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Sobrevivência de Pseudomonas marginalis pv. marginalis no solo, agente etiológico da queima bacteriana do alho

A queima bacteriana do alho causada por Pseudomononas marginalis pv. marginalis (Brown, 1918) Stevens, 1925 sin. Pseudomonas fluorescens biótipo II) é caracterizada como uma das principais doenças na cultura (22 Becker, W. F. Doenças do alho: sintomatologia e controle. Florianópolis: Epagri, 2004, 53p. (Boletim técnico 126).,33 Becker, W. F. Queima bacteriana do alho. Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.4, n.3, p.14-19, 1991.,66 Marcuzzo, L.L. Queima bacteriana em alho. Cultivar hortaliças e frutas, Pelotas, v.112, p.5-7. 2018.). Os sintomas podem se manifestar em qualquer estádio de desenvolvimento da planta e inicialmente as folhas apresentam uma descoloração parcial ou total e posteriormente a formação de estrias amareladas alongadas e com a evolução da doença, ocorre um encharcamento de cor marrom e amolecimento na nervura central. O restante do limbo pode permanecer verde e firme, porém, tende a ocupar todo o limbo foliar apresentando, ao final, uma coloração marrom e ressequida com aspecto de maturação fisiológica da planta. Os sintomas podem progredir para o pseudocaule e bulbo podendo ocorrer o seu apodrecimento (55 Lopes, C.A. Quezado-Soares, A.M. Doenças bacterianas das hortaliças: Diagnose e controle. Brasília: EMBRAPA CNPH, 1997, 70p.). Um dos locais de sobrevivência de bactérias fitopatogênicas é o solo (99 Romeiro, R.S. Doenças causadas por bactérias em alho. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.17, n.183, p.46-49, 1995.) e trabalhos ligados a epidemiologia do inóculo primário da doença exigem o conhecimento prévio das condições de sobrevivência para o início da epidemia, já que pesquisas relacionadas à queima bacteriana ainda são escassas. Para tanto, o conhecimento da sobrevivência do patógeno é de grande importância para compreender o desenvolvimento da doença no campo e o seu manejo. Este trabalho teve como objetivo avaliar em condições de campo a longevidade de P. marginalis pv. marginalis em diferentes profundidades de solo. O trabalho foi realizado no Instituto Federal Catarinense - IFC/Campus Rio do Sul de novembro de 2018 a junho de 2019. Nesse período a precipitação mensal foi de foi de 45,5; 168,5; 211; 241,5; 143; 117,5 e 207 milímetros. O isolado do patógeno foi obtido de plantas de alho com sintoma característico em meio de cultura nutriente-ágar (NA). A identificação foi confirmada pela produção de fluorescência em luz negra em meio de King-B e também sua patogenicidade em inoculação de bulbilho de alho através da técnica de Moura & Romeiro (77 Moura, A.B.; Romeiro, R.S. Garlic bulbils as biological baits for detection an diagnosis of Pseudomonas marginalis. Summa phytopathologica, Jaguaríuna, v.23, n.3/4, p.252-254, 1997.). Para diferenciar das bactérias fluorescentes que há no solo esse isolado foi transformado em mutante em meio King-B contendo 150 µg.mL-1 de rifampicina e repicada por três vezes consecutivas, para manutenção da resistência ao antibiótico. Uma suspensão em solução salina (NaCl 0,85%) da bactéria mutante com 48 horas de crescimento com concentração ajustada em espectrofotômetro em OD550=0,5 (4,2x108 UFC/mL) foi vertida na superfície do solo contido em dois conjuntos de duas armações sobrepostas de madeira de 0,5 X 0,5 m2 com 10 cm de altura cada, contendo telado de sombrite (0,1 mm) no fundo de uma delas para separar as alturas de 0 a 10 e de 10 a 20 cm. O solo utilizado foi um cambissolo Háplico, com os seguintes atributos químicos: pH em água de 6,0; matéria orgânica de 2,8%; teores de Ca+2, Mg+2, Al+3 e CTC de 4,2; 1,8; 0,0 e 9,54 cmolc.dm-3, respectivamente; saturação por bases de 66,49%, teor de argila de 30 % e teores de P e K de 14 e 134 mg.dm-3 respectivamente. Foi adicionado uma proporção de 250 µL de suspensão bacteriana por grama de solo, conforme análise prévia da capacidade de campo do solo. A avaliação da sobrevivência constou de três repetições contendo sub-amostras de 1 grama de solo de 0-10cm e de 10-20 cm. Essas sub-amostras foram colocadas em tubo de ensaio contendo 10 mL de solução salina (NaCl 0,85%), e homogeneizadas, com auxílio de um agitador de tubos, durante 15 segundos. Em seguida foram feitas diluições em série até a concentração de 10-8 e plaqueadas, com auxílio de alça de Drigalski, em meio de cultura King-B acrescido de rifampicina a 150 µg.mL-1 e uma suspensão de 100 µL de Clorotalonil (1,3 g/L) espalhada em sua superfície para a não proliferação de fungos. Após a incubação a 28°C por 48 horas, foi contado o número de colônias bacterianas emergentes em câmera de luz negra para confirmar a emissão de fluorescência e mensalmente a população de bactérias (UFC/g de solo) encontradas em cada profundidade do solo. Constatou-se um decréscimo acentuado de mais de 99% da população original colocada nas duas camadas de solo, porém, na de 10-20 cm apresentou maior população, provavelmente devido às condições estáveis de temperatura e umidade (Tabela 1). Não foi constatado colônias em fevereiro na camada superficial e durante os dois meses seguintes manteve-se estável (Tabela 1). A curva de sobrevivência da bactéria foi representada por uma função polinomial expressa em y = 0,239x2-39994x+82218 (R2=0,817). Na profundidade de 10-20 cm houve um decréscimo da população (5,33x102 UFC/g de solo) em março, provavelmente devido à condição de pouca precipitação, mas que voltou a se elevar a população (7,3x103 UFC/g de solo) no mês seguinte devido o incremento da umidade no solo. A sobrevivência da bactéria na camada de 10-20 cm foi ajustada pela equação polinomial y = 16694x2-1E+06x+3E+06 (R2=0,771). No entanto, em ambas as profundidades não foram recuperadas colônias a partir do quinto mês. No ciclo de vidas das fitobactérias, o solo é sítio de sobrevivência em maior ou menor proporção, dependendo de sua interação e das condições com o ambiente e com o hospedeiro. Grahan et al. (44 Graham, J.H.; Mcguire, R.G.; Miller, J.W. Overwintering of three bacterial pathogens of soybean. Phytopathology, St. Paul, v.43, n.2, p.189-192, 1953.) constataram que Xanthomonas phaseoli var. sojensis, Pseudomonas glycinea e Pseudomonas tabaci podem sobreviver de 3 a 9 meses em solo esterilizado e de 1 a 9 meses em solo não esterilizado, enquanto que Xanthomonas vesicatoria permaneceu viável por 2 semanas em solo não estéril (88 Peterson, G.H. Survival of Xanthomonas vesicatoria in soil and diseased tomato plants. Phytopathology, St. Paul, v.53, n.6, p.765-767, 1963.). Alippi (11 Allipi, A.M. Survival of Xanthomonas campestris pv. malvacearum in soil. Turrialba, San Jose, v.39, n.176, p.178, 1989.) constatou que Xanthomonas campestris pv. malvacaerum foi detectada superficialmente no solo durante 50 dias e Xanthomonas campestris pv. campestris de 10 a 24 dias conforme o tipo do solo (1010 Silva, J.C Sobrevivência de Xanthomonas campestris pv. campestris no solo, no filoplano e na rizosfera de plantas daninhas. 2015. 62f. Dissertação (Mestrado em Agronomia – proteção de plantas) - Universidade Estadual Paulista, Botucatu.). Mediante os resultados obtidos, P. marginalis pv. marginalis consegue sobreviver até 5 meses indiferente da profundidade que se encontra no solo.

