Acessibilidade / Reportar erro

Flora das cangas da Serra dos Carajás, Pará, Brasil: Primulaceae

Flora of the cangas of Serra dos Carajás, Pará, Brazil: Primulaceae

Resumo

Este estudo apresenta as espécies de Primulaceae registradas para as áreas de canga da Serra dos Carajás, estado do Pará, incluindo descrição morfológica, comentários e ilustrações. São registrados dois gêneros e seis espécies para a área de estudo: Clavija lancifolia subsp. chermontiana, C. macrophylla, Cybianthus amplus, C. detergens, C. penduliflorus e Cybianthus sp. 1.

Palavras-chave:
Myrsinaceae; Theophrastaceae; FLONA Carajás; flora; taxonomia

Abstract

This study presents the species of Primulaceae recorded for the cangas of Serra dos Carajás, Pará state, including morphological descriptions, comments and illustrations. Six species representing two genera were recorded in the study area: Clavija lancifolia subsp. chermontiana, C. macrophylla, Cybianthus amplus, C. detergens, C. penduliflorus e Cybianthus sp. 1.

Key words:
Myrsinaceae; Theophrastaceae; FLONA Carajás; flora; taxonomy

Primulaceae

Primulaceae apresenta distribuição pantropical, com aproximadamente 2.500 espécies e 58 gêneros (Stevens 2001Stevens PF [2001 em diante]. Angiosperm Phylogeny Website. Version 12, July 2012. Disponível em <http://www.mobot.org/MOBOT/research/APweb/>. Acesso em 18 janeiro 2017.
http://www.mobot.org/MOBOT/research/APwe...
em diante) agrupados em quatro subfamílias: Maesoideae, Myrsinoideae, Primuloideae e Theophrastoideae (APG IV). Destas, duas ocorrem na Flora do Brasil, Myrsinoideae e Theophrastoideae, com 12 gêneros e cerca de 140 espécies (Freitas et al. 2017Freitas MF, Carrijo TT & Luna BN (2017) Sinopse dos gêneros de Primulaceae no Brasil. Rodriguésia 68: 129-142.). Na Serra de Carajás são encontrados os gêneros Clavija Ruiz & Pav. e Cybianthus L. com duas e quatro espécies, respectivamente. As espécies encontradas na cangas da Serra de Carajás caracterizam-se por serem arbusto a arvoretas, bissexuais ou unissexuais, com folhas simples, alternas, não estipuladas. Apresentam inflorescências racemosas, flores pediceladas, bractéola única, cálice livre ou fusionado na base e corola gamopétala. O androceu é tipicamente epipétalo, isostêmone, com estames livres entre si ou unidos em um tubo; estaminódios também epipétalos, quando petaloides, alternipétalos. Gineceu súpero, unilocular, com placentação central livre. Frutos drupoides com uma a várias sementes.

    Chave de identificação dos gêneros de Primulaceae da Serra de Carajás
  • 1. Plantas sem cavidades secretoras; flores com estaminódios petaloides alternipétalos, estames unidos em tubo ou livres entre si; frutos polispérmicos ..................................................................... 1. Clavija

  • 1'. Plantas com cavidades secretoras; flores sem estaminódios petaloides, estames livres entre si; frutos monospérmicos ................................................................................................................. 2. Cybianthus

1. Clavija Ruiz & Pav.

Clavija pertence à subfamília Theophrastoideae e apresenta 50 espécies distribuídas da Nicarágua ao sul do Brasil (Freitas et al. 2017Freitas MF, Carrijo TT & Luna BN (2017) Sinopse dos gêneros de Primulaceae no Brasil. Rodriguésia 68: 129-142.). O gênero é constituído de plantas lenhosas, arbustivas, com amplas folhas oblanceoladas a elípticas, coriáceas, geralmente longo pecioladas, margem geralmente serreada. Flores com perianto ovoide, sépalas esverdeadas e pétalas amarelas a alaranjadas, sem cavidades secretoras. Estames unidos em tubo, epipétalos e presença de estaminódios petaloides alternipétalos. Os frutos são polispérmicos, globoides, com pericarpo fino e polpa amarela a laranja. No Brasil ocorrem 10 espécies, com maior diversidade no Cerrado e na Amazônia (BFG 2015BFG - The Brazil Flora Group (2015) Growing knowledge: an overview of seed plant diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1085-1113.). Na Serra de Carajás, o gênero está representado por duas espécies.

