Acessibilidade / Reportar erro

Resistência a compressão da alvenaria estrutural com blocos de concreto de alta resistência

Resumo

Ainda que o uso de blocos de concreto de alta resistência para a construção de edifícios altos esteja se tornando comum no brasil, as características e alguns aspectos do comportamento não são totalmente conhecidos. A literatura mostra uma lacuna em estudos experimentais com a utilização de blocos de concreto de alta resistências, acima de 16 MPa.

O trabalho aqui apresentado foi realizado com o objetivo de estudar o comportamento da alvenaria estrutural de alta resistência. Para tanto foram estudadas a resistência a compressão e o modulo de elasticidade em paredes de blocos de concreto ensaiadas sob carregamento axial, divididas em paredes ocas, paredes grauteadas, paredes com cinta grauteada a meia altura e paredes com assentamento parcial e total. As paredes foram construídas e ensaiados no laboratório da CESP e no laboratório de Estruturas do Dep. De Engenharia Civil da UNPESP de Ilha Solteira (NEPAE). Foram utilizados blocos de concreto com valores nominais de resistência à compressão de 16 (B1), 24 (B2) e 30 (B3) MPa. As paredes ocas foram construídas com altura de 220 cm e largura de 120 cm, enquanto as paredes grauteadas foram construídas com altura de 220 cm e largura de 80 cm, utilizando argamassa tradicional de cimento, areia e cal. Foram ensaiados 36 blocos, 18 prismas, 9 paredes ocas (6 com argamassa apenas na lateral dos blocos e 3 com argamassa sobre toda a face desses), 12 paredes grauteadas, e 12 paredes ocas onde foi introduzida uma canaleta grauteada a meia altura.

A análise dos resultados experimentais possibilitou verificar a relação entre a resistência a compressão das unidades de alvenaria, dos prismas e das paredes de alvenaria. Foi também analisada a fissuração, modo de ruptura e curva tensão - deformação das alvenarias ensaiadas.

Através dos resultados dos ensaios verificou-se que o valor da relação de resistência prisma/bloco varia conforme a resistência do bloco; que o procedimento executivo com argamassa apenas na lateral é adequado para blocos de concreto de alta resistência, sendo conservadora a consideração de diminuição de resistência de 20% quando comparada com casos com argamassa disposta sobre toda a face dos blocos; que o uso de cinta grauteada à meia altura das paredes não levou a diminuição da resistência a compressão, mas alterou a forma de ruptura e a forma da curva tensão-deformação; que os módulos de elasticidade medidos nas paredes ensaidas foram sempre maiores que 800 fp para paredes ocas e entre 688 e 848 fp para paredes grauteadas, não sendo verificado a necessidade de limitar E ao valor máximo de 16 GPa. Por último, foi verificado que o valor da relação de resistência parede/prisma igual a 0,7 pode ser adotado para blocos de concreto de alta resistência.

Palavras-chave:
alvenaria estrutural; bloco de concreto; alta resistência; resistência a compressão; edifícios altos.

Abstract

Although the use of high strength concrete blocks for the construction of tall buildings is becoming common in Brazil, their mechanical properties and behavior are not fully understood. The literature shows a gap in experimental studies with the use of high strength concrete blocks, i.e., those with compressive strength greater than 16 MPa.

The work presented herein was conducted in order to study the behavior of high strength structural masonry. Therefore, the compressive strength and modulus of elasticity of concrete block walls tested under axial load were assessed. The specimens included grouted and ungrouted walls and walls with a mid-height bond beam; ungrouted walls were constructed with face-shell and full mortar bedding. The walls were built and tested in the laboratory of CESP and in the Structures Laboratory of the UNESP Civil Engineering Department in Ilha Solteira (NEPAE). Concrete blocks with nominal compressive strength of 16 (B1), 24 (B2) and 30 (B3) MPa were used. Ungrouted masonry walls had a height of 220 cm and a width of 120 cm while grouted masonry walls had a height of 220 cm and a width of 80 cm. Traditional Portland cement, sand and lime mortar was used. The testing program included 36 blocks, 18 prisms, 9 ungrouted walls (6 with face-shell mortar bedding and 3 with full mortar bedding), 9 grouted masonry walls, and 12 ungrouted walls with a bond beam at mid-height.

The experimental results were used to determine the compressive strength ratio between masonry units, prisms and masonry walls. The analyses included assessing the cracking pattern, the mode of failure and the stress-strain curve of the masonry walls.

Tests results indicate that the prism-to-unit strength ratio varies according to the block strength; that face-shell mortar bedding is suitable for high strength concrete masonry; and that 20% resistance decrease for face-shell mortar bedding when compared with full mortar bedding is a conservative consideration. The results also show that using a bond beam at the mid-height of the wall does not lead to a compressive strength decreased but it changes the failure mode and the shape of the stress-strain curve. In addition, the results show that estimating E = 800 fp is conservative for ungrouted masonry walls but reasonably accurate for grouted masonry walls and that there is no reason to limit the value of E to a maximum value of 16 GPa. Furthermore, the results show that, for design purposes, a wall-to-prism strength ratio value of 0.7 may be used for high strength concrete masonry.

Keywords:
structural masonry; concrete block; high strenght; compressive strenght; high-rise buildings.

1. Introdução

O projeto estrutural em alvenaria requer uma compreensão clara do comportamento do conjunto unidade-argamassa em condições de carga diferentes. A combinação de blocos e argamassa de características diferentes, altera significativamente o comportamento dos elementos estruturais de alvenaria. Em estruturas com esses elementos, a resistência à compressão é o fator predominante no projeto.

A resistência à compressão da alvenaria depende de um numero de fatores tais como: resistência da argamassa; resistência das unidades; valores relativos entre a resistência da argamassa e das unidades; relação entre a altura da unidade e a menor dimensão horizontal da unidade; orientação da unidade em relação a direção de aplicação da carga; e espessura da junta da argamassa. A dependência nesses fatores indica, portanto, a complexidade de fazer uma avaliação precisa da resistência da alvenaria estrutural.

De acordo com Parsekian et al. [1[1] Parsekian. G. A. Hamid. A. A. and Drysdale. R. G. Comportamento e Dimensionamento de Alvenaria Estrutural. EdUFSCar. São Carlos. S.P. Brazil. 2012.] a resistência à compressão da alvenaria depende em grande escala do tipo de bloco e em menor escala da mão-de-obra, e em menor escala ainda do tipo de argamassa.

Mais detalhadamente Hendry et al. [2[2] Hendry. A. W.; Sinha B. P.; Davies S. R. Design of Masonry Structures. Department of Civil Engineering. University of Edinburgh. UK. E & FN SPON. 3ª ed. London. 2004.] discutem os fatores mais importantes que afetam a resistência à compressão da alvenaria. Esses fatores são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1
Fatores que afetam a resistência da alvenaria

Curtin et al. [3[3] Curtin. W. G. Shaw. G. and Beck. J. K. Design of Reinforced and Prestressed Masonry. Thomas Telford. London. Ed. 1988.], de forma mais simplificada, afirmam que a resistência característica da alvenaria a compressão depende da resistência característica da unidade; da argamassa especificada se a alvenaria é argamassada; da forma das unidades; da espessura das juntas de argamassa; e do padrão de acabamento.

Segundo a ABNT NBR 15961-1 [4[4] ABNT-NBR 15961-1: Alvenaria estrutural - Blocos de concreto - Parte 1: Projeto. Rio de Janeiro. 2011.], a resistência característica à compressão simples da alvenaria fk deve ser determinada com base no ensaio de paredes (ABNT NBR 8949 [5[5] ABNT-NBR 8949: Paredes de alvenaria estrutural - Ensaio à compressão simples. Rio de Janeiro. 1985.]) ou ser estimada como 70% da resistência característica à compressão do prisma fpk ou 85% da resistência característica de pequena parede fppk. Esses valores se referem todos na área bruta.

