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Sobre as pestes, o desamparo e o desgoverno. Psicanálise e política, 1920 e 2020

On plagues, helplessness and misgovernment. Psychoanalysis and politics, 1920 and 2020

Sur les pestes, l’impuissance et la mauvaise administration. Psychanalyse et politique, 1920 et 2020

Sobre las pestes, el desamparo y el desgobierno. Psicoanálisis y política, 1920 y 2020

Para compreender melhor a percepção de desgoverno e o sentimento de desamparo que se alastraram no Brasil sob a Covid-19, este artigo examina dois momentos históricos relativos à interface peste-desamparo, das perspectivas psicanalítica e política. O primeiro momento trata do entrelaçamento entre vida e obra de Freud e culmina com sua experiência com a pandemia da gripe espanhola, em 1920; o segundo, trabalha a forma pela qual estamos lidando com o advento da pandemia do coronavírus, desde março de 2020, que — até o momento em que escrevo este artigo (janeiro de 2022) — matou mais de 600 mil brasileiros e trouxe o luto para mais de cinco milhões de famílias no mundo. A hipótese deste trabalho assevera que o sentimento de desamparo que estamos vivenciando desvela o negacionismo e o desgoverno que, inclusive, põem em xeque o estado democrático de direito no país.

Palavras-chave:
Psicanálise; política; luto; desamparo; desgoverno


Resumos

To better understand the widespread perception of misgovernment and helplessness in Brazil during the COVID-19 pandemic, this article examines two historic moments referring to the interface between plague and helplessness, from the psychoanalytic and political perspectives. Firstly, it addresses the intertwining between Freud’s life and work, culminating with his experience during the Spanish flu pandemic, in 1920. Secondly, it analyses the measures put in place to combat the coronavirus pandemic, since March 2020, which — until the moment I am writing this article (January 2022) — killed more than 600,000 Brazilians and left more than five million families around the world in mourning. This paper asserts that the feeling of helplessness unveils a state of denialism and misgovernment, which calls into question the Brazilian rule of law.

Key words:
Psychoanalysis; politics; grief; helplessness; misgovernment

Pour mieux comprendre la perception répandue de la mauvaise administartion et de l’impuissance au Brésil pendant la pandémie de Covid-19, cet article examine deux moments historiques liés à l’interface peste-impuissance, du point de vue psychanalytique et politique. Premièrement, il traite de l’imbrication entre la vie et l’œuvre de Freud, qui culmine avec son expérience pendant la pandémie de grippe espagnole en 1920. Deuxièmement, il analyse les mesures misen en place pour combattre la pandémie du coronavirus, depuis mars 2020, qui — jusqu’au moment de la rédaction de cet article (janvier 2022) — a fait plus de 600 000 victimes brésiliennes et endeuillé plus de cinq millions de familles dans le monde. Cet essai affirme que le sentiment d’impuissance dévoile un état de négationnisme et de mauvaise gouvernance, qui remet en question l’État de droit et la démocratie au Brésil.

Mots clés:
Psychanalyse; politique; deuil; impuissance; mauvaise administration


Para comprender mejor la percepción del desgobierno y del sentimiento de desamparo en Brasil durante la crisis del Covid-19, este artículo examina dos momentos históricos relacionados con la interfaz peste-desamparo, desde un punto de vista psicoanalítico y político. El primer momento trata del entrelazamiento entre la vida y la obra de Freud y culmina con su experiencia con la pandemia de gripe española en 1920. El segundo momento se refiere a la forma en que estamos lidiando con el advenimiento de la pandemia de Coronavirus desde marzo de 2020 que, al momento de redactar este artículo (enero de 2022), ha causado más de 600.000 víctimas brasileñas y dejado más de cinco millones de familias en todo el mundo. Este ensayo se basa en el supuesto de que el sentimiento de desamparo que experimentamos se debe a la negación del Covid y al desgobierno. Además, estas dos razones han representado una amenaza para el estado de derecho y la democracia en Brasil.

Palabras clave:
Psicoanálisis; política; duelo; desamparo; desgobierno


Para Manoel Tosta Berlinck, que tinha vocação para profissões impossíveis.

Este artigo lança mão da psicanálise e da ciência política para compreender melhor o sentimento de desamparo e a sensação de desgoverno que pairam no ar, no Brasil, desde 2020, devido ao comportamento errático do presidente Jair Bolsonaro, durante a pandemia da Covid-19 — cuja fala desorganiza a política e cujas ações mais se assemelham a um acting-out — e à incapacidade do governo para implementar políticas eficazes de combate ao coronavírus. Para isso, resgata, primeiramente, a experiência pessoal de Freud e de construção da sua obra, até o momento em que a gripe espanhola se espalhara na Europa (1920), contextualizando, como pano de fundo, sua frase “Minha vida só tem interesse em sua relação com a psicanálise” (Mannoni, 1994, p. 23Mannoni, O. (1994). Freud, uma biografia ilustrada. Jorge Zahar.). Em seguida, lida com os impactos do negacionismo, da desorganização da política e do esfacelamento de políticas públicas, que produzem o sentimento de desamparo e ameaçam o regime democrático no Brasil. A última parte apresenta algumas considerações (inconclusivas).

Autoanálise, luto e desamparo

As pestes não são novidades na nossa história. Sobre elas nos chegaram relatos que nos aproximam de situações e estados de alma semelhantes aos que vivenciamos hoje, que vêm desde o Antigo Testamento, passando pelas peças de Shakespeare, pelos ensaios de Montaigne, pela literatura de Camus e por Tucídides — que foi o primeiro a registrar a peste que ocorreu, entre os anos de 430 a 426 a.C., em Atenas. Aliás, a própria tragédia de Édipo Rei — a partir da qual Freud nos brindou com a noção de complexo de Édipo — aconteceu em Tebas, enquanto o deus maléfico da peste1 1 http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000024.pdf Acesso em 26 dez. 2021. Sobre esse tema, ver também Penna, Carla, “Luto Coletivo e Pandemia. Encontro Teórico-Clínico” promovido pelo Instituto Sedes Sapientiae, em 24 de junho de 2020. Comentários de Éline Batistella. https://www.youtube.com/watch?v=-PsHJRW2ikU&feature=youtu.be devastava a cidade ameaçada.

