos de saúde: entre a inflação e a ausência de normas. In: Assunção AA, Brito J, editors. Trabalhar na saúde: experiências cotidianas e desafios para a gestão do trabalho e do emprego. Rio de Janeiro, RJ(BR): Fiocruz; 2011. p.23-43:27 uma dramática de uso de si que envolve fatores “contraditórias e enigmáticos”.77.Schwartz Y, Durrive L, organizers. Trabalho & ergologia: conversas sobre a atividade humana. Niterói, RJ(BR): Editora da Universidade Federal Fluminense; 2010.

Trabalho e o ponto de vista da atividade

O trabalho não é só uma operacionalização no sentido técnico ou mecanizado, mas constitui o ser humano, “[...] o trabalho é um ato da natureza humana que engloba e restitui toda complexidade humana”.11. Trinquet P. Trabalho e educação: o método ergológico. Histedbr [internet]. 2010 Aug [cited 2016 Jul 10];(Spe): 93-113. Available from: https://dx.doi.org/10.20396/rho.v10i38e.8639753
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:96 O entendimento do trabalho como ação mecânica, despojada de pensamento, não consegue visualizar a sua dimensão complexa e dificulta o entendimento das organizações do trabalho e das medidas de prevenção aos riscos advindos do trabalho.11. Trinquet P. Trabalho e educação: o método ergológico. Histedbr [internet]. 2010 Aug [cited 2016 Jul 10];(Spe): 93-113. Available from: https://dx.doi.org/10.20396/rho.v10i38e.8639753
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O trabalho se modifica, “[...] consubstancial à natureza do trabalho humano: ele se modifica sempre”.77.Schwartz Y, Durrive L, organizers. Trabalho & ergologia: conversas sobre a atividade humana. Niterói, RJ(BR): Editora da Universidade Federal Fluminense; 2010.:25 Desde a perspectiva analítica do “operário e a sua máquina”, modificações ocorreram e, a partir de 1980, terminologias como “competência” passam a ganhar destaque. O que faz com que o trabalho aconteça é um movimento de mente e de corpo, e de diálogo de si com os outros. Autores afirmam que “somos sempre apanhados pela retaguarda, no que tange à atividade humana. Ela está sempre, em um dado meio, em negociação de normas”. Ainda, para a compreensão do trabalho, o saber disciplinar é preciso, e a análise da atividade confronta saberes disciplinares com o saber experienciado pelo trabalhador em seu contexto real, “[...] ou dizemos que estes conceitos são suficientes para compreender o que se passa numa situação de trabalho, ou dizemos sim que é no retrabalho e no contato com as situações concretas que as pessoas recompõem tudo isso”.77.Schwartz Y, Durrive L, organizers. Trabalho & ergologia: conversas sobre a atividade humana. Niterói, RJ(BR): Editora da Universidade Federal Fluminense; 2010.:31

Um trabalhador, ao ser questionado sobre seu trabalho, irá discorrer sobre a sua tarefa, seu ambiente de trabalho, os procedimentos e as normas laborais, seus materiais e equipamentos, que são interpretados pela Ergologia como sendo o trabalho prescrito. Falta o entendimento do que vem a ser a atividade do trabalho, como um encontro gerido, circundado pelo ato humano, consciente, com possibilidades de escolhas e adaptação.1515. Fischborn AF, Viegas MF. A atividade dos trabalhadores de enfermagem numa unidade hospitalar: entre normas e renormalizações. Trabalho, Educ Saúde. 2015 Sept/Dec [cited 2019 Oct 02];13(58):657-74. Available from: https://dx.doi.org/10.1590/1981-7746-sip00060
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Saber investido e saber constituído

