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Fatores associados ao risco de suicídio em estudantes de pós-graduação stricto sensu: estudo transversal* * Artigo extraído da dissertação de mestrado “Fatores associados ao risco de suicídio em pós-graduandos”, apresentada à Universidade Federal de Mato Grosso, Faculdade de Enfermagem, Cuiabá, MT, Brasil.

Resumos

Objetivo:

analisar os fatores associados ao risco de suicídio em estudantes de pós-graduação.

Método:

estudo transversal analítico, desenvolvido com 565 pós-graduandos stricto sensu de agosto a setembro de 2019. A coleta de dados ocorreu por meio de um instrumento validado contendo variáveis demográficas, socioeconômicas, de saúde e acadêmicas; do módulo C do Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI), versão 5.0; do questionário CAGE (Cut down, Annoyed by criticism, Guilty e Eye-opener) e Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse (DASS-21). Realizou-se análise estatística descritiva e múltipla com modelo de regressão de Poisson, nível de significância de 5%.

Resultados:

prevalência de 40,18% de risco de suicídio atual. Associaram-se com risco de suicídio atual as variáveis idade >30 anos (p=0,029), ausência de prática de fé (p=0,015), sintomas de depressão (p<0,001) ansiedade (p=0,018), uso de psicofármacos durante o curso (p<0,001), não ter um trabalho acadêmico significativo e inspirador (p=0,013), não ter uma boa relação com colegas da pós-graduação (p=0,033), ter relacionamento familiar prejudicado pelas demandas da pós-graduação (p=0,036) e preocupação com a situação financeira (p=0,048).

Conclusão:

identificou-se alta prevalência de risco de suicídio atual entre pós-graduandos e associação significativa deste risco com variáveis demográficas, socioeconômicas, acadêmicas e de saúde.

Descritores:
Suicídio; Risco; Fatores de Risco; Estudantes; Enfermagem; Educação de Pós-Graduação


Objective:

to analyze factors associated to suicide risk in postgraduate students.

Method:

a cross-sectional analytical study, developed with 565 stricto sensu postgraduate students from August to September 2019. Data collection took place using a validated instrument containing demographic, socioeconomic, health and academic variables; as well as variables of Module C of the Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI), version 5.0; of the CAGE (Cut down, Annoyed by criticism, Guilty and Eye-opener) questionnaire; and the Depression, Anxiety and Stress Scale (DASS-21). Descriptive and multiple statistical analysis was performed using the Poisson regression model, with a significance level of 5%.

Results:

40.8% prevalence of current suicide risk. The following variables were associated to current suicide risk: age > 30 years old (p=0.029), absence of faith (p=0.015), depression (p<0.001) and anxiety (p=0.018) symptoms, use of psychotropic drugs during the course (p<0.001), not having a meaningful and inspiring academic work (p=0.013), not having a good relationship with colleagues from the postgraduate school (p=0.033), having family relationship impaired by the demands of the postgraduate school (p=0.036) and concern about the financial situation (p=0.048).

Conclusion:

a high prevalence of current suicide risk was identified among postgraduate students, as well as a significant association of this risk with demographic, socioeconomic, academic and health variables.

Descriptors:
Suicide; Risk; Risk Factors; Students; Nursing; Graduate Education


Objetivo:

analizar los factores asociados al riesgo de suicidio en estudiantes de posgrado.

Método:

estudio analítico transversal, desarrollado con 565 estudiantes de posgrado stricto sensu de agosto a septiembre de 2019. La recolección de datos se realizó mediante un instrumento validado que contiene variables demográficas, socioeconómicas, de salud y académicas; Módulo C de la Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI), versión 5.0; el cuestionario CAGE (Cut down, Annoyed by criticism, Guilty e Eye-opener) y la Escala de Depresión, Ansiedad y Estrés (DASS-21). El análisis estadístico descriptivo y múltiple se realizó mediante el modelo de regresión de Poisson, con un nivel de significancia del 5%.

Resultados:

prevalencia del 40,18% del riesgo actual de suicidio. Las siguientes variables se asociaron con el riesgo de suicidio actual: edad >30 años (p=0,029), falta de fe (p=0,015), síntomas de depresión (p<0,001) ansiedad (p=0,018), uso de psicofármacos durante el curso (p<0,001), no tener un trabajo académico significativo e inspirador (p=0,013), no tener una buena relación con los compañeros de posgrado (p=0,033), tener una relación familiar deteriorada por las exigencias del posgrado (p=0,036) y preocupación por la situación financiera (p=0,048).

Conclusión:

se identificó una alta prevalencia de riesgo actual de suicidio entre los estudiantes de posgrado y una asociación significativa de este riesgo con variables demográficas, socioeconómicas, académicas y de salud.

Descriptores:
Suicidio; Riesgo; Factores de Riesgo; Estudiantes; Enfermería; Educación de Posgrado


Introdução

Na última década, pesquisadores têm voltado sua atenção para os graves problemas relacionados ao suicídio entre estudantes universitários, sobretudo, os da graduação(11 Santos HGB, Marcon SR, Espinosa MM, Baptista MN, Paulo PMC. Factors associated with suicidal ideation among university students. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2017;25:e2878. doi: 10.1590/1518-8345.1592.2878
https://doi.org/10.1590/1518-8345.1592.2...

2 Chang EC, Chang OD, Lucas AG, Li M, Beavan CB, Eisner RS, et al. Depression, loneliness, and suicide risk among latino college students: A test of a psychosocial interaction model. Social Work. 2019;64(1):51-60. doi: 10.1093/sw/swy052
https://doi.org/10.1093/sw/swy052...

