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Ciência, tecnologia e desenvolvimento: estratégias sustentáveis

DOSSIÊ

Apresentação

Ciência, tecnologia e desenvolvimento: estratégias sustentáveis

Maíra Baumgarten

Editora da Revista Sociologias - PPGS/UFRGS - e Professora do Departamento de Educação e Ciências do Comportamento da FURG

Profundas reestruturações organizacionais e culturais acompanham as formas contemporâneas de produção e de acumulação capitalista, surgindo também distintas exigências quanto à orientação e às estratégias de intervenção dos diferentes agentes sociais. A expansão das esferas financeira e técnico-produtiva e a aceleração dos processos de deslocalização e de segmentação econômica e social vêm criando grandes tensões que originam a estruturação de diferentes demandas de políticas e de instrumentos de regulação.

A revolução científico-tecnológica dos últimos vinte anos operou mudanças aceleradas nas formas de produzir e nas relações sociais que as acompanham. Na "sociedade do conhecimento" - expressão que sintetiza esses processos de mudança - conceitos como a inovação tecnológica e social, sustentabilidade social, seletividade são essenciais para a compreensão da posição relativa dos países situados fora do eixo central da produção de conhecimento. Ao lado disso coloca-se como necessária a ampliação dos espaços para debater a problemática associada a temas como: a oposição clássica entre indivíduo e sociedade na teoria sociológica; a centralidade positiva do trabalho; a função social da escola; e as relações entre os pesquisadores, o Estado e as universidades.

Com esse dossiê sobre ciência e tecnologia buscamos contribuir para a abertura de espaços de discussão sobre esses temas que se apresentam como estratégicos para subsidiar decisões na adoção de estratégias sócio-político sustentáveis.

No artigo Hélices, sistemas, ambientes e modelos - os desafios à sociologia da inovação, Maria Lúcia Maciel propõe um debate teórico metodológico acerca dos estudos sociológicos sobre inovação no Brasil e, especificamente, de processos de inovação, campo em que, segundo a autora, ainda há carências no que se refere às necessidades de compreensão e análise desses processos. Maciel apresenta um conjunto de três fatores intimamente articulados que parecem estar restringindo a capacidade de análise e explicação desses processos. Ao lado disso assinala contrapontos estratégicos no sentido de enriquecer e potencializar os estudos no campo da inovação.

Michelangelo Giotto Santoro Trigueiro discute a relação entre a comunidade científica, o Estado e a universidade no contexto atual do desenvolvimento científico-tecnológico. Seu artigo enfatiza a dimensão política das transformações recentes, sobretudo no tocante aos sistemas decisórios. Trigueiro analisa "as mútuas correlações entre o Estado, as universidades e as comunidades científicas, a partir do entendimento da especificidade de cada um destes atores na condução do desenvolvimento científico-tecnológico nacional", buscando destacar "a natureza controversa e polêmica da inserção do Estado e o caráter conservador da comunidade científica, bem como a resistência da universidade na proposição de novas linhas de atuação no enfrentamento dos desafios trazidos pela ciência e tecnologias contemporâneas".

Márcia Lopes Reis debate os processos de inovação e as políticas de tecnologia, lançando um olhar sobre a função social da escola brasileira na sociedade contemporânea. Para a autora "a reformulação do sistema de ensino em suas práticas cotidianas é hoje uma tendência mundial, cuja preocupação tem sido aproximar...as instituições escolares...e os setores produtivos da sociedade". Márcia Reis ressalta a existência de um movimento interno contraditório nas escolas: a necessidade de constituição das práticas escolares como um ambiente de inovação e, ao mesmo tempo, a resistência verificada no desempenho das tarefas, de parte de alguns atores da escola, frente às tendências das novas tecnologias.

Ivaldo Gehlen aborda as questões da pesquisa, da tecnologia e competitividade na agropecuária brasileira De acordo com Gehlen "as transformações estruturais que ocorrem na agropecuária brasileira estão em interface com o desenvolvimento científico e tecnológico voltados para o setor". Em sua análise, o autor leva em conta o conflito conceitual entre a racionalidade competitiva das agroindústrias e a racionalidade daqueles agricultores que, através de suas organizações, priorizam a sua reprodução social e a sustentabilidade de seu modo de produção e de vida. Gehlen assinala que a instabilidade e diminuição dos investimentos públicos em pesquisa e em tecnologia, não compensados pelo privado, comprometem a competitividade futura da agropecuária brasileira.

Objetivando compreender algumas das visões de sociedade presentes no processo de construção dos discursos oficiais que legitimam as atuais políticas públicas de educação superior, Rubens de Oliveira Martins parte de uma reflexão que visa explicitar os referenciais teóricos e metodológicos da oposição clássica entre indivíduo e sociedade na teoria sociológica.

Diversos cenários alternativos encontram-se esboçados nas possibilidades futuras de nossa sociedade indicando a importância de iniciativas e de políticas estratégicas no âmbito da produção de conhecimento científico e tecnológico. Esperamos que o conjunto de artigos presentes no Dossiê Ciência e Tecnologia possa contribuir para a reflexão teórica e política sobre essa nossa época de crises e incertezas.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Nov 2003
  • Data do Fascículo
    Dez 2001
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