A Ergologia considera que para toda a atividade de trabalho é depositado um saber individual, de cada ser humano, o que de certa forma, aproxima o prescrito do real. Esse saber, constituído pelo ser humano, é parte de suas experiências individuais pessoais e profissionais, bem como de sua história de vida, seu saber constituído. O saber investido, “que é um verdadeiro saber”,11. Trinquet P. Trabalho e educação: o método ergológico. Histedbr [internet]. 2010 Aug [cited 2016 Jul 10];(Spe): 93-113. Available from: https://dx.doi.org/10.20396/rho.v10i38e.8639753
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:100 associa-se ao saber constituído dialogando entre si. Para os ergólogos, somente ambos os elementos podem traduzir a realidade do trabalho. São elementos que permitem compreender as situações de trabalho, indissociáveis do ser humano, que agrega seu saber adquirido, pela via da sua experiência e pela via da sua formação acadêmica.11. Trinquet P. Trabalho e educação: o método ergológico. Histedbr [internet]. 2010 Aug [cited 2016 Jul 10];(Spe): 93-113. Available from: https://dx.doi.org/10.20396/rho.v10i38e.8639753
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,1616. Oliveira MCR, Franzoi NL. Educação, profissional, trabalho e produção de saberes. Reflexão e Ação [internet]. 2015 Sept/Dec [cited 2016 Jul 10]; 23(3):315-37. Available from: https://online.unisc.br/seer/index.php/reflex/index
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Exemplificando com o trabalho de produção acadêmica, pode-se afirmar que o saber constituído é o que se aprende na academia, obtido por meio dos livros, formalizado em ensino técnico, graduação e pós-graduação, nas normas e regulamentações organizacionais e técnicas. Já o saber investido é adquirido nas atividades de trabalho, pela via das experiências do indivíduo, e significa aquisição de importante ingrediente da competência para desempenhar determinada atividade, que não se encontra prescrita ou formulada, é exclusiva, é original, a citação complementa e traduz esses dois saberes ao analisar as estatísticas de acidentes de trabalho na França: “Um assalariado chega a um novo ambiente de trabalho, seus riscos de acidente são maiores do que depois de certo tempo de adaptação. Avalia-se, então, que ele não tem experiência”. Na abordagem ergológica seria dito: “ele ainda não adquiriu seu saber de experiência particular em relação àquele lugar!”.11. Trinquet P. Trabalho e educação: o método ergológico. Histedbr [internet]. 2010 Aug [cited 2016 Jul 10];(Spe): 93-113. Available from: https://dx.doi.org/10.20396/rho.v10i38e.8639753
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:102

Ingredientes da competência propostos pela Ergologia

Pode-se dizer que há uma relação dialética entre saberes e valores individuais que permeiam o trabalho, haja vista as mudanças na utilização do termo “qualificação” por “competência”.

O deslizamento qualificação/competência é estruturalmente paralelo ao deslizamento trabalhar/gerir. Os elementos que hoje podemos muito mais claramente identificar como gestão de situação de trabalho e que motivam esse recurso ao conceito mais vago de competência não nasceram do nada junto com as “novas tecnologias”, as “novas formas de organização do trabalho”, as novas regras de avaliação dos agentes; já existiam, nas formas anteriores, com dimensões e objetivos aparentemente mais modestos, com formas implícitas, dissimuladas pela evidência da gestualidade apreendida como repetitiva.55. Schwartz Y. Os ingredientes da competência: um exercício necessário para uma questão insolúvel. Educ Soc [internet]. 1998 Dec [cited 2017 Feb 17]; 19(65):1-18. Available from: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73301998000400004
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:22.Figueiredo M, Athayde M, Brito J, Alvarez D, editors. Labirintos do trabalho: interrogações e olhares sobre o trabalho vivo. Rio de Janeiro, RJ(BR): Editora DP&A; 2004. -33. Pires DEP. Transformações necessárias para o avanço da Enfermagem como ciência do cuidar. Rev Bras Enferm. 2013Sept [cited 2019 Oct 03]; 66(Spe):39-44. Available from: https://www.abeneventos.com.br/anais_senpe/17senpe/pdf/9002cf.pdf
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Esta referência, atualmente, orienta os “ingredientes da competência”. O primeiro ingrediente da competência, consiste no domínio do conjunto dos protocolos de todo o saber conceitual que antecede o trabalho. O segundo ingrediente é a experiência do indivíduo frente às situações que se apresentam no ambiente de trabalho. O terceiro ingrediente resulta do diálogo entre o primeiro e o segundo ingredientes; oportuniza fazer escolhas de como ou quando realizar determinada tarefa. O quarto ingrediente relaciona-se ao debate de normas e valores que definirão o que é prioritário e a adesão ou não a um determinado projeto. O quinto é o agir do trabalhador e a sua sensibilização para melhor desempenhar determinadas tarefas. O sexto ingrediente “[...] é a busca pela complementariedade com o outro e pelo fortalecimento da coesão do coletivo no trabalho”.66. Scherer MDA, Oliveira CI, Carvalho WMES. Cursos de especialização em Saúde da Família: o que muda no trabalho com a formação? Interface. 2016[cited 2019 Oct 03]; 20(58):691-702. Available from: https://dx.doi.org/10.1590/1807-57622015.0020
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:693

