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Planejamento da gravidez não interfere no desenvolvimento infantil de crianças de 11 a 23 meses* * Apoio financeiro do Núcleo Ciência pela Primeira Infância, Brasil.

Resumos

Objetivo:

analisar a relação entre desenvolvimento infantil e planejamento da gravidez e outros aspectos associados.

Método:

estudo transversal conduzido com 125 díades mãe-criança de 11 a 23 meses de idade, frequentadoras de creches localizadas em áreas socialmente desfavoráveis. O desenvolvimento infantil segundo domínios foi avaliado com aplicação do Ages & Stages Questionnaire-BR e o planejamento da gravidez por meio do London Measure of Unplanned Pregnancy. Mães foram entrevistadas nos domicílios e utilizou-se testes não paramétricos para análise dos dados.

Resultados:

verificou-se 17,6% de gravidez não planejada, 24,8% foram planejadas e 57,6% ambivalentes. O desenvolvimento inadequado nos diferentes domínios variou de 21-40% e não teve associação com o planejamento da gravidez. No entanto, o domínio “comunicação” associou-se com Bolsa Família; os domínios “pessoal/social” e “comunicação” com sexo; ao passo que “pessoal/social”, “coordenação motora ampla” e “coordenação motora fina” foram domínios relacionados com a idade da criança.

Conclusão:

não foi observada relação entre o planejamento da gravidez e o desenvolvimento infantil, porém, a baixa frequência de gestações planejadas e os elevados percentuais de inadequado desenvolvimento infantil mostram a necessidade de se investir na capacitação dos profissionais de saúde, tanto para a atenção em contracepção e saúde pré-concepcional, quanto para a promoção do desenvolvimento infantil, especialmente em contextos socioeconômicos desfavoráveis.

Descritores:
Desenvolvimento Infantil; Gravidez Não Planejada; Saúde da Criança; Saúde da Mulher; Saúde Materno-Infantil; Enfermagem de Atenção Primária


Objective:

to analyze the correlation between child development and pregnancy planning and other associated aspects.

Method:

a cross-sectional study conducted with 125 mother-child dyads, the children aged from 11 to 23 months old and attending daycare centers located in socially disadvantaged areas. Child development according to domains was assessed using the Ages & Stages Questionnaire-BR and pregnancy planning was evaluated through the London Measure of Unplanned Pregnancy. The mothers were interviewed at their homes and non-parametric tests were used for data analysis.

Results:

17.6% of the pregnancies were unplanned, 24.8% were planned and 57.6% were ambivalent. Inadequate development in the different domains ranged from 21% to 40% and was not associated with pregnancy planning. However, the “communication” domain was associated with Bolsa Família and the “personal/social” and “communication” domains, with gender; while “personal/social”, “broad motor coordination” and “fine motor coordination” were domains related to the child’s age.

Conclusion:

no correlation between pregnancy planning and child development was observed; however, the low frequency of planned pregnancies and the high percentages of inadequate child development show the need to invest in the training of health professionals, both for contraceptive care and preconception health and for the promotion of child development, especially in socioeconomically disadvantaged contexts.

Descriptors:
Child Development; Unplanned Pregnancy; Child Health; Women’s Health; Maternal and Child Health; Primary Care Nursing


Objetivo:

analizar la relación entre el desarrollo infantil y la planificación del embarazo y otros aspectos asociados.

Método:

estudio transversal realizado con 125 díadas madre e hijo de 11 a 23 meses, que concurren a guarderías infantiles ubicadas en zonas socialmente desfavorables. El desarrollo infantil de acuerdo con los dominios se evaluó mediante el Ages & Stages Questionnaire-BR y la planificación del embarazo mediante la London Measure of Unplanned Pregnancy. Las madres fueron entrevistadas en sus domicilios y se utilizaron pruebas no paramétricas para el análisis de los datos.

Resultados:

se registró que 17,6% de los embarazos no fue planificados, 24,8% fue planificado y 57,6% ambivalente. El desarrollo inadecuado en los diferentes dominios osciló entre el 21% y el 40% y no estaba asociado con la planificación del embarazo. Sin embargo, el dominio “comunicación” se asoció con Bolsa Familia; los dominios “personal/social” y “comunicación” con el sexo; mientras que los dominios “personal/social”, “coordinación motora gruesa” y “coordinación motora fina” estaban relacionados con la edad del niño.

Conclusión:

no se observó relación entre la planificación del embarazo y el desarrollo infantil, sin embargo, la baja frecuencia de embarazos planificados y los altos porcentajes de desarrollo infantil inadecuado demuestran que es necesario invertir en la capacitación de los profesionales de la salud, tanto para la atención sobre anticoncepción y salud preconcepcional, como para la promoción del desarrollo infantil, especialmente en contextos socioeconómicos desfavorables.

