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“Desalentadas”: subjetivação em dizeres sobre as mulheres que desistiram de procurar trabalho

“Discouraged”: subjectivity in the sayings about women who gave up looking for work

Resumo

O presente trabalho tem por objetivo refletir sobre os processos de subjetivação que se materializam em dizeres sobre mulheres designadas como desalentadas. Sob a ancoragem na Análise do Discurso filiada a Michel Pêcheux, são recortados enunciados de reportagens que circularam na mídia em 2018/2019 tratando do desalento, nas expressões recentes do desemprego no país. As sequências discursivas (SDs) analisadas permitiram investigar a posição-sujeito do discurso, bem como os processos de subjetivação do desalento. Identificou-se que a designação “desalentadas” é constitutiva no discurso sobre, comparecendo como efeito de conclusão, sendo a sua subjetivação constitutiva enquanto contraidentificação na formação discursiva do desemprego. Há um caráter momentâneo implícito no discurso sobre mulheres consideradas como desalentadas, com componente individual e influência do discurso do empreendedorismo e do discurso religioso, funcionando enquanto interdiscursos, que produzem efeito de esperança, embora com uma relação de dependência do processo histórico em curso.

Palavras-chave:
Trabalho; Mulheres; Desalento; Discurso; Subjetivação

Abstract

This paper aims to reflect on the subjectivation processes that materialize in sayings about women who are designated as discouraged. Under the anchor in Analysis of Discourse affiliated to Michel Pêcheux, sayings are clipped from news reports circulated in the media in 2018/2019 about discouragement, in the recent expressions of unemployment in the country. The analyzed SDs made it possible to investigate the subject-position of the discourse, as well as the subjectivity processes of discouragement. It was identified that the designation “discouraged” is constitutive in the discourse about, appearing as a conclusion effect, its constitutive subjectification being a counter-identification in the discursive formation of unemployment. There is a momentary character implicit in the discourse about women considered as discouraged, with an individual component and influence of the discourse of entrepreneurship and religious discourse, functioning as interdiscourses, which produce a hopeful effect, although with a relationship of dependence on the ongoing historical process

Keywords:
Work; Women; Discouragement; Discourse; Subjectivation

Introdução

No prelúdio histórico da crise estrutural do capital, Clarence Long (1953LONG, C. D. Impact of effective demand on the labor supply. The American Economic Review, 1953. p. 458-467. Disponível em: www.jstor.org/stable/1831509. Acesso: 2 mar. 2019.
www.jstor.org/stable/1831509...
) introduziu, pelo viés econômico, o conceito de desalento, no artigo intitulado Impact of Effective Demand on the Labor Supply, referindose a quando, por falta de perspectiva de trabalho, ou pouca expectativa de encontrar emprego, as pessoas deixam de procurar trabalho e decidem ficar inativas. Tal fenômeno é agudizado em momentos de recessão, quando trabalhadores/as desempregados/as optam por deixar de procurar emprego, o que provoca uma queda na taxa de participação na força de trabalho, a exemplo do que tem sido observado no Brasil, onde, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em maio de 2018, faltava emprego para 27,7 milhões de brasileiros/as. Todavia, face à suposta homogeneidade na categorização das pessoas desempregadas, outros sentidos são produzidos a partir das condições que marcam na língua suas distinções e particularidades. É nesse espaço que alguns dizeres vão sendo constituídos ou retomados, tendo por ancoragem a subutilização da força de trabalho, ou o que dela escapa.

A identificação de trabalhadores/as como sub/des/empregados/as, considerando a distinção geral entre os/as desempregados/as (que não têm trabalho algum, procuraram trabalho nos últimos 30 dias ou irão iniciar um trabalho imediatamente) e os/as subocupados/as (que têm vontade de trabalhar, mas trabalham menos de 40 horas semanais), mostra-se insuficiente para dar conta das transformações atuais. Como tentativa de designar as pessoas que escapam dessa condição (sub/des/empregados/as), retoma-se a expressão desalento, sob o ideário neoliberal.

Analisando materialidades extraídas de reportagens que circularam na mídia no período eleitoral recente, buscando desvelar como as práticas de linguagem são afetadas pelo acirramento da ofensiva neoliberal, tomando o desalento como expressão referencial na cena contemporânea do trabalho no Brasil, foi possível observar que os recortes apontavam para um percentual maior desse fenômeno entre as mulheres, mas que as trabalhadoras entrevistadas não se apresentavam como desalentadas. Tal observação é aqui retomada, com o objetivo refletir sobre os processos de subjetivação que se materializam em dizeres sobre mulheres designadas como desalentadas. Sob a ancoragem na Análise do Discurso (AD) filiada a Michel Pêcheux, são recortados enunciados de reportagens que circularam na mídia em 2018/2019, tratando do desalento, tendo em conta as expressões recentes do desemprego no País.

Do ponto de vista procedimental, o critério de seleção foi aleatório, através de um site de busca, utilizando como sequência discursiva de referência (SDr) “mulheres desalentadas”, conforme o objetivo proposto. A análise abordará os processos de subjetivação e posição-sujeito do discurso, enquanto ancoragem teórica para uma reflexão acerca dos dizeres sobre mulheres desalentadas, em seus efeitos de sentido no discurso. Parte-se do pressuposto de que há distinção nos elementos de saber do discurso do desemprego, sendo esses então relacionados ao modo como suas consequências se materializam na língua, considerando a escassa literatura sobre o tema no Brasil.

Processos de subjetivação e posição-sujeito do discurso

Neste trabalho, é mobilizada a noção de processos de subjetivação, tendo em conta que para a Análise do Discurso à qual nos filiamos, “[...] uma vez interpelado pela ideologia em sujeito, em um processo simbólico, o indivíduo, agora enquanto sujeito, determina-se pelo modo como, na história, terá sua forma individual(izada) concreta” (ORLANDI, 2001ORLANDI, E. P. Discurso e Texto: formulação e circulação dos sentidos. 1. ed. Campinas, SP: Pontes, 2001., p. 105-107). Trata-se, então, de considerar a relação materialmente constituída entre o recalque inconsciente e o assujeitamento ideológico, instaurando distintas posições-sujeito, que “se constituem em um movimento contínuo de processos de identificação na história e na relação com os modos de individuação em relação à formação social e ao Estado” (ZOPPI-FONTANA, 2017ZOPPI-FONTANA, M. G. “Lugar de fala”: enunciação, subjetivação, resistência. Conexão Letras, v. 12, n. 18, p. 63-71, 2017., p. 65). Na especificidade desta análise, assumimos o pressuposto da referida autora para quem as identificações de gênero inscrevem seus efeitos em relação aos processos identitários e de subjetivação.

