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Flores e espinhos na gestação: experiências durante a pandemia de COVID-19

RESUMO

Objetivo:

Compreender as repercussões da COVID- 19 no caminho da gestação.

Método:

Estudo qualitativo, do tipo ação-participante, com fundamentação no Itinerário de Pesquisa de Paulo Freire. Realizou-se um círculo de cultura virtual em outubro de 2020, com a participação de 12 gestantes, residentes nas regiões Sul e Sudeste do Brasil.

Resultados:

No círculo de cultura virtual, as gestantes dialogaram e refletiram criticamente sobre dois temas geradores: flores e espinhos no caminhar da gestação. Significaram a vivência no círculo de cultura virtual como espaços para compartilhar experiências, acolhimento e aprendizado, dentre outros.

Conclusões:

Para as participantes, a gestação durante a pandemia trouxe dificuldades como isolamento social, afastamento do trabalho e da universidade, medos, angústias, solidão e inseguranças. Mas, também, melhorou os cuidados com a saúde, intensificando o autocuidado e o investimento nas relações familiares.

Palavras-chave:
Gravidez; Infecções por Coronavírus; Adaptação psicológica; Pandemias; Saúde da mulher

ABSTRACT

Objective:

To understand the repercussions of COVID-19 on the path of pregnancy.

Method:

Qualitative, participatory action research (PAR) study, based on Paulo Freire's Research Itinerary. A virtual culture circle was held in October 2020, with the participation of 12 pregnant women, living in the South and Southeast regions of Brazil.

Results:

In the virtual culture circle, pregnant women talked and critically reflected on two generating themes: flowers and thorns in the course of pregnancy. They meant living in the virtual culture circle as spaces for sharing experiences, welcoming and learning, among others.

Conclusions:

For the participants, pregnancy during the pandemic brought difficulties such as social isolation, absence from work and the university, fears, anxieties, loneliness and insecurities. However, it also improved health care, intensifying self-care and investment in family relationships.

Keywords:
Pregnancy; Coronavirus infections; Adaptations, psychological; Pandemics; Women's health

RESUMEN

Objetivo:

Comprender las repercusiones del COVID-19 en la trayectoria del embarazo.

Método:

Estudio cualitativo, acción-participante, basado en el Itinerario de Investigación de Paulo Freire. En octubre de 2020 se realizó un círculo de cultura virtual, con la participación de 12 mujeres embarazadas, residentes en las regiones Sur y Sudeste de Brasil.

Resultados:

En el círculo de cultura virtual, las gestantes dialogaron y reflexionaron críticamente sobre dos temas generadores: flores y espinas en el transcurso del embarazo. Significaron vivir en el círculo de cultura virtual como espacios para compartir experiencias, acoger y aprender, entre otros.

Conclusiones:

Para las participantes, el embarazo durante la pandemia trajo dificultades como aislamiento social, ausencia del trabajo y de la universidad, miedos, ansiedades, soledad e inseguridades. Pero también mejoró la atención médica, intensificando el autocuidado e invirtiendo en las relaciones familiares.

Palavras clave:
Embarazo; Infecciones por Coronavirus; Adaptación psicológica; Pandemias; Salud de la mujer

INTRODUÇÃO

A pandemia da Coronavirus Disease 2019 (COVID-19), causada pelo vírus Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2 (SARS-CoV-2), surgiu no final de 2019 em Wuhan, na China11. Ahmad AR, Murad HR. The impact of social media on panic during the COVID-19 pandemic in iraqi Kurdistan: online questionnaire study. J Med Internet Res. 2020;22(5):e19556. doi: https://doi.org/10.2196/19556
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. A sua disseminação ocorreu rapidamente, resultando em aumento abrupto do número de infectados e de óbitos22. Zhu N, Zhang D, Wang W, Li X, Yang B, Song J, et al. A novel Coronavirus from patients with pneumonia in China, 2019. N Engl J Med. 2020;382(8):727-33. doi: https://doi.org/10.1056/NEJMoa2001017
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.