Descriptores:
Desarrollo Infantil; Embarazo no Planeado; Salud del Niño; Salud de la Mujer; Salud Materno-Infantil; Enfermería de Atención Primaria


Introdução

O desenvolvimento infantil envolve o crescimento físico, a maturação neurológica e a aquisição de funções cognitivas e psicossociais(11 Black MM, Walker SP, Fernald LCH, Andersen CT, DiGirolamo AM, Lu C, et al. Early childhood development coming of age: science through the life course. Lancet. 2017;389:77-90. doi: http://doi.org/10.1016/S0140-6736(16)31389-7
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). Nos países de baixa e média renda, proporção elevada de crianças menores de cinco anos de idade não atinge seu potencial de desenvolvimento, com prejuízo na capacidade de aprendizagem e nas habilidades sociais e emocionais, com impactos negativos na qualidade de vida futura(22 Britto PR, Lye SJ, Proulx K, Yousafzai AK, Matthews SG, Vaivada T, et al. Nurturing care: promoting early childhood development. Lancet. 2017;389(10064):91-102. doi: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(16)31390-3
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).

Muitas variáveis têm sido associadas ao desenvolvimento infantil, como as condições sociais(33 Oliveira CLVR, Palombo CNT, Toriyama ATM, Veríssimo MOR, Castro MC, Fujimori E. Health inequalities: child development in different social groups. Rev Esc Enf USP. 2019;53:1-10. doi: https://doi.org/10.1590/s1980-220x2018037103499
https://doi.org/10.1590/s1980-220x201803...
-44 Nelson CA, Scott RD, Bhutta ZA, Harris NB, Danese A, Samara M. Adversity in childhood is linked to mental and physical health throughout life. BMJ. 2020 Oct 28;371:m3048. doi: https://doi.org/10.1136/bmj.m3048
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), a escolaridade e trabalho materno(55 Donald KA, Wedderburn CJ, Barnett W, Nhapi RT, Rehman AM, Stadler JAM, et al. Risk and protective factors for child development: an observational South African birth cohort. PLoS Med. 2019;16(9):1-20. doi: https://doi.org/10.1371/journal.pmed.1002920
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-66 Díaz A, Bacallao Gallestey J, Vargas-Machuca R, Aguilar Velarde R. Child development in poor areas of Peru. Child development in poor areas of Peru. Rev Panam Salud Publica. 2017;41:e71. doi: https://doi.org/10.26633/RPSP.2017.71
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), a idade da mãe(77 Falster K, Hanly M, Banks E, Lynch J, Chambers G, Brownell M, et al. Maternal age and offspring developmental vulnerability at age five: a population-based cohort study of Australian children. PLoS Med. 2018;15(4):32-49. doi: https://doi.org/10.1371/journal.pmed.1002558
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) e a atenção pré-natal(88 Liu X, Behrman JR, Stein AD, Adair LS, Bhargava SK, Borja JB, et al. Prenatal care and child growth and schooling in four low- and medium-income countries. PLoS One. 2017 Feb 3;12(2):e0171299. doi: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0171299
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), além de variáveis inerentes à criança como idade, sexo e prematuridade ao nascer(55 Donald KA, Wedderburn CJ, Barnett W, Nhapi RT, Rehman AM, Stadler JAM, et al. Risk and protective factors for child development: an observational South African birth cohort. PLoS Med. 2019;16(9):1-20. doi: https://doi.org/10.1371/journal.pmed.1002920
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). Ressalta-se que a interação da criança com outras pessoas e com o ambiente social é a base para o desenvolvimento de aptidões que continuarão ao longo da vida(44 Nelson CA, Scott RD, Bhutta ZA, Harris NB, Danese A, Samara M. Adversity in childhood is linked to mental and physical health throughout life. BMJ. 2020 Oct 28;371:m3048. doi: https://doi.org/10.1136/bmj.m3048
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).

O desenvolvimento infantil é um processo que se inicia na concepção, mas a associação entre o planejamento da gravidez e o desenvolvimento infantil tem sido pouco analisada. No Reino Unido, estudo de coorte revelou que crianças cujas mães relataram ter gestações não planejadas apresentavam pior desenvolvimento cognitivo aos três e cinco anos de idade, mas essa associação desapareceu quando ajustada por variáveis socioeconômicas(99 Carson C, Kelly Y, Kurinczuk JJ, Sacker A, Redshaw M, Quigley MA. Effect of pregnancy planning and fertility treatment on cognitive outcomes in children at ages 3 and 5. BMJ. 2011;343:1-9. doi: https://doi.org/10.1136/bmj.d4473
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). No Brasil, a única pesquisa que investigou essa relação evidenciou que não é o planejamento, mas sim a aceitação da gravidez, que se associa com o desenvolvimento infantil, de forma que filhos de mulheres que não aceitaram a gestação apresentavam maior dificuldade no desenvolvimento da linguagem e da coordenação motora-fina aos quatro anos, comparados a crianças de mães que aceitaram a gestação até o 4º mês(1010 Marin AH, Falceto OG, Collares M, Lorenzzoni PL, Ferrando JO, Fernandes CLC, et al. Unwanted pregnancy and children development at four years of age in Vila Jardim, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brazil. Rev Bras Med Fam Comunidade. 2012;7(25):240-6. doi: https://doi.org/10.5712/rbmfc7(25)533
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). Em outra coorte do Reino Unido, verificou-se também que crianças cujas mães relataram não ter desejado a gravidez apresentavam menor escore de desenvolvimento socioemocional aos cinco anos de idade(1111 Saleem HT, Surkan PJ. Parental pregnancy wantedness and child social-emotional development. Matern Child Health J. 2014;18(4):930-8. doi: https://doi.org/10.1007/s10995-013-1320-z
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). Na Índia, crianças de sete e oito anos que nasceram de mulheres com gravidez não intencional tiveram piores resultados na avaliação de vocabulário, habilidades matemáticas e leitura(1212 Singh A, Upadhyay AK, Singh A, Kumar K. The association between unintended births and poor child development in India: evidence from a longitudinal study. Stud Fam Plann. 2017;48(1):55-71. doi: https://doi.org/10.1111/sifp.12017
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). Entretanto, estudo norte-americano não encontrou qualquer associação entre intenção de engravidar e o desenvolvimento infantil cognitivo ou socioemocional(1313 Joyce TJ, Kaestner R, Korenman S. The effect of pregnancy intention on child development. Demography. 2000;37(1):83-94. doi: https://doi.org/10.2307/2648098
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).