    Chave para identificação das espécies de Clavija da Serra de Carajás
  • 1. Folhas com margem inteira ou levemente serreada, pecíolo 2-5 cm compr.; inflorescências 6-13 cm compr. ................................................................................ 1.1. Clavija lancifolia subsp. chermontiana

  • 1'. Folhas com margem serreada, pecíolo 1,5-2 cm compr.; inflorescências 2-3 cm compr. ............................................................................................................................................... 1.2. Clavija macrophylla

1.1. Clavija lancifolia subsp. chermontiana (Standl.) B.Ståhl, Opera Botanica 107: 56. 1991. Fig. 1a-b

Figura 1
a-b. Clavija lancifolia subsp. chermontiana - a. ramo com flores; b. flor estaminada. c. Clavija macrophylla - ramo com frutos. d. Cybianthus amplus - ramo com frutos. e-h. Cybianthus detergens - e. ramo com frutos; f. flor pistilada; g. pétala da flor estaminada; h. botão de flor estaminada. i-j. Cybianthus penduliflorus - i. ramo com frutos; j. fruto. (a-b. Gontijo 214; c. Nascimento et al. 1106; d. Maciel et al. 789; e. Nascimento & Bahia 1174; f. Berg 575; g-h. Mota 3419; i-j. Nascimento et al. 1140)
Figure 1
a-b. Clavija lancifolia subsp. chermontiana - a. branch with flowers; b. staminate flower. c. Clavija macrophylla - branch with fruits. d. Cybianthus amplus - branch with fruits. e-h. Cybianthus detergens - e. branch with fruits; f. pistilate flower; g. petal of staminate flower; h. flower bud. i-j. Cybianthus penduliflorus - i. branch with fruits; j. fruit. (a-b. Gontijo 214; c. Nascimento et al. 1106; d. Maciel et al. 789; e. Nascimento & Bahia 1174; f. Berg 575; g-h. Mota 3419; i-j. Nascimento et al. 1140)

Arbustos 0,7-3 m alt., ramos terminais 4-5 mm diâm., glabros. Folhas coriáceas, oblanceoladas, elípticas ou obovadas, glabras, ápice agudo a acuminado, base atenuada, margem inteira ou levemente serreada; pecíolo 2-5 cm compr., canaliculado, nervura principal proeminente na face abaxial e imersa na face adaxial; limbo 14,5-46 × 4-15 cm; nervuras secundárias evidentes em ambas as faces, 1-1,5 cm distantes entre si; face abaxial estriada. Inflorescências 6-13 cm compr., raque 0,5-1 mm diâm.; pedicelos 2-3 mm compr. Bractéola 1 mm compr., triangular. Flores pentâmeras; estaminadas; pedicelo 2 mm compr. Cálice esverdeado, cupuliforme, 2-3 mm compr., sépalas imbricadas, bordo ciliado. Corola amarela, 5 mm compr., tubo 1,5 mm compr., lacínios 3 mm compr.; estaminódios petalóides presentes. Estames unidos em um tubo, 2 mm compr., anteras rimosas, igual ao número de pétalas. Flores bissexuais e pistiladas não vistas. Frutos globoides, ca. 3 cm diâm.; pedicelos 6-7 mm compr.; pericarpo 0,3-0,5 mm; sementes globoides.

