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Chave interativa de espécies arbóreas em florestas estacionais do sudoeste da Bahia

Interactive key of arboreal species in seasonal forests of Southwest of Bahia

Resumo

As florestas estacionais são as fitofisionomias do bioma Mata Atlântica mais ameaçadas, principalmente, pela pressão do agronegócio e pelo processo de urbanização. Diante desse cenário, o conhecimento de sua estrutura e, principalmente, de sua composição florística, são fundamentais para os processos de conservação e preservação dos recursos naturais. No intuito de auxiliar o processo de identificação de espécies, este trabalho teve como objetivo confeccionar uma chave interativa de espécies arbóreas localizadas em florestas estacionais do sudoeste da Bahia. Na confecção da chave foram excluídas as espécies que apresentaram densidade menor ou igual a um indivíduo por hectare nos respectivos levantamentos. Para elaboração da chave dendrológica foi necessário um levantamento de caracteres morfológicos de folhas e ramos, levando em consideração suas variações, assim como sua presença ou ausência. Os dados obtidos foram lançados na plataforma “on line” do Xper3. A consistência da base de dados foi analisada por meio da ferramenta “checkbase”. Foram utilizadas 177 espécies, sendo 62 da família Leguminosae. A chave está disponível na plataforma do Xper3 com acesso livre, mostrando-se eficiente e de uso simples. A chave contempla espécies frequentes em diversos levantamentos realizados na Bahia e, ainda, pode ser utilizada para florestas estacionais em outros estados.

Palavras-chave:
composição florística; dendrologia; Mata Atlântica; Xper

Abstract

The seasonal forests are phytophysiognomies of the Atlantic Forest biology most threatened, mainly, by the pressure exerted by agribusiness pressure and the process urbanization process. In this scenario, the knowledge of its structure and, mainly, of its floristic composition, are fundamental for the processes of conservation and preservation of natural resources. In order to support the process of species identification, this work had as objective to make an interactive key of tree species located in seasonal forests of the Southwest of Bahia. In the making of the key were excluded the species with less importance and equal to one individual per hectare in the respective surveys. For the preparation of the dendrological key it was necessary a survey of the morphological characteristics of the leaf and the thin branche, taking into account its variations, as well it is presence or default. The data was released on the Xper3 online platform. The consistency of the database was analyzed through the tool “checkbase”. A total of 177 species were used, 62 of the Leguminosae family. The key is available on the Xper3 platform for free access, it is efficient and simple to use. The key contemplates any species in several surveys carried out in Bahia and, can also be used for Seasonal Forests in other States.

Key words:
floristic composition; dendrology; Atlantic Forest; Xper

Introdução

O avanço da antropização sobre áreas nativas, tem gerado uma modificação significativa no uso do solo nas diversas regiões do Brasil. Segundo a SOS Mata Atlântica & INPE (2019)SOS Mata Atlântica & INPE (2019) Atlas dos remanescentes florestais da Mata Atlântica. Relatório técnico - período 2017-2018. Ed. INPE, São Paulo. 68p., a Mata Atlântica na Bahia ocupava apenas 11,1 % da sua área original em 2018. Este cenário também foi destacado por Campanili & Prochnow (2006)Campanili M & Prochnow M (2006) Mata Atlântica: uma rede pela floresta. Ed. RMA, Brasília. 332p., quando afirmaram que no sudoeste da Bahia os ambientes naturais encontravam-se fortemente ameaçados pela expansão do agronegócio e pelo processo de urbanização próximo aos fragmentos vegetacionais.

Neste contexto estão as florestas estacionais, que são caracterizadas como fisionomias florestais que ocorrem em regiões com estações bem definidas, sendo uma seca e outra chuvosa. Estas são subdivididas em Floresta Estacional Decidual, quando apresenta perda superior a 50 % de suas folhas na estação seca e Floresta Estacional Semidecidual, quando a deciduidade das folhas varia de 20 a 50 % (IBGE 2012IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2012) Manual técnico da vegetação brasileira. 2a ed. ED. IBGE, Rio de Janeiro. 271p.).