É importante ressaltar que os estudos citados usaram estratégias diferenciadas para mensurar o que se chamou de intenção de engravidar, o que pode limitar a comparação e contribuir para a inconsistência dos achados. No entanto, há instrumentos que incorporam aspectos fundamentais do planejamento de uma gravidez, que envolve desejo, intenção, apoio do parceiro e medidas relacionadas à concepção, tal como o London Measure of Unplanned Pregnancy(1414 Barrett G, Wellings K. What is a “planned” pregnancy? Empirical data from a British study. Soc Sci Med. 2002;55(4):545-57. doi: https://doi.org/10.1016/s0277-9536(01)00187-3
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), o qual encontra-se traduzido e validado para uso no Brasil(1515 Borges ALV, Barrett G, Santos OA, Chofakian CBN, Cavalhieri FB, Fujimori E. Evaluation of the psychometric properties of the London Measure of Unplanned Pregnancy in Brazilian Portuguese. BMC Pregnancy Childbirth. 2016;16(1):1-8. doi: https://doi.org/10.1186/s12884-016-1037-2
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) e em outros países(1616 Goossens J, Verhaeghe S, Van Hecke A, Barrett G, Delbaere I, Beeckman D. Psychometric properties of the Dutch version of the London Measure of Unplanned Pregnancy in women with pregnancies ending in birth. PLoS One. 2018;13(4):e0194033. doi: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0194033
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). Desta forma, considerando a disponibilidade de um instrumento de medida confiável do planejamento da gravidez e que há controvérsias quanto à associação com o desenvolvimento infantil, este estudo teve como objetivo analisar a relação entre desenvolvimento infantil e planejamento da gravidez e outros aspectos associados.

Método

Delineamento do estudo

Estudo transversal que integrou uma investigação mais ampla intitulada “Programa BEM (Brincar Ensina a Mudar): o brincar na rotina diária para a promoção do desenvolvimento infantil”.

Local do estudo

As famílias participantes foram recrutadas em Centros de Educação Infantil (CEI) de um distrito periférico do município de São Paulo, área socialmente desfavorável, com quase 7 mil famílias em extrema pobreza, mais de 15,5 mil famílias cadastradas em programas de distribuição de renda e mais de 15% de grávidas adolescentes(1717 Prefeitura do Município de São Paulo. ObservaSampa. Observatório de Indicadores da Cidade de São Paulo. Indicadores por região. [Internet]. 2019 [cited 2021 Apr 1]. Available from: http://observasampa.prefeitura.sp.gov.br/?AspxAutoDetectCookieSupport=1
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).

Participantes

Os sujeitos da pesquisa foram mães e seus filhos de 11 a 23 meses de idade. Participaram do estudo, 125 díades que cumpriram os critérios de elegibilidade: crianças com idade entre 11 e 23 meses no momento do recrutamento, matriculadas nos CEI selecionados, cuja mãe biológica era responsável pelo cuidado diário. O critério de exclusão foi a criança apresentar condições clínicas que interferem no curso típico do desenvolvimento infantil.

Variáveis do estudo

O desenvolvimento infantil (DI), variável dependente do estudo, foi avaliado por meio da versão brasileira do Ages & Stages Questionnaire (ASQ-BR)(1818 Filgueiras A, Pires P, Maissonette S, Landeira-Fernandez J. Psychometric properties of the Brazilian-adapted version of the Ages and Stages Questionnaire in public child daycare centers. Early Hum Dev. 2013;89:561-76. doi: https://doi.org/10.1016/j.earlhumdev.2013.02.005
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), destinado à avaliação de crianças de seis a 60 meses de idade. O instrumento é composto por 18 questionários, um para cada intervalo etário, e avalia o desenvolvimento infantil em cinco domínios: a) comunicação, b) coordenação motora ampla, c) coordenação motora fina, d) resolução de problemas, e) pessoal/social. Para crianças nascidas prematuramente, utilizou-se o ajuste de idade(1818 Filgueiras A, Pires P, Maissonette S, Landeira-Fernandez J. Psychometric properties of the Brazilian-adapted version of the Ages and Stages Questionnaire in public child daycare centers. Early Hum Dev. 2013;89:561-76. doi: https://doi.org/10.1016/j.earlhumdev.2013.02.005
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). Todos os questionários apresentam a mesma estrutura, composta por cinco blocos, um para cada domínio, com seis questões cada, de maneira que ao final, há um total de 30 perguntas. As questões são específicas para avaliar determinada atividade, com possibilidade de três respostas: “sim”, caso a criança consiga realizar a atividade todas as vezes; “às vezes”, quando nem sempre a criança consegue realizar a atividade com êxito; “ainda não” quando a criança não consegue ou nunca realizou a atividade(1818 Filgueiras A, Pires P, Maissonette S, Landeira-Fernandez J. Psychometric properties of the Brazilian-adapted version of the Ages and Stages Questionnaire in public child daycare centers. Early Hum Dev. 2013;89:561-76. doi: https://doi.org/10.1016/j.earlhumdev.2013.02.005
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). Para cada domínio, a criança obtém uma pontuação entre 0 e 60, que é classificada por faixa etária como “desenvolvimento infantil adequado” ou “desenvolvimento infantil inadequado”. O ASQ-BR tem adequada consistência interna, os distintos questionários utilizados na pesquisa para cada faixa etária apresentaram Alfa de Cronbach ≥ 0,60.