Material selecionado: Canaã dos Carajás, Serra Sul, S11A, 6°19'51,29"S, 50°27'48,36"W, 15.II.2010, fr., F.D. Gontijo 70 (BHCB); S11D, 6°29'59,42"S, 50°22'27,04"W, 30.IV.2010, fl., F.D. Gontijo 214 (BHCB). Parauapebas, Serra Norte, N4, Nova Usina, 6°3'0"S, 50°9'22"W, 26.IV.2009, bt., V.T. Giorni et al. 251 (BHCB). Parauapebas, Serra Sul, 6º24'32"S, 50º22'46"W, 3.VII.2010, fr., A.J. Arruda et al. 338 (BHCB).

Clavija lancifolia apresenta duas subespécies: C. lancifolia subsp. lancifolia e C. lancifolia subsp. chermontiana (Stahl 1991Stahl B (1991) A revision of Clavija (Theophrastaceae). Opera Botanica 107: 1-77.), dentre as quais C. lancifolia subsp. chermontiana é citada para a flora do Brasil (BFG 2015BFG - The Brazil Flora Group (2015) Growing knowledge: an overview of seed plant diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1085-1113.). Diferem-se principalmente pela forma da folha oblanceolada e base estreitamente atenuada na subespécie típica, enquanto na subespécie encontrada na Serra de Carajás apresenta a folha obovada a elíptica, com base aguda (Stahl 1991Stahl B (1991) A revision of Clavija (Theophrastaceae). Opera Botanica 107: 1-77.). É popularmente conhecida como "marapuama" e utilizada para o tratamento contra impotência e reumatismo (Freitas & Fernandes 2006Freitas JC & Fernandes MEB (2006) Uso de plantas medicinais pela comunidade de Enfarrusca, Bragança, Pará. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi 1: 11-26.). Ocorre em Florestas Amazônicas de terra firme (Stahl 1991Stahl B (1991) A revision of Clavija (Theophrastaceae). Opera Botanica 107: 1-77.) e no Brasil, distribui-se nas regiões Norte (AC, AM, PA, RO, RR) e Centro-Oeste (MT) (BFG 2015BFG - The Brazil Flora Group (2015) Growing knowledge: an overview of seed plant diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1085-1113.). Em Carajás foi coletada na Serra Sul: S11A, S11C, S11D, e na Serra Norte: N4, em áreas de floresta ombrófila, ocasionalmente associadas às cangas.

1.2. Clavija macrophylla (Link ex Roem. & Schult.) Miq., Fl. bras. 10: 275. 1856. Fig. 1c

Arbustos 2 m alt.; ramos terminais 5 mm diâm., glabros. Folhas coriáceas, oblanceoladas ou obovadas, glabras, ápice agudo, base atenuada, margem serreada com cerca de 15 dentes por margem, glabra; pecíolo 1,5-2 cm compr., não canaliculado, nervura principal proeminente na face abaxial; limbo 20-24,5 × 6,5-9,5 cm; nervura secundária evidente em ambas as faces, 1-2 cm distantes entre si. Inflorescências 2-3 cm compr., raque 1,5-2 mm larg.; pedicelos 2-3 mm compr. Flores não vistas. Frutos globoides, ca. 2 cm diâm.; pedicelos 5-9 mm compr.; pericarpo 0,3-0,4 mm; semente globosa.

Material selecionado: Parauapebas, Serra Norte, N4, Nova Usina, 6°1'58"S, 50°9'24"W, 25.IV.2009, fr., V.T. Giorni et al. 226 (BHCB); estrada para Itacaiunas, 01.II.1985, fr., O.C. Nascimento & R.P. Bahia 1106 (MG); 3 km southeast of AMZA, 5°48'S, 50°32'W, 13.VI.1982, fr., C.R. Sperling et al. 6150 (MG).