Dispositivo Dinâmico de Três Polos - DD3P

O Dispositivo Dinâmico de Três Polos é definido como duas extremidades imaginárias, que interatuam entre si; “o termo “pólo” consiste em um lugar virtual onde se agregam, sintetizam-se e exprimem-se objetivos, competências, saberes e conhecimentos [...]”.11. Trinquet P. Trabalho e educação: o método ergológico. Histedbr [internet]. 2010 Aug [cited 2016 Jul 10];(Spe): 93-113. Available from: https://dx.doi.org/10.20396/rho.v10i38e.8639753
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:103 Caracteriza-se, assim, pela dialética e por onde circulam os saberes investidos e os saberes constituídos. O DD3P é um esquema metodológico que expõe as diretrizes complexas propostas pelo método, e o recomendado é que qualquer área de atuação utilize o DD3P como recurso metodológico, por considerar o trabalhador o elemento central da investigação.77.Schwartz Y, Durrive L, organizers. Trabalho & ergologia: conversas sobre a atividade humana. Niterói, RJ(BR): Editora da Universidade Federal Fluminense; 2010.

O DD3P é constituído por um espaço tripolar, dividido em: polo I, polo II e polo III, cada um individualizado com pontos em comuns. O polo I se refere ao conhecimento disponível, às regras e códigos de ética prescritos, às competências acadêmicas e também profissionais de quem realiza o trabalho, saber que elabora e formaliza o trabalho prescrito.77.Schwartz Y, Durrive L, organizers. Trabalho & ergologia: conversas sobre a atividade humana. Niterói, RJ(BR): Editora da Universidade Federal Fluminense; 2010. O polo II refere-se às experiências, às histórias individuais, constituídas em um momento real; este polo representa as regras, as normas e as hierarquias muito bem definidas que os indivíduos constroem nas suas experiências singulares que adquiriram na atividade. Ambos se completam quando da análise de uma atividade de trabalho.11. Trinquet P. Trabalho e educação: o método ergológico. Histedbr [internet]. 2010 Aug [cited 2016 Jul 10];(Spe): 93-113. Available from: https://dx.doi.org/10.20396/rho.v10i38e.8639753
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,1212. Scherer MDA. Pires DEP. Jean R. A construção da interdisciplinaridade no trabalho da Equipe de Saúde da Família. Ciênc Saúde Coletiva [Internet]. 2013 [cited 2019 Oct 02]; 18(11):3203-12. Available from: https://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232013001100011
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O terceiro polo da ação, em que se expressam questionamentos, “perguntas e respostas em duplo sentido”77.Schwartz Y, Durrive L, organizers. Trabalho & ergologia: conversas sobre a atividade humana. Niterói, RJ(BR): Editora da Universidade Federal Fluminense; 2010.:269, é onde se articulam os outros dois polos, com tomada de decisões considerando-se as regras, as normas e as hierarquias. É “parte integrante da organização, da concepção e do desenvolvimento de debates”.11. Trinquet P. Trabalho e educação: o método ergológico. Histedbr [internet]. 2010 Aug [cited 2016 Jul 10];(Spe): 93-113. Available from: https://dx.doi.org/10.20396/rho.v10i38e.8639753
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:104 Cada polo representa seu espaço, de forma integrada.77.Schwartz Y, Durrive L, organizers. Trabalho & ergologia: conversas sobre a atividade humana. Niterói, RJ(BR): Editora da Universidade Federal Fluminense; 2010. A Figura 1, ilustra o esquema metodológico do DD3P.77.Schwartz Y, Durrive L, organizers. Trabalho & ergologia: conversas sobre a atividade humana. Niterói, RJ(BR): Editora da Universidade Federal Fluminense; 2010.,11. Trinquet P. Trabalho e educação: o método ergológico. Histedbr [internet]. 2010 Aug [cited 2016 Jul 10];(Spe): 93-113. Available from: https://dx.doi.org/10.20396/rho.v10i38e.8639753
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Figura 1
Esquema metodológico do DD3P.77.Schwartz Y, Durrive L, organizers. Trabalho & ergologia: conversas sobre a atividade humana. Niterói, RJ(BR): Editora da Universidade Federal Fluminense; 2010.,11. Trinquet P. Trabalho e educação: o método ergológico. Histedbr [internet]. 2010 Aug [cited 2016 Jul 10];(Spe): 93-113. Available from: https://dx.doi.org/10.20396/rho.v10i38e.8639753
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O MÉTODO NA ERGOLOGIA