O planejamento da gravidez, variável independente principal, foi mensurado por meio da versão brasileira do London Measure of Unplanned Pregnancy (LMUP)(1515 Borges ALV, Barrett G, Santos OA, Chofakian CBN, Cavalhieri FB, Fujimori E. Evaluation of the psychometric properties of the London Measure of Unplanned Pregnancy in Brazilian Portuguese. BMC Pregnancy Childbirth. 2016;16(1):1-8. doi: https://doi.org/10.1186/s12884-016-1037-2
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). Trata-se de um instrumento composto por seis perguntas que se referem ao uso de anticoncepcionais, contexto da maternidade, intenção, desejo de ter um bebê, discussão com o parceiro e preparo pré-concepcional. Para cada uma das perguntas, as respostas podem variar de 0 a 2 pontos, de forma que, com a somatória dos pontos, é possível classificar a gravidez como planejada (10-12 pontos); ambivalente (4-9 pontos) ou não planejada (0-3 pontos). A LMUP apresenta adequada consistência interna com Alfa de Cronbach = 0,813.

As covariáveis referiram-se às características socioeconômicas: faixa de renda familiar mensal (até 1 salário mínimo; entre 1 e 3 salários mínimos; mais de 3 salários mínimos), recebimento de Bolsa Família (sim/não), situação conjugal (com/sem companheiro), escolaridade da mãe em anos de estudo (5-9; 10-12; ≥13) e trabalho materno (empregada/desempregada); características maternas: idade no nascimento da criança em anos (≤19; 20-29; ≥30), número de filhos (1; >1), realização de pré-natal (sim/não), número de consultas pré-natais realizadas (<6; ≥6); e características infantis: idade da criança em meses (≤12; 13-15; 16-18; ≥19), sexo (masculino/feminino), prematuridade ao nascer (sim/não). Bolsa Família refere-se ao programa de combate à pobreza e à desigualdade do governo do Brasil, que inclui como um dos seus eixos um complemento de renda(1919 Presidência da República (BR), Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004. Cria o Programa Bolsa Família e dá outras providências. [Internet]. Diário Oficial da União, Brasília, 12 jan. 2004 [cited 2021 Apr 1]. Available from: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l10.836.htm
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). O número de consultas de controle pré-natal foi delimitado conforme recomendação do Ministério da Saúde, que considera 6 como número mínimo de consultas para um pré-natal adequado; e prematuridade ao nascer foi definida como a criança que nasceu antes de completar 37 semanas de gestação(2020 Ministério da Saúde (BR). Atenção ao pré-natal de baixo risco. [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2013 [cited 2021 Apr 1]. 318 p. (Cadernos de Atenção Básica, n° 32). Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_pre_natal_baixo_risco.pdf
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).

Coleta dos dados

A coleta dos dados foi realizada por meio de entrevistas previamente agendadas, realizadas no domicílio, com duração média de 1h30min, no período de julho de 2019 a março de 2020, por entrevistadores treinados, profissionais e estudantes de graduação da área da saúde, que utilizaram tablets com formulários inseridos no software REDCap (Research Eletronic Data Capture).

Análise dos dados

Para análise dos dados, utilizou-se o software Stata versão 15.0. Os resultados foram descritos por meio de frequências absolutas e relativas, médias (x) e desvios padrão (dp). Desenvolvimento infantil e planejamento da gravidez foram analisados como variáveis quantitativas contínuas, considerando-se que quanto maior a pontuação final, melhor foi o desenvolvimento infantil (0-60 pontos), da mesma forma que, quanto mais alta a pontuação final, maior foi o planejamento da gravidez (0-12 pontos). A distribuição normal das variáveis foi verificada com a aplicação do teste Shapiro-Wilk, adotando-se o nível de significância de 5%. As variáveis dependente (desenvolvimento infantil) e independente (planejamento da gravidez) não apresentaram distribuição normal, portanto foram utilizados os testes não paramétricos para amostras independentes Mann-Whitney (comparação de médias para variáveis qualitativas com duas categorias) e Kruskal-Wallis (comparação de médias para variáveis qualitativas com três ou mais categorias). Foi também utilizado o teste de correlação de Spearman para avaliar associação entre as variáveis dependente e independente. A magnitude do coeficiente da correlação foi interpretada como forte quando o valor foi igual ou maior do que 0,8; moderada quando o valor foi entre 0,6 e 0,7; razoável quando o valor foi entre 0,3 e 0,5 e fraca quando o valor foi menor do que 0,3(2121 Chan YH. Biostatistics 104: correlational analysis. Singapore Med J [Internet]. 2003 [cited 2021 Apr 1];44(12):614-9. Available from: https://www.sma.org.sg/smj/4412/4412bs1.pdf
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). O nível de significância adotado foi de 5%.