Cabe lembrar que a opacidade do sujeito se inscreve num movimento contraditório da ordem do desejo (inconscientemente) e da ideologia, produzindo a ilusão da consciência, o que requisita considerar que o imaginário no sujeito “não pode reconhecer sua subordinação, seu assujeitamento ao Outro, ou ao Sujeito, já que essa subordinação-assujeitamento se realiza precisamente no sujeito sob a forma da autonomia” (PÊCHEUX, 2009PÊCHEUX, M. Semântica e Discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Trad. Eni Puccinelli Orlandi et al. 4. ed. Campinas, SP: Pontes Editores, 2009., p. 149, grifo do autor).

Por sua vez, de acordo com Zoppi-Fontana (2017, p. 64), os processos de identificação, que constituem o sujeito do discurso, a partir de sua inscrição no simbólico e na história, “se caracterizam como um movimento contraditório de reconhecimento/desconhecimento do sujeito em relação às determinações do inconsciente e da ideologia que o constituem, materializadas nos processos discursivos”. Por esta via, cabe parafrasear Pêcheux (2009PÊCHEUX, M. Semântica e Discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Trad. Eni Puccinelli Orlandi et al. 4. ed. Campinas, SP: Pontes Editores, 2009.) sobre as três modalidades de identificação possíveis:

  • a) Identificação - superposição (recobrimento) entre o sujeito da enunciação e o sujeito universal - a “tomada de posição” do sujeito realiza seu assujeitamento sob a forma de “livremente consentido”, tendo-se então um bom sujeito.

  • b) Contraidentificação - o sujeito da enunciação “se revolta” contra o sujeito universal por meio de “tomada de posição”, na qual se distancia, questiona, contesta. Contraidentifica-se com a formação discursiva que lhe é imposta pelo interdiscurso com determinação exterior da sua interioridade subjetiva, produzindo um discurso-contra, um contradiscurso. Tem-se aí um mau sujeito.

  • c) Desidentificação - o sujeito da enunciação se desidentifica com a formação discursiva que o domina, por uma tomada de consciência que se dá através da relação entre prática política e prática científica.

No dizer de Indursky (2000INDURSKY, F. A fragmentação do sujeito em análise do discurso. In: INDURSKY, F.; CAMPOS, M. C. (org.). Discurso, memória, identidade. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2000., p. 74), nesta última modalidade (desidentificação), “há um deslizamento de uma forma de subjetivação para outra”. Entendemos, então, que a posição-sujeito desalentado/a consiste em uma tomada de posição de contraidentificação do sujeito da enunciação na formação discursiva do desemprego (doravante FDD), sem, no entanto, com ela romper. Desse modo, nos processos de subjetivação são fragmentadas diferentes posições-sujeito e, no que toca especificamente esta análise, a ideologia dominante captura o sujeito desempregado/a em um ritual falho, no qual é possível haver uma desidentificação com determinados elementos de saber, instaurando uma nova posição-sujeito no interior da FDD, e ao invés de produzir uma identificação como desempregado/a, ou sub/desempregado/a/ocupado/a instaura uma tenção pela “tomada de posição” em desistir de procurar trabalho.

Com base em Zoppi-Fontana (2017, p .64), consideramos o funcionamento da interpelação ideológica “como um processo sempre-já-gendrado”, o que permite discutir “teoricamente a complexidade dos processos de identificação que configuram as posições-sujeito no discurso, na sua relação constitutiva com as condições de produção, a memória discursiva, a enunciação e o corpo”.

Um aspecto importante desta consideração diz respeito ao modo como o corpo constitui um dizer sobre o sujeito desalentado/a, na medida em que o percurso exaustivo da procura por emprego, quer virtualmente através de sites de emprego ou pessoalmente indo às empresas, por exemplo, diz respeito a um cansaço, a um esgotamento das forças físicas e mentais, trazendo o desalento como consequência, cuja causa é constitutivamente objetiva/subjetiva. Trata-se de um corpo sempre-já-gendrado, que se põe como força de trabalho disponível para a exploração no mercado de trabalho, mas que é insistentemente recusado, um corpo, momentaneamente desnecessário para o capital. Um corpo que será apagado nas reportagens que aqui serão recuperadas e do qual só se dar a perceber a sua cara, sob a suposta homogeneização da “cara do desalento”. Um corpo que resiste, mesmo ao desistir, quando em última instância o que está em questão é a sua própria sobrevivência. É nesta perspectiva que “compreendemos o gênero como uma construção discursiva, [...] na emergência de discursos nos quais os indivíduos são tomados como alvo de um processo de subjetivação gerando, ao mesmo tempo, um saber e um modo de falar sobre si” (ZOPPI-FONTANA, 2017ZOPPI-FONTANA, M. G. “Lugar de fala”: enunciação, subjetivação, resistência. Conexão Letras, v. 12, n. 18, p. 63-71, 2017., p. 64).

Retomamos Pêcheux (2009PÊCHEUX, M. Semântica e Discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Trad. Eni Puccinelli Orlandi et al. 4. ed. Campinas, SP: Pontes Editores, 2009., p. 161, grifo do autor), quando afirma que “todo sujeito-falante ‘seleciona’ no interior da formação discursiva que o domina, isto é, no sistema de enunciados, formas e sequências que nela se encontram em relação de paráfrase”. Identifico aí também o que Guimarães (1995GUIMARÃES, E. R. J. Os limites dos sentidos. Campinas, SP: Pontes, 1995.) considerou como “relações de referência instáveis”, produzidas pelo cruzamento de diferentes posições-sujeito, uma vez que os processos discursivos conduzem à construção de modalidades de identificação, pela interpelação ideológica, constituindo “o sujeito do discurso, a partir de sua inscrição no simbólico e na história” (ZOPPI-FONTANA, 2017ZOPPI-FONTANA, M. G. “Lugar de fala”: enunciação, subjetivação, resistência. Conexão Letras, v. 12, n. 18, p. 63-71, 2017., p. 64). Nessa perspectiva, as relações entre os diferentes dizeres assumem contornos expressivos das posições-sujeito, o que permite inferir que os processos de identificação com uma dada FD têm base nas filiações ideológicas, razão pela qual é possível apontar os dizeres que os reproduzem. Nessa perspectiva, interessa considerar que “os lugares de enunciação, por presença ou ausência, configuram um modo de dizer (sua circulação, sua legitimidade, sua organização enunciativa) e são diretamente afetados pelos processos históricos de silenciamento” (ZOPPI-FONTANA, 2017, p. 66).

