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Banco de termos para a prática de enfermagem com mulheres idosas com HIV/aids

Resumos

Objetivou-se elaborar um banco de termos para a prática de enfermagem com mulheres idosas com HIV/aids. Pesquisa descritiva documental realizada na Universidade Federal da Paraíba, de agosto/2012 a julho/2013, com base em uma lista de termos identificados a partir do "Plano Integrado de Enfrentamento da Feminização da Epidemia da aids e outras DSTs". Realizaram-se o mapeamento cruzado desses termos com os da Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem 2011 e a confirmação de utilização desses termos na prática de enfermagem com 15 participantes. O banco foi constituído por 106 termos constantes e 69 termos não constantes na CIPE® 2011. Destaca-se a necessidade de reflexão acerca da assistência de enfermagem à mulher idosa com HIV/aids diante da mudança epidemiológica frente ao envelhecimento e à feminização da epidemia. O banco de termos contribuirá para a construção de enunciados de diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem para mulheres idosas com HIV/aids.

Enfermagem; Envelhecimento; Saúde da mulher; Processos de enfermagem; Síndrome da imunodeficiência adquirida


The aim of this study was to create a term base for nursing practices with elderly women with HIV/AIDS. This documental descriptive research was conducted at the Universidade Federal de Paraíba, from August 2012 to July 2013, based on a list of terms from the Integrated Plan to Combat the Feminization of AIDS and other STDs. These terms were cross-mapped with those of the International Classification for Nursing Practices 2011 (CIPE(r) 2011) and use of these terms in nursing practices was confirmed with the help of 15 participants. The base comprised 106 constant terms and 69 non-constant terms in the CIPE(r) 2011. Results revealed the need to reconsider nursing care for elderly women with HIV/AIDS in light of epidemiological changes in relation to aging and feminization of the disease. The term base will support the construction of more appropriate wording for nursing diagnoses, results and interventions for elderly women with HIV/AIDS.

Nursing; Aging; Women's health; Nursing processes; Acquired immunodeficiency syndrome


El objetivo era desarrollar una base de datos de términos para la práctica de enfermería con las mujeres mayores con VIH/SIDA. Investigación descriptiva documental realizada en la Universidad Federal de Paraíba, entre agosto/2012 a julio/2013, basada en una lista de los términos identificados del "Plan Integral de Lucha contra la feminización epidemia del SIDA y otras enfermedades de transmisión sexual." Había mapeo cruzado de términos con Clasificación Internacional para la Práctica de Enfermería 2011 y confirmación del uso de estos términos en práctica de enfermería con 15 participantes. El banco consta de 106 términos constantes y 69 términos no constantes, en la ICNP(r)2011. Se incitan reflexiones sobre cuidados de enfermería a mujer de edad avanzada con VIH/SIDA en el cambio epidemiológica del envejecimiento y feminización de epidemia. El banco de términos contribuirá con la construcción de diagnósticos, resultados e intervenciones de enfermería para mujeres mayores con VIH/SIDA.

Enfermería; Envejecimiento; Salud de la mujer; Procesos de enfermería; Síndrome de inmunodeficiencia adquirida


INTRODUÇÃO

A multiplicidade de fatores que modularam a epidemia da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (aids) não lhe conferiram uniformidade, deslocando a ocorrência de casos entre homens heterossexuais, mulheres e populações socialmente mais vulneráveis - processos denominados de heterossexualização, feminização e pauperização( 1Joint United Nations Programme on HIV/aids (UNAIDS) . Global Report: UNAIDS report on the global AIDS epidemic/2012 [cited 2014 nov 10]. Available in: http://www.unaids.org/en/media/unaids/contentassets/documents/epidemiology/2012/gr2012/20121120_UNAIDS_Global_Report_2012_en.pdf
http://www.unaids.org/en/media/unaids/co...
).

A mudança no curso clínico da doença, ocasionado pelo acesso universal e gratuito aos procedimentos terapêuticos, incluiu a aids na categoria de condições crônicas. O aumento da longevidade, a socialização progressiva da gestão da velhice e mudanças no padrão sexual dos idosos ampliaram as oportunidades de se infectar pelo HIV. Neste contexto, a feminização da doença vem sendo observada em idosos( 2Silva CM, Lopes FMVM, Vargens OMC. A vulnerabilidade da mulher idosa em relação à aids. Rev Gaúcha Enferm. 2010;31(3):450-7. ).