Aspectos éticos

O projeto da investigação mais ampla foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação José Luiz Egydio Setúbal, sob o parecer consubstanciado número 3.448.089.

Resultados

Apresentam-se na Tabela 1 as características socioeconômicas, maternas e infantis. Mais da metade das famílias tinha renda mensal de cerca de 1 a 3 salários mínimos (R$ 1000,00-3000,00); um quinto recebia Bolsa Família, três quartos das mulheres tinham companheiro, dois terços estavam empregadas, tinham média de 12,2 anos de estudo, no nascimento da criança estudada tinham média de 28,7 anos, mais da metade tinha mais de um filho, quase a totalidade fez pré-natal e, destas, a grande maioria realizou seis ou mais consultas. As crianças tinham média de 16,2 meses de idade, mais da metade era do sexo masculino e 8,8% nasceram prematuras.

Tabela 1
Características socioeconômicas, maternas e infantis dos participantes (n=125). São Paulo, SP, Brasil, 2020

No que se refere ao planejamento da gravidez (Tabela 2), 17,6% das mulheres não planejaram a gravidez; um quarto havia planejado e mais da metade das gravidezes foi classificada como ambivalente. Quanto ao desenvolvimento infantil, mais de 60% das crianças tinham desenvolvimento adequado em todos os domínios (DI adequado), com maior porcentagem no domínio “pessoal/social” (79,2%) e menor porcentagem no domínio “coordenação motora fina” (60,0%).

Tabela 2
Distribuição do planejamento da gravidez e do desenvolvimento infantil (n=125). São Paulo, SP, Brasil, 2020

A análise dos escores do planejamento da gravidez segundo as características socioeconômicas, maternas e infantis (Tabela 3) mostrou que mães que não recebiam Bolsa Família apresentavam média significativamente maior de escore de planejamento da gravidez (p=0,0271), da mesma forma que mães com companheiro (p=0,0013) e que fizeram 6 ou mais consultas pré-natais (p=0,0230). Verificou-se correlação positiva do planejamento da gravidez com escolaridade materna (p=0,0037) e idade da mãe no nascimento da criança (p=0,0004) e correlação negativa com número de filhos (0,0380).

Tabela 3
Distribuição dos escores do planejamento da gravidez segundo variáveis socioeconômicas, maternas e infantis (n=125). São Paulo, SP, Brasil, 2020

Os escores de todos os domínios do desenvolvimento infantil segundo variáveis socioeconômicas, maternas e infantis encontram-se na Tabela 4. No domínio “comunicação”, crianças de famílias que recebiam Bolsa Família e crianças do sexo feminino apresentaram média significativamente maior (p<0,05). Constatou-se correlação positiva dos domínios “coordenação motora ampla” e “coordenação motora fina” com a idade da criança (p<0,05). O domínio “resolução de problemas” não mostrou associação com nenhuma das variáveis analisadas, e no domínio “pessoal/social”, crianças do sexo feminino apresentaram média significativamente maior (p<0,05) e houve correlação positiva dessa variável com a idade da criança (p=0,0014).

Tabela 4
Distribuição dos escores dos domínios do desenvolvimento infantil segundo variáveis socioeconômicas, maternas e infantis (n=125). São Paulo, SP, Brasil. 2020

A análise de correlação entre o escore do planejamento da gravidez e os domínios do desenvolvimento infantil mostra que não houve associação estatisticamente significativa entre essas variáveis (p>0,05).

Tabela 5
Correlação entre o escore do planejamento da gravidez e os domínios do desenvolvimento infantil. São Paulo, SP, Brasil, 2020

Discussão

O presente estudo avaliou o planejamento da gravidez e o desenvolvimento infantil de crianças de 11 a 23 meses de idade e não constatou qualquer correlação entre essas variáveis. Este achado reitera resultados encontrados nos escassos estudos que avaliaram tal correlação no Reino Unido(99 Carson C, Kelly Y, Kurinczuk JJ, Sacker A, Redshaw M, Quigley MA. Effect of pregnancy planning and fertility treatment on cognitive outcomes in children at ages 3 and 5. BMJ. 2011;343:1-9. doi: https://doi.org/10.1136/bmj.d4473
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) e no Brasil(1010 Marin AH, Falceto OG, Collares M, Lorenzzoni PL, Ferrando JO, Fernandes CLC, et al. Unwanted pregnancy and children development at four years of age in Vila Jardim, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brazil. Rev Bras Med Fam Comunidade. 2012;7(25):240-6. doi: https://doi.org/10.5712/rbmfc7(25)533
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).