Nesse contexto de ocorrência mundial, rapidamente foram sendo identificadas associações entre a COVID-19 e a vulnerabilidade de alguns grupos de risco frente à doença, os quais apresentam altos índices de letalidade11. Ahmad AR, Murad HR. The impact of social media on panic during the COVID-19 pandemic in iraqi Kurdistan: online questionnaire study. J Med Internet Res. 2020;22(5):e19556. doi: https://doi.org/10.2196/19556
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. Dentre esses grupos, encontram-se as gestantes, que por modificações fisiológicas do corpo feminino, podem estar mais vulneráveis a infecções graves33. Favre G, Pomar L, Musso D, Baud D. 2019-nCoV epidemic: what about pregnancies? Lancet. 2020;395(10224):e40. doi: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)30311-1
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. A preocupação está centrada nas gestantes de alto risco, devido a doenças como hipertensão, diabetes e obesidade, as quais podem apresentar pior evolução da COVID-19, quando comparadas a gestantes sem essas comorbidades44. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Manual de recomendações para a assistência à gestante e puérpera frente à pandemia de Covid-19. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2020 [cited 2020 Oct 15]. Available from: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/documentos/corona/manual_recomendacoes_gestantes_covid19.pdf
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. No cenário brasileiro, conforme orientações do Ministério da Saúde, todas as gestantes e puérperas até o 14º dia de pós-parto são consideradas grupo de risco para COVID-1944. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Manual de recomendações para a assistência à gestante e puérpera frente à pandemia de Covid-19. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2020 [cited 2020 Oct 15]. Available from: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/documentos/corona/manual_recomendacoes_gestantes_covid19.pdf
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Visto que há maiores riscos de complicações e óbitos maternos, sobretudo no último trimestre da gravidez e no puerpério55. Rasmussen SA, Smulian JC, Lednicky JA, Wen TS, Jamieson DJ. Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) and pregnancy: what obstetricians need to know. Am J Obstet Gynecol. 2020;222(5):415-26. doi: https://doi.org/10.1016/j.ajog.2020.02.017
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, o isolamento social tornou-se a melhor forma de prevenção. Contudo, a partir disso, várias emoções podem aflorar na vida da mulher grávida, influenciando o seu modo de autocuidado e de vivência da gestação. Pensando na singularidade do momento que a pandemia impõe, surgiu a pergunta de pesquisa: quais as percepções das gestantes acerca da pandemia da COVID-19 durante a gestação?

Pelas restrições impostas pelo isolamento social e suas implicações para o binômio mãe e bebê, as mulheres necessitam ser ouvidas. As gestantes são uma população vulnerável diante da COVID-19, que carecem do olhar atento dos enfermeiros e demais profissionais da área da saúde. Além disso, é premente refletir sobre os sentimentos que influenciam o percurso da gestação durante a pandemia, pois esta é uma situação recente e que pode ser vivida de diferentes formas pelas mulheres. Nesse sentido, o objetivo geral da pesquisa foi compreender as repercussões da COVID- 19 durante a gestação.

MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, do tipo ação-participante66. Moraes RCP, Anhas DM, Mendes R, Frutuoso MFP, Rosa KRM, Silva CRC. Pesquisa participante na estratégia saúde da família em territórios vulneráveis: a formação coletiva no diálogo pesquisador e colaborador. Trab Educ Saúde. 2017;15(1):205-22. doi: https://doi.org/10.1590/1981-7746-sol00035
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, que fundamentou-se nos pressupostos de Paulo Freire. Neste estudo, percorreu-se o Itinerário de Pesquisa Freireano, que possui três etapas dialéticas e interligadas entre si, sendo: investigação temática; codificação e descodificação; e o desvelamento crítico77. Heidemann ITSB, Dalmolin IS, Rumor PCF, Cypriano CC, Costa MFBNA, Durand MK. Reflections on Paulo Freire's research itinerary: contributions to health. Texto Contexto Enferm. 2017;26(4):e0680017. doi: http://doi.org/10.1590/0104-07072017000680017
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O Itinerário de Pesquisa desenvolveu-se no Círculo de Cultura Virtual (CCV), que é um espaço em que pessoas com algum interesse em comum dialogam e refletem acerca da sua realidade, com a intenção de construir uma percepção mais profunda e ampliada da sua situação de vida77. Heidemann ITSB, Dalmolin IS, Rumor PCF, Cypriano CC, Costa MFBNA, Durand MK. Reflections on Paulo Freire's research itinerary: contributions to health. Texto Contexto Enferm. 2017;26(4):e0680017. doi: http://doi.org/10.1590/0104-07072017000680017
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. No entanto, diante da necessidade de isolamento social, imposta pela pandemia de COVID-19, o Círculo de Cultura desenvolveu-se de forma virtual. Para tanto, utilizou-se o aplicativo Google Meet, contando com o apoio de dispositivos eletrônicos, o que viabilizou a integração de todas as participantes. Para a coleta de dados foi preparado um roteiro de tópicos que deveriam ser abordados durante a execução do CCV.

Participaram da pesquisa 12 mulheres gestantes, residentes em diferentes localidades da região Sul e Sudeste do Brasil. Primeiramente, três gestantes das redes sociais foram convidadas, via telefone, para integrar a pesquisa. Em seguida, por meio do método de amostragem Snowball88. Naderifar M, Goli H, Ghaljaie F. Snowball sampling: a purposeful method of sampling in qualitative research. Strides Dev Med Educ. 2017;14(3):e67670. doi: https://doi.org/10.5812/sdme.67670
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, estas convidaram outras mulheres grávidas para integrar o CCV. Durante duas semanas foram convidadas gestantes para a participação no CCV. Como critérios de inclusão, foram consideradas as gestantes acima de 18 anos, com acesso à internet para participar do CCV. Considerou-se como critério de exclusão aquelas com problemas psicológicos e emocionais que impossibilitassem participar do estudo. Dezoito gestantes foram convidadas, mas apenas 12 se dispuseram a integrar a pesquisa. Participaram da coleta de dados as gestantes e as pesquisadoras.