O EUROCODE 6 [10[10] Eurocode 6. 1996-1-1: Rules for reinforced and unreinforced masonry. 1996.] propõe duas equações para determinar a resistência caraterística à compressão da alvenaria simples: uma para alvenaria de junta tradicional de 10 mm e outra para junta fina de 3 mm ou menos. Essas formulações levam em conta a resistência à compressão do bloco, a resistência média à compressão da argamassa convencional, a espessura da junta de argamassa e o fator k, que depende do tipo de bloco e da argamassa:

fk =kfb0,7fm0,3 - Equação 1 - alvenaria com argamassa tradicional - junta de 10mm;

fk=kfb0,85 - Equação 2 - alvenaria com argamassa fina - junta de 3 mm ou menos.

Sendo: k = 0,5 para bloco vazado de concreto.

A alvenaria tem um comportamento frágil, é não homogênea e anisotrópica, e composta de dois materiais de propriedades muito diferentes: os blocos mais rígidos e a argamassa relativamente deformável, além de eventualmente graute e armadura. A alvenaria tem resistência à tração muito baixa porque é composta por materiais diferentes distribuídos em intervalos regulares, e a ligação entre eles é fraca. Portanto, para a alvenaria não armada, a qual é extensivamente construída, espera-se resistência principalmente aos esforços de compressão.

Existem três formas típicas de ruptura da alvenaria em compressão, em função da relação entre a resistência à compressão da argamassa e do bloco:

  • a) Quando a argamassa é muito fraca em relação ao bloco, a resistência da alvenaria é limitada pela resistência da argamassa, que geralmente rompe por esmagamento;

  • b) Quando a argamassa tem uma resistência moderada, a resistência da alvenaria é determinada pela combinação das resistências à compressão e tração do bloco, que usualmente rompe por tração lateral;

  • c) Quando a argamassa é mais forte que o bloco, a resistência da alvenaria é limitada pela resistência à compressão do bloco.

Quanto mais o modo de ruptura se aproxima do modo de ruptura “c”, mais frágil e explosiva é a ruptura. Usualmente pretende-se que a ruptura ocorre do modo “b”, sendo esse um meio termo entre a resistência da alvenaria à compressão adequada e o comportamento menos explosivo, além de redução do potencial de fissuração na junta da argamassa. Para alvenarias usuais, Parsekian et al. [1[1] Parsekian. G. A. Hamid. A. A. and Drysdale. R. G. Comportamento e Dimensionamento de Alvenaria Estrutural. EdUFSCar. São Carlos. S.P. Brazil. 2012.] recomendam que a resistência da argamassa seja especificada entre 70 a 150% da resistência do bloco.

Durante a compressão de paredes de alvenaria construídas com blocos de alta resistência e argamassa com resistência moderada, aproximadamente entre 70 e 150% da resistência do bloco, a junta de argamassa tem uma maior tendência a expandir-se lateralmente em relação aos blocos, pois esses têm maior rigidez. No entanto, a argamassa é confinada lateralmente na interface bloco-argamassa pelos blocos; portanto, tensões de cisalhamento na interface bloco-argamassa resultam em um estado interno de tensão, que consiste na compressão triaxial na argamassa e tração bilateral e compressão axial nos blocos. Este estado de tensão inicia fissuras verticais nos blocos que levam a ruptura das paredes (McNary e Abrams [11[11] McNary. W. S. and Abrams. D. P. (1985). Mechanics of masonry in compression. Journal of Structural Engineering. 111(4). 857-870. DOI:10.1061/(ASCE)0733-445(1985)111:4(857)
https://doi.org/10.1061/(ASCE)0733-445(1...
]; Atkinson e Noland [12[12] Atkinson. R. H.; Noland. J. L.; Abrams. D.P. and McNary S. A deformation failure theory for stack-bond brick masonry prisms in compression. Proc. 3rd NAMC. Arlington. Texas 1985.]; Drysdale et al. [13[13] Drysdale. R.G. Hamid. A.A. and Baker. L.R. Masonry structures: behavior and design. Prentice-Hall Inc. Englewood Cliffs. N.J. 1994]).

Na Tabela 2 são resumidos alguns resultados de ensaios experimentais a partir da resistência à compressão de alvenaria. Exceto quando indicado, os dados dessa tabela referem-se a tensões na área bruta, resistência da argamassa em corpo-de-prova cilíndrico de 100x50mm, prisma de dois blocos, e prismas e paredes não grauteadas.

Tabela 2
Resumo de resultados de ensaios experimentais de algumas pesquisas nacionais sobre a resistência à compressão da alvenaria (valores em MPa)

Cavalheiro e Gomes [14[14] Cavalheiro. O. P.; Gomes. N. S. Alvenaria estrutural de blocos vazados: resultados de ensaios de elementos e redutores de Strength à compressão. In: XXX Jornadas Sul-Americanas de Engenharia Estrutural. 2002. Brasília. DF. Anais da XXX Jornadas Sul-Americanas de Engenharia Estrutural. 2002. ] resumem e analisam vários ensaios de Cavalheiro e Gomes [14[14] Cavalheiro. O. P.; Gomes. N. S. Alvenaria estrutural de blocos vazados: resultados de ensaios de elementos e redutores de Strength à compressão. In: XXX Jornadas Sul-Americanas de Engenharia Estrutural. 2002. Brasília. DF. Anais da XXX Jornadas Sul-Americanas de Engenharia Estrutural. 2002. ] resumem e analisam vários ensaios de blocos, prismas e paredes de blocos de concreto (maior fbk = 10 MPa), com resultado das relações de resistência indicados na Tabela 3.

Tabela 3
Resultados médios de elementos com blocos de concreto (fbk até 10 MPa)

Outras pesquisas, (ROMAGNA [19[19] Romagna. R. H. Resistência a compressão de prismas de blocos de concreto grauteados e não grauteados. MS thesis. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis. S.C. Brazil. 2000.]; MAURÍCIO [20[20] Maurício. R. M., Estudo teórico e experimental das ligações diretas contra-fiadas entre paredes de blocos de concreto em escala real e reduzida 1:4. Dissertação (mestrado). Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira. UNESP. 2005.]) trazem resultados de ensaio à compressão, porém limitadas a poucas e moderadas resistências de blocos.

Fortes [21[21] Fortes. E. S., Influência do Capeamento e Caracterização da Resistência a Compressão de Alvenaria Estrutural de Blocos de concreto. Dissertation (MS) - Universidade Federal de São Carlos. São Carlos. 2012.] apresenta estudo com blocos de concreto de baixa a alta resistência, entre 4 e 35 MPa, limitando o comportamento à resistência do bloco e do prisma. A Figura 1 mostra os resultados através da indicação de relações prisma/bloco para várias resistências. Como pode-se perceber, na medida em que se aumenta a resistência do bloco, a relação prisma/bloco diminui.

Figura 1
Eficiência prismas/bloco versus resistência característica a compressão do bloco

A revisão bibliográfica possibilitou concluir a existência de vários resultados de ensaios disponíveis onde verificou-se uma relação prisma/bloco de 0,80 para blocos de 4 MPa, diminuindo até 0,5 ou menos para blocos de 30 MPa, considerando a área bruta. No caso de ensaios de paredes, a relação parede/prisma, aferido com blocos de até 14 MPa, mostrou valores superiores a 0,7, mas não existem relatos de ensaios de parede com blocos acima de 14 MPa, exceto por um caso com ensaios de paredes com blocos de 22 MPa e com argamassa fraca, abaixo da resistência recomendada. Portanto, considerando a enorme quantidade de edifícios altos atualmente em execução no Brasil e sendo que a revisão bibliográfica mostrou uma falta de pesquisa com blocos de concreto de alta resistência, acima de 14 MPa, a pesquisa aqui desenvolvida é plenamente justificada.

1.1 Justificativa

O objetivo do estudo aqui apresentado é avaliar parâmetros e características de alvenarias de blocos de concreto de alta resistência (de 18 MPa a 34 MPa quando se considera a área bruta). O uso desses blocos não é comum em nenhuma outra parte do mundo, devendo hoje o Brasil ser um dos poucos países onde existem aplicações correntes com esse material, aqui chamado de blocos de concreto de alta resistência. Ainda que o uso seja comum no Brasil, as características e alguns aspectos do comportamento não são totalmente conhecidos. Vários edifícios hoje utilizam blocos de concreto de alta resistência, confiando em parâmetros para obtenção de propriedades de paredes estruturais baseadas em relações de resistência obtidas com blocos de resistência muito inferior. Resultados de ensaios que permitem correlacionar a resistência de bloco de concreto, prisma e parede para os valores elevados de resistência aqui relatados são, até onde se pode verificar, inéditos. Pode-se afirmar que a pesquisa aqui relatada trabalhou no limite da área de conhecimento e contribuindo para expansão deste.