No Brasil foram notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e declarados no Sistema de Mortalidade (SIM), no período de 1980 a 2010, 16.227 casos de aids em pessoas com 60 anos ou mais. Neste grupo etário, a taxa de incidência em 1998 foi de 4,9 alcançando em 2010, 7 casos para cada 100 mil habitantes. Na avaliação da incidência entre os sexos, entre os homens houve um aumento de 7,5 para 9,4 casos por 100 mil habitantes e entre as mulheres, de 2,8 para 5,1 casos em 100 mil habitantes( 3Boletim Epidemiológico aids/DST. 2012; 8(1):1-159. ).

Assim, destaca-se a necessidade de mobilização dos profissionais da saúde, reafirmando a necessidade de assegurar o cumprimento das diretrizes estabelecidas pelo "Plano Integrado de Enfrentamento da Feminização da Epidemia da aids e outras DST's" cujo objetivo é nortear a implantação e a implementação de ações de promoção à saúde e aos direitos, da área sexual e reprodutiva, em nível federal, estadual e municipal( 4Ministério da Saúde (BR). Plano integrado de enfrentamento da feminização da epidemia de aids e outras DST: versão revisada julho de 2009 [Internet]. Brasília; 2009. [cited 2012 ago 12] Available in: http://sistemas.aids.gov.br/feminizacao/index.php?q=plano-de-enfrentamento-da-feminiza%C3%A7%C3%A3o
http://sistemas.aids.gov.br/feminizacao/...
).

Os enfermeiros, enquanto profissionais da saúde, têm um papel de atuação na implementação de políticas públicas, bem como na assistência ao usuário tanto na promoção e prevenção como no cuidado aos agravos à saúde visando uma melhoria na qualidade de vida. Sendo assim, necessita de sistemas de classificação da prática profissional para auxiliar na descrição e comunicação das atividades da prática de enfermagem, caracterizando uma linguagem padronizada, destacando-se a Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE(r)), como um dos sistemas de classificação que permite o desenvolvimento de uma linguagem universal( 5Garcia TR, Nóbrega MML. A terminologia CIPE(r) e a participação do centro CIPE(r) brasileiro em seu desenvolvimento e disseminação. Rev Bras Enferm. 2013; 6(esp):142-50. ).

Esse sistema de classificação tem sua estrutura desenvolvida com base no Modelo de Sete Eixos que contém termos que devem ser utilizados na estruturação verbal dos diagnósticos, intervenções e resultados de enfermagem. Esses eixos são: Foco - área de atenção relevante para a Enfermagem; Julgamento - opinião clínica relacionada ao foco da prática de enfermagem; Meio - maneira de executar uma intervenção; Ação - consiste no processo intencional aplicado a um cliente; Tempo - ponto, período, intervalo ou duração de uma ocorrência; Localização - orientação anatômica ou espacial de um diagnóstico ou intervenção; e Cliente - sujeito a quem o diagnóstico se refere e que é o beneficiário de uma intervenção de enfermagem( 6International Council of Nurses (CH). CIPE versão 2013 - português do Brasil. [cited 2013 nov 10] Available in: http://www.icn.ch/images/stories/documents/pillars/Practice/icnp/translations/icnp-Brazil-Portuguese_translation.pdf
http://www.icn.ch/images/stories/documen...
).

Não existem classificações específicas para todas as áreas de atuação do enfermeiro, contudo o Conselho Internacional de Enfermeiras (CIE) necessita coletar e codificar termos utilizados pela Enfermagem em clientes e áreas específicas, organizando e criando os subconjuntos terminológicos definidos como um conjunto de enunciados de diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem( 6International Council of Nurses (CH). CIPE versão 2013 - português do Brasil. [cited 2013 nov 10] Available in: http://www.icn.ch/images/stories/documents/pillars/Practice/icnp/translations/icnp-Brazil-Portuguese_translation.pdf
http://www.icn.ch/images/stories/documen...
).