3 Mortier P, Cuijpers P, Kiekens G, Auerbach RP, Demyttenaere K, Green JD, et al. The prevalence of suicidal thoughts and behaviours among college students: a meta analysis. Psychol Med. 2018;48(4):554-65. doi: 10.1017/S0033291717002215
https://doi.org/10.1017/S003329171700221...
-44 Li W, Dorstyn DS, Jarmon E. Identifying suicide risk among college students: a systematic review. Death Studies. 2020;4(7):450-8. doi: 10.1080/07481187.2019.1578305
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). Entretanto, mais recentemente, evidências quanto a vulnerabilidade para o comportamento suicida entre os pós-graduandos tem inquietado pesquisadores, profissionais de saúde, professores e instituições responsáveis por essa população em diferentes países como Estados Unidos(55 Garcia-Williams AG, Moffitt L, Kaslow NJ. Mental health and suicidal behavior among graduate students. Acad Psychiatry. 2014;38(2):111-248. doi: 10.1007/s40596-014-0041-y
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), China(66 Zeng B, Zhao J, Zou L,Yang X, Zhang X, Wang W, et al. Depressive symptoms, post-traumatic stress symptoms and suicide risk among graduate students: The mediating influence of emotional regulatory self-efficacy. Psychiatric Res. 2018;264:224-30. doi: 10.1016/j.psychres.2018.03.022
https://doi.org/10.1016/j.psychres.2018....
) e Brasil(77 Costa EG, Nebel L. How much is the pain worth? Study on the mental health of graduate students in Brazil. Polis. 2018;50:207-27. doi: http://dx.doi.org/10.4067/S0718-65682018000200207
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), principalmente, devido ao fato, de o ensino de pós-graduação stricto sensu possuir peculiaridades e gerar demandas que exercem grande influência na vida dos estudantes, predispondo ao sofrimento psíquico e adoecimento mental(77 Costa EG, Nebel L. How much is the pain worth? Study on the mental health of graduate students in Brazil. Polis. 2018;50:207-27. doi: http://dx.doi.org/10.4067/S0718-65682018000200207
http://dx.doi.org/10.4067/S0718-65682018...
-88 Eleftheriades R, Fiala C, Pasic MD. The challenges and mental issues of academic trainees. F1000Res. 2020;9:104. doi: 10.12688/f1000research.21066.1
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).

Nesse contexto, o sofrimento pode repercutir negativamente na saúde mental manifestando-se como mal-estar, sentimentos de angústia, estresse, ansiedade e tensão podendo assumir, inclusive, quadros mais graves de transtornos mentais, assim como o risco de suicídio(77 Costa EG, Nebel L. How much is the pain worth? Study on the mental health of graduate students in Brazil. Polis. 2018;50:207-27. doi: http://dx.doi.org/10.4067/S0718-65682018000200207
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-88 Eleftheriades R, Fiala C, Pasic MD. The challenges and mental issues of academic trainees. F1000Res. 2020;9:104. doi: 10.12688/f1000research.21066.1
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).

O risco de suicídio, independente da medida utilizada, é determinado a partir de elementos que compõem o comportamento suicida, um continuum de eventos que perpassa a ideação suicida, tentativa de suicídio e o ato em si(99 Botega NJ. Crise suicida: avaliação e manejo. Porto Alegre: Artmed; 2015.). Estudo desenvolvido nos Estados Unidos da América verificou o risco de suicídio entre estudantes de pós-graduação e demonstrou que 21,2% preencheram critérios para risco de morte autoprovocada(1010 Bruns KL, Letcher A. Protective factors as predictors of suicide risk among graduate students. J Coll Couns. 2018;21:111-24. doi: https://doi.org/10.1002/jocc.12091
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).

Sobre o suicídio, sabe-se que este é um fenômeno multifatorial, relacionado ao contexto sociocultural que pode ser determinado por fatores diversos como os demográficos, socioeconômicos e de saúde, comuns tanto na população geral(99 Botega NJ. Crise suicida: avaliação e manejo. Porto Alegre: Artmed; 2015.) quanto para pós-graduandos(55 Garcia-Williams AG, Moffitt L, Kaslow NJ. Mental health and suicidal behavior among graduate students. Acad Psychiatry. 2014;38(2):111-248. doi: 10.1007/s40596-014-0041-y
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6 Zeng B, Zhao J, Zou L,Yang X, Zhang X, Wang W, et al. Depressive symptoms, post-traumatic stress symptoms and suicide risk among graduate students: The mediating influence of emotional regulatory self-efficacy. Psychiatric Res. 2018;264:224-30. doi: 10.1016/j.psychres.2018.03.022
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7 Costa EG, Nebel L. How much is the pain worth? Study on the mental health of graduate students in Brazil. Polis. 2018;50:207-27. doi: http://dx.doi.org/10.4067/S0718-65682018000200207
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-88 Eleftheriades R, Fiala C, Pasic MD. The challenges and mental issues of academic trainees. F1000Res. 2020;9:104. doi: 10.12688/f1000research.21066.1
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). Em específico, alguns fatores acadêmicos, relativos à pós-graduação, como longas horas dedicadas ao trabalho acadêmico, cobranças intensas quanto à produção de artigos, produção da tese e/ou dissertação, recursos escassos para financiamento científico dentre outros têm sido descritos na literatura científica como potencializadores no desenvolvimento de sofrimento psíquico(77 Costa EG, Nebel L. How much is the pain worth? Study on the mental health of graduate students in Brazil. Polis. 2018;50:207-27. doi: http://dx.doi.org/10.4067/S0718-65682018000200207
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). No entanto, apesar destes apontamentos, relativamente pouco se sabe sobre a associação desses fatores relacionados à academia com o risco de suicídio nessa população(55 Garcia-Williams AG, Moffitt L, Kaslow NJ. Mental health and suicidal behavior among graduate students. Acad Psychiatry. 2014;38(2):111-248. doi: 10.1007/s40596-014-0041-y
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,88 Eleftheriades R, Fiala C, Pasic MD. The challenges and mental issues of academic trainees. F1000Res. 2020;9:104. doi: 10.12688/f1000research.21066.1
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).

Diante do contexto apresentado, a presente pesquisa parte da hipótese de que existe associação entre fatores demográficos, socioeconômicos, de saúde e acadêmicos e o risco de suicídio entre estudantes da pós-graduação stricto sensu no contexto brasileiro. Acrescenta-se, ainda, o fato de que o fenômeno é complexo e multicausal e a identificação dos fatores associados nessa população possui potencial para contribuir para o preenchimento de lacuna científica atualmente existente, bem como, poderá subsidiar intervenções nos campi universitários contribuindo preventivamente para a diminuição do risco de suicídio e dos prejuízos causados por tal condição entre os pós-graduandos brasileiros. Sendo assim, o presente estudo foi desenvolvido com o objetivo de analisar os fatores associados ao risco de suicídio em estudantes de pós-graduação.

Método

Estudo analítico, de delineamento transversal, desenvolvido em uma universidade pública federal do centro-oeste brasileiro no período de agosto a novembro de 2019.

