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Relacionamentos ab-usivos1 1 Este trabalho foi escrito como produto de exigência da escrita de um artigo científico para a conclusão do curso de pós-graduação em Psicanálise Teoria e Técnica, oferecido pela Universidade do Vale do Paraíba - Campus de São José dos Campos, SP. Submetido à instituição em novembro de 2022.

Abusive relationships

Relation abusive

Relación ab-usiva

Resumos

O presente artigo tem como objetivo compreender os aspectos que envolvem a permanência e a passividade das vítimas de relacionamentos abusivos a partir de conceitos psicanalíticos. Para tanto, utilizou-se conceitos de Freud e Lacan, articulando a relação do sujeito com a linguagem e suas implicações na relação sujeito e Outro, que envolvem aspectos como desejo, amor e gozo. Assim, optou-se por nomear tal dinâmica relacional de relacionamento ab-usivo, entendendo que algo da ordem de uma satisfação inconsciente se atualiza nessas relações, e que neste sentido, toda relação comporta algo de ab-usivo. Considera-se fundamental que, diante de tal demanda, o analista tenha um olhar para a cena inconsciente do sujeito que se apresenta, e que a análise possibilite que algo do “um” se sustente, para que o sujeito sustente uma condição de menos assujeitamento ao seu modo de gozo.

Palavras-chave
Relacionamento abusivo; amor; desejo; gozo


This article aims to understand the aspects that involve the permanence and passivity of victims of abusive relationships based on psychoanalytic concepts. For this purpose, concepts from Freud and Lacan were used, articulating the subject’s relationship with language and its implications in the subject’s relationship with the Other, which involve aspects such as desire, love, and jouissance. Thus, it was decided to name such relational dynamics an ab-usive relationship, understanding that something of the order of an unconscious satisfaction is actualized in these relationships, and that, in this sense, every relationship involves something ab-usive. It is considered essential that, in the face of such a demand, the analyst has a look at the unconscious scene of the subject who presents himself and that the analysis allows something of the “one” to be sustained so that the subject sustains a condition of less subjection to your way of jouissance.

Keywords
Abusive relationship; love; desire; jouissance


Cet article vise à comprendre les aspects qui impliquent la permanence et la passivité des victimes de relations abusives à partir de concepts psychanalytiques. À cette fin, nous avons utilisé des concepts de Freud et de Lacan qui articulent la relation du sujet avec le langage et ses implications dans la relation du sujet à l’Autre, qui impliquent des aspects tels que le désir, l’amour et la jouissance. Nous avons donc choisi de nommer cette dynamique relationnelle relation a-busive, considérant qu’une sorte de satisfaction inconsciente se produit dans ces relations, et qu’en ce sens, toute relation contient quelque chose d’a-busif. Il est considéré comme fondamental que, face à une telle demande, l’analyste ait un regard sur la scène inconsciente du sujet qui se présente, et que l’analyse permette de soutenir “l’un”, afin que le sujet parvienne à une condition de moindre soumission à son mode de jouissance.

Mots-clés
Relation abusive; amour; désir; jouissance


El presente artículo tiene como objetivo comprender los aspectos que implican la permanencia y la pasividad de las víctimas de relaciones abusivas, usando como referencia los conceptos psicoanalíticos. Se utilizaron conceptos de Freud y Lacan, articulando la relación entre el sujeto y el lenguaje y sus implicaciones en la relación entre el sujeto y el Otro, que involucran aspectos tales como el deseo, el amor y el gozo. De esta forma, se decidió denominar a tal dinámica relacional como relación ab-usiva, entendiendo que algo del orden de una satisfacción inconsciente se actualiza en este tipo de relaciones, y que en ese sentido, toda relación implica algo ab-usivo. Se considera fundamental que, ante tal demanda, el analista tenga una mirada en la escena inconsciente del sujeto que se presenta, y que el análisis permita que algo del “uno” se sustente, para que el sujeto sustente una condición de menor sujeción a su modo de gozo.

Palabras claves
Relación abusiva; amor; deseo; gozo


Introdução

Este artigo tem como objetivo compreender os aspectos que envolvem a permanência e passividade das vítimas de relacionamentos abusivos à luz dos conceitos psicanalíticos. Considerando que tanto na clínica como nas diversas atuações da Psicanálise em instituições, é frequente os casos em que a queixa inicial se faz em torno de narrativas das pessoas que procuram o atendimento afirmando vivenciar um relacionamento abusivo, par-serias1 1 Caro leitor, iremos produzir uma escrita por meio do neologismo par-seria a fim de produzir uma quebra de sentido na palavra do português parceria. A ideia com o neologismo é produzir o vacilo no sentido que constitui a ilusão amorosa que um casal ou parceiros tendem a produzir num cenário social e contempôraneo. amorosas que podem gerar excesso de angústia e sofrimento aos que nela estão inseridos. O que convoca a questão: por que alguns sujeitos permanecem ou mesmo repetem com diversos parceiros relações com dinâmicas ditas abusivas no discurso jurídico, relações essas mediadas por violência física e/ou psicológica? Ou quais os possíveis efeitos de um processo analítico nesses casos?

Freud (1921/1990b)Freud, S. (1990b). Psicologia das massas e análise do ego. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XVIII, pp. 89-179). Imago. (Trabalho original publicado em 1921). aponta três impossíveis de um discurso: governar, educar e psicanalisar, mediante tais impossíveis, o que seria possível na prática analítica diante de tal queixa?

Judicialmente existem mecanismos de punição para coibir práticas de qualquer tipo de violência, grupos de psicoeducação compostos por psicólogos e outros profissionais inseridos nas instituições, abordando os aspectos e comportamentos que envolvem dinâmicas ditas abusivas. Mas considerando o inconsciente estruturado como linguagem, como sendo o que rege o comportamento e que é estrutura para os vínculos e relações humanas, é partindo dele e de seus efeitos, trabalhados por Freud e Lacan, que este artigo se propõe em abordar tal dinâmica relacional. Para tanto, se faz necessário pensar no que seria abuso em Psicanálise, que no dicionário é descrito como sinônimo de excesso (Dicio, 2022Dicio. (2022). Abuso. In Dicio, Dicionário Online de Português. 7Graus. Recuperado em 12 dez.2022, de: https://www.dicio.com.br/abuso/.
https://www.dicio.com.br/abuso/...
), excesso que é trabalhado por Lacan ao associar o conceito psicanalítico de gozo com o conceito jurídico de usufruto no seminário XX. Também se utilizou a palavra ab-“uso” para se referir a tal dinâmica relacional, articulando com o conceito de ab-reação de Freud, ao que remete a uma descarga emocional que afeta o corpo, a uma satisfação que se atualiza e que não se dá sem o corpo.