Sendo assim, este estudo foi norteado pela seguinte questão: os termos contidos no Plano Integrado de Enfrentamento da Feminização da Epidemia da aids e outras DST's possibilitam a construção de um banco de termos para a prática de enfermagem com mulheres idosas com HIV/aids? Desse modo, desenvolveu-se este estudo com o objetivo de elaborar um banco de termos para a prática de enfermagem com mulheres idosas com HIV/aids a partir do Plano Integrado de Enfrentamento da Feminização da Epidemia da aids e outras DST's .

MÉTODO

Estudo descritivo documental realizado na Universidade Federal da Paraíba, de agosto/2012 a julho/2013. Para sua realização, buscou-se atender a procedimentos metodológicos adaptados de estudos terminológicos( 7Pavel S, Nolet D. Manual de terminologia. Hull: Public Works and Government Services, Translation Bureau; 2003. ).

Para desenvolvimento do estudo, levaram-se em consideração os seguintes passos: 1 - Identificação e avaliação de documentação especializada; 2 - Delimitação do campo temático da análise terminológica; 3 - Confirmação de utilização dos termos na prática profissional com enfermeiros/pesquisadores colaboradores; 4 - Mapeamento cruzado de termos identificados com os termos da CIPE(r) 2011( 8International Council of Nurses (CH). Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem versão 2011. [cited 2013 jan 24] available from: http://www.icn.ch/images/stories/documents/pillars/Practice/icnp/translations/icnp-Brazil-Portuguese_translation.pdf.
http://www.icn.ch/images/stories/documen...
); 5 - Distribuição dos termos de acordo com o Modelo de Sete Eixos da CIPE(r) 2011.

Para identificação e avaliação de documentação especializada, bem como para delimitação do campo temático da análise terminológica, realizou-se uma leitura do "Plano Integrado de Enfrentamento da Feminização da Epidemia da aids e outras DST" para identificar os termos considerados relevantes para a prática de enfermagem. O documento foi submetido a leituras para posterior coleta de termos. Os termos identificados foram analisados semanticamente, levando-se em consideração a problemática de mulheres idosas com HIV/aids, a revisão de literatura pertinente ao tema e os termos constantes na CIPE(r) 2011. Os termos foram decompostos em simples, como substantivos, verbos, advérbios e adjetivos, gerando uma lista de termos que foi submetida a um processo de normalização e uniformização com retirada de repetições, correção da grafia, análise de sinonímia e realização de adequações de gênero e número de termos.

A confirmação de utilização dos termos identificados para a prática de enfermagem se deu da seguinte forma: os termos identificados no documento foram incluídos num instrumento de coleta de dados, contendo um espaço para avaliação da sua utilização na prática de enfermagem, além de um espaço para comentários dos participantes do estudo. Esses termos foram submetidos à avaliação por um grupo de 15 enfermeiros/pesquisadores colaboradores que foram selecionados mediante alguns critérios estabelecidos para este estudo. Os critérios para seleção dos participantes foram: enfermeiros assistenciais da área de HIV/aids e/ou idosos; pesquisadores e/ou enfermeiros mestres e doutores da área de HIV/aids, idosos e/ou CIPE(r).

O instrumento de coleta de dados foi distribuído entre 15 participantes. Esse quantitativo de participantes foi determinado mediante o contato com a chefia dos departamentos de enfermagem da universidade, sendo identificados enfermeiros/pesquisadores em atendimento aos critérios estabelecidos neste estudo. Foram recebidos 10 instrumentos de coleta de dados com a avaliação dos termos.

Solicitou-se aos participantes que marcassem a concordância ou discordância quanto a utilização dos termos extraídos do documento para a construção de diagnósticos/resultados e intervenções de enfermagem para mulheres idosas com HIV/aids. Em seguida, calculou-se o Índice de Concordância (IC) entre eles para cada termo por meio da fórmula: IC = NC/ (NC+ND), em que NC = número de concordância e ND = número de discordância( 9Batista CG, Matos MA. O acordo entre observadores em situação de registro cursivo: definições e medidas. Psicologia, 1984;10(3):57-69. ). Consideraram-se úteis para a prática profissional os termos que alcançaram um índice de concordância IC ≥ 0.80 entre os enfermeiros/pesquisadores colaboradores.