2. Materiais e programa experimental

Trinta paredes de alvenaria, Figura 2, incluindo alvenaria oca, grauteada, com cinta grauteada na quinta fiada e ainda com assentamento parcial e total foram ensaiadas sob carga de compressão.

Figura 2
Ilustração das paredes ensaiadas

Os seguintes elementos foram ensaiados:

  • Ensaio a compressão simples de paredes de alvenaria com blocos de resistência nominal de 16, 24 e 30 MPa:
    • - Não-grauteadas com cinta a meia altura (canaletas de resistência menor e igual a 6MPa);

    • - Não-grauteadas, com argamassamento parcial (apenas nas laterais dos blocos);

    • - Não-grauteadas, com argamassamento total (em toda a face horizontal dos blocos);

    • - Grauteadas, com cinta a meia altura.

  • Ensaio a compressão simples de prismas e blocos de alvenaria de concreto com blocos de 18, 24 e 34 MPa,

  • Ensaio a compressão simples de corpos-de-prova de argamassa e graute.

A Tabela 4 indica as características e quantidade de ensaios de parede realizados.

Tabela 4
Ensaios de paredes grauteadas com cinta grauteada a meia altura da parede

2.1 Argamassa

Foram empregados três dosagens de argamassa de assentamento com resistência à compressão de acordo com a resistência dos blocos. Os traços de argamassa utilizados aqui são os mesmos já testados em Fortes [21[21] Fortes. E. S., Influência do Capeamento e Caracterização da Resistência a Compressão de Alvenaria Estrutural de Blocos de concreto. Dissertation (MS) - Universidade Federal de São Carlos. São Carlos. 2012.], e, em massa, iguais a 1:0,42:4,25; 1:0,21:3,40 e 1:0,21:2,98, conforme Tabela 5. A

Figura 3 mostra a moldagem e os corpos-de-prova da argamassa.

Tabela 5
Caracterização das argamassas

Figura 3
Moldagem dos corpos-de-prova cubicos de argamassa

Utilizou-se o cimento Portland CP II-Z-32, cal hidratada e areia média, cujas massas unitárias foram determinadas durante o estudo. Para cada traço de argamassa foram retirados seis corpos-de-prova para controle de resistência e do processo de produção.

2.2 Graute

Para o grauteamento das paredes e enchimento das cintas grauteadas foi utilizado o aditivo “dry d1 c compact”, já testada por Fortes [21[21] Fortes. E. S., Influência do Capeamento e Caracterização da Resistência a Compressão de Alvenaria Estrutural de Blocos de concreto. Dissertation (MS) - Universidade Federal de São Carlos. São Carlos. 2012.], no traço do graute para diminuir a retração do graute e consequentemente a separação do graute das paredes dos blocos. O respectivo aditivo é um produto em pó inorgânico, isento de cloretos e de outros componentes prejudiciais para o graute. É um aditivo a base de óxido de cálcio submetidos a tratamento térmico com uma granulometria específica e selecionada e com propriedade expansiva para ser utilizada em argamassa e concreto. A característica expansiva induz a diminuição de porosidade e a redução de permeabilidade, um incremento de resistência à compressão, e uma maior aderência entre os elementos.

Três traços de grautes de resistências distintas, conforme o bloco utilizado, foram adotados de Fortes[21[21] Fortes. E. S., Influência do Capeamento e Caracterização da Resistência a Compressão de Alvenaria Estrutural de Blocos de concreto. Dissertation (MS) - Universidade Federal de São Carlos. São Carlos. 2012.] para o grauteamento das paredes e enchimento das cintas. Os traços dos grautes em massa foram 1:0,06:0,01:1,60:1,80; 1:0,06:0,01:1,98:2,02; e 1:0,06:0,01:1,42:1,64 (cimento: cal: aditivo: areia: brita); cujas resistências nominais à compressão são respectivamente 25 (G1), 30 (G2) e 40 (G3) MPa. A Tabela 6 traz as denominações, os traços em massa e em volume e as resistências esperadas, e a Figura 4 mostra os corpos-de-prova e o grauteamento das paredes.

Tabela 6
Denominações dos grautes, traços e resistências esperadas

Figura 4
Moldagem dos corpos-de-prova cilindricos de graute e grauteamento das paredes

2.3 Bloco

Foram utilizados blocos de concreto de alta resistência de lotes fornecidos pela mesma empresa, como especifica a norma NBR 6136 [22[22] ABNT-NBR 6136: Blocos Ocos de Concreto Simples para Alvenaria - Requisitos. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro. R.J. Brasil. 2007.], de geometria uniforme, e resistências nominais de 16, 24 e 30 MPa, denominadas respetivamente de B1, B2 e B3. Para todos os ensaios foram utilizadas amostras de doze blocos para as três resistências. As amostras não apresentaram quebras, trincas, deformações ou irregularidades nas arestas. Blocos canaletas, fornecidos pela mesma empresa, de única resistência nominal, 6 MPa, foram utilizados na construção da cinta para todas as paredes independente do tipo de blocos usados nas paredes. Blocos inteiros foram cortados para serem utilizados como meio blocos. A

Figura 5 mostra o bloco inteiro, o bloco cortado ao meio e a canaleta.

Figura 5
Ilustração dos blocos de concreto inteiros e cortados, e as canaletas utilizadas

2.4 Construção dos prismas e paredes

Prismas ocos e grauteados foram construídos como especificado pela norma brasileira ABNT NBR 15961-2 [23[23] ABNT NBR 15961-2: Alvenaria estrutural - Blocos de concreto - Parte 2: Execução e controle de obras. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro. R.J. Brasil. 2011.]. Os blocos, argamassa e os grautes foram combinados para montar os prismas. Cada prisma foi montado com dois blocos e assentos com argamassa total. A Figura 6 mostra os prismas construídos e um prisma grauteado. A execução seguiu rigorosamente as prescrições da ABNT NBR 15961-2 [23[23] ABNT NBR 15961-2: Alvenaria estrutural - Blocos de concreto - Parte 2: Execução e controle de obras. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro. R.J. Brasil. 2011.], sendo todos os elementos construídos com a mesma equipe de mão de obra.

Figura 6
Ilustração dos prismas ocos e grauteados

O grauteamento dos prismas foi realizado aproximadamente 24 horas depois da construção dos prismas. Antes do grauteamento, rebarbas e resto de argamassas foram removidos do interior dos prismas, e os prismas foram molhados antes do grauteamento. O grauteamento foi realizado em duas camadas e compactados com 12 golpes por camada, conforme recomendações da ABNT NBR 15961-2 [23[23] ABNT NBR 15961-2: Alvenaria estrutural - Blocos de concreto - Parte 2: Execução e controle de obras. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro. R.J. Brasil. 2011.]. Depois de completado o grauteamento, a superfície do graute foi nivelado e alisado com uso de uma espátula e coberta imediatamente com filme plástico impermeável.

A construção das paredes seguiu o mesmo rigor e prescrições, com sequência executiva mostrada a partir da Figura 7 à Figura 13.

Figura 7
Escantilhões para auxiliar na construção das paredes

Figura 8
Sequência de montagem das paredes

Figura 9
Ilustração das paredes ocas (sem grauteamento)

Figura 10
Ilustração das paredes grauteadas com cinta a meia altura

Figura 11
Ilustração das paredes com cinta a meia altura

Figura 12
Ilustração das paredes com assentamento total (argamassa em todas as paredes dos blocos)

Figura 13
Ilustração das paredes com assentamento parcial (argamassa somente nas as paredes longitudinais dos blocos)

2.5 Blocos, argamassa e graute

Para cada grupo de paredes, foram ensaiados à compressão 12 blocos de concretos, conforme ABNT NBR 12118 [6[6] ABNT-NBR 12118: Blocos Vasados de Concreto Simples para Alvenaria - Métodos de ensaio - NBR 12118. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro. R.J. Brazil. 2011.]. Os ensaios dos blocos foram feitos no mesmo dia dos ensaios das paredes.