Clavija macrophylla ocorre no sul da Guiana (Stahl 1991Stahl B (1991) A revision of Clavija (Theophrastaceae). Opera Botanica 107: 1-77.) e Norte do Brasil: Amazonas, Amapá e Pará (BFG 2015BFG - The Brazil Flora Group (2015) Growing knowledge: an overview of seed plant diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1085-1113.). Na Serra de Carajás foi registrada em subosque de Floresta ombrófila aberta, com um registro para a Serra Norte: N4.

2. Cybianthus Mart.

Cybianthus pertence à subfamília Myrsinoideae e é um gênero neotropical, com 66 espécies no Brasil (BFG 2015). Apresenta maior diversidade de espécies na floresta amazônica, ainda bastante desconhecida (Freitas et al. 2017Freitas MF, Carrijo TT & Luna BN (2017) Sinopse dos gêneros de Primulaceae no Brasil. Rodriguésia 68: 129-142.). Caracteriza-se por plantas dioicas com folhas densamente pontuadas por tricomas escamosos, inflorescências laterais a axilares, alvas, esverdeadas ou de coloração rósea. As flores são pequenas, geralmente com pétalas patentes, tetrâmeras ou pentâmeras, com estame epipétalo geralmente no centro do lacínio; anteras rimosas a poricidas, introrsas. Na Serra dos Carajás as espécies encontradas apresentam flores tetrâmeras e dispostas em racemos. Os frutos são drupáceos, com uma única semente. Na Serra dos Carajás foram encontradas quatro espécies.

    Chave de identificação das espécies de Cybianthus da Serra dos Carajás
  • 1. Inflorescência menor ou igual a 2 cm compr.
    • 2. Eixo da inflorescência 1,6 mm diâm., com tricomas tectores ramificados; pedicelo do fruto 0,5-0,6 mm compr. .................................................................................................... 2.4. Cybianthus sp. 1

    • 2'. Eixo da inflorescência 0,5 mm diâm., com tricomas escamosos; pedicelo do fruto 1,5-2 mm compr......................................................................................................... 2.1. Cybianthus amplus

  • 1'. Inflorescência maior que 2 cm compr.
    • 3. Folha elíptica, 10-15 cm compr., pecíolo não canaliculado; pedicelo do fruto 1 mm ................................................................................................................................... 2.2. Cybianthus detergens

    • 3'. Folha oblanceolada, 15-28(30) cm compr., pecíolo canaliculado; pedicelo do fruto 1,5-2 mm compr.................................................................................................2.3. Cybianthus penduliflorus

2.1. Cybianthus amplus (Mez) G.Agostini, Acta Biol. Venez. 10(2): 151. 1980. Fig. 1d

Arvoreta 4 m alt.; ramos terminais 1,5-2 mm diâm., glabros. Folhas cartáceas, elípticas, ápice cuspidado a acuminado, base aguda a atenuada; pecíolo 0,8-2 cm compr., canaliculados, com tricomas escamosos; nervura principal proeminente na face abaxial e imersa na face adaxial; limbo 10-14 cm compr., totalmente coberto por tricomas escamosos na face abaxial e esparso na face adaxial, densos em folhas jovens; cavidades secretoras internas não visíveis; nervuras secundárias pouco evidentes em ambas as faces, retas, 0,2-0,5 cm distantes entre si; margem inteira, levemente revoluta. Inflorescência 1-2 cm compr., eixo denso em tricomas escamosos, ferrugíneos, 0,5 mm diâm.; bractéolas triangulares, ciliadas, 0,5 mm compr. Flores não vistas. Frutos imaturos ca. 4-5 mm diâm., pedicelos 1,5-2 mm compr., com tricomas escamosos, cálice tetrâmero, persistente, lacínios 1 mm compr., triangulares, cobertos por tricomas, que são adensados em cavidades secretoras globosas.

Material selecionado: Parauapebas [Marabá], Serra Norte, estrada do N-1, 29 km do acampamento, 7.VIII.1982, fr., U.N. Maciel et al. 789 (MG).