Sobre a questão do complexo de Édipo, Freud comentou em carta enviada em 15 de outubro de 1897 ao amigo Wilhelm Fliess, pela primeira vez, como tal noção foi emergindo da elaboração de suas representações pessoais e de acordo com a evolução de seu próprio complexo paterno (Mezan, 1985, p. 266Mezan, R. (1985). Freud, pensador da cultura. Brasiliense.), para se inscrever na psicanálise: “Uma única ideia de valor geral despontou em mim. Descobri, também em meu próprio caso, o fenômeno de me apaixonar por mamãe e ter ciúme de papai, e agora o considero um acontecimento universal” (Masson, 1985, p. 272Masson, J. M. (Ed.). (1985). The letters of Sigmund Freud to Wilhelm Fliess, 1887-1904. The Belknap Press Harvard University Press.)2 2 O trecho original (Masson, 1985, p. 272), de onde extraí esta tradução livre, é: “A single idea of general value dawned on me. I have found, in my own case too, [the phenomenon of] being in love with my mother and jealous of my father, and I now consider it a universal event in early childhood”. . Assim, ao mesmo tempo em que a noção do complexo de Édipo nascia de sua autoanálise3 3 Vale notar que a noção de autoanálise de Freud causou algum debate entre psicanalistas contemporâneos. De um lado, Lacan (2003, p. 258) e Mannoni (1994), por exemplo, para quem Fliess ocupou a função de analista, consideram a autoanálise de Freud a “análise original”, que possibilitou o avanço da clínica e da teoria psicanalítica; de outro lado, Porge (1998, p. 8), para quem o papel de Fliess como interlocutor de Freud não lhe parecia demasiado claro, a ideia de “análise original” tem pouca valia. para se inscrever na psicanálise como conceito, Freud se lançava na estrada para o inconsciente que os sonhos lhe ofereciam para escrever A interpretação dos sonhos (1900/1968b).

Passados quase trinta anos do envio de suas primeiras impressões sobre o complexo de Édipo a Fliess, Freud relembrou em sua autobiografia (escrita em 1924 e publicada no Brasil pela primeira vez em 1934) como se deu seu primeiro encontro clínico com o complexo de Édipo:

Quando tive de reconhecer que estas cenas de sedução nunca existiram e não eram sinão [sic] fantasias imaginadas por meus pacientes, fiquei por algum tempo desamparado [...].

Voltando a mim, tirei da minha experiência conclusões justas: os sintomas neuróticos não se fixavam diretamente a acontecimentos reais, mas a fantasmas de desejos; para a neurose a realidade psíquica tinha mais importância do que a realidade mental. [...]

Encontrei aqui pela primeira vez o complexo de Édipo que devia, em seguida, adquirir uma significação dominante, mas que ainda não consegui reconhecer sob um disfarce tão fantástico. (Freud, 1924/1934, pp. 70-71Freud, S. (1934). Minha vida e a psicanálise. Atlantida Editora. (Trabalho originalmente publicado em 1924).)

Assim como o complexo de Édipo, outra questão fundamental à psicanálise, o luto, também veio à tona a partir de um momento singular vivenciado por Freud: a morte de seu pai, Jacob Freud, em 23 de outubro de 1896. Um dia após o enterro de o velho (the old man, como Freud o chamava), em Viena, Freud expressou seu sentimento de profunda angústia, depressão e pesar, em carta datada de 26 de outubro de 1896, ao escrever para Fliess: “Tudo isso aconteceu em meu período crítico, e estou realmente muito abatido por causa disso” (Masson, 1985, p. 202Masson, J. M. (Ed.). (1985). The letters of Sigmund Freud to Wilhelm Fliess, 1887-1904. The Belknap Press Harvard University Press.). No prefácio da 2ª edição de A interpretação dos sonhos (1900[1908]/196b), Freud também observou que “Este livro é a minha reação ao fato mais importante, à perda mais pungente que ocorre na vida de um homem; a morte de meu pai”.4 4 O trecho completo que aparece na Standard Edition (1968, Vol. 4, p. xxvi), de onde extraí esta tradução livre, é: “For this book has a further subjective significance for me personally — a significance which I only grasped after I had completed it. It was, I found, a portion of my own self-analysis, my reaction to my father’s death, that is to say, to the most important event, the most poignant loss of a man’s life”.

Desta forma, refexões sobre estados de apaixonamento (pela mãe) e de ciúme (pelo pai), ou sobre a morte e o desamparo, levaram Freud a prosseguir em sua aventura solitária que a autoanálise lhe abrira caminho, como forma de lidar com a perda do pai, o luto e a depressão. Segundo Mezan (1999)Mezan, R. (28 nov. 1999). A descoberta revolucionária de Freud. Caderno +mais!, Folha de S.Paulo., tal aventura contemplava não apenas a exploração de um psiquismo singular, com as experiências, lembranças e fantasias próprias a Freud, mas, principalmente, a teorização em uma escala mais abrangente, que buscava extrair desse material absolutamente pessoal características constantes que pudessem ser válidos para todos. Nestes termos, vale notar que a própria noção de desamparo — (Hilflosigkeit), conceito que apareceu pela primeira vez em seu “Projeto para uma psicologia científica” (1895/1968a) — ressoa como advindo de uma vivência de Freud, que fora por ele teorizada como parte da sentimentalidade basal de todos nós.

Nestes termos, podemos pensar que além de ajudar a consolidar o campo psicanalítico, as “teorias experienciadas” por Freud trouxeram à baila aspectos metodológicos importantes, que visavam distinguir, de maneira mais clara, a psicanálise tanto da filosofia, da religião e da política, quanto da sociologia, que estava sendo criada na virada do século XIX para o XX. Isso significa dizer que, enquanto a sociologia de Marx, de Durkheim ou de Weber lançavam olhar “para fora” — ou seja, para o mundo do fetiche da mercadoria e da luta de classes, das estatísticas ou das instituições, respectivamente —, a psicanálise tomava como referencial preponderante o olhar que Freud lançara para “dentro de si”, para, a partir daí, trazer luz à complexidade que caracteriza os mecanismos psíquicos que nos afetam a todos. Talvez por esse motivo, Roudinesco tenha chamado nossa atenção para o fato de que Freud nunca considerou a psicanálise uma visão de mundo (Weltanschauung)5 5 Conferência XXXV, de 1933. — que, no seu ver, sempre esteve “contaminada pelo discurso filosófico, a religião e o engajamento político, isto é, por todo tipo de ilusões e outras construções do espírito que a razão científica — e logo a psicanálise — tinham por dever descontruir” (Roudinesco, 2016, p. 399Roudinesco, E. (2016). Sigmund Freud, na sua época e em nosso tempo. Zahar.). Neste sentido, a frase de Freud, pinçada por Octave Mannoni (1994)Mannoni, O. (1994). Freud, uma biografia ilustrada. Jorge Zahar., quando ele diz: “Minha vida só tem interesse em sua relação com a psicanálise” (p. 23), parece refetir o entrelaçamento entre vida do criador e construção de sua obra, no qual evocações e confdências passam a se articular para dar contorno aos conceitos fundantes da psicanálise e sentido à descoberta do inconsciente. Por isso, continua Mannoni, como Freud, “graças a ele, e de todo modo depois dele, acabaríamos por encontrar aí as próprias bases da psicanálise, a começar pelo Édipo, como as encontramos em todos, e em nós mesmos” (p. 23).

Assim, se do entrelaçamento entre vida e obra do fundador nascem as próprias bases da psicanálise, podemos pensar com Leite (1999)Leite, S. da C. (1999, julho). Considerações sobre a experiência psicanalítica. Acheronta. Revista de Psicoanálisis y Cultura (9). Recuperado de: <https://www.acheronta.org/acheronta9/experiencia.htm>.
https://www.acheronta.org/acheronta9/exp...
que, também na clínica contemporânea, “cada processo pessoal de efetivação de uma prática psicanalítica carrega o modo singular de construção da experiência original”.