Para realização da análise dos dados, utilizou-se a técnica do mapeamento cruzado que consistiu na comparação de informações entre os termos com IC ≥ 0.80 e os termos da CIPE(r) 2011. Para tanto, realizou-se a construção de um banco de dados no Word que foi transferido para planilhas do Excel for Windows para, em seguida, serem transferidas para o Access for Windows 2010. No Access, utilizaram-se duas planilhas do Excel para a realização do cruzamento de termos: o banco de dados construído com termos do estudo e a CIPE(r) 2011. Realizou-se um design de consulta, cruzando-se termos do banco de dados e termos da CIPE(r) 2011. Para se realizar essa consulta, configuram-se propriedades da junção, solicitando-se que todos os termos do banco de dados cruzassem com os termos constantes na CIPE(r) 2011. Como resultado desse cruzamento, obtiveram-se termos constantes e não constantes na CIPE(r) 2011 que foram distribuídos de acordo com o Modelo de Sete Eixos.

Este estudo está vinculado ao projeto de pesquisa "Vulnerabilidades individual, social e programática ao HIV/aids: articulando saberes, modificando fazeres" aprovado em Comitê de Ética sob nº 612/10. Ele foi realizado em consonância com as exigências da resolução 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde que foi revogada pela resolução 466/2012 a partir do dia 13 de junho de 2013( 1010 Ministério da Saúde (BR). Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012. Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Diário Oficial da União [da] República Federativa do Brasil. 2013 jun 13;150(112 Seção 1):59-62. ).

RESULTADOS

Identificaram-se 175 termos dos quais 106 são constantes e 69 não constantes nos eixos da CIPE(r) 2011, conforme apresentados na Figura 1.

Figura 1.
Frequência de termos constantes e não constantes na CIPE(r) 2011. João Pessoa, 2014.

Apresenta-se, na Figura 2, o banco de termos para a prática de enfermagem com mulheres idosas com HIV/aids distribuídos por eixo como constantes e não constantes na CIPE(r) 2011.

Figura 2.
Banco de termos para a prática de enfermagem com mulheres idosas com HIV/aids. João Pessoa, 2014.

DISCUSSÃO

Com base nos resultados, observou-se que a maior frequência de termos constantes na CIPE(r) 2011 encontra-se no eixo Foco, seguido do eixo Ação. Esse é um achado importante, visto que para a construção de diagnósticos e resultados de enfermagem, utilizam-se, necessariamente, termos dos eixos foco e julgamento sendo os termos dos demais eixos opcionais; e, para a construção de intervenções de enfermagem, utilizam-se, necessariamente, termos dos eixos ação e foco, sendo os termos dos demais eixos opcionais, com exceção do eixo julgamento que não deve ser utilizado na construção das intervenções( 1111 Garcia TR, Nóbrega MML. Processo de enfermagem: da teoria à prática assistencial e de pesquisa. Rev Esc Anna Nery. 2009;13(1):188-93. ).

O Modelo de Sete Eixos é destinado a facilitar a composição de enunciados, organizados em grupos significativos, de modo que se tenha acesso rápido a conjuntos de enunciados preestabelecidos de diagnósticos, intervenções e resultados de enfermagem que constituem os subconjuntos terminológicos da CIPE(r)(11).

Destacaram-se alguns termos constantes na CIPE(r) 2011 por serem mencionados na literatura referente ao envelhecimento, feminização e vulnerabilidades ao HIV/aids sendo, possivelmente, relevantes para a prática de enfermagem. No eixo foco, o termo "acesso ao tratamento" foi resultado do desmembramento da expressão "Promoção aos direitos de tratamento de DST/HIV/aids", da qual ainda se obteve o termo "direito do paciente". Entende-se que o acesso ao tratamento é um direito do paciente, sendo papel fundamental do enfermeiro promover ou favorecer que o indivíduo a ser cuidado disponha desse acesso através da prática de cuidar( 1212 Frugoli A, Magalhães Júnior CAO. A sexualidade na terceira idade na percepção de um grupo de idosas e indicações para a educação sexual. Arq Ciênc Saúde UNIPAR. 2011;15(1):85-93. ).

