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Percepções de acadêmicos e equipe de enfermagem sobre o projeto de extensão: “Caminhando pelo hospital”

RESUMO

Objetivo:

Conhecer a percepção de acadêmicos(as) e equipe de enfermagem sobre o projeto de extensão “Caminhando pelo hospital”.

Método:

Estudo qualitativo realizado em hospital universitário brasileiro de novembro/2019 a abril/2022 com acadêmicos e profissionais de enfermagem participantes de um projeto de extensão universitária. Os dados foram coletados por meio de instrumentos na plataforma Google Forms® e submetidos à Análise da Temática de Conteúdo. Projeto aprovado pelo Comitê de Ética.

Resultados:

Participaram do estudo 15 acadêmicos, quatro enfermeiros e seis técnicos de enfermagem. Da análise, emergiram quatro categorias: “Conhecendo o ambiente/dinâmica hospitalar”, “Articulação entre teoria e prática”, “Vínculo entre acadêmicos e profissionais da saúde” e “Processo de trabalho da unidade”.

Considerações finais:

Os achados evidenciam a importância da extensão universitária ao proporcionar conhecimentos e experiências da prática clínica hospitalar, o que pode contribuir no fortalecimento do ensino e da formação acadêmica em enfermagem.

Palavras-chave:
Hospitais universitários; Estudantes de enfermagem; Educação em enfermagem; Relações comunidade-instituição.

ABSTRACT

Objective:

To know the perception of academics and nursing staff about the extension project “Walking through the hospital”.

Method:

Qualitative study conducted in a Brazilian university hospital from November/2019 to April/2022 with nursing students and professionals participating in a university extension project. Data were collected using instruments on the Google Forms® platform and submitted to Content Thematic Analysis. The project was approved by the Ethics Committee.

Results:

Fifteen academics, four nurses and six nursing technicians participated in the study. Four categories emerged from the analysis: “Knowing the hospital environment/dynamics”, “Articulation between theory and practice”,“Bond between academics and health care professionals” and “Work process in the unit”.

Final considerations:

The findings highlight the importance of university extension in providing knowledge and experienceof hospital clinical practice, which can contribute to strengthening teaching and academic training in nursing.

Keywords:
Hospitals; university. Students; nursing. Education; nursing. Community-institution relations.

RESUMEN

Objetivo:

Conocer la percepción de los estudiantes y el personal de enfermería sobre el proyecto de extensión “Caminando por el hospital”.

Método:

Estudio cualitativo realizado en un hospital universitario brasileño de noviembre/2019 a abril/2022 con estudiantes y profesionales de enfermería participantes en un proyecto de extensión universitaria. Los datos se recogieron mediante instrumentos en la plataforma Google Forms® y se sometieron a un análisis temático de contenido. El proyecto fue aprobado por el comité de ética.

Resultados:

Participaron en el estudio 15 académicos, cuatro enfermeros y seis técnicos de enfermería. Del análisis surgieron cuatro categorías: “Conociendo el entorno/dinámica del hospital”, “Articulación entre la teoría y la práctica”, “Vínculo entre los estudiantes y los profesionales sanitarios” y “Proceso de trabajo en la unidad”.

Consideraciones finales:

Los resultados ponen de manifiesto la importancia de la extensión universitaria al proporcionar conocimientos y experiencias de la práctica clínica hospitalaria, que pueden contribuir al fortalecimiento de la enseñanza y la formación académica en enfermería.

Palabras clave:
Hospitales universitarios; Estudiantes de enfermería; Educación de enfermería; Relaciones comunidad-institución.

INTRODUÇÃO

A extensão universitária, enquanto processo educativo, possui uma trajetória política e legal de discussões e conquistas, sendo um marco importante sua integração ao tripé ensino, pesquisa e extensão, previstos na Constituição Brasileira de 1988 como indissociáveis para a atuação da universidade11. Steigleder LI, Zucchetti DT, Martins RL. Trajetória para curricularização da extensão universitária: contribuições do fórum nacional de extensão das universidades comunitárias-forext e a definição de diretrizes nacionais. Rev Bras Ext Universit. 2019;10(3):167-74. doi: https://doi.org/10.36661/2358-0399.2019v10i3.10916
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. Em 2001, foi determinado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), no âmbito da graduação em enfermagem, a necessidade de atividades teóricas e práticas desde as primeiras etapas da formação, as quais foram instituídas por meio do Conselho Nacional de Educação e reforçadas pelo Plano Nacional de Educação (PNE)22. Ministério da Educação (BR). Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Resolução nº 3, de 7 de novembro de 2001. Institui diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em enfermagem. Diário Oficial União. 2001 nov 9 [cited 2022 Apr 28];135(215 Seção 1):37-8. Available from: https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=09/11/2001&jornal=1&pagina=37&totalArquivos=160
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. Este plano estabelece metas e estratégias que envolvem a educação no contexto brasileiro para o período de 2014-2024, dentre as quais se destaca a extensão universitária ocupando 10% dos créditos curriculares com ações, preferencialmente, desenvolvidas em áreas de relevância social33. Presidência da República (BR). Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras providências. Diário Oficial União. 2014 jun 26 [cited 2022 Apr 30];151(120-A Seção 1):1-7. Available from: https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=26/06/2014&jornal=1000&pagina=1&totalArquivos=8
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. A efetiva implementação dessa meta encontra obstáculos desafiadores, pois precisa romper a arcaica concepção de que o conhecimento de valor é produzido apenas no território universitário44. Deus SFB. The extension and the future of the university. Espaç Pedagóg. 2018;25(3):624-33. doi: http://doi.org/10.5335/rep.v25i3.8567
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. No entanto, a instituição campo deste estudo já possui uma resolução que dispõe das normas gerais para a inserção curricular da extensão universitária nos projetos pedagógicos e nos currículos dos cursos de graduação na área da saúde55. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão. Resolução nº 029, de 15 de dezembro de 2021. Dispõe sobre as normas gerais para a inserção curricular da extensão universitária nos Projetos Pedagógicos e nos currículos dos cursos de Graduação da UFRGS. Porto Alegre: UFRGS; 2021 [cited 2022 Apr 30]. Available from: https://www.ufrgs.br/cepe/wp-content/uploads/2022/06/Res-029-Insercao-atividades-extensao-nos-curriculos-de-graduacao.pdf
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.