Vida, morte e psicanálise

A partir do trabalho desenvolvido pelos primeiros discípulos de Freud — como Fedem, Stekel etc. —, a psicanálise, que nascera com ele, foi construindo um arcabouço teórico e clínico cada vez mais robusto. Sobre esse tema, Freud escreveu em sua autobiografia: “para mim, a psicanálise divide-se em dois períodos: no primeiro estava só e com a missão de executar todo o trabalho, isso de 1895-96 a 1906 ou 1907. No segundo, de então até hoje, as contribuições de meus alunos e colaboradores não cessaram de crescer em importância” (1924/1934, p. 123). Desde então, a psicanálise e o mundo da vida, como diria Habermas (2012)Habermas, J. (2012). Teoria do agir comunicativo, 2 vols. Martins Fontes., vêm passando por mutações importantes, constantes e intensas. Num plano mais geral, podemos dizer que a gripe espanhola, o câncer, as guerras e o advento do nazismo acarretaram profundas transformações não apenas para a vida de Freud, mas também para a transmissão de seu pensamento e para o próprio campo psicanalítico. Já, no âmbito mais específico do pensamento freudiano, uma transformação de enorme importância nos fora ofertada com a publicação de “Além do princípio do prazer”, em 1920, fundando a segunda tópica.

Vale observar, porém, que antes de escrever essa obra Freud já demonstrara um verdadeiro “pavor da morte” (Jones, 1957, p. 279Jones, E. (1957). The life and work of Sigmund Freud. Vol. 3 – The last phase: 1919-1939. Basic Books.) e “temia morrer antes da mãe” (Roudinesco, 2016, p. 237Roudinesco, E. (2016). Sigmund Freud, na sua época e em nosso tempo. Zahar.). Mas esse medo que Freud expressava de diversas maneiras era compartilhado por alguns de seus discípulos de forma quase anedótica. Numa dessas passagens, comenta-se que: “nos primeiros anos de nossa convivência ele tinha o hábito desconcertante de se despedir dizendo: ‘Adeus, pode ser que você não me veja nunca mais’” (Jones, 1957, p. 279Jones, E. (1957). The life and work of Sigmund Freud. Vol. 3 – The last phase: 1919-1939. Basic Books.).6 6 “Even in the early years of our acquaintance he had the disconcerting habit of parting with the words “Goodbye; you may never see me again”. Tradução livre. Noutra passagem, há a menção de que Freud acreditava piamente em seus cálculos de que “estava destinado a morrer aos 51 anos, e depois aos 60 ou 62” (Gay, 2012, p. 75Gay, P. (2012). A biografia definitiva. Freud, uma vida para o nosso tempo. Companhia das Letras.); Jones complementou essa informação contando que, quando 1918 acabou (e ele não morreu), Freud teria dito a Sándor Ferenczi, que se tornara seu discípulo mais próximo: “isso só mostra que não podemos confar no supernatural” (Jones, 1955, p. 392Jones, E. (1955). The life and work of Sigmund Freud. Vol. 2 – 1901-1919. Years of maturity. Basic Books.).7 7 “That shows what little trust one can place in the supernatural”. Tradução livre. Talvez esse medo da morte tenha sido alimentado pela ameaça constante que a doença (a sua) e a peste (gripe espanhola) impunham à vida na virada para o século XX, especialmente para alguém que possuía, como Freud, um olhar clínico de médico.

Contudo, Freud também compartilhava com seus discípulos notícias sobre a vida e os netos. Por exemplo, quando Ernest nasceu — o primeiro filho de Sophie (sua segunda filha) —, Freud escreveu num cartão postal para Ferenczi, em 11 de maio de 1914: “Na noite passada, por volta das três horas, um menininho como primeiro neto! Muito admirável. Um sentimento antigo, respeito diante das maravilhas da sexualidade!” (Gay, 2012, p. 317Gay, P. (2012). A biografia definitiva. Freud, uma vida para o nosso tempo. Companhia das Letras.).8 8 Anos depois, Ernst ficou conhecido como o autor de Fort-Da — conceito que ajudou Freud a desenvolver a teoria da repetição-compulsão. Noutra oportunidade, quando Heinz Rudolf (Heinele), o segundo filho de Sophie completou quatro anos, em abril de 1923, Freud escreveu num cartão postal, dirigido novamente a Ferenczi: “Meu netinho aqui é a criança mais espirituosa dessa idade” (Gay, 2012, p. 426Gay, P. (2012). A biografia definitiva. Freud, uma vida para o nosso tempo. Companhia das Letras.). Vale notar, porém, infelizmente, que momentos alegres assim, Freud viria a contar nos dedos de uma mão. De fato, da virada para o século XX até a morte de Sándor Ferenczi (em 2 de maio de 1933), perdas dolorosas foram se acumulando na vida de Sigmund Freud.

Uma das mortes mais profundamente sentidas por ele aconteceu há 100 anos (em 25 de janeiro de 1920), quando sua filha Sophie, que era chamada em família por “Sunday child” (Jones, 1957, p. 19Jones, E. (1957). The life and work of Sigmund Freud. Vol. 3 – The last phase: 1919-1939. Basic Books.), morreu, em Hamburgo, aos 27 anos, durante a pandemia da gripe espanhola; seus dois filhos, Ernest e Heinele, ficaram sob os cuidados de Mathilde, a filha mais velha de Freud, e seu marido, Robert Hollitscher. Como Roudinesco (2016)Roudinesco, E. (2016). Sigmund Freud, na sua época e em nosso tempo. Zahar. observou, o vírus da gripe espanhola, “proveniente da China, alcançou os Estados Unidos e, após uma passagem pela Espanha e uma mutação, espalhou-se na Europa, em poucos meses, provocou uma hecatombe ainda mais sinistra que a dos combates” (p. 237) da Primeira Guerra Mundial.