Em se tratando do método na Ergologia. Destaca-se como instrumentos para coleta e análise dos dados a autoconfrontação e o método do sósia. A autoconfrontação é recomendada para a compreensão das situações de trabalho. Nela, o objetivo é traduzir a realização do ato do trabalhador, ou seja, compreender a sua execução no momento em que realiza o seu trabalho.

Assim, é o trabalhador quem “exercita a confrontação de si mesmo diante do seu trabalho e institui dispositivos práticos que possibilitam uma análise minuciosa da atividade”.22.Figueiredo M, Athayde M, Brito J, Alvarez D, editors. Labirintos do trabalho: interrogações e olhares sobre o trabalho vivo. Rio de Janeiro, RJ(BR): Editora DP&A; 2004. :215 Os elementos para essa análise podem ser obtidos através da observação das atividades, por meio de filmagens, relatos do pesquisador e registros em notas de campo, contrapondo ao seu pensar, obtido pelas entrevistas, métodos que confrontam o “trabalhador e seu trabalho”. Como bem observado, “[...] para compreender a atividade, que é mais global do que a ação, não seria suficiente focalizar apenas a ação de realizar uma tarefa e, então, a partir da observação restritiva, articular o sentido; é necessário levar em conta que a atividade também é composta do seu entorno não evidente”.22.Figueiredo M, Athayde M, Brito J, Alvarez D, editors. Labirintos do trabalho: interrogações e olhares sobre o trabalho vivo. Rio de Janeiro, RJ(BR): Editora DP&A; 2004. :220

O método é útil para compreender a observação sobre o trabalho prescrito e o realizado, bem como para obter, a partir da fala do trabalhador, suas expressões ou o que melhor expõe ou revela as suas escolhas. O autor identifica como diversas formas de “produção de sentido: o ambiente, os recursos tecnológicos, a organização”; a finalidade, os procedimentos prescritos, as normas antecedentes, as escolhas, com o “comentário do trabalhador nas afirmativas, negativas, contradições, silêncios e não-ditos”.22.Figueiredo M, Athayde M, Brito J, Alvarez D, editors. Labirintos do trabalho: interrogações e olhares sobre o trabalho vivo. Rio de Janeiro, RJ(BR): Editora DP&A; 2004. :215