Para oportunizar uma aprendizagem significativa e cumprir plenamente seu papel social, os cursos de enfermagem devem articular teoria e prática, promover o diálogo e diferentes vivências da realidade. Para tanto, precisam buscar novas metodologias de ensino a fim de contemplar a legislação vigente. Ao equilibrar as três esferas - ensino, pesquisa e extensão -, a universidade possibilita a interação entre a sociedade e a realidade na qual está inserida e aperfeiçoa a compreensão de mundo do indivíduo em formação, proporcionando conhecimentos e experiências aos acadêmicos, o que fortalece o ensino e a pesquisa, função fundamental das universidades11. Steigleder LI, Zucchetti DT, Martins RL. Trajetória para curricularização da extensão universitária: contribuições do fórum nacional de extensão das universidades comunitárias-forext e a definição de diretrizes nacionais. Rev Bras Ext Universit. 2019;10(3):167-74. doi: https://doi.org/10.36661/2358-0399.2019v10i3.10916
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,66. Figueiredo MO, Batistão R, Silva CR, Martinez CMS, Roiz RG.University outreach in occupational therapy:scoping review in Brazilian literature. CadBras Ter Ocup. 2022;30:e2908. doi: https://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAR21972908
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O atual Projeto Pedagógico do Curso de Graduação em Enfermagem77. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Escola de Enfermagem. Comissão de Graduação de Enfermagem. Projeto pedagógico do curso de Enfermagem [Internet]. Porto Alegre: UFRGS ; 2013 [cited 2022 Apr 30]. Available from: https://www.ufrgs.br/comgradenf/wp-content/uploads/2022/12/PROJETO-PEDAGOGICO-CURSO-ENFERMAGEM-UFRGS.pdf
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da instituição de ensino em estudo proporciona aos graduandos o contato direto com as práticas hospitalares a partir da quarta etapa, momento em que completaram a base teórica básica para desenvolver atividades assistenciais em instituições de saúde. Sendo assim, os acadêmicos dos semestres iniciais acabam tendo pouco ou nenhum contato com a realidade profissional, criando lacunas no conhecimento, as quais podem ser preenchidas por atividades complementares oferecidas pela universidade.

Dentre as diversas atividades ofertadas aos acadêmicos, destaca-se o projeto de extensão universitária intitulado "Caminhando pelo hospital". Esse consiste em uma atividade observacional centralizada no Serviço de Radiologia de um hospital escola que visa oportunizar o contato com a prática hospitalar - em especial com a transferência temporária do cuidado de pacientes88. Hemesath MP, Kovalski AV, Echer IC, Lucena AF, Rosa NG.Effective communication on temporary transfers of inpatient care. Rev Gaúcha Enferm. 2019;40(spe):e20180325. doi: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2019.20180325
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) - para que os estudantes vivenciem a realidade de uma instituição de saúde ainda nos períodos mais iniciais de sua formação. Esta iniciativa permite aos discentes uma visão ampla acerca do trabalho do enfermeiro em um hospital de alta complexidade, visto que possibilita o contato direto com as mais diversas áreas de atuação, contribuindo para a formação de profissionais generalistas.

Esse projeto de extensão está integrado aos preceitos do Programa de Integração Docente-Assistencial, um dos recursos utilizados pelo governo federal para somar esforços em um processo de articulação entre instituições de educação e de serviços de saúde, adequando-se às necessidades reais da população99. Mendes TMC, Ferreira TLS, Carvalho YM, Silva LG, Souza CMCL, Andrade FB. Contributions and challenges of teaching-service-community integration. Texto Contexto Enferm. 2020;29:e20180333. doi: https://doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-2018-0333
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. Dessa forma, aproximar o ensino dos serviços de saúde apresenta-se como uma proposta viável de planejamento de saúde e educação para modificar práticas profissionais e modelos de atenção e qualificar os serviços de saúde conforme as demandas da comunidade.

Assim, estudos com esta temática configuram-se como pertinentes para a qualificação da Curricularização da Extensão Universitária em âmbito da Enfermagem uma vez que há uma carência de estudos que busquem compreender o cenário vivenciado pelos acadêmicos e equipe profissional institucional envolvidos nestas atividades. Além disso, havia tanto interesse acadêmico quanto institucional para conhecer as percepções dos envolvidos sobre o projeto, por tratar-se de uma experiência inovadora. Nesta perspectiva, esse estudo se propôs a responder a seguinte questão de pesquisa:Qual é a percepção de acadêmicos e da equipe de enfermagem sobre o projeto “Caminhando pelo hospital?”, tendo como objetivo conhecer a percepção de acadêmicos(as) e equipe de enfermagem sobre o projeto de extensão “Caminhando pelo hospital”.

