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Marcadores do consumo alimentar do Sisvan: estrutura e invariância de mensuração no Brasil

RESUMO

OBJETIVO

Caracterizar a estrutura interna do formulário de marcadores do consumo alimentar do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) para indivíduos maiores de 2 anos de idade e analisar evidências de invariância de mensuração entre macrorregiões brasileiras, fases do curso da vida e ao longo do tempo.

MÉTODOS

Realizou-se análise paralela com estimação de fatores complementada com análise fatorial exploratória a partir de todos os registros de primeiro acompanhamento do Sisvan com respostas válidas no país em 2015 (n = 298.253). A seguir, empregou-se a análise fatorial confirmatória multigrupo para investigação de evidências de invariância configural, métrica e escalar entre as cinco macrorregiões (Centro-Oeste, Nordeste, Norte, Sudeste e Sul) e fases do curso da vida (crianças, adolescentes, adultos e idosos), no mesmo ano de referência. Avaliou-se a invariância longitudinalmente a partir de registros individuais válidos de 2015 a 2019 (n = 4.578.960). A adequação de índices de ajuste foi observada a cada etapa.

RESULTADOS

Verificaram-se índices de ajuste aceitáveis e valores de carga fatorial adequados para um modelo bidimensional, que agrupou alimentos ultraprocessados (fator 1) e alimentos in natura ou minimamente processados (fator 2). A estrutura bidimensional, com os respectivos itens em cada fator subjacente ao conjunto de marcadores, foi equivalente entre macrorregiões, fases do curso da vida e longitudinalmente, confirmando a invariância configural. Os pesos de cada item e sua escala foram homogêneos para todos os grupos de interesse, confirmando as invariâncias métrica e escalar.

CONCLUSÕES

A estrutura interna do formulário de marcadores do consumo alimentar refletiu adequadamente seu embasamento conceitual, com estabilidade dos fatores relacionados à alimentação saudável e não saudável em configuração, cargas e escala nos recortes investigados. Esses achados qualificam ações de vigilância alimentar e nutricional, potencializando o uso dos marcadores do consumo alimentar do Sisvan em pesquisas, monitoramento, orientação individual e produção de cuidado no Sistema Único de Saúde.

Ingestão de Alimentos; Vigilância Alimentar e Nutricional; Confiabilidade dos Dados; Sistemas de Informação em Saúde; Psicometria

ABSTRACT

OBJECTIVE

To characterize the internal structure of the Food and Nutrition Surveillance System (Sisvan) form of food intake markers for individuals over 2 years of age and to investigate measurement invariance between Brazilian macro-regions, life stages and over the years.

METHODS

A parallel analysis with factor estimation was carried out, complemented with exploratory factor analysis using all Sisvan records with valid responses in the country in 2015 (n = 298,253). Only the first record per individual was considered. Next, multigroup confirmatory factor analysis was used to investigate configural, metric and scalar invariance between the five macro-regions (Midwest, Northeast, North, Southeast, South) and life stages (children, adolescents, adults, elderly) in the same reference year. Invariance was evaluated longitudinally using valid individual records from 2015 to 2019 (n = 4,578,960). The adequacy of fit indices was observed at each step.

RESULTS

Acceptable fit indices and adequate factor loadings were found for a two-dimensional model, which grouped ultra-processed foods (factor 1) and unprocessed or minimally processed foods (factor 2). The two-dimensional structure, with the respective items in each factor underlying the set of markers, was equivalent across macro-regions, life stages and longitudinally, confirming the configural invariance. The weights of each item and its scale were homogeneous for all groups of interest, confirming metric and scalar invariances.

CONCLUSIONS

The internal structure of the Sisvan form of food intake markers adequately reflected its conceptual foundation, with stability of factors related to healthy and unhealthy eating in configuration, weights and scale in the investigated categories. These findings qualify food and nutritional surveillance actions, enhancing the use of Sisvan food intake markers in research, monitoring, individual guidance, and care production in the Brazilian Unified Health System.

Eating; Food and Nutrition Surveillance; Data Reliability; Health Information Systems; Psychometrics