Em carta datada do dia da morte de Sophie, Freud encaminhou mensagem de pesar para Max Halberstadt, seu genro, agora, viúvo, dizendo “que foi um ato brutal e sem sentido do destino que nos privou da nossa Sophie, algo que não nos permite fazer acusações nem ruminações, mas que nos obriga a abaixar a cabeça sob o golpe, como pobre ser humano abandonado, entregue ao jogo de poderes superiores” (Schroter et al., 2021, p. 509Schroter, M. et al. (2021) (Org.). Sigmund Freud, cartas aos filhos. Civilização Brasileira.). Em carta endereçada a Max, no dia seguinte da morte de Sophie (26 de janeiro de 1920), Freud observou que, “ao que parece, Sophie levou a infecção [pneumonia gripal] da clínica para casa” (Schroter et al., 2021, p. 511Schroter, M. et al. (2021) (Org.). Sigmund Freud, cartas aos filhos. Civilização Brasileira.), permitindo a suposição de que Sophie, “debilitada por conta dos efeitos de uma gravidez indesejada” (Roudinesco, 2016, p. 238Roudinesco, E. (2016). Sigmund Freud, na sua época e em nosso tempo. Zahar.), não foi levada para o hospital devido à gripe, e que “o motivo de sua internação poderia ter sido um aborto” (Schroter et al., 2021, p. 511, n. 2Schroter, M. et al. (2021) (Org.). Sigmund Freud, cartas aos filhos. Civilização Brasileira.).9 9 A questão do aborto tocou mais uma vez a família, quando Eva Freud (1924-1944), neta de Freud (filha de Oliver e Henny), morreu em Marselha em consequência de uma septicemia decorrente de um aborto (Roudinesco, 2016, p. 457, n. 185). Na mesma carta, Freud toca no tema da pandemia ao lamentar sobre a impossibilidade dele e Martha viajarem a Hamburgo (onde os Halberstadts moravam), “em razão do fechamento das redes ferroviárias” (Roudinesco, 2016, p. 238Roudinesco, E. (2016). Sigmund Freud, na sua época e em nosso tempo. Zahar.), dizendo “estamos mesmo prisioneiros” (Schroter et al., 2021, p. 510Schroter, M. et al. (2021) (Org.). Sigmund Freud, cartas aos filhos. Civilização Brasileira.).10 10 Vale notar que sua filha Mathilde viajou com o marido, Robert Hollitscher, a Hamburgo em 29 de janeiro de 1920, devido a uma autorização emitida por Karel Frederik Wenckebach, médico amigo da família (Schroter, 2021, p. 510, n. 1).

Desconsolado com a morte da filha, Freud escreveu para Pfster em 26 de janeiro de 1920: “Ela desapareceu em quatro ou cinco dias como se nunca tivesse existido” (Jones, 1957, p. 19Jones, E. (1957). The life and work of Sigmund Freud. Vol. 3 – The last phase: 1919-1939. Basic Books.).11 11 “She was blown away [in four or five days] as if she had never been”. Tradução livre. “A brutalidade sem véu da época nos oprime. Nossa pobre criança agraciada pelos deuses será cremada amanhã [...]. Sophie deixa dois filhos, de seis anos e de treze meses [...]. Guerra, ocupação, ferimento, evaporação de sua fortuna — mas eles [Sophie e Max] haviam permanecido corajosos e alegres” (Roudinesco, 2016, p. 238Roudinesco, E. (2016). Sigmund Freud, na sua época e em nosso tempo. Zahar.). Para Ferenczi, Freud disse pessoalmente: E quanto a nós? Minha mulher está devastada. Eu penso: La séance continue. Mas foi um tanto demais” (Jones, 1957, p. 19Jones, E. (1957). The life and work of Sigmund Freud. Vol. 3 – The last phase: 1919-1939. Basic Books.).12 12 “And for us? My wife is quite overwhelmed. I think: La séance continue. But it was a little much”. Tradução livre.

Três anos após a morte de Sophie, em 25 de abril de 1923, Freud recebeu a notícia de que havia sido diagnosticado com um câncer, que o obrigou a remover a mandíbula e o palato direito. Poucos meses depois (em 19 de junho de 1923), Freud perdeu Heinele — filho de Sophie —, que morreu de tuberculose. Novamente desolado, Freud se comunicou com Ferenczi, dizendo que Heinele era “realmente uma pessoa encantadora, e eu mesmo sei que dificilmente algum dia amei um ser humano, e certamente nunca uma criança, tanto quanto a ele” (Gay, 2012, p. 426Gay, P. (2012). A biografia definitiva. Freud, uma vida para o nosso tempo. Companhia das Letras.). Em depoimento a Ernest Jones, Robert Hollitscher, marido de Mathilde, disse que a morte de Heinele “foi a única ocasião na vida que Freud se debulhou em lágrimas” (Jones, 1957, p. 92Jones, E. (1957). The life and work of Sigmund Freud. Vol. 3 – The last phase: 1919-1939. Basic Books.).13 13 “It was the only occasion in his life when Freud was known to shed tears”. Tradução livre. Depois da morte do neto, Jones afirma que Freud “nunca mais conseguiu ser feliz”; ele próprio disse a Jones, certa vez: “Esse é o segredo da minha indiferença — que as pessoas chamam de coragem — em relação ao perigo da minha própria vida” (Jones, 1957, p. 92Jones, E. (1957). The life and work of Sigmund Freud. Vol. 3 – The last phase: 1919-1939. Basic Books.).14 14 “Since his death he had not been able to enjoy life. It is the secret of my indifference – people call it courage — toward the danger of my own life”. Tradução livre. “Para seu amigo Oskar Rie, confessou que não conseguia superar a morte do garoto: ‘Ele significava o futuro para mim e assim levou o futuro consigo’” (Gay, 2012, p. 426Gay, P. (2012). A biografia definitiva. Freud, uma vida para o nosso tempo. Companhia das Letras.).

Peste, desgoverno e psicanálise

Freud nos ensinou que a noção de desamparo primordial (Hilflosigkeit) faz parte da sentimentalidade basal de todos nós. Inspirados nesse ensinamento, nesta parte buscamos mostrar que, no século XXI, o sentimento comum de desamparo advém também de uma espécie de trauma coletivo pelo qual todos estamos passando, desde 11 de março de 2020, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) elevou o estado de contaminação pelo novo coronavírus como pandemia. A partir daí, o desamparo de todos nós adquiriu um sentido singular.

No caso do Brasil, especificamente, tal singularidade refere-se não apenas ao uso político que a administração Jair Bolsonaro vem fazendo da pandemia, mas principalmente à maneira errática através da qual políticas ineficazes vêm sendo implementadas. De fato, dessa combinação (uso político da pandemia e implementação de políticas ineficientes) nasce uma espécie de “regime de ação pura” (Herrmann, 1992, p. 89Herrmann, F. (1992). O que é psicanálise?. Brasiliense.), que Herrmann também denominou de “regime do atentado” (2001), e que preferimos chamar de desgoverno. No desgoverno, a falta de cuidados com a vida humana é a própria figura do desamparo; e o pano de fundo do sentimento de desamparo é o negacionismo — entendido como sistema de intenções ocultas, de descrédito ao conhecimento e de apego apaixonado à mentira.

Tudo isso significa dizer que, na prática, a propaganda contra a saúde pública no Brasil, que ainda mobiliza notícias falsas e informações sem comprovação científica, através de um discurso político regado de argumentos ideológicos, morais e negacionistas, ao desacreditar as autoridades sanitárias e esfacelar a política de direitos humanos, transforma a estupidez em discurso oficial (Dias, 2020Dias, M. M. (2020). O discurso da estupidez. Iluminuras.; Kupermann, 2021Kupermann, D. (30 de Maio de 2021). O negacionismo atrapalha adoção de medidas sanitárias, O Estado de S.Paulo, A23.).