MÉTODO

A descrição da pesquisa foi norteada pela ferramenta Consolidated Criteria for Reporting Qualitative Research (COREQ)1010. Souza VRS, Marziale MHP, Silva GTR, Nascimento PL. Translation and validation into Brazilian Portuguese and assessment of the COREQ checklist. Acta Paul Enferm. 2021;34:eAPE02631. doi: https://doi.org/10.37689/acta-ape/2021AO02631
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. Trata-se de um estudo qualitativo, de caráter exploratório e descritivo, que tem como objetivo pensar e produzir teoria sobre a problemática estudada ou compreender e explicar processos culturais e históricos inter-relacionados de forma dinâmica na constituição e desenvolvimento do indivíduo e da sociedade1111. Peres VLA.Qualitative research and subjectivity: the construction of information processes. Rev Bras Psicodrama. 2019 [cited 2020 May 03];27(1):132-5. Available from: https://www.revbraspsicodrama.org.br/rbp/article/view/40/48
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.

O estudo foi desenvolvido junto a um hospital universitário de grande porte do sul do Brasil - voltado à assistência, ensino, extensão, pesquisa e inovação - que atende, majoritariamente, pacientes do Sistema Único de Saúde. Este projeto está centralizado no Serviço de Radiologia do hospital, campo deste estudo onde são realizados, anualmente, cerca de 46 mil transportes de pacientes entre a unidade de procedimentos diagnóstico-terapêuticos e as unidades em que os pacientes estão internados.

O objeto desta pesquisa consistiu em um projeto de extensão universitária que é oferecido aos estudantes de graduação do curso de enfermagem de uma universidade pública do sul do país desde o segundo semestre de 2017. Seu caráter é não obrigatório e a participação do acadêmico dependente de seu interesse e iniciativa.

Semestralmente, são oferecidas 15 vagas a serem preenchidas pelos discentes. A carga horária semanal é de dez horas; para obtenção do certificado, é necessário totalizar o mínimo de 120 horas ao longo do semestre. Para fazer parte do projeto, o acadêmico inicialmente participa de uma entrevista de seleção, quando é orientado sobre as suas características e funcionamento (dinâmica, uniforme, equipamento de proteção individual, horários, possibilidades). Posteriormente, é necessário realizar capacitações em ensino à distância sobre boas práticas hospitalares, além do curso de código de conduta: ambos disponibilizados em Ambiente Virtual de Aprendizagem da instituição hospitalar.

Ao ingressar na atividade, o acadêmico é apresentado ao setor e a profissionais que compõem a equipe multidisciplinar e convidado a participar de reunião com equipe de enfermagem do Serviço de Radiologia, a qual conta com seis enfermeiros, sessenta e quatro técnicos de enfermagem e um professor universitário, responsável pelo projeto. O serviço em questão fornece tecnologias complexas do cuidado e atende diversas unidades e leitos, sendo responsável pela transferência do cuidado de crianças e adultos, internados e de nível ambulatorial, para a realização de exames de imagem de todo o hospital. Os acadêmicos são distribuídos entre os turnos da manhã e da tarde - nos diferentes dias da semana - de acordo com suas disponibilidades e matriz curricular do curso para não interferir no desenvolvimento de suas atividades acadêmicas regulares. Inicialmente, eles ficam vinculados a funcionários específicos visando à integração no setor; posteriormente, são alocados conforme sua curiosidade e necessidades da unidade.

Neste projeto, os acadêmicos têm a oportunidade de participar da transferência temporária do cuidado, que consiste no redirecionamento da responsabilidade da assistência aos pacientes88. Hemesath MP, Kovalski AV, Echer IC, Lucena AF, Rosa NG.Effective communication on temporary transfers of inpatient care. Rev Gaúcha Enferm. 2019;40(spe):e20180325. doi: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2019.20180325
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,1212. Alves M, Melo CL. Handoff of care in the perspective of the nursing professionals ofan emergency unit. Rev Min Enferm. 2019 [cited 2020 Sep 10];23:e-1194. Available from: http://www.revenf.bvs.br/pdf/reme/v23/en_1415-2762-reme-23-e1194.pdf
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. Na instituição em estudo, foram implantados formulários que sumarizam as informações relevantes do paciente para a realização dessa atividade, sendo essa uma ferramenta importante de segurança para o paciente/equipe assistencial durante o transporte e a permanência do paciente no setor de procedimentos e diagnósticos88. Hemesath MP, Kovalski AV, Echer IC, Lucena AF, Rosa NG.Effective communication on temporary transfers of inpatient care. Rev Gaúcha Enferm. 2019;40(spe):e20180325. doi: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2019.20180325
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Os estudantes que participam desse projeto podem experienciar - na prática - o preenchimento e a real utilização deste instrumento tão importante para o cuidado continuado dos pacientes dentro dos diversos setores da instituição. Os cuidados desenvolvidos pela equipe de enfermagem - infusões venosas, acessos vasculares, sondas, drenos e curativos, mobilização do paciente da cama para a maca ou cadeira, assim como a utilização de equipamento de proteção individual - também são atividades que podem ser observadas na prática pelos acadêmicos. Ainda, há possibilidade de acompanhar os técnicos de radiologia e equipe médica na execução de exames diagnósticos, os enfermeiros em procedimentos e nas consultas de enfermagem, além da oportunidade de desenvolver habilidades de comunicação por meio do diálogo com os pacientes e equipe assistencial, tornando a experiência ainda mais enriquecedora.