O termo "conhecimento em saúde" pode ser considerado um fator de vulnerabilidade individual à infecção pelo HIV. Achados importantes de estudos realizados com mulheres destacaram o desconhecimento sobre vias de transmissão e sobre formas de prevenção ao HIV como fator de vulnerabilidade mais importante para contaminação pelo vírus. Com idosas, a falta de informação e a baixa percepção de risco ao HIV estão evidenciadas pelos relatos de pouco conhecimento sobre a aids e não percepção da possibilidade de contrair a doença( 2Silva CM, Lopes FMVM, Vargens OMC. A vulnerabilidade da mulher idosa em relação à aids. Rev Gaúcha Enferm. 2010;31(3):450-7. ). Estudos apontam a baixa escolaridade entre mulheres idosas infectadas pelo HIV/aids, permitindo identificar uma falta de conhecimento sobre as formas de infecção e de prevenção de doenças sexualmente transmissível( 1313 Praça NS, Souza JO, Rodrigues DAL. Mulher no período pós-reprodutivo e HIV/aids: percepção e ações segundo o modelo de crenças em saúde. Texto Contexto Enferm. 2010;19(3):518-25.

14 Andrade HAS, Silva SK, Santos MIPO. Aids em idosos: vivência dos doentes. Esc Anna Nery. 2010;14(4):712-9.
- 1515 Garcia S, Souza FM. Vulnerabilidades ao HIV/aids no Contexto Brasileiro: iniquidades de gênero, raça e geração. Saúde Soc. 2010;19(2):9-20. ).

O termo "comportamento sexual" do eixo foco e o conceito diagnóstico "conhecimento sobre comportamento sexual" são relevantes para a prática profissional no que diz respeito à infecção pelo HIV/aids em mulheres idosas. Considerando o termo "conhecimento sobre comportamento sexual", observou-se que a soro positividade nos idosos expõe o que estaria escondido, dificultando o discurso acerca do exercício da sexualidade e da prevenção ao HIV, principalmente pela crença de que, com a chegada da velhice, os indivíduos tornam-se assexuados e, portanto, não houve risco de infecção pelo HIV. Acredita-se que essa visão errônea da sociedade e dos serviços de saúde pode comprometer a abordagem da sexualidade em idosos( 1212 Frugoli A, Magalhães Júnior CAO. A sexualidade na terceira idade na percepção de um grupo de idosas e indicações para a educação sexual. Arq Ciênc Saúde UNIPAR. 2011;15(1):85-93. ). Entende-se que há, entre idosos, a concepção de que a aids é uma doença de grupos de risco e o fato de os serviços de saúde ainda serem escassos, no que diz respeito à sexualidade na terceira idade e às doenças sexualmente transmissíveis, pode contribuir para uma visão de doenças de grupos específicos da população.

Em se tratando de envelhecimento e HIV/aids, o termo "discriminação", entendido como crença dificultadora: parcialidade ou preconceito para com um grupo com atributos comuns( 1010 Ministério da Saúde (BR). Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012. Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Diário Oficial da União [da] República Federativa do Brasil. 2013 jun 13;150(112 Seção 1):59-62. ), assume vital importância. Com relação às mulheres idosas, a sociedade tende a julgar quem deve ter ou não ter atividade sexual, tomando como ponto de referência a idade cronológica do indivíduo( 2Silva CM, Lopes FMVM, Vargens OMC. A vulnerabilidade da mulher idosa em relação à aids. Rev Gaúcha Enferm. 2010;31(3):450-7. , 1212 Frugoli A, Magalhães Júnior CAO. A sexualidade na terceira idade na percepção de um grupo de idosas e indicações para a educação sexual. Arq Ciênc Saúde UNIPAR. 2011;15(1):85-93. ). Observa-se o preconceito e a discriminação com a condição sorológica do indivíduo acometido pelo HIV, fazendo com que essas pessoas silenciem sobre sua condição de saúde para que suas relações não sejam afetadas. Contudo, a posição de anonimato possui lados negativos como, por exemplo, o fato da privação do acesso aos direitos sociais e de saúde a essas pessoas( 1616 Machiesqui SR, Padoin SMM, Paula CC, Ribeiro AC, Langendor FTF. Pessoas acima de 50 anos com aids: implicações para o dia-a-dia. Esc Anna Nery. 2010;14(4): 726-31. ).

