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O gênero Zornia (Fabaceae - Papilionoideae) no estado da Paraíba, Brasil

The genus Zornia (Fabaceae - Papilionoideae) in Paraíba state, Brazil

Resumo

O gênero Zornia com ca. 80 espécies é constituído de dois subgêneros, Myriadena e Zornia, sendo o último com três seções (Zornia, Isophylla e Anisophylla) e apresenta distribuição pantropical. Morfologicamente é caracterizado principalmente pelas flores dispostas em inflorescências espiciformes com bractéolas peltadas aos pares, encobrindo o cálice, tanto na flor e muitas vezes no fruto. O presente estudo teve como objetivo estudar as espécies de Zornia que ocorrem no estado da Paraíba. Para tanto foram realizados estudos morfológicos com base em materiais coletados e principalmente em coleções depositadas nos herbários EAN, JPB, IPA e PEUFR. A identificação dos materiais foi realizada com o auxílio da bibliografia especializada, complementada pela análise de imagens digitais dos tipos. Para cada uma das espécies foi elaborada uma descrição, comentário taxonômico e morfológico, adicionalmente uma chave de identificação foi feita para todo o gênero. Neste estudo foram registradas sete espécies: Zornia brasiliensis, Z. latifolia, Z. leptophylla, Z. guanipensis, Z. myriadena, Z. reticulata e Z. sericea. As espécies Zornia guanipensis, Z. myriadena, e Z. sericea constituem novos registros de ocorrências para o estado. As espécies Zornia myriadena, Z. reticulata, Z. brasiliensis e Z. leptophylla têm distribuição exclusiva na Caatinga. Já Z. guanipensis ocorre na Mata Atlântica, em restinga, enquanto que Z. sericea e Z. latifolia possuem distribuição em ambos os domínios fitogeográficos.

Palavras-chave:
Leguminosae; Dalbergieae; taxonomia vegetal; diversidade florística

Abstract

The genus Zornia with ca. 80 species is composed of two subgenera, Myriadena and Zornia, the last with three sections (Zornia, Isophylla and Anisophylla) and presents a pantropical distribution. Morphologically it is characterized mainly by the flowers arranged in spiciform inflorescences with paired peltade bracteoles, protecting or hiding the calyx of the flower and often the fruit. This research aimed to the species of Zornia in the state Paraíba. Morphological studies were on materials collected and mainly in specimens deposited in the herbaria EAN, JPB, IPA and PEUFR. The species were identified consulting specialized bibliography, complemented by the analysis of digital pictures of the types. For each species was provided description and taxonomic and morphological comments, additionally a key for identification for the genus was also provided. The present seven species were recognized: Zornia brasiliensis, Z. latifolia, Z. leptophylla, Z. guanipensis, Z. myriadena, Z. reticulata, and Z. sericea. The species Zornia guanipensis, Z. myriadena, and Z. sericea are new records for the Paraiba state. The species Z. myriadena, Z. reticulata, Z. brasiliensis e Z. leptophylla have exclusive distribution in the Caatinga. Already Z. guanipensis occurred mainly in the Atlantic Forest specially in the restinga, while Z. sericea e Z. latifolia were distributed in both the Atlantic Forest and the Caatinga.

Key words:
Leguminosae; Dalbergieae; plant taxonomy; floristic diversity

Introdução

O gênero Zornia J.F. Gmel. com 80 espécies, apresenta distribuição pantropical (Lewis et al. 2005Lewis GP, Schrire BD, Mackinder BA & Lock M (eds.) (2005) Legumes of the World. The Royal Botanic Gardens, Kew.; Fortuna-Perez et al. 2013Fortuna-Perez AP, Silva MJ, Queiroz LP, Lewis GP, Simões AO, Tozzi AMGA, Sarkinen T & Souza AP (2013) Phylogeny and biogeography of the genus Zornia (Leguminosae: Papilionoideae: Dalbergieae). Taxon 62: 723-732.), sendo a Caatinga um dos seus principais centros de diversificação (Fortuna-Perez 2009Fortuna-Perez AP (2009) O gênero Zornia J.F.Gmel (Leguminosae, Papilionoideae, Dalbergieae): Revisão taxonômica das espécies ocorrentes no Brasil e filogenia. Tese de Doutorado. Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 271p.). O gênero está subordinado a tribo Dalbergieae sensu Klitgaard & Lavin (2005)Klitgaard B & Lavin M (2005) Dalbergieae. In: Lewis G, Schrire B, Mackinder B & Lock M (eds.) Legumes of the world. Royal Botanic Gardens, Kew. 577p., aninhado no clado Adesmia (Lavin et al. 2001Lavin M, Pennington RT, Klitgaard B, Sprent JI, Lima HC & Gasson PE (2001) The Dalbergioid Legumes (Fabaceae): delimitation of a pantropical monophyletic clade. American Journal of Botany 88: 503-533.), com mais quatro gêneros ocorrentes na América do Sul (Adesmia DC., Poiretia Vent., Amicia Kunth e Nissolia Jacq.). O estudo de filogenia realizado por Fortuna-Perez et al. (2013)Fortuna-Perez AP, Silva MJ, Queiroz LP, Lewis GP, Simões AO, Tozzi AMGA, Sarkinen T & Souza AP (2013) Phylogeny and biogeography of the genus Zornia (Leguminosae: Papilionoideae: Dalbergieae). Taxon 62: 723-732. demonstrou que Zornia é monofilético e aponta Poiretia e Amicia como os gêneros mais próximos.