INTRODUÇÃO

A investigação e o monitoramento de indicadores de alimentação adequada e saudável pode possibilitar a promoção da saúde de indivíduos e populações ao longo do curso da vida. Entre 1990 e 2019, a exposição a fatores de risco relacionados à alimentação, incluindo dietas com baixa participação de frutas e hortaliças e alta participação de bebidas açucaradas e carnes processadas, por exemplo, não recuou de maneira relevante em nível global, apesar dos esforços programáticos em saúde pública no período 11. Murray CJ , Aravkin AY , Zheng P , Abbafati C , Abbas KM , Abbasi-Kangevari M , et al . Global burden of 87 risk factors in 204 countries and territories, 1990-2019: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2019 . Lancet . 2020 Oct ; 396 ( 10258 ): 1223 - 49 . https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)30752-2
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. Tais fatores relacionados à alimentação estiveram entre os cinco principais riscos para mortes atribuíveis em todo o mundo em 2019 (13,5% e 14,6% do total de mortes entre indivíduos do sexo feminino e masculino, respectivamente) 11. Murray CJ , Aravkin AY , Zheng P , Abbafati C , Abbas KM , Abbasi-Kangevari M , et al . Global burden of 87 risk factors in 204 countries and territories, 1990-2019: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2019 . Lancet . 2020 Oct ; 396 ( 10258 ): 1223 - 49 . https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)30752-2
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.

Nesse contexto, a participação de alimentos ultraprocessados 22. Monteiro CA , Cannon G , Levy RB , Moubarac JC , Louzada ML , Rauber F , et al . Ultra-processed foods: what they are and how to identify them . Public Health Nutr . 2019 Apr ; 22 ( 5 ): 936 - 41 . https://doi.org/10.1017/S1368980018003762
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tem sido consistentemente associada à pior qualidade nutricional da alimentação em diferentes localidades e grupos etários 33. Louzada ML , Ricardo CZ , Steele EM , Levy RB , Cannon G , Monteiro CA . The share of ultra-processed foods determines the overall nutritional quality of diets in Brazil . Public Health Nutr . 2018 Jan ; 21 ( 1 ): 94 - 102 . https://doi.org/10.1017/S1368980017001434
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, 44. Neri D , Steele EM , Khandpur N , Cediel G , Zapata ME , Rauber F , et al . Ultraprocessed food consumption and dietary nutrient profiles associated with obesity: a multicountry study of children and adolescents . Obes Rev . 2022 Jan ; 23 ( S1 Suppl 1 ): e13387 . https://doi.org/10.1111/obr.13387
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, bem como a desfechos de saúde negativos e mortalidade geral 55. Pagliai G , Dinu M , Madarena MP , Bonaccio M , Iacoviello L , Sofi F . Consumption of ultra-processed foods and health status: a systematic review and meta-analysis . Br J Nutr . 2021 Feb ; 125 ( 3 ): 308 - 18 . https://doi.org/10.1017/S0007114520002688
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. No Brasil, as ações de vigilância alimentar e nutricional, pautadas pela Política Nacional de Alimentação e Nutrição 66. Ministério da Saúde (BR) . Secretaria de Atenção à Saúde . Departamento de Atenção Básica . Política Nacional de Alimentação e Nutrição . Brasília, DF : Ministério da Saúde ; 2013 . , abrangem um componente de avaliação de marcadores do consumo alimentar, com foco na exposição a alimentos ultraprocessados 77. Ministério da Saúde (BR) . Orientações para avaliação de marcadores de consumo alimentar na atenção básica . Brasília, DF : Ministério da Saúde ; 2015 . . Dirigidos a indivíduos a partir de 2 anos de idade e alinhados às recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira 88. Ministério da Saúde (BR) . Secretaria de Atenção à Saúde , Departamento de Atenção Básica . Guia alimentar para a população brasileira . 2 nd ed. Brasília, DF : Ministério da Saúde ; 2014 . , 99. Monteiro CA , Cannon G , Moubarac JC , Martins AP , Martins CA , Garzillo J , et al . Dietary guidelines to nourish humanity and the planet in the twenty-first century: a blueprint from Brazil . Public Health Nutr . 2015 Sep ; 18 ( 13 ): 2311 - 22 . https://doi.org/10.1017/S1368980015002165
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, sete marcadores foram propostos por meio do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) em um formulário para apuração do consumo alimentar referente ao dia anterior, com grande potencial para monitorar tendências temporais e informar ações em âmbito individual e coletivo para a promoção da alimentação saudável e a prevenção de agravos à saúde 77. Ministério da Saúde (BR) . Orientações para avaliação de marcadores de consumo alimentar na atenção básica . Brasília, DF : Ministério da Saúde ; 2015 . , 1010. Ministério da Saúde (BR) . Secretaria de Atenção Primária à Saúde , Departamento de Promoção da Saúde . Matriz para organização dos cuidados em alimentação e nutrição na atenção primária à saúde: versão preliminar . Brasília, DF : Ministério da Saúde ; 2022 . .