Outro procedimento sugerido pela ergologia é o método do sósia, utilizado para a análise do trabalho. Esse procedimento foi criado por Ivar Oddone na década de 1970, com o objetivo de favorecer ao trabalhador conhecer-se e conhecer sua atividade, intervindo para melhorias no e sobre seu trabalho. O método é realizado pelo pesquisador, no papel de sósia, e um trabalhador voluntário, que é designado de instrutor. A partir de uma pergunta norteadora exposta ao coletivo dos trabalhadores, cada trabalhador passa a relatar ou descrever, de forma individual, a sua jornada de trabalho, listando as atividades que realiza, expondo ao grupo formado. Na execução do procedimento, pela via dos relatos, o sósia (que é o pesquisador) identifica os problemas na descrição da atividade feita pelos participantes e lança alternativas para solucioná-los.99. Goularte RS, Gatto VB. O método instrução ao sósia (IAS) na pesquisa sobre o trabalho docente. Linguagens e Cidadania. 2013 [cited 2019 Oct 03]; 15(1):1-16. Available from: https://periodicos.ufsm.br/LeC/article/view/22830
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A partir das respostas dos participantes à pergunta norteadora, surge um texto, advindo do diálogo do sósia com o instrutor, o qual é transcrito. O texto retorna ao instrutor para fins de recriar um novo escrito, dando continuidade para a segunda etapa do método. Nesse momento o trabalhador (instrutor) é confrontado com seus próprios significados e interpretações, com a oportunidade de produzir um novo texto, que pode retornar ao sósia (pesquisador). É a partir daí que o trabalho pode ser “observado e transformado”.99. Goularte RS, Gatto VB. O método instrução ao sósia (IAS) na pesquisa sobre o trabalho docente. Linguagens e Cidadania. 2013 [cited 2019 Oct 03]; 15(1):1-16. Available from: https://periodicos.ufsm.br/LeC/article/view/22830
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O sósia é responsável por instigar, fazer provocações e interagir, buscando obter informações detalhadas advindas do instrutor. O método é conduzido com o intuito de responder: “como, por que e para que o trabalhador realiza as suas atividades”.99. Goularte RS, Gatto VB. O método instrução ao sósia (IAS) na pesquisa sobre o trabalho docente. Linguagens e Cidadania. 2013 [cited 2019 Oct 03]; 15(1):1-16. Available from: https://periodicos.ufsm.br/LeC/article/view/22830
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:06 A Figura 2, apresenta as etapas que constituem o “método do sósia”.99. Goularte RS, Gatto VB. O método instrução ao sósia (IAS) na pesquisa sobre o trabalho docente. Linguagens e Cidadania. 2013 [cited 2019 Oct 03]; 15(1):1-16. Available from: https://periodicos.ufsm.br/LeC/article/view/22830
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Figura 2
Descrição do método do sósia.99. Goularte RS, Gatto VB. O método instrução ao sósia (IAS) na pesquisa sobre o trabalho docente. Linguagens e Cidadania. 2013 [cited 2019 Oct 03]; 15(1):1-16. Available from: https://periodicos.ufsm.br/LeC/article/view/22830
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A ERGOLOGIA E O TRABALHO EM SAÚDE E ENFERMAGEM: ALGUNS ESTUDOS

Encontram-se na literatura científica estudos sobre o trabalho em saúde e enfermagem que fizeram uso da abordagem da Ergologia, empregando-a, em alguns casos, como referencial teórico e, em outros, como referencial teórico-metodológico. Assim, os trabalhos em saúde e enfermagem são utilizados para ilustrar o modo de compreensão da atividade humana pela referida abordagem.

Um estudo que tratou do trabalho das enfermeiras na Estratégia Saúde da Família (ESF) utilizou o referencial teórico e também metodológico da Ergologia para apreender a complexidade do trabalho das enfermeiras neste espaço assistencial. A autora do estudo justifica a escolha dessa perspectiva porque “[...] prevê o olhar para a atividade considerando o trabalho prescrito e o real e associando as explicações dos trabalhadores para as suas escolhas”.1111. Bertoncini JH. Pires DEP. Scherer MDA. Condições de trabalho e renormalizações nas atividades das enfermeiras na saúde da família. Trab. educ. saúde [Internet]. 2011 [cited 2019 Oct 02]; 9(1):157-173. Available from: https://www.scielo.br/pdf/tes/v9s1/08.pdf
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:54 A abordagem ergológica foi considerada adequada para a compreensão do trabalho das enfermeiras, por considerar o debate de valores e a singularidade apresentada no contexto real do trabalho.1111. Bertoncini JH. Pires DEP. Scherer MDA. Condições de trabalho e renormalizações nas atividades das enfermeiras na saúde da família. Trab. educ. saúde [Internet]. 2011 [cited 2019 Oct 02]; 9(1):157-173. Available from: https://www.scielo.br/pdf/tes/v9s1/08.pdf
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Em outro estudo, os autores1515. Fischborn AF, Viegas MF. A atividade dos trabalhadores de enfermagem numa unidade hospitalar: entre normas e renormalizações. Trabalho, Educ Saúde. 2015 Sept/Dec [cited 2019 Oct 02];13(58):657-74. Available from: https://dx.doi.org/10.1590/1981-7746-sip00060
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investigaram a atividade dos trabalhadores de enfermagem em uma unidade hospitalar, com o objetivo de compreender como ocorrem as relações entre normas e renormalizações numa instituição hospitalar. Sob o olhar da Ergologia, os autores interpretaram que o trabalho cotidiano da enfermagem é regido por normas, protocolos, regulamentações, e que os profissionais, na sua singularidade, agem neste contexto prescrito em permanente renormalização. Na abordagem da Ergologia, meio e atividade são sempre singulares, e o “meio é sempre mais ou menos infiel”, “ele jamais se repete exatamente de um dia para o outro, ou de uma situação de trabalho a outra. Então, aí está uma primeira infidelidade do meio”.77.Schwartz Y, Durrive L, organizers. Trabalho & ergologia: conversas sobre a atividade humana. Niterói, RJ(BR): Editora da Universidade Federal Fluminense; 2010.:189 E o trabalho real envolve decisões do sujeito que o executa, sempre uma dramática do uso de si, por si, e uso de si pelos outros.22.Figueiredo M, Athayde M, Brito J, Alvarez D, editors. Labirintos do trabalho: interrogações e olhares sobre o trabalho vivo. Rio de Janeiro, RJ(BR): Editora DP&A; 2004.