O planejamento da gravidez e o desenvolvimento infantil são temas de particular interesse para a enfermagem, considerando seu papel de destaque na atenção à saúde materno-infantil, especialmente na atenção primária à saúde. Quando se trata da saúde da criança, o acompanhamento do desenvolvimento infantil é uma ação prioritária e transversal dentre as ações desenvolvidas pelos profissionais de enfermagem que se inicia ainda no período pré-concepcional, se intensifica no pré-natal e se estende até as consultas de puericultura. Desta forma, os resultados do estudo contribuem para a prática da enfermagem ao fornecer conhecimento para subsidiar a longitudinalidade do cuidado e a promoção do desenvolvimento infantil antes, durante e depois da gravidez.

Destaca-se que o presente estudo utilizou um instrumento validado para mensurar o planejamento da gravidez(1414 Barrett G, Wellings K. What is a “planned” pregnancy? Empirical data from a British study. Soc Sci Med. 2002;55(4):545-57. doi: https://doi.org/10.1016/s0277-9536(01)00187-3
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), que também considera questões importantes na dinâmica da intencionalidade de engravidar, como a relação com o parceiro e as ambivalências, tendo em vista que nem sempre a mulher/casal consegue expressar claramente seus desejos e intenções reprodutivas(2222 Borrero S, Nikolajski C, Steinberg JR, Freedman L, Akers AY, Ibrahim S, et al. It just happens: A qualitative study exploring low-income women’s perspectives on pregnancy intention and planning. Contraception. 2014;91(2):150-6. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.contraception.2014.09.014
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). Assim, frente à falta de uniformidade nos termos e nas medidas empregadas para se avaliar o planejamento da gravidez em diversos estudos, considera-se que os resultados do presente estudo representam um avanço por ter utilizado um instrumento especificamente desenvolvido para medir o planejamento da gravidez, traduzido e validado para o contexto brasileiro(1515 Borges ALV, Barrett G, Santos OA, Chofakian CBN, Cavalhieri FB, Fujimori E. Evaluation of the psychometric properties of the London Measure of Unplanned Pregnancy in Brazilian Portuguese. BMC Pregnancy Childbirth. 2016;16(1):1-8. doi: https://doi.org/10.1186/s12884-016-1037-2
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).

Os resultados obtidos quanto ao planejamento da gravidez mostraram que apenas 25% das gestações haviam sido planejadas, proporção inferior ao 33% encontrado entre mulheres avaliadas no momento em que procuravam os serviços de saúde para confirmar a gravidez e obtinham resultado positivo(2323 Borges ALV, Cavalhieri FB, Hoga LAK, Fujimori E, Barbosa LR. Pregnancy planning: prevalence and associated aspects. Rev Esc Enferm USP. 2011;45(Esp2):1679-84. doi: https://doi.org/10.1590/s0080-62342011000800007
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) e associou-se especialmente com as variáveis socioeconômicas, não recebimento de Bolsa Família, situação conjugal e escolaridade da mãe, em acordo com os achados de outros estudos(2323 Borges ALV, Cavalhieri FB, Hoga LAK, Fujimori E, Barbosa LR. Pregnancy planning: prevalence and associated aspects. Rev Esc Enferm USP. 2011;45(Esp2):1679-84. doi: https://doi.org/10.1590/s0080-62342011000800007
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-2424 Coelho EAC, Andrade MLS, Vitoriano LVT, Souza JJ, Silva DO, Gusmão MEN, et al. Association between unplanned pregnancy and the socioeconomic context of women in the area of family health. Acta Paul Enferm. 2012;25(3):415-22. doi: https://doi.org/10.1590/S0103-21002012000300015
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) e condizente com as evidências de que as gestações não planejadas e não intencionais são mais frequentes em contextos de maior desvantagem social e econômica(2525 Dehlendorf C, Rodriguez MI, Levy K, Borrero S, Steinauer J. Disparities in family planning. Am J Obs Gynecol. 2010;202(3):214-20. doi: https://doi.org/10.1016/j.ajog.2009.08.022
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).

A baixa proporção de gestações planejadas indica a necessidade de intervenções com vistas a aumentar a sua ocorrência. Neste sentido, os profissionais de enfermagem têm um papel importante devido a que os espaços de promoção da saúde na atenção primária como as consultas de contracepção, coleta de citologia cervical, consulta pós-natal e atividades com adolescentes nas escolas, representam uma oportunidade valiosa para realizar a atenção contraceptiva e pré-concepcional adequadas(2626 Ojukwu O, Patel D, Stephenson J, Howden B, Shawe J. General practitioners’ knowledge, attitudes and views of providing preconception care: a qualitative investigation. Ups J Med Sci. 2016;121(4):256-63. doi: https://doi.org/10.1080/03009734.2016.1215853
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). Ademais, essas intervenções devem ser orientadas principalmente às mulheres de grupos sociais mais desfavorecidos(2727 Nascimento NC, Borges ALV, Fujimori E. Preconception health behaviors among women with planned pregnancies. Rev Bras Enferm. 2019;72(Suppl 3):17-24. doi: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0620
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), como destacam os resultados obtidos.

Não ter encontrado associação entre o planejamento da gravidez e o desenvolvimento infantil é um resultado significativamente favorável, pois indica que, ainda que o número de crianças nascidas de mulheres cuja gravidez foi classificada como não planejada seja elevado, essa condição não interfere no desenvolvimento infantil. É possível conjecturar que crianças cujas mães não planejaram a gravidez têm as mesmas possibilidades de alcançar seu potencial de desenvolvimento quando comparadas às crianças nascidas de mães que planejaram a gravidez.