Na semana anterior a realização do CCV, foi encaminhada uma mensagem para as participantes do estudo, via aplicativo de mensagens por internet, com vistas a explicar o objetivo da pesquisa e a necessidade de assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O TCLE foi encaminhado para as mulheres, que o assinaram e o devolveram para as pesquisadoras. Ainda, foi explicado para as participantes sobre como acessar o aplicativo, buscando sanar suas dúvidas.

Foi desenvolvido um CCV no dia 14 de outubro de 2020, com duração de, aproximadamente, duas horas. No dia da coleta de dados as participantes e as pesquisadoras estavam em suas casas e o contato foi apenas por meio virtual. O CCV foi mediado pelas pesquisadoras, que utilizaram diário de campo para registros, sendo que o encontro foi gravado, com a devida autorização das gestantes. Para percorrer as etapas do Itinerário de Pesquisa de Paulo Freire de forma interativa, criativa e mais concreta, optou-se em realizar uma analogia com a gestante percorrendo um caminho, conforme Figura 1.

Figura 1 -
Itinerário de Pesquisa de Paulo Freire: analogia com o caminho da gestante

Para adentrar na etapa da Investigação Temática, a mediadora do CCV refletiu sobre o caminhar das gestantes durante a vivência da pandemia e lançou o seguinte questionamento: quais as repercussões da pandemia de COVID-19 no caminho da sua gestação? Ao som de uma música de fundo, as participantes foram convidadas a responder o questionamento da pesquisadora, escrevendo uma palavra representativa em uma folha de papel. As participantes apresentaram suas palavras, explicando seus significados, enquanto uma pesquisadora foi registrando as colocações. Os registros foram apresentados na tela compartilhada para todas as participantes realizarem validação dos dados. Conjuntamente, elas leram e releram, buscando organizar e escolher os temas geradores para discussão, emergindo assim duas temáticas: 1) As flores no caminhar da gestação; 2) Os espinhos no caminhar da gestação. Nessa metáfora, as flores representam os aspectos positivos e os espinhos fazem alusão aos desafios vivenciados pelas gestantes.

Para percorrer a Codificação e Descodificação do Itinerário de Pesquisa, a mediadora colocou as seguintes questões: quais são as flores e quais são os espinhos no caminho da sua gestação? Para tanto, novamente ao som de uma música de fundo, a mediadora convidou as participantes a refletirem e responderem a questão. Em seguida, cada gestante apresentou suas percepções, dialogando de maneira reflexiva, com liberdade e criticidade, acerca da vivência da gestação no enfrentamento da pandemia de COVID-19, em um rico momento de compartilhamento de saberes.

Enquanto as gestantes verbalizavam suas percepções, a mediadora foi registrando as palavras na tela compartilhada com as gestantes. Assim, todas as participantes puderam acompanhar os registros, sendo que cada tema gerador foi discutido separadamente, conforme representação da Figura 2. Não foi usado nenhum software para a síntese dos dados.

Em seguida, a mediadora leu todas as anotações, buscando ressignificar os diálogos que emergiram durante o CCV. Neste momento, adentrou-se no Desvelamento Crítico, terceira etapa do Itinerário de Pesquisa de Paulo Freire, em que a mediadora destacou os aprendizados e significações que as gestantes compartilharam ao desvelar os seus limites e as possibilidades no caminhar da gestação em tempos de pandemia. Refletiram sobre a necessidade de superar os espinhos no caminhar da gestação, com o reconhecimento das flores neste percurso de enfrentamento da pandemia de COVID-19, conscientizando-se e fortalecendo-se mutuamente. Para findar a atividade, a mediadora instigou as gestantes a refletirem sobre o significado da participação delas no CCV.

Figura 2 -
Representação das codificações e temas geradores desvelados no Círculo de Cultura Virtual

Os diálogos foram transcritos e organizados em pastas digitais, de acordo com os dois temas geradores que emergiram durante o CCV, sendo que para a análise dos dados realizou-se leitura criteriosa das informações contidas nestas pastas. A análise dos dados (temas) ocorreu concomitantemente ao desenvolvimento do CCV, tal como se prevê no Itinerário Freireano77. Heidemann ITSB, Dalmolin IS, Rumor PCF, Cypriano CC, Costa MFBNA, Durand MK. Reflections on Paulo Freire's research itinerary: contributions to health. Texto Contexto Enferm. 2017;26(4):e0680017. doi: http://doi.org/10.1590/0104-07072017000680017
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O estudo foi conduzido por todas as pesquisadoras, mulheres, sendo uma Doutora e professora e uma PhD e professora em Enfermagem, uma Doutora e professora em saúde coletiva, uma estudante da graduação em Enfermagem e uma estudante da graduação em Medicina. As autoras não conheciam as participantes anteriormente a coleta dos dados, pois o primeiro contato foi feito por meio das redes sociais, sendo usada a técnica snowball para a seleção das demais participantes. Deste modo, anteriormente a realização do CCV as gestantes não sabiam dos objetivos da pesquisa e nem das questões que seriam abordadas pelas pesquisadoras durante o CCV.