Desde o início da pandemia, a lógica de destruição das políticas de saúde e de direitos humanos vem se acentuando, na medida em que o presidente decidiu radicalizar sua posição, lançando todas as suas fichas na negação da gravidade do coronavírus. Um desdobramento dessa estratégia tomou a forma do que Avritzer (2021)Avritzer, L. (2021). Política e antipolítica nos dois anos de governo Bolsonaro. In L. Avritzer, F. Kerche, & M. Marona (Orgs.), Governo Bolsonaro: retrocesso democrático e degradação política (pp. 13-20). Autêntica. denominou de “antipolítica” (p. 15); com ela, emergiu a radicalização de um discurso que, para engajar suas bases, transformou a política num campo de batalha, na tentativa de não só destruir as pontes que restam com outras instituições, mas também promovendo a desconstrução de qualquer condição de governabilidade — que, como sabemos, requer negociação permanente com outros poderes, partidos políticos, agentes públicos e privados etc. Assim, além da antigovernabilidade e da antipolítica, Bolsonaro tornou-se também o porta-voz da estratégia pública da antivida (Avritzer, 2021, p. 15Avritzer, L. (2021). Política e antipolítica nos dois anos de governo Bolsonaro. In L. Avritzer, F. Kerche, & M. Marona (Orgs.), Governo Bolsonaro: retrocesso democrático e degradação política (pp. 13-20). Autêntica.). A estes termos, que não são correntes em ciência política, vale agregar dois outros, que denominei em outro trabalho de ingovernança e ingovernabilidade.

Nestes termos, há ingovernança quando o governo demonstra incapacidade para governar a sociedade tanto no sentido econômico (promovendo políticas que geram nada mais que recessão, aumento de infação e/ou crescente empobrecimento da população etc.) quanto no sentido social (implementando políticas que não fazem valer os direitos de cidadania), apesar de possuir recursos para esse fim. De outro modo, há ingovernabilidade quando os poderes ou capacidades que a democracia requer para o governo conduzir a sociedade estão ausentes e/ou não são suficientes — na medida em que está imbuído pela proporção da crise15 15 Adoto aqui o conceito de crise de Aguilar Villanueva (2009, p. 53, n. 12) para quem crise remete-nos a uma situação em que os problemas e conflitos da sociedade superam a capacidade de resposta do governo para encontrar novos princípios organizativos e instrumentos para estabelecer o bem-estar social e a ética na política. que experimenta (Assumpção-Rodrigues 2018, p. 38Assumpção Rodrigues, M. M. (2018). Revisitando o conceito de governança: uma discussão sobre o contexto democrático das políticas. In M. M. Assumpção Rodrigues (Org.), Governança, qualidade da democracia e políticas públicas (pp. 21-52). Editora UFRJ.). Da combinação entre ingovernaça e ingovernabilidade pode resultar um panorama catastrófico, já que a crise acaba extrapolando para além da instância da política.

No Brasil sob Bolsonaro, este contexto de crise política, ética e de valores só se aprofunda. Enquanto caminha para a cerca do Palácio do Planalto, o presidente profere “absurdos lógicos, insulta jornalistas e políticos e, dependendo da ocasião, seus próprios ministros” (Avritzer, 2021, p. 15Avritzer, L. (2021). Política e antipolítica nos dois anos de governo Bolsonaro. In L. Avritzer, F. Kerche, & M. Marona (Orgs.), Governo Bolsonaro: retrocesso democrático e degradação política (pp. 13-20). Autêntica.), produzindo, desta forma, nada mais que absoluta imprevisibilidade. Mesmo em eventos oficiais, a incontinência verbal do presidente e sua incapacidade de gerar estabilidade ou dizer alguma verdade sempre prepondera — o que gera também instabilidade política e insegurança social. Isso significa dizer que, a partir da geração abundante de fake news, o bolsonarismo faz o trabalho de degradação das instituições, inovando no quesito relativo ao conservadorismo tanto no conteúdo como na forma.

Ademais, a estratégia bolsonarista de usar e abusar das redes sociais, abre alas ao presidente para adotar sua tática de desgoverno que lhe permite estabelecer um canal próprio de comunicação com seus apoiadores. Desta forma, através do discurso ideológico e anti-institucional, Bolsonaro segue abandonando a premissa de governo virtuoso em troca da ideia de destruição das estruturas sociais do Estado e das bases públicas das políticas sociais (Avritzer, 2021, pp. 17-18Avritzer, L. (2021). Política e antipolítica nos dois anos de governo Bolsonaro. In L. Avritzer, F. Kerche, & M. Marona (Orgs.), Governo Bolsonaro: retrocesso democrático e degradação política (pp. 13-20). Autêntica.). Neste ponto, vale perguntar: pode a democracia do Brasil sobreviver a esse processo de destruição?

Creio que uma resposta a essa questão seria que, democracia que padece de forma tão extrema, assim, tende a sobreviver com muita, para não dizer com enorme dificuldade. Isso porque, pelo lado negacionista, Bolsonaro demonstra ser um excelente destruidor da política, de políticas públicas e de instituições políticas e, na base da destruição, enfrenta dificuldades que talvez se tornem intransponíveis para reorganizar as ações de governo.

Além disso, tendo o negacionismo como sua principal marca, Bolsonaro nega, inclusive, a ideia de qualquer forma de governo — não apenas do bom governo. Por tudo isso, o que parece estar havendo hoje no país é uma disjunção entre discurso ideológico-negacionista, que permanece sendo aprovado por muitos, e a avaliação de sua política deliberada em prol da disseminação do vírus no território nacional.

De fato, inspirados em Sándor Ferenczi (1933/2020)Ferenczi, S. (2020). Confusão de língua entre os adultos e as crianças. (A linguagem da ternura e da paixão). In S. Ferenczi, Obras completas. Psicanálise IV (pp. 111-121). Martins Fontes. (Trabalho originalmente publicado em 1933)., podemos pensar que o Brasil vive hoje uma confusão de línguas. A ciência preconiza uma coisa, o presidente defende outra coisa e o cidadão fica confuso. Sem consenso que dê sustentação a alguma verdade, o “negacionismo institucionalizado” (Kupermann, 2021Kupermann, D. (30 de Maio de 2021). O negacionismo atrapalha adoção de medidas sanitárias, O Estado de S.Paulo, A23.) cria tal confusão que só serve à irresponsabilização política (isto é, o contrário de accountbility) e à isenção de responsabilidade por parte dos tomadores de decisão e membros deste governo. Neste contexto, tal confusão atravessa e traumatiza o cidadão, principalmente quando seu direito à vida é ameaçado pelo estado (ou não reconhecido). Hoje, o Brasil é um país interrompido.

Na batalha pela vacina, por exemplo, Bolsonaro tem demonstrado absoluta incapacidade para governar, pois travar a guerra contra o coronavírus é travá-la num campo que não é o seu: o da governabilidade, o da política virtuosa e o da concertação das políticas públicas.