Cabe lembrar que, no dizer de Paveau (2010, p. 8, tradução nossa), a ideologia “é uma estrutura imaginária que existe não apenas na forma de conceitos, mas também na forma de atitudes, gestos, conduta, intenções, aspirações, recusas, permissões, proibições, etc.” Por esta razão, “ser reconhecido e se reconhecer em relação ao funcionamento social e histórico das masculinidades e das feminilidades, em toda sua dimensão contraditória e equívoca, faz parte do processo de constituição do sujeito do discurso” (ZOPPI-FONTANA, 2017ZOPPI-FONTANA, M. G. “Lugar de fala”: enunciação, subjetivação, resistência. Conexão Letras, v. 12, n. 18, p. 63-71, 2017., p. 65).

Tais pressupostos, em sua arquitetura conceitual, tornam possível considerar, do ponto de vista do discurso, como o sujeito se constitui e como os sentidos são produzidos e circulam, buscando identificar daí os seus efeitos nas diversas práticas sociais. Nos processos de subjetivação, o imaginário comparece “como um conjunto de representações inconscientes, cuja existência está ligada à clivagem do sujeito. No eu lá gera a função da ignorância (do Outro, por Um); no relacionamento intersubjetivo gera projeção (de Um para o Outro). O imaginário implica em negação” (PAVEAU, 2010, p. 8, tradução nossa).

Desse modo, conforme Zoppi-Fontana (2017, p. 64), a contradição constitutiva dos processos de produção de sentido e do sujeito “tanto reforçam o imaginário social quanto irrompem como acontecimento, abrindo brechas sociais e discursivas para o deslocamento de sentidos e a emergência de novas modalidades de subjetivação”, a exemplo das pessoas/mulheres desalentadas. Cabe considerar, no entanto, que “as posiçõessujeito se constituem em um movimento contínuo de processos de identificação na história e na relação com os modos de individuação em relação à formação social e ao Estado” (Id. Ibid., p.65).

Zoppi-Fontana (2017, p. 66) afirma que “se é a posição-sujeito que determina o sentido dos enunciados a partir do funcionamento da memória discursiva, é na enunciação de um sujeito em determinadas condições de produção que esse dizer poderá ser reconhecido como legítimo relativamente a um determinado lugar enunciativo”. A memória discursiva constitui então no intradiscurso a abertura para o atravessamento do discurso-outro, enquanto presença virtual na materialidade descritível da sequência, marcando, “do interior desta materialidade, a insistência do outro como lei do espaço social e da memória histórica, logo como o próprio princípio do real sócio-histórico” (PÊCHEUX, 2008PÊCHEUX, M. O Discurso: estrutura ou acontecimento. Trad. Eni P. Orlandi. 5. ed. Campinas/SP: Pontes Editores, 2008., p. 55), abrindo possibilidade para interpretar.

Do Desalento às “desalentadas”: processos de subjetivação em discurso

Guardadas as particularidades locais e regionais, o desalento é um fenômeno global e os processos de subjetivação que lhe são constitutivos materializam as determinações históricas, econômicas e ideológicas em presença. No caso da Grécia, por exemplo, país fortemente atingido pelos efeitos da crise econômica de 2008/ 2009, o desalento tem sido apontado como fator importante para a migração, sobretudo das pessoas mais jovens, conforme apontou uma pesquisa da Universidade de Patras, mostrando que 19,5% dos jovens de 15 a 29 anos não estavam trabalhando e nem realizando um programa de treinamento, o que representava uma desistência de procurar trabalho, sendo o problema particularmente grave nas idades de 25 a 29 anos. No período de 2006-2009, os jovens de 25 a 29 anos sem trabalho ou treinamento constituíam 25% do total dessa população na Grécia. Em 2013, atingiram 40%, começaram a declinar e, em 2018, atingiram 29,5%, apesar do encolhimento demográfico desse grupo populacional, que incluía 800.000 pessoas em 2006 e aproximadamente 560.000 em 2018, devido à fuga de cérebros (KARAISAKI, 2019KARAISAKI, T. ÅãêëùâéóìÝíïé óôçí áíåñãßá ïé íÝïé. University of Patras, dez. 2019. Disponível em: https://www.kathimerini.gr/1058060/article/epikairothta/ellada/egklwvismenoi-sthn-anergia-oi-neoi. Acesso em: 11 jan. 2020.
https://www.kathimerini.gr/1058060/artic...
).

Na América Latina também são identificadas relações entre o desalento e a desistência (não apenas de procurar trabalho), embora na busca realizada tenhamos identificado com certa frequência uma relação entre “mujeres desalentadas” e sites voltados para acompanhantes masculinos.

Pode-se, portanto, considerar que o substantivo masculino desalento é plurissemântico e que tem no trabalho seu referente para o deslocamento, a produção e a circulação dos sentidos que interessam a esta análise. No Dicionário on-line de Português (2020), o desalento é definido como “ausência de alento; condição da pessoa que expressa falta de alento; que demonstra desânimo; abatimento ou esmorecimento.” Interessante observar que no referido dicionário (grifo do autor) são citados três exemplos de ocorrência da palavra desalento, todos extraídos do jornal Folha de S. Paulo, sem uma cronologia, apontando de início para a crise econômica iniciada nos Estados Unidos da América, como também fazendo referência ao cenário político de São Paulo, com o desalento de Luiza Erundina (2012), e a uma relação entre o desalento e o desempenho político do então presidente Barack Obama (2009):

A ligeira redução, no entanto, a uma queda na taxa de participação na força de trabalho latino-americana, o que refletiria “em grande parte a um efeito de desalento frente às escassas oportunidades de trabalho no contexto da crise”, diz o boletim. Folha de S. Paulo, 01/10/2009.

Aliados relataram desalento seu com a política recentemente. Folha de S. Paulo, 17/06/2012.

Não por coincidência, enquanto o desemprego e o desalento entre quem procura trabalho cresce, a popularidade do presidente Barack Obama já apresenta rachaduras. Folha de S. Paulo, 20/07/2009.

Em Francês, a expressão découragement, e em Inglês discouragement, põe por antinomia a coragem daqueles/as que procuram por emprego, das pessoas que trabalham, alinhando o que se contabiliza como força de trabalho disponível e ocupada, bem como desempregados/as e subocupados/as. Em Espanhol, por sua vez, é mantida a mesma escrita, desalento. Desse modo, buscamos identificar os sentidos de desalento em enunciados de diferentes idiomas: Espanhol, Inglês e Francês.

