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Efeito in vitro da temperatura e do fotoperíodo na formação de escleródios de Botrytis squamosa

Botrytis squamosa Walker é o agente etiológico da queima das pontas das folhas da cebola, a principal doença foliar na fase de plântula. Esta doença ocorre em regiões de clima temperado, onde são frequentes os períodos de temperaturas amenas (≤ 22ºC) e alta umidade relativa do ar (≥ 90%) (44 Wordell Filho, J.A.; Boff, P. Queima acizentada – Botrytis squamosa Walker. In: Wordell Filho, J.A.; Rowe, E.; Gonçalves, P.A.S.; Debarba, J.F.; Boff, P.; Thomazelli, L.F. Manejo Fitossanitário na cultura da cebola. Florianópolis: EPAGRI, 2006. p.19-30). A doença se manifesta nas folhas por meio de manchas esbranquiçadas, dispostas inicialmente de forma isolada e não esporulante. O sintoma característico de maior dano na planta é a queima foliar, ocorrendo do ápice para a base da folha, onde ocorre intensa esporulação (33 Töfoli, J.G.; Ferrari, J.T.; Domingues, R.J.; Nogueira, E.M.C. Botrytis sp. em espécies hortícolas: hospedeiros, sintomas e manejo. Biológico, São Paulo, v.73, n.1, p.11-20, 2011.). Entre as fontes primárias de inóculo do patógeno estão os escleródios. Trabalhos ligados a epidemiologia mostram a importância do conhecimento do inóculo primário necessitando o conhecimento das condições ambientais necessárias para a formação do inóculo, já que pesquisas relacionadas à queima das pontas no Brasil ainda são escassas. Para tanto, o conhecimento da biologia do patógeno é de grande importância para compreender o desenvolvimento da doença no campo e o seu manejo. Diante disso, este trabalho teve como objetivo avaliar in vitro o efeito da temperatura e do fotoperíodo na formação de escleródios de B. squamosa. O trabalho foi realizado no Laboratório de Microbiologia e Fitopatologia do Instituto Federal Catarinense - IFC/Campus Rio do Sul. O experimento foi conduzido em delineamento de tratamentos inteiramente casualizado com cinco repetições. Foi utilizado um isolado de B. squamosa obtido de conídios coletados sobre o tecido foliar lesionado de mudas de cebola e multiplicado por sete dias a 20ºC e no escuro, em placas de Petri contendo meio de cultura de batata-dextrose-ágar (BDA). Após esse período, os conídios foram removidos do micélio através de lavagem com água esterilizada e pulverizados com um borrifador manual, 2 ml de suspensão de 105 conídios/mL em placas de Petri de vidro (90 x15 mm) contendo 20 ml de água destilada e duas gramas de fragmentos, em torno de 1,5 cm de comprimento de folha secas de cebola previamente esterilizados em autoclave a 121ºC por 25 minutos (22 Marcuzzo, L.L.; Nascimento, A.; Kotkoski, B. Technique for inducing Botrytis squamosa sclerotium formation in vitro. Summa Phytopathologica, Botucatu, v.43, n.3, p.251, 2017.). Logo após a inoculação, as placas foram incubadas em câmaras de crescimento do tipo B.O.D (Demanda biológica de oxigênio) nas temperaturas de 5, 10, 15, 20, 25, e 30°C (±1°C) no escuro por um período de 15 dias. A partir da identificação da temperatura ótima de formação de escleródio, repetiu-se o ensaio seguindo a mesma metodologia acima, incubando-se na temperatura de 16°C e nos fotoperíodos de 0, 6, 12, 18 e 24 horas, a fim de identificar o fotoperíodo mais favorável a formação dos escleródios. A quantificação dos escleródios foi feita após a retirada dos fragmentos da placa de Petri e colocados em recipiente de vidro (tipo conserva) de 300 ml com tampa rosqueável contendo metade de seu volume com água de torneira. Após sucessivas agitações manuais os fragmentos dilaceraram-se e os escleródios separados dos fragmentos. Em seguida, escleródios e fragmentos foram colocados em peneira metálica e com água corrente esfregou-se com o dedo para retirada de fragmentos que ainda poderiam estar aderidos ao escleródio. Os escleródios foram retirados da peneira com auxílio de uma pinça e contados. Verificou-se que a temperatura influenciou na formação dos escleródios, tendo apresentado maior número na faixa térmica de 15 e 20°C (Figura 1A), com uma média de 242 e 213 escleródios respectivamente. Utilizando a equação gerada pela curva (y =-2,182x2+68,40x–321,4, R2=0,812) (Figura 1A) obteve-se a temperatura ótima de 16°C para a formação de escleródios de B. squamosa. A temperatura para a formação de escleródio no presente trabalho foi inferior a 18°C relatada por Ellerbork & Lorbeer (11 Ellerbrock, L.A.; Lorbeer, J.W. Survival sclerotia and conidia of Botrytis squamosa. Phytopathology, St. Paul, v.67, n.2, p.219-225, 1977.). Em relação ao efeito de diferentes fotoperíodos, observou-se a resposata linear negativa (Figura 1B), representada pela equação y=-7,9x+178,2 (R2=0,913), verificou-se que a condição mais favorável à formação de escleródios foi no escuro com 165 escleródios. Sob fotoperíodo de 24 horas não houve formação de escleródio. As informações obtidas em relação à temperatura e fotoperíodo na formação de escleródios de B. squamosa permitem um maior conhecimento da biologia do agente causal da queima das folhas da cebola, auxiliando no entendimento da epidemiologia e suporte para manejo da doença no campo. Os resultados obtidos servirão de suporte na elaboração de um sistema de previsão da doença ou da produção de inóculo do patógeno.

Figura 1
Relação entre o número de escleródios formados in vitro de Botrytis squamosa e diferentes temperaturas (A) e fotoperíodos (B). IFC/Campus Rio do Sul, 2017.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Ellerbrock, L.A.; Lorbeer, J.W. Survival sclerotia and conidia of Botrytis squamosa Phytopathology, St. Paul, v.67, n.2, p.219-225, 1977.
  • 2
    Marcuzzo, L.L.; Nascimento, A.; Kotkoski, B. Technique for inducing Botrytis squamosa sclerotium formation in vitro Summa Phytopathologica, Botucatu, v.43, n.3, p.251, 2017.
  • 3
    Töfoli, J.G.; Ferrari, J.T.; Domingues, R.J.; Nogueira, E.M.C. Botrytis sp. em espécies hortícolas: hospedeiros, sintomas e manejo. Biológico, São Paulo, v.73, n.1, p.11-20, 2011.
  • 4
    Wordell Filho, J.A.; Boff, P. Queima acizentada – Botrytis squamosa Walker. In: Wordell Filho, J.A.; Rowe, E.; Gonçalves, P.A.S.; Debarba, J.F.; Boff, P.; Thomazelli, L.F. Manejo Fitossanitário na cultura da cebola Florianópolis: EPAGRI, 2006. p.19-30

Publication Dates

  • Publication in this collection
    03 Dec 2021
  • Date of issue
    Jul-Sep 2021

History

  • Received
    01 Sept 2014
  • Accepted
    04 Oct 2021
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