Tradicionalmente para o gênero, dois subgêneros têm sido reconhecidos, Zornia subg. Myriadena (Desv.) Mohlenbr. e Zornia subg. Zornia e, este último subgênero está dividido em três seções: Z. sect. Zornia, Z. sect. Isophylla Mohlenbr. e Z. sect. Anisophylla Mohlenbr. As espécies do gênero Zornia apresentam hábito subarbustivo e caracterizam-se, principalmente, pelas flores dispostas em inflorescências espiciformes com bractéolas peltadas, protegendo cada flor (Mohlenbrock 1961Mohlenbrock R (1961) A monograph of the Leguminous genus Zornia. Webbia 16: 1-141.; Fortuna-Perez 2009Fortuna-Perez AP (2009) O gênero Zornia J.F.Gmel (Leguminosae, Papilionoideae, Dalbergieae): Revisão taxonômica das espécies ocorrentes no Brasil e filogenia. Tese de Doutorado. Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 271p.). O Brasil é o principal centro de diversidade do gênero nas Américas com 37 espécies, sendo 16 endêmicas (Fortuna-Perez 2009Fortuna-Perez AP (2009) O gênero Zornia J.F.Gmel (Leguminosae, Papilionoideae, Dalbergieae): Revisão taxonômica das espécies ocorrentes no Brasil e filogenia. Tese de Doutorado. Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 271p.; Fortuna-Perez et al. 2016Fortuna-Perez AP, Vatanparast M, Cândido ES & Vargas W (2016) Zornia melanocarpa (Leguminosae, Papilionoideae, Dalbergieae), a new species from Serra do Espinhaço, Brazil, and its phylogenetic position in the genus. Systematic Botany 41: 298-306.).

No estado da Paraíba, ainda são poucas as informações sobre as espécies de Zornia, estando presentes apenas nos levantamentos florísticos (Almeida et al. 2007Almeida A, Felix WJP, Andrade LA & Felix LP (2007)Leguminosae na flora de inselbergues no estado da Paraíba, Nordeste do Brasil. Revista Brasileira de Biociências 5: 750-752.; Ferreira et al. 2015Ferreira PSM, Trovão DM & Melo JIM (2015)Leguminosae na APA do Cariri, estado da Paraíba, Brasil. Hoehnea 42: 531-547.), que encontraram Z. echinocarpa (Moric.) Benth., Z. latifolia Sm., Z. leptophylla (Benth.) Pittier Z. brasiliensis Vogel e Zornia latifolia Sm. (citada como Z. diphylla (L.) Pers. Estes estudos são pontuais e não abrangem toda a área da Paraíba.

O presente trabalho objetivou realizar o tratamento taxonômico das espécies de Zornia ocorrentes no estado da Paraíba, visando contribuir para ampliar o conhecimento sobre o gênero, fornecendo chave de identificação, descrições, comentários e fotografias dos táxons estudados.

Material e Métodos

O estado da Paraíba está situado na porção oriental do Nordeste do Brasil (Fig. 1), ocupando uma área de 56.439,838 km2, que representa 0,66% do território nacional e 3,63% do Nordeste (IBGE, 2000IBGE (2000) Censo Demográfico da Paraíba. Disponível em <http://ibge.gov.br/>. Acesso em 25 agosto 2017.
http://ibge.gov.br/...
). Está situado entre as coordenadas 34º45’54’’e 38º45’45’’de Longitude Oeste (meridiano de referência 36ºW), e 6º02’12’’ e 8º19’18’’ de Latitude Sul (paralelo de referência 07ºS) (Moreira 1989Moreira ERF (1989) Mesorregiões e microrregiões da Paraíba: delimitação e caracterização. Gasplan, João Pessoa. 79p.).

Figura 1
Mapa de localização da área de estudo, estado da Paraíba, Brasil.
Figure 1
Location of the Paraíba state, Brazil.

A Paraíba é predominantemente constituída de Caatinga que corresponde 92% de seu território, de forma que as formações vegetacionais mais frequentes têm fitofisionomias e tipologias de formações mais abertas, enquanto os 8% restantes são constituídos de Mata Atlântica que apresenta vegetação mais fechada (IBGE 2004IBGE (2004) Mapa de Biomas e de Vegetação. Disponível em <https://ww2.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/21052004biomashtml.shtm>. Acesso em 20 fevereiro 2018.
https://ww2.ibge.gov.br/home/presidencia...
). O clima predominante no estado é caracterizado por chuvas irregulares e altas temperaturas (Nurit et al. 2005Nurit K, Agra MF, Basílio IJLD & Baracho GS (2005) Flora da Paraíba, Brasil: Loganiaceae. Acta Botânica brasílica 19: 407-416.). Na região litorânea, predomina o clima tropical (quente e úmido), com temperaturas médias anuais variando entre 24 e 27 °C, com pluviosidade de 990 a 1.800 mm ao ano (Lima & Heckendorff 1985Lima PL & Heckendorff WD (1985) Climatologia. In: Atlas Geográfico da Paraíba. Ed. Grafset, João Pessoa. 99p.). O interior do estado é caracterizado pelo clima semi-árido, registrando-se altas temperaturas, em torno de 25 a 30 °C, e baixos índice pluviométricos, de 300 a 1.000, com má de distribuição de chuvas ao longo do ano, o que influência uma vegetação xerofítica (Lima & Heckendorff 1985Lima PL & Heckendorff WD (1985) Climatologia. In: Atlas Geográfico da Paraíba. Ed. Grafset, João Pessoa. 99p.).