O estudo foi realizado com alunos de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) de todas as áreas de conhecimento (ciências agrárias, ciências humanas, ciências da saúde, ciências sociais aplicadas, ciências biológicas, ciências exatas e da terra, multidisciplinar e linguística, letras e artes), matriculados nos quatro campi da universidade e que, na época do estudo, totalizavam 2449 indivíduos. Para determinação da amostra, utilizou-se método de amostragem do tipo probabilística estratificada proporcional ao tamanho da população, na qual os estratos foram constituídos pelos quatro campi, considerando-se proporção de 50%, erro amostral de 4% e nível de confiança de 95%. Estimou-se, assim, amostra (n) de 482 participantes. Prevendo-se possíveis perdas esse total foi corrigido para 565 pós-graduandos garantindo-se uma cobertura de 85% da amostra(1111 Espinosa MM, Rezende AC, Castelo LM, Moura MVD. Uma medida empírica para reduzir o vício no planejamento de amostragem aleatória simples e estratificada causado pela ausência de resposta. Sigmae. [Internet]. 2019 [Acesso 14 jul 2020];8(2):722-7. Disponível em: https://publicacoes.unifal-mg.edu.br/revistas/index.php/sigmae/article/view/945/691
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) final com a seguinte distribuição: 480 estudantes no campus principal, 35 no segundo maior campus, 32 no terceiro e 18 no quarto. Foram incluídos no estudo todos os indivíduos que estavam regularmente matriculados durante o período da coleta de dados, sem a aplicação de critérios de exclusões.

Para coleta de dados, foram utilizados quatro instrumentos: (11 Santos HGB, Marcon SR, Espinosa MM, Baptista MN, Paulo PMC. Factors associated with suicidal ideation among university students. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2017;25:e2878. doi: 10.1590/1518-8345.1592.2878
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) para avaliação do risco de suicídio atual (variável dependente) utilizou-se o Módulo C da Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI), versão 5.0, adaptado para forma autoaplicada. O instrumento encontra-se traduzido para o português brasileiro(1212 Amorim P. Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI): validation of a short structured diagnostic psychiatric interview. Rev Bras Psiquiatr. 2000;22(3):106-15. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S1516-44462000000300003
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) e validado para uso em população adulta, apresentando bom desempenho psicométrico(1313 Marques JMA, Zuardi AW. Validity and applicability of the Mini International Neuropsychiatric Interview administered by family medicine residents in primary health care in Brazil. Gen Hosp Psychiatry. 2008;30:303-10. doi: 10.1016/j.genhosppsych.2008.02.001
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). É constituído por cinco perguntas dicotômicas (sim/não) que avaliam comportamentos suicidas nos últimos 30 dias (quatro perguntas) e ao longo da vida (uma pergunta). O escore para estratificação do risco pode variar de 0 a 33 pontos, com possibilidade de classificação em risco baixo (1-5 pontos), moderado (6 -9 pontos) e alto (≥ 10 pontos). Para análise, nesse estudo realizou-se a seguinte categorização: ausência de risco de suicídio (0 ponto) e risco de suicídio atual (1 – 33 pontos); (22 Chang EC, Chang OD, Lucas AG, Li M, Beavan CB, Eisner RS, et al. Depression, loneliness, and suicide risk among latino college students: A test of a psychosocial interaction model. Social Work. 2019;64(1):51-60. doi: 10.1093/sw/swy052
https://doi.org/10.1093/sw/swy052...
) Questionário CAGE (Cut down, Annoyed by criticism, Guilty e Eye-opener) foi utilizado para detecção de casos de dependência ou abuso de álcool. Trata-se de instrumento composto por quatro questões dicotômicas (sim/não), validado no Brasil, tendo apresentado bons índices de sensibilidade e especificidade. Em relação ao ponto de corte, duas ou mais respostas afirmativas indicam situação de dependência/abuso de álcool(1414 Paz Filho GJ, Sato LJ, Tuleski MJ, Takata SY, Ranzi CCC, Saruhashi SY, et al. Use of the CAGE questionnaire for detecting alcohol use disorders at the emergency room. Rev Assoc Med Brasil. 2001;47(1):65-9. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-42302001000100032
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-42302001...
); (33 Mortier P, Cuijpers P, Kiekens G, Auerbach RP, Demyttenaere K, Green JD, et al. The prevalence of suicidal thoughts and behaviours among college students: a meta analysis. Psychol Med. 2018;48(4):554-65. doi: 10.1017/S0033291717002215
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) Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse (DASS-21) utilizada para investigação de sintomas depressivos, ansiosos e de estresse. Trata-se de instrumento composto por 21 questões, divididos em três subescalas (sete questões cada), com respostas em escala Likert de quatro pontos. Cada subescala fornece uma pontuação inicial que pode variar de 0 a 21 pontos. Posteriormente, esse resultado foi multiplicado por dois, conforme orientações dos autores originais, fornecendo um escore geral para cada subescala variando entre 0 a 42 pontos. De acordo com esse escore, a percepção de sintomas pode ser classificada em normal, suave, moderada, grave e/ou extremamente grave. Para fins de análise nesse estudo, considerou-se o grupo normal como “ausência de sintomas” e os demais como “presença de sintomas”. Destaca-se que esse instrumento se encontra traduzido(1515 Vignola RC, Tucci AM. Adaptation and validation of the depression, anxiety and stress scale (DASS) to Brazilian Portuguese. J Affect Disord. 2014;155:104-9. doi: 10.1016/j.jad.2013.10.031
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) e validado para uso em universitários brasileiros(1616 Martins BG, Silva WR, Maroco J, Campos JADB. Depression, Anxiety, and Stress Scale: psychometric properties and affectivity prevalence. J Bras Psiquiatr. 2019;68(1):32-41. doi: 10.1590/0047-2085000000222
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), apresentando boa consistência interna para cada subescala(1515 Vignola RC, Tucci AM. Adaptation and validation of the depression, anxiety and stress scale (DASS) to Brazilian Portuguese. J Affect Disord. 2014;155:104-9. doi: 10.1016/j.jad.2013.10.031
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-1616 Martins BG, Silva WR, Maroco J, Campos JADB. Depression, Anxiety, and Stress Scale: psychometric properties and affectivity prevalence. J Bras Psiquiatr. 2019;68(1):32-41. doi: 10.1590/0047-2085000000222
https://doi.org/10.1590/0047-20850000002...
); (44 Li W, Dorstyn DS, Jarmon E. Identifying suicide risk among college students: a systematic review. Death Studies. 2020;4(7):450-8. doi: 10.1080/07481187.2019.1578305
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) Instrumento elaborado pela pesquisadora principal e validado em face e conteúdo por um grupo de seis especialistas nas áreas de pós-graduação e suicidologia, por meio do Índice de Validade de Conteúdo (IVC). O mesmo é formado por 42 perguntas, contendo variáveis demográficas, socioeconômicas, de saúde e acadêmicas (que investigou relacionamento interpessoal e sentimentos sobre a pós-graduação, tipo de curso e desenvolvimento da pesquisa). O escore do IVC total do instrumento foi calculado por meio da divisão do número total de itens considerados como relevantes pelos juízes, pelo número total de itens do instrumento, o que representou uma concordância de 0,93.