Pesquisa publicada em dezembro de 2019, pelo Instituto Nacional de Estatística e Censo (INEC) de Costa Rica, apontou que mais mulheres que homens estavam em idade laboral, porém 15 de cada 100 não encontravam trabalho. De acordo com uma funcionária do INEC, Pilar Ramos Vargas, entrevistada pela repostagem:

67% das mulheres desempregadas estão ‘desalentadas’ porque o mercado não lhes oferece trabalho. Vários deles argumentam que existe um ‘efeito de discriminação com base em sua condição de gênero’. Outras razões mencionadas são a oferta de horários de trabalho que não lhes convêm e uma oferta de salário baixo ‘que não compense os custos de participação’. (ZELEDÓN, 2019ZELEDÓN, N. D. Más mujeres que hombres están em edad laboral, pero 15 de cada 100 no encuentran empleo. Dic. 2019. Disponível em: https://semanariouniversidad.com/pais/mas-mujeres-que-hombres-estan-en-edad-laboral-pero-15-de-cada-100-no-encuentranempleo/. Acesso em: 11 jan. 2020.
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, p. 1, grifo da autora, tradução nossa).

Tem-se aí, com base no arquivo que orgnizamos em nossa pesquisa até o momento, a única ocorrência de “desalentadas” referindo-se às mulheres que desistiram de procurar trabalho. Buscando verificar uma noção ampliada de desalento, identificamos que o estudo da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), apresentado na Suiça em janeiro/2020 no documento Gender-based violence and environment linkages: the violence of inequality, evidenciou que a violência baseada no gênero (GBV)

tem um impacto cíclico, impedindo as vítimas de exercer seus outros direitos econômicos e políticos (EU; ONU, 2018). As que experimentam GBV podem ser desencorajadas a se envolver em decisões com oportunidades de criação, liderança, educação e geração de renda - todas afetam diretamente o empoderamento econômico e põem em risco o progresso em direção à redução da pobreza (IACHR, 2016; UN Women Fiji, 2014). (CAMEY; SABATER; OWREN; WEN, 2020CAMEY, I. C.; SABATER, L.; OWREN, C.; WEN, A. E. B. J. (ed.) Gender-based violence and environment linkages: the violence of inequality. Gland, Switzerland: IUCN, 2020., p. 4-5, grifo nosso, tradução nossa).

Na França, um estudo do Institut National de la Statistique et des études Économiques (INSEE), realizado em 2017, relatou as desigualdades que ainda reinavam na prática do esporte amador.

Segundo o Instituto, que se baseia em outros estudos ou pesquisas, os motivos mencionados podem ser múltiplos: ‘cansaço’, ‘falta de tempo’, ‘dificuldades de transporte ou insatisfações relacionadas ao ambiente’. ‘As meninas jovens também podem ser desencorajadas pela falta de vagas ou horários atraentes’, observa INSEE. A falta de tempo também é um fator importante para as mulheres de 25 a 30 anos, ‘o período da vida em que muitas vezes ingressam no mercado de trabalho e formam uma família’. ‘De fato, as mulheres continuam gastando, em média, mais tempo do que os homens nas tarefas domésticas e familiares’ (L’OBS, 2017, p. 1, grifo nosso, tradução nossa).

Nos três exemplos apresentados, observamos um funcionamento discursivo que faz relação do desalento com o modo de vida das mulheres, quer no espaço urbano da Costa Rica, quer em áreas de conflitos ambientais ou no contexto esportivo francês, cabendo destacar o sentido de desencorajamento, caso do Inglês e do Francês, conforme anteriormente apontado. Mesmo quando é incentivado o empreendedorismo, por exemplo, o trabalho doméstico continua sendo considerado indissociável da vida das mulheres.

Buscando responder a pergunta “porque as mulheres deixam de trabalhar?”, do Instituto Voz de Mujer - ComunidadMujer, em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Univerdsidade do Chile, uma pesquisa apontou que

30,8% das mulheres trabalhavam antes de ter filhos e não retornavam à sua fonte de emprego posterior a isso. Embora as causas sejam múltiplas, como as que não precisam voltar ao trabalho ou as mulheres que não tinham contrato de trabalho no momento da gravidez, há aquelas que trabalham independentemente e continuam a fazê-lo durante o período pré e pós-natal ou as mulheres decidem começar com um empreendimento. Hoje, é cada vez mais comum ver mulheres independentes e empreendedoras trabalhando em casa, sem descuidar do cuidado de seus filhos. [...] o que foi possível graças aos vários avanços tecnológicos e à modalidade cada vez mais aceita de trabalhar à distância, o que se traduz em um benefício tanto para o empregado quanto para o empregador (JIMÉNEZ, 2017JIMÉNEZ, J. I. Por qué dejan de trabajar las mujeres? El 31% sale para siempre del mundo laboral luego de ser madre. Capital Humano, 21 sep. 2017. Disponível em: https://capitalhumano.emol.com/7952/dejan-trabajar-las-mujeres-31-sale-siempre-del-mundo-laboralluego-madre/. Acesso em: 11 jan. 2020.
https://capitalhumano.emol.com/7952/deja...
, p. 1, grifo nosso, tradução nossa).

No contexto do atual governo argentino, por sua vez, o novo Ministério das Mulheres, Gêneros e Diversidade criou uma “equipe de cuidados” e prometeu maiores serviços disponíveis de cuidados de crianças e idosos para que esse trabalho não pago afete menos as mulheres, naquele país, onde 90% das mulheres realizam trabalho doméstico não remunerado (TOLEDO, 2020TOLEDO, C. “No es amor, es trabajo no pago”: qué hará el nuevo ministério de las mujeres para compensar el trabajo em casa por el que nadie paga. 23 ene. 2020. Disponível em: masternwes.com.ar/index.php. Acesso em: 10 fev. 2020.).

Considerando o recorte temporal apresentado no exemplo trazido pelo Dicionário on-line de Português, lembramos que a crise econômica de 2008/2009, iniciada no mercado imobiliário estadunidense, trouxe impactos em diversos países do mundo e, no Brasil, os seus efeitos foram, de certo modo, retardados em decorrência das medidas adotadas pelo governo Lula, então em seu segundo mandato, face à volatilidade do capital especulativo. Se em 20 de maio de 2008, o índice Ibovespa ultrapassou 73.000 pontos, atingindo o recorde da década, e no segundo semestre daquele ano apresentou uma queda de mais de 60%, fechando o mês de outubro abaixo de 29.500 pontos, sendo considerável também o aumento no preço do dólar. Dois anos depois, a crise atingiu a União Europeia, com impactos na desvalorização do euro e aumento das dívidas de alguns países, como Grécia, Portugal, Espanha e Itália, provocando desemprego em massa, aumento da inadimplência e ajustes fiscais severos.

De acordo com o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE, 2009), setores como o de comércio apresentaram comportamento não característico de crise, com as principais empresas do segmento obtendo bons resultados no período. Todavia, o setor se recuperou no segundo semestre de 2009, com o auxílio de medidas governamentais, como: oferta de crédito intermediada por bancos públicos, isenções fiscais sobre materiais de construção, investimentos públicos em infraestrutura e programas de habitação popular, a exemplo do Programa Minha Casa, Minha Vida (DIEESE, 2010). No dizer de Reis (2016, p. 4) tais medidas compõem “o conjunto de ferramentas anticíclicas preconizadas pela teoria Keynesiana”.