O estudo morfológico e o tratamento taxonômico foram realizados a partir de coleções dos seguintes herbários: ACAM, JPB, EAN, IPA e PEUFR (siglas de acordo com Thiers, continuamente atualizadoThiers [continuamente atualizado] Index Herbariorum: a global directory of public herbaria and associated staff. New York Botanical Garden’s Virtual Herbarium. Disponível em <http://sweetgum.nybg.org/ih/>. Acesso em 4 outubro 2017.
http://sweetgum.nybg.org/ih/...
), além de materiais de coletas realizadas em João Pessoa e Cabaceiras entre 03-2017 e 03-2018. As identificações foram realizadas através de consulta a literatura especializada (Mohlenbrock 1961Mohlenbrock R (1961) A monograph of the Leguminous genus Zornia. Webbia 16: 1-141.; Fortuna-Perez 2009Fortuna-Perez AP (2009) O gênero Zornia J.F.Gmel (Leguminosae, Papilionoideae, Dalbergieae): Revisão taxonômica das espécies ocorrentes no Brasil e filogenia. Tese de Doutorado. Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 271p.), diagnoses, imagens de tipos e comparação com as coleções de herbário, previamente identificadas por especialistas. As imagens de tipos foram consultadas no herbário virtual Reflora (2019)Reflora - Virtual Herbarium. Available at <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/herbarioVirtual/>. Access on 27 maio 2019.
http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora...
(<http://reflora.jbrj.gov.br>).

Resultados e Discussão

O gênero está representado na Paraíba por sete espécies: Z. brasiliensis Vogel, Z. guanipensis Pittier, Z. latifolia Sm., Z. leptophylla (Benth.) Pittier, Z. myriadena Benth., Z. reticulata Sm. e Z. sericea Moric. Destas, Z. myriadena está subordinada a Z. subg. Myriadena sensu Mohlenbrock (1961)Mohlenbrock R (1961) A monograph of the Leguminous genus Zornia. Webbia 16: 1-141. e as demais ao subgênero típico, nas seguintes seções: Z. sect. Zornia (Z. brasiliensis e Z. guanipensis), Z. sect. Isophylla (Z. leptophylla) e Z. sect. Anisophylla (Z. latifolia, Z. reticulata e Z. sericea). As espécies Z. guanipensis, Z. myriadena, Z. reticulata e Z. sericea constituem novos registros de ocorrências para o estado. Zornia myriadena, Z. brasiliensis, Z. reticulata e Z. leptophylla possuem distribuição restrita à Caatinga, já Z. guanipensis ocorre principalmente na Mata Atlântica, preferencialmente em região de Restinga, enquanto Z. sericea, e Z. latifolia compartilham a distribuição com a Caatinga e Mata Atlântica.

Zornia latifolia é a única espécie do gênero que possui distribuição pantropical (Fortuna-Perez 2009Fortuna-Perez AP (2009) O gênero Zornia J.F.Gmel (Leguminosae, Papilionoideae, Dalbergieae): Revisão taxonômica das espécies ocorrentes no Brasil e filogenia. Tese de Doutorado. Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 271p.), e é também uma das mais passíveis de serem confundidas com as demais. No trabalho de Almeida et al. (2007)Almeida A, Felix WJP, Andrade LA & Felix LP (2007)Leguminosae na flora de inselbergues no estado da Paraíba, Nordeste do Brasil. Revista Brasileira de Biociências 5: 750-752. Zornia diphylla foi citada para a Paraíba, porém, constatamos que o material examinado pelos autores pertencia a Z. latifolia. Após a revisão do gênero realizada por Fortuna-Perez (2009)Fortuna-Perez AP (2009) O gênero Zornia J.F.Gmel (Leguminosae, Papilionoideae, Dalbergieae): Revisão taxonômica das espécies ocorrentes no Brasil e filogenia. Tese de Doutorado. Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 271p., foi constatado que Z. diphylla não ocorre no Brasil.

No BFG (2018)BFG - The Brazil Flora Group (2018) Brazilian Flora 2020: innovation and collaboration to meet Target 1 of the Global Strategy for Plant Conservation (GSPC). Rodriguésia 69: 1513-1527.Z. curvata é citada para a Paraíba com materiais depositados nos Herbários EAN e na coleção virtual do Herbário NY. Consultando o Herbário EAN e a base de dados do NY, foi verificado que o material do EAN estava indeterminado e o do NY identificado por Mohlenbrock como Z. latifolia. De acordo com a chave de (Fortuna-Perez 2009Fortuna-Perez AP (2009) O gênero Zornia J.F.Gmel (Leguminosae, Papilionoideae, Dalbergieae): Revisão taxonômica das espécies ocorrentes no Brasil e filogenia. Tese de Doutorado. Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 271p.) confirmamos a identificação de Mohlembrock. Portanto, esses materiais tratam-se da espécie Z. latifolia, e assim não consideramos Z. curvata com ocorrência para este estado. A espécie Z. echinocarpa, foi equivocadamente citada por Ferreira et al. (2015)Ferreira PSM, Trovão DM & Melo JIM (2015)Leguminosae na APA do Cariri, estado da Paraíba, Brasil. Hoehnea 42: 531-547. para a Paraíba (Machado Filho 167, ACAM), porém trata-se de Z. brasiliensis.