Seguindo as recomendações da ABNT NBR 15961-2 [23[23] ABNT NBR 15961-2: Alvenaria estrutural - Blocos de concreto - Parte 2: Execução e controle de obras. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro. R.J. Brasil. 2011.], as resistências à compressão média das argamassas foram fixadas em 70% da resistência à compressão dos blocos utilizados. Foram utilizados os traços já ensaiados por Fortes [21[21] Fortes. E. S., Influência do Capeamento e Caracterização da Resistência a Compressão de Alvenaria Estrutural de Blocos de concreto. Dissertation (MS) - Universidade Federal de São Carlos. São Carlos. 2012.]. Foram moldados e ensaiados seis corpos-de-prova de argamassa à compressão para cada grupo de paredes.

Seguiram-se as recomendações da NBR 5739 [24[24] ABNT-NBR 5739: Ensaio à compressão de corpos-de-prova cilíndricos de concreto. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro. R.J. Brasil. 2007.] para o ensaio de resistência à compressão dos grautes. Os corpos-de-prova foram retificados antes dos ensaios e apresentavam idade de 28 dias no momento dos ensaios.

2.6 Prisma

Seguindo as especificações da ABNT NBR 15961-2 [23[23] ABNT NBR 15961-2: Alvenaria estrutural - Blocos de concreto - Parte 2: Execução e controle de obras. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro. R.J. Brasil. 2011.], 18 prismas ocos e 18 prismas grauteados foram construídos e ensaiados. Antes do ensaio, os prismas foram capeados com pasta de cimento de acordo com a ABNT NBR 15961-2 [23[23] ABNT NBR 15961-2: Alvenaria estrutural - Blocos de concreto - Parte 2: Execução e controle de obras. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro. R.J. Brasil. 2011.]. Os ensaios foram realizados utilizando uma máquina de ensaio com capacidade de 2000 kN e os prismas foram carregados com uma velocidade de 0,05 ± 0,01 MPa por segundo.

2.7 Configuração das paredes

As paredes ensaiadas foram divididas em três grupos de acordo com a resistência dos blocos. No primeiro grupo foram ensaiadas doze paredes com blocos de concreto com resistência nominal de 30 MPa (B3), sendo três paredes ocas com assentamento total, três paredes ocas com assentamento parcial, três paredes ocas com assentamento total e com cinta a meia altura e três paredes grauteadas com cinta grauteada na quinta fiada. Esse grupo contempla a comparação de resultados de resistência a compressão das paredes com blocos assentados com argamassa apenas na lateral com à das paredes com blocos assentados com argamassa sobre toda a face do bloco. No segundo grupo foram ensaiadas nove paredes com blocos de concreto com resistência nominal de 24MPa (B2), sendo três paredes ocas com assentamento total e com uma cinta grauteada na quinta fiada, três paredes ocas com assentamento parcial e três paredes grauteadas com cinta grauteada na quinta fiada. No terceiro grupo foram ensaiadas mais nove paredes com blocos de concreto com resistência nominal de 16MPa (B1), sendo três paredes ocas com assentamento total e com uma cinta grauteada na quinta fiada, três paredes ocas com assentamento parcial e três paredes grauteadas com cinta grauteada na quinta fiada. Não foi utilizado qualquer tipo de reforço nas paredes grauteadas, somente uma barra de aço horizontal de 10 mm nas cintas colocadas na quinta fiada.

As paredes ocas foram construídas com altura de 220 cm e largura de 120cm, enquanto que as paredes grauteadas foram construídas com altura de 220 cm e largura de 80 cm, devido a capacidade de carga máxima da prensa.

Argamassa tradicional, cimento, areia e cal, foram utilizadas para a construção das paredes e dos prismas. A argamassa foi concebida para ter uma resistência a compressão aos 28 dias igual a 70 % da resistência das unidades, considerando a área bruta.

O graute utilizado nas paredes e para enchimento das cintas foi concebido para ter uma resistência à compressão aos 28 dias de 40 (G3), 30 (G2) e 25 (G1) MPa, respetivamente para as paredes construídas com unidades de 30 (B3), 24 (B2) e 16 (B1) MPa. Para reduzir a retração do graute e possível descolamento das paredes das unidades foi utilizado um aditivo compensador de retração na mistura do graute.

Para cada grupo de paredes, doze blocos de concreto e seis prismas ocos e seis grauteados foram ensaiados na altura dos ensaios das paredes.

Para diferenciar as paredes, foi utilizado um sistema de designação, como Par-B-O-G-AT-AP-CT. As letras iniciais Par refere-se a própria parede. A letra B refere-se ao tipo de bloco utilizado. As letras O e G referem-se a parede oca ou grauteada, respectivamente. As letras AT e AP referem-se ao Assentamento Total ou Assentamento Parcial, respetivamente. Por último, as letras CT referem-se à colocação de uma cinta grauteada a meia altura da parede. Para ajudar a observar melhor as fissuras, todas às paredes foram pintadas com tinta branca. A Figura 14 mostra algumas paredes prontas.

Figura 14
Ilustração das paredes construídas para os ensaios de compressão

2.8 Capeamento

Para os ensaios de compressão das paredes, foi feito um capeamento com argamassa, como mostra a Figura 15, conforme prescrições da NBR 8949 [5[5] ABNT-NBR 8949: Paredes de alvenaria estrutural - Ensaio à compressão simples. Rio de Janeiro. 1985.]. Foi utilizado um traço de argamassa 1:2:0,5 (cimento, areia e cal) de forma a obter uma resistência igual ou superior à resistência dos blocos. Os blocos foram capeados com uma chapa dura, conforme Fortes [21[21] Fortes. E. S., Influência do Capeamento e Caracterização da Resistência a Compressão de Alvenaria Estrutural de Blocos de concreto. Dissertation (MS) - Universidade Federal de São Carlos. São Carlos. 2012.], e os prismas foram capeados com pasta de cimento.

Figura 15
Ilustração do capeamento das paredes com argamassa

2.9 Configuração do ensaio e da instrumentação

Uma prensa hidráulica analógica com capacidade de 500 toneladas (5000 kN), como mostra a Figura 16, foi usado para o ensaio das paredes referentes ao grupo 1 e 2. Para os ensaios das paredes do grupo 3, foi montado um sistema de pórtico autoportante, como mostra a Figura 17. Durante os ensaios das paredes, foram medidos os deslocamentos verticais em ambas as faces (Face 1 e Face 2) das paredes usando transdutores de deslocamento (LVDTs), como mostra a Figura 18, com comprimentos de 25 milímetros e uma precisão de 0,00001 milímetros. Os deslocamentos verticais na lateral da parede foram monitorizados continuamente por meio de relógio comparador sem fio montado sobre as paredes, mostrado também na Figura 16.

Figura 16
Configuração do ensaio das paredes, grupo 1 e 2

Figura 17
Configuração do ensaio das paredes, grupo 3

Figura 18
Instrumentação das paredes

Para verificar qualquer eventual excentricidade de carregamento durante o ensaio, as medidas foram tomadas tanto na parte da frente como na parte de trás das paredes, conforme mostra a

Figura 18, e o valor médio das duas medidas foi utilizada para a análise. Antes de cada ensaio, a parede a ser ensaiada foi centrada na posição de ensaio e alinhada verticalmente e transversalmente com a ajuda de um nível a laser e com o fio de prumo. A parede foi então carregada-descarregado duas vezes usando uma carga nominal de 5% da carga máxima prevista para garantir que as paredes e a instrumentação foram colocadas antes de se iniciar um ensaio. Durante cada ensaio, o carregamento vertical foi aplicado gradualmente com uma taxa de cerca 10 kN/s até a ruptura ocorrer.