Porém, vale lembrar também que tal confusão, hoje, não é exclusivamente brasileira, pois, como nos lembrou Christopher Bollas (2021)Bollas, C. (2021). Os insatisfeitos na civilização. In D. Kupermann, A. de Staal, & H. Levine (Orgs), Psicanálise e vida covidiana. Desamparo coletivo, experiência individual (pp. 27-52). Blucher.:

Os movimentos populistas nos Estados Unidos [de Trump], Brasil, Reino Unido, Hungria, Filipinas e demais lugares revelam o quanto os processos democráticos são vulneráveis quando um grupo outrora racional — como uma nação — abandona suas estruturas ordinárias de governo, enquanto um número significativo da população sucumbe a processos psicologicamente perturbados de pensamento e ação. (p. 27)

Neste sentido, a combinação de ações políticas marcadas por características psicopatológicas por parte de quem as implementa, implica não só uma tragédia pessoal sem tamanho, mas, principalmente, uma tremenda tragédia social, na medida em que os rumos políticos de toda uma nação são desnorteados. Nesta situação, Bollas (2021)Bollas, C. (2021). Os insatisfeitos na civilização. In D. Kupermann, A. de Staal, & H. Levine (Orgs), Psicanálise e vida covidiana. Desamparo coletivo, experiência individual (pp. 27-52). Blucher. nos adverte que acontece

o que os psicanalistas chamam de uma “sobredeterminação” de sentidos. Covid, insanidade presidencial, matanças policiais, desemprego maciço e desordem civil imiscuíram-se em uma condensação maligna para produzir uma realidade mental impensável. A matriz que descrevi, apesar de muitas vezes tratar-se de um fenômeno psicológico, não é um sonho. É um evento no real: um pesadelo social movido por uma realidade social psicótica. Como Frantz Fanon [2008, p. 95] escreveu, podemos “ser sobredeterminados pela exterioridade”. (p. 28)

No caso do Brasil, tal sobredeterminação advém, em grande parte, de um comportamento errático para quem ocupa a presidência da República, que se expressa numa crença, através de atitudes e falas, que é marcada pela ausência de empatia, ausência de culpa e do contraditório, além de traços de compulsividade e crueldade, num ambiente onde tantas mortes, perdas e luto coletivo estão sendo experienciados.

Um efeito dessa crença é a certeza de uma outra realidade, inteiramente estruturada pela recusa do Outro como alteridade, que sustenta um quadro trágico de divisão — que é a própria separação da realidade social, com seus diferentes apelos e conflitos. “O fascínio dessa nova realidade”, afirma Dias, “é que, nela, o sujeito não precisa escolher” (pp. 45-46), nem pensar, nem fazer política. Por isso, “as seitas são o lugar em que a estupidez, como política, encontrará solo por onde disseminar seus princípios e realizar pactos sinistros” (p. 46). Nessa outra realidade, a disseminação do ódio (Sen, 2015Sen, A. (2015). Identidade e violência. A ilusão do destino. Iluminuras.) e do absurdo (Herrmann, 2006Herrmann, F. (2006). Andaimes do real: psicanálise da crença (2ª ed.). Casa do Psicólogo.) constrói o que Mauro Mendes Dias (2020)Dias, M. M. (2020). O discurso da estupidez. Iluminuras. denominou de discurso da estupidez, isto é, aquele que transforma o ódio e o absurdo em normalidade.

Assim, em termos psicanalíticos, a demanda dos sujeitos que vão buscar esse assujeitamento é efeito de ofertas de salvação, que o próprio discurso da estupidez oferece, “entendendo que aquilo que é operante na oferta de salvação não é apreendido no conjunto das obrigações e da moral” (Dias, 2020, p. 46Dias, M. M. (2020). O discurso da estupidez. Iluminuras.). Numa palavra, no âmbito da psicanálise, quando o ódio entra em ação e dá lugar ao discurso da estupidez, só a subversão desse discurso pode produzir algo novo.

Já, da perspectiva da teoria democrática (O’Donnell, 1991O’Donnell, G. (1991, out.). Democracia delegativa?, Novos Estudos CEBRAP, 31, 25-40.; 2011O’Donnell, G. (2011). Nuevas reflexiones acerca de la democracia delegativa (DD). In G. O’Donnell, O. Iazzetta, & H. Quiroga (Coords.), Democracia delegativa (pp. 19-33). Prometeo Libros.), discursos políticos que têm caráter resolutivo, que oferecem soluções finais ou definitivas, pertencem a um novo animal que Guillermo O’Donnell denominou democracia delegativa. Trata-se de um subtipo de democracia que não apenas tende a delegar demasiado poder ao presidente, mas no qual fatores históricos de longo prazo, somados às crises socioeconômicas profundas são mais que determinantes.

A democracia delegativa representa para o presidente a vantagem de não ter praticamente nenhuma obrigatoriedade de prestar contas (accountability) horizontalmente. Ela também tem a aparente vantagem de permitir uma elaboração rápida de políticas, mas à custa de uma alta probabilidade de erros grosseiros, de implementação incerta e de uma altíssima concentração da responsabilidade pelos resultados no presidente. Não é de surpreender que esses presidentes sofram vertiginosas variações em sua popularidade: hoje são aclamados como salvadores providenciais, amanhã são amaldiçoados como só acontece aos deuses caídos. (O’Donnell, 1991, p. 33O’Donnell, G. (1991, out.). Democracia delegativa?, Novos Estudos CEBRAP, 31, 25-40.)

Considerações finais ou À busca da verdade perdida

Por tudo o que foi exposto aqui, insisto sobre a necessidade de incluir a psicanálise para tratar do Real, do incompleto e da sensação de desgoverno que pairam no ar e resgatar o pensamento, a escuta e a invenção na tentativa de refundar a política. Para realizar essa tarefa, podemos recorrer a Hannah Arendt (2009a)Arendt, H. (2009a). O preconceito contra a política e o que é de fato política hoje. Preconceito e juízo. In H. Arendt, O que é política? Fragmentos das obras póstumas compilados por Ursula Ludz (8ª ed., pp. 21-37). Bertrand Brasil., para quem “ao se falar de política, em nosso tempo, é preciso começar pelos preconceitos que todos nós temos contra a política, e que os verdadeiros preconceitos podem ser reconhecidos, em geral, porque recorrem despreocupadamente a um ‘dizem’, ‘acham’, sem que, é claro, essa apelação precise ser apresentada de maneira expressa” (pp. 28-29).

Neste sentido, é preciso esclarecer também que desse “dizem-que-acham” não extraímos nenhuma verdade, pois isso só nos leva “à convicção de que o livre-conversar-sobre-alguma-coisa-com-outros não produz a realidade, mas sim o engano; não produz a verdade, mas sim a mentira. Em outras palavras, o enfoque desse dizem-que-acham (ou desse falar-sobre-ele-com-outros) nos afasta tanto da complexidade do conversar-sobre-alguma-coisa quanto da experiência sobre como a coisa acontece, de fato, no mundo” (Arendt, 2009b, pp. 60-61Arendt, H. (2009b). O sentido da política. In H. Arendt, O que é política? Fragmentos das obras póstumas compilados por Ursula Ludz (8ª ed., pp. 45-85). Bertrand Brasil.).