Diante do exposto, é fundamental o aprofundamento do conhecimento dos recursos naturais existentes. De acordo com Marchiori (2004)Marchiori JNC (2004) Elementos de dendrologia. Ed. UFSM, Santa Maria. 176p., a partir do conhecimento é que surge a importância e a melhor forma de manejar e preservar os recursos existentes. Assim, antes da análise da estrutura, da dinâmica e do futuro manejo, é necessário a identificação das espécies (Ramalho 1978Ramalho RS (1978) Dendrologia: terminologia. Vol. 1. Ed. UFV, Viçosa. 123p.; Marchiori 2004Marchiori JNC (2004) Elementos de dendrologia. Ed. UFSM, Santa Maria. 176p.; Pinheiro & Almeida 2008Pinheiro AL & Almeida EC (2008) Fundamentos de taxonomia e dendrologia tropical: introdução aos estudos dendrológicos. Vol. 1. Ed. UFV, Viçosa - Departamento de Engenharia Florestal e Departamento de Biologia Vegetal. 72p.).

Segundo Roderjan (1983)Roderjan CV (1983) Morfologia do estágio juvenil de 24 espécies arbóreas de uma floresta com araucária. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Paraná, Curitiba. 148p., a identificação de espécies florestais pode ocorrer por três métodos: Botânica Sistemática, Anatomia da Madeira e Dendrologia, ou ainda, pela junção dos três. Pinheiro & Almeida (2008)Pinheiro AL & Almeida EC (2008) Fundamentos de taxonomia e dendrologia tropical: introdução aos estudos dendrológicos. Vol. 1. Ed. UFV, Viçosa - Departamento de Engenharia Florestal e Departamento de Biologia Vegetal. 72p. destacaram que a Botânica Sistemática e a Anatomia da Madeira, apesar de muito precisas, apresentam uma série de limitações, como a obtenção das partes reprodutivas ou utilização de equipamentos sofisticados. Já por meio da Dendrologia consegue-se reconhecer as plantas a nível de espécie, utilizando-se apenas caracteres morfológicos vegetativos, desde que haja um amplo conhecimento botânico. Além disso, esta operação pode ser realizada in loco não dependendo de laboratório ou equipamentos sofisticados (Ramalho 1978Ramalho RS (1978) Dendrologia: terminologia. Vol. 1. Ed. UFV, Viçosa. 123p.; Marchiori 2004Marchiori JNC (2004) Elementos de dendrologia. Ed. UFSM, Santa Maria. 176p.; Pinheiro & Almeida 2008Pinheiro AL & Almeida EC (2008) Fundamentos de taxonomia e dendrologia tropical: introdução aos estudos dendrológicos. Vol. 1. Ed. UFV, Viçosa - Departamento de Engenharia Florestal e Departamento de Biologia Vegetal. 72p.).

Uma ferramenta que pode ser utilizada para facilitar o reconhecimento das espécies vegetais é a chave de identificação, que apresenta uma série de passos a serem seguidos baseados em caracteres morfológicos (Judd et al. 2009Judd WS, Campbell CS, Kellogg EA, Stevens PF & Donoghue MJ (2009) Sistemática vegetal: um enfoque filogenético. 3a ed. Ed. Armed, Porto Alegre. 632 p.). As chaves de identificação podem ser dicotômicas ou interativas, podendo estas, serem compostas por caracteres morfológicos reprodutivos, anatômicos ou dendrológicos, ou ainda, a junção destes. A chave interativa é um programa computacional no qual o usuário entra com os caracteres e os estados de caracteres das espécies. O programa elimina táxons cujos atributos não coincidem com os apresentados pela amostra, e o processo é continuado até que apenas um táxon permaneça (Bittrich et al. 2012Bittrich V, Souza CSD, Coelho RLG, Martins MV, Hopkins MJG & Amaral MCE (2012) An interactive key (Lucid) for the identifying of the genera of seed plants from the Ducke Reserve, Manaus, AM, Brazil. Rodriguésia 63: 055-064. DOI: 10.1590/S2175-78602012000100005
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; Santo et al. 2013Santo FSE, Siqueira AA & Rapini A (2013) Chave interativa para a identificação das espécies da Aliança Tabebuia (Bignoniaceae) no estado da Bahia, Brasil. Biota Neotropica 13: 344-349. DOI: 10.1590/S1676-06032013000300034
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; Chrétiennot-Dinet et al. 2014Chrétiennot-Dinet M, Desreumaux N & Vignes-Lebbe R (2014) An interactive key to the Chrysochromulina species (Haptophyta) described in the literature. PhytoKeys 34: 47-60. DOI: 10.3897/phytokeys.34.6242
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).