Em um livro sobre a Ergologia77.Schwartz Y, Durrive L, organizers. Trabalho & ergologia: conversas sobre a atividade humana. Niterói, RJ(BR): Editora da Universidade Federal Fluminense; 2010. encontram-se exemplos de situações do trabalho em saúde e enfermagem utilizados para auxiliar na compreensão deste referencial. Diz o estudo: se a enfermeira, ao realizar o seu trabalho, tem por objetivo restabelecer a saúde dos doentes, com esse propósito, ela irá “negociar/avaliar tanto o conjunto quanto um segmento de sua atividade”.77.Schwartz Y, Durrive L, organizers. Trabalho & ergologia: conversas sobre a atividade humana. Niterói, RJ(BR): Editora da Universidade Federal Fluminense; 2010.:26-27 Consideram-se diversos aspectos, como, por exemplo, os relativos ao que será demandado do seu corpo e as exigências institucionais, assim como os seus valores relativos ao doente e ao seu trabalho profissional. Esse processo decisório consiste em uma dramática mediada por valores e articulada às experiências prévias. E o meio onde se realiza a atividade é pleno de variabilidades.

Um estudo77.Schwartz Y, Durrive L, organizers. Trabalho & ergologia: conversas sobre a atividade humana. Niterói, RJ(BR): Editora da Universidade Federal Fluminense; 2010. apresenta resultados de pesquisa acerca das possibilidades de construção da interdisciplinaridade no processo de trabalho dos profissionais de saúde que participaram de um curso de Residência Multiprofissional em Saúde da Família. A Ergologia foi utilizada na tese como referencial teórico, contribuindo para explicar a variabilidade, as possibilidades e os impedimentos para o exercício da interdisciplinaridade.

Os autores do livro trabalhar na saúde1414. Brito J, Muniz HP, Santorum K, Ramminger T. O trabalho nos serviços públicos de saúde: entre a inflação e a ausência de normas. In: Assunção AA, Brito J, editors. Trabalhar na saúde: experiências cotidianas e desafios para a gestão do trabalho e do emprego. Rio de Janeiro, RJ(BR): Fiocruz; 2011. p.23-43 tratam sobre trabalho nos serviços de saúde com base na perspectiva ergológica. Estimulam a pensar como os trabalhadores da saúde fazem para dar conta de suas atividades e se o modo como realizam as atividades pode representar um risco à sua saúde, como tomam decisões frente às normas, aos protocolos e às políticas públicas prescritas. O trabalho incita a criação de novas normas, (re)normatização; é também local de retrabalho e desafios, onde ocorrem microescolhas com base em valores sociais e históricos. Esses fatores são determinantes, enigmáticos e contraditórios.

CONTRIBUIÇÕES DA ERGOLOGIA PARA A PESQUISA SOBRE O TRABALHO DA ENFERMAGEM

Na perspectiva taylorista o trabalho precisava ser fragmentado, e a concepção excluída do chão da fábrica e dos ambientes da realização do trabalho. No entanto, isso nunca foi conseguido na sua totalidade.22.Figueiredo M, Athayde M, Brito J, Alvarez D, editors. Labirintos do trabalho: interrogações e olhares sobre o trabalho vivo. Rio de Janeiro, RJ(BR): Editora DP&A; 2004. E, nas últimas décadas, tem se destacado o entendimento de que o trabalho não é só execução, e uma das abordagens para essa compreensão é a Ergologia.