Tratamento taxonômico de Zornia para a Paraíba

Zornia J.F. Gmel., Syst. Nat., 1791[1792].

Hábito subarbustivo 13-40 cm alt.; ramos decumbentes ou eretos, glabros ou seríceos, pontuações presentes ou ausentes. Folhas alternas, pecioladas, bi ou tetrafolioladas; folíolos 2-34 × 0,5-18 mm, oblanceolados, oblongos, ovais, elípticos, lanceolados, obovados a lineares, glabros ou seríceos, glândulas puntiformes presentes. Estípulas 1-3 mm compr., peltadas, ovais, triangulares, lanceoladas ou elípticas, auriculadas, pontuadas ou não, geralmente ciliadas, glabras ou seríceas. Inflorescências 3-13 cm compr., espiciformes, axilares ou terminais, congestas ou laxas; bractéolas 2, peltadas, assimétricas, ovadas a lanceoladas, glabras a seríceas, geralmente hirsutas nas margens. Flores pediceladas ou sésseis, zigomorfas, monóclinas; cálice 3-4 mm compr., campanulado, 5 lobado; corola papilionácea, pétalas 5, amarelas, estandarte 3-9 × 1-8 mm, ovado, largo-ovado, orbicular ou obovado, com guia de néctar presente ou ausente, alas 3-9 × 2-7 mm, obovadas, quilha 4-10 × 1-4 mm, adnata falcada ou falciforme; androceu monadelfo, tubo estaminal 3-8 mm compr., estames 10, anteras dimórficas; gineceu unicarpelar e unilocular, ovário 2-7 mm compr., súpero, séssil, estilete maior que o tubo estaminal, estigma punctiforme. Fruto tipo lomento 2-13 articulado, glabro ou seríceo, glândulas punctiformes presentes ou ausentes, acúleos presentes ou ausentes.

Chave de identificação das espécies de Zornia do estado da Paraíba

  • 1. Folhas tetrafolioladas.

    • 2. Flores solitárias, pediceladas ........................................................................ 5. Zornia myriadena

    • 2’. Flores reunidas em inflorescências espiciformes, sésseis.

      • 3. Bractéolas 6-9 mm compr., artículos do lomento com tricoma pubescente ........................... ............................................................................................................... 1. Zornia brasiliensis

      • 3’. Bractéolas 3-4 mm compr., artículos do lomento com tricoma estrelado .............................. .............................................................................................................. 2. Zornia guanipensis

  • 1’. Folhas bifolioladas.

    • 4. Folíolos lineares, base aguda........................................................................ 4. Zornia leptophylla

    • 4’. Folíolos lanceolados, elípticos, oval-elípticos, ovais, base assimétrica.

      • 5’. Ramos eretos, seríceos, bractéolas com 5 nervuras longitudinais e não pontuadas ................ ...................................................................................................................... 7. Zornia sericea

      • 5. Ramos decumbentes, glabrescentes, bractéolas com 3 nervuras longitudinais e pontuadas.

        • 6. Estípula com 4 nervuras; pecíolo 14-20 mm compr.; inflorescência 6,3-13 cm compr.; bractéolas 7-8 × 3-4 mm, linear-lanceoladas, elípticas a lanceoladas ........................... ............................................................................................................ 3. Zornia latifolia

        • 6’. Estípulas com 5 nervuras; pecíolo 10-13 mm compr.; inflorescência 19-31 cm compr.; bractéolas 9-14 × 3-5 mm, largo-lanceoladas a ovadas ................. 6. Zornia reticulata

1. Zornia brasiliensis Vogel, Linnaea 12: 62. 1838. Fig. 2a-d

Figura 2
a-d. Zornia brasiliensis - a. hábito; b. folíolos; c. inflorescência; d. detalhe do androceu. e-f. Zornia guanipensis - e. ramo florido; f. detalhe do ramo mostrando os folíolos. g-i. Zornia latifolia - g. hábito; h. flor; i. lomento. Fotos: Rubens Queiroz.
Figure 2
a-d. Zornia brasiliensis - a. habit; b. leaflets; c. inflorescence; d. detail of stem tube. e-f. Zornia guanipensis - e. branch; f. detail of leaflets. g-i. Zornia latifolia - g. habit; h. flower; i. loment. Photos: Rubens Queiroz.

Subarbustos 20-80 cm alt.. Ramos eretos, cinéreo-pilosos, pontuados. Estípulas 5-8 × 3 mm, ovadas, ápice agudo; aurícula 5 × 3 mm, pontuadas. Folhas tetrafolioladas; pecíolo 7-12 mm compr., piloso a tomentoso; folíolos 9-34 × 5-10 mm, oblanceolados, ápice rotundo a mucronado, margem inteira, base aguda, pontuadas, face adaxial e abaxial pilosas. Inflorescências espiciformes, geralmente axilares, 0,3-11 cm compr.; bractéolas 6-9 × 2-5 mm, pontuadas, 5-7 nervuras longitudinais, pilosas, geralmente assimétricas, oblongas a ovadas, ápice agudo; aurícula ca. 1 mm compr; flores sésseis. Cálice ca. 3 mm compr.; estandarte 10-13 × 10-12 mm, largo ovado, ápice retuso; alas 8 × 7 mm, obovadas, ápice arredondado; pétalas da quilha 8 × 3 mm, falcadas; tubo estaminal ca. 8 mm compr.; ovário ca. 3,5 mm compr., séssil, estilete maior que o tubo estaminal, estigma puntiforme. Lomentos 4-5 articulados, artículos 2-3 × 0,15-2 mm, pubescentes, aculeados, sem glândulas.