Lacan (1972-73/2008)Lacan, J. (2008). O seminário. Livro 20. Mais, ainda. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1972-73). afirma que o falo, o amor e o desejo se articulam com a falta constituinte de cada sujeito, seja ele inserido na lógica fálica ou na lógica do não todo, sendo esses dois modos de gozo diferentes respostas à falta. Por sua vez, os modos de como se ama e se deseja dizem sobre a estrutura psíquica do sujeito e sua posição diante da vida. Sendo assim, se faz impossível falar sobre par-serias1 1 Caro leitor, iremos produzir uma escrita por meio do neologismo par-seria a fim de produzir uma quebra de sentido na palavra do português parceria. A ideia com o neologismo é produzir o vacilo no sentido que constitui a ilusão amorosa que um casal ou parceiros tendem a produzir num cenário social e contempôraneo. amorosas sem passar pela relação do sujeito com a linguagem e suas implicações com a castração, alienação, desejo e gozo.

Utilizando-se de conceitos trabalhados por Freud e Lacan, é possível compreender o que convoca um humano a se relacionar com outro, e como passamos de uma demanda de satisfação do campo da necessidade para demandar mais ainda nos nossos des-“encontros”, entendendo que há sempre uma satisfação, ainda que parcial, e que se atualiza nas relações humanas, mesmo aquelas em que o sofrimento e a angústia psíquica se fazem presentes. E pensando no sentido de atualização de uma satisfação inconsciente, é possível pensar que toda relação comporta um caráter ab-usivo. Assim, para pensar na permanência de pessoas nas relações que envolvem violência psíquica, física ou patrimonial, partindo de um discurso psicanalítico, se faz necessário articular os processos que envolvem a relação do sujeito com a linguagem, ou do sujeito com o Outro que o constitui, que o insere no mundo da significação. Para tanto, trabalhou-se com o conceito de alienação e separação.

Ao longo da elaboração deste trabalho, que desde o desejo inicial de escrevê-lo até o momento em que sua escrita se fez possível, passaram-se quatro anos do tempo cronológico, envoltos por uma angústia que impossibilitou a consolidação de sua escrita e que alimentou uma condição de paralisia. Foi nessa relação truncada de ab-“uso” com a linguagem que este artigo foi escrito. E é partindo dessa relação de ab-“uso” entre sujeito e a linguagem que o artigo se propõe a pensar essas relações, conhecidas popularmente por abusivas e nomeadas aqui de ab-“usivas”.

Relacionamentos abusivos: que nome dar?

Popularmente nomeado de relacionamentos abusivos, em uma busca rápida pela internet encontramos descrições que envolvem uma dinâmica relacional em que a violência física, psicológica, sexual e/ou patrimonial se fazem presentes entre os parceiros, além de algumas características como o controle de um parceiro agressor, o ciúme excessivo e a dependência emocional. A maior parte das pessoas que sofrem as agressões são mulheres, porém enfatiza-se que os homens também podem sofrer algum tipo de violência dentro de um relacionamento.

De acordo com o relatório de dados da central de atendimento à mulher, o 180, um serviço do Governo Federal para denúncias telefônicas de casos de violência contra a mulher, só no primeiro semestre de 2022 registrou 988.942 ligações de denúncias de ameaças e/ou agressões físicas (IMP, 2018IMP. Site do Instituto Maria da Penha. (2018). A lei na íntegra e comentada.Recuperado em 6 dez.2022 de: https://www.institutomariadapenha.org.br/lei-11340/lei-maria-da-penha-na-integra-e-comentada.html.
https://www.institutomariadapenha.org.br...
). Importante ressaltar que esses números correspondem apenas aos casos notificados.

Atualmente existem diversos órgãos e recursos responsáveis pela proteção da mulher à violência. Além de mecanismos de denúncia como o serviço telefônico 180, existem delegacias da mulher e leis que visam a inibição e proteção das mulheres. A última lei sancionada no Brasil em 7 de agosto de 2006, conhecida como Lei Maria da Penha (Brasil, 2006Brasil. Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006. (2006). Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Recuperado em 12 dez.2022 de: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_at...
), cria mecanismos para prevenir e coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher em conformidade com a Constituição Federal. De acordo com essa lei, configuram-se como violência contra a mulher, passíveis de coibição e punição por meios legais, a violência física (qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal da mulher); violência psicológica (qualquer conduta que cause danos emocionais e diminuição da autoestima; prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento da mulher; ou vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões); violência sexual (considerada qualquer conduta que cause danos emocional e diminuição da autoestima; prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento da mulher; ou vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões); violência patrimonial (conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades) e violência moral (considerada qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria). A Lei Maria da Penha pode ser aplicada para proteger todas as pessoas que se identificam com o gênero feminino e que sofrem violência em relação a esse fato, independente da orientação sexual. Nos casos em que é o homem que sofre algum tipo de violência, serão aplicados dispositivos previstos no código penal, e não os previstos na Lei Maria da Penha (IMP, 2018IMP. Site do Instituto Maria da Penha. (2018). A lei na íntegra e comentada.Recuperado em 6 dez.2022 de: https://www.institutomariadapenha.org.br/lei-11340/lei-maria-da-penha-na-integra-e-comentada.html.
https://www.institutomariadapenha.org.br...
).

Mesmo diante de tais mecanismos judiciais para coibir dinâmicas relacionais ditas popularmente como abusivas, acompanhamos na sociedade e, consequentemente, na prática clínica um alto índice de relações mediadas pela violência, seja ela sexual, física ou psicológica. Muitos sujeitos vivenciam par-serias amorosas marcadas pela violência, repetem o histórico de relações ab-usivas com companheiros diferentes, mesmo diante de humilhações, agressões e ameaças, afirmam estarem sofrendo em consequência dessa dinâmica relacional, porém não conseguem se desvencilhar delas.