Conforme Ferrari (2019FERRARI, H. Mulheres têm nível de ocupação menor que homens no Brasil, diz IBGE. Correio Braziliense/Economia, 22 fev. 2019. Não paginado. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2019/02/22/internas_economia,739211/ mulheres-tem-nivel-de-ocupacao-menor-que-homens-no-brasil-diz-ibge.shtml. Acesso em: 14 fev. 2020.
https://www.correiobraziliense.com.br/ap...
), “o contingente dos desocupados no Brasil no 1º trimestre de 2012 era de 7,6 milhões de pessoas, quando os pardos representavam 48,9%. No 4º trimestre de 2018, esse contingente subiu para 12,2 milhões de pessoas e a participação dos pardos passou a ser de 51,7%”, demonstrando que o nível de desemprego era maior para quem se declarava preto ou pardo. Considerando o quarto trimestre de 2018, as mulheres representavam 52,4% da população em idade de trabalhar. No entanto, considerando o nível de ocupação, os homens representavam 64,3% da população ocupada, enquanto as mulheres representavam apenas 45,6%. Tendo em conta o mesmo período de 2019, o percentual de pessoas desempregadas correspondeu a 11%, com um percentual de homens desempregados de 9% e de 13,1% de mulheres (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2018, 2019).

Dados da PNAD Contínua do último trimestre de 2019, divulgada em 14 de fevereiro de 2020, pelo IBGE, mostraram que a real queda dos índices de desemprego era decorrente do aumento recorde da informalidade no país. Além disso, é importante considerar também a queda na contribuição previdenciária de trabalhadores/as ocupados/as, alvo da reforma previdenciária recente (GALVANI, 2020GALVANI, G. Aumento da informalidade sustenta queda do desemprego, diz IBGE. In: Carta Capital, 14 de fevereiro de 2020. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/sociedade/aumento-da-informalidade-sustenta-queda-do-desemprego-diz-ibge/. Acesso em 22 fev. 2020.
https://www.cartacapital.com.br/sociedad...
). O período de novembro/19 a janeiro/20 apresentou aumento do desemprego, após três trimestres de declínio, que passou a 11,2%, correspondendo a 11,9 milhões de pessoas desempregadas (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2020).

Os dados acima apresentados, para além de contribuir com o dimensionamento da problemática em tela, recuperando sua dimensão histórica e econômica, são também importantes enquanto elementos de sustentação nos discursos relacionados ao mercado de trabalho no país, sendo retomados de forma recorrente nos processos argumentativos em diversas áreas do conhecimento e sob os distintos matizes teóricos. Tais dados são aqui tomados por pressuposto, com base em quatro matérias veiculadas pela mídia eletrônica em 2018/2019, de onde foi extraído o corpus de análise, considerando os termos de Courtine (2016COURTINE, J-J. Definição de orientações teóricas e construção de procedimentos em Análise do Discurso. Policromias, ano 1, p. 1435, jun. 2016., p. 20), para quem:

A noção de condições de produção do discurso regula, em AD, a relação entre a materialidade linguística de uma sequência discursiva e as condições históricas que determinam sua produção; ela funda, assim, os procedimentos de constituição de corpus discursivos (conjunto de sequências discursivas dominadas por um determinado estado, suficientemente homogêneo e estável, das condições de produção do discurso).

Ao tratar sobre a dispersão sistemática das sequências discursivas, Courtine (2009COURTINE, J-J. Análise do discurso político. O discurso comunista endereçado aos cristãos. São Carlos: EdUFSCar, 2009. ) afirma que estas são organizadas em torno na sequência discursiva de referência (SDr). Um primeiro gesto de análise foi desenvolvido a partir dos enunciados que intitularam as reportagens, buscando recuperar dizeres que apontavam para um discurso sobre o desalento, considerando que os enunciados compõem no intradiscurso elementos de saber constitutivos na produção e circulação de determinados sentidos, conforme demonstramos na análise das quatro sequências discursivas (SD) a seguir:

SD1 - Anais da crise - Depois do desemprego vem o desalento - crise econômica converteu Salvador na capital brasileira dos desalentados, aqueles que se frustram com o insucesso e param de procurar trabalho. UOL Piauí/Folha de S. Paulo, 17/07/2018.

SD2 - Mulheres, nordestinos e população de baixa escolaridade são a cara do desalento do Brasil - no ano passado, 4,7 milhões de pessoas desistiram de procurar emprego no país. G1 Economia, 19/02/2019.

SD3 - Desalentados: 4,7 milhões se sentem sem esperança de emprego no Brasil - esse é o número de brasileiros que, de tanto batalharem para arranjar trabalho e não conseguirem, desistiram até de tentar. Para o IBGE, eles estão em situação de desalento. Correio Braziliense, 18/03/2019.

SD4 - Negras, jovens e pessoas com pouco estudo são a cara do desalento no país. Diário de Pernambuco/ Notícia de Economia, 23/09/2019.

Considerando as formas de designação apresentadas nos títulos das reportagens, observamos a repetição do substantivo desalento, em SD1, SD2 e SD4 e em SD1 e SD3, a adjetivação no masculino plural. Por sua vez, a expressão metafórica “a cara do desalento” que comparece em SD2 (19/02/2019) se repete em SD4 (23/09/2019), cabendo notar que a primeira é seguida da preposição de (do Brasil) e na segunda da preposição em (no país).

O processo de adjetivação vai se dá em referência a um sujeito que precisa ser nomeado, razão pela qual temos considerado a designação “desalentado/a” como efeito de sentido. Todavia, a constituição dessa posição-sujeito no discurso do desemprego requisita uma caracterização homogeneizada de forma singular na “cara do desalento”, cabendo lembrar que não foi identificada a expressão “face do desalento”, o que implicaria considerar também a sua contra face, a exemplo da relação constitutiva verso/avesso, conforme apontado por Amaral (2007AMARAL, M. V. B. O avesso do discurso: análise de práticas discursivas no campo do trabalho. Maceió: Edufal, 2007.), ao tratar do “avesso do discurso”. O uso do substantivo cara soa mais informal/coloquial, diríamos mais popular, que face, palavra mais suavizada.