Durante o período da extensão, os acadêmicos ficam alocados em uma sala destinada para a organização das transferências dos pacientes junto com a equipe de enfermagem e administrativa da unidade de radiologia; conforme as atividades ocorrem, os acadêmicos acompanham os funcionários no deslocamento dos pacientes. A equipe da radiologia é orientada pelo coordenador do projeto a acolher e explicar todos os cuidados e procedimentos realizados com os pacientes, rotineiramente, a fim de contribuir para a formação dos estudantes. De igual forma, esses também são orientados a questionar sempre que observarem algo diferente ou desconhecido. Essa estratégia visa tornar a atividade importante para os profissionais e atrativa e formativa para os acadêmicos.

A composição dos participantes deste estudo se deu por acadêmicos de enfermagem da instituição de ensino que participaram do projeto de extensão, nos anos de 2017 a 2020, e membros das equipes de enfermagem do Serviço de Radiologia que conviveram com os extensionistas durante as atividades. A amostra foi de conveniência e - como critérios de inclusão - considerou-se a participação de estudantes que realizaram uma carga horária igual ou maior do que 120 horas e profissionais do turno diurno que acompanharam os participantes do projeto por pelo menos um semestre. Não foram previstos critérios de exclusão.

A coleta de informações foi realizada por um grupo de pesquisadoras que incluía uma professora, uma mestranda, uma estudante de graduação e três de iniciação científica. Antes da coleta dos dados, todas foram capacitadas pela pesquisadora responsável do projeto, e os instrumentos testados e ajustados após teste piloto com dois profissionais da saúde e dois acadêmicos. As pesquisadoras tinham contato com os discentes e profissionais e circulavam pela unidade com o papel de acolher e resolver situações envolvendo os extensionistas durante as atividades.

Visando manter o anonimato dos participantes, o convite foi enviado a todos os profissionais de enfermagem do turno diurno - (cinco enfermeiros e 42 técnicos de enfermagem) do setor de radiologia. No entanto, no e-mail do convite, havia a informação de que deveriam preencher o questionário somente os profissionais que haviam acompanhado os estudantes por - no mínimo - um semestre durante as atividades no período de estudo. Essa estratégia foi utilizada por não haver registro, ao longo do projeto, dos profissionais que efetivamente acompanharam os alunos. Tal circunstância se justifica pelo dinamismo das atividades e inserção dos acadêmicos na equipe conforme necessidade do serviço e interesse dos acadêmicos. Quanto aos participantes, foram-lhes explicadas as motivações para o desenvolvimento da pesquisa e a forma como iria acontecer a coleta de dados, seguido de um convite para que participassem do estudo.

A coleta ocorreu durante o período de novembro de 2019 a abril de 2022, por meio de instrumentos distintos (profissionais e acadêmicos) disponibilizados -on-line -na plataforma Google Forms®, enviado por e-mail. Foram convidados a participar do estudo 55 acadêmicos e 47 profissionais de enfermagem, incluindo cinco enfermeiros e 42 técnicos de enfermagem. Os instrumentos foram elaborados pelas pesquisadoras e continham variáveis para caracterização dos estudantes (sexo, idade, carga horária realizada, etapa atual do curso de graduação, etapa que cursava durante a atividade), dos profissionais (idade, sexo, categoria profissional, tempo de atuação na profissão, tempo de atuação no Serviço de Radiologia e o tempo de acompanhamento do projeto) e questões dissertativas relacionadas às experiências e percepções vivenciadas durante a realização do projeto para ambos os grupos. O tempo previsto de preenchimento do instrumento foi de dez minutos.

As informações foram submetidas à Análise Temática de Conteúdo, que consiste em um conjunto de técnicas analíticas de comunicação e envolvem a pré-análise, a exploração do material e o tratamento de resultados - inferência e interpretação. A análise utilizou procedimentos sistemáticos e objetivos para a descrição do conteúdo das mensagens, inferindo conhecimentos relativos às condições do objeto do estudo a partir da fusão entre as características do texto e os fatores logicamente deduzidos, os quais são determinados pelo uso de indicadores1313. Bardin L. Análise de conteúdo. 7. ed. São Paulo: Edições 70; 2011.. Após essa etapa, os depoimentos foram editados e condensados para manter a clareza do texto.

Este estudo atendeu à Resolução 466/2012 e 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde, e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição, sob Parecer de nº 3.8063. Os instrumentos foram respondidos - via Google Forms ®, de forma anônima - para assegurar a ausência de constrangimento. Ao respondê-lo, os participantes consentiram com a utilização dos dados para a pesquisa. Para fins de distinção, os participantes foram referenciados nos depoimentos por códigos compostos por letras que diferenciam acadêmicos (A), técnicos de enfermagem (TE) e enfermeiros (E), acompanhados de um número arábico.