Material examinado: Algodão de Jandaíra, 25.VIII.1988, L.P. Félix et al. 1402 (EAN); 15.VI.1993, L.P. Félix et al. 5801 (EAN); Arara, 25.V.1959, J.C. de Moraes (EAN 2118); 20.XII.1958, J.C. de Moraes (EAN 2014); Areia, 11.VIII.1954, J.C. de Moraes (EAN 1170); Boa Vista, APA do Cariri, Fazenda Salambaia, 07º12’10,3”S, 36º10’02,2”W, 400-600 m, 11.II.2011, fl., fr., H.O. Machado-Filho 167 (ACAM); Cabaceiras, 25.VI.2014, L.P. Félix et al. 15034 (EAN); Currais Novos, 10.III.1920, F. von Luetzelburg 12454 (IPA); Junco do Seridó, 10.VII.1994, L.P. Félix et al. 6606 (IPA); Pedra Lavrada, 30.IV.2007, I.B. Lima et al. 582 (JPB); Pocinhos, 8.VII.1994, A. M. Miranda et al. 1858 (IPA); 15.V.2003, L.P. Félix et al. 397 (EAN); Pombal, 2.VI.1955, J. Carneiro (JPB 2895); Remígio, 19.VI.1977, P. C. Fevereiro 338 (EAN); Santa Rita, 7.V.2008, L.P. Félix 12268 (EAN); São Gonçalo, III.1936, F. von Luetzelburg 26978 (IPA); São João do Tigre, 26.II.2011, L.P. Félix 13480 (EAN); Serra Branca, 26.IV.2006, P.C. Gadelha Neto et al. 1509 (JPB); Solânea, 21.XII.2000, T. Grise 135 (JPB); Soledade, 26.VI.1935, B. Pickel 3931 (IPA); 30.VI.1970, R. Cavalheira (JPB 3169); Sousa, 7.II.1996, P. C. Gadelha Neto et al. 295 (JPB); Taperoá, 1.VII.1986, M. F. Agra et al. (IPA 48686); Texeira, 9.VII.1994, L.P. Félix et al. 1888 (IPA).

Zornia brasiliensis é facilmente reconhecida pela combinação do hábito subarbustivo, ramos cobertos por indumento cinéreo-piloso, pelas folhas tetrafolioladas, bractéolas ovais com pontuações glandulares, inflorescências axilares e lomento com segmentos espinescentes. Esta espécie pode ser encontrada no mesmo habitat que Z. myriadena, no entanto ambas dificilmente poderiam ser confundidas, pois Z. brasiliensis apresenta ramos com indumento e inflorescência espiciforme, enquanto Z. myriadena tem ramos glabros e flores solitárias e pediceladas.

Na Paraíba foi encontrada principalmente sobre afloramentos rochosos ou em seus entornos dos domínios fitogeográficos Mata Atlântica e Caatinga.

Na área de estudo, a espécie foi encontrada nos domínios fitogeográficos da Caatinga e da Mata Atlântica, nos municípios: Algodão de Jandaíra, Arara, Areia, Cabaceiras, Currais Novos, Junco do Seridó, Pedra Lavrada, Pocinhos, Pombal, Remígio, Santa Rita, São Gonçalo, São João do Tigre, Serra Branca, Solânea, Soledade, Sousa, Taperoá e Teixeira.

2. Zornia guanipensis Pittier, Bol. Soc. Venez. Cienc. Nat. 6: 194. 1940. Fig. 2e-f

Subarbustos 30-50 cm alt.. Ramos eretos, glabros, pontuados. Estípulas 1 × 1 mm, triangulares, ápice agudo; aurícula 1 × 1 mm, pontuadas. Folhas tetrafolioladas; pecíolo 5-9 mm compr., glabro; folíolos 12-19 × 3-5 mm, oblanceolados, ápice rotundo ou mucronado, margem inteira, base aguda, faces adaxial e abaxial glabras, pontuadas. Inflorescências espiciformes, axilares, 3-4 cm compr.; bractéolas 3-4 × 1,2-3 mm, pontuadas, glabras, 3 nervuras longitudinais, oblongas, ápice agudo; flores sésseis. Cálice 3 × 2 mm; estandarte 4-6 × 5 mm, ovado, ápice agudo; alas 3-6 × 2 mm, obovadas, ápice agudo; pétalas da quilha 4-6 × 2 mm, falcadas; tubo estaminal ca. 8 mm compr.; ovário 2-3 × 0,3 mm, séssil, estiletes 4-4,5 mm compr. Lomentos 4-7 articulados; artículos 1-1,5 x 2 mm, tricomas estrelados, inerme, glandulares.

Material examinado: Santa Rita, 24.IX.1992, O.T. Moura 826 (JPB); 23.X.1993, O.T. Moura 1117 (JPB).