Para dar forma e expressão à “cara do desalento” são descritas as características que possibilitam a sua representação: “Mulheres, nordestinos e população de baixa escolaridade” (SD2) e “Negras, jovens e pessoas com pouco estudo” (SD4). Interessante verificar a relação de paráfrase entre os dois títulos, considerando o intervalo de sete meses entre as reportagens, mas ao mesmo tempo identificar na repetição substituições e deslocamentos:

  • a) Mulheres, nordestinos e população de baixa escolaridade (SD2)

  • b) Negras, jovens e pessoas com pouco estudo (SD4)

Em SD2, chamamos a atenção para a relação entre gênero, região geográfica e escolaridade, pressupondo a pergunta “quem são as pessoas desalentadas no/do Brasil?” talvez com mais coerência do que a pergunta “qual é a cara do desalento no/do Brasil?”. Por sua vez, em SD4, a primeira categoria se refere à raça e na resposta (considerando as mesmas perguntas) há um atravessamento do gênero, uma vez que não comparece “mulheres negras”. A segunda categoria põe em perspectiva a questão geracional e aponta para as pessoas jovens. Um gesto interpretativo possibilita verificar que há também um funcionamento que aponta para um efeito que decorre da pressuposição de que os adjetivos se referem aos substantivos população e pessoas, daí teríamos:

  • a) Mulheres, nordestinos e [população] de baixa escolaridade (SD2)

  • b) Negras, jovens e [pessoas] com pouco estudo (SD4)

A “cara do desalento” do/no Brasil/país, então, seria composta por: mulheres, nordestinos e baixa escolaridade; negras, jovens e com pouco estudo. Trata-se, desse modo, de considerar que, embora o desalento ocorra em todo o país, suas expressões precisam ser observadas tendo em conta uma abordagem de gênero, raça, idade, região e escolaridade. Não se trata aqui de estabelecer uma escala valorativa entre as categorias citadas, mas de ter em conta uma relação constitutiva entre elas e entre outras categorias também possíveis de ser relacionadas, como profissão, por exemplo. Não menos importante é observar que as expressões “desalento do Brasil” e “desalento no país”, para além da aparente escolha lexical, algo da ordem do Esquecimento 2, como se algo só pudesse ser dito de forma X, ou que esta seria a melhor forma de dizer (PÊCHEUX, 2009PÊCHEUX, M. Semântica e Discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Trad. Eni Puccinelli Orlandi et al. 4. ed. Campinas, SP: Pontes Editores, 2009.), contribui para localizar o fenômeno “no país” e, ao mesmo tempo, particularizar o desalento “do Brasil”, problemática que se agudiza e se intensifica em razão da condição econômica e política recente, como também enquanto expressão da “questão social” que o Brasil precisa enfrentar.

De acordo com Paulo Netto (2004), a “questão social” eclode de forma latente com o processo de industrialização, ancorada nas relações antagônicas entre capital e trabalho no interior do processo produtivo, a partir do surgimento do modo de produção capitalista. No dizer de Iamamoto (2012IAMAMOTO, M. O Serviço Social em tempo de capital fetiche: capital financeiro, trabalho e questão social. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2012., p. 147):

as mais importantes manifestações das expressões da questão social são: o retrocesso no emprego, a distribuição regressiva de renda e a ampliação da pobreza, acentuando as desigualdades nos estratos socioeconômicos, de gênero e localização geográfica urbana e rural, além de queda nos níveis educacionais dos jovens [...] cresceu a disparidade entre o rendimento de 40% das famílias mais pobres e o rendimento das 10% famílias mais ricas.

Desse modo, nosso interesse reside em observar como as práticas de linguagem/de discurso materializam na língua as transformações sociais, em suas contradições econômicas, históricas e ideológicas. Assume relevo, no entanto, não somente os dizeres que daí decorrem, mas também o que não pode ou não deve ser dito, uma vez que “[...] há uma dimensão do silêncio que remete ao caráter de incompletude da linguagem: todo dizer é uma relação fundamental com o não dizer” (ORLANDI, 1992ORLANDI, E. P. As formas do silêncio: no movimento de sentidos. Campinas: Ed. da Unicamp, 1992., p. 12). Para Ducrot (1987DUCROT, O. O dizer e o dito. Campinas, SP: Pontes Editores, 1987.), daí decorrem outros não-ditos, mas subentendidos, indicados pela força argumentativa do enunciado e pelas marcas linguísticas, considerando que toda língua possui, em sua gramática, mecanismos que permitem indicar a orientação argumentativa dos enunciados. Na AD, o implícito, que é aprendido por inferências, atravessa as palavras e as imagens, deixando sempre em aberto possibilidades para outras leituras. Não há um desfecho, porque o discurso, explícito ou implícito, “[...] não se dá como algo já discernido e posto”, por isso o analista “[...] desfaz o produto enquanto tal para fazer aparecer o processo”. (ORLANDI, 2005, p. 66). Nesta perspectiva, “o implícito é o não-dito que se define em relação ao dizer” (ORLANDI, 2002, p. 106).

Avancemos na análise para observar as relações constitutivas entre dizer e não dizer e seu funcionamento em se tratando de um dizer sobre o desalento e um dizer sobre as desalentadas, notadamente fazendo distinção com um discurso sobre, entendido como constitutivamente polifônico, enquanto “um lugar importante para organizar as diferentes vozes do discurso de” (ORLANDI, 1990ORLANDI, E. P. Terra à Vista: Discurso do Confronto, Velho e Novo Mundo. São Paulo: Cortez; Campinas: UNICAMP, 1990. , p. 37), organizando, disciplinando a memória, reduzindo-a. Em se tratando desta análise, o espaço midiático/jornalístico, ancorado em dados decorrentes de pesquisas de instituições oficiais, assume a credibilidade requisitada para poder falar sobre o desalento. Por esta razão, fazemos uma distinção entre os dizeres enunciados pelos jornalistas sobre o desalento/ pessoas desalentadas e o que as mulheres consideradas como desalentadas enunciaram. “Parece-nos, nessas condições, que se pode caracterizar a forma-sujeito como realizando a incorporação-simulação dos elementos do interdiscurso: a unidade (imaginária) do sujeito, sua identidade presente-passado-futura encontra aqui um de seus fundamentos” (PÊCHEUX, 2009PÊCHEUX, M. Semântica e Discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Trad. Eni Puccinelli Orlandi et al. 4. ed. Campinas, SP: Pontes Editores, 2009., p. 154-155).

Com base nesta observação, analisamos as SD a seguir, formuladas a partir do que foi atribuído textualmente às mulheres entrevistadas nas reportagens, considerando as marcas linguísticas de aspas duplas e de expressões como “disse”, “contou”, “diz”, e “afirma”.

SD5 - A gente procura, procura e nunca tem resultado, só o desânimo de não conseguir. Prefiro ajudar ‘mainha’ em casa e estudar mais até mudar essa situação de desemprego no país”, disse. Em 2017, parei de procurar. Dá muito desânimo procurar tanto tempo e não achar nada - Alane Nascimento, 23 anos - UOL Piauí/Folha de S. Paulo, 17/07/2018.