Para a Ergologia, toda atividade de trabalho é sempre uma dramática do uso de si, no sentido de um drama, individual ou coletivo, um encontro de sujeitos singulares que compartilham um ambiente multideterminado e infiel.1717. Ribeiro G. Pires DEP. SchererMDA. Práticas de biossegurança no ensino técnico de enfermagem. Trabalho, Educ Saúde. 2016 Sept/Dec [cited 2019 Oct 02]; 14(3):871-88. Available from: https://dx.doi.org/10.1590/1981-7746-sol00019
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-1818. Cunha DM. Notas conceituais sobre atividade e corpo-si na abordagem Ergológica do trabalho. GT: Trabalho e Educação [Internet]. 2015 [cited 2016 Jul 22]. Available from: https://30reuniao.anped.org.br/trabalhos/GT09-3586--Int.pdf
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As experiências dos trabalhadores, a cultura, os valores, as condições do meio, as relações pessoais e a variabilidade permanente são centrais na Ergologia, e nos instigam a refletir acerca da sua propriedade para auxiliar na compreensão da complexidade envolvida no trabalho da enfermagem. Afinal, é um trabalho do campo da saúde que assume o cuidado humano como seu foco de atuação e de produção de conhecimentos, que envolve relações entre quem cuida e quem é cuidado, em situações sempre singulares.33. Pires DEP. Transformações necessárias para o avanço da Enfermagem como ciência do cuidar. Rev Bras Enferm. 2013Sept [cited 2019 Oct 03]; 66(Spe):39-44. Available from: https://www.abeneventos.com.br/anais_senpe/17senpe/pdf/9002cf.pdf
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Trata-se de um trabalho que tem enorme relevância social e é desenvolvido por profissionais com competência técnica e legal para atender a complexidade das demandas de cuidado à saúde da população. A enfermagem está presente na quase totalidade das instituições assistenciais em saúde e atua em cenários regulados, com base em conhecimentos produzidos pelas ciências da saúde e pela disciplina enfermagem.33. Pires DEP. Transformações necessárias para o avanço da Enfermagem como ciência do cuidar. Rev Bras Enferm. 2013Sept [cited 2019 Oct 03]; 66(Spe):39-44. Available from: https://www.abeneventos.com.br/anais_senpe/17senpe/pdf/9002cf.pdf
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-44. Pires DEP. A enfermagem enquanto disciplina, profissão e trabalho. Rev Bras Enferm. 2009 Sept/Oct [cited 2019 Oct 03]; 62(5):739-44. Available from: https://dx.doi.org/10.1590/S0034-71672009000500015
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Considerando as normas antecedentes à realização do trabalho da enfermagem, destaca-se que, majoritariamente, tem características do trabalho do tipo coletivo, tanto na relação com os demais profissionais da saúde e trabalhadores envolvidos no trabalho institucional quanto internamente à profissão. Trata-se de um trabalho do tipo profissional, que no Brasil é regulamentado pela Lei do Exercício Profissional nº 7498/1986, a qual prescreve que a enfermagem é exercida por enfermeiros, técnicos de enfermagem, auxiliares de enfermagem e parteiras. E que ao enfermeiro cabe, legalmente, exercer todas as atividades típicas da profissão, assim como não podem existir ações de enfermagem sem a supervisão do enfermeiro.33. Pires DEP. Transformações necessárias para o avanço da Enfermagem como ciência do cuidar. Rev Bras Enferm. 2013Sept [cited 2019 Oct 03]; 66(Spe):39-44. Available from: https://www.abeneventos.com.br/anais_senpe/17senpe/pdf/9002cf.pdf
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,1919. Bellaguarda ML, Padilha MI, Pires DEP. Conselho regional de enfermagem de Santa Catarina (1975-1986): importância para a profissão. Texto Contexto Enferm. 2015 Jul/Sept [cited 2019 Oct 02]; 24(3):654-61. Available from: https://dx.doi.org/10.1590/0104-07072015003750013
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No trabalho em enfermagem, há um encontro do saber e da prática que vai além das rotinas habituais, manifestando as dramáticas (debate com normas), e desafiando o agir com competência, na impermanência dialógica entre o “saber agir (ter domínio das normas antecedentes), o querer agir (estar motivado ou aderir a um projeto coletivo) e o poder agir (capacidade de enfrentar os constrangimentos do meio)”.1212. Scherer MDA. Pires DEP. Jean R. A construção da interdisciplinaridade no trabalho da Equipe de Saúde da Família. Ciênc Saúde Coletiva [Internet]. 2013 [cited 2019 Oct 02]; 18(11):3203-12. Available from: https://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232013001100011
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Todavia, nas relações de trabalho, especificamente em se tratando da enfermagem, os espaços de trabalho e as relações são muitas diversificados, as especificidades de competências, habilidades, nível de escolaridade, cargos e funções administrativas e atividades burocráticas fazem parte do trabalho, desafiando o agir coletivo. Tal fato pode contribuir para competitividade, conflitos e desarmonia.