No entanto, ainda que esse conjunto de marcadores contraste grupos de alimentos in natura ou minimamente processados e grupos de alimentos ultraprocessados, com fácil operacionalização 77. Ministério da Saúde (BR) . Orientações para avaliação de marcadores de consumo alimentar na atenção básica . Brasília, DF : Ministério da Saúde ; 2015 . , 1010. Ministério da Saúde (BR) . Secretaria de Atenção Primária à Saúde , Departamento de Promoção da Saúde . Matriz para organização dos cuidados em alimentação e nutrição na atenção primária à saúde: versão preliminar . Brasília, DF : Ministério da Saúde ; 2022 . , alguns pontos devem ser elucidados quanto à sua robustez e à sua validade para o monitoramento da alimentação. Primeiramente, não existem evidências sobre a estrutura interna do instrumento que atestem características de mensuração, a partir de seu embasamento conceitual 99. Monteiro CA , Cannon G , Moubarac JC , Martins AP , Martins CA , Garzillo J , et al . Dietary guidelines to nourish humanity and the planet in the twenty-first century: a blueprint from Brazil . Public Health Nutr . 2015 Sep ; 18 ( 13 ): 2311 - 22 . https://doi.org/10.1017/S1368980015002165
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, como marcadores de alimentação saudável e não saudável. Em segundo lugar, devem ser ponderadas implicações relacionadas à amplitude do emprego sugerido do formulário como prática universal no cuidado em alimentação e nutrição na atenção primária à saúde 1010. Ministério da Saúde (BR) . Secretaria de Atenção Primária à Saúde , Departamento de Promoção da Saúde . Matriz para organização dos cuidados em alimentação e nutrição na atenção primária à saúde: versão preliminar . Brasília, DF : Ministério da Saúde ; 2022 . , o que se desdobra ao menos em dois questionamentos. Faz-se necessário explorar se os marcadores selecionados têm características comparáveis de mensuração segundo: 1) a diversidade da cultura alimentar no país, que pode ser aproximada de forma sumária pelas distintas macrorregiões brasileiras; e 2) a variação de práticas e contextos alimentares entre crianças, adolescentes, adultos e idosos, considerando diferentes grupos etários. Adicionalmente, a investigação da validade longitudinal do instrumento é desejável, de maneira a examinar se os marcadores refletem a mesma estrutura interna em diferentes pontos no tempo.

O presente estudo objetivou, portanto, caracterizar a estrutura interna do formulário de marcadores do consumo alimentar do Sisvan para indivíduos a partir de 2 anos de idade, e analisar evidências de invariância de mensuração entre macrorregiões brasileiras, fases do curso da vida e ao longo do período de 2015 a 2019. Espera-se apoiar a qualificação de políticas e programas de interesse de saúde pública baseados nesse instrumento, a análise de dados referentes aos marcadores do consumo alimentar, e, sobretudo, o fortalecimento de uma noção ampliada do exercício de vigilância alimentar e nutricional, integrando e expandindo ações desenvolvidas em serviços de saúde a iniciativas de pesquisa científica na área.

MÉTODOS

Formulário de Marcadores do Consumo Alimentar do Sisvan

O formulário de marcadores do consumo alimentar do Sisvan para indivíduos a partir de 2 anos de idade foi proposto em seu formato atual em 2015 e é composto por nove questões 77. Ministério da Saúde (BR) . Orientações para avaliação de marcadores de consumo alimentar na atenção básica . Brasília, DF : Ministério da Saúde ; 2015 . . As duas primeiras referem-se ao hábito de realizar refeições assistindo à televisão e/ou usando computador e/ou celular (sim, não e não sabe), bem como às refeições realizadas ao longo do dia (café da manhã, lanche da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar e ceia). Na sequência, apura-se o consumo dos seguintes alimentos ou grupos de alimentos no dia anterior: feijão; frutas frescas (sem considerar suco de frutas); verduras e/ou legumes (sem considerar batata, mandioca, aipim, macaxeira, cará e inhame); hambúrguer e/ou embutidos (presunto, mortadela, salame, linguiça, salsicha); bebidas adoçadas (refrigerante, suco de caixinha, suco em pó, água de coco de caixinha, xaropes de guaraná/groselha, suco de fruta com adição de açúcar); macarrão instantâneo, salgadinhos de pacote ou biscoitos salgados; e biscoito recheado, doces ou guloseimas (balas, pirulitos, chiclete, caramelo, gelatina), com opções de resposta “sim”, “não” e “não sabe” 77. Ministério da Saúde (BR) . Orientações para avaliação de marcadores de consumo alimentar na atenção básica . Brasília, DF : Ministério da Saúde ; 2015 . . Para este estudo, consideraram-se os sete marcadores relacionados a alimentos ou grupos de alimentos.

Cessão e Gerenciamento de Dados

Informações relativas à avaliação individual de marcadores do consumo alimentar em todo o território nacional, no escopo de ações de vigilância alimentar e nutricional no Sistema Único de Saúde (SUS), são compiladas no Sisvan. Os microdados do Sisvan entre os anos de 2015 e 2019 foram cedidos pela Coordenação-Geral de Alimentação e Nutrição para condução do estudo de acordo com a Portaria nº 884/2011, do Ministério da Saúde. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (parecer n° 4.172.787).