Vítimas de quem? De seu próprio gozo

Freud (1914/1996b)Freud, S. (1996b). Recordar, repetir e elaborar. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XII, pp. 159-172). Imago. (Trabalho original publicado em 1914). enfatiza que aquilo que o sujeito não consegue se lembrar, ele repete na forma de atuação (acting-out) no setting analítico e nas suas relações pessoais; repete esses fatos sem saber o que está repetindo. Segundo ele, quanto mais resistência por parte do sujeito, mais há a repetição.

Este artigo busca compreender os processos inconscientes que regem essa repetição nas relações ab-usivas. Para tanto, se faz importante alguns esclarecimentos: optou-se por utilizar o termo ab-usivo para se referir a essas relações mediadas por tais violências; ab-usivos, no sentido de ab-reação, termo utilizado por Freud para designar afetos inconscientes que vinham à tona e provocavam uma descarga emocional no paciente. Quando tais afetos eram exteriorizados em um processo de condução hipnótica em seus pacientes, um sintoma até então resultante de tal afeto que fora recalcado podia ser eliminado. Assim, utiliza-se o termo ab-usivo partindo do pressuposto de que há algo de um mecanismo inconsciente, um afeto, algo que afeta, que diz sobre a permanência e a repetição desses sujeitos que vivenciam tal dinâmica relacional, algo de ordem inconsciente que atua e se atualiza em tais dinâmicas, o que justifica a inadequação da utilização do termo “vítima” no discurso psicanalítico ao se referir aos sujeitos que sofrem algum tipo de violência nas par-serias amorosas. Nomeio par-seria, pois Lacan (1972-73/2008)Lacan, J. (2008). O seminário. Livro 20. Mais, ainda. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1972-73)., no seminário XX, já nos diz da impossibilidade de se fazer um “par” nas relações amorosas ao afirmar que a relação sexual não existe, um par seria se as relações fossem da ordem da completude, o que se faz impossível devido aos diferentes modos de gozo diante do impasse fálico, e do gozo ser sempre gozo do um.

Mas também é possível pensar na palavra “abuso” a partir de seu significado no Dicionário Online de Português - DICIO: “uso mau, excessivo ou injusto: fazer abuso da própria força” (Dicio, 2022Dicio. (2022). Abuso. In Dicio, Dicionário Online de Português. 7Graus. Recuperado em 12 dez.2022, de: https://www.dicio.com.br/abuso/.
https://www.dicio.com.br/abuso/...
). Partindo da questão do que seria esse uso, tido como excesso, remeto a uma passagem de Lacan (1972-73/2008Lacan, J. (2008). O seminário. Livro 20. Mais, ainda. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1972-73).) no seminário XX, quando ele faz uso do conceito de usufruto do direito para se referir ao gozo fálico:

Quando temos usufruto de uma herança, podemos gozar dela, com a condição de não gastá-la demais. É nisto mesmo que está a essência do direito - repartir, distribuir, retribuir o que diz respeito ao gozo.

O que é o gozo? Aqui ele se reduz a ser apenas uma instância negativa. O gozo é aquilo que não serve para nada. (p. 11)

Feito tais esclarecimentos, partindo desse pressuposto de mecanismos inconscientes que regem tais repetições desses sujeitos inseridos nas relações ab-usivas, retomo a questão do sintoma. Freud (1916-1917/1990a)Freud, S. (1990a). Conferência XXIII: Os caminhos da formação dos sintomas. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XVI, pp. 361-378). Imago. (Trabalho original publicado em 1916-1917). descreve um sintoma como atos prejudiciais à vida da pessoa, ou atos causadores de desprazer e sofrimento, mas que também propiciam certa satisfação sempre parcial. O sintoma aqui seria uma formação de compromisso entre a libido insatisfeita e as exigências do ego que não permitem tal satisfação, assim a libido que foi repelida a fim de encontrar certa satisfação, ainda que sempre parcial, regride em objetos ou organizações libidinais que já havia deixado para trás. Essa regressão se dá via fantasias em movimentos de condensação e deslocamento. O sintoma, nesses aspectos, é regido pelo princípio do prazer, sendo, assim como o sonho, um derivado distorcido de realização de um desejo. Há um caminho regressivo da libido que consegue desviar-se da repressão e assim alcançar uma satisfação parcial:

Retomamos agora aos sintomas. Estes criam, portanto, um substituto da satisfação frustrada, realizando uma regressão da libido a épocas do desenvolvimento anteriores, regressão em que necessariamente se vincula a um retorno a estágios anteriores de escolha objetal ou organização. Descobrimos há algum tempo que os neuróticos estão ancorados há algum ponto de seu passado; agora sabemos que esse ponto é um período do seu passado, no qual sua libido não se privava da satisfação, no qual eram felizes. (p. 367)

Para além dos mecanismos de condensação e deslocamento, como forma de deformação da satisfação alcançada, o sintoma parece estranho ou até mesmo incompreensível como forma de uma satisfação libidinal, porque esse ignora o princípio da realidade, tendo retornado ao princípio do prazer, sendo também um retorno a um tipo de autoerotismo difuso, que proporcionava um instinto sexual nas primeiras satisfações.

Até aqui, temos um sintoma na sua vertente de mensagem que pode ser decifrada ou uma fantasia que pode ser atravessada, e que obedece ao funcionamento do princípio do prazer. Porém, Freud (1920/2020a)Freud, S. (2020a). Além do princípio do prazer. In Obras Completas: Além do Princípio do Prazer (Maria Rita Salzano Moraes, Trad.). Autêntica. (Trabalho original publicado em 1920). demarca um outro modo de funcionamento da libido, que está para além dessa satisfação que pode ser decifrada, regida pela pulsão de morte e responsável pela compulsão à repetição, demarcando que há um real de gozo impossível de ser representado. A angústia é um afeto, sendo um estado especial de desprazer com atos de descarga que se dão ao longo de trilhas específicas. O caráter acentuado de desprazer tem seu aspecto próprio em função das experiências traumáticas que reproduz e do decorrente acúmulo de excitação que, por um lado, produz o caráter específico do desprazer e, por outro, encontra satisfação nos atos de descarga por “trilhas específicas”, traçadas pelos pontos de fixação e retenção das situações infantis de perigo (Freud, 1926/1996aFreud, S. (1996a). Inibição, sintoma e angústia. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XX, pp. 107-198). Imago (Trabalho original publicado em 1926).).