Os dados foram coletados online, via e-mail, por meio da ferramenta Formulários Google®. Uma lista com todos os 2449 estudantes de pós-graduação stricto sensu foi fornecida pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação da universidade de estudo. Desta população, foram sorteados aleatoriamente 565 sujeitos, respeitando a proporcionalidade por campus. Todos os selecionados nesta etapa receberam, via e-mail, convite para participar do estudo e um link de acesso aos instrumentos de coleta de dados. Destes, os 26 estudantes que se recusaram a participar do estudo ou não responderam ao e-mail enviado até três vezes, com intervalo de uma semana, foram substituídos pelo próximo sujeito da lista para se alcançar a amostra mínima estipulada. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi disponibilizado de forma online, e após a leitura o estudante respondia se concordava em participar do estudo clicando na caixa de diálogo correspondente a “sim”, além de cadastrar um endereço eletrônico válido na intenção de evitar duplicidades. Destaca-se que não houve questionários com dados incompletos (missing data).

Os dados foram analisados de forma descritiva e inferencial por meio do software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 20. Na análise descritiva, foram apresentadas frequências absolutas, relativas ou prevalências. Para a análise inferencial, foi utilizada a razão de prevalência bruta (RPb) e o teste Qui-quadrado de Pearson, com nível de significância menor que 0,05 (p<0,05) e seus respectivos intervalos de confiança de 95%. Para análise múltipla, foram consideradas as variáveis que apresentaram valor de p menor que 0,20 (p<0,20), e permaneceram no modelo final as variáveis que apresentaram o valor de p menor que 0,05 (p<0,05), com suas razões de prevalências ajustadas (RPa) e intervalos de confiança de 95%.

A pesquisa atendeu às normas da Resolução nº:466/2012, do Conselho Nacional de Saúde, e encontra-se aprovada pelo Comitê de Ética de Pesquisa em Saúde da Universidade Federal de Mato Grosso sob Parecer nº: 3.462.827 e CAAE: 13273119.3.0000.8124, de julho de 2019.

Resultados

Participaram do estudo 565 pós-graduandos, com prevalência do risco de suicídio atual estimada em 40,18%. Apresentaram idade mediana de 30 anos, variando entre 20 a 59 anos, com predominância dos que declararam ter prática de fé (79,11%), estar preocupados com a situação financeira (72,92%), e ter um companheiro (51,68%). Nas variáveis de saúde 54,34% apresentaram sintomas de ansiedade, 52,04% de depressão, 50,27% de estresse e 35,58% relataram utilizar psicofármacos durante a pós-graduação com ou sem prescrição médica.

Em relação às variáveis acadêmicas: 65,84% dos pós-graduandos cursavam mestrado e 34,16% doutorado, 43,36%, concordavam que sua pesquisa poderia ser prejudicada por falta de financiamento, 20,00% concordavam que o relacionamento familiar era prejudicado pelas demandas da pós-graduação e 13,98% não possuíam uma boa relação com os técnicos do curso, 11,86% com seus colegas, 10,44% com o orientador e 10,09% com os professores da pós-graduação e 12,04% discordavam que seu trabalho acadêmico era significativo e inspirador.

Na Tabela 1, evidencia-se que as variáveis demográficas e socioeconômicas associadas ao risco de suicídio atual foram a idade mediana >30 anos, não ter uma prática de fé, estar preocupado com sua situação financeira (p<0,001, respectivamente) e situação conjugal sem companheiro (p=0,005).

Tabela 1
Associação entre o risco de suicídio atual as variáveis demográficas e socioeconômicas dos pós-graduandos stricto sensu de uma universidade federal do Centro-Oeste. Cuiabá, Mato Grosso, Brasil, 2019

As associações entre o risco de suicídio atual e variáveis de saúde foram apresentadas na Tabela 2, com significância estatística (p<0,001) para pós-graduandos que utilizaram psicofármacos durante o curso ou que estavam em uso atual, que fizeram uso de drogas ilícitas alguma vez ao longo da vida, apresentaram sintomas de depressão, ansiedade e estresse e com p=0,004 para a variável abuso de álcool.

Tabela 2
Associação entre o risco de suicídio atual e as variáveis de saúde dos pós-graduandos stricto sensu de uma universidade federal do Centro-Oeste. Cuiabá, Mato Grosso, Brasil, 2019

Observa-se na Tabela 3 associação estatística entre o risco de suicídio atual e as variáveis acadêmicas que envolviam relacionamentos interpessoais como ter o relacionamento familiar prejudicado pelas demandas pós-graduação, não ter uma boa relação com os colegas da pós-graduação (p<0,001, respectivamente), assim como com o orientador (p=0,004), professores da pós-graduação (p=0,010) e com técnicos do curso (p=0,041). Em relação aos sentimentos quanto à pós-graduação foram associadas ao risco de suicídio ser impedido de realizar atividades de lazer em decorrência das demandas da pós-graduação (p=0,014), sofrer discriminação no curso de pós-graduação (p=0,004), não considerar seu trabalho acadêmico significativo e inspirador, não ser otimista quanto às perspectivas profissionais futuras (p<0,001, respectivamente) e não acreditar que concluiria a pós-graduação no tempo regimental (p=0,001).

Tabela 3
Associação entre o risco de suicídio atual e as variáveis acadêmicas (relacionamento interpessoal e sentimentos sobre a pós-graduação) dos pós-graduandos stricto sensu de uma universidade federal do Centro-Oeste. Cuiabá, Mato Grosso, Brasil, 2019

Na Tabela 4, observa-se associação estatística entre o risco de suicídio atual e as variáveis acadêmicas que envolviam o curso/programa e o desenvolvimento da pesquisa como estar matriculado no curso de doutorado (p=0,002), afastado da pós-graduação por problemas de saúde física, sofrimento psíquico ou por licenças previstas em lei (maternidade) (p=0,006), ser pressionado a produzir material para publicação, ter dificuldade para escrever sua tese/dissertação, não ter encontros produtivos com o orientador, desenvolvimento da pesquisa prejudicado por falta de financiamento (p<0,001, respectivamente) e não ter subsídio das disciplinas ofertadas pelo curso para o desenvolvimento da pesquisa (p=0,018).