Tabela 1
População bacteriana (UFC/g de solo) de Pseudomononas marginalis pv. marginalis em diferentes profundidades de solo. IFC/Campus Rio do Sul, 2018-2019

REFERÊNCIAS

  • 1
    Allipi, A.M. Survival of Xanthomonas campestris pv. malvacearum in soil. Turrialba, San Jose, v.39, n.176, p.178, 1989.
  • 2
    Becker, W. F. Doenças do alho: sintomatologia e controle Florianópolis: Epagri, 2004, 53p. (Boletim técnico 126).
  • 3
    Becker, W. F. Queima bacteriana do alho. Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.4, n.3, p.14-19, 1991.
  • 4
    Graham, J.H.; Mcguire, R.G.; Miller, J.W. Overwintering of three bacterial pathogens of soybean. Phytopathology, St. Paul, v.43, n.2, p.189-192, 1953.
  • 5
    Lopes, C.A. Quezado-Soares, A.M. Doenças bacterianas das hortaliças: Diagnose e controle Brasília: EMBRAPA CNPH, 1997, 70p.
  • 6
    Marcuzzo, L.L. Queima bacteriana em alho. Cultivar hortaliças e frutas, Pelotas, v.112, p.5-7. 2018.
  • 7
    Moura, A.B.; Romeiro, R.S. Garlic bulbils as biological baits for detection an diagnosis of Pseudomonas marginalis Summa phytopathologica, Jaguaríuna, v.23, n.3/4, p.252-254, 1997.
  • 8
    Peterson, G.H. Survival of Xanthomonas vesicatoria in soil and diseased tomato plants. Phytopathology, St. Paul, v.53, n.6, p.765-767, 1963.
  • 9
    Romeiro, R.S. Doenças causadas por bactérias em alho. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.17, n.183, p.46-49, 1995.
  • 10
    Silva, J.C Sobrevivência de Xanthomonas campestris pv. campestris no solo, no filoplano e na rizosfera de plantas daninhas 2015. 62f. Dissertação (Mestrado em Agronomia – proteção de plantas) - Universidade Estadual Paulista, Botucatu.

Publication Dates

  • Publication in this collection
    13 Feb 2023
  • Date of issue
    Oct-Dec 2022

History

  • Received
    06 June 2019
  • Accepted
    23 Sept 2022
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