Nos dois modos de funcionamento do sintoma, seja ele regido pelo princípio do prazer ou pela pulsão de morte, há um caráter de satisfação pulsional que se dá pelos caminhos pulsionais que a libido vai se fixando, sempre com o objetivo de se satisfazer, ainda que por uma experiência desprazerosa a nível consciente. Assim, o que está em jogo na repetição que marcaria os sujeitos que vivenciam tais relações de dinâmica ab-usiva, parece estar ligada ao modo como suas relações objetais acontecem, seus movimentos libidinais e seus modos de gozo. Se a libido busca sempre uma satisfação pulsional e a realização de um desejo, e é o desejo que nos faz se dirigir ao outro na par-seria amorosa, se faz valer o famoso questionamento de Lacan: Che Vuoi? O que queres? também para os sujeitos inseridos nessas relações ab-usivas.

Da experiência de satisfação à relação com o Outro

“Seria isso o amor? Esse impossível de se satisfazer, cuja insatisfação mantém aceso o desejo de se satisfazer um pouco mais, mas que de vez em quando se transforma em desejo de acabar com tudo?” (Kuss, 2017Kuss, A. (2017). Não pise no meu vazio. Patuá., p. 36).

A condição de dependência do ser humano em relação ao outro está posta na psicanálise desde o seu início. No seu artigo “Projeto para uma psicologia científica”, Freud (1950[1895]/1974Freud, S. (1974). Projeto para uma psicologia científica. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. I). Imago. (Trabalho original publicado em 1950).), ainda na tentativa de fazer da Psicanálise uma ciência da natureza, nos apresenta os mecanismos de constituição do aparelho psíquico sobre o domínio do princípio do prazer e o princípio de nirvana. Constituído por neurônios perceptivos e motores, o aparelho psíquico tenta manter o mínimo de tensão possível, mas, além dos estímulos internos, há as excitações endógenas que só se fazem passíveis de serem apaziguadas a partir da ação de um agente externo, no caso do bebê, um cuidador. O que temos desde o início da constituição psíquica humana é um aparelho que visa a satisfação que ocorre na descarga de energia, e é a partir de um outro que os processos primários do aparelho psíquico se complexificam e se desenvolvem os processos secundários. É o outro que possibilita que um organismo biológico se complexifique, que faça de um processo puramente da ordem da necessidade uma demanda, introduzindo algo de uma comunicação. Ou seja, nos comunicamos, nos dirigimos ao outro por uma condição de necessidade visando uma satisfação. Sobre essa via de descarga dirigida ao outro, Freud (1950[1895]/1974Freud, S. (1974). Projeto para uma psicologia científica. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. I). Imago. (Trabalho original publicado em 1950).) afirma: “Essa via de descarga adquire assim, a importantíssima função secundária de comunicação, e o desamparo inicial dos seres humanos é a fonte primordial de todos os motivos morais” (p. 379).

Da descarga pulsional e sua variabilidade de objeto ao insensato do desejo

A primeira experiência de satisfação, alcançada através da intervenção desse outro ao desamparado, deixa na psique um traço mnêmico que produz uma imagem mnêmica. Essa primeira experiência tem consequências radicais no desenvolvimento do indivíduo, é ela que o indivíduo tenta sempre reviver. A cada reaparecimento de um estado de urgência e de tensão a imagem mnêmica é convocada pela ativação do desejo, desejo que é sempre desejo de satisfação, o que provoca a atração do indivíduo ao objeto desejado, ou à sua imagem mnêmica. Porém, já no “Projeto...” Freud demarca que a realização do desejo acontece somente via alucinação:

Não tenho dúvida de que na primeira instância essa ativação do desejo produz algo idêntico a uma percepção - a saber, uma alucinação. Quando uma ação reflexa é introduzida em seguida a esta, a consequência inevitável é o desapontamento. (Freud, 1950[1895]/1974Freud, S. (1974). Projeto para uma psicologia científica. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. I). Imago. (Trabalho original publicado em 1950)., p. 381)

Com o desenvolvimento de sua teoria em 1915, Freud chama de pulsões os estímulos internos, e sobre elas, marca algumas características relevantes: nascemos com um organismo biológico, e para além do instinto, com um organismo pulsional que busca o prazer, sendo a pulsão uma força constante de estímulos internos, que só se satisfaz parcialmente, não tem um objeto específico, e sua meta seria a satisfação (Freud, 1915/2020bFreud, S. (2020b). As pulsões e seus destinos. In Obras completas: As pulsões e seus destinos (Pedro Heliodoro Tavares, Trad.). Autêntica. (Trabalho original publicado em 1915).).

A constituição do aparelho psíquico se inicia partindo de um organismo biológico, que desde o início apresenta pulsões autoeróticas, sendo necessário uma nova ação psíquica para que o narcisismo se constitua, pois o ego não está presente desde o início, e essa ação psíquica não se faz sem o Outro:

No tocante à primeira questão, posso ressaltar que uma unidade comparável ao ego não pode existir no indivíduo desde o começo; o ego tem de ser desenvolvido. Os instintos autoeróticos, contudo, ali se encontram desde o início, sendo, portanto, necessário que algo seja adicionado ao autoerotismo - uma nova ação psíquica - a fim de provocar o narcisismo. (Freud, 1914/1996cFreud. S (1996c). Sobre o narcisismo: uma introdução. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XIV, pp. 81-108). Imago. (Trabalho original publicado em 1914)., p. 84)

Assim, toda relação com o outro e todo endereçamento de libido comporta uma busca por satisfação pulsional, ainda que ela só ocorra parcialmente, ou seja, em toda relação algo se atualiza e há um desejo, mesmo que de ordem inconsciente; em Freud (1914/1996b)Freud, S. (1996b). Recordar, repetir e elaborar. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XII, pp. 159-172). Imago. (Trabalho original publicado em 1914)., um desejo de repetir a primeira experiência de satisfação, o que comporta um caráter mítico. Nesse sentido, toda relação amorosa apresenta uma estrutura narcísica, e comporta uma busca de satisfação, só sendo possível alcançar parcialmente e através da relação com o outro, sendo esta a relação que possibilita a constituição de um ego, que estruturalmente é dependente desse outro. No início da vida a pulsão sexual e de autopreservação não se diferenciam, assim, a escolha objetal das crianças derivam de seus objetos sexuais, de suas experiências de satisfação.