Cybianthus amplus tem como principal característica suas amplas folhas elípticas com o ápice acuminado. Ocorre na floresta amazônica e em formações florestais nas restingas da Bahia ao Espírito Santo, sendo que também são encontrados alguns registros no Cerrado (BFG 2015BFG - The Brazil Flora Group (2015) Growing knowledge: an overview of seed plant diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1085-1113.). Na Serra dos Carajás há registro de apenas um espécime, em fruto, na Serra Norte: estrada do N1, em área de floresta.

2.2. Cybianthus detergens Mart., Flora 24(2, Beibl. 2): 19-20. 1841. Fig. 1e-h

Arbusto a arvoreta, ca. 1-5 m alt., ramos terminais 2,2-3,5 mm diâm., com tricomas escamosos e ferrugíneos ao longo dos ramos. Folhas cartáceas a coriáceas, elípticas, ápice agudo e base aguda a acuminada; pecíolo 1-2 cm compr., não canaliculado, piloso; limbo (10-)13-15(-16) × 3,5-4,5(-5) cm, face abaxial com tricomas escamosos ao longo da nervura principal e secundárias, esparsos no limbo; cavidades secretoras internas não visíveis; nervuras secundárias visíveis na face abaxial, curvas, (0,5-)0,7-1 cm distantes entre si; margem inteira, não revoluta. Inflorescências laterais, 2,5-4,5 cm compr., eixo tomentoso, com tricomas escamosos; bractéolas lineares, margem ciliada, 0,1 cm compr. Flores tetrâmeras; sépalas e pétalas imbricadas, com cavidades secretoras globosas e margem ciliada; flor estaminada com pedicelo 1,5-2 mm compr., em racemos de 1-3 cm compr., bractéola linear, ciliada, menor que o pedicelo, estame 0,5 mm compr., filete maior que a antera, poricida; flor pistilada com pedicelo 0,5-1 mm compr., em racemos de 4-7 cm compr., bractéola linear, ciliada, maior que o pedicelo, estaminódio obsoleto, pistilo cônico, capitado, 1,5 mm compr. Fruto ca. 6 mm diâm., depresso-globoide, pedicelos 1 mm compr.; bractéolas persistentes; eixo da inflorescência espessado, 0,8-1 mm diâm.

Material selecionado: Canaã dos Carajás, Serra Sul, S11-C, mata baixa, 700 m.s.m., 25.V.2010, bt., L.V. Costa et al. 919 (BHCB); S11-D, 6°23'51"S, 50º20'25"W, 753 m.s.m., 10.X.2008, fl. ♂, L.V.C. Silva et al. 698 (BHCB, MG). Parauapebas, Serra Norte, N1, 6º01'32"S, 50°16'33"W, 676 m.s.m., 26.III.2015, fr., R.M. Harley et al. 57134 (MG); Clareira N-4, junto ao acampamento provisório, 21.IV.1970, fl. ♂, P. Cavalcante 2690 (MG); Km-134, 14.V.1982, fr., R. Secco et al. 153 (MG); canga próxima a casa de visita, 5.II.1985, fr., O.C. Nascimento & R.P. Bahia 1174 (MG); near AMZA exploration camp, ca. 6°S, 50°15'W, 11.X.1977, bt., C.C. Berg & A.J. Henderson 460 (MG).

Cybianthus detergens caracteriza-se por apresentar folhas com nervuras curvas, bem marcadas e densas inflorescências laterais ao longo dos ramos. É uma espécie muito comum nas formações vegetais do Cerrado brasileiro e das cangas (BFG 2015BFG - The Brazil Flora Group (2015) Growing knowledge: an overview of seed plant diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1085-1113.; Freitas et al. 2009Freitas MF, Carrijo TT, São-Leão LC & Kinoshita LS (2009) Flora da Serra do Cipó, Minas Gerais: Myrsinaceae. Boletim do Instituto de Botânica (São Paulo) 27: 259-267.). Na Serra dos Carajás foi coletada na Serra Sul: S11C, S11D; e Serra Norte: N1 e N4, onde é comumente encontrada nas áreas de mata baixa e rupestres.