RESULTADOS

Participaram do estudo 15 acadêmicos, quatro enfermeiros e seis técnicos de enfermagem. Entre os acadêmicos, todos eram do sexo feminino, e a média de idade foi de 21 ±2,3 anos de idade. Referente à participação, 12 (80%) completaram 120 horas e três (20%) tiveram uma carga horária além do mínimo estipulado. A maioria dos estudantes entrevistados participou do projeto antes de iniciar as atividades regulares de prática disciplinar (quarta etapa do curso), visto que 14 (93,3%) estavam na primeira, segunda ou terceira etapa do curso. Para o mesmo quantitativo (93,3%), o projeto foi o primeiro contato que tiveram com o ambiente hospitalar. Estes acadêmicos puderam acompanhar cerca de 1.800 (4%) transportes de pacientes entre o Serviço de Radiologia e suas unidades de origem, representando 150 participações/mês.

Em relação aos profissionais, nove (90%) eram do sexo feminino e um (10%) do sexo masculino. A média de idade dos profissionais foi de 43 ±7,6 anos de idade e do tempo de profissão exercido em 20 anos. O tempo de atuação no Serviço de Radiologia variou entre quatro e 18 anos. Sete (46,6%) profissionais acompanharam os acadêmicos do projeto por seis semestres; três (28,6%), por quatro semestres.

A análise qualitativa das entrevistas resultou em indicadores que foram agrupados em quatro categorias: “Conhecendo ambiente/dinâmica hospitalar”, “Articulação entre teoria e prática”, “Vínculo entre acadêmicos e profissionais da saúde” e “Processo de trabalho da unidade”. Foram utilizados títulos que melhor expressassem o conteúdo revelado pelos participantes quanto à percepção da atividade de extensão universitária. As categorias estão descritas a seguir:

Conhecendo o ambiente/dinâmica hospitalar

Essa categoria corresponde às impressões dos participantes durante a familiarização dos acadêmicos com o ambiente e dinâmica hospitalar onde ocorrem as atividades do projeto de extensão, evidenciadas pelas falas:

Foi muito importante ter esse primeiro contato com o ambiente, e a dinâmica do hospital, possibilitou conhecer diversas unidades e ver a transferência do cuidado na prática [...]. (A11)

Conheci principalmente, os papéis dos enfermeiros e técnicos de enfermagem. Pude observar de perto como ocorre a transferência do paciente [...] que cuidados devem ser tomados, a comunicação com o paciente, a identificação correta, a checagem do procedimento realizado no prontuário [...]. (A2)

É um espaço onde nós, estudantes, podemos aprender tanto com relatos e conversas quanto com a observação da prática assistencial, sempre com todos os profissionais dispostos a esclarecer nossas dúvidas. (A3)

[...] Foi meu primeiro contato com o papel do enfermeiro na assistência hospitalar, podendo aprofundar meu conhecimento [...], assim como observar as atividades exercidas pelos técnicos de enfermagem e demais profissionais. (A8)

Íamos em diversas áreas do hospital [...] conheci particularidade de cada área, posto de enfermagem e como funcionava. Os técnicos de enfermagem explicavam sobre o paciente, os exames, os equipamentos terapêuticos que muitas vezes estavam utilizando, sobre a importância de checar a pulseira do paciente e ter empatia. (A10)

Aprendi muito sobre rotinas, contato com o paciente e a equipe. Essa experiência foi muito importante porque ao chegar no 4º semestre [...] já tinha um breve conhecimento. (A9)

Foi uma experiência incrível onde pude conhecer o hospital, rotinas, a importância da transferência do cuidado [...] a transferência do cuidado com dispositivos (sondas, cateteres, bombas de infusão, oxigenoterapia...), o que é um GMR, precauções [...]. (A14)

Participar da formação de alunos nas fases iniciais nos engrandece e nos une, me sinto importante. (TE1)

Conviver com alunos nesta etapa é muito gratificante. (E2)

Mostrar o hospital e nossas responsabilidades enquanto enfermeiras para quem está iniciando foi uma experiência interessante e motivadora. (E4)

Também, aparece nos depoimentos a importância dessa extensão para que os acadêmicos possam conhecer melhor o curso que escolheram e o trabalho do enfermeiro:

[...] ter a oportunidade de conhecer um pouco da rotina hospitalar ainda no início do curso fez com que eu tivesse certeza do curso que escolhi. Acho importante esse contato inicial com a realidade da área. (A13)

Pude entender como realmente funciona a rotina da equipe de enfermagem dentro de um hospital. Esse primeiro contato tirou algumas dúvidas que eu tinha em relação ao curso e ao ambiente hospitalar, esclarecendo se esse é o caminho que eu pretendo seguir. (A7)

Pude ter meu primeiro contato com os pacientes e o hospital, conhecer melhor cada cantinho e saber se era realmente a enfermagem que eu queria cursar e isso foi fundamental. (A13)

Articulação entre teoria e prática

A extensão universitária pode ser compreendida como uma estratégia de promoção da saúde na medida em que produz conhecimento dentro do contexto e cotidiano social a partir de vivências da prática profissional. Neste sentido, os depoimentos demonstram a potencialidade da extensão universitária de realizar a articulação entre teoria e prática:

Observei diversas coisas que não fazia ideia de como funcionavam. O projeto me proporcionou um aprendizado de questões práticas para entender melhor as aulas teóricas. (A2)