Freud (1915/2020b)Freud, S. (2020b). As pulsões e seus destinos. In Obras completas: As pulsões e seus destinos (Pedro Heliodoro Tavares, Trad.). Autêntica. (Trabalho original publicado em 1915). afirma que a pulsão tem como meta a satisfação, ainda que esta ocorra sempre parcialmente, e também não tem objeto específico ou pré-determinado. Lacan (1958/1998)Lacan, J. (1998). A significação do falo. In Escritos (pp. 692-703). Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1958). aponta Freud como sendo o primeiro autor que desenvolve uma teoria do homem cujo seu princípio fundamental está em contradição com o princípio hedonista, onde há uma ideia harmônica e otimista do desenvolvimento humano, uma ideia de que o homem, sabendo ou não, busca em princípio o seu bem. Em contradição a tal princípio, para Freud o desejo é articulado ao termo lust em inglês, que designa luxúria e cobiça, o desejo na experiência aparece como uma perturbação, com um caráter cego, um tormento ao homem, e oposto ao princípio da realidade. Ele marca que não há um caminho pré-determinado do desejo, que não existe um acordo pré-formado entre o desejo e o mundo, e que sua história se organiza num discurso do insensato, por meio de deslocamentos e condensações da libido, segundo ele, metáforas que não geram nenhum sentido e deslocamentos que não comportam nenhum ser, nos quais o sujeito não reconhece algo que se desloca.

Na dialética pulsional, é uma outra coisa que comanda, algo que se difere do amor ou do princípio hedonista:

Não é quando o objeto não é bom a seu ver que alguém se torna masoquista. Não é porque seu pai a decepciona que a doentinha de Freud, a dita homossexual, se torna homossexual - ela poderia arranjado um amante. De cada vez que estamos na dialética da pulsão, outra coisa comanda. A dialética da pulsão se distingue fundamentalmente do que é da ordem do amor como do que é do bem do sujeito. (Lacan, 1964/1985Lacan, J. (1985). O seminário. Livro 11. Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1964)., p. 202)

Assim, as relações objetais comportam sempre a busca de uma satisfação que toma caminhos que não são predeterminados, e que têm como característica esse caráter dito insensato do desejo ao desenhar seus direcionamentos da libido ao Objeto, o que nos permite afirmar que em toda relação sujeito-objeto há uma satisfação, mesmo que a nível inconsciente. Tal satisfação não necessariamente é harmônica em relação ao eu, mas comporta um caráter cego, tendo como meta estritamente a satisfação, ainda que esta cause algum tipo de sofrimento, como se caracterizam as relações ab-usivas.

O que se atualiza na repetição é a busca de satisfação que, mesmo parcial, só é possível de se realizar na relação com o outro, visto ser nessa relação de alienação e separação que um sujeito se constitui.

Alienação e separação: a inexistência de “Um” em o OUTRO

Sou tão você, que me confundo comigo. (Kuss, 2017Kuss, A. (2017). Não pise no meu vazio. Patuá., p. 16)

Alienação

Relacionamo-nos com os outros por necessidade, porque há na estruturação do humano uma condição de dependência radical em relação ao outro, uma dependência que está para além de nossa imaturidade biológica. Dependemos do Outro para nos constituirmos como sujeitos, nesse sentido a estruturação do aparelho psíquico só se faz possível via relação com o objeto, num processo de alienação e separação. Um sujeito só é sujeito em relação a outro sujeito; assim, uma demanda de uma necessidade passa a ser uma demanda de uma outra coisa, uma demanda de amor. Nossas demandas, que em um primeiro momento são de satisfazer as necessidades do corpo, se endereçam a um objeto, um outro real, que se refere aqui por sua presença-ausência. Esse outro dá significação à nossa demanda de satisfazer uma necessidade, e é através dessa significação que essa demanda passa a ter uma função de comunicação, passando de uma demanda de satisfação de uma necessidade para uma demanda de amor; assim se dá a constituição de “um” sujeito, sempre em relação a outro sujeito. É a partir desse outro real, que comparece em sua presença-ausência, e depois desse Outro, representado pelo A, como o lugar da fala, que constitui toda a dialética do aparelho psíquico (Lacan, 1958-59/2016Lacan, J. (2016). O seminário. Livro 6. O desejo e sua interpretação. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1958-59).).

A alienação é uma condição radical e estrutural da constituição do sujeito que, sendo de ordem estrutural, está presente em todo o percurso de um sujeito e suas relações com os objetos e, nesse sentido, é possível pensar que como sujeitos sempre estamos em certa medida alienados nos outros com os quais nos relacionamos, não há relação possível fora dessa condição de alienação:

Essa alienação, meu Deus, não se pode dizer que ela não circula hoje em dia. O que quer que se faça, sempre se está um pouquinho mais alienado, quer seja no econômico, no político, no psicopatológico, no estético e assim por diante. (Lacan, 1964/1985Lacan, J. (1985). O seminário. Livro 11. Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1964)., p. 205)

Separação e castração, como operadores da falta e causa de desejo

Mas se é na alienação com esse Outro da linguagem que o que era da ordem da satisfação da necessidade passa a demandar mais ainda, a ter um caráter de comunicação, é a separação que se dá via castração que possibilita o desejo. Nesse direcionamento do “um” ao Outro, nessa busca de sustentação de si, o sujeito se depara com a falta do outro, e se dá conta de sua própria falta. A castração aqui se dá no gozo, via linguagem, ela está aí para ser vivida e o desejo só opera na falta:

O sujeito, ao pagar o preço necessário para a localização de si mesmo enquanto fraquejante, é introduzido, assim, na dimensão sempre presente cada vez que se trata do desejo: ter de pagar com a castração. (Lacan, 1958--59/2016Lacan, J. (2016). O seminário. Livro 6. O desejo e sua interpretação. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1958-59)., p. 394)

É somente se alienando ao Outro que um sujeito se constitui, e a própria operação de separação tem de passar pela alienação para que seja possível de acontecer. Como vimos, o “um” não existe sem o Outro, assim não se faz possível uma relação sujeito-objeto, sendo o sujeito independente do outro, nesse sentido, todas as relações abarcam sempre uma dependência do sujeito em relação ao Outro em certa medida. É como condição radical da estruturação da psique que essa dependência significante em relação ao Outro aparece, o que nos convoca a pensar que em todos os des-“sencontros” de um sujeito em relação ao objeto há algo dessa dependência estrutural, e que romper uma dinâmica relacional, ainda quando há aspectos angustiantes e de sofrimento para o sujeito que nela está inserido, não é simples e traz complexidades, à medida que ao deixar que o Outro da cena inconsciente perca consistência, o sujeito alienado a ele, também deixa cair algo de si, e precisa sustentar essa falta, que em Psicanálise chamamos de castração.