Santo et al. (2013)Santo FSE, Siqueira AA & Rapini A (2013) Chave interativa para a identificação das espécies da Aliança Tabebuia (Bignoniaceae) no estado da Bahia, Brasil. Biota Neotropica 13: 344-349. DOI: 10.1590/S1676-06032013000300034
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elencaram vantagens apresentadas pelas chaves interativas, quando comparadas com as dicotômicas, como por exemplo, o uso irrestrito e livre escolha de caracteres, sendo que qualquer caractere pode ser usado e em qualquer ordem. Outro ponto relevante é a eliminação e mudança de caracteres. Também, durante o processo de produção da chave, pode-se alterar e/ou eliminar caracteres que não se encaixem devidamente às amostras que serão identificadas (Saueressig et al. 2009Saueressig D, Saueressing A & Inoue MT (2009) SIDOL - Sistema de identificação dendrológica on-lin. Ambiência - revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais 5: 117-133.; Bittrich et al. 2012Bittrich V, Souza CSD, Coelho RLG, Martins MV, Hopkins MJG & Amaral MCE (2012) An interactive key (Lucid) for the identifying of the genera of seed plants from the Ducke Reserve, Manaus, AM, Brazil. Rodriguésia 63: 055-064. DOI: 10.1590/S2175-78602012000100005
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; Chrétiennot-Dinet et al. 2014Chrétiennot-Dinet M, Desreumaux N & Vignes-Lebbe R (2014) An interactive key to the Chrysochromulina species (Haptophyta) described in the literature. PhytoKeys 34: 47-60. DOI: 10.3897/phytokeys.34.6242
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; Carmo & Simões 2017Carmo JAM & Simões AO (2017) Rubiaceae no município de Camanducaia, Serra da Mantiqueira, Minas Gerais: sinopse e chave interativa. Rodriguésia 68: 1411-1429. DOI: 10.1590/2175-7860201768421
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).

A maioria dos trabalhos sobre chaves interativas para identificação de espécies vegetais, em sua imensa maioria, utilizaram caracteres reprodutivos (Bittrich et al. 2012Bittrich V, Souza CSD, Coelho RLG, Martins MV, Hopkins MJG & Amaral MCE (2012) An interactive key (Lucid) for the identifying of the genera of seed plants from the Ducke Reserve, Manaus, AM, Brazil. Rodriguésia 63: 055-064. DOI: 10.1590/S2175-78602012000100005
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; Santo et al. 2013Santo FSE, Siqueira AA & Rapini A (2013) Chave interativa para a identificação das espécies da Aliança Tabebuia (Bignoniaceae) no estado da Bahia, Brasil. Biota Neotropica 13: 344-349. DOI: 10.1590/S1676-06032013000300034
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; Chrétiennot-Dinet et al. 2014Chrétiennot-Dinet M, Desreumaux N & Vignes-Lebbe R (2014) An interactive key to the Chrysochromulina species (Haptophyta) described in the literature. PhytoKeys 34: 47-60. DOI: 10.3897/phytokeys.34.6242
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; Carmo & Simões 2017Carmo JAM & Simões AO (2017) Rubiaceae no município de Camanducaia, Serra da Mantiqueira, Minas Gerais: sinopse e chave interativa. Rodriguésia 68: 1411-1429. DOI: 10.1590/2175-7860201768421
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). Porém, vale destacar os trabalhos de Saueressig et al. (2009)Saueressig D, Saueressing A & Inoue MT (2009) SIDOL - Sistema de identificação dendrológica on-lin. Ambiência - revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais 5: 117-133. e Eltink et al. (2011)Eltink M, Ramos E, Torres RB, Tamashiro JY, Galembeck E & Kimura E (2011) Chave de identificação de espécies do estrato arbóreo da Mata Atlântica em Ubatuba (SP), com base em caracteres vegetativos. Biota Neotropica 11: 393-405. DOI: 10.1590/S1676-06032011000200037
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que desenvolveram chaves interativas utilizando apenas caracteres vegetativos para Floresta Ombrófila nos municípios de Irati (PR) e Ubatuba (SP), respectivamente.

Este tipo de estudo deve ter, prioritariamente, uma abrangência regional, já que utiliza caracteres vegetativos e estes órgãos apresentam variação em função do ambiente (plasticidade ecológica), promovendo assim, uma menor precisão na identificação, gerando uma necessidade de regionalizar os estudos na área (Bradshaw 1965Bradshaw AD (1965) Evolutionary significance of phenotypic plasticity in plants. Advances in Genetics 13: 115-155. DOI: 10.1016/S0065-2660(08)60048-6
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).

