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Editorial

Editorial

Este é o terceiro número de Scientiæ udia dedicado principalmente à história da ciência, com a exceção da nota crítica de Eduardo Kickhöfel, que desenvolve um tema contemporâneo sob uma perspectiva metafísica, comentando o artigo de Marcelo Ferreira publicado no número anterior. Os textos aqui publicados testemunham o aumento entre nós da reflexão crítica, filosófica e histórica, sobre as ciências biológicas e a medicina.

O número inicia com o artigo de Regina Rebollo que discorre sobre o estabelecimento da medicina no tratado hipocrático Sobre a arte médica, traçando seu percurso entre o século III a.C. e o século XVIII e discutindo dois aspectos filosóficos relevantes para a caracterização científica da medicina: a concepção de que ela é uma ciência causal e preditiva, e também a teoria do conhecimento e do fazer médicos que serve de fundo para essa concepção causalista. Eduardo Barra se debruça, em seu artigo, sobre os Princípios da filosofia de Descartes, mostrando que ao programa mecanicista – segundo o qual as explicações dos mecanismos causais do mundo devem ser feitas exclusivamente em termos de qualidades geométricas – subjaz uma concepção que nega a existência de princípios ativos na matéria. Essa concepção do caráter essencialmente inerte e passivo da matéria exclui, por um lado, a existência de forças na natureza e reclama, por outro lado, para Deus um lugar central na justificação do movimento e da atividade naturais. Marisa Donatelli retoma Descartes, apresentando com base na correspondência uma contextualização de seu debate com os médicos holandeses. Essa contextualização permite lançar uma interessante luz sobre o desenvolvimento da medicina cartesiana, apontando para um constante trabalho de Descartes no sentido de manter-se informado acerca dos avanços da pesquisa médica de seu tempo e de atualizar constantemente seus escritos médicos.

Cabe assinalar a importante contribuição, para este número de Scientiæ zudia, do Prof. Nelson Papavero, professor aposentado do Museu de Zoologia da USP, que gentilmente ofereceu para publicação nos Documentos científicos sua tradução do opúsculo de um autor alemão do século XVIII, o barão von Hüpsch-Lonzen, o qual discute a importante questão biogeográfica da união e separação entre o Velho Mundo (Europa, África e Ásia) e o Novo Mundo (América) e do povoamento deste último continente. A originalidade do trabalho reside no fato de que seu autor parece ter sido o primeiro a aventar a hipótese da existência de um supercontinente primitivo que depois se separou. A publicação da tradução do opúsculo, da introdução e notas só foi possível graças à cooperação acadêmica entre os autores.

Também possui um eminente caráter histórico a resenha de Eduardo Kickhöfel da edição brasileira das ilustrações dos trabalhos anatômicos de Andreas Vesalius, na qual se discute a inserção da anatomia de Vesalius no movimento de constituição da ciência moderna, detendo-se em particular no papel do desenho, enquanto representação exata e fiel do corpo humano, para o desenvolvimento da anatomia moderna.

Pablo Rubén Mariconda

editor responsável

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Jul 2010
  • Data do Fascículo
    Set 2003
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