2.3. Cybianthus penduliflorus Mart., Nov. Gen. Sp. Pl. 3: 87, t. 236. 1831. Fig. 1i-j

Arbusto a arvoreta, 3-6 m alt., ramos terminais 2,5-3,5 mm diâm., com tricomas ferrugíneos nas partes jovens. Folhas membranáceas, oblanceoladas, ápice e base acuminados; pecíolo 1,5-2(-2,5) cm compr., canaliculado; limbo 15-28(-30) × 4,5-8(-10) cm, tricomas escamosos ao longo da nervura principal, esparsos no limbo, cavidades secretoras internas globosas e irregulares, curtas, dispersas no limbo, visíveis em ambas as faces; nervuras secundárias visíveis na face abaxial, curvas, 1-2(-3) cm distantes entre si; margem inteira, levemente revoluta. Inflorescências racemosas, 5,5-7(-8) cm compr., axilares, próxima ao ápice dos ramos; eixo tomentoso, com tricomas escamosos; bractéolas lineares, margem ciliada, 0,7 cm compr. Botões florais esverdeados, tetrâmeros; sépalas e pétalas valvares, com cavidades secretoras globosas e margem ciliada. Flores em antese não vistas. Fruto ca. 7 mm diâm., imaturo amarelo-alaranjado, e vermelho a negro quando maduro; pedicelos 1,5-2 mm compr., com tricomas escamosos caducos, sépalas persistentes, 0,7 mm compr., triangulares.

Material selecionado: Canaã dos Carajás, Serra Sul, S11D, 6°21'18"S, 50°16'23"W, 650-750 m.s.m., 3.X.2009, bt., P.L. Viana et al. 4387 (BHCB). Parauapebas, 2 km East of AMZA camp N-1, 6°05'S, 50°08'W, alt. 600-650 m, 26.V.1982, fr., C.R. Sperling et al. 5835 (MG); N-4, 20.III.1984, fr., A.S.L. Silva et al. 1932 (MG, RB); N-3, 17.III.1985, fr., R.S. Secco et al. 488 (MG); canga do N-7 indo para a corrente, 4.II.1985, fr., O.C. Nascimento & R.P. Bahia 1140 (MG).

Cybianthus penduliflorus apresenta longas folhas membranáceas e pêndulas inflorescências. Os espécimes analisados para a Serra de Carajás encontram-se em fase inicial das inflorescências com botões imaturos ou em frutos. As flores estaminadas e pistiladas não foram vistas. Ocorre na floresta amazônica (BFG 2015BFG - The Brazil Flora Group (2015) Growing knowledge: an overview of seed plant diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1085-1113.). Na Serra dos Carajás, trata-se de uma espécie frequente, com registros para a Serra Sul: S11D; e Serra Norte: N1, N4, N7, em áreas florestais e cangas adjacentes.

2.4. Cybianthus sp. 1

Arbusto 2 m alt., ramos terminais 1,6-2 mm diâm., cinza, com tricomas escamosos, esparsos. Folhas cartáceas, elípticas, ápice e base agudos; pecíolo 0,8-1 cm compr., não canaliculado; limbo 10-11,5 × 3,5-4 cm, discolor, opaco e glabro em ambas as faces, tricomas glandulares visíveis, cavidades secretoras internas não visíveis; nervuras secundárias retas, 5-7 mm distantes entre si; margem inteira, não revoluta. Inflorescência racemosa, frutífera, 1 cm compr., 1,6 mm diâm., lateral, coberta por tricomas tectores ramificados. Flores não vistas. Frutos globoide-depressos, imaturos, 5 × 7 mm compr., pedicelo 0,5-0,6 mm compr., cálice tetrâmero, sépalas 1 mm compr., estruturas secretoras globosas, raras.

Material selecionado: Parauapebas, Serra dos Carajás, N-1, Bosque próximo ao staff, 14.II.1989, fr., J.A.A. Bastos 112 (MG).

