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Intervenção para períodos críticos: transferência de cuidados: uma nova intervenção psicossocial para indivíduos com transtornos mentais graves na América Latina

CARTA AO EDITOR

Intervenção para períodos críticos - transferência de cuidados: uma nova intervenção psicossocial para indivíduos com transtornos mentais graves na América Latina

Tatiana Fernandes Carpinteiro da SilvaI; Giovanni LovisiI; Maria Tavares CavalcantiII; Catarina DahlII; Sara ConoverIII; Eliecer valenciaIII; Ezra SusserIII

IUniversidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC)

IIUFRJ, Instituto de Psiquiatria (IPUB)

IIIColumbia University, Newman School of Public Health, New York, USA

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Tatiana Fernandes Carpinteiro da Silva Instituto de Estudos em Saúde Coletiva Av. Horácio Macedo, s/n, Ilha do Fundão 21941-598 - Rio de Janeiro, RJ, Brasil Telefone: (21) 9618-7097 E-mail: tatiana_fcs@hotmail.com

Prezado Editor

Uma vez que a atenção à saúde mental na América Latina está passando por uma grande transformação com a mudança da assistência de base hospitalar para assistência na comunidade, tornou-se essencial a adequação desses pacientes na sociedade, sendo crucial a implementação de intervenções psicossociais que beneficiem tal população e suas famílias, atendendo suas necessidades de forma adaptada à realidade econômica e social da América Latina1,2.

A Intervenção para Períodos Críticos - Transferência de Cuidados (CTI-TS) é uma intervenção psicossocial desenvolvida para preencher uma lacuna fundamental nos serviços oferecidos por serviços de saúde mental na América Latina2. É uma intervenção de nove meses de duração, a ser realizada no momento crítico em que um paciente é admitido pela primeira vez em um serviço comunitário de saúde mental.

A CTI-TS será conduzida por uma equipe composta de dois tipos de agentes CTI-TS: agente apoio por pares e agentes comunitários de saúde mental, que trabalham sob a supervisão de um psiquiatra. Os agentes de apoio por pares são indivíduos que experimentaram as implicações do transtorno mental em sua própria vida e que possuem interesse no trabalho de apoio de pares, que é orientada em direção à recuperação. Os agentes comunitários de saúde mental são indivíduos com conhecimento dos serviços de saúde mental e outros serviços de saúde locais, e o compromisso com a prestação de serviços de apoio em saúde mental in vivo na comunidade.

Essa intervenção visa melhorar a continuidade no cuidado para pessoas com transtornos mentais graves, fazendo a ponte entre os tratamentos e/ou serviços. A CTI-TS é implementada por uma equipe com baixo número de casos por agente. Os objetivos e atividades do CTI-TS são direcionados para a criação de uma rede de apoio sustentável e um plano de recuperação para cada indivíduo. O CTI-TS foca em 1-3 áreas que são consideradas cruciais para o desenvolvimento de pontos de apoio duradouros na comunidade. Essas áreas de intervenção incluem: tratamento psiquiátrico e gestão de medicamentos, gestão do dinheiro, tratamento do abuso de substâncias, habitação e gestão de crises, atividades de vida diária e intervenções familiares. Essas áreas de intervenção são definidas individualmente e moldadas a partir da perspectiva do paciente3.

Essa intervenção é realizada em três fases sucessivas e interligadas nas quais o nível de intensidade do contato entre os agentes CTI-TS e os pacientes diminui ao longo do tempo. A CTI-TS é projetada especificamente para evitar tornar-se a principal fonte de cuidados para o indivíduo com transtorno mental. As fases da intervenção são Iniciação, Experimentação e Transferência de Cuidado. Cada fase é realizada ao longo de um período de aproximadamente três meses.

A supervisão regular é um elemento essencial do modelo CTI-TS. Esse papel deve ser desempenhado por um psiquiatra bem familiarizado com o modelo. A supervisão é realizada semanalmente, sendo dedicada à discussão dos casos com todos os membros da equipe.

Atualmente, foi concluída a primeira fase de implementação da CTI-TS, incluindo o desenvolvimento de um manual da intervenção, a adaptação semântica dos instrumentos utilizados para avaliar os resultados e o desenvolvimento de um método para avaliar a fidelidade do processo de implementação4. Resultados relativos à viabilidade e aos resultados clínicos estarão disponíveis em breve. Este será o primeiro projeto a desenvolver e avaliar a eficácia de uma intervenção psicossocial em saúde mental comunitária em três países da América Latina.

Recebido: 19/10/2013

Aceito: 6/11/2013

  • 1. Thornicroft G, Susser E. Evidence-based psychotherapeutic interventions in the community care of schizophrenia. Brit J Psychiat. 2001;178:2-4.
  • 2. Almeida JM, González J. Atención comunitaria a personas con trastornos mentales severos. Washington, DC: Panamericana de la Salud; 2005.
  • 3. Herman D, Conover S, Felix A, Nakagawa A, Mills D. Critical time intervention: an empirically supported model for preventing homelessness in high risk groups. J Prim Prev. 2007;28:295-312.
  • 4. Whitley R. Cultural competence, evidence-based medicine, and evidencebased practices. Psychiatr Serv. 2007;58:1588-90.
  • Endereço para correspondência:

    Tatiana Fernandes Carpinteiro da Silva
    Instituto de Estudos em Saúde Coletiva
    Av. Horácio Macedo, s/n, Ilha do Fundão
    21941-598 - Rio de Janeiro, RJ, Brasil
    Telefone: (21) 9618-7097
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      07 Jan 2014
    • Data do Fascículo
      2013
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