O gerenciamento dos bancos de dados cedidos, por ano, no período de 2015 a 2019, abrangeu inicialmente a identificação de ocorrências repetidas, por meio do conjunto de variáveis relativas a número de identificação do indivíduo no SUS, sexo, data de nascimento, código do município e data de acompanhamento. Partindo do pressuposto de que não seriam factíveis avaliações múltiplas em uma mesma data de acompanhamento, foram excluídos registros repetidos para um mesmo indivíduo, pertencente a um dado município, em uma mesma data de acompanhamento, os quais compuseram até 11,29% de todas as observações nos bancos de dados de 2015 a 2019. Para tais casos, o último registro na data foi mantido. Optou-se, ainda, pela exclusão de registros de avaliações de indivíduos com mesmo número de identificação no SUS em municípios distintos (ocorrência máxima no período equivalente a 0,25% do total de observações não repetidas), bem como de registros em que a data de acompanhamento antecedia a data de nascimento do indivíduo, incorrendo em idades implausíveis (ocorrência máxima no período de 0,02% das observações não repetidas). Após os procedimentos de limpeza de dados, para composição das amostras analíticas foi considerado apenas o primeiro registro por indivíduo, por ano, evitando-se respostas correlacionadas ao formulário de marcadores do consumo alimentar devido ao acompanhamento ao longo do tempo nos serviços de saúde.

Composição de Amostras Analíticas e Procedimentos Estatísticos

Para compreensão da estrutura interna do formulário do Sisvan para indivíduos a partir de 2 anos de idade, foi empregada a análise fatorial, uma técnica de interdependência em que variáveis fortemente inter-relacionadas se configuram em um fator ou traço latente 1111. Hair Junior JF , Black WC , Babin BJ , Anderson RE , Tatham RL . Análise multivariada de dados . 6 th. ed. Porto Alegre : Bookman ; 2009 . Chapter 3, Análise fatorial ; p. 100 - 48 . . As cargas fatoriais estimadas correspondem à correlação entre os itens do formulário e os fatores. Foram considerados registros com respostas válidas (“sim” ou “não”) aos sete itens do instrumento. A exclusão de respostas “não sabe” correspondeu a 2% do total de registros em 2015 (n = 298.253) e a 3,59% do total no agrupamento dos anos de 2015 a 2019 (n = 4.578.960).

Realizou-se a estimação de fatores por meio de análise paralela seguida por análise fatorial exploratória, com matriz de correlação tetracórica e rotação promax. A adequação da amostra para proceder com a análise fatorial foi aceita quando observados valor de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) < 0,50 e teste de esfericidade de Bartlett estatisticamente significante (p < 0,05) 1111. Hair Junior JF , Black WC , Babin BJ , Anderson RE , Tatham RL . Análise multivariada de dados . 6 th. ed. Porto Alegre : Bookman ; 2009 . Chapter 3, Análise fatorial ; p. 100 - 48 . . O ajuste da estrutura fatorial foi aceito para o modelo com menor valor do critério Bayesian information criterion (BIC), sendo considerados adequados os valores de root mean square error of approximation (RMSEA) < 0,08 e de Tucker-Lewis index (TLI) < 0,95 1212. Brown TA . Confirmatory factor analysis for applied research . 2 nd ed. New York : The Guilford Press ; 2015 . . Ademais, foram considerados adequados os valores de cargas fatoriais ≥ 0,30 e < 0,85 1111. Hair Junior JF , Black WC , Babin BJ , Anderson RE , Tatham RL . Análise multivariada de dados . 6 th. ed. Porto Alegre : Bookman ; 2009 . Chapter 3, Análise fatorial ; p. 100 - 48 . , 1313. Tabachnick BG , Fidell LS . Using multivariate statistics . 6 th ed. Boston : Pearson ; 2013 . .

Na sequência, para o estudo da invariância da estrutura do formulário de marcadores do consumo alimentar do Sisvan, foi empregada a análise fatorial confirmatória multigrupo 1414. Damasio BF . Contributions of the Multigroup Confirmatory factor analysis in the invariance evaluation of psychometric tests . Psico-USF . 2013 ; 18 ( 2 ): 211 - 20 . https://doi.org/10.1590/S1413-82712013000200005
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, 1515. Fischer R , Karl JA . A primer to (cross-cultural) multi-group invariance testing possibilities in R . Front Psychol . 2019 Jul ; 10 ( 10 ): 1507 . https://doi.org/10.3389/fpsyg.2019.01507
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. Três evidências de invariância de mensuração foram investigadas, a saber:

  1. Modelo A – invariância configural ou de igualdade de forma, relacionada ao número de fatores e itens por fator, de maneira a avaliar em que medida a estrutura do formulário é plausível para todos os grupos considerados;

  2. Modelo B – invariância métrica ou de igualdade de cargas fatoriais, relacionada à medida em que os pesos (cargas fatoriais) estimados para os itens são equivalentes e, assim, apresentam relações semelhantes com o fator subjacente entre os grupos;

  3. Modelo C – invariância escalar ou de igualdade de interceptos, útil para garantir que os escores obtidos estejam relacionados com o nível de traço latente e que seja possível a comparação de escores entre os grupos.