Na própria relação com o objeto a castração comparece, ainda que por vezes encoberta por um véu, na tentativa de se fazer um, pois a relação com o objeto não é harmônica, dual, direta ou simples, ela nunca é recíproca, pois entre a demanda direcionada ao Outro e sua interpretação, há uma hiância, um mal-entendido ou interdito. Algo falta ao nível do Outro que está no lugar da fala, esse mal-entendido (interdito) nos separa do Outro, é isso que Lacan chama de castração que ocorre no nível da linguagem. Quando inseridos nela, na tentativa de localização de si no Outro, o sujeito se depara com a falta, falta essa que coloca o desejo em movimento. A cada vez que se trata do desejo, o sujeito tem de pagar com sua pessoa (Lacan, 1958-59/2016Lacan, J. (2016). O seminário. Livro 6. O desejo e sua interpretação. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1958-59).).

O laço se enlaça contornando um vazio

Amar é dar o que não se tem a alguém que não o quer. (Lacan, 1960-61/1992Lacan, J. (1992). O seminário. Livro 8. A transferência. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1960-61).)

O significante no qual o sujeito procura se situar como sujeito está no campo do Outro, do Outro que fala. Essa alienação é colocada por Lacan (1964/1985Lacan, J. (1985). O seminário. Livro 11. Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1964).) como um véu, o véu que encobre a castração, porém esse véu condena o sujeito a uma divisão onde ele aparece de um lado como sentido, e, de outro, como afânise, um desaparecimento do ser. O significante que faz surgir o sujeito de sua significação também provoca um efeito de fechamento, um desaparecimento do ser na medida em que algo fica sempre de fora, por conta da própria característica da relação sujeito-objeto, que, como já mencionado, se caracteriza por não ser da ordem de uma correspondência, mas sim de um não senso, inter(dito). É o que se demonstra na Figura 1 a seguir, situada no seminário XI:

Sobre o que não cola, Lacan adverte que é daí, desse não senso, das faltas do discurso do Outro, que o desejo se desliza ou foge como um furão, sendo essa falta a própria causa de todo movimento metonímico do desejo, o que põe o sujeito a se questionar: o que o outro quer de mim?

Que o objeto do desejo é sempre um objeto perdido, e que é nessa busca que sempre uma outra coisa é apreendida, é o que Lacan nos atesta como sendo a descoberta de Freud, sendo essa a própria dialética que põe o inconsciente em movimento:

Uma nostalgia liga o sujeito ao objeto perdido, através da qual se exerce todo o esforço de busca. Ela marca a redescoberta do signo de uma repetição impossível, já que, precisamente este não é o mesmo objeto, não poderia sê-lo. A primazia dessa dialética coloca, no centro da relação sujeito-objeto, uma tensão fundamental, que faz com o que o que é procurado não seja procurado da mesma forma que o que será encontrado. É através dessa busca de satisfação passada e ultrapassada que o novo objeto é procurado, e que é encontrado e apreendido noutra parte que não no ponto onde se procura. (Lacan, 1956-57/1995Lacan, J. (1995). O seminário. Livro 4. A relação de objeto. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1956-57)., p. 13)

Nesse mesmo seminário Lacan mostra que, ainda que o sujeito se constitua e se localize nessa relação com o Outro que o fala, é na relação com esse Outro no lugar de quem fala que algo falta para o sujeito. É na alienação que algo sempre fraqueja, sendo nessa tentativa de localização de si que o sujeito se depara com a castração. O objeto é colocado sobre um fundo de angústia como instrumento para mascarar essa falta estrutural, e a castração está presente em todas as etapas da vida do sujeito e de sua relação com o mundo, sendo o desenvolvimento das pulsões não algo evolutivo ou maturacional, mas sempre pensado a partir dessa dinâmica entre sujeito e objeto, tendo como causa e consequência a castração. Ao que nos permite pensar nas relações ab-usivas, também inseridas nessa lógica da castração, onde o objeto é esse instrumento que mascara a angústia de castração, e que também nessa relação há algo de uma satisfação que se atualiza no encontro sempre de uma outra coisa, que não o objeto perdido. Essa lógica nos retira de qualquer ideia de possíveis caminhos previamente traçados da pulsão, ou de associar essas relações como uma simples repetição do sujeito, por exemplo, a hipótese da repetição de alguém que vivencia uma relação ab-usiva, como uma repetição de relações parentais anteriores. Superando essa lógica, o objeto investido também nessas relações é instrumento para o sujeito mascarar sua própria angústia de castração.

O famoso aforismo “não existe relação sexual” é uma forma de designar esse furo ou interdito entre o sujeito-objeto, mas não é porque não existe relação sexual que nenhuma invenção se faz possível. Vemos em Lacan (1971-72/2012Lacan, J. (2012). O seminário. Livro 19 ... ou pior. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1971-72).) que essa lógica é inversa, e que a ausência da relação sexual não impede a invenção de relações, mas lhe dá às suas condições. Se a linguagem não traz uma formulação satisfatória sobre a relação é porque é preciso partir do que a relação não é, ela não é da ordem da complementaridade, mas resultado desse furo, dessa falha do real na comunicação, é a partir desse indizível que um laço entre sujeito e objeto se faz possível.

A relação sexual não existe, então como se enlaça?

A ausência da relação sexual não impede que um laço seja possível, justamente porque a castração é que permite que algo falte, e somente partindo dessa condição de falta é que nos lançamos nas parcerias amorosas, e que o objeto passa a ter essa função de véu que mascara a angústia de castração. O complexo de castração permite a instalação no sujeito de uma posição inconsciente sem a qual não seria possível a identificação com o tipo ideal de seu sexo (Lacan,1958-59/2016Lacan, J. (2016). O seminário. Livro 6. O desejo e sua interpretação. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1958-59).).

A castração é o que inaugura o sujeito do inconsciente, e o põe diante da questão: O que o Outro quer de mim? Vejamos então como se dá essa identificação, como se enlaça.