A percepção sobre "medo" e "morte" no contexto do HIV/aids é comum entre idosos. Os termos medo e morte constituem fatores de vulnerabilidade social e estão intimamente relacionados ao fato de que idosos, frente ao HIV/aids, temem a morte imediata e alguns até associam a doença à morte próxima, deixando oculta a possibilidade de prevenção e tratamento da doença( 1717 Galvão MTG, Paiva SS. Vivências para o enfrentamento do HIV entre mulheres infectadas pelo vírus. Rev Bras Enferm. 2011;64(6):1022-7. ).

Os termos "Relação de gênero" e "Relação de poder" foram considerados sinônimos de "Papel de gênero" da CIPE(r) 2011, visto que a definição deste último consiste no papel do indivíduo em interagir de acordo com a identidade de pertencer a um ou outro sexo, interiorizando a expectativa mantida pelos indivíduos e pela sociedade aos comportamentos apropriados ou inapropriados de homens e mulheres expressarem estas expectativas sob a forma de comportamentos e valores. No contexto feminino, a relação assimétrica de gênero e poder destacam-se como fatores de vulnerabilidade ao HIV, onde as relações de gênero permeiam a percepção de risco e a decisão para a adoção de medidas preventivas para a transmissão sexual do HIV, sendo o homem o responsável pelo uso de medidas de prevenção às DST's. Assim, mulheres idosas aparecem com destaque no que se refere à vulnerabilidade ao HIV/aids, pois atribuem o risco de adoecimento pelo HIV/aids aos jovens, demonstrando baixa percepção de infecção pelo HIV, não se percebendo vulneráveis à infecção( 2Silva CM, Lopes FMVM, Vargens OMC. A vulnerabilidade da mulher idosa em relação à aids. Rev Gaúcha Enferm. 2010;31(3):450-7. ).

No eixo ação, a expressão "Estratégias de prevenção" substituída pelo termo "Prevenir", por se tratar de uma ação essencial na prática da enfermagem frente ao HIV/aids, pela qual estratégias de prevenção podem ser utilizadas nas práticas de saúde como uma das vertentes do ato de prevenir. Quanto à prevenção, a maioria das mulheres idosas sabe que o uso do preservativo impede a transmissão do HIV, mas não adotam medidas preventivas por questões culturais, vendo o preservativo como contraceptivo e não como meio preventivo de adquirir infecções. Uma provável explicação é que, como já estão no período pós-menopausa e sem risco de engravidar, acreditam que não necessitam de proteção, não insistindo com seu parceiro no uso do preservativo( 1212 Frugoli A, Magalhães Júnior CAO. A sexualidade na terceira idade na percepção de um grupo de idosas e indicações para a educação sexual. Arq Ciênc Saúde UNIPAR. 2011;15(1):85-93. ).

Destacaram-se alguns termos por não constarem na CIPE(r) 2011 apesar da sua importância no contexto da mulher idosa com HIV/aids. São eles: "acolhimento" e o "cuidado" que constituem focos da prática de enfermagem. No cuidado ao portador do HIV/aids, o acolhimento se constitui numa ação básica para um cuidado humanizado e digno, visando conhecer as necessidades de cada mulher idosa portadora do HIV/aids. Esses termos não foram identificados na CIPE(r) 2011, porém acredita-se na relevância de sua utilização para construção de intervenções de enfermagem direcionadas à mulher idosa com HIV/aids.