Para investigação da invariância entre macrorregiões brasileiras, os registros do primeiro acompanhamento de indivíduos de todo o território nacional com respostas válidas em 2015 foram categorizados em regiões Centro-Oeste, Nordeste, Norte, Sudeste e Sul, de acordo com a unidade federativa de procedência (n = 298.253). As análises de invariância de acordo com as fases do curso da vida, a partir dos 2 anos de idade, consideraram a classificação etária nas categorias “crianças”, “adolescentes”, “adultos” e “idosos”, também referentes às respostas válidas aos marcadores em 2015. Para essa etapa, a consistência entre a classificação de fase de vida advinda do registro no Sisvan foi adicionalmente verificada em relação ao cálculo da idade do indivíduo, considerando as datas de nascimento e acompanhamento registradas. Optou-se pela utilização de registros cuja fase de vida registrada era concordante com a idade calculada (99,87% das observações válidas, n = 297.867). Finalmente, a invariância ao longo do tempo considerou o agrupamento de observações para indivíduos a partir de 2 anos de todo o território nacional com respostas válidas, segundo ano, no período de 2015 a 2019 (n = 4.578.960).

A invariância configural foi aceita quando RMSEA < 0,08, TLI e comparative fit index (CFI) < 0,95 1212. Brown TA . Confirmatory factor analysis for applied research . 2 nd ed. New York : The Guilford Press ; 2015 . . Com a confirmação das condições de invariância configural, pode-se testar subsequentemente as invariâncias métrica e escalar, com a especificação de restrições sucessivas aos modelos. Tais condições de invariância foram aceitas quando observadas diferenças não significativas para RMSEA (ΔRMSEA < 0,015) e CFI (ΔCFI < 0,01) na comparação dos modelos B e A e dos modelos C e B 1616. Chen FF . Sensitivity of goodness of fit indexes to lack of measurement invariance . Struct Equ Modeling . 2007 ; 14 ( 3 ): 464 - 504 . https://doi.org/10.1080/10705510701301834
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, 1717. Cheung GW , Rensvold RB . Evaluating goodness-of-fit indexes for testing measurement invariance . Struct Equ Modeling . 2002 ; 9 ( 2 ): 233 - 55 . https://doi.org/10.1207/S15328007SEM0902_5
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.

O gerenciamento dos dados foi realizado no software Stata versão 15.1. Todas as análises fatoriais foram conduzidas com os pacotes psych e lavaan no software R studio, versão 1.2.5033.

RESULTADOS

As amostras analíticas utilizadas neste estudo apresentaram parâmetros adequados para realização das análises fatoriais, com KMO = 0,66 na amostra correspondente a 2015 e KMO = 0,67 no agrupamento dos anos de 2015 a 2019, e teste de esfericidade significante (p < 0,001). Para caracterização da estrutura interna do formulário de marcadores do consumo alimentar do Sisvan para indivíduos a partir de 2 anos de idade, o ajuste e as cargas fatoriais atreladas a um modelo de três dimensões (fator 1: hambúrguer e/ou embutidos, macarrão instantâneo, salgadinhos de pacote ou biscoitos salgados, e biscoito recheado, doces ou guloseimas; fator 2: feijão, frutas frescas, e verduras e/ou legumes; e fator 3: bebidas adoçadas) foram contrapostos com aqueles de um modelo de apenas duas dimensões (fator 1: hambúrguer e/ou embutidos, bebidas adoçadas, macarrão instantâneo, salgadinhos de pacote ou biscoitos salgados, e biscoito recheado, doces ou guloseimas; fator 2: feijão, frutas frescas, e verduras e/ou legumes). Ainda que o modelo com três dimensões tenha apresentado índices de ajuste adequados, foram observadas cargas fatoriais elevadas (≥ 0,85), indicativas de multicolinearidade. Dessa forma, optou-se pelo modelo bidimensional apresentado na Tabela 1 , que reuniu índices globais de ajuste aceitáveis e valores de carga fatorial para cada item adequados. À luz das recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira, esta solução aponta que a estrutura interna do formulário do Sisvan reúne dois conjuntos de marcadores do consumo alimentar, interpretados como “não saudável” (fator 1) e “saudável” (fator 2).

