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A Revista Paulista de Pediatria segue em busca de seu sonho

La Revista Paulista de Pediatria sigue en búsqueda de su sueño

EDITORIAL

A Revista Paulista de Pediatria segue em busca de seu sonho

Ruth Guinsburg

Editora da Revista Paulista de Pediatria da Sociedade de Pediatria de São Paulo; Professora Titular de Pediatria da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), São Paulo, SP, Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Ruth Guinsburg Rua Vicente Felix, 77, apto. 9 - Cerqueira César CEP 01410-020 - São Paulo/SP E-mail: ruthgbr@netpoint.com.br

Ser editor de um periódico científico no Brasil é um desafio que depende da inserção simultânea em dois mundos que nem sempre se superpõem. A Revista Paulista de Pediatria tem como objetivo disseminar o conhecimento científico de qualidade na área da saúde da criança e do adolescente. Sabe-se que, especificamente nessa área temática, com um foco predominantemente clínico e dirigido de forma central aos pediatras, há apenas outro periódico brasileiro, o Jornal de Pediatria, cujas indexações e busca de internacionalização o colocam em um patamar diferente daquele pretendido, nesse momento por nossa Revista. Assim, a Revista Paulista de Pediatria busca tornar o conhecimento produzido em sua área temática visível e acessível àqueles interessados no tema, no Brasil e no mundo. Para isso, ela precisa se concretizar, por um lado, como um veículo de interesse para aqueles que produzem o conhecimento e buscam divulgá-lo e, por outro lado, para aqueles que buscam o conhecimento para se atualizarem, melhorarem sua prática clínica ou para, a partir da pergunta respondida pelos artigos publicados, gerarem novas perguntas e novas pesquisas. Aqui aparecem os dois mundos citados inicialmente, que nem sempre se superpõem: o mundo da pesquisa, que gera o conhecimento e se apoia nele para novas pesquisas, e o mundo da prática, que transforma o seu fazer a partir de atualizações proporcionadas por cursos, congressos e periódicos científicos.

Para atender ao "mundo da prática clínica", a Revista Paulista de Pediatria é divulgada de forma impressa e eletrônica. A forma impressa é distribuída a mais de 5.000 pediatras do Estado de São Paulo. A forma eletrônica, inteiramente gratuita, pode ser acessada por meio do portal da Sociedade de Pediatria de São Paulo (www.spsps.org.br) ou pelo portal da SciELO (Scientific Eletronic Library Online - www.scielo.br). Dessa maneira, desde outubro de 2007, somente pela SciELO, mais de 806.000(1) artigos da Revista já foram recuperados, lidos e, de alguma forma, a informação neles contida foi disseminada, mostrando a penetração do veículo e o cumprimento da missão que norteia sua existência. A partir de agosto de 2009, a contagem do número de acessos aos artigos publicados passou a ser feito pelo idioma de quem busca a informação e observa-se, também, a penetração pequena, mas importante, de leitores de língua espanhola (13.327 acessos) e inglesa (25.519 acessos)(2). Para ilustrar a penetração da Revista, note-se o número de buscas dos três artigos mais acessados(3): Murahovschi J - "Tétano dos recém-nascidos: revisitado" (2008) com 52.967 acessos; Ribeiro IF et al - "Fisioterapia em recém-nascidos com persistência do canal arterial e complicações pulmonares" (2008), com 16.542 acessos; Cortez AB et al - "Conhecimento de pediatras e nutricionistas sobre o tratamento da alergia ao leite de vaca no lactente" (2007), com 15.076 acessos. Pode-se dizer que, nesse aspecto, a Revista Paulista de Pediatria cumpre seus propósitos e, talvez, esteja um pouco além deles, ao tornar acessível o conhecimento de temas importantes da saúde da criança e do adolescente não apenas aos pediatras, mas também aos outros interessados no assunto, destacando-se, nos artigos acima mencionados, a fisioterapia e a nutrição.