O estudo foi desenvolvido de acordo com os princípios da resolução 466 de 2012. As participantes do estudo foram codificadas com nomes de flores, a fim de preservar o seu anonimato. O estudo foi aprovado para desenvolvimento pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) com seres humanos de uma universidade pública do Sul do Brasil, com parecer número 4.068.387, na data de três de junho de 2020.

RESULTADOS

As participantes do estudo eram mulheres grávidas, com idade gestacional entre 15 e 38 semanas. Residiam na região Sul e Sudeste do Brasil, sendo 11 de Santa Catarina e uma de São Paulo, tendo entre 22 e 38 anos. Quanto ao estado civil, oito eram casadas, duas estavam em união estável e duas eram solteiras. Suas profissões eram: empresária, preparadora de calçados, auxiliar de montagem, analista de controladoria, estudante, administradora, auxiliar de setor na fábrica de calçados, funcionária pública, nutricionista, professora, advogada e operadora de turismo.

Na discussão do primeiro tema gerador, em que dialogaram acerca das flores no caminhar da gestação, as participantes destacaram que, devido a necessidade de isolamento social imposta pela pandemia de COVID-19, tiveram a oportunidade de trabalhar em casa. Algumas foram afastadas do trabalho, o que oportunizou maior tempo para viver intensamente a gravidez e aproveitar a convivência com a família, além de poder se informar melhor sobre a gestação:

Com essa pandemia, fui afastada do trabalho e achei bom para poder curtir mais a gravidez. (Gérbera)

A pandemia tem feito a gente se dedicar mais para família. (Rosa)

A COVID-19 acabou me ajudando a ter maior tempo para pesquisar sobre a minha gestação. (Violeta)

Além disso, as gestantes apontaram a oportunidade de poder acompanhar mais de perto os filhos, com maior valorização do tempo e ampliação dos laços familiares, refletindo que a sociedade, com a pandemia, tem resgatado valores, com reflexões sobre o futuro da humanidade:

Tenho tido o privilégio de acompanhar mais de pertinho os meus filhos com a pandemia. (Hortência)

Minha família se uniu e os nossos laços se fortaleceram. (Jasmim)

Essa pandemia tem feito o mundo refletir sobre o futuro da humanidade e isso é muito bom. (Amarílis)

Como fator positivo no caminhar da gestação em tempos pandêmicos, as mulheres ainda referiram os sentimentos de esperança, confiança, desvelando maior tranquilidade para o bebê, o menor número de visitas quando ele nascer e a relevância do apoio dos familiares no gestar:

Eu estou me sentindo bem tranquila. (Azaléia)

Me sinto com esperança de que tudo vai dar certo. (Begônia)

Eu me sinto confiante e mais segura agora. (Calêndula)

Com tudo isso, teremos mais tranquilidade para o nós. (Violeta)

Com a pandemia, teremos menos visitas quando o bebê nascer e isso acaba sendo bom. (Flor-de-maio)

Nisso tudo, vejo a importância de ter o apoio da minha família nesse período. (Rosa)

As gestantes dialogaram sobre o resgate da importância dos hábitos cotidianos de higiene e do autocuidado e destacaram o fato de não precisarem comprar roupas novas como um aspecto positivo:

A situação de pandemia trouxe a importância da higiene e de todo mundo se cuidar mais e isso foi bom. (Gérbera)

Outra coisa boa foi que a gente não sentiu necessidade de comprar novas roupas ao ficar em casa e economizamos. (Violeta)

Elas elogiaram o atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS) durante o pré-natal, afirmando que a mulher é forte e precisa reconhecer que nem tudo é passível de controle:

Achei muito bom o atendimento que recebi no SUS durante todo o meu pré-natal. (Margarida)

A mulher ela é muito forte e somos capazes de vencer nossos obstáculos e venceremos tudo isso também. (Amarilis)

Eu busco reconhecer que eu não consigo fazer tudo, que nem tudo depende de mim, porque nem tudo dá para gente controlar. (Begônia)

As gestantes deixaram evidente a necessidade de buscar o equilíbrio, tendo que equilibrar as flores e espinhos no enfrentamento da pandemia de COVID-19:

Precisamos ter equilíbrio, buscando sempre equilibrar nossas vidas, reconhecendo as flores e superando os espinhos que surgirem no nosso caminho. (Rosa)

Ao dialogar sobre o segundo tema gerador, em que refletiram acerca dos espinhos no caminhar da gestação no enfrentamento da pandemia de COVID-19, as gestantes destacaram sentimentos de solidão, medo, preocupações, ansiedade e insegurança:

Eu me sinto muito sozinha em casa porque meu marido sai para trabalhar e eu fico só. (Flor-de-maio)

Eu tenho medo de pegar essa doença fazendo meus exames pré-natal ou nas consultas. (Margarida)

Eu me preocupo com o futuro e isso me traz muitas inseguranças. (Violeta)

Me sinto muito ansiosa e isso é difícil de controlar. (Calêndula)

Eu acho que o sentimento de insegurança é geral diante de tantas coisas que a gente vem enfrentando. (Cravina)

Outra dificuldade levantada pelas gestantes foi a necessidade de ficar em casa, somado ao fato de ser responsável pelas tarefas escolares dos filhos, repercutindo em cansaço, ganho de peso, estresse, saudades dos entes queridos e de ir para a universidade:

Eu não gosto de ter que ficar em casa porque sempre fui de sair. (Rosa)

Fazer as tarefas da escola do meu filho me dá um cansaço e isso estressa bastante. (Jasmim)

Eu me sinto muito cansada. (Hortência)

Estou ganhando peso porque em casa, a gente come muito fora de hora e come a mais também. (Amarilis)

Com tudo que está ocorrendo a gente fica estressada. (Begônia)

Sinto saudades de ficar com meus familiares, conversar mais com eles e agora, não dá para gente se reunir como antes. (Calêndula)

Sinto falta de poder ir para universidade estudar. (Amarilis)

As mudanças que ocorreram na vida das gestantes e no mundo a sua volta trouxeram dúvidas, principalmente para as primíparas, com aumento da sensibilidade e alteração no humor:

Eu tenho muitas dúvidas quanto aos reais riscos da COVID-19 na gestação. (Gérbera)

A gente que é mãe de primeira viagem tem muitas dúvidas. (Hortênsia)

Eu estou com minha sensibilidade aflorada. (Margarida)

Eu sinto as alterações de humor e isso, às vezes, me prejudica. (Azaléia)

Uma gestante abordou sobre os desafios em se adaptar com o companheiro, pois haviam se unido recentemente e outras referiram dificuldades no atendimento no SUS:

Acho difícil a gente se adaptar nesse início de relacionamento, nada fácil. (Jasmim)

Eu me senti desrespeitada quando eu fui tomar vacina na unidade de saúde e fiquei triste, não gostei. (Violeta)

Até agora não consegui fazer a morfológica do bebê, porque no posto não liberaram. (Gérbera)

Queria conhecer a maternidade onde terei o parto, mas não pode entrar, estão limitando as visitas. (Margarida)

Quando questionadas sobre os significados de participação no CCV, as gestantes afirmaram ter sido um momento rico de compartilhamento de experiências, que proporcionou aprendizado, acolhimento, diálogo, prazer e bons sentimentos, como pode ser observado na Figura 3.

Figura 3 -
Significados das gestantes em vivenciar o Círculo de Cultura Virtual

DISCUSSÃO

Especialmente entre as gestantes, a pandemia de COVID-19 vem gerando diversos sentimentos e barreiras no percurso da gestação, em função das restrições para sair de casa e fazer atividades rotineiras, ir ao trabalho e frequentar os serviços de saúde para a realização do pré-natal. Há também a ocorrência de situações de instabilidade emocional, inseguranças frente ao futuro, o que pode aumentar a ansiedade e a incerteza relacionada à sua gestação e ao parto99. Dickinson F, McCauley M, Smith H, Broek ND. Patient reported outcome measures for use in pregnancy and childbirth: a systematic review. BMC Pregnancy Childbirth. 2019;19:155. doi: https://doi.org/10.1186/s12884-019-2318-3
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A gestação é um evento que exige adaptação ao novo e que promove diversas transformações no corpo, mudanças de humor, ganho de peso, mudanças nas relações familiares e nos modos de convívio social1010. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Atenção ao pré-natal de baixo risco. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2012 [cited 2020 Oct 19]. Cadernos de Atenção Básica, n. 32. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cadernos_atencao_basica_32_prenatal.pdf
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. São necessários diferentes movimentos por parte da família, da mulher e dos serviços de assistência à saúde para dar conta do adequado acolhimento da gestante e do bebê. Nesse sentido, a ansiedade e as mudanças de humor acompanham muitas gestantes, quadro que se agrava durante a pandemia, pois a ocorrência da COVID-19 trouxe maiores dúvidas e preocupações, como o medo de contágio e mais insegurança quanto ao futuro1111. Mascarenhas VHA, Caroci-Becker A, Venâncio KCMP, Baraldi NG, Durkin AC, Riesco MLG. COVID-19 and the production of knowledge regarding recommendations during pregnancy: a scoping review. Rev Latino-Am Enfermagem. 2020;28:e3348. doi: http://doi.org/10.1590/1518-8345.4523.3348
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).