Nesses espaços o profissional da enfermagem vivencia, cotidianamente, relações com os usuários dos serviços de saúde. Defronta-se com os modelos assistenciais, as políticas públicas vigentes e as tecnologias materializadas em novos equipamentos e produtos e, também, em saberes profissionais. Destacam-se, além disso, os diversos ambientes laborais com infraestrutura inadequada materiais inadequados ou insuficientes, os quais podem gerar ações inseguras, risco ergonômico, danos psicológicos, exposição a agentes infectocontagiosos, radiação ionizante e outros.1414. Brito J, Muniz HP, Santorum K, Ramminger T. O trabalho nos serviços públicos de saúde: entre a inflação e a ausência de normas. In: Assunção AA, Brito J, editors. Trabalhar na saúde: experiências cotidianas e desafios para a gestão do trabalho e do emprego. Rio de Janeiro, RJ(BR): Fiocruz; 2011. p.23-43,2020. Fertonani HP, Pires DEP, Biff D, Scherer MDA. Modelo assistencial em saúde: conceitos e desafios para a atenção básica brasileira. Ciênc Saúde Coletiva. 2015 June [cited 2019 Oct 02]; 20(6):1869-78. Available from: https://dx.doi.org/10.1590/1413-81232015206.13272014
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-2121. Pimenta AL, Souza ML. Identidade profissional da enfermagem nos textos publicados na REBEN. Texto Contexto Enferm. 2017; 6(1):e4370015. Available from: https://dx.doi.org/10.1590/0104-07072016004370015
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Essa dimensão complexa pode ser melhor interpretada e compreendida com os aportes teóricos e metodológicos da Ergologia. Nas pesquisas, o método do sósia e a autoconfrontação são recursos que podem proporcionar melhor entendimento da atividade laboral da enfermagem, ajudando a captar a diversidade do trabalho vivo, considerando os campos da experiência humana e as relações, sempre enigmáticas. Toda atividade humana é um contínuo debate de normas e o ser humano estabelece inúmeras relações com o meio onde está inserido.1818. Cunha DM. Notas conceituais sobre atividade e corpo-si na abordagem Ergológica do trabalho. GT: Trabalho e Educação [Internet]. 2015 [cited 2016 Jul 22]. Available from: https://30reuniao.anped.org.br/trabalhos/GT09-3586--Int.pdf
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Sob a ótica da interpretação do uso de si no trabalho, as dramáticas do uso do corpo-si, as suas definições e o debate de normas e valores que constituem as renormalizações, talvez possamos descortinar as enigmáticas e obscuras facetas que envolvem o âmago do agir no trabalho da enfermagem.

CONCLUSÃO

A abordagem ergológica consiste em um referencial teórico e metodológico profícuo para as pesquisas sobre o trabalho em saúde e enfermagem. A Ergologia considera o ser humano na sua singularidade, influenciado pelo meio, sempre infiel, e pelas relações de trabalho, necessitando recriar e renormalizar. Reconhece o ambiente de trabalho como técnico, humano e cultural, e nele todos os tipos de infidelidades se combinam, se acumulam, se reforçam mutuamente, o que parece útil para auxiliar na compreensão da diversidade do trabalho em saúde e enfermagem.

Considerando-se as atividades específicas do setor, como também a multiplicidade de normas, a formação técnica e científica e as condições do meio requerem que o trabalhador faça escolhas e confronte-se com a variabilidade das situações que se apresentam. Com a orientação dos pressupostos da Ergologia é possível compreender que o trabalho não é apenas execução do prescrito, mas denota uma característica fundamental do ser humano, de se recriar e mobilizar, em permanente uso de si por outros e de si por si.

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NOTAS

  • ORIGEM DO ARTIGO

    Extraído da tese - Biossegurança e segurança do paciente na formação em Enfermagem: um estudo sob o olhar da Ergologia, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina, em 2019.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Dez 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    21 Mar 2017
  • Aceito
    27 Jul 2017
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