Diante do exposto, este trabalho objetivou analisar as características vegetativas para montar uma chave interativa com espécies arbóreas encontradas em Florestas Estacionais do Sudoeste da Bahia.

Material e Métodos

As espécies utilizadas neste trabalho foram selecionadas dentre as amostradas nos levantamentos realizados pelo laboratório de Ecologia e Proteção Florestal da UESB em Florestas Estacionais da Bahia e o trabalho de Soares Filho (2012)Soares Filho AO (2012) Fitogeografia e estrutura das florestas estacionais deciduais no Brasil. Tese de Doutorado. Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana. 346p., que estudou, dentre outras, a fitogeografia e estrutura das florestas estacionais deciduais da região.

Foi gerada uma lista das espécies arbóreas de acordo com o sistema de classificação APG IV (2016)APG IV - Angiosperm Phylogeny Group (2016) Angiosperm Phylogeny Website. Disponível em <http://www.mobot.org/MOBOT/research/APweb/>. Acesso em 30 julho 2018.
http://www.mobot.org/MOBOT/research/APwe...
. Retiraram-se os sinônimos e nomes desatualizados, segundo BFG (2018)BFG - The Brazil Flora Group (2018) Brazilian Flora 2020: innovation and collaboration to meet Target 1 of the Global Strategy for Plant Conservation (GSPC). Rodriguésia 69: 1513-1527. e por meio do site The International Plant Names Index (<https://www.ipni.org>). A partir dessa lista foram excluídas as espécies que apareceram somente em um levantamento e aquelas que se apresentavam como raras, ou seja, com densidade menor ou igual a um indivíduo por hectare (Tab. 1).

Tabela 1
Espécies, organizadas por família, listadas nos levantamentos das florestas estacionais da Bahia, raras ou presente em apenas um levantamento.
Table 1
Species, organized by family, listed in surveys of the Bahia seasonal forests, rare or present in only one survey.

Os caracteres utilizados foram: folha (tipo, filotaxia, característica do pecíolo, presença e tipo de estípula, forma do limbo, ápice do limbo, margem do limbo, base do limbo, nervação, consistência, cor, característica da raque, pubescência, odor, presença glândulas), ramo (morfologia e coloração) e presença ou ausência de outros caracteres (látex e outras exsudações, embira, lenticelas, espinhos ou acúleos).

Na chave os descritores corresponderam aos caracteres nos quais cada espécie foi classificada, existindo caracteres dependentes, que somente podem ser a utilizados mediante a confirmação de outro caractere, por exemplo: “formato da raque” depende do caractere “composição do limbo”. Já os estados do caractere, representaram as possibilidades do caractere (“simples” e “composto” são estados do caractere “limbo foliar”).

A análise destes caracteres ocorreu perante amostras das espécies herborizadas (exsicatas) disponíveis no Laboratório de Ecologia e Proteção Florestal, no Herbário da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (HUESBVC) e do Herbário da Universidade Estadual de Feira de Santana (HUEFS). No caso de caracteres odor e coloração do limbo, a análise teve como critério classificar as espécies conforme observado nas próprias exsicatas. Para a presença de exsudatos (látex ou outros), foram procuradas pistas da ocorrência destes por meio de sinais, como o enrugamento dos tecidos no pecíolo e ramos mais jovens.

Na plataforma do Xper3 foram inseridas todas as espécies selecionadas na aba “items” (Fig. 1). Em seguida foram adicionados os caracteres na aba “descriptive model” (Fig. 2). Por fim, na aba “Description” (Fig. 3), foram associadas às espécies os caracteres utilizados para descrição.

Figura 1
Tela de entrada de dados na plataforma do Xper3 na aba de inserção de itens (táxons).
Figure 1
Data entry screen on the Xper3 platform in the tab item insertion (taxa).

Figura 2
Tela de entrada de dados na plataforma do Xper3 na aba de inserção de dados dos descritores e estados.
Figure 2
Data entry screen on the Xper3 platform in the tab insertion of descriptors and states.

Figura 3
Tela de entrada de dados na plataforma do Xper3 na aba de associação de itens aos descritores.
Figure 3
Data entry screen on the Xper3 platform in the tab of the association of items to the descriptors.