Tabela 1
Descrição dos valores de cargas fatoriais, variâncias, comunalidades e índices de ajustes de modelo exploratório bidimensional para o conjunto de marcadores do consumo alimentar do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), Brasil.

Os resultados da investigação de invariância de mensuração desta estrutura estão descritos na Tabela 2 , a partir das análises fatoriais confirmatórias multigrupo. Considerando os valores de referência para os índices de ajuste, as condições de invariância configural foram confirmadas, apontando que a estrutura bidimensional, com os respectivos itens em cada fator subjacente ao conjunto de marcadores, guarda equivalência entre as cinco macrorregiões, as diferentes fases do curso da vida e também longitudinalmente, no período de 2015 a 2019.

Tabela 2
Evidências de invariância de mensuração para o conjunto de marcadores de consumo alimentar do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) entre macrorregiões, fases do curso da vida e ao longo do tempo (2015-2019), Brasil.

Na sequência, a invariância métrica (modelo B em relação ao modelo A) e a invariância escalar (modelo C em relação ao modelo B) do formulário de marcadores do consumo alimentar foram confirmadas para todos os grupos de interesse ( Tabela 2 ). Esses achados indicaram que os pesos de cada item e sua escala foram homogêneos, apresentando importância equivalente para os fatores relacionados à alimentação saudável e não saudável, independentemente das macrorregiões, das fases do curso da vida e ao longo dos anos.

DISCUSSÃO

Este estudo reúne evidências originais sobre a estrutura interna do formulário de marcadores do consumo alimentar do Sisvan para indivíduos a partir de 2 anos de idade, provendo, ainda, evidências de invariância de mensuração dos fatores relacionados à alimentação saudável e não saudável do instrumento. Os achados confirmam que os marcadores do consumo alimentar do Sisvan estão bem fundamentados na proposta teórica utilizada para o desenvolvimento dos itens do instrumento e sugerem que sua estrutura interna é estável em diversos recortes investigados.

As recomendações alimentares que guiaram conceitualmente a concepção do formulário de marcadores do consumo alimentar do Sisvan são centradas na problematização do processamento industrial de alimentos segundo a classificação NOVA 22. Monteiro CA , Cannon G , Levy RB , Moubarac JC , Louzada ML , Rauber F , et al . Ultra-processed foods: what they are and how to identify them . Public Health Nutr . 2019 Apr ; 22 ( 5 ): 936 - 41 . https://doi.org/10.1017/S1368980018003762
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. Sob essa abordagem, alimentos ultraprocessados são indicativos de alimentação não saudável, ao passo que alimentos in natura e minimamente processados guardam características pertinentes a práticas alimentares saudáveis 88. Ministério da Saúde (BR) . Secretaria de Atenção à Saúde , Departamento de Atenção Básica . Guia alimentar para a população brasileira . 2 nd ed. Brasília, DF : Ministério da Saúde ; 2014 . . Essa perspectiva refletiu-se na estrutura interna do instrumento, pautado no relato do consumo alimentar individual do dia anterior, de forma que quatro itens listando alimentos ultraprocessados compuseram o fator 1 e três itens listando alimentos in natura ou minimamente processados compuseram o fator 2, com cargas fatoriais adequadas e ajuste considerado satisfatório. A disposição dos itens segundo essas duas dimensões é pertinente à literatura que demarca a relação de alimentos ultraprocessados com aumento da ingestão energética e consequente ganho de peso 1818. Hall KD , Ayuketah A , Brychta R , Cai H , Cassimatis T , Chen KY , et al . Ultra-processed diets cause excess calorie intake and weight gain: an inpatient randomized controlled trial of ad libitum food intake . Cell Metab . 2019 Jul ; 30 ( 1 ): 67 - 77.e3 . https://doi.org/10.1016/j.cmet.2019.05.008
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, bem como as associações com piores desfechos de saúde em diversos grupos populacionais 1919. De Amicis R , Mambrini SP , Pellizzari M , Foppiani A , Bertoli S , Battezzati A , et al . Ultra-processed foods and obesity and adiposity parameters among children and adolescents: a systematic review . Eur J Nutr . 2022 Aug ; 61 ( 5 ): 2297 - 311 . https://doi.org/10.1007/s00394-022-02873-4
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, em contraposição aos efeitos associados a dietas ricas em frutas, hortaliças e feijões 2222. Willett W , Rockström J , Loken B , Springmann M , Lang T , Vermeulen S , et al . Food in the Anthropocene: the EAT-Lancet Commission on healthy diets from sustainable food systems . Lancet . 2019 Feb ; 393 ( 10170 ): 447 - 92 . https://doi.org/10.1016/S0140-6736(18)31788-4
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, entre outros alimentos com baixo nível de processamento industrial.