Ademais, a adesão ao isolamento social relaciona-se com o medo de infectar-se e trazer algum prejuízo a saúde do bebê que ainda está se desenvolvendo intraútero e que, quando não conduzido de forma harmônica, torna-se um preditor de risco para condições psicológicas, podendo desencadear estresse, raiva, angústia e sensação de isolamento do resto do mundo1212. Bezerra ACV, Silva CEM, Soares FRG, Silva JAM. Factors associated with people’s behavior in social isolation during the COVID-19 pandemic. Ciênc Saúde Coletiva. 2020;25(Suppl 1):2411-21. doi: https://doi.org/10.1590/1413-81232020256.1.10792020
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. Por mais que a restrição de convívio social seja importante nesse período pandêmico, é relevante que as gestantes se mantenham ativas e planejando o futuro. Nesse sentido, há necessidade de garantir maior apoio psicológico para essas mulheres durante a vivência da pandemia, ofertando assistência multiprofissional, combinando também boa alimentação, sono, repouso e atividades de lazer1111. Mascarenhas VHA, Caroci-Becker A, Venâncio KCMP, Baraldi NG, Durkin AC, Riesco MLG. COVID-19 and the production of knowledge regarding recommendations during pregnancy: a scoping review. Rev Latino-Am Enfermagem. 2020;28:e3348. doi: http://doi.org/10.1590/1518-8345.4523.3348
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As mulheres referiram ansiedade diante das dúvidas quanto aos efeitos que a COVID-19 pode causar no desenvolvimento do bebê, bem como com a falta de vacinas e testes em gestantes1313. Mascarenhas VHA, Caroci-Becker A, Venâncio KCMP, Baraldi NG, Durkin AC, Riesco MLG. Care recommendations for parturient and postpartum women and newborns during the COVID-19 pandemic: a scoping review. Rev Latino-Am Enfermagem. 2020;28:e3359. doi: http://doi.org/10.1590/1518-8345.4596.3359
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. Portanto, são necessários mais estudos, pois as evidências são insuficientes para entender se as mulheres grávidas são mais gravemente afetadas e se ocorre transmissão intrauterina1414. Gonçalves AK. The real impact of the Coronavírus Disease 2019 (covid-19) on the pregnancy outcome [letter]. Rev Bras Ginecol Obstet. 2020;42(5):303-4. doi: http://doi.org/10.1055/s-0040-1712942
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O isolamento social também trouxe a adaptação das mulheres a novas rotinas e modos de relacionar-se com a família. Algumas gestantes já eram mães de outras crianças e relataram os desafios de conviver com filhos adolescentes e fazer tarefas escolares, sendo necessário dedicar mais tempo aos filhos devido ao uso da internet e das aulas on-line1515. Deslandes SF, Coutinho T. The intensive use of the internet by children and adolescents in the context of COVID-19 and the risks for self-inflicted violence. Ciênc Saúde Coletiva. 2020; 25(Suppl 1):2479-86. doi: https://doi.org/10.1590/1413-81232020256.1.11472020
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Em tempos de enfrentamento de situações difíceis e de saudade dos familiares, o apoio de outras pessoas, que vivenciam as mesmas situações, podem ser estratégias para assistir e cuidar. Os grupos de gestantes são estratégias frequentes na Atenção Primária à Saúde (APS)1616. Domingues F, Pinto FS, Pereira VM. Grupo de gestantes na atenção básica: espaço para construção do conhecimento e experiências na gestação. Rev Fac Ciênc Méd Sorocaba. 2018;20(3):150-4. doi: https://doi.org/10.23925/1984-4840.2018v20i3a6
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, mas estão suspensos durante a pandemia. Neste sentido, os grupos educativos podem ser realizados de maneira on-line, sendo uma ferramenta de baixo custo e amplo para ações de prevenção e promoção em saúde1717. Bermejo-Sánchez FR, Peña-Ayudante WR, Espinoza-Portilla E. Depresión perinatal en tiempos del COVID-19: rol de las redes sociales en internet. Acta Med Peru. 2020;37(1):88-93. doi: https://doi.org/10.35663/amp.2020.371.913
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Com relação aos espinhos que as mulheres estão vivenciando, ficou evidente que as gestantes aprendem com as adversidades e ressignificam valores e laços familiares existentes, ancorando-se em sentimentos positivos de esperança, confiança, força e coragem para enfrentar os desafios na jornada, entendendo a força da mulher e buscando a superação dos desafios de viver a maternidade, seja pela primeira vez ou numa nova gestação.