O termo "fator de vulnerabilidade" foi evidenciado em estudos sobre HIV/aids e a mulher idosa, considerando aspectos implícitos no contexto de vida dessa mulher. Alguns fatores são mencionados, na literatura, como condições que contribuem para a vulnerabilidade ao HIV/aids( 1818 Ayres JRCM. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D; Freitas CM, organizadores. Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Ed Fiocruz; 2009. p.117-39. ). No contexto da mulher idosa, alguns deles são: a confiança na relação estável como forma de prevenção( 2Silva CM, Lopes FMVM, Vargens OMC. A vulnerabilidade da mulher idosa em relação à aids. Rev Gaúcha Enferm. 2010;31(3):450-7. , 1919 Silva CM, Vargens OMC. A percepção de mulheres quanto à vulnerabilidade feminina para contrair DST/HIV. Rev Esc Enferm USP. 2009;43(2):401-6. - 2020 Rodrigues DAL, Praça NS. Mulheres com idade igual ou superior a 50 anos: ações preventivas da infecção pelo HIV. Rev Gaúcha Enferm. 2010;31(2):321-7. ); a relação de gênero como relação de poder, a dificuldade de negociação do uso do preservativo( 1919 Silva CM, Vargens OMC. A percepção de mulheres quanto à vulnerabilidade feminina para contrair DST/HIV. Rev Esc Enferm USP. 2009;43(2):401-6. ); a não percepção de susceptibilidade da mulher idosa ao HIV/aids; ideia equivocada de idoso assexuado( 1212 Frugoli A, Magalhães Júnior CAO. A sexualidade na terceira idade na percepção de um grupo de idosas e indicações para a educação sexual. Arq Ciênc Saúde UNIPAR. 2011;15(1):85-93. ); preconceito e estigma em relação à velhice( 1212 Frugoli A, Magalhães Júnior CAO. A sexualidade na terceira idade na percepção de um grupo de idosas e indicações para a educação sexual. Arq Ciênc Saúde UNIPAR. 2011;15(1):85-93. ); associação de vulnerabilidade a atos de promiscuidade( 2Silva CM, Lopes FMVM, Vargens OMC. A vulnerabilidade da mulher idosa em relação à aids. Rev Gaúcha Enferm. 2010;31(3):450-7. , 2020 Rodrigues DAL, Praça NS. Mulheres com idade igual ou superior a 50 anos: ações preventivas da infecção pelo HIV. Rev Gaúcha Enferm. 2010;31(2):321-7. ); e precária valorização da prevenção da infecção pelo HIV pelas mulheres na faixa etária de interesse( 2020 Rodrigues DAL, Praça NS. Mulheres com idade igual ou superior a 50 anos: ações preventivas da infecção pelo HIV. Rev Gaúcha Enferm. 2010;31(2):321-7. ). Assim, o termo "vulnerabilidade" se insere como um aspecto que pode ser considerado foco da prática de enfermagem para diagnosticar uma situação na qual a mulher encontre-se numa condição vulnerável à infecção pelo HIV.

Os termos do estudo tiveram sua importância evidenciada para construção de diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem para mulheres idosas com HIV/aids. Sendo a confirmação do significado e utilização de termos na prática profissional uma etapa indispensável ao desenvolvimento desse estudo. A construção de diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem acontecerá, posteriormente, visando o oferecimento de subsídios para a assistência de enfermagem prestada a mulher idosa com HIV/aids.

CONCLUSÕES

Em atendimento ao objetivo deste estudo, apresentou-se um banco de termos para a prática de enfermagem com mulheres idosas com HIV/aids. Este banco poderá ser utilizado para a construção de diagnósticos/resultados e intervenções de enfermagem para mulheres idosas com HIV/aids.

O banco foi constituído por 106 termos constantes e 69 não constantes na CIPE(r) 2011. Salienta-se, neste estudo, a importância da identificação de termos numa classificação internacional oriundos da realidade e confirmados quanto sua utilização na prática por profissionais atuantes na atenção à mulher idosa com HIV/aids. Esse fato demostra a possibilidade de utilização da CIPE(r) como ferramenta de subsídio à prática de enfermagem.

Neste estudo, uma das principais dificuldades foi o desenvolvimento da pesquisa a partir do documento "Plano Integrado de Enfrentamento da Feminização da Epidemia da aids e outras DST" por não ser específico para a mulher idosa e pouco considerar esse grupo etário no planejamento das ações de saúde. Esse fato dificultou a seleção de termos específicos para a mulher idosa, gerando o desafio de identificá-la, na sua especificidade, no contexto do enfrentamento do HIV/aids.

Assim, reflexões são necessárias acerca das formas de assistência de enfermagem à mulher idosa com HIV/aids mediante a mudança epidemiológica da doença frente ao envelhecimento e feminização da epidemia.

Acredita-se, portanto, na importância da construção de diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem para essas mulheres com base em um banco de termos construído com a participação de enfermeiros/pesquisadores colaboradores, tendo em vista que o profissional envolvido com a temática envelhecimento e HIV/aids tem visibilidade das necessidades de saúde da mulher idosa para prevenção da infecção e conhecimento das estratégias de cuidado necessárias para enfrentamento do HIV/aids.

REFERENCES

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2015

Histórico

  • Recebido
    28 Abr 2014
  • Aceito
    12 Fev 2015
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