2.10 Procedimento experimental

No início dos ensaios, duas cargas seguidas de descargas inferiores a 50% da carga de ruptura prevista foram efetuadas. As cargas foram aplicadas seguindo incrementos de 10% da carga de ruptura provável até 50% da carga de ruptura prevista, com o tempo de permanência de cada carregamento de 5 minutos, para que fosse possível o traçado dos gráficos carga-encurtamentos e dos gráficos tensão-deformação. Após o carregamento inicial, a carga axial foi gradualmente aumentada monotonicamente até a ruptura. O histórico dos carregamentos foi tomado através do relógio analógico da prensa de ensaio para as paredes dos grupos 1 e 2 e por unidade de aquisição de dados para as paredes do grupo 3. Leituras dos LVDTs foram tomadas e gravado por uma unidade de aquisição de dados controlado por computador. A aquisição de dados e taxas de gravação foram definidas para ocorrer a cada segundo, com a instrumentação permanecendo durante todo o ensaio. Em todos os casos, a ruptura última foi considerada quando se deu o aparecimento de fissuras verticais e a parede não sustentava aumento da carga vertical, ou quando a parede exibiu grande deflexão lateral com diminuição da carga vertical. Os procedimentos adotados em cada ensaio são descritos na Tabela 7.

Tabela 7
Procedimentos utilizados na caracterização da argamassa, graute, bloco, prisma e parede

3. Resultados e discussões

Uma descrição detalhada dos resultados obtidos nos ensaios dos componentes e dos elementos prismas e paredes é apresentada abaixo.

3.1 Graute

A Figura 19 mostra alguns corpos-de-prova do graute retificados e o modo de ruptura de um deles. As respectivas resistências alcançadas pelos corpos-de-prova referentes ao grauteamento das paredes e do enchimento das cintas, para os diferentes grupos de parede, Grupo 1, 2 e 3, estão indicados na Tabela 8.

Tabela 8
Resistências à compressão dos grautes, G1; G2 e G3

Figura 19
Ilustração dos ensaios dos corpos-de-prova cilíndricos de grautes

3.2 Argamassa

A Figura 20 mostra alguns corpos-de-prova da argamassa e um dos ensaios. Na Tabela 9 são apresentados os valores de resistência à compressão média obtidos nos ensaios.

Tabela 9
Resistências à compressão média das argamassas

Figura 20
Ilustração dos ensaios das argamassas utilizadas

3.3 Blocos

A Figura 21 mostra um bloco sendo ensaiado e o modo de ruptura típico dos blocos. Na Tabela 10 são apresentados os valores de resistência média à compressão e os coeficientes de variação obtidos para os ensaios dos blocos de concreto, capeados com pasta de cimento.

Tabela 10
Resistências à compressão média dos blocos, B1; B2 e B3

Figura 21
Ensaios dos blocos de concreto

3.4 Prismas

A Figura 22 mostra alguns prismas ocos e grauteados, respetivamente, após os ensaios. Provavelmente, devido a alta resistência dos blocos utilizados nos prismas, os prismas ocos não tiveram uma ruptura típica, conforme a norma e resultados apresentados na literatura. Os prismas ocos romperam devido ao desenvolvimento de fissuras verticais ao longo da altura seguida de separação das paredes laterais dos blocos ou pelo esmagamento da junta de argamassa seguido de separação lateral das paredes laterais dos blocos.

Figura 22
Ilustração dos ensaios prismas ocos e grauteados

A resistência a compressão medida para os prismas ocos e grauteados são apresentadas na Tabela 11 e Tabela 12, respetivamente, e também são apresentados os desvios padrões e os coeficientes de variação em percentagem.

Tabela 11
Resumo das tensões de compressão máxima calculada para os prismas ocos ensaiados

Tabela 12
Resumo das tensões de compressão máxima calculada para os prismas grauteados ensaiados

Os valores apresentados nas Tabela 13, Tabela 14 e Tabela 15 são fpa, Δu, Δu50%, εu, e ε50%, representando a resistência a compressão média, o encurtamento média último, o encurtamento a 50% da tensão máxima, a deformação média última, e a deformação a 50 % da tensão máxima, respetivamente. Os resultados das resistências verificadas, a relação tensão-deformação para alvenaria em compressão, a relação tensão-deformação para a carga última, o efeito da cinta a meia altura da parede, o tipo de assentamento da argamassa, o efeito do grauteamento das paredes e o modo de ruptura são discutidos nas seções seguintes.

Tabela 13
Descrição e eesultados dos ensaios das paredes para o Bloco B3

Tabela 14
Descrição e resultados dos ensaios das paredes para Bloco B2

Tabela 15
Descrição e resultados dos ensaios das paredes para o Bloco B1

3.5 Grupo 1 - Paredes com blocos de concreto de alta resistência de 30MPa (B3 )

Os resultados dos ensaios do grupo 1 são apresentados na Tabela 13.

Para as paredes ocas e com assentamento total de argamassa, a tensão de ruptura média foi de 11,43 MPa. Já para as paredes ocas com assentamento parcial, a tensão de ruptura média foi de 11,82 MPa. Esse resultado era inesperado, pois esperava-se maior resistência para as paredes com assentamento total. A diferença em relacão a resistência média das paredes é apenas 3,3%. Aplicando um teste-t nos resultados, chega-se a um p-value igual a 22,5%, indicando que, estatisticamente, as médias são iguais para um nível de significância de 95%. Os encurtamentos médios, Δu50%, de todas as paredes do grupo 1, varia em média de 0,46 á 0,49 mm. É evidente que o encurtamento das paredes é indiferente das variáveis consideradas. As deformações médias, εu50%, são semelhantes, sendo os valores de 0,0006, 0,0006, 0,0005 e 0,0006, respetivamente para as paredes ocas com assentamento total, paredes ocas com assentamento parcial, paredes ocas com assentamento total e cinta a meia altura e para as paredes grauteadas com assentamento total e cinta a meia altura.

A norma brasileira de alvenaria estrutural com blocos de concreto, NBR 15961-2 [23[23] ABNT NBR 15961-2: Alvenaria estrutural - Blocos de concreto - Parte 2: Execução e controle de obras. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro. R.J. Brasil. 2011.], prescreve que a capacidade máxima de compressão das paredes com assentamento parcial deve ser considerada 20% inferior à das paredes com assentamento total. Os resultados apresentados aqui não corroboram a redução indicada pela norma. A hipótese aqui levantada para explicar essa semelhança refere-se à geometria dos blocos. A configuração da posição e espessura dos septos dos blocos leva à não sobreposição desses quando assentado com defasagem de 20 cm. Portanto, o assentamento total nesse caso pode ter sido ineficiente pela não coincidência dos septos.

A tensão de compressão de ruptura média foi de 19,0 e 11,1 MPa para as paredes grauteadas e não grauteadas (com cinta e assentamento total de argamassa), respetivamente, representando um aumento em resistência de aproximadamente 66%.

3.6 Grupo 2 - Paredes com blocos de concreto de alta resistência de 24MPa (B2 )

Os resultados dos ensaios do grupo 2 são apresentados na Tabela 14.

Para as paredes ocas com assentamento total e com cinta grauteada a meia altura da parede, a tensão de compressão de ruptura média foi de 11,77 MPa enquanto que para as paredes ocas com assentamento parcial e sem cinta grauteada, a carga de ruptura média foi de 10,69 MPa. Percebe-se um aumento de 10 % na carga de ruptura para as paredes ocas com assentamento total e cinta a meia altura em relação as paredes ocas com assentamento parcial e sem cinta grauteada a meia altura. O teste-t indica um p-value de 2,7%, mostrando que há diferença entre as médias. A existência de canaleta a meia altura pode ter contribuido para melhor distribuição das cargas na região crítica e contribuido para o aumento de resistência quando o assentamento foi total. Entretanto, esse mesmo resultado não foi encontrado nos ensaios do grupo 3, o que invalida essa hipótese. Os encurtamentos últimos médios, Δu, foram respetivamente 0,78, 0,97 e 1,20 mm para as paredes ocas com assentamento total e cinta grauteada a meia altura, para as paredes ocas com assentamento parcial e para as paredes grauteadas com cinta grauteada a meia altura. Percebe-se, portanto, uma variabilidade no encurtamento médio das paredes. As deformações médias, εu, são 0,0008, 0,0012, e 0,0013 mm/mm, respetivamente para as paredes ocas com assentamento total e cinta a meia altura, para as paredes ocas com assentamento parcial e para as paredes grauteadas com assentamento total e cinta à meia altura.