Falo, como objeto da castração e significante que enlaça

Lacan (1958-59/2016Lacan, J. (2016). O seminário. Livro 6. O desejo e sua interpretação. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1958-59).) faz referência a duas consequências do complexo de castração: o objeto como sendo seu efeito, e o falo sendo propriamente o objeto da castração. O falo surge essencialmente pela impossibilidade de uma relação dual, produto da falta, terceiro da relação, sendo que toda aproximação de uma relação dual faz surgir o objeto falo, tornando impossível pensar na relação de objeto sem esse elemento. Desde o início da relação objetal já temos três elementos de uma tríade: mãe, criança e falo (Lacan, 1956-57/1995Lacan, J. (1995). O seminário. Livro 4. A relação de objeto. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1956-57).).

Lacan (1958/1998)Lacan, J. (1998). A significação do falo. In Escritos (pp. 692-703). Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1958). elucida melhor o conceito de falo, que é pensado em termos simbólicos, afirmando que o falo não é uma fantasia com efeito imaginário, nem um objeto, o que implicaria considerar a realidade da relação. Também não é o pênis ou o clitóris que ele o simboliza, mas o falo é entendido como um significante que tem uma função estruturante, na medida em que o modo como o sujeito se posiciona diante dele - como fálico ou castrado - é o que determina suas identificações sexuais, bem como a estruturação de seus sintomas. Sendo do lugar do Outro que sua mensagem é emitida, esse Outro inicialmente seria a mãe fálica, depois ao constatar que a mãe não o tem, seja com a ameaça de não ter ou a nostalgia da falta a ter, a lei emitida pelo nome-do-pai, quando introduzida, produz seus efeitos de estruturação do sujeito, que se posiciona diante do significante falo, no lugar de ser ou ter. Ter ou não ter o falo não é a mesma coisa que ter ou não ter o pênis, sendo assim, a castração se daria sobre o gozo, a questão de ter ou não ter é regida pelo complexo de castração:

Em ambos os casos, a questão do ter ou não ter é regida - mesmo naquele que, no fim, tem o direito de tê-lo, ou seja, o varão - por intermédio do complexo de castração. Isso supõe que, para tê-lo, é preciso que haja um momento em que não tem. Não chamaríamos o que está em jogo de complexo de castração se, de certa maneira, isso não pusesse em primeiro plano que, para tê-lo, primeiro é preciso que tenha sido instaurado que não se pode tê-lo, de modo que a possibilidade de ser castrado é essencial na assunção do fato de ter o falo. (Lacan, 1958/1998Lacan, J. (1998). A significação do falo. In Escritos (pp. 692-703). Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1958)., pp. 192-193)

O falo como objeto de castração está sempre circulando na relação com o objeto, e é a partir da posição de não tê-lo que nos lançamos na relação com o outro, nesse lugar de falta que interrogamos o que o Outro quer, só se ama partindo dessa posição, supondo que o Outro tenha o que não temos: o falo. O que enlaça é essa suposição de saber no Outro, que é efeito desse lugar de falta.

Se é por consequência da castração que o sujeito supõe que o Outro tem algo que ele não tem, é também por efeito desta que o sujeito se interroga: o que o Outro quer de mim? Colocando-se na posição de objeto, objeto causa de desejo.

Na lógica do amor, ser objeto do Outro é um desejo

Lacan nos apresenta no seminário XX as fórmulas da sexuação, os modos de gozo do sujeito diante do falo. Vejamos como se dá tais operações a partir da tábua da sexuação disponível na Figura 2.

Figura 2
Tábua da sexuação

Nesse quadro, se posicionam todos os seres inseridos na linguagem. Vê-se na imagem quatro quadrantes, do lado esquerdo o que chamamos de gozo fálico, e o que se expressa no quadrante esquerdo superior como: para todo x, existe um x a quem a função fálica não se aplica (função paterna), por isso para todo x a função fálica se aplica. No quadrante superior direito, leia-se: para não todo x a função fálica não se aplica, por isso não todo x está inserido na função fálica. Os quadrantes inferiores tratam das relações dos sujeitos que se dão de modo suplementares. Ao lado inferior esquerdo, temos o gozo fálico, temos também o sujeito barrado e o falo, operador simbólico, o sujeito barrado está apontando para o objeto pequeno a, que está no quadrante inferior direito, junto com o sujeito e o A barrado, que representam o gozo do não todo fálico, apontando à infinitude, para esse gozo que está além do falo e que não se submete à lógica do simbólico.

O lado esquerdo inferior do quadrante aponta para o gozo que não cessa de se escrever, e o lado direito inferior, ao que não cessa de não se escrever. Na parceria (par-ceria) amorosa, a flecha de S aponta para o objeto pequeno a que está do lado do gozo não todo fálico, isso porque o sujeito que está operando nesse modo de gozo se coloca como objeto causa de desejo na relação (Lacan, 1972-73/2008Lacan, J. (2008). O seminário. Livro 20. Mais, ainda. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1972-73).).

Lacan (1958/1998)Lacan, J. (1998). A significação do falo. In Escritos (pp. 692-703). Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1958). afirma que, sendo um significante que designa os efeitos de um significado, o falo vela e desvela a falta estrutural do sujeito, tendo uma dupla função, tanto de dar realidade ao sujeito nesse significante quanto por irrealizar as relações a serem significadas. Assim os sujeitos inscritos do lado não todo, para ser o falo, precisam rejeitar uma parcela essencial de sua feminilidade, é pelo que a mulher não é que ela pretende ser desejada e amada, mas é no corpo daquele a quem sua demanda de amor é endereçada que ela encontra o significante de seu desejo, assumindo a posição que Lacan denomina de a mascarada. Lacan evidencia também que nessa experiência de desejo do Outro o que se faz decisivo não é o fato de o sujeito ter ou não o falo real, mas a experiência de constatar que a mãe não o tem, sendo esse o momento que possibilita os efeitos do complexo de castração e a conjunção do desejo, tendo o significante fálico como sua marca, com a ameaça de perdê-lo ou a nostalgia da falta de o ter. Sendo assim, mesmo para aqueles que se identificam como tendo o falo, quando se ama se opera nessa posição de falta, no gozo não todo, lado esquerdo da tábua da sexuação partindo deste questionamento sobre o que o Outro quer de mim. Consequentemente, posicionando-se nesse lugar de objeto causa de desejo (objeto a) na par-seria amorosa, o sujeito opera nesse lugar de objeto e encontra-se o significante do seu desejo no corpo do Outro.