A pouco nos referimos a um corpo que circula por espaços virtuais ou não a procura de trabalho. Mas são muitos corpos, são milhões, são pessoas que por um longo tempo insistem em romper a barreira imposta pelo desemprego. A busca aparentemente incessante esbarra no inesperado, pois o que se espera de quem procura algo é que o encontre. E o que dizer então de quem procura, procura... Na nomeação de um sujeito que procura, verificamos uma ampliação de um “eu” para um “a gente”, que, simultaneamente, põe a possibilidade de inclusão do/a interlocutor/a, mas deste/a se distancia para se juntar às milhões de pessoas que percorrem esta avenida. Face à frustação do nada encontrar, resta “o desânimo de não conseguir”.

SD6 - Só consigo sobreviver porque recebo Bolsa Família e pela ajuda de outras pessoas. Dá para fazer pouca coisa (com o dinheiro), mas já é alguma coisa. [...] Quando trabalhava em casa de famílias, conseguia ganhar até um salário mínimo. - Maria do Carmo, 29 anos - G1 Economia, 19/02/2019.

Todavia, mesmo que momentaneamente não tenha sobrado forças para continuar a procura, é preciso sobreviver e, muitas vezes, quem procura tem uma família dependente. A SD6, conforme o enunciado apresentado na reportagem, permite pensar sobre as condições de vida de migrantes nordestinos e de outras regiões do país, para os grandes centros urbanos, movidos pela esperança de uma vida melhor. Ao não conseguir trabalho e sem condição de voltar para as regiões de origem, o que resta são as atividades informais, a assistência governamental, numa luta diária pela sobrevivência (“Só consigo sobreviver porque recebo Bolsa Família e pela ajuda de outras pessoas”).

Atravessadas pelo conformismo imposto pelas contradições sociais, assume condição permanente “fazer pouca coisa”, “já é alguma coisa”, “conseguia ganhar até um salário mínimo”, em que ganhar assume um efeito de premiação pelo grande esforço desprendido em prol do mínimo retorno (mas já é alguma coisa). Nessa formulação, “fazer pouca coisa (com o dinheiro)” e “já é alguma coisa” são atravessadas pela adversativa que aponta para a contradição de um dizer no qual com pouco dinheiro não se faz (quase) nada. Certo saudosismo do “quando trabalhava em casa de família” traduz no trabalho doméstico a esperança da mulher migrante, nordestina, com pouca escolaridade, engolida pelos contrates da megalópole, moradora da favela (Paraisópolis) da zona sul.

SD7 - Comecei a trabalhar cedo, numa empresa de fardamentos, e parei para fazer a faculdade. Cheguei a fazer pesquisa na universidade e, quando concluí, fui parar numa empresa de telemarketing, de onde fui demitida. [...]. Tentei muito voltar ao mercado, mas como não apareceram oportunidades, um ano depois, conversei com meus pais e eles apoiaram minha decisão de estudar para fazer um concurso público. Era tudo muito frustrante, porque eu me cadastrava em sites, ia a entrevistas, mas nada aparecia. O campo de trabalho para uma bacharela em história é basicamente pesquisa e isso era ainda mais complicado. Em maio de 2018 conversei com meus pais e eles toparam me ajudar. Não sei até quando vou ficar assim, vai depender muito do andar das coisas. Seja financeiramente, em casa, ou mesmo da situação do país. - Fernanda Rocha da Costa, 25 anos - G1 Economia, 19/02/2019.

Começar trabalhando cedo e fazer faculdade parecem ser elementos importantes na construção de um futuro promissor. Todavia, as determinações impostas pelo mercado de trabalho pode ter um trajeto distinto e seu fundamento é orientando pelo movimento de expansão e acumulação do capital. Por esta razão, os filhos e as filhas da classe trabalhadora, para além dos esforços individuais e familiares, mesmo ascendendo na escolaridade ainda encontram diversos obstáculos para se inserir e se manter no mercado de trabalho, sobretudo em algumas áreas de atuação profissional. É nesse momento que os sonhos de um futuro promissor são abalados e é preciso se reinventar diante da frustração, após um período de insistência. “Era tudo muito frustrante, porque eu me cadastrava em sites, ia a entrevistas, mas nada aparecia”. A referência ao passado, no entanto, traz também uma possibilidade de considerar um momento de reinvenção do sujeito diante das adversidades daí decorrentes. A frustração funciona como resultado do insucesso na procura por trabalho, mas ao mesmo tempo pode ser um ingrediente para uma “tomada de posição”, em outra direção.

SD8 - Vamos supor que esse governo dê certo e que as vagas comecem a abrir, mesmo assim, a solução não virá de forma imediata. Daqui a quatro anos, o mercado passaria a precisar de trabalhadores. [...] Foi o que aconteceu em 2002. Com emprego pleno, a pessoa é arrancada de casa e é inserida. [...] Esse é um fenômeno que sempre irá nos atingir enquanto seres humanos. Teremos décadas boas e outras nem tanto. Existem eventos incontroláveis, como guerras e crises econômicas. Haja vista a situação da Venezuela, que tem muitas pessoas desempregadas e não há o que se possa fazer. A questão é como lidamos com as crises que atravessamos. A primeira coisa é não deixar a esperança morrer. - Valéria Alves de Moraes, 38 anos - Correio Braziliense, 18/03/2019.

É importante observar que, nesse momento, o acesso à formação contribui para um entendimento que se amplia da condição individual e permite considerar a influência de fatores econômicos e políticos aí imbricados. Para além da ingênua suposição quanto ao atual (des)governo, há um dizer que retoma no processo histórico recente alguns elementos importantes para considerar a condição do desalento na atualidade, conforme anteriormente recuperamos, com base em pesquisas do DIEESE, do IBGE, etc. Não menos importante, e guardadas as devidas distinções, a menção à Venezuela, com todo o atravessamento midiático, aponta para algo que tem impacto importante na América Latina, o avanço da ofensiva neoliberal sobre o trabalho e o refuncionamento do Estado (GUILBERT, 2011GUILBERT, T. L’”évidence” du discours neoliberal: analyse dans la presse écrite. Broissieux: Éditions du Croquant, 2011. ). Assumem maior fôlego dizeres alinhados a um funcionamento discursivo no qual governo, pleno emprego, guerras, crises econômicas, Venezuela, pessoas desempregadas compõem as contradições da cena política contemporânea.

SD9 - Desisti há três anos, porque não consegui uma recolocação com salário equivalente. A crise política e financeira já estava acontecendo. [...] Resolvi empreender. Em 2017, criei uma loja de bijuterias virtual, passei a vender para vários estados. Hoje também atuo como personal organizer. Sou multifuncional, eu me viro para me manter financeiramente. - Mariana Ramonne, 36 anos - Correio Braziliense, 18/03/2019.