Além disso, vale enfatizar também que, para Arendt, tal “liberdade de se relacionar com muitos,16 16 Como, hoje, nas redes sociais. conversando, e de tomar conhecimento de muitas coisas que, em sua totalidade, são o mundo num dado momento, não era nem é, de maneira alguma, o objetivo da política”.17 17 Isso porque essa liberdade que Hannah Arendt menciona aqui se refere àquela que Leonardo Avritzer (2021, p. 15) denominou de antipolítica. Isso significa dizer que política e liberdade são idênticas sempre e onde não existe essa espécie de liberdade. Para Hannah Arendt (2009b)Arendt, H. (2009b). O sentido da política. In H. Arendt, O que é política? Fragmentos das obras póstumas compilados por Ursula Ludz (8ª ed., pp. 45-85). Bertrand Brasil., a liberdade que dá sentido à política é a liberdade do pensamento, da fala, da escuta e da invenção; é a “liberdade de falar um com o outro”, pois dessa liberdade é “que nasce o mundo sobre o qual se fala, em sua objetividade visível a todos os lados” (p. 60).

Da mesma forma, Robert Dahl (1997)Dahl, R. (1997). Poliarquia: participação e oposição. EDUSP. também propõe uma reflexão sobre as liberdades, notando que há diferenças entre elas. Uma, que é característica do contexto social e que independente das decisões de indivíduos isolados, é a liberdade de informação livre e pluralista; outras, de expressão e de associação, são as liberdades que se referem aos direitos subjetivos — os quais, segundo Guillermo O’Donnell (2017)O’Donnell, G. (2017). Dissonâncias. Críticas democráticas à democracia. (Mart Maria Assumpção Rodrigues, Trad.). Editora UFRJ, “formam parte da potestade do ego: seu direito a não ser impedido na sua intenção de realizar (ou não) as ações de se expressar ou de se associar a outros” (p. 80). Nestes termos, O’Donnell considera que o ego, enquanto ser social, está submerso num sistema legal que estabelece os mesmos direitos para todo outro alter, que proíbe ao ego desconhecê-los, negá-los ou violá-los; em uma palavra, o ego adquire direitos e obrigações tanto com respeito ao alter como com relação ao estado, independentemente de sua posição social.

Neste ponto, os pensamentos de Arendt e O’Donnell coincidem; afinal, o que importa é que a liberdade não é só um componente da cidadania política — equivalente aos direitos subjetivos civis “privado” — é também e principalmente um ato político; e esta não é uma matéria de opção individual: ego é um ser social constituído e configurado por direitos e obrigações, que implicam (e demandam legalmente) um sistema de reconhecimento mútuo, que o estado democrático promulga e sustenta, se for necessário, inclusive, através da coerção. Ademais, a coerção e a força legítimas do estado (Weber, 1978Weber, M. (1978). Economy and Society. University of California Press.) são (desde a constituição do estado moderno) meios para proteger, fundar e/ou ampliar o espaço político — e não para oprimir. Se não, quando a opção individual prepondera, rompe-se esse sistema de reconhecimento mútuo e, com ele, a democracia se rompe também. Além disso, vale sempre relembrar que o gozo da “liberdade individual” põe em risco a vida da coletividade, enquanto as “restrições” (ou, em psicanálise, a castração) podem significar o seguir da vida coletiva sem consequências malignas.

Neste contexto, Christopher Bollas (2021)Bollas, C. (2021). Os insatisfeitos na civilização. In D. Kupermann, A. de Staal, & H. Levine (Orgs), Psicanálise e vida covidiana. Desamparo coletivo, experiência individual (pp. 27-52). Blucher. nos adverte sobre os perigos da liberdade individual incontinente para a coletividade, quando diz: “um país desregulado é um viveiro de selves desregulados” (p. 37); inspirados nele diríamos: um viveiro de selves desregulados fazem um país desregulado. Tal desnorteamento tem por base a crença individual (ou aquela outra realidade que nos referíamos acima), que vocifera “não creio porque é verdade; mas é verdade porque creio” (Herrmann, 2006, p. 10Herrmann, F. (2006). Andaimes do real: psicanálise da crença (2ª ed.). Casa do Psicólogo.).

No caso brasileiro, reinventar a política implicaria ressignificar o espaço público, valorizar a liberdade que dá sentido à política e construir pontes éticas, de legitimidade e de saúde mental. E o que constrói pontes assim (que expandem direitos de cidadania) são, precisamente, as políticas públicas e a maneira pela qual são formuladas, implementadas e avaliadas. Tudo isso, porém, pleiteia uma expertise, uma sensibilidade e uma vocação para a política que, infelizmente, está ausente neste período em que estamos passando pela pandemia, no Brasil, desde 2020.

Isso quer dizer que, fazer a política que Arendt nos ensinou, requer não só lutar pela defesa e ampliação dos direitos de cidadania e das liberdades democráticas, mas significa também irmos além. Significa, sobretudo, buscar sempre — mas não apenas — reinventar padrões de responsabilização, segundo preceitos civilizatórios, que nos afaste da barbárie (Prado Jr., 2020Prado Junior, P. W. (jun. 2020). Após o fim do mundo: como se orientar no pensamento e na vida doravante?. Revista Percurso, 64, XXXII.), da estupidez (Dias, 2020Dias, M. M. (2020). O discurso da estupidez. Iluminuras.) e da cretinice coletiva (Franco, 2021Franco, G. (2021). Lições amargas. Uma história provisória da atualidade. Intrínseca. Coleção História Real.).

Por tudo o que foi dito até aqui, vale enfatizar que fazer a política que tem a liberdade como sentido, hoje, no Brasil, significa principalmente dar um primeiro passo para a inclusão do seu fracasso e, um segundo, na direção da transformação deste fracasso em sua causa para reinvenção (Dias, 2020, p. 93Dias, M. M. (2020). O discurso da estupidez. Iluminuras.). Deixar cair, com urgência e rigor, as respostas habituais aos nossos problemas (públicos e privados) é fundamental para novos padrões de responsabilização emergirem novamente, porque, sem eles, não podemos nem pensar em navegar nos desafos sociológicos, políticos e psicológicos do futuro. Por isso, com Christopher Bollas (2021)Bollas, C. (2021). Os insatisfeitos na civilização. In D. Kupermann, A. de Staal, & H. Levine (Orgs), Psicanálise e vida covidiana. Desamparo coletivo, experiência individual (pp. 27-52). Blucher., ecoando os maiores psicólogos políticos do século XX, Eric Fromm, e do século XXI, vale concluir este artigo afirmando que “a hora é sempre agora para renovarmos a busca de uma sociedade sã” (p. 52).

Uma digressão

Freud decidiu se afastar da barbárie e deixar Viena com a família só depois de cinco anos de o nazismo ter-se instaurado no poder. O estopim que levou para essa decisão foi o acontecimento de 22 de março de 1938, quando Anna Freud foi levada pela Gestapo para interrogatório. Depois disso, em menos de três meses, a família Freud consegue os vistos de entrada na Inglaterra e as licenças de trabalho com a ajuda de Ernest Jones; Marie Bonaparte paga a “taxa de 31.329 RM, posto que seus bens e sua conta bancária haviam sido confscados” (Roudinesco, 2016, p. 459Roudinesco, E. (2016). Sigmund Freud, na sua época e em nosso tempo. Zahar.).