Esta espécie está representada por apenas um único exemplar coletado na área de estudos. Apresenta características semelhantes a Cybianthus nanayensis (J.F.Macbr.) G.Agostini, ocorrente no Peru, e pertencente ao subgênero Weilgeltia, como a curta inflorescência racemosa e caule acinzentado (Pipoly 1998Pipoly JJ (1998) The genus Cybianthus (Myrsinaceae) in Ecuador e Peru. Sida 18: 1-160.). Entretanto é necessário o exame de mais coletas desta espécie para uma identificação precisa. Na Serra dos Carajás, foi coletada na Serra Norte: N1, em área de canga.

  • Lista de exsicatas
    Arruda AJ 338 (1.1). Bastos JA 112 (2.4), 118 (2.2). Berg CC & Henderson AJ 460, 575 (2.2). Cavalcanti P 2690 (2.2). Costa LV 882, 919 (2.2). Giorni VT 187 (2.2), 226 (1.2), 251 (1.1), 318 (2.2). Gontijo FD 70, 100, 185, 214 (1.1). Harley RM 57134 (2.2). Maciel UN 789 (2.1). Mota NFO 3419 (2.2). Nascimento OC & Bahia RP 1106 (1.2), 1140 (2.3), 1174 (2.2). Rosário C 1359 (2.3). Secco R 153 (2.2), 488 (2.3). Secco R & Cardoso O 631 (2.2). Silva ASL 1932 (2.3). Silva LVC 698 (2.2). Sperling CR 6150 (1.2), 5742, 5826 (2.2), 5835 (2.3). Viana PL 4387 (2.3).
  • Editora de área: Dra. Daniela Zappi

Agradecimentos

Agradecemos à Dra. Ana Maria Giulietti e ao Dr. Pedro Viana, coordenadores do projeto "Flora de Carajás", o convite para elaboração deste trabalho. Aos curadores dos herbários MG, BHCB e RB, os materiais disponibilizados.

Referências

  • APG IV (2016) An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG IV. Botanical Journal of the Linnean Society 181: 1-20.
  • BFG - The Brazil Flora Group (2015) Growing knowledge: an overview of seed plant diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1085-1113.
  • Freitas JC & Fernandes MEB (2006) Uso de plantas medicinais pela comunidade de Enfarrusca, Bragança, Pará. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi 1: 11-26.
  • Freitas MF, Carrijo TT & Luna BN (2017) Sinopse dos gêneros de Primulaceae no Brasil. Rodriguésia 68: 129-142.
  • Freitas MF, Carrijo TT, São-Leão LC & Kinoshita LS (2009) Flora da Serra do Cipó, Minas Gerais: Myrsinaceae. Boletim do Instituto de Botânica (São Paulo) 27: 259-267.
  • Miquel FAG (1856) Myrsineae. In: Martius CFP, Eichler AG & Urban I. Flora Brasiliensis Typografia Regia. Munchen, Wien, Leipzig. Vol. 10, pp. 269-338.
  • Pipoly JJ (1998) The genus Cybianthus (Myrsinaceae) in Ecuador e Peru. Sida 18: 1-160.
  • Stahl B (1991) A revision of Clavija (Theophrastaceae). Opera Botanica 107: 1-77.
  • Stevens PF [2001 em diante]. Angiosperm Phylogeny Website. Version 12, July 2012. Disponível em <http://www.mobot.org/MOBOT/research/APweb/>. Acesso em 18 janeiro 2017.
    » http://www.mobot.org/MOBOT/research/APweb/

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2017

Histórico

  • Recebido
    29 Mar 2017
  • Aceito
    14 Jul 2017
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Rua Pacheco Leão, 915 - Jardim Botânico, 22460-030 Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Tel.: (55 21)3204-2148, Fax: (55 21) 3204-2071 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: rodriguesia@jbrj.gov.br