Ver de perto e ao vivo a parte prática exercida e explicada pelos profissionais foi fundamental para o meu aprendizado [...] O básico e essencial para o cuidado começou com o projeto. (A15)

Observar os procedimentos foi muito interessante para entendermos melhor a teoria. (A5)

O projeto deu mais sentido às aulas do curso, pois não fazia ideia de como realmente era a prática profissional do enfermeiro em um hospital. (A6)

Com os profissionais, aprendi várias técnicas, cuidados e bases que serviram muito para a minha formação, foi edificante. (A8)

Foi uma oportunidade excelente para aprender, visualizar o cuidado, o relacionamento com os pacientes, com a equipe multiprofissional, saber o que é de responsabilidade da equipe de enfermagem em especial dos enfermeiros, isso tudo de forma vivida. (A14)

Acompanhei diversos exames [...], pois é apenas na prática que conseguimos visualizar algumas situações difíceis. E consegui entender como lidar com diversos casos específicos! (A15)

Explicar o que fazemos e porquê de determinados cuidados para os alunos foi importante, pois uma coisa é a teoria e outra é o nosso cotidiano. (TE6)

[...] Estimulamos a busca de conhecimento para cada patologia, cateter, dispositivo e ainda transportamos, juntas, os pacientes. (TE2)

Ensinar quem está iniciando na profissão e que ainda não conhece o que compete ao enfermeiro foi uma experiência diferente e interessante. Foi bom ver o brilho nos olhos dos alunos e associar a teoria com a prática. (E3)

Vínculo entre acadêmicos e profissionais da saúde

Esta categoria aborda o significado do relacionamento interpessoal, traduzido pela oportunidade oferecida aos acadêmicos de trocar saberes com profissionais de diferentes áreas e pacientes em contextos distintos. A relação dos profissionais com os acadêmicos contribuiu para o processo de aprendizado e foram verbalizadas nos depoimentos:

Tive a oportunidade de entrar em contato com diferentes profissões como enfermeiros, auxiliares e técnicos em enfermagem, técnicos em radiologia, médicos [...] ouvi muitas histórias de vida de pacientes e suas realidades. (A6)

No início, não sabia como agir em determinadas situações e ficava com vergonha de perguntar, mas isso foi mudando com o tempo, pois percebi que tinha liberdade para expor minhas dúvidas com a tranquilidade que seriam devidamente respondidas [...] os profissionais me passaram todo o seu conhecimento com muita paciência e empatia. (A8)

Eu sempre me senti muito bem acolhida pela equipe, os técnicos de enfermagem foram muito importantes nesse processo, mostravam tudo, ensinavam sobre os processos no hospital e os procedimentos realizados na unidade. (A9)

Minha experiência no projeto foi ótima, a equipe da radiologia é muito receptiva e acolhedora com os alunos. (A11)

A equipe foi bem acolhedora. (A12)

A equipe sempre nos tratou com muito carinho e nos acolheu, a maior parte da equipe estava sempre disposta a sanar nossas dúvidas e nos ensinar. (A13)

Minha relação com os alunos participantes do projeto foi amistosa, amorosa e colaborativa. (TE2)

Nós proporcionamos a observação de cuidados e fornecemos orientações sobre a assistência ao paciente. (E2)

Eu sempre estou disponível para sanar dúvidas e fornecer orientações. (E3)

Sempre que possível, tento passar algum conhecimento ou rotina da unidade a eles. (E4)

Os acadêmicos recordam, em suas falas, os vínculos estabelecidos. Alguns, no entanto, relataram que a equipe da radiologia precisa estar mais bem preparada para recebê-los, uma vez que ser bem acolhido e inserido no contexto do trabalho dos profissionais é fundamental para o seu aprendizado.

Eu me dei bem com a equipe [...] Alguns demonstram mais interesse em querer nos ajudar e nos instruir do que outros. (A7

A radiologia é um ambiente muito bom de se trabalhar, a equipe é bem acolhedora: alguns profissionais não eram muito abertos (como há em todas as áreas) outros eu encontro no hospital e até hoje converso com eles! (A15)

Conforme os depoimentos, a extensão universitária proporciona um espaço de reflexão acerca das diferentes realidades em que o estudante vive, para que o mesmo não seja apenas um executor de procedimentos, mas questione, pesquise, planeje, avalie e reflita sobre seus atos enquanto profissional da saúde.

[...] me ensinaram muito [...] às vezes eu perguntava algo e eles não sabiam, mas sempre procuravam as respostas. (A1)

Os profissionais do hospital são muito receptivos e nos ensinam muito durante esse período. (A3)

Todas as vezes que elas perguntam sobre algo a respeito do trabalho, tento explicar como funciona no hospital. (TE4)

Geralmente lemos juntos os dados clínicos de cada pedido de exame do paciente que somos responsáveis em buscar, esclarecendo antes quais os cuidados específicos. Diante do paciente, a abordagem sempre é feita de forma respeitosa e acolhedora. O cuidado, o carinho, a segurança são essenciais, e cada paciente é único [...] ao longo dos anos adquirimos um amplo olhar diante das necessidades de cada paciente e o passamos naturalmente para os alunos do projeto, pois para muitos, esse é o primeiro contato à beira do leito. (TE2)

Busco estabelecer uma relação amistosa para que os acadêmicos fiquem à vontade para perguntar, formamos uma grande equipe e eles nos ajudam muito. (E1)

Processo de trabalho na unidade

Em seus depoimentos, os profissionais reconheceram o impacto positivo da participação dos extensionistas em atividades exercidas da unidade, principalmente na transferência temporária do cuidado de pacientes entre unidades.