Em 4 de junho de 1938, Freud embarcou para a Inglaterra no Expresso Oriente com sua mulher Martha, com sua filha Anna, além de Paula, a secretária da família, e Josephine Stross — pediatra que substituiria seu médico Max Schur, que permaneceu em Viena para se submeter a uma cirurgia de emergência. Ao atravessar o Reno, Freud teria exclamado: “Agora somos livres!” Em Paris, foram recebidos pela princesa Maria Bonaparte e, em Londres, pelo psicanalista britânico Ernest Jones (Roudinesco, 2016, pp. 460-462Roudinesco, E. (2016). Sigmund Freud, na sua época e em nosso tempo. Zahar.). Dezoito anos depois de a pandemia da gripe espanhola se instalar no continente europeu, Freud só encerrou sua prática psicanalítica, em 1º de agosto de 1939, em Londres. Em 25 de agosto daquele ano, lançou o último registro em seu diário: “Pânico de guerra” (Freud, 2000, p. 358Freud, S. (2000). Diário de Sigmund Freud – 1929-1939: crônicas breves/Freud Museum. Artes Médicas Sul.).

Em 29 de setembro de 1942, sua irmã Adolfine (Dolf) morreu de desnutrição no gueto ade Teresienstadt, e Maria (Mitzi), Pauline Regine (Paula) e Regine Debora (Rosa) morreram em campos de extermínio, entre 1942 e 1943 (Roudinesco, 2016, pp. 473-474Roudinesco, E. (2016). Sigmund Freud, na sua época e em nosso tempo. Zahar.).

  • 1
    Sobre esse tema, ver também Penna, Carla, “Luto Coletivo e Pandemia. Encontro Teórico-Clínico” promovido pelo Instituto Sedes Sapientiae, em 24 de junho de 2020. Comentários de Éline Batistella. https://www.youtube.com/watch?v=-PsHJRW2ikU&feature=youtu.be
  • 2
    O trecho original (Masson, 1985, p. 272Masson, J. M. (Ed.). (1985). The letters of Sigmund Freud to Wilhelm Fliess, 1887-1904. The Belknap Press Harvard University Press.), de onde extraí esta tradução livre, é: “A single idea of general value dawned on me. I have found, in my own case too, [the phenomenon of] being in love with my mother and jealous of my father, and I now consider it a universal event in early childhood”.
  • 3
    Vale notar que a noção de autoanálise de Freud causou algum debate entre psicanalistas contemporâneos. De um lado, Lacan (2003, p. 258)Lacan, J. (2003). Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola. In Outros Escritos (pp. 248-264). Jorge Zahar. e Mannoni (1994)Mannoni, O. (1994). Freud, uma biografia ilustrada. Jorge Zahar., por exemplo, para quem Fliess ocupou a função de analista, consideram a autoanálise de Freud a “análise original”, que possibilitou o avanço da clínica e da teoria psicanalítica; de outro lado, Porge (1998, p. 8)Porge, E. (1998). Freud/Fliess – mito e quimera da auto-análise. Jorge Zahar., para quem o papel de Fliess como interlocutor de Freud não lhe parecia demasiado claro, a ideia de “análise original” tem pouca valia.
  • 4
    O trecho completo que aparece na Standard Edition (1968, Vol. 4, p. xxvi), de onde extraí esta tradução livre, é: “For this book has a further subjective significance for me personally — a significance which I only grasped after I had completed it. It was, I found, a portion of my own self-analysis, my reaction to my father’s death, that is to say, to the most important event, the most poignant loss of a man’s life”.
  • 5
    Conferência XXXV, de 1933.
  • 6
    “Even in the early years of our acquaintance he had the disconcerting habit of parting with the words “Goodbye; you may never see me again”. Tradução livre.
  • 7
    “That shows what little trust one can place in the supernatural”. Tradução livre.
  • 8
    Anos depois, Ernst ficou conhecido como o autor de Fort-Da — conceito que ajudou Freud a desenvolver a teoria da repetição-compulsão.
  • 9
    A questão do aborto tocou mais uma vez a família, quando Eva Freud (1924-1944), neta de Freud (filha de Oliver e Henny), morreu em Marselha em consequência de uma septicemia decorrente de um aborto (Roudinesco, 2016, p. 457, n. 185Roudinesco, E. (2016). Sigmund Freud, na sua época e em nosso tempo. Zahar.).
  • 10
    Vale notar que sua filha Mathilde viajou com o marido, Robert Hollitscher, a Hamburgo em 29 de janeiro de 1920, devido a uma autorização emitida por Karel Frederik Wenckebach, médico amigo da família (Schroter, 2021, p. 510, n. 1Schroter, M. et al. (2021) (Org.). Sigmund Freud, cartas aos filhos. Civilização Brasileira.).
  • 11
    “She was blown away [in four or five days] as if she had never been”. Tradução livre.
  • 12
    “And for us? My wife is quite overwhelmed. I think: La séance continue. But it was a little much”. Tradução livre.
  • 13
    “It was the only occasion in his life when Freud was known to shed tears”. Tradução livre.
  • 14
    “Since his death he had not been able to enjoy life. It is the secret of my indifference – people call it courage — toward the danger of my own life”. Tradução livre.
  • 15
    Adoto aqui o conceito de crise de Aguilar Villanueva (2009, p. 53, n. 12)Aguilar Villanueva, L. F. (2009), Governanza y gestión pública. Fondo de Cultura Económica. para quem crise remete-nos a uma situação em que os problemas e conflitos da sociedade superam a capacidade de resposta do governo para encontrar novos princípios organizativos e instrumentos para estabelecer o bem-estar social e a ética na política.
  • 16
    Como, hoje, nas redes sociais.
  • 17
    Isso porque essa liberdade que Hannah Arendt menciona aqui se refere àquela que Leonardo Avritzer (2021, p. 15)Avritzer, L. (2021). Política e antipolítica nos dois anos de governo Bolsonaro. In L. Avritzer, F. Kerche, & M. Marona (Orgs.), Governo Bolsonaro: retrocesso democrático e degradação política (pp. 13-20). Autêntica. denominou de antipolítica.

Referências

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  • Arendt, H. (2009b). O sentido da política. In H. Arendt, O que é política? Fragmentos das obras póstumas compilados por Ursula Ludz (8ª ed., pp. 45-85). Bertrand Brasil.
  • Assumpção Rodrigues, M. M. (2018). Revisitando o conceito de governança: uma discussão sobre o contexto democrático das políticas. In M. M. Assumpção Rodrigues (Org.), Governança, qualidade da democracia e políticas públicas (pp. 21-52). Editora UFRJ.
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Editor/Editor: Prof. Dra. Sonia Leite

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Dez 2022
  • Data do Fascículo
    Set 2022

Histórico

  • Recebido
    07 Mar 2022
  • Aceito
    14 Jun 2022
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