Esses sentimentos foram relatados pelas participantes, sendo um elo positivo com o futuro, rompendo com o que não é possível no momento, mas que por meio de uma projeção um dia poderá ser1818. Nan Y, Wei L, Qingling K, Zhi X, Shaoshuai W, Xingguang L, et al.Clinical features and obstetric and neonatal outcomes of pregnant patients with COVID-19 in Wuhan, China: a retrospective, single-centre, descriptive study. Lancet Infect Dis. 2020;20(5):559-64. doi: https://doi.org/10.1016/S1473-3099(20)30176-6
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. Essa estratégia busca enfrentamento e resiliência frente às adversidades, com equilíbrio para passar por tudo que está acontecendo e ter como desfecho o parto de um bebê saudável.

A nova rotina de home office tem possibilitado a reorganização do tempo, oportunizando às gestantes maior disponibilidade para ficar com os filhos e com a família, para se organizar para a chegada do bebê e para informar-se sobre a gravidez, vivenciando uma gestação mais tranquila e reduzindo o estresse1010. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Atenção ao pré-natal de baixo risco. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2012 [cited 2020 Oct 19]. Cadernos de Atenção Básica, n. 32. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cadernos_atencao_basica_32_prenatal.pdf
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. A impossibilidade das grávidas saírem de casa também reduz a necessidade de comprar novas roupas e ter gastos extras, trazendo impactos econômicos, já que algumas gestantes tiveram redução da renda durante a pandemia.

O isolamento social está propiciando às mulheres outro modo de vivenciar o puerpério, recomendando-se a necessidade de reduzir as visitas ao bebê e à puérpera e incentivando maiores cuidados de higiene, como o uso de álcool em gel e máscaras44. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Manual de recomendações para a assistência à gestante e puérpera frente à pandemia de Covid-19. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2020 [cited 2020 Oct 15]. Available from: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/documentos/corona/manual_recomendacoes_gestantes_covid19.pdf
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. Todos esses cuidados são apontados como positivos pelas gestantes, pois além da COVID-19, outras doenças podem ser transmitidas ao recém-nascido1010. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Atenção ao pré-natal de baixo risco. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2012 [cited 2020 Oct 19]. Cadernos de Atenção Básica, n. 32. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cadernos_atencao_basica_32_prenatal.pdf
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Nesse sentido, a testagem para doenças e os cuidados realizados no pré-natal no SUS, foram relatados de maneira positiva pelas mulheres, com maior disponibilidade e agilidade nas agendas das unidades de saúde para a realização de consultas e exames, oportunizando rapidez na assistência, conforme preconiza o Ministério da Saúde44. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Manual de recomendações para a assistência à gestante e puérpera frente à pandemia de Covid-19. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2020 [cited 2020 Oct 15]. Available from: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/documentos/corona/manual_recomendacoes_gestantes_covid19.pdf
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. Mesmo assim, por desconhecimento dos profissionais durante o atendimento, uma das gestantes relatou dificuldade no entendimento das normativas, o que gerou desrespeito e insatisfação. As gestantes devem ser atendidas na APS e realizar seis consultas de pré-natal e uma de puerpério, com classificação do risco gestacional, e encaminhamento para serviços de referência quando indicado1212. Bezerra ACV, Silva CEM, Soares FRG, Silva JAM. Factors associated with people’s behavior in social isolation during the COVID-19 pandemic. Ciênc Saúde Coletiva. 2020;25(Suppl 1):2411-21. doi: https://doi.org/10.1590/1413-81232020256.1.10792020
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. Sendo que, durante a pandemia, não há indicação ou proibição de acompanhante de escolha da gestante durante consultas, exames, parto e internação55. Rasmussen SA, Smulian JC, Lednicky JA, Wen TS, Jamieson DJ. Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) and pregnancy: what obstetricians need to know. Am J Obstet Gynecol. 2020;222(5):415-26. doi: https://doi.org/10.1016/j.ajog.2020.02.017
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Nesta situação de isolamento social, tornou-se necessário criar novos meios de comunicação entre os profissionais e as gestantes e disponibilizar suporte on-line. Para diminuir os riscos para as gestantes e puérperas, são sugeridos pelo MS o uso de teleconsulta e agendamento programado de consulta e exames para adequado controle dos fatores de risco na gestação1818. Nan Y, Wei L, Qingling K, Zhi X, Shaoshuai W, Xingguang L, et al.Clinical features and obstetric and neonatal outcomes of pregnant patients with COVID-19 in Wuhan, China: a retrospective, single-centre, descriptive study. Lancet Infect Dis. 2020;20(5):559-64. doi: https://doi.org/10.1016/S1473-3099(20)30176-6
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. Nesse sentido, o uso de diferentes tecnologias e aplicativos pode fortalecer a assistência de enfermagem e qualificar o tempo de resposta frente a uma adversidade.