Tabela 4
Associação entre o risco de suicídio atual e as variáveis acadêmicas (curso e desenvolvimento da pesquisa) dos pós-graduandos stricto sensu de uma universidade federal do Centro-Oeste. Cuiabá, Mato Grosso, Brasil, 2019

Na Tabela 5, observam-se, após a regressão múltipla, as variáveis que permaneceram no modelo final, sendo idade mediana >30 anos (p=0,029), ausência de prática de fé (p=0,015), sintomas de depressão (p<0,001), sintomas de ansiedade (p=0,018), uso de psicofármacos durante o curso (p<0,001), não ter um trabalho acadêmico significativo e inspirador (p=0,013), não ter uma boa relação com colegas da pós-graduação (p=0,033), ter o relacionamento familiar prejudicado pelas demandas da pós-graduação (p=0,036) e preocupação com a situação financeira (p=0,048). A variável curso stricto sensu matriculado permaneceu no modelo final apenas como variável de ajuste deste modelo, o qual melhora o poder explicativo, embora não tenha sido estatisticamente significativa.

Tabela 5
Variáveis do modelo final e razão de prevalência ajustada por regressão de Poisson Robusta (RPa) associadas ao risco de suicídio atual, com seus respectivos intervalos de confianças (IC) de 95% e valor de p. Cuiabá, Mato Grosso, Brasil, 2019

Discussão

O risco de suicídio atual (últimos 30 dias) para a amostra desse estudo foi de 40,18% e pode ser considerado um indicador alto, quando comparado ao estudo desenvolvido com pós-graduandos americanos, o qual obteve prevalência de risco de 21,2%(1010 Bruns KL, Letcher A. Protective factors as predictors of suicide risk among graduate students. J Coll Couns. 2018;21:111-24. doi: https://doi.org/10.1002/jocc.12091
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). No entanto, as diferenças evidenciadas entre esses percentuais devem ser analisadas considerando que as investigações utilizaram diferentes instrumentos de avaliação de risco e foram realizadas em populações e regiões com características socioculturais distintas.

Em relação aos fatores associados, duas variáveis sociodemográficas se relacionaram de maneira estatisticamente significativa com o risco de suicídio atual: idade mediana e prática de fé/religiosidade.

Tratando-se de um fenômeno universal, o suicídio acomete indivíduos de todas as idades e, apesar de evidências epidemiológicas demonstrarem que as maiores taxas de mortalidade por suicídio se concentram em duas faixas etárias específicas, idosos e adultos jovens (15 – 29 anos)(1717 Bilsen J. Suicide and youth: risk factors. Front Psychiatry. 2018;9:540. doi: 10.3389/fpsyt.2018.00540
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), comportamentos suicidas entre indivíduos adultos e de meia idade (30-50 anos) não são incomuns. Nesta investigação, estudantes com idades superiores a 30 anos encontraram-se sob maior risco para suicídio atual do que seus pares mais jovens. Destaca-se que, embora não haja explicações claras na literatura que justifiquem essas diferenças, os autores acreditam que pós-graduandos com maior idade podem possuir algumas características como sofrer maior pressão social e familiar para se inserirem no mercado de trabalho ou vivenciar maiores conflitos para conciliar atividades acadêmicas, familiares e sociais que podem comprometer sua saúde mental e expô-los a um risco aumentado para o comportamento suicida. No entanto, a fim de se confirmar tal hipótese, novos estudos precisam ser desenvolvidos nesse grupo populacional.

Em relação às práticas de fé, estas têm sido destacadas como importantes fatores protetores da morte autoprovocada, atuando como mecanismo de coping e influenciando positivamente o modo como as pessoas enfrentam estressores, sofrimentos e situações de crise pessoais. Inclusive, a espiritualidade pode proporcionar aumento do senso de propósito e significado da vida, elementos associados à maior resiliência, autoconfiança e resistência ao estresse relacionado às doenças(1818 Foch GFL, Silva AMB, Enumo SRF. Spiritual/Religious Coping: A systematic literature review (2003-2013). Arq Bras Psicol. [Internet]. 2017 [cited Jul 14, 2020];69(2):53-71. Available from: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-52672017000200005&lng=en
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). Tais considerações podem justificar a associação obtida entre a ausência de prática de fé/religiosidade e o maior risco de suicídio atual nos pós-graduandos desse estudo.

Além das variáveis sociodemográficas, associaram-se também ao risco de suicídio atual entre pós-graduandos a presença de sintomas depressivos e de ansiedade.

A respeito disso, sabe-se que a pós-graduação stricto sensu é um período marcado por demandas e pressões intensas em um ambiente competitivo com cobranças de produção e publicação, demandando longas horas em pesquisa, leitura de literatura científica, de escrita de relatórios e comunicações científicas obrigando o estudante a abdicar de seu convívio social e de tempo para lazer. Esse grande volume de trabalho associado a prazos, em geral curtos, para entrega de produções, a rotina intensa de estudo e elaboração de materiais, recursos limitados, pouco apoio institucional para realização de pesquisas e relações sociais fragilizadas e conflitantes (entre pares e orientadores), são elementos que contribuem para a constituição de um ambiente patologizante com potencial para desenvolvimento de sintomas de adoecimento mental como depressão e ansiedade(1919 Cesar FCR, Sousa ET, Ribeiro LCM, Oliveira LMAC. Graduate school stressors: an integrative literature review. Cogitare Enferm. 2018;23(4):e57460. doi: 10.5380/ce.v23i4.57460
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).

A associação entre o quadro clínico da sintomatologia depressiva e comportamento suicida tem sido largamente descrita na literatura científica, em vários segmentos populacionais(2020 Minayo MCS, Figueiredo AE, Mangas RMN. Study of scientific publications (2002-2017) on suicidal ideation, suicide attempts and self-neglect of elderly people hospitalized in Long-Term Care Establishments. Ciênc Saúde Coletiva. 2019;24(4):1393-404. doi: 10.1590/1413-81232018244
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21 Ribeiro JD, Huang X, Fox KR, Franklin JC. Depression and hopelessness as risk factors for suicide ideation, attempts and death: meta-analysis of longitudinal studies. Br J Psychiatry. 2018;212(5):279-86. doi: 10.1192/bjp.2018.27
https://doi.org/10.1192/bjp.2018.27...
-2222 Too LS, Spittal MJ, Bugeja L, Reifels L, Butterworth P, Pirkis J. The association between mental disorders and suicide: a systematic review and meta-analysis of record linkage studies. J Affect Disord.; 2019;259(1):302-13. doi: 10.1016/j.jad.2019.08.054
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), com evidente associação positiva entre os dois fenômenos que, frequentemente, coexistem e influenciam-se mutuamente(2323 Magalhães LS, Andrade SMO. Depression and suicidal behavior: primary health care. Rev Psicol Saúde. 2019;11(1):99-107. doi: http://dx.doi.org/10.20435/pssa.v11i1.592
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). Estudos realizados com pós-graduandos têm evidenciado que essa é uma população de risco para sintomas depressivos apresentando, frequentemente, indicadores de prevalência consideravelmente superiores aos da população geral(2424 Evans TM, Bira L, Gastelum JB, Weiss LT, Vanderford NL. Evidence for a mental health crisis in graduate education. Nature Biotechnol. 2018;36:282-4. doi: 10.1038/nbt.4089
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).