Quando se compara as paredes ocas com assentamento total e cinta a meia altura, com tensão de compressão máxima de ruptura de 11,77 MPa com as paredes grauteadas com assentamento total e cinta grauteada a meia altura com tensão de compressão máxima de ruptura de 19,79, observa-se que a capacidade de ruptura média das paredes grauteadas é aproximadamente 68% maior do que à das paredes ocas.

3.7 Grupo 3- Paredes com blocos de concreto de alta resistência de 16MPa (B1)

Os resultados dos ensaios do grupo 3 são apresentados na Tabela 15.

A tensão de compressão de ruptura média foi 7,8 MPa para as paredes ocas tanto para o caso de assentamento lateral sem cinta, quanto para o caso de assentamento total com cinta. Portanto, não houve diferença significativa entre o tipo de assentamento e presença de cinta a meia altura.Os encurtamentos ultimos médios, Δu, foram respetivamente 0,72, 0,98 e 1,06 para as paredes ocas com assentamento total e cinta grauteada a meia altura, para as paredes ocas com assentamento parcial e para as paredes grauteadas com cinta grauteada a meia altura. Como aconteceu com as paredes do grupo 2, percebe-se uma pequena variabilidade no encurtamento médio das paredes. As deformações médias, εu, foram 0,0008, 0,0011, e 0,0012, respetivamente para as paredes ocas com assentamento total e cinta a meia altura, para as paredes ocas com assentamento parcial e para as paredes grauteadas com assentamento total e cinta a meia altura.

Quando se compara as paredes ocas com assentamento total e cinta a meia altura, com tensão de compressão máxima de ruptura de 7,78 MPa, com as paredes grauteadas com assentamento total e cinta grauteada a meia altura, com tensão de compressão máxima de ruptura de 11,53 observa-se que as paredes grauteadas são aproximadamente 48% superior as paredes ocas.

3.8 Relação tensão-deformação

Para avaliar o efeito da cinta a meia altura, do grauteamento e do assentamento parcial ou total na relação tensão-deformação da alvenaria de alta resistência em compressão, foram plotadas as curvas tensão-deformação das amostras para os grupos 1, 2 e 3. As deformações médias últimas para as paredes dos Grupos 2 e 3 foram calculadas utilizando os deslocamentos verticais até a ruptura dentro de uma medição do comprimento calibrado sobre a face das paredes. As deformações ultimas médias para as paredes dos Grupos 2 e 3 e as deformações médias para as paredes do grupo 1 (considerando 50% da carga de ruptura) são apresentadas nas Tabela 13, Tabela 14 e Tabela 15. As deformações médias últimas para as paredes dos Grupos 2 e 3 variou de 0,001 a 0,0015. Para as paredes do Grupo 1, os deslocamentos medios foram medidos até 50% da carga de ruptura prevista e variou de 0,0005 a 0,0006.

Relações tensão-deformação para as paredes com as mesmas características de cada grupo estão apresentadas nas Figura 23,

Figura 24 e Figura 25. A tensão de compressão para as paredes foi determinada diretamente através da divisão da carga aplicada pela área bruta das paredes. Para as paredes PB3-O-AT-CT, PB3-O-AP e PB3-G-AT-CT foi possível obter a curva tensão-deformação durante o ensaio somente até 50% da carga de ruptura, enquanto para as restantes paredes as curvas foram obtidas até a ruptura das mesmas. Os resultados apresentados na Figura 23,

Figura 24 e Figura 25 mostram uma ruptura frágil para todas as paredes ensaiadas.

Figura 23
Curvas de tensão x deformação para as paredes PB-O-AT-CT, considerando as três resistências de blocos

Figura 24
Curvas de tensão x deformação para as paredes PB-O-AP, considerando as três resistências de blocos

Figura 25
Curvas de tensão x deformação para as paredes PB- G-AT-CT, considerando as três resistências de blocos

Paras as paredes ocas assentas com argamassa total e com cinta grauteada a meia altura da parede, a curva tensão-deformação,

Figura 23, manteve-se linear aproximadamente até 75% da carga de ruptura. Enquanto que as paredes ocas assentas com argamassa parcial e sem cinta a meia altura, a curva tensão-deformação, Figura 24, manteve-se linear aproximadamente até 70% da carga de ruptura. Já no caso das paredes grauteadas assentas com argamassa total e com cinta grauteada a meia altura da parede, a curva tensão-deformação,

Figura 25, manteve-se linear aproximadamente até 60% da carga de ruptura, indicando que a colocação da cinta a meia altura da parede, a forma de assentamento, argamassamento parcial ou total, e o grauteamento das paredes tem um pequeno efeito na forma da curva tensão-deformação para paredes.

A comparação da curva tensão-deformação entre as paredes ocas e grauteadas indica que, no geral, a forma das curva tensão-deformação são similares, enquanto que as paredes grauteadas mostram um comportamento não linear mais pronunciado.

3.9 Modulo de elasticidade da alvenaria

O modulo de elasticidade foi considerando pela reta secante da curva entre 5 e 30% da tensão de ruptura. O módulo de elasticidade ainda pode ser calculado como uma função da resistência à compressão da alvenaria, e essas estimativas são encontrados em normas de construção para dimensionamento. A NBR 15961-1 [4[4] ABNT-NBR 15961-1: Alvenaria estrutural - Blocos de concreto - Parte 1: Projeto. Rio de Janeiro. 2011.] prescreve que o módulo de elasticidade da alvenaria com blocos de concreto pode ser estimado como sendo 800 fpk.

A Tabela 16 mostrar os resultados médios do modulo de elasticidade obtida através dos ensaios de compressão das paredes pela análise da região linear dos gráficos de tensão-deformação.

Tabela 16
Resumo dos resultados médios máximos do modulo de elasticidade dos ensaios das paredes

Em média, os resultados do módulo de elasticidade secante dos ensaios de compressão do grupo 1 variou de 20,2 GPa para as paredes ocas a 24,2 GPa para as paredes grauteados. Observou-se também que os resultados do módulo de elasticity secante dos ensaios de compressão do grupo 2 variou em média de 19,6 GPa para paredes ocas a 23,9 GPa para as paredes grauteadas. Já para as paredes do grupo 3, em média, os resultados do módulo de elasticity secante dos ensaios de compressão variou de 14,3 GPa para as paredes ocas a 15,4 GPa para as paredes grauteados.

Utilizando a prescrição da norma ABNT NBR 15961-2 [23[23] ABNT NBR 15961-2: Alvenaria estrutural - Blocos de concreto - Parte 2: Execução e controle de obras. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro. R.J. Brasil. 2011.], que especifica que o modulo de elasticidade da alvenaria igual a 800 fpk, limitado a 16 GPa, percebe-se que os valores calculados são muito superiores para todas as paredes ocas, com valores consideravelmente maiores que 16 GPa e com diferenças entre 50% até quase 100%. No caso das paredes grauteadas, os valores calculados são próximos aos estimados com E = 800fp, com diferenças entre -14% a +6%; ou seja, entre 688 fp a 848 fp.

3.10 Modo de ruptura

O modo de ruptura de alvenaria em compressão é geralmente causado por uma fissura de tração que se propaga através dos blocos e da argamassa na direção da força aplicada, como mostrado na Figura 26. Esta fissura é causada por tensões de tração secundárias resultantes da deformação de confinamento da argamassa nas juntas da alvenaria (Hendry et al.[2[2] Hendry. A. W.; Sinha B. P.; Davies S. R. Design of Masonry Structures. Department of Civil Engineering. University of Edinburgh. UK. E & FN SPON. 3ª ed. London. 2004.]). As tensões de tração que induzem a fissura são desenvolvidas nas interfaces argamassa-blocos e são devido à deformação restrita da argamassa. Na maioria dos casos, a resistência da alvenaria é consideravelmente menor do que a resistência dos blocos, essa, contudo, é consideravelmente mais elevada do que a da argamassa. A melhoria aparente na resistência da argamassa é devido ao estado biaxial ou triaxial de tensões impostas sobre a argamassa quando atua em conjunto com os blocos.