Uma inovação importante desse estudo está no uso de uma pesquisa participativa, que se torna exitosa ao articular a troca de saberes e aprendizados mútuos, sendo de baixo custo e, nesse caso, com a possibilidade de envolver pessoas em diferentes locais, fortalecendo o engajamento de mulheres no seu pré-natal. A Enfermagem pode atuar nesse cenário incentivando medidas de autocuidado, prevenção e promoção da saúde na gestação e puerpério1919. Livramento DVP, Backes MTS, Damiani PR, Castillo LDR, Backes DS, Simão AMS. Perceptions of pregnant women about prenatal care in primary health care. Rev Gaúcha Enferm. 2019;40:e20180211. doi: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2019.20180211
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. Destaca-se nesse cenário pandêmico, a grande visibilidade que a enfermagem está tendo como educadora, gestora e realizando assistência, sustentando os serviços de saúde e prestando escuta as famílias, compreendendo que a competência humanística não se dissocia da competência ético-política e do papel pedagógico da prática da enfermagem2020. David HMSL, Acioli S, Silva MRF, Bonetti OP, Passos H. Pandemics, crisis conjunctures, and professional practices: what is the role of nursing with regard to Covid-19? Rev Gaúcha Enferm. 2021;42(esp):e20190254. doi: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2021.20190254
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Neste sentido, o CCV se revela como uma ferramenta importante para a Enfermagem desenvolver pesquisas e também promover a saúde em tempos de pandemia de COVID-19, possibilitando acolhimento integral, mesmo não sendo de forma presencial, principalmente direcionada aos grupos de risco para o acometimento pela doença, como as gestantes. Estes grupos são uma estratégia frequente na APS e são um ótimo momento para promover a saúde e acolher as dúvidas das mulheres, podendo o CCV auxiliar nessa troca de experiências e fortalecimento mútuo1616. Domingues F, Pinto FS, Pereira VM. Grupo de gestantes na atenção básica: espaço para construção do conhecimento e experiências na gestação. Rev Fac Ciênc Méd Sorocaba. 2018;20(3):150-4. doi: https://doi.org/10.23925/1984-4840.2018v20i3a6
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Destaca-se como limitação o tempo escasso, neste círculo de cultura, para dialogar com as gestantes sobre as medidas de enfrentamento da pandemia, ficando como uma sugestão para de investigação em futuras pesquisas. Ao findar a atividade, as gestantes solicitaram a realização de um novo encontro on-line, desvelando ser um momento rico de troca de experiências e desenvolvimento de vínculo com outras gestantes. Nesse sentido, reitera-se a importância da realização de novos CCV durante a pandemia com outras gestantes e com diversos públicos de outras regiões do Brasil, permitindo o aprendizado mútuo, um espaço de reflexão e de escuta ativa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O CCV possibilitou às gestantes um momento de reflexão sobre sua gestação e o modo de andar nesse caminho. As repercussões da pandemia na gestação foram tanto positivas quanto negativas, sendo que, para as mulheres foi importante dar-se conta de que o isolamento social impôs várias restrições de convívio, trouxe desafios, medos e angústias, mas que também motivou as mulheres para o autocuidado, proporcionou a união com a família e mais tempo para preparar a chegada do bebê. As gestantes puderam refletir sobre o momento de pandemia, percebendo que no andar da gestação, as flores e os espinhos permitiram alterar a sua caminhada, sendo muitas vezes necessário serenidade e equilíbrio para compreender que nem tudo pode ser controlável.

A realização de uma pesquisa qualitativa com gestantes, destaca-se, pois possibilitou compreender como a pandemia está influenciando o modo de andar a gestação. O contexto de isolamento social impossibilita, muitas vezes, o contato dos pesquisadores e a apreensão de como este grupo está enfrentando o isolamento social e as demais repercussões da pandemia na gestação.

A realização do CCV, pautado no referencial de Paulo Freire, possibilitou um encontro virtual para partilhar de experiências, escuta qualificada e aprendizado mútuo. A utilização do CCV como instrumento metodológico no campo da pesquisa é inovadora na Enfermagem e pode propiciar o desenvolvimento de diversas atividades durante a pandemia de modo acolhedor, criativo e humano, proporcionando acolhimento, autonomia e empoderamento dos sujeitos.

O momento de pandemia exige adaptação dos profissionais para o cuidado das gestantes, seja no âmbito assistencial, educativo ou de gestão. O CCV pode auxiliar os profissionais de enfermagem, pois permite dialogar, levantar problemas, escutar e propor soluções diante de um contexto de isolamento social.

Agradecimento:

A Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) pelas bolsas de iniciação cientifica correspondentes ao edital 279/2020.

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Editado por

Editor associado:

Helga Geremias Gouveia

Editor-chefe:

Maria da Graça Oliveira Crossetti

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Dez 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    08 Dez 2020
  • Aceito
    26 Mar 2021
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