A presença dos alunos diminui o tempo de espera para a transferência de cuidado dos pacientes, eles nos ajudam. (E1)

O projeto contribui para o processo de trabalho, porque os alunos auxiliam nos transportes de pacientes, principalmente de maca e cama [...] acho que o projeto poderia ser mais divulgado aos alunos de semestres mais avançados [...]. (E2)

De igual forma, os acadêmicos consideram suas experiências proveitosas:

O projeto teve muito impacto na minha vida acadêmica, foi meu primeiro contato com uma equipe de trabalho, suas demandas, dimensionamento de pessoal e contato com paciente [...] me preparou para o primeiro estágio obrigatório. (A10)

A atividade consiste em buscar os pacientes nos andares para realização do RX, tive acesso aos resultados dos exames enquanto estavam sendo feitos, contato com os pacientes, contato com as equipes e o processo de trabalho dos profissionais. (A12)

Aprendi o significado de cada exame, suas interpretações, o que cada paciente tinha, dispositivos utilizados, condição de saúde e atividades desempenhadas pelos enfermeiros. (A13)

As atividades são dinâmicas, envolviam buscar e levar pacientes da radiologia para as mais diversas áreas do hospital [...]a transferência do cuidado dos pacientes aos técnicos da radiologia, a transferência dos pacientes do leito para maca ou cadeira de rodas, e em meio a isso sempre está a relação com a equipe. Tenho eterna gratidão, admiração e respeito pela equipe da radiologia que me acolheu e me incluiu na equipe, me ensinou com paciência, dedicação e pude desenvolver uma amizade muito bacana [...] avalio como uma oportunidade extraordinária, recomendo que todos os alunos façam, o crescimento pessoal e profissional que esse projeto proporciona é indiscutível! (A14)

DISCUSSÃO

A análise dos depoimentos reafirma a efetividade do projeto em proporcionar a familiarização dos acadêmicos com a dinâmica hospitalar, já que oportuniza a construção de conhecimentos advindos da prática laboral do enfermeiro nos mais diversos cenários na atenção terciária. A atividade possibilitou que os estudantes compreendessem o funcionamento e organização da instituição ao conhecer as atribuições dos enfermeiros e técnicos de enfermagem, e observar suas relações com os pacientes e os demais profissionais que atuam em uma instituição de saúde. Essa percepção dos acadêmicos é corroborada por estudo1414. Paula DPS, Gonçalves MD, Rodrigues MGJ, Pereira RS, Fonseca JRO, Machado AS, et al. Integração do ensino, pesquisa e extensão universitária na formação acadêmica: percepção do discente de enfermagem. REAS. 2019;(33):e549. doi: https://doi.org/10.25248/reas.e549.2019
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que aponta a extensão como facilitadora para aquisição de conhecimentos sobre o seu futuro campo de atuação e do mercado profissional, além do desenvolvimento de habilidades pautadas em situações reais vivenciadas durante o contato com a prática clínica.

A atividade de extensão universitária - embora seja majoritariamente observacional - permite que os acadêmicos participem de diversas atividades. Dentre essas, destacam-se aquelas relacionadas à segurança do paciente durante a transferência temporária do cuidado para a Radiologia, também às relacionadas à higienização de mãos, à identificação e aos registros de enfermagem.

A participação na atividade de extensão possibilitou a articulação entre teoria e prática, pois, segundo os depoimentos, houve translação dos conhecimentos teóricos aprendidos nas aulas com a práxis da realidade profissional. Todos os participantes referiram - em suas declarações - maior facilidade para absorver o aprendizado em sala de aula após a participação na atividade. Nos relatos dos acadêmicos, é possível identificar o potencial da extensão em torná-los mais preparados para iniciarem sua atuação nos estágios assistenciais posteriores; as práticas reais desde os períodos iniciais do curso de graduação em enfermagem fortalecem o ensino e permitem uma experiência significativa.