Figura 26
Modo de ruptura da alvenaria (Hendry et al 2004)

O modo de ruptura observado nos ensaios foi de compressão típica iniciada por fissuras verticais através das faces longitudinais e transversais das paredes como mostrado nas Figura 27 à Figura 31. As fissuras veriticais iniciaram-se por fissuração de tração, com alguma evidência de esmagamento da alvenaria, como mostra a Figura 29. Observou-se, conforme mostra a Figura 30, que em alguns casos o desenvolvimento das fissuras acontece bem no centro das paredes e em as vezes um pouco afastado do centro.

Figura 27
Modo de ruptura das paredes ocas com cinta grauteada

Figura 28
Ilustração da ruptura das paredes ocas

Figura 29
Ilustração da ruptura com fissuração vertical e esmagamento da alvenaria

Figura 30
Ilustração da fissuração vertical das paredes Grupo 1 e 2

Para as paredes grauteadas com cinta grauteada, o modo de ruptura caracterizou-se por fissuras de separação verticais nas paredes transversais dos blocos, conforme mostra a Figura 31. Para as paredes do grupo 1 e 2, a primeira fissura surgiu aproximadamente quando a carga era 60 % da carga de ruptura, enquanto que para as paredes do grupo 3, o aparecimento das primeiras fissuras aconteceu quando a carga era aproximadamente 75% da carga de ruptura. As paredes grauteados, com cinta à meia altura, apresentaram uma forma de ruptura atípica daquele observada para paredes de alvenaria sem cinta, conforme mostra a Figura 31. A carga de ruptura, entretanto, foi semelhante à de paredes sem cinta.

Figura 31
Modo de ruptura das paredes grauteadas

3.11 Relação de resistência de parede/prismas/bloco

A normalização brasileira admite que a resistência da parede, fk, seja igual a 70% da resistência do prisma, fpk. Paredes em escala real normalmente tem resistência inferior à do prisma e a do prisma inferior à do bloco devido à esbeltez e possibilidade de distribuição não uniforme do carregamento. Fortes [21[21] Fortes. E. S., Influência do Capeamento e Caracterização da Resistência a Compressão de Alvenaria Estrutural de Blocos de concreto. Dissertation (MS) - Universidade Federal de São Carlos. São Carlos. 2012.] observou, em seus ensaios com diversas resistência de blocos, uma diminuição da resistência do prisma a medida que a resistência do bloco aumenta e calculou valores de eficiência de 0,8 a 0,5 para blocos de 6,0 MPa a 34,0 MPa. A Tabela 17 apresenta um resumo da resistência a compressão dos blocos, argamassa, dos prismas ocos e grauteados e das paredes. Também são apresentadas as eficiências, aqui definida como a razão entre a resistência a compressão das paredes e a resistência à compressão dos prismas.

Tabela 17
Resumo das resistências e eficiências dos materiais e elementos ensaiados

Para as paredes do grupo 1, a razão entre a resistência à compressão das paredes ocas com assentamento total e a resistência à compressão dos prismas ocos (com assentamento total) é de 0,7. Quando se inclui uma cinta grauteada a meia altura da parede ou quando se realiza um assentamento parcial, a razão entre a resistência à compressão das paredes ocas e a resistência à compressão dos prismas ocos permanece igual a 0,7. A razão entre a resistência à compressão média das paredes grauteadas com cinta grauteada a meia altura da parede e a resistência à compressão dos prismas grauteados é de 0,6.

Para as paredes do grupo 2, a razão entre a resistência à compressão das paredes ocas com assentamento total e cinta a meia altura e os prismas ocos é de 0,9, enquanto que para as paredes ocas com assentamento parcial e sem cinta essa razão é de 0,8. Para as paredes grauteadas com cinta grauteada a meia altura e os prismas grauteados, calculou-se uma relação de resistência à compressão de 0,7.

Para as paredes do grupo 3, a razão entre a resistência à compressão das paredes ocas com assentamento parcial e a resistência à compressão dos prismas ocos é de 0,8. Calculou-se a mesma razão para as paredes ocas com assentamento total e cinta grauteada a meia altura da parede. A razão entre a resistência à compressão das paredes grauteadas com cinta grauteada a meia altura da parede e a resistência à compressão dos prismas grauteados é apenas 0,5.

Desta forma, os resultados indicam que é seguro utilizar a convencional relação parede/prisma igual a 0,7 para paredes não grauteadas, mesmo para os blocos de alta resistência. Para o caso de paredes grauteadas, registra-se a recomendação de considerar o aumento máximo de 50% em relação à parede não grauteada.

Foi aplicado o teste Anova - Análise de Variância entre os resultados para as paredes construídas com o mesmo bloco - B3. O teste teve como objetivo verificar se existe diferença significativa na resistência a compressão para:

  • Paredes ocas construídas com blocos de concreto, assentos com argamasssamento total, e cinta grauteada a meia altura da parede: PB3-O-AT-CT;

  • Paredes ocas construídas com blocos de concreto, assentos com argamasssamento total, e sem cinta grauteada a meia altura da parede: PB3-O-AT;

  • Paredes ocas construídas com blocos de concreto, assentos com argamasssamento parcial, e sem cinta grauteada a meia altura da parede: PB3-O-AP.

Três amostras foram utilizadas no teste de resistência à compressão axial para cada tipo de ensaio das paredes. Com base nos resultados do test ANOVA, variando o tipo de assentamento e a colocação ou não da cinta grauteada a meia altura da parede verificou-se que F0 = 2.34 < Fα,υ1,υ2 = 5.14. Portanto não existe diferença significa entre as paredes PB3-O-AT-CT; PB3-O-AT e PB3-O-AP.

Para as paredes construídas com blocos B2 e B1, foi aplicado o teste t para determinar se há um nível de significância de 5%, se a colocação de uma cinta grauteada a meia altura da parede ou o tipo de assentamento altera ou não a resistência média à compressão das paredes. A comparação foi realizada entre as:

  • Paredes ocas construídas com blocos de concreto B1, assentos com argamasssamento total, e sem cinta grauteada a meia altura da parede: PB1-O-AT-CT; e as;

  • Paredes ocas construidas com blocos de concreto B1, assentos com argamasssamento parcial, e sem cinta grauteada a meia altura da parede: PB1-O-AP.

Três exemplares foram utilizados no teste de resistência à compressão axial para cada tipo de paredes. Com base nos resultados do test t, variando o tipo de assentamento e a colocação da cinta grauteada a meia altura da parede verificou-se que t4;5% = 2,132 > t = 0,049. Portanto não existe diferença significativa entre as resistências a compressão média entre as paredes PB1-O-AT-CT e PB1-O-AP.

A mesma analise, teste t, foi realizada para as paredes construídas com blocos B2. Com base nos resultados do test t, variando o tipo de assentamento e a colocação da cinta grauteada a meia altura da parede verificou-se que t4;5% = 2,132 < t = 6,67. Portanto existe diferença significa na resistência a compressão média entre as paredes PB2-O-AT-CT e PB2-O-AP.

4. Conclusões

Foi apresentado um programa experimental abrangente com o objetivo de avaliar o comportamento à compressão de alvenaria com bloco de concreto de alta resistência, em paredes não-grauteadas e grauteadas. Blocos de resistência nominais de 16, 24 e 30 MPa foram utilizados. O graute foi produzido com aditivo compensador de retração. A resistência a compressão das paredes foi avaliada considerando a resistência à compressão dos blocos, o tipo de assentamento da argamassa, e o uso ou não de uma cinta grauteada a meia altura da parede.

As principais conclusões da pesquisa apresentada aqui são:

  • Não houve diferença estatisticamente significativa entre a resistência à compressão média para as paredes ocas com assentamento de argamassa parcial ou total;

  • Não houve diferença estatisticamente significativa entre a resistência à compressão média para as paredes ocas, com argamassa total e com argamassa parcial, com e sem cinta grauteada;

  • Todas as paredes ocas apresentaram relação parede/prisma superior a 0,7;

  • Todas as paredes grauteadas apresentaram aumento de resistência à compressão de pelo menos 50% em relação às paredes ocas;

  • Os gráficos tensão-deformação mostram ruptura frágil de todas as paredes com deformação de ruptura entre 0,10 e 0,15% (compressão simples);

  • Os resultados dos módulos de elasticidade foram sempre maiores que 800 fp para paredes ocas e entre 688 e 848 fp para paredes grauteadas. Vários resultados foram superiores ao limite de 16 GPa indicado na ABNT NBR 15961-1.