A frustração por não conseguir trabalho pode levar a desistência e chama atenção o caráter individual dessa decisão na enunciação (desisti, não consegui), ingrediente indispensável ao atravessamento do discurso empreendedor, centrado no individualismo burguês. Em decorrência, os mecanismos de enfrentamento foram orientados para o que apontou o Correio Braziliense, “[...] é o caso de pessoas desempregadas, que encontram no empreendedorismo uma forma de conseguir rendimentos”. Desse modo, um dizer de si vai se constituindo num discurso de superação - resolvi empreender, criei uma linha de bijuterias, passei a vender em vários estados, atuo como personal organizer, sou multifuncional, eu me viro.

Dentre milhões de pessoas desalentadas do país, especialmente as mulheres que são a maioria, a associação de discurso empreender atravessando um dizer sobre o desalento consiste numa estratégia do capital, a despeito do grande contingente de mulheres que empreenderam, mas que não obtiveram sucesso, algo pouco evidenciado em reportagens de grande circulação. A dificuldade de financiamento bancário e as amarras contratuais para a legalização de um negócio próprio leva boa parte das pessoas que “desejam” empreender para a informalidade, uma das razões para o aumento exponencial desse contingente no país, conforme anteriormente demonstrado. Nos dois casos, entretanto, tem-se o funcionamento da ilusão de um sujeito plenamente consciente, apagando em sua subjetivação os efeitos do inconsciente, da ideologia e da história.

SD10 - Precisaria de um emprego que me desse estabilidade, que não me desgastasse tanto e no qual eu ganhasse mais, porque não posso deixar de lado a minha avó. Mesmo meu pai tendo se aposentado neste ano, ele ainda faz alguns bicos e alguém precisa ficar com ela durante o dia. Assim, não compensa eu ter um trabalho que paga pouco, porque teríamos que pagar alguém para cuidar da minha avó durante o dia. E, por enquanto, não temos como pagar. - Marina Bezerra Fernandes, 25 anos - Diário de Pernambuco/Notícia de Economia, 23/09/2019.

Ao exemplo do que apontamos na SD6, em referência ao trabalho doméstico, recuperamos agora uma das dimensões mais importantes da produção e reprodução da vida e da força de trabalho. Trata-se do cuidado. Assumindo outras expressões que materializam um caráter religioso e negam a sua condição de trabalho, como ajuda, por exemplo, consideramos que no espaço doméstico o trabalho de cuidado assume maior relevo. A SD10 traz duas faces desse trabalho: por um lado, trabalho não pago, feito pela neta que abriu mão de trabalhar fora por não ter encontrado “um emprego que me desse estabilidade, que não me desgastasse tanto e no qual eu ganhasse mais”, uma vez que para trabalhar fora do espaço doméstico precisaria “deixar de lado” a avó, de 96 anos; por outro lado, ao sair para trabalhar fora, teria de “pagar alguém para cuidar”, ou seja, a remuneração pelo cuidado enquanto trabalho. A decisão se baseou na relação custo-benefício, uma relação tipicamente mercantil, que justificou a sua permanência em casa, trabalhando sem remuneração, cumprindo uma responsabilidade atribuída geralmente às mulheres, cabendo lembrar, por exemplo, que o pai aposentado saía para fazer bico e a entrevistada ficava em casa. Algo também presente em SD5, ao dizer “prefiro ajudar ‘mainha’”, reproduzindo os aspectos culturais e ideológicas da perpetuação do cuidado no trabalho doméstico, sob o simulacro da ajuda, e naturalizado como de natureza feminina.

Chama a atenção, no entanto, um efeito de esperança, que insiste em permanecer no horizonte, embora as condições objetivas não sejam favoráveis. A referência ao país é recorrente em alguns enunciados, o que põe em perspectiva uma relação de dependência entre uma tomada de posição do sujeito e a realidade posta, como observado em SD7, “não sei até quando vou ficar assim, vai depender muito do andar das coisas. Seja financeiramente, em casa, ou mesmo da situação do país”. E em SD5: “Prefiro ajudar ‘mainha’ em casa e estudar mais até mudar essa situação de desemprego no país”.

Considerações finais

A presente análise refletiu sobre os processos de subjetivação que se materializam em dizeres sobre mulheres designadas como desalentadas. Nas SDs analisadas não foi identificado um dizer de si “desalentada”, embora tenham sido identificados termos como “frustração” e “desânimo”, enquanto elementos de saber que funcionam por paráfrase no discurso sobre o desalento.

Consideramos que a designação “desalentadas” é constitutiva no discurso sobre, comparecendo como efeito de conclusão, sendo a sua subjetivação constitutiva enquanto contraidentificação na formação discursiva do desemprego. Há um caráter momentâneo implícito no discurso sobre e nos dizeres das mulheres consideradas como desalentadas, com maior expressão no componente individual e influência do discurso do empreendedorismo e do discurso religioso, funcionando enquanto interdiscursos, que produzem efeito de esperança, embora com uma relação de dependência do processo histórico em curso. Observamos que a temporalidade retoma um passado, numa memória positiva de emprego e de melhores condições de vida, silenciando as transições no tempo presente, e projetando para o futuro uma esperança de dias melhores, que joga com as incertezas da instabilidade política e econômica do país. O apelo à individualidade aponta um vazio que vem sendo preenchido pelo discurso neoliberal, enquanto exclui a perspectiva da organização social e política das mulheres na construção de alternativas às imposições em presença.

É nosso interesse investigar os processos discursivos materializados em documentos oficiais, que parecem silenciar ou apagar o desalento no discurso documental. Não menos importante é analisar o desalento no discurso sindical e sua relação com o trabalho do cuidado.

Para suavizar a conclusão deste trabalho, recorremos à Clarice Lispector:

Você reclama contra o meu desalento. Tem razão, F., sou um pouco desalentada, preciso demais dos outros para me animar. Meu desalento é igual ao que sentem milhares de pessoas. Basta, porém, receber um telefonema ou lidar com alguém que gosto e minha esperança renasce, e fico forte de novo. Você na certa deve ter me conhecido num momento em que eu estava cheia de esperança. Sabe como eu sei? Porque você diz que sou linda. Ora, não sou linda. Mas quando estou cheia de esperança, então de minha pessoa se irradia algo que talvez se possa chamar de beleza [...] a hora de rir há de chegar, F. Clarice Lispector

Agradecimentos

Não se aplica.

Referências

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    Não se aplica.
  • Aprovação por Comitê de Ética e consentimento para participação

    Não se aplica.
  • Consentimento para publicação

    Consentimento do autor.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Out 2020
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2020

Histórico

  • Recebido
    05 Maio 2020
  • Aceito
    20 Maio 2020
  • Revisado
    06 Jun 2020
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