A disseminação da comercialização e disponibilidade domiciliar de alimentos ultraprocessados tem sido registrada em diferentes contextos ao redor do mundo. Análises globais entre 2006 e 2019 sublinharam vendas mais elevadas desses produtos na Europa, Oceania, América do Norte e América Latina, ao passo que rápidos incrementos foram constatados na Ásia, no Oriente Médico e na África 2323. Baker P , Machado P , Santos T , Sievert K , Backholer K , Hadjikakou M , et al . Ultra-processed foods and the nutrition transition: Global, regional and national trends, food systems transformations and political economy drivers . Obes Rev . 2020 Dec ; 21 ( 12 ): e13126 . https://doi.org/10.1111/obr.13126
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. No Brasil, esse espalhamento está documentado ao longo das últimas décadas por meio de Pesquisas de Orçamentos Familiares 2424. Martins AP , Levy RB , Claro RM , Moubarac JC , Monteiro CA . Increased contribution of ultra-processed food products in the Brazilian diet (1987-2009) . Rev Saude Publica . 2013 Aug ; 47 ( 4 ): 656 - 65 . https://doi.org/10.1590/S0034-8910.2013047004968
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. Adicionalmente, sabe-se que existe uma associação inversa entre a aquisição e a disponibilidade domiciliar de alimentos ultraprocessados e aquela de hortaliças, o que se estende ao consumo individual desses itens 2525. Canella DS , Louzada ML , Claro RM , Costa JC , Bandoni DH , Levy RB , et al . Consumption of vegetables and their relation with ultra-processed foods in Brazil . Rev Saude Publica . 2018 ; 52 ( 50 ): 50 . https://doi.org/10.11606/S1518-8787.2018052000111
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.

Esse panorama pode sustentar as evidências de invariância de mensuração observadas para o formulário de marcadores do consumo alimentar do Sisvan. Com duas dimensões distintas identificadas em sua estrutura interna, houve consistência quanto aos itens atrelados a cada um dos fatores, aos pesos atribuídos aos itens e à igualdade escalar do instrumento entre macrorregiões brasileiras, fases do curso da vida e no período de 2015 a 2019. Sugere-se, assim, um desempenho adequado desse conjunto de marcadores do consumo alimentar sob variados traços culturais relacionados à alimentação; para diferentes faixas etárias e suas correspondentes necessidades nutricionais; e ao longo dos últimos anos no país.

Pode-se dizer que análises aqui apresentadas vêm em uma esteira de discussão quanto ao emprego da classificação NOVA, adotada pelo Sisvan no Brasil no monitoramento de indicadores de alimentação adequada e saudável. Apesar de consistir em uma abordagem factível, levantamentos internacionais sobre fatores associados à morbimortalidade, a exemplo da série de estudos Global Burden of Disease, ainda não incluem alimentos ultraprocessados em seus índices de dieta 11. Murray CJ , Aravkin AY , Zheng P , Abbafati C , Abbas KM , Abbasi-Kangevari M , et al . Global burden of 87 risk factors in 204 countries and territories, 1990-2019: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2019 . Lancet . 2020 Oct ; 396 ( 10258 ): 1223 - 49 . https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)30752-2
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. Em relatório de consulta técnica para mensuração de dietas saudáveis realizada em 2021 2626. World Health Organization . Report of the technical consultation on measuring healthy diets: concepts, methods and metrics. Virtual mmeeting, 2021 May 18-20 . Geneva : World Health Organization; United Nations Children’s Fund; Food and Agriculture Organization of the United Nations ; 2021 . [ Geneva: World Health Organization; 2021 . , a Organização Mundial da Saúde admitiu que pouca atenção tem sido direcionada a abordagens que expandam as avaliações para além de componentes centrados em nutrientes, reconhecendo os desafios mundiais quanto à capacidade para a coleta de métricas de alimentação em larga escala que permitam o monitoramento e instruam adequadamente intervenções populacionais 2626. World Health Organization . Report of the technical consultation on measuring healthy diets: concepts, methods and metrics. Virtual mmeeting, 2021 May 18-20 . Geneva : World Health Organization; United Nations Children’s Fund; Food and Agriculture Organization of the United Nations ; 2021 . [ Geneva: World Health Organization; 2021 . .

Os achados deste estudo conferem, assim, envergadura para a qualificação das ações de vigilância alimentar e nutricional no contexto brasileiro, com implicações em ao menos duas camadas. Primeiramente, as evidências podem potencializar o uso dos formulários de marcadores do consumo alimentar do Sisvan em pesquisas epidemiológicas com variados delineamentos e recortes populacionais, como um instrumento adequadamente avaliado quanto às características e à consistência de sua estrutura interna.

É importante enfatizar também a necessidade de ampliação dos esforços de análise dos dados produzidos continuamente nos serviços da atenção primária à saúde do SUS, reconhecendo o Sisvan como um sistema de informação singular e com grande possibilidade de expansão para o acompanhamento da situação alimentar da população brasileira. Sob essa camada, fortalecem-se noções de dupla via para o conceito ampliado de vigilância alimentar e nutricional preconizado na Política Nacional de Alimentação e Nutrição 66. Ministério da Saúde (BR) . Secretaria de Atenção à Saúde . Departamento de Atenção Básica . Política Nacional de Alimentação e Nutrição . Brasília, DF : Ministério da Saúde ; 2013 . .

Em segundo lugar, este estudo contribui para a integração mais informada de ações de vigilância com perspectivas de produção do cuidado e orientação individual de usuários do SUS. Pela primeira vez, dispõe-se de respaldo estatístico para a compreensão da mensuração quantitativa de características da alimentação por meio deste instrumento, o que subsidia mais apropriadamente suas indicações de uso 1010. Ministério da Saúde (BR) . Secretaria de Atenção Primária à Saúde , Departamento de Promoção da Saúde . Matriz para organização dos cuidados em alimentação e nutrição na atenção primária à saúde: versão preliminar . Brasília, DF : Ministério da Saúde ; 2022 . . Nesse sentido, destacam-se recomendações recentes do emprego dos marcadores do consumo alimentar do Sisvan em árvores de decisões que estruturam protocolos de uso do Guia Alimentar para a População Brasileira em orientações individuais para a população em geral, em diversas faixas etárias 2727. Ministério da Saúde (BR) . Universidade de São Paulo . Fascículo 1: Protocolos de uso do guia alimentar para a população brasileira na orientação alimentar: bases teóricas e metodológicas e protocolo para a população adulta . Brasília, DF : Ministério da Saúde , 2021 . , e para pessoas adultas com obesidade, hipertensão arterial e diabetes melito 2828. Ministério da Saúde (BR) . Universidade de Brasília . Fascículo 1: Protocolos de Uso do Guia Alimentar para a População Brasileira na orientação alimentar de pessoas adultas com obesidade, hipertensão arterial e diabetes mellitus: bases teóricas e metodológicas . Brasília, DF : Ministério da Saúde , 2022 . .

A interpretação dos resultados apresentados deve ser feita à luz das limitações deste estudo. Por compor uma estratégia de vigilância em saúde já implementada, as presentes análises não se voltaram a etapas de confecção dos itens do instrumento avaliado. Ainda assim, os materiais orientadores do Sisvan 77. Ministério da Saúde (BR) . Orientações para avaliação de marcadores de consumo alimentar na atenção básica . Brasília, DF : Ministério da Saúde ; 2015 . esclareceram as bases conceituais consideradas à época da proposição do formulário de marcadores do consumo alimentar e assume-se que a listagem dos alimentos elencados tenha compreensão razoavelmente direta. A cobertura populacional do Sisvan pode ser considerada limitada, porém, para as análises de caráter psicométrico conduzidas neste trabalho, ressalta-se que as amostras analíticas supriram adequadamente os requisitos mínimos em todos os recortes explorados.

Como pontos fortes, devem-se notar a amplitude nacional das análises e a disponibilidade de dados de usuários dos serviços de saúde, que responderam ao instrumento nas situações de uso para as quais este foi concebido. Espera-se que essas evidências potencializem esforços para a ampliação da cobertura da avaliação de marcadores do consumo alimentar no SUS. A fim de aprofundar a compreensão deste formulário, perspectivas adicionais de validação podem incluir a investigação do perfil nutricional de alimentos consumidos, bem como disponíveis em âmbito domiciliar, de forma atrelada à apuração do conjunto de marcadores do consumo alimentar.

CONCLUSÃO

A estrutura interna do formulário de marcadores do consumo alimentar do Sisvan para indivíduos a partir de 2 anos de idade refletiu seu embasamento conceitual a partir da classificação NOVA e das recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira. Dois fatores distintos agruparam alimentos ultraprocessados e alimentos in natura ou minimamente processados, de forma que o instrumento se mostrou estável em configuração, cargas fatoriais e escala entre as macrorregiões brasileiras, fases do curso da vida e ao longo do tempo. A estrutura interna e as evidências de invariância de mensuração constatadas subsidiam o uso amplo dos marcadores do Sisvan para monitoramento do consumo alimentar.

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  • Financiamento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (processo nº 442963/2019-0)

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Ago 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    09 Jun 2022
  • Aceito
    21 Nov 2022
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