Nesse âmbito, a discussão é se os efeitos da gestação não planejada nos resultados obstétricos e infantis descritos na literatura não advêm de outro elemento, que seria a aceitação da gravidez, como evidenciado em estudo brasileiro(1010 Marin AH, Falceto OG, Collares M, Lorenzzoni PL, Ferrando JO, Fernandes CLC, et al. Unwanted pregnancy and children development at four years of age in Vila Jardim, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brazil. Rev Bras Med Fam Comunidade. 2012;7(25):240-6. doi: https://doi.org/10.5712/rbmfc7(25)533
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). Assim, outro estudo(2828 Aiken ARA, Borrero S, Callegari LS, Dehlendorf C. Rethinking the pregnancy planning paradigm: unintended conceptions or unrepresentative concepts? Perspect Sex Reprod Health. 2016:48(3);147-51. doi: https://doi.org/10.1363/48e10316
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) instiga os estudiosos a repensarem se é mesmo o planejamento da gravidez, ou seja, algo que ocorre antes da concepção, que produz qualquer resultado adverso dessa gestação, seja no pré-natal, parto ou após o nascimento, ou se seria o fato de a mulher/casal aceitar uma gravidez em curso, independentemente se planejada ou não. Isso porque, ao aceitar a gravidez, as mulheres e casais têm a possibilidade de adotar comportamentos e tomar medidas para que a gravidez seja saudável. Portanto, é fundamental que as intervenções de enfermagem no período pré-natal incluam cuidados especiais no acompanhamento das famílias que não planejaram a gravidez, especialmente àquelas que não a aceitaram, com vistas a favorecer os resultados obstétricos e infantis.

É importante salientar também que há questionamentos sobre a validade das informações acerca da intenção de engravidar quando são obtidas após o nascimento, justificado pelo fato de que mães e pais se envolvem com os filhos e passam a considerar a gravidez como desejada, de forma que a medida da intenção da gravidez pode ter algum erro e as estimativas de seu efeito no desenvolvimento infantil podem ser tendenciosas(1313 Joyce TJ, Kaestner R, Korenman S. The effect of pregnancy intention on child development. Demography. 2000;37(1):83-94. doi: https://doi.org/10.2307/2648098
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). De toda forma, mesmo que a gravidez não tenha sido intencional, se os pais se envolvem com a gravidez, podem passar a considerá-la desejada, o que proporcionaria um envolvimento positivo ao desenvolvimento dos filhos.

A proporção de crianças que apresentaram desenvolvimento inadequado, nos diferentes domínios avaliados, corrobora resultados prévios para a população brasileira que constataram percentuais entre 17% e 30% de crianças com provável atraso no desenvolvimento(2929 Solís-Cordero K, Palombo CNT, Duarte LS, Munhoz RI, Toriyama ATM, Borges AV et al. Developmental surveillance in primary health care: absence of child development milestones and associated factors. Rev Bras Saude Mater Infant. 2020;20(4):925-34. doi: https://doi.org/10.1590/1806-93042020000400002
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). Ademais, reiteram as estimativas globais de que nos países de baixa e média renda, 43% das crianças menores de cinco anos correm o risco de não alcançar seu potencial máximo de desenvolvimento devido à extrema pobreza(3030 Lu C, Black MM, Richter LM. Risk of poor development in young children in low-income and middle-income countries: an estimation and analysis at the global, regional, and country level. Lancet Glob Health. 2016;4(12):e916-e922. doi: https://doi.org/10.1016/S2214-109X(16)30266-2
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). O elevado percentual de crianças com desenvolvimento inadequado chama a atenção para a necessidade de se continuar a investir na promoção do desenvolvimento infantil, com ações que favoreçam e fomentem o estabelecimento de interações adulto-criança fortes e duradouras.

Intervenções direcionadas à promoção da parentalidade positiva constituem ferramentas promissoras para melhorar as práticas parentais e o desenvolvimento infantil em países de baixa e média renda(3131 Jeong J, Pitchik HO, Yousafzai AK. Stimulation Interventions and Parenting in Low- and Middle-Income Countries: A Meta-analysis. Pediatrics. 2018;141(4):e20173510. doi: https://doi.org/10.1542/peds.2017-3510
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). Para tanto, é crucial que os profissionais da área da saúde, principalmente de enfermagem, tenham capacitação para acompanhar as famílias durante todo o processo de preparação para a chegada do bebê e, posteriormente, sejam capazes de reconhecer as situações de risco para o desenvolvimento da criança. Na atenção primária à saúde, os profissionais de enfermagem se destacam pela posição privilegiada de contato que mantêm com as crianças e familiares, especialmente durante os primeiros anos de vida(3232 Reticena KO, Yabuchi VNT, Gomes MFP, Siqueira LD, Abreu FCP, Fracolli LA. Role of nursing professionals for parenting development in early childhood: a systematic review of scope. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2019;27:e3213. doi: https://doi.org/10.1590/1518-8345.3031.3213
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), quando se estabelecem as bases para o adequado desenvolvimento cerebral. Dessa forma, os profissionais de enfermagem devem aproveitar a consulta de puericultura para orientar as famílias sobre a importância da interação adulto-criança, com envolvimento em atividades do seu cotidiano, de forma a contribuir para que a criança possa alcançar seu potencial máximo de desenvolvimento.