Se, para o "mundo da prática clínica", a Revista Paulista de Pediatria vai muito bem, para o "mundo universitário e da pesquisa", há ainda necessidade de muito trabalho. Os produtores de conhecimento científico são reconhecidos pela qualidade dos periódicos em que publicam seus achados e pela repercussão dos mesmos. Quanto maior a visibilidade e a importância dos periódicos no mundo acadêmico, maior será, possivelmente, a repercussão dos achados entre os outros pesquisadores da área. Embora com distorções e críticas, essa "repercussão científica" acaba sendo medida pelo número de citações obtido pela publicação. Ou seja, um artigo científico que gerou um resultado que, de fato, contribui para a construção do conhecimento vai ser citado por aqueles que concordam com o achado, por aqueles que discordam do achado e por aqueles que estão fazendo uma revisão crítica do tema, que acabará por influenciar as práticas profissionais, resultando em inúmeras citações do artigo e do veículo que o publicou. Nessa mesma linha, quanto mais visível é o artigo, ou seja, está disponível pelo menos em resumo em todas as bases de dados que os formadores de opinião consultam para estabelecer linhas de pesquisa e opiniões, maior a chance dele ser citado. Assim, o fator de impacto do periódico é importante para dar visibilidade ao artigo e, de outro lado, artigos altamente citados, por sua vez, dão visibilidade ao periódico, criando um círculo vicioso em que autores e periódicos se retroalimentam. Nesse sentido, segundo a Thompson Reuters, responsável pelo fator de impacto (FI) JCR, em 2010, os três periódicos de maior impacto na área pediátrica foram(4): Pediatrics (FI 5,39); Journal of the American Academy of Child Psychiatry (FI 5,15) e Journal of Pediatrics (FI, 4,04). Nesta base de dados, 108 periódicos estão listados na área de interesse da Pediatria. O Jornal de Pediatria, o melhor periódico brasileiro na área, está em 69º lugar nesse ranking, com um fator de impacto de 1,065(4). A Revista Paulista de Pediatria não está indexada na base JCR. Pode-se argumentar que tal lista inclui predominantemente periódicos tradicionais, de língua inglesa e que citam, de modo preponderante, artigos e revistas publicados nos países desenvolvidos. No entanto, deve-se levar em conta que a língua da ciência, pelo menos nos últimos 30 anos, é o inglês e a produção científica que faz diferença na construção do conhecimento é divulgada em inglês. Para tentar abarcar uma base de dados com uma abrangência maior de revistas latino-americanas e com uma penetração maior no Brasil, buscaram-se analisar os mesmos dados com a base Scopus®, da editora Elsevier, que avaliou 189 periódicos da área de Pediatria, Perinatologia e Saúde da Criança em 2010. Nessa base, os periódicos de maior impacto são(5): Pediatrics (FI 5,59); Archives of Pediatrcs and Adolescent Medicine (FI 3,99) e Developmental and Disabilities Research Reviews (FI, 3,90). O Jornal de Pediatria está em 51º lugar nesse ranking, com um fator de impacto de 1,31, e a Revista Paulista de Pediatria não foi avaliada ainda por ter sido indexada em 2010(5). Observa-se, portanto, que, se a Revista Paulista de Pediatria quiser ser uma opção competitiva de divulgação do conhecimento científico, ela deve estar disponível em inglês e ser indexada nas bases de busca mais conceituadas, para que os artigos nela publicados se tornem visíveis e citáveis para quem produz o conhecimento, ou seja, a academia sensu lato e seus pesquisadores. Nesse sentido, o caminho está sendo percorrido: todos os artigos originais estão sendo publicados na íntegra em português e inglês; todos os resumos são divulgados em português, inglês e espanhol; e a indexação na base Scopus® foi concretizada em 2010. Nesse mesmo ano, foi feita a solicitação de indexação à Medline-Pubmed, que avaliou e pontuou a Revista Paulista de Pediatria em todos seus quesitos como boa ou ótima, mas considerou que os artigos ainda sofriam de endogenia. Vale argumentar que não se pode ser punido por buscar justamente o que está faltando. Como a Revista pode receber artigos de todo o mundo se a Medline-Pubmed não quer facilitar sua visibilidade? Além disso, a Revista vem publicando sistematicamente artigos de todas as regiões do país, levando em consideração que os polos produtores de conhecimento na área estão concentrados nas Regiões Sul e Sudeste. A Revista Paulista de Pediatria, financiada inteiramente pela Sociedade de Pediatria de São Paulo, tem cerca de 70% de seus artigos provenientes de instituições de outros Estados brasileiros que não São Paulo. Ainda, vale lembrar que falar em endogenia para um país de proporções continentais e relativamente "ilhado" em sua língua portuguesa é desconsiderar o esforço feito para abrir as portas do periódico a todos os pesquisadores que buscam publicar com qualidade seus resultados. Portanto, novo pedido de indexação à Medline-Pubmed será feito no início de 2012, esperando que se possa dar esse passo a fim de atrair, por um lado, a publicação de mais estudos de qualidade e, por outro, mais leitores ao redor do mundo.