Na área de estudo, a espécie foi encontrada no domínio fitogeográfico da Mata Atlântica em restingas encharcadas durante o período de chuva. Z. guanipensis apresenta como principal característica diagnóstica os lomentos com tricomas estrelados, caráter ausente nas demais espécies. Na área em estudo, apenas Z. guanipensis, Z. brasiliensis e Z. myriadena são tetrafolioladas e as demais espécies possuem folhas bifolioladas. Assim, embora as espécies tetrafolioladas formem um grupo, estas são distintas entre si. A inflorescência é espiciforme com flores sésseis em Z. guanipensis e Z. brasiliensis, enquanto Z. myriadena possui flores solitárias e pediceladas. Z. guanipensis se distingue de Z. brasiliensis pelos ramos glabros, bractéolas com 3-4 mm compr. vs ramos cinéreos-pilosos, bractéolas 6-9 mm compr. em Z. brasiliensis.

Na área de estudo, a espécie foi encontrada no domínio fitogeográfico da Mata Atlântica, sobre Restinga encharcada durante o período de chuva, no município de Santa Rita.

3. Zornia latifolia Sm., in Rees. Cycl. 39(4). 1819, non DC. Fig. 2g-i

Subarbustos 20-50 cm alt. Ramos decumbentes, glabrescentes, pontuados. Estípulas 3-10 × 1,5 mm, estreitamente triangulares, ápice agudo, 4 nervuras, auriculadas. Folhas bifolioladas; pecíolo 14-20 mm compr., glabro, canaliculado; folíolos 20-40 × 5-13 mm larg., oval-elípticos, lanceolados ou elípticos, ápice agudo, mucronado, margem inteira, base assimétrica, face abaxial e adaxial esparso piloso, pontuados. Inflorescências espiciformes, axilares, 6,2-13 cm compr.; bractéolas 7-8 × 3-4 mm, pontuadas, glabras, linear-lanceoladas, 3 nervuras longitudinais, elípticas a lanceoladas, ápice agudo, margem ciliada. Cálice ca. 4 mm compr., glabro a esparso-seríceo no limbo; estandarte 8-10 × 6-8 mm, largo-ovado, ápice arredondado; alas 6-7 × 3-4 mm, obovadas; pétalas da quilha 6-8 × 3 mm, falcadas, ápice agudo; tubo estaminal ca. 5-6 mm compr.; ovário 6 × 0,5 mm, estilete 6 mm compr., estigma puntiforme. Lomentos planos 5-8 articulados; artículos 10-18 × 3 mm, piloso, aculeados, sem glândulas.

Material examinado: Alhandra, K.C. Pôrto 5272 (UFP); Areia, 25.X.1944, (EAN 227); 20.V.1953, J.C. Moraes (EAN 743); 23.V.1986, J.C. Moraes 157 (EAN); 26.VI.1986, L.P. Félix et al. 165 (IPA); 23.V.1986 L.P. Félix et al. 157 (IPA); 23.V.1986, L.P. Félix et al. 157 (EAN); 23.V.1986, LP. Félix 157 (IPA); 26.VI.1986, L.P. Félix 165 (IPA); 9.VIII.1989, I. Barbosa et al. 1944 (EAN); 9.VIII.1989, L.P. Félix et al. 1944 (EAN); Mamanguape, 22.V.1990, L.P. Félix et al. 2988 (EAN); João Pessoa, 4.VII.1984, E.S. Santana 24 (IPA); Remígio, 5.VIII.1988, L.P. Félix et al. 1398 (EAN); Sapé, 20.X.2000, E.A. César 56 (JPB); Sousa, 30.V.1936, Luetzelburg 47364 (IPA).

Zornia latifolia tem ampla distribuição, tendo registros em praticamente todos os estados brasileiros (Fortuna-Perez 2009Fortuna-Perez AP (2009) O gênero Zornia J.F.Gmel (Leguminosae, Papilionoideae, Dalbergieae): Revisão taxonômica das espécies ocorrentes no Brasil e filogenia. Tese de Doutorado. Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 271p.). É uma espécie invasora, comumente associada a ambientes antropizados, particularmente em culturas, áreas urbanas, margens de estradas (Queiroz 2009Queiroz LP (2009) Leguminosas da Caatinga. UEFS, Feira de Santana. 467p.). Na área de estudo, a espécie foi encontrada em áreas antropizadas que são em geral ambientes abertos, ocorrendo tanto no domínio fitogeográfico Caatinga quanto na Mata Atlântica. Estas foram encontradas nos municípios de Alhandra, Areia, Caldas Novas, Mamanguape, João Pessoa, Remígio, Sapé e Sousa.

Essa espécie é claramente distinguível das demais encontradas no estado da Paraíba por apresentar ramos glabrescentes, bractéolas estreitas, linear-lanceoladas, elípticas a lanceoladas, glândulas nos folíolos e nas bractéolas, pela ausência de glândulas no cálice, e lomento espinescente, exposto, isto é não encoberto pelas bractéolas.

4. Zornia leptophylla (Benth.) Pittier, Bol. Soc. Venez. Cien. Nat. 6: 196. 1940. Fig. 3a-b

Figura 3
a-b. Zornia leptophylla - a. flor; b. lomento. c-f. Zornia myriadena - c. hábito; d. flor; e. ramo; f. detalhe do ramo mostrando o lomento. g. Zornia reticulata - inflorescência. h-i. Zornia sericea - h. ramo; i. lomento. Fotos: Rubens Queiroz.
Figure 3
a-b. Zornia leptophylla - a. flower; b. loment. c-f. Zornia myriadena - c. habit; d. flower; e. branch; f. detail of loment;. g. Zornia reticulata - inflorescence. h-i. Zornia sericea - h. branch; i. loment. Photos: Rubens Queiroz.