Em relação aos transtornos de ansiedade, isoladamente, nem sempre estão associados à suicidalidade, porém quando ocorrem em concomitância com sintomas depressivos o risco para a morte autoprovocada e/ou tentativas tende a aumentar e ser significativo, denotando que a depressão pode atuar como um mediador entre ansiedade e comportamento suicida(2323 Magalhães LS, Andrade SMO. Depression and suicidal behavior: primary health care. Rev Psicol Saúde. 2019;11(1):99-107. doi: http://dx.doi.org/10.20435/pssa.v11i1.592
http://dx.doi.org/10.20435/pssa.v11i1.59...
,2525 Souza C, Moreira V. Sadness, depression and melancholic suicide: the relationship with the other. Arq Bras Psicol. [Internet]. 2018 [cited Jul 14, 2020];70(2):173-85. Available from: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-52672018000200013&lng=pt
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
). Estudo com 2.279 pós-graduandos, 90% de doutorado e 10% de mestrado, entrevistados em 234 instituições de 26 países de diferentes áreas evidenciou proporções de 39% de depressão e 41% de ansiedade moderada a grave entre os estudantes, demonstrando condições essas presentes na vida de grande parte dos pós-graduandos(2424 Evans TM, Bira L, Gastelum JB, Weiss LT, Vanderford NL. Evidence for a mental health crisis in graduate education. Nature Biotechnol. 2018;36:282-4. doi: 10.1038/nbt.4089
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).

Evidenciou-se também que estudantes que em algum momento do curso utilizaram psicofármacos, com ou sem prescrição médica, tinham maior risco de suicídio. Presume-se que o uso de psicofármacos, durante o curso de pós-graduação, tem aumentado em decorrência do também aumento dos problemas psíquicos nesta população, como a ansiedade, depressão, insônia e crise nervosa. Assim, na tentativa de minimizar o problema, muitos pós-graduandos recorrem ao uso desses medicamentos sem prescrição médica(77 Costa EG, Nebel L. How much is the pain worth? Study on the mental health of graduate students in Brazil. Polis. 2018;50:207-27. doi: http://dx.doi.org/10.4067/S0718-65682018000200207
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).

Além disso, existe a possibilidade do consumo de determinadas substâncias psicoativas, principalmente as fabricadas e vendidas legalmente, com o objetivo de melhorar o desempenho acadêmico(2626 Fernandes TF, Monteiro BMM, Silva JBM, Oliveira KM, Viana NAO, Gama CAP, et al. Use of psychoactives substances among college students: epidemiological profile, settings and methodological limitations. Cad Saúde Coletiva. 2017;25(4):498-507. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1414-462x201700040181
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). Embora não tenham sido encontrados estudos discorrendo sobre tal fato em pós-graduandos, considera-se que os mesmos, por estarem inseridos no ambiente acadêmico no qual é exigido um bom desempenho e alta produtividade, podem utilizar esses medicamentos com a mesma finalidade.

Em relação aos fatores acadêmicos avaliados, constatou-se que aqueles que não possuíam um trabalho acadêmico significativo e inspirador tinham maior risco de suicídio atual. O trabalho acadêmico e o contexto organizacional são preditores significativos da saúde mental de estudantes de doutorado(2727 Levecquea K, Anseel F, Beuckelaer A, Heydenf JV, Lydia Gisle. Work organization and mental health problems in PhD students. Res Policy. 2017;46:868-79. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.respol.2017.02.008 0048-7333
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). Quando o pós-graduando despende muito tempo e energia em uma pesquisa que muitas vezes não apresenta utilidade aparente, pode desencadear um ciclo de autoperpetuação de desânimo e desengajamento, tornando-o mais suscetível ao adoecimento mental(2828 Barreira P, Basilico M, Bolotnyy V. Graduate Student Mental Health: Lessons from American Economics Departments. [Internet]. 2018. [cited Jan 14, 2020] Available from: https://scholar.harvard.edu/files/bolotnyy/files/bbb_mentalhealth_paper.pdf
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).

Quanto ao relacionamento dos pós-graduandos com seus colegas, aqueles que não possuíam uma boa relação obtiveram maior associação com o risco de suicídio atual. A vida adulta pode ser caracterizada por uma época em que as amizades são negligenciadas em decorrência do trabalho, da vida familiar, entre outras demandas, o que pode reprimir seu potencial como apoio contra o estresse(2929 Marver JE, Galfalvy HC, Burke AK, Sublette ME, Oquendo MA, Mann JJ, et al. Friendship, depression, and suicide attempts in adults: exploratory analysis of a longitudinal follow-up study. Suicide Life Threat Behav. 2017;47(6). doi: 10.1111/sltb.12329
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). Possuir uma boa relação com seus pares se torna um fator de proteção para o risco de suicídio em pós-graduandos à medida em que as relações interpessoais afetivas auxiliam nos processos de enfrentamento de eventos estressantes da vida(99 Botega NJ. Crise suicida: avaliação e manejo. Porto Alegre: Artmed; 2015.,3030 Estrada M, Zhi Q, Nwankwo E, Gershon R, The influence of social supports on graduate student persistence in biomedical fields. CBE Life Sci Educ. 2019;18(3):ar39. doi: 10.1187/cbe.19-01-0029
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). As interações interpessoais com pares acadêmicos tendem a ser aquelas que ocorrem com maior frequência no contexto universitário, uma vez que o pós-graduando costuma interagir mais tempo com seus colegas do que com professores e o orientador(3131 Meschitti V. Can peer learning support doctoral education? Evidence from an ethnography of a research team. Stud High Educ. 2019;4(7):1209-21. doi: 10.1080/03075079.2018.1427711
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-3232 Jeong S, Blaney JM, Feldon DF. Identifying faculty and peer interaction patterns of first-year biology doctoral students: a latent class analysis. CBE Life Sci Educ. 2019;18(4):1-13. doi: 10.1187/cbe.19-05-0089
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). Além da frequência, as relações com pares diferem daquelas estabelecidas com outros sujeitos acadêmicos pela sua direcionalidade, condicionada por relações de poder e saber implícitas no ambiente acadêmico. Enquanto as interações com o orientador e o professor, em geral, são verticalizadas, denotando a posição de superioridade na qual esses se encontram na hierarquia acadêmica, as relações com pares seguem horizontais, marcadas por compartilhamento de saberes e experiências e maior potencial na promoção de saúde e bem-estar(3131 Meschitti V. Can peer learning support doctoral education? Evidence from an ethnography of a research team. Stud High Educ. 2019;4(7):1209-21. doi: 10.1080/03075079.2018.1427711
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-3232 Jeong S, Blaney JM, Feldon DF. Identifying faculty and peer interaction patterns of first-year biology doctoral students: a latent class analysis. CBE Life Sci Educ. 2019;18(4):1-13. doi: 10.1187/cbe.19-05-0089
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).