Dessa forma, a extensão funciona como uma ferramenta viável para aprimorar a integralidade da assistência à saúde em seus diferentes níveis de atenção devido à sua potência em unir o conhecimento técnico-científico e o popular que auxilia na promoção da saúde por meio de práticas educativas com saberes adequados ao contexto social1515. Santana RR, Santana CCAP, Costa Neto SB, Oliveira EC. University extension program as an educational practice for health promotion. Educ Real. 2021;46(2):e98702. doi: https://doi.org/10.1590/2175-623698702
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. É evidente a importância das interações humanas no processo de aprendizado; no entanto, nos cursos da área da saúde, trata-se muito da teoria orientando a prática, mas não da prática suscitando e validando a teoria1616. Ayres JRCM. Extensão universitária: aprender fazendo, fazer aprendendo. Rev Med. 2015;94(2):75-80. doi: https://doi.org/10.11606/issn.1679-9836.v94i2p75-80
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. Estudo aponta que as atividades de extensão universitária têm se mostrado como uma via de articulação das práticas acadêmicas com as demandas sociais que, por meio de uma relação dialógica entre universidade e sociedade, contribui para a democratização do saber acadêmico e assistência à comunidade66. Figueiredo MO, Batistão R, Silva CR, Martinez CMS, Roiz RG.University outreach in occupational therapy:scoping review in Brazilian literature. CadBras Ter Ocup. 2022;30:e2908. doi: https://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAR21972908
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Neste contexto, fica evidente a dimensão pedagógica que contribui para o aprendizado e a formação dos estudantes universitários. A participação em tais atividades possibilita maior engajamento social e a qualificação dos acadêmicos, uma vez que tem papel de fomentar conhecimentos e o desenvolvimento de habilidades durante sua interação com a sociedade. No decorrer da atividade, os extensionistas foram constantemente incentivados a atender às demandas sociais por meio das práticas de cuidado humanizado. A imersão na prática assistencial possibilita um pensamento crítico-reflexivo dos acadêmicos, possibilitando estabelecer ligações com os conteúdos teóricos e as práticas de cuidado de enfermagem desenvolvidas nos mais diversos cenários de atuação do enfermeiro. Dessa forma, os estudantes se sentem mais seguros para a execução dos estágios e - consequentemente - para o futuro exercício profissional.

É notória, nos depoimentos, a importância dada aos vínculos entre acadêmicos e profissionais da saúde, estabelecidos em um ambiente acolhedor, no qual os profissionais do campo são capazes de sanar dúvidas e manter um bom relacionamento com os estudantes. Isso é essencial para a construção de um ambiente educativo, proporcionando um melhor aproveitamento da atividade e facilitando o aprendizado1414. Paula DPS, Gonçalves MD, Rodrigues MGJ, Pereira RS, Fonseca JRO, Machado AS, et al. Integração do ensino, pesquisa e extensão universitária na formação acadêmica: percepção do discente de enfermagem. REAS. 2019;(33):e549. doi: https://doi.org/10.25248/reas.e549.2019
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No processo de formação discente, essas relações implicam que o profissional em contato com o acadêmico seja capaz de saber aprender, trabalhar em equipe, comunicar-se bem e ter atitude propositiva, atributos muitas vezes não contemplados na formação tradicional, ainda prevalente nas instituições universitárias. Essa tarefa nem sempre é fácil, mas é possível num ambiente que favoreça a construção de boas relações interpessoais baseadas em diálogo e paciência. O fato de haver este perfil acolhedor com os alunos permitiu o desenvolvimento de habilidades e competências, como o aperfeiçoamento de técnicas de comunicação. Tais progressos são descritos em outro estudo, o qual destaca que o extensionista vivencia situações que valorizam a qualidade da construção de relações, aprecia o entendimento do indivíduo como cidadão e reconhece a importância da humildade no exercício da escuta1717. Ferreira PB, Suriano MLF, Domenico EBL. Contribuição da extensão universitária na formação de graduandos em Enfermagem. Rev CiêncExt. 2018 [cited 2020 Sep 10];14(3):31-49. Available from: https://ojs.unesp.br/index.php/revista_proex/article/view/1874
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A extensão dos conhecimentos para a realidade aparece como uma importante estratégia de ensino, uma vez que permite o aprimoramento de saberes pela prática e também a produção de novos conhecimentos a partir da interação com a comunidade1818. Silva ALB, Sousa SC, Chaves ACF, Sousa SGC, Andrade TM, Rocha Filho DR. Importance of university extension in vocational training: canudos project. J Nurs UFPE online. 2019;13:e242189. doi: https://doi.org/10.5205/1981-8963.2019.242189
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, facilitando que o estudante reconheça sua atuação profissional fora dos muros da universidade. Durante o projeto, isso pareceu ocorrer por meio da relação de base afetiva e de troca entre o extensionista e o profissional, que também assume o papel de professor. Todo o aprendizado adquirido nesses momentos é significativo e contribui para que ambos possam pensar, sentir e agir.

A extensão, portanto, mostra-se extremamente necessária na formação do acadêmico, pois o contato com a realidade profissional é um diferencial no ensino, já que é percebida pelos estudantes como uma peça chave no desenvolvimento do senso crítico e reflexivo durante a formação em enfermagem1717. Ferreira PB, Suriano MLF, Domenico EBL. Contribuição da extensão universitária na formação de graduandos em Enfermagem. Rev CiêncExt. 2018 [cited 2020 Sep 10];14(3):31-49. Available from: https://ojs.unesp.br/index.php/revista_proex/article/view/1874
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. Tal processo inclui, para além do aprendizado técnico, o aprimoramento de habilidades e competências como ética, responsabilidade e compromisso social, transformando o acadêmico em um profissional comprometido com as necessidades da população1717. Ferreira PB, Suriano MLF, Domenico EBL. Contribuição da extensão universitária na formação de graduandos em Enfermagem. Rev CiêncExt. 2018 [cited 2020 Sep 10];14(3):31-49. Available from: https://ojs.unesp.br/index.php/revista_proex/article/view/1874
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,1818. Silva ALB, Sousa SC, Chaves ACF, Sousa SGC, Andrade TM, Rocha Filho DR. Importance of university extension in vocational training: canudos project. J Nurs UFPE online. 2019;13:e242189. doi: https://doi.org/10.5205/1981-8963.2019.242189
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A universidade é um local onde as vivências extracurriculares se mostram essenciais para o desenