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Sistema de Vigilância Epidemiológica das Infecções Hospitalares do Estado de São Paulo: análise dos dados de 2005

Epidemiological Surveillance System for Hospital Infections in the State of São Paulo: analysis of 2005 data

INFORMES TÉCNICOS INSTITUCIONAIS TECHNICAL INSTITUTIONAL REPORTS

Sistema de Vigilância Epidemiológica das Infecções Hospitalares do Estado de São Paulo – Análise dos dados de 2005

Epidemiological Surveillance System for Hospital Infections in the State of São Paulo – Analysis of 2005 data

Divisão de Infecção Hospitalar do Centro de Vigilância Epidemiológica "Prof. Alexandre Vranjac". Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo – SES-SP

Correspondência | Correspondence Correspondência | Correspondence: Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo Av. Dr. Arnaldo, 351 1º andar sala 135 01246-901 São Paulo, SP, Brasil E-mail: bepa@saude.sp.gov.br

Atualmente, as infecções hospitalares (IH) constituem sério problema de saúde pública. Estima-se que a cada dez pacientes hospitalizados, um terá infecção após sua admissão, gerando custos elevados resultantes do aumento do tempo de internação e de intervenções terapêuticas e diagnósticas adicionais.

Estudo de prevalência realizado em hospitais terciários das cinco regiões do Brasil, em 1994, mostrou taxa de IH de 15,5%. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cabe às autoridades de saúde desenvolver um sistema para monitorar infecções selecionadas e avaliar a efetividade de intervenções.

O Sistema de Vigilância Epidemiológica das Infecções Hospitalares do Estado de São Paulo foi proposto em 2004. Esse sistema valorizou a vigilância de infecções objetivada em unidades críticas e pacientes cirúrgicos, além da seleção de indicadores que permitissem avaliar a qualidade dos processos de atendimento à saúde.

Assim, a partir de 2004, os hospitais do Estado passaram a notificar suas taxas de IH por meio de planilhas encaminhadas mensalmente por via eletrônica ao Centro de Vigilância Epidemiológica "Prof. Alexandre Vranjac" (CVE) – órgão da Coordenadoria de Controle de Doenças, da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (CCD/SES-SP). As planilhas são preenchidas de acordo com a complexidade do hospital: planilhas 1, 2, 3 e 5 para hospitais gerais e planilha 4 para hospitais especializados (psiquiátrico e de longa permanência). No site do CVE estão disponíveis documentos de orientação para a coleta de dados e preenchimento das planilhas.

Os indicadores epidemiológicos selecionados para hospitais gerais foram: taxa de infecção em cirurgias limpas; densidade de incidência de pneumonia associada à ventilação mecânica (VM); infecção de corrente sanguínea associada a cateter central (CVC) e infecção urinária associada à sonda vesical (SVD); taxas de utilização destes dispositivos invasivos (DI) em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) adulto, pediátrica e coronariana; densidade de incidência de pneumonia associada à VM; infecção de corrente sanguínea associada à CVC e taxas de utilização de DI em UTI neonatal, em cada faixa de peso.

Os dados foram consolidados e analisados por meio de planilhas eletrônicas. Os indicadores foram analisados utilizando-se os dados agregados do período (janeiro a dezembro de 2005); ou seja, a soma do número de IH no período, dividida pela soma dos denominadores (número de cirurgias limpas, pacientes-dia, dispositivos invasivos/dia) no período, para cada indicador, multiplicada por mil, no caso das infecções em UTI e em hospitais especializados, ou multiplicados por cem, no caso das infecções de ferida cirúrgica (IFC). As taxas de IH dos hospitais gerais notificantes foram distribuídas em percentis (10, 25, 50, 75 e 90).

Com o objetivo de evitar a inclusão de hospitais com denominador extremamente pequeno, foram excluídos das análises hospitais com: menos de 250 cirurgias limpas no período; menos de 500 pacientes-dia em UTI adulto, pediátrica e coronariana; menos de 50 pacientes-dia, para cada faixa de peso, em UTI neonatal.

Adesão ao Sistema

Pelo menos uma planilha de IH no período foi enviada por 534 hospitais, correspondendo a 59,6% dos cadastrados no Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde (CNES). A média e mediana de hospitais notificantes por mês foram, respectivamente, 398 e 403 (variação de 367-418 hospitais). A Figura 1 mostra o número de hospitais notificantes por mês nos anos de 2004 e 2005.


Infecções cirúrgicas

Do total de hospitais notificantes, 85,4% (456/534) enviaram dados de infecção cirúrgica por meio da planilha 1 e 58,8% (268/456) informaram que realizam vigilância pós-alta. A distribuição do número de hospitais notificantes, segundo Direção Regional de Saúde, está indicada na Tabela 1.

Foram notificadas 431.446 cirurgias limpas. As Figuras 2 e 3 mostram o número de cirurgias limpas e de hospitais notificantes, segundo especialidade cirúrgica.



Na análise das taxas de infecção cirúrgica foram incluídos 300 hospitais que notificaram mais de 250 cirurgias limpas em 2005. As Tabelas 2 e 3 apresentam a distribuição das taxas de infecção cirúrgica global e por especialidade cirúrgica, em percentis. Para algumas regionais não foi realizada a distribuição em percentis, pois possuíam menos de dez hospitais com o critério de inclusão adotado para a análise. Entretanto, os dados referentes a essas regionais foram utilizados na análise de percentis do Estado.

Infecções em UTI

Em todo o Estado, 275 hospitais enviaram dados de infecção em UTI adulto, pediátrica e coronariana (UCO), correspondendo a 51,5% do total de notificantes em 2005. As Tabelas 4 e 5 mostram o número de hospitais que enviaram a planilha 2 e o número de hospitais por tipo de UTI, segundo a Direção Regional de Saúde.

Foram incluídos na análise das taxas de infecção em UTI adulto, pediátrica e coronariana 213 (79,2%) 64 (71,1%) e 21 (77,8%) hospitais, respectivamente.

Em UTI adulto, a média de infecções foi de 2.877 pacientes-dia e mediana de 1.961 (variação de 567 a 49.769 pacientes-dia), no período. Em UTI Pediátrica, a média foi de 1.521 pacientes-dia e a mediana de 1.286 (variação: 501 a 7.346 pacientes-dia). Finalmente, a média em UCO foi de 1.502 pacientes-dia e a mediana 1.315 (variação: 571 a 2910 pacientes-dia).

As Tabelas 6, 7 e 8 apresentam a distribuição das taxas de infecção em percentis em UTI adulto, Pediátrica e UCO. As Tabelas 9, 10 e 11, as taxas de utilização de dispositivos invasivos (DI) em percentis para essas unidades.

Infecções em UTI neonatal

O número de hospitais que enviou planilha 3 foi de 124, que corresponde a 23,2% do total de notificantes ao Sistema de Vigilância das IH do Estado de São Paulo (Tabela 12).

Foram incluídos 110 hospitais para cálculo das taxas de IH por faixa de peso. Um mesmo hospital pode ter sido incluído na análise de taxas de mais de uma faixa de peso do recém-nascido. A distribuição do número de notificantes da planilha 3 incluídos na análise, por faixa de peso, foi de 83 hospitais para a faixa de peso <1.000g, 105 para a faixa de 1.001 a 1500g, 110 para 1.501g a 2.500g e 109 para >2.500g.

Nas Tabelas 13 e 14 são apresentadas as densidades de incidência de infecção associada a dispositivos invasivos, distribuídas em percentis, por faixa de peso em UTI neonatal. As tabelas 15 e 16 apresentam a distribuição das taxas de utilização de DI em percentis por faixa de peso.

Hemocultura

Na análise da distribuição dos microrganismos isolados em hemoculturas em UTI não foi utilizado qualquer critério de exclusão, por tratar-se de uma avaliação qualitativa de dados. Desse modo, os dados de todos os hospitais notificantes foram analisados.

Foram notificados 8.492 pacientes com IH e hemocultura positiva. A Tabela 17 apresenta a distribuição percentual dos microrganismos isolados em hemoculturas e a Tabela 18, o seu perfil de resistência.

comentários

Quando comparado a 2004, em 2005 houve aumento do número de hospitais notificantes ao Sistema de Vigilância das Infecções Hospitalares do Estado de São Paulo. Da mesma forma, foi maior o número de hospitais notificantes por mês com regularidade de envio de dados.

Conforme verificado em 2004, a maioria dos hospitais do Estado realiza procedimentos cirúrgicos (85,4%). A mediana das taxas de infecção cirúrgica apresentou-se abaixo do esperado, quando considerada a alta taxa de vigilância pós-alta referida pelos hospitais que realizam procedimentos cirúrgicos. O sistema tem como objetivo diminuir o risco de subnotificação, uma vez que 12% a 84% das infecções cirúrgicas ocorrem após a alta do paciente. A taxa de infecção cirúrgica do Estado sugere que, além da subnotificação, este tipo de vigilância não tem sido realizado.

A taxa de infecção mais elevada em cirurgia cardíaca pode ser explicada pelo fato de os pacientes, geralmente, retornarem ao serviço de origem para tratamento de infecção após o procedimento. Com isso, é mais fácil a recuperação das taxas de infecção.

Os dados solicitados pela planilha 2 foram estratificados em UTI adulto, pediátrica e coronariana. A estratificação tinha por objetivo facilitar a notificação e possibilitar a comparação de dados de acordo com o perfil de atendimento das unidades.

Para UTI neonatal a taxa de utilização de DI é mais alta quanto menor a faixa de peso ao nascer, indicando maior gravidade dos bebês com menor peso.

Staphylococcus epidermidis e outros Staphylococcus coagulase negativa foram os microrganismos mais freqüentemente isolados em pacientes com IH e hemocultura positiva. Este dado deve ser avaliado com cuidado, pois há dúvidas se esses agentes podem ser realmente considerados como etiológicos das infecções ou se estão ocorrendo falhas nos procedimentos de coleta de hemoculturas.

A análise do perfil de resistência dos microrganismos isolados em hemocultura mostra que este é um problema emergente e merece atenção com ações governamentais específicas.

O aumento da adesão ao Sistema de Vigilância Epidemiológica das IH do Estado de São Paulo mostra a efetividade do trabalho contínuo de sensibilização dos hospitais, desenvolvido pela Divisão de Infecção Hospitalar em parceria com as Regionais de Saúde e os municípios.

O estímulo à notificação deve ser mantido para que a notificação seja crescente, aumentando a consistência dos dados. Além disso, serão realizados treinamentos com enfoque nos critérios diagnósticos e preenchimento das planilhas para melhorar a qualidade dos dados, permitindo a comparação de dados mais homogêneos.

Texto de difusão técnico-científica da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      06 Jul 2007
    • Data do Fascículo
      Ago 2007
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