Partindo de tais conceituações sobre o gozo, se faz possível lançar um olhar psicanalítico nas relações onde há violência psicológica ou física. Nelas, também esse modo de gozo opera, e o significante do desejo do sujeito pode ser encontrado no corpo do Outro, mesmo que esse Outro violente, humilhe, ou agrida, o que mais uma vez coloca em evidência o caráter insensato do desejo.

Considerações finais

Quando na atuação clínica um paciente chega com a queixa de vivenciar um relacionamento abusivo, no sentido popular do termo, com uma dinâmica relacional que envolve violência, seja qual for sua modalidade, é preciso que o analista tenha uma escuta sustentada pelo discurso psicanalítico, que se diferencia de um discurso jurídico ou moral e que possibilite que a escuta psicanalítica, que é sempre pautada no um a um, aconteça sem desconsiderar a relevância dos outros discursos, mas operando a partir de sua própria ética.

Para que um processo de análise tenha algum efeito, se faz necessário convocar o indivíduo que chega, e que, em alguns casos, chega respondendo do lugar de vítima que sofreu alguma modalidade de violência, há de se questionar sobre seu posicionamento na relação. Então, não é do lugar de vítima que o analista vai olhar esse sujeito, mas o que será trabalhado será a cena inconsciente que se apresenta e o modo como o sujeito se posiciona nessa cena, escutando não uma vítima, mas o íntimo daquela vida, deixando-se de olhar a vítima para olhar a vida íntima do sujeito que se apresenta.

O percurso que compôs a escrita deste trabalho se constituiu por elementos que estruturam essa cena inconsciente de todo sujeito atravessado pela linguagem, e nessa cena inconsciente constata-se que toda relação sujeito-objeto comporta algo de ab-usivo, já que nos relacionamos e nos direcionamos ao objeto e ao Outro, sempre na busca de uma satisfação, ainda que inconsciente e que é alcançada parcialmente, pois o objeto, por estrutura, já é um objeto perdido. É essa característica do insensato do desejo que nos permite compreender a permanência dos sujeitos em tais relações. Tal permanência traz notícias de um gozo, uma satisfação, mesmo que permeada por sofrimento psíquico. Gozo, que como citado anteriormente por Lacan (1972--73/2008Lacan, J. (2008). O seminário. Livro 20. Mais, ainda. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1972-73).) fazendo uso do conceito jurídico de usufruto, não deve ser usado em excesso, aqui se referindo ao gozo fálico, ao uso da linguagem emitida pelo Outro.

A psicanálise nos mostra que somos sujeitos estruturalmente divididos, efeito de nossa inserção na linguagem, que por si só comporta esse caráter ab-usivo/abusivo para o sujeito que nela está inserido, porque nela nos alienamos, mas é somente se alienando a um Outro que podemos nos separar, nos constituir como “um”, ainda que sempre nessa condição de divisão subjetiva. Kuss (2022)Kuss, A. (2022). A gente mira no amor e acerta na solidão. Planeta do Brasil. afirma que não concordamos com a gente mesmo, de modo que essa é a característica própria da neurose, porque amor, desejo e gozo não caminham juntos, mas se articulam entre si. Não caminham porque, ainda que o amor tente fazer de dois, “um”, o gozo nos dá notícias de nossa solidão e da impossibilidade da relação sexual. Lacan (1972-73/2008Lacan, J. (2008). O seminário. Livro 20. Mais, ainda. Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1972-73).) aponta que há “um”, mas que esse “um” só se aguenta pela essência do significante, deixando claro que alienação e separação se articulam, e que são processos constantes para o sujeito inserido na linguagem, e que também estamos nos alienando e separando o tempo todo.

A castração a qual somos submetidos no nível da linguagem, tanto nos aliena no Outro quanto nos separa e nos permite fazer “um”, “há um”, não sem o Outro. Se Lacan afirma que só o amor faz o gozo condescender ao desejo, é para dizer que o amor só se faz possível desse lugar de sustentação da falta, de objeto. Assim, quando amamos, é nesse lugar de objeto que estamos, sendo nesse deslizamento do gozo fálico para o não todo que uma par-seria amorosa se faz possível, mas não sem se aguentar certa dose de solidão, de ser “um”. O que me põe frente à questão de que nessas relações ab-usivas existe algo da ordem de um excesso de gozo, desse gozo fálico ao qual Lacan afirma que não serviria para nada, e que devemos fazer uso, mas não enxovalhá-lo.

Assim é preciso se separar, por vezes até para que se possa continuar numa par-seria amorosa. Na análise trata-se de se separar desse grande Outro, deixar que este grande Outro (representado pelo A) possa se desvanecer para que algo do sujeito tenha a possibilidade de se sustentar, algo do “um”. É nessa redução que a escuta analítica pode surtir efeitos, possibilitando que um indivíduo que chega na condição de vítima, e frequentemente de devastação, sustente algo do “um”, e que tendo notícias de seu modo de gozo, fique menos assujeitado a ele, à medida que suporta mais essa solidão do “um”, permitindo assim a possibilidade de sustentação de seu desejo. Enfatizo: menos assujeitado, porque somos assujeitados por estrutura, considerando que inseridos na linguagem, fazemos uso dela, e nela nos alienamos e nos assujeitamos, mas também é partindo dela que nos constituímos como sujeitos. Dela fazemos uso, e nela somos todos ab-“usados”.

  • 1
    Caro leitor, iremos produzir uma escrita por meio do neologismo par-seria a fim de produzir uma quebra de sentido na palavra do português parceria. A ideia com o neologismo é produzir o vacilo no sentido que constitui a ilusão amorosa que um casal ou parceiros tendem a produzir num cenário social e contempôraneo.

Agradecimentos

Agradeço ao professor Jonas Boni, que me orientou de forma que eu me encorajasse na escrita deste tema que me atravessa. À professora Soraya Souza que escutou de minha fala “abuso”, a palavra “ab-uso”, o que trouxe ressonâncias ao trabalho. À minha analista Rosangela Aparecida dos Santos, por possibilitar a minha própria escuta e, consequentemente, a minha escrita e sustentação de meu desejo com a causa psicanalítica.

Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Nov 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    03 Abr 2023
  • Revisado
    25 Maio 2023
  • Aceito
    04 Jun 2023
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