Subarbustos 35 cm alt. Ramos eretos, glabros, pontuados. Estípulas 0,3 × 0,1 cm, estreitamente-triangulares, ápice agudo. Folhas bifolioladas; pecíolo 10-15 mm compr., glabro, canaliculado; folíolos 27-35 × 1 mm, lineares, ápice agudo, margem inteira, base aguda, face adaxial e abaxial glabras, pontuadas. Inflorescências espiciformes, axilares, 3-4 cm compr.; bractéolas 3-8 × 1 mm, pontuadas, glabras, 3 nervuras longitudinais, estreitamente-lanceoladas a lineares. Cálice 3-4 mm compr.; estandarte 4 × 4 mm, orbicular; ápice mucronado; alas 4 × 2 mm, obovadas, ápice arredondado; pétalas da quilha 5 × 1 mm, falcadas; tubo estaminal ca. 6 mm compr.; ovário 2 mm compr., estilete não observado, estigma puntiforme. Lomentos planos 2-4 articulados, artículos 7-15 × 3 mm, piloso, aculeado, sem glândulas.

Material examinado: Esperança, 20.VIII.1956, (EAN 1661); Junco do Seridó, 10.VII.1994, L.P. Félix et al. 6621 (IPA); São João do Cariri, 19.VII.2007, M.V.M. Andrade (EAN 12 296).

Zornia leptophylla é caracterizada principalmente pelo hábito subarbustivo, ereto, ramos intensamente ramificados, os folíolos sempre lineares e com formato uniforme por toda a planta e suas inflorescências laxas. Esta espécie ocorre em ambientes de solos rasos, geralmente arenosos e abertos de formação campestre, também capoeiras abandonadas, em trilhas e na base ou sobre os afloramentos rochosos. No geral, formam populações bem densas.

Na área de estudo, a espécie foi encontrada no domínio fitogeográfico Caatinga, nos municípios de Esperança, Junco do Seridó e São João do Cariri.

5. Zornia myriadena Benth., Mart. Fl. bras. 15 (1): 85. 1859. Fig. 3c-f

Subarbustos 20-30 cm alt.. Ramos decumbentes, glabros, pontuados. Estípulas 1 × 1 mm, ovais a elípticas, ápice agudo, glabras; auriculada, pontuadas. Folhas tetrafolioladas; pecíolo 4-6 mm compr., tomentoso; folíolos 8-12 × 3-5 mm, obovados, ápice obtuso, margem inteira, base aguda, face adaxial e abaxial glabras, pontuadas. Flores solitárias, pedicelo ca. 4-5 mm; bractéolas 4-5 × 1-3 mm, 4-5 nervuras longitudinais, pontuadas, elípticas, ápice agudo. Cálice 3 mm; estandarte 9 × 7 mm; alas 9 × 3 mm, obovadas; pétalas da quilha 10 × 4 mm, falcadas; tubo estaminal ca. 4-8 mm compr.; ovário 7 × 1 mm, estiletes 7-8 mm compr., estigmas punctiformes. Lomentos cilíndricos 6-13 articulados; artículos 8-14 × 1 mm compr., com tricomas estrelados e inermes; glândulas presentes.

Material examinado: Areia, 25.VII.1989, J. Rougan 08 (EAN); Esperança, 19.VIII.2006, L.P. Félix et al. 11185 (EAN); 19.VI.1987, L.P. Félix et al. 1318 (EAN); 27.XII.1986, L.P. Félix et al. 1673 (EAN); Fagundes, 21.VII.2003, G. Trajano et al. 400 (EAN); Lagoa de Pedra, 17.VI.2003, G. Trajano et al. 278 (EAN); Pocinhos, 15.V.2003, L.P. Félix et al. 259 (EAN); 26.VIII.2003, G. Trajano et al. 438 (EAN); 14.07.2003, G. Trajano et al. 310 (EAN); Remígio, 2.V.2007, L.P. Félix 11986 (EAN).

Zornia myriadena é caracterizada principalmente por apresentar folhas tetrafolioladas, flores pediceladas, solitárias e lomento com mais de 6 artículos, artículos sem acúleos e com tricomas estrelados e, na área em estudo, é a única espécie a apresentar flores solitárias.

No Nordeste do Brasil, é encontrada em Caatinga sobre solo arenoso, e comumente, como uma planta colonizadora em áreas degradadas (Queiroz 2009Queiroz LP (2009) Leguminosas da Caatinga. UEFS, Feira de Santana. 467p.; Córdula et al. 2009Córdula E, Queiroz LP & Alves M (2009) Leguminosae. In: Alves M, Araújo MF, Maciel JR & Martins S (orgs.) Flora de Mirandiba. Associação Plantas do Nordeste, Recife. Pp. 183-235.). A espécie constitui um novo registro para a flora da Paraíba, com ocorrência na Caatinga. Na área de estudo, foi registrada nos seguintes municípios: Areia, Esperança, Fagundes, Lagoa de Pedra, Pocinhos e Remígio.