No que concerne aos achados em relação ao relacionamento familiar prejudicado frente às demandas da pós graduação, o conflito trabalho-família é um preditor importante de sofrimento psíquico e expõe ao risco aumentado de distúrbio psiquiátrico comum em estudantes de doutorado (p<0,001)(2727 Levecquea K, Anseel F, Beuckelaer A, Heydenf JV, Lydia Gisle. Work organization and mental health problems in PhD students. Res Policy. 2017;46:868-79. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.respol.2017.02.008 0048-7333
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). O prejuízo no relacionamento com a família daqueles que realizam um trabalho acadêmico pode ser oriundo de uma somatória de fatores característicos da rotina acadêmica(3333 Torp S, Lysfjord L, Midje HH. Workaholism and work-family conflict among university academics. High Educ. 2018;76:1071-90. doi: 10.1007/s10734-018-0247-0
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), caracterizada na pós-graduação por dedicação de até 80 horas semanais de atividade, incluindo finais de semana e feriados(88 Eleftheriades R, Fiala C, Pasic MD. The challenges and mental issues of academic trainees. F1000Res. 2020;9:104. doi: 10.12688/f1000research.21066.1
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). Neste sentido, o sofrimento psíquico se torna presente na medida em que existe desequilíbrio entre o tempo dedicado às vidas profissional/acadêmica e pessoal/familiar(3333 Torp S, Lysfjord L, Midje HH. Workaholism and work-family conflict among university academics. High Educ. 2018;76:1071-90. doi: 10.1007/s10734-018-0247-0
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).

A associação entre risco de suicídio atual e preocupações financeiras, evidenciada no presente estudo, não é uma constatação recente na suicidologia. Algumas investigações corroboraram essa associação, no decorrer das últimas décadas, evidenciando as perdas monetárias e o estresse financeiro como um dos principais fatores para comportamentos suicidas(3434 Bryan CJ, Bryan AO. Financial Strain, Suicidal Thoughts, and Suicidal Behavior Among US Military Personnel in the National Guard. Crisis. 2019;40:437-45. doi:10.1027/0227-5910/a000592
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-3535 Elbogen EB, Lanier M, Montgomery AE, Strickland S, Wagner HR, Tsai J. Financial strain and suicide attempts in a nationally representative sample of US adults. Am J Epidemiol. 2020 Nov 2;189(11):1266-74. doi: 10.1093/aje/kwaa146
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). Segundo esses estudos, em geral, o risco para o suicídio nessas situações pode advir impulsivamente em um momento de crise abrupta e inesperada (perda de emprego, perda de reservas financeiras) ou das dificuldades do indivíduo para lidar salutarmente com esses estressores(3434 Bryan CJ, Bryan AO. Financial Strain, Suicidal Thoughts, and Suicidal Behavior Among US Military Personnel in the National Guard. Crisis. 2019;40:437-45. doi:10.1027/0227-5910/a000592
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-3535 Elbogen EB, Lanier M, Montgomery AE, Strickland S, Wagner HR, Tsai J. Financial strain and suicide attempts in a nationally representative sample of US adults. Am J Epidemiol. 2020 Nov 2;189(11):1266-74. doi: 10.1093/aje/kwaa146
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). A relação entre estresse financeiro e comprometimento da saúde mental/aumento do risco de suicídio na população geral(3535 Elbogen EB, Lanier M, Montgomery AE, Strickland S, Wagner HR, Tsai J. Financial strain and suicide attempts in a nationally representative sample of US adults. Am J Epidemiol. 2020 Nov 2;189(11):1266-74. doi: 10.1093/aje/kwaa146
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) já foi muito explorada na literatura científica, entretanto ainda se sabe pouco dessa relação em alguns contextos específicos como, por exemplo, entre graduandos e pós-graduandos.

Dentre os estudos nacionais e internacionais que mensuraram fatores associados ao estresse vivenciado por pós-graduandos, têm sido apontadas preocupações com a carência de recursos financeiros como uma das principais fontes estressogênicas nesse público(88 Eleftheriades R, Fiala C, Pasic MD. The challenges and mental issues of academic trainees. F1000Res. 2020;9:104. doi: 10.12688/f1000research.21066.1
https://doi.org/10.12688/f1000research.2...
,1919 Cesar FCR, Sousa ET, Ribeiro LCM, Oliveira LMAC. Graduate school stressors: an integrative literature review. Cogitare Enferm. 2018;23(4):e57460. doi: 10.5380/ce.v23i4.57460
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,3636 Mccloud T, Bann D. Financial stress and mental health among higher education students in the UK up to 2018: rapid review of evidence. J Epidemiol Commun Health. 2019;73(10):977-84. doi: 10.1136/jech-2019-212154
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). Vários cursos exigem do estudante dedicação exclusiva para exercerem suas atividades de pesquisa em tempo integral, obrigando muitos a afastarem-se de seus empregos, pedirem demissão ou manterem-se desempregados para inserirem-se no segmento acadêmico, o que pode representar um decréscimo da renda familiar(3636 Mccloud T, Bann D. Financial stress and mental health among higher education students in the UK up to 2018: rapid review of evidence. J Epidemiol Commun Health. 2019;73(10):977-84. doi: 10.1136/jech-2019-212154
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).