Associaram-se ao desenvolvimento infantil principalmente as variáveis infantis, pois dois domínios associaram-se ao sexo da criança e três mostraram correlação positiva com a idade, apesar de evidências consistentes apontarem expressiva influência do contexto social e econômico no desenvolvimento dos indivíduos, desde os primeiros anos de vida(3333 Boyce WT, Levitt P, Martinez FD, McEwen BS, Shonkoff JP. Genes, environments, and time: the biology of adversity and resilience. Pediatrics. 2021 Feb;147(2):e20201651. doi: https://doi.org/10.1542/peds.2020-1651
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). No presente estudo, constatou-se somente uma associação estatisticamente significativa com uma variável socioeconômica, qual seja, maior média do domínio da comunicação entre crianças de famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família. Esse achado resulta de especial interesse, pois parece sugerir uma contribuição positiva desse programa de transferência de renda a famílias em situação de extrema pobreza no desenvolvimento infantil. Pesquisas que avaliaram o impacto dos programas de transferência de renda focaram especialmente na nutrição das crianças: revisão que incluiu nove pesquisas primárias e duas revisões de literatura mostrou resultados positivos do Programa Bolsa Família na segurança alimentar, ingestão de alimentos e indicadores antropométricos das crianças(3434 Segura-Pérez S, Grajeda R, Perez-Escamilla R. Conditional cash transfer programs and the health and nutrition of Latin American children. Rev Panam Salud Publica [Internet]. 2016 [cited 2021 Apr 1];40(2):124-37. Available from: https://www.scielosp.org/article/rpsp/2016.v40n2/124-137/en/
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); pesquisa que avaliou o impacto do Programa Bolsa Família na escolaridade das crianças mostrou que o programa aumentou a participação das meninas na escola(3535 Brauw A, Gilligan DO, Hoddinott J, Roy S. The impact of Bolsa Família on schooling. World Dev. 2015;70:303-16. doi: https://doi.org/10.1016/j.worlddev.2015.02.001
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). Não ter observado associação entre desenvolvimento infantil e outras condições socioeconômicas aqui neste estudo poderia ser explicado pelo fato de as famílias apresentarem caraterísticas bastante similares, uma vez que as crianças frequentavam centros de educação infantil localizados em áreas socialmente desfavoráveis.

Destacam-se como limitações deste estudo o fato de as famílias terem sido recrutadas em apenas um distrito do município de São Paulo e a obtenção dos dados sobre o planejamento da gravidez ter ocorrido 11 a 23 meses após o nascimento da criança, que pode ter sofrido viés de memória, embora o LMUP tenha se mostrado um instrumento estável. Ademais, por se tratar de estudo transversal, não é possível determinar a relação causa-efeito dos resultados apresentados, o que resulta na necessidade da realização de estudos longitudinais.

Apesar dessas limitações, nossos resultados contribuem para ampliar o conhecimento, atualmente escasso, em relação à temática estudada. Além disso, este é um estudo pioneiro que analisou a associação entre o desenvolvimento infantil e o planejamento da gravidez, com uso de um instrumento validado para uso no Brasil(1515 Borges ALV, Barrett G, Santos OA, Chofakian CBN, Cavalhieri FB, Fujimori E. Evaluation of the psychometric properties of the London Measure of Unplanned Pregnancy in Brazilian Portuguese. BMC Pregnancy Childbirth. 2016;16(1):1-8. doi: https://doi.org/10.1186/s12884-016-1037-2
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). Para estudos futuros, é interessante investigar o vínculo ou a qualidade da interação entre a mãe e a criança, conforme a classificação do planejamento da gravidez (não planejada, ambivalente e planejada), e qual a influência que podem exercer no desenvolvimento infantil, buscando evidência que permita confirmar a hipótese de que a interação e o vínculo desde o período pré-natal influenciam o desenvolvimento infantil mais do que a condição do planejamento da gravidez. Como o presente estudo incluiu apenas crianças com idade entre 11 e 23 meses, poderia se considerar a inclusão de outras faixas etárias em investigações futuras.

Conclusão

Não se observou relação entre o planejamento da gravidez e o desenvolvimento infantil em crianças residentes em áreas socialmente desfavoráveis, de forma que o planejamento da gravidez não interfere no desenvolvimento infantil de crianças de 11 a 23 meses de idade, mas a baixa frequência de gestações planejadas e os elevados percentuais de inadequado desenvolvimento infantil mostram a necessidade de se investir na capacitação dos profissionais de saúde, tanto para a atenção em contracepção e pré-concepcional, quanto para a promoção do desenvolvimento infantil, especialmente em contextos socioeconômicos desfavoráveis.

  • *
    Apoio financeiro do Núcleo Ciência pela Primeira Infância, Brasil.

Agradecimentos

Agracedemos às famílias participantes, às coletoras de dados e ao Prof. Dr. Alberto Filgueiras e Prof. Dr. Jesus Landeira-Fernandez pela autorização do uso do ASQ-BR na pesquisa.

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Editado por

Editora Associada: Lucila Castanheira Nascimento

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Nov 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    01 Abr 2021
  • Aceito
    09 Set 2021
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