6. Zornia reticulata Sm. in Rees. Cycl. 39: 2. 1819. Fig. 3g

Subarbustos 13-36 cm alt. Ramos decumbentes; glabrescentes, pontuados. Estípulas 5-7 × 1-2 mm, lanceoladas, ápice agudo, 5 nervuras, glabras, auriculadas. Folhas bifolioladas; pecíolo 10-13 mm compr., glabrescente; folíolos 15-53 × 5-8 mm, elípticos a lanceolados, ápice agudo, margem inteira, base assimétrica, face adaxial e abaxial pubescente, pontuadas. Inflorescências espiciformes, axilares, 19-31 cm compr.; bractéolas 9-14 × 3-5 mm, pontuadas, glabras, 3 nervuras longitudinais, largo-lanceoladas a ovadas, ápice agudo, glabras a seríceas, margem ciliada, pontuadas. Cálice 4 mm compr.; estandarte 5-9 × 4-7 mm, largo-ovado; alas 5-8 × 2-3 mm, oblongas; pétalas da quilha 5-9 × 2-3 mm, falcada; tubo estaminal 4-6 mm compr.; ovário 3 × 1 mm estilete 3-6 mm compr., estigma puntiforme. Lomentos 3-6 articulados, artículos 8-11 × 2 mm, aculeados, sem glândulas.

Material examinado: Boa Vista, 8.V.2018, R.T. Queiroz 1571 (JPB).

O trabalho anatômico desenvolvido por Fortuna-Perez (2005)Fortuna-Perez AP (2005) Estudos anatômicos e fenéticos subsidiando a taxonomia no complexo Zornia diphylla (L.) Pers. (Leguminosae, Papilionoideae, Aeschynomeneae). Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 138p. mostrou que Z. latifolia e Z. reticulata, além da ocorrência de cavidades secretoras e idioblastos secretores em ambas as faces da epiderme, compartilham a presença de idioblastos com compostos fenólicos no mesofilo. Porém, morfologicamente, Z. reticulata apresenta-se pouco ramificada, suas inflorescências são congestas e as bractéolas lanceoladas muito próximas umas das outras, o que facilita na identificação da espécie.

Zornia reticulata apresenta ampla distribuição pelo país, estando presente em todos os domínios fitogeográficos, em formações abertas. Ocorre principalmente em regiões de Campos rupestres e Cerrado, podendo ser encontrada também em regiões de borda de matas, Restinga, Caatinga e ambientes perturbados (Fortuna-Perez 2009Fortuna-Perez AP (2009) O gênero Zornia J.F.Gmel (Leguminosae, Papilionoideae, Dalbergieae): Revisão taxonômica das espécies ocorrentes no Brasil e filogenia. Tese de Doutorado. Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 271p.). Na área de estudo foi registrada apenas no município de Boa Vista.

7. Zornia sericea Moric., Pl. Nouv. Am.: 126. 1844. Fig. 3h-i

Subarbustos ca. 20 cm alt. Ramos eretos, seríceos, não pontuados. Estípulas 4-1 × 2 mm, estreitamente-triangulares, 5 nervuras longitudinais, ápice agudo, auriculada, não pontuadas. Folhas bifolioladas; pecíolo 13-20 mm compr., glabro, canaliculado; folíolos 8-28 × 6-18 mm, glabros, ovais a elípticos, ápice agudo, base assimétrica, margem inteira, face adaxial e abaxial seríceos, não pontuados. Inflorescências axilares ou terminais, espiciformes, 0,3-1,3 cm compr.; bractéolas 10 × 4-6 mm, não pontuadas, 5 nervuras longitudinais, ovadas ou largo-ovadas, ápice agudo, seríceas; aurícula aguda, serícea. Lomentos 2-4 articulados, artículos 5-1 ×2 mm, seríceo aculeado, sem glândulas.

Material examinado: Algodão de Jandaíra, 5.VIII.1988, L.P. Félix et al. 1398 (EAN); Areia, 26.06.1986, L.P. Félix et al. 165 (EAN); São João do Cariri, 8.V.1987, L.P. Félix et al. 565 (EAN); Sousa, 10.V.1982, C.A.B. de Miranda 16 (JPB).

Segundo Fortuna-Perez (2009)Fortuna-Perez AP (2009) O gênero Zornia J.F.Gmel (Leguminosae, Papilionoideae, Dalbergieae): Revisão taxonômica das espécies ocorrentes no Brasil e filogenia. Tese de Doutorado. Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 271p., Z. sericea é caracterizada principalmente por apresentar indumento seríceo por toda a planta. A espécie é facilmente reconhecida e distinta das demais espécies estudadas por apresentar bractéolas com formato oval a largo-oval.

No presente estudo reconhecemos o primeiro registro dessa espécie para a Paraíba, ocorrendo em áreas de pastoreio no domínio da Caatinga. Encontrada nas cidades de Algodão de Jandaíra, Areia, São João do Cariri e Sousa.

Agradecimentos

Agradeço aos curadores Maria Regina Barbosa (JPB), Luciana Azevedo (EAN), Rita de Cássia Araújo (IPA) e Maria Elizabeth Bandeira-Pedrosa (PEUFR), a permissão para consulta aos acervos dos mesmos. Agradeço também a Erimágna Rodrigues, a confecção do mapa utilizado neste trabalho.

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Editado por

Editora de área: Dra. Marli Morim

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Nov 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    17 Set 2018
  • Aceito
    03 Jun 2019
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