A partir dessas observações, pode-se sugerir, para alvenaria com blocos de resistência maior que 16 MPa o seguinte:

  • O valor da relação parede-prisma igual a 0,7 pode ser adotado para blocos de concreto de alta resistência para paredes não grauteadas;

  • Para paredes totalmente grauteadas, pode se usar um aumento máximo de 50% no valor da relação parede-prisma em relação ao valor para paredes não grauteada;

  • Considerando a geometria do bloco utilizado, o uso de assentamento de argamassa em toda face do bloco não é eficiente, desta forma a recomendação é de considerar argamassa apenas na lateral, tanto no cálculo quanto na execuação. Ressalva-se que outras eventuais geometrias de blocos, com perfeita sobreposição dos septos, podem trazer resultados diferentes do aqui relatado;

  • O uso de cinta à meia altura para paredes não leva a diminuição da resistência a compressão;

  • O valor do módulo de elasticidade indicado na normalização brasileira igual a 800 fpk pode ser aferido para paredes não grauteadas, porém um valor menor foi verificado nos ensaios de paredes grauteadas. Entende-se que esse ponto deve ser melhor estudado em trabalhos futuros. Por precaução, recomenda-se adotar o valor de E = 600 a 650 fpk para alvenaria com blocos de concreto de alta resistência (maior que 16 MPa);

  • Em contrapartida, o valor limite para E = 16 GPa, não foi verificado nos ensaios aqui apresentados, sendo assim sugerido eliminar esse limite da normalização brasileira.

5. Agradecimentos

Os autores agradecem o apoio da Fundação de Apoio a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), através dos processos 2012/22454-0 e 2015/02362-2, da CESP - Compania Energética do Estado de São Paulo e do Grupo Chimica Edile.

6. References

  • [1]
    Parsekian. G. A. Hamid. A. A. and Drysdale. R. G. Comportamento e Dimensionamento de Alvenaria Estrutural. EdUFSCar. São Carlos. S.P. Brazil. 2012.
  • [2]
    Hendry. A. W.; Sinha B. P.; Davies S. R. Design of Masonry Structures. Department of Civil Engineering. University of Edinburgh. UK. E & FN SPON. 3ª ed. London. 2004.
  • [3]
    Curtin. W. G. Shaw. G. and Beck. J. K. Design of Reinforced and Prestressed Masonry. Thomas Telford. London. Ed. 1988.
  • [4]
    ABNT-NBR 15961-1: Alvenaria estrutural - Blocos de concreto - Parte 1: Projeto. Rio de Janeiro. 2011.
  • [5]
    ABNT-NBR 8949: Paredes de alvenaria estrutural - Ensaio à compressão simples. Rio de Janeiro. 1985.
  • [6]
    ABNT-NBR 12118: Blocos Vasados de Concreto Simples para Alvenaria - Métodos de ensaio - NBR 12118. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro. R.J. Brazil. 2011.
  • [7]
    ABNT-NBR 5738: Concreto - procedimento para moldagem e cura de corpos-de-prova cilíndricos ou prismáticos - método de ensaio. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro. R.J. Brasil. 2003.
  • [8]
    ABNT-NBR 7211: Agregados para concreto - Especificação. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro. R.J. Brasil. 2009.
  • [9]
    ABNT-NBR 13279: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos - Determinação da resistência a tração na flexão e a compressão. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro. R.J. Brasil. 2005.
  • [10]
    Eurocode 6. 1996-1-1: Rules for reinforced and unreinforced masonry. 1996.
  • [11]
    McNary. W. S. and Abrams. D. P. (1985). Mechanics of masonry in compression. Journal of Structural Engineering. 111(4). 857-870. DOI:10.1061/(ASCE)0733-445(1985)111:4(857)
    » https://doi.org/10.1061/(ASCE)0733-445(1985)111:4(857)
  • [12]
    Atkinson. R. H.; Noland. J. L.; Abrams. D.P. and McNary S. A deformation failure theory for stack-bond brick masonry prisms in compression. Proc. 3rd NAMC. Arlington. Texas 1985.
  • [13]
    Drysdale. R.G. Hamid. A.A. and Baker. L.R. Masonry structures: behavior and design. Prentice-Hall Inc. Englewood Cliffs. N.J. 1994
  • [14]
    Cavalheiro. O. P.; Gomes. N. S. Alvenaria estrutural de blocos vazados: resultados de ensaios de elementos e redutores de Strength à compressão. In: XXX Jornadas Sul-Americanas de Engenharia Estrutural. 2002. Brasília. DF. Anais da XXX Jornadas Sul-Americanas de Engenharia Estrutural. 2002.
  • [15]
    Aly. V. L. C. Determinação da capacidade resistente do elemento parede de alvenaria armada de blocos de concreto submetido a esforços de compressão. São Paulo. 1991.103p. Dissertação (Mestrado) - Escola Politécnica. Universidade de São Paulo.
  • [16]
    Medeiros. J. S. Alvenaria estrutural não armada de blocos de concreto: produção de componentes e parâmetros de projeto. São Paulo. 1993. 2v. Dissertação (Mestrado) - Escola Politécnica. Universidade de São Paulo.
  • [17]
    Mendes. J. R. K. Resistência a compressão de alvenaria de blocos cerâmicos estruturais. Florianópolis. 1998. 185p. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Santa Catarina.
  • [18]
    Mohamad. G. Comportamento mecânico na ruptura de prismas de blocos de concreto. Florianópolis. 1998. 117p. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Santa Catarina.
  • [19]
    Romagna. R. H. Resistência a compressão de prismas de blocos de concreto grauteados e não grauteados. MS thesis. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis. S.C. Brazil. 2000.
  • [20]
    Maurício. R. M., Estudo teórico e experimental das ligações diretas contra-fiadas entre paredes de blocos de concreto em escala real e reduzida 1:4. Dissertação (mestrado). Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira. UNESP. 2005.
  • [21]
    Fortes. E. S., Influência do Capeamento e Caracterização da Resistência a Compressão de Alvenaria Estrutural de Blocos de concreto. Dissertation (MS) - Universidade Federal de São Carlos. São Carlos. 2012.
  • [22]
    ABNT-NBR 6136: Blocos Ocos de Concreto Simples para Alvenaria - Requisitos. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro. R.J. Brasil. 2007.
  • [23]
    ABNT NBR 15961-2: Alvenaria estrutural - Blocos de concreto - Parte 2: Execução e controle de obras. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro. R.J. Brasil. 2011.
  • [24]
    ABNT-NBR 5739: Ensaio à compressão de corpos-de-prova cilíndricos de concreto. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro. R.J. Brasil. 2007.
  • [25]
    Silva. A. F. Avaliação da Strength à compressão da alvenaria estrutural. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) - Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira. Universidade Estadual Paulista. Ilha Solteira. 2007.

7. Notação

  • 1
    fb,fbk = resistência média e característica à compressão do bloco (MPa);
  • 2
    fp,fpk = resistência média e característica à compressão do prisma (MPa);
  • 3
    fbm = resistência característica à compressão do bloco (MPa);
  • 4
    fk = resistência característica à compressão da alvenaria (MPa);
  • 5
    fppk = resistência característica à compressão da pequena parede (MPa);
  • 6
    fm = resistência média à compressão da argamassa (MPa).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Nov 2017

Histórico

  • Recebido
    23 Ago 2016
  • Aceito
    21 Mar 2017
IBRACON - Instituto Brasileiro do Concreto Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON), Av. Queiroz Filho, nº 1700 sala 407/408 Torre D, Villa Lobos Office Park, CEP 05319-000, São Paulo, SP - Brasil, Tel. (55 11) 3735-0202, Fax: (55 11) 3733-2190 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: arlene@ibracon.org.br