As figuras esquemáticas utilizadas para ilustrar os caracteres foram geradas por meio do software CorelDraw X6 para cada caractere e para cada estado de caractere. Já as figuras utilizadas para ilustrar as espécies na chave interativa dentro da plataforma foram obtidas no herbário virtual do speciesLink (<http://inct.splink.org.br>). Os conceitos morfológicos dos termos utilizados na chave foram retirados de Gonçalves & Lorenzi (2007)Gonçalves EG & Lorenzi H (2007) Morfologia vegetal: organografia e dicionário ilustrado de morfologia de plantas vasculares. Ed. Instituto Plantarum de Estudos da Flora, São Paulo. 512p. e Font Quer (2001)Font Quer P (2001) Diccionario de batánica. Ed. Labor, Barcelona. 1280p..

A consistência da base de dados foi analisada por meio da ferramenta “checkbase” verificando se espécies diferentes apresentavam os mesmos passos. Erros relacionados com espécie sem caráter preenchido ou caráter inserido de forma equivocada, também foram verificadas por meio da ferramenta “checkbase”.

Resultados e Discussão

No total, 176 espécies arbóreas foram incluídas na chave interativa (Tab. 2). Para permitir a distinção das espécies, foram selecionados 68 descritores (Tab. 3), sendo 66 dependentes e 250 estados de caractere.

Tabela 2
Espécies organizadas por família utilizadas para construir a chave interativa.
Table 2
Species organized by the family to construct an interactive key.
Tabela 3
Caracteres e estados de caracteres utilizados na chave de identificação.
Table 3
Characters and character states used in the identification key

A família com maior riqueza foi Leguminosae (Fabaceae) com 62 espécies (Caesalpinoideae com 37 e Papilinoideae com 25 espécies), correspondendo 35 % de todas as espécies da chave. Leguminosa e também foi a família mais rica nos trabalhos de Funch et al. (2008)Funch LS, Rodal MJN & Funch RR (2008) Floristic aspects of the forests of the Chapada Diamantina, Bahia, Brazil. In: Thomas W & Briton EG (org.) The Atlantic Coastal Forest of Northeastern Brazil. Memoirs of the New York Botanical Garden Press 100: 193-220., Cardoso et al. (2009)Cardoso DBOS, França F, Novais JS, Ferreira MHS, Santos RM, Carneiro VMS & Gonçalves JM (2009) Composição florística e análise fitogeográfica de uma floresta semidecídua na Bahia, Brasil. Rodriguésia 60: 1055-1076. DOI: 10.1590/2175-7860200960416
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, Couto et al. (2011)Couto APL, Funch LS & Conceição AA (2011) Composição florística e fisionomia de floresta estacional semidecídua submontana na Chapada Diamantina, Bahia, Brasil. Rodriguésia 61: 391-405. DOI: 10.1590/2175-7860201162213
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e Alves et al. (2015)Alves M, Oliveira RB, Teixeira RS, Guedes LMS & Roque N (2015) Levantamento florístico de um remanescente de Mata Atlântica no litoral norte do estado da Bahia, Brasil. Hoehnea 42: 581-595. DOI: 10.1590/2236-8906-06/2015
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. As famílias Malvaceae e Rubiaceae apresentaram nove espécies cada, Euphorbiaceae (oito), Anacardiaceae (sete), Rutaceae e Boraginaceae (seis), o gênero mais frequente foi Machaerium (Leguminosae) com 11 espécies.

A base de dados “Árvores das Florestas Estacionais da Bahia” foi armazenada online na plataforma do Xper3, permitindo a utilização de forma livre e está disponível em (<http://www.xper3.fr/xper3GeneratedFiles/publish/identification/337734661618352647/mkey.html>).

Na plataforma, o “layout” permite visualizar os caracteres e os seus estados do lado esquerdo, enquanto a lista de espécies aparece do lado direito (Fig. 4) conforme a seleção de caracteres. Os estados apresentaram coloração que vai do verde ao branco, quanto maior a intensidade da cor verde, menor quantidade de espécies que apresentam aquele caractere. Assim, à medida que se seleciona os estados dos caracteres, vão sendo eliminados as espécies que não apresentaram caracteres escolhidos durante o processo de identificação, até restar apenas uma espécie (táxon identificado perante as escolhas).

Figura 4
Tela da área de identificação, mostrando os atributos com as images ilustrativas, e na lateral direita, a lista de espécies.
Figure 4
Screen of the identification place, showing the attributes with illustrative images, and on the lateral side, the list of species.

Desta forma, por ser uma chave interativa de identificação, se torna também intuitiva a sua utilização. Este tipo de ferramenta pode ser utilizado tanto na pesquisa científica, quanto como ferramenta de ensino nas aulas de morfologia, taxonomia vegetal e dendrologia. Também, pode se tornar uma ferramenta para identificação de espécies para licenciamentos e outras áreas que dependem diretamente da determinação dos táxons vegetais.