Finalmente, seja voltado à prática clínica ou à academia e pesquisa, um periódico como a Revista Paulista de Pediatria precisa de pesados investimentos financeiros e pessoais para que possa estar pontualmente, a cada três meses, disponível em sua versão impressa e eletrônica. A Sociedade de Pediatria de São Paulo vem dando o suporte financeiro necessário para tal. No entanto, o volume de investimento é bastante grande e há necessidade de parcerias. A busca incansável por parcerias éticas e que entendam a missão e os desafios da Revista Paulista de Pediatria tem sido um trabalho hercúleo da Diretoria de Publicações. Por outro lado, para o fluxo adequado e rápido dos artigos, há necessidade de uma secretaria editorial ágil e entrosada com os autores, os revisores, os editores e os produtores do periódico. Além disto, "a máquina" da edição precisa funcionar e, para a avaliação dos artigos, contamos com a colaboração de centenas de revisores ad hoc, que trabalham com extrema boa vontade para ajudar a selecionar os artigos aceitos, sugerir as modificações necessárias e indicar os estudos que devem ser rejeitados. Todo o corpo de revisores trabalha de forma voluntária, ajudando a qualificar a Revista Paulista de Pediatria, de modo a que ela possa galgar os passos necessários para sua visibilidade científica. A esse corpo de revisores se alia o grupo de editores, que dedica inúmeras horas semanais, extraídas das suas obrigações diárias (vale lembrar que nos periódicos internacionais, a editoria é profissional), para ajudar a concretizar um sonho. O sonho de ter uma Revista disponível e útil para a comunidade pediátrica, divulgando conhecimento de impacto para a comunidade científica. Nesse sentido, funcionários e editores despendem um enorme esforço para que cada artigo tenha uma avaliação justa e rápida e para que cada artigo publicado, com texto e formato adequados para a leitura, ajude a disseminar a pesquisa que pode fazer diferença na área da saúde da criança.

Assim, o desafio do editor do periódico científico brasileiro é internacionalizar, buscar ser um competidor com as publicações de qualidade, sem perder o foco do interesse do leitor. A Revista Paulista de Pediatria segue em busca de seu sonho.

Conflito de interesse: nada a declarar

Recebido em: 3/11/2011

  • 1
    Scientific Library Online [homepage on the Internet]. Estatísticas: resumo de acesso às revistas [Cited 2011 Nov 2]. Available from: http://scielo-log.scielo.br/scielolog/scielolog.php?script=sci_journalstat&pid=0103-0582&lng=pt&nrm=iso&order=1&dti=19980201&dtf=20111130&app=scielo&server=www. scielo.br
  • 2
    Scientific Library Online [homepage on the Internet]. Estatísticas: resumo de acesso das revistas por idioma [Cited 2011 Nov 2]. Available from: http://scielo-log.scielo.br/scielolog/scielolog.php?script=sci_journalstatlang&lng=pt&pid=0103-0582&app=scielo&server=www.scielo.br
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  • 5
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  • Endereço para correspondência:
    Ruth Guinsburg
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      17 Fev 2012
    • Data do Fascículo
      Dez 2011
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