Destaca-se que nem mesmo o recebimento de bolsas de estudos é garantia de segurança financeira para os pós-graduandos. A bolsa é entendida como um salário com valores estagnados há cinco anos, não atende de forma suficiente todos os que a solicitam e, ainda, quando se consegue o valor recebido é baixo e, usualmente, não é suficiente para arcar com todas as suas necessidades. No Brasil, o último reajuste das bolsas de estudos ocorreu no ano de 2013, com valores não condizentes com o alto grau de especialização e dedicação requerido para as atividades da pós-graduação stricto sensu e, usualmente, abaixo do que poderia se alcançar fora da universidade(3737 Carvalho DVP, Ranal MA, Mendes-Rodrigues C. How does it feel to be evaluated? A systemic look at postgraduate students. Int J Healthcare. 2019;05(02):49-61. doi: 10.5430/ijh.v5n2p49
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). Atualmente, com base em 2020, a bolsa de estudo ofertada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) equivale a 1,4 e 2,1 salários mínimos para mestrado e doutorado, respectivamente. O referido auxílio não possui 13º salário, férias ou contribui para fins de aposentadoria e fica evidente a desvalorização do valor de compra da bolsa quando comparado ao mesmo valor há uma década, que equivalia 2,9 e 3,4 salários mínimos para mestrado e doutorado, respectivamente(77 Costa EG, Nebel L. How much is the pain worth? Study on the mental health of graduate students in Brazil. Polis. 2018;50:207-27. doi: http://dx.doi.org/10.4067/S0718-65682018000200207
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).

Pós-graduandos em situação de insegurança financeira possuem grande probabilidade de evadirem de seu curso e, quando isso não ocorre, estão mais suscetíveis a sofrimento mental, aumento da prevalência de sintomas de ansiedade e depressão, percepção de sentimentos de inadequação, desesperança e impotência. Esses sentimentos possuem potencial para desencadear comportamentos suicidas (risco) de diversas ordens, podendo ser gatilhos para pensamentos ou tentativas de suicídio(3636 Mccloud T, Bann D. Financial stress and mental health among higher education students in the UK up to 2018: rapid review of evidence. J Epidemiol Commun Health. 2019;73(10):977-84. doi: 10.1136/jech-2019-212154
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).

Em relação às limitações do estudo, cita-se a dificuldade de comparação dos resultados com outras realidades em diferentes contextos, na população de pós-graduandos, uma vez que os poucos dados descritos na literatura científica são relativos aos aspectos do comportamento suicida, como a presença de ideação e tentativa de suicídio(55 Garcia-Williams AG, Moffitt L, Kaslow NJ. Mental health and suicidal behavior among graduate students. Acad Psychiatry. 2014;38(2):111-248. doi: 10.1007/s40596-014-0041-y
https://doi.org/10.1007/s40596-014-0041-...
,1919 Cesar FCR, Sousa ET, Ribeiro LCM, Oliveira LMAC. Graduate school stressors: an integrative literature review. Cogitare Enferm. 2018;23(4):e57460. doi: 10.5380/ce.v23i4.57460
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) e não com o risco em si. Além disso, aponta-se o fato de os sujeitos de pesquisa serem representativos de uma única universidade brasileira, dificultando a generalização dos resultados para outros contextos e/ou regiões do país.

Por fim, estudos sobre comportamento suicida e/ou risco de suicídio entre estudantes de mestrado e doutorado são pouco numerosos internacional e nacionalmente(88 Eleftheriades R, Fiala C, Pasic MD. The challenges and mental issues of academic trainees. F1000Res. 2020;9:104. doi: 10.12688/f1000research.21066.1
https://doi.org/10.12688/f1000research.2...
) e várias lacunas, principalmente sobre fatores associados, precisam ser adequadamente respondidas. Frente a esse cenário, os resultados deste estudo contribuem para a ampliação do entendimento sobre como determinados aspectos (demográficos, socioeconômicos, de saúde e acadêmicos) se associam ao risco da morte autoprovocada em uma amostra de estudantes brasileiros e apresenta evidências que indicam a vulnerabilidade desta população para o comportamento suicida. Permitem, ainda, a constituição de um importante diagnóstico situacional para que instituições e programas de pós-graduação, sobretudo nacionais, implementem estratégias, tais como palestras e programas de treinamentos institucionais para identificação do risco de suicídio e compreensão do comportamento suicida, experiências exitosas realizadas em outros contextos universitários(3838 Cramer RJ, Long MM. Competency-based suicide prevention education: implementation of a pilot course for undergraduate health professions students. Acad Psychiatry. 2018;42:857-61. doi: 10.1007/s40596-018-0890-x
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39 Han J, Batterham PJ, Calear AL, Wu Y, Xue J, van Spijker BAJ. Development and pilot evaluation of an online psychoeducational program for suicide prevention among university students: a randomized controlled trial. Internet Interv. 2018;12:111-20. doi: 10.1016/j.invent.2017.11.002
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-4040 Muehlenkamp J, Thoen S. Short- and long-term impact of an undergraduate suicidology course. Suicide Life Threat Behav. 2019;49(6):1573-86. doi:10.1111/sltb.12552
https://doi.org/10.1111/sltb.12552...
), entretanto baseados em fatores de risco específicos e pontuais para a essa população.

Conclusão

No presente estudo, identificou-se alta prevalência de risco de suicídio atual entre pós-graduandos stricto sensu e que variáveis como idade >30 anos, ausência de prática de fé, sintomas de depressão e ansiedade, uso de psicofármacos durante o curso; não ter um trabalho acadêmico significativo e inspirador, não possuir uma boa relação com colegas da pós-graduação, ter relacionamento familiar prejudicado pelas demandas da pós-graduação e preocupação com a situação financeira associaram-se de maneira estatisticamente significativa com esse risco. Até o momento, os achados do presente estudo são inéditos, o que reforça a necessidade de novas investigações com essa população inclusive com diferentes delineamentos metodológicos, auxiliando na identificação e melhor compreensão do comportamento suicida entre pós-graduandos.

Agradecimentos

Agradecemos a Pâmela Thais Delmodes, Andressa Silva, Rebekka Resino, Vanessa Ferraz e Camille Modena pela colaboração na fase de coleta de dados.

  • *
    Artigo extraído da dissertação de mestrado “Fatores associados ao risco de suicídio em pós-graduandos”, apresentada à Universidade Federal de Mato Grosso, Faculdade de Enfermagem, Cuiabá, MT, Brasil.
  • 2
    Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Brasil.
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    Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (UFMT), Brasil.

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Editado por

Editora Associada: Sueli Aparecida Frari Galera

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Jun 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    14 Jul 2020
  • Aceito
    13 Dez 2020
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