A chave pode apresentar erro caso a espécie a ser identificada apresente-se morfologicamente muito diferente das analisadas. Isto pode ocorrer com algumas espécies por se apresentarem em localidade com condições edafoclimáticas e de sítios diferentes. Além disso, espécies de ampla ocorrência, apresentam geralmente grande variação morfológica, dificultando sua identificação. No entanto, a chave de múltiplas entradas (interativa) permite incluir vários estados de caráter ao mesmo tempo diminuindo assim, erros de identificação.

A maioria das espécies apresentadas nos estudos de Funch et al. (2008)Funch LS, Rodal MJN & Funch RR (2008) Floristic aspects of the forests of the Chapada Diamantina, Bahia, Brazil. In: Thomas W & Briton EG (org.) The Atlantic Coastal Forest of Northeastern Brazil. Memoirs of the New York Botanical Garden Press 100: 193-220. e Couto et al. (2011)Couto APL, Funch LS & Conceição AA (2011) Composição florística e fisionomia de floresta estacional semidecídua submontana na Chapada Diamantina, Bahia, Brasil. Rodriguésia 61: 391-405. DOI: 10.1590/2175-7860201162213
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para as Florestas Estacionais da Bahia, se encontram nesta chave. Além disso, devido à similaridade florística entre as Florestas Estacionais, esta chave pode ser aplicada na identificação de espécies de Floresta Estacionais de outros estados (Bittrich et al. 2012Bittrich V, Souza CSD, Coelho RLG, Martins MV, Hopkins MJG & Amaral MCE (2012) An interactive key (Lucid) for the identifying of the genera of seed plants from the Ducke Reserve, Manaus, AM, Brazil. Rodriguésia 63: 055-064. DOI: 10.1590/S2175-78602012000100005
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; Chrétiennot-Dinet et al. 2014Chrétiennot-Dinet M, Desreumaux N & Vignes-Lebbe R (2014) An interactive key to the Chrysochromulina species (Haptophyta) described in the literature. PhytoKeys 34: 47-60. DOI: 10.3897/phytokeys.34.6242
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; Couto et al. 2011Couto APL, Funch LS & Conceição AA (2011) Composição florística e fisionomia de floresta estacional semidecídua submontana na Chapada Diamantina, Bahia, Brasil. Rodriguésia 61: 391-405. DOI: 10.1590/2175-7860201162213
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).

Agradecimentos

Os autores agradecem à Fapesb - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia, a bolsa de Iniciação científica (2016-2017) concedida ao primeiro autor; ao Herbário da Universidade Estadual de Feira de Santana, em especial ao curador Luciano Paganucci de Queiroz; e aos revisores deste trabalho, ao serem tão cuidadosos e preocupados com a qualidade do trabalho.

Referências

  • APG IV - Angiosperm Phylogeny Group (2016) Angiosperm Phylogeny Website. Disponível em <http://www.mobot.org/MOBOT/research/APweb/>. Acesso em 30 julho 2018.
    » http://www.mobot.org/MOBOT/research/APweb/
  • Alves M, Oliveira RB, Teixeira RS, Guedes LMS & Roque N (2015) Levantamento florístico de um remanescente de Mata Atlântica no litoral norte do estado da Bahia, Brasil. Hoehnea 42: 581-595. DOI: 10.1590/2236-8906-06/2015
    » https://doi.org/10.1590/2236-8906-06/2015
  • Bittrich V, Souza CSD, Coelho RLG, Martins MV, Hopkins MJG & Amaral MCE (2012) An interactive key (Lucid) for the identifying of the genera of seed plants from the Ducke Reserve, Manaus, AM, Brazil. Rodriguésia 63: 055-064. DOI: 10.1590/S2175-78602012000100005
    » https://doi.org/10.1590/S2175-78602012000100005
  • BFG - The Brazil Flora Group (2018) Brazilian Flora 2020: innovation and collaboration to meet Target 1 of the Global Strategy for Plant Conservation (GSPC). Rodriguésia 69: 1513-1527.
  • Bradshaw AD (1965) Evolutionary significance of phenotypic plasticity in plants. Advances in Genetics 13: 115-155. DOI: 10.1016/S0065-2660(08)60048-6
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Editado por

Editor de área: Dr. João Iganci

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Nov 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    11 Out 2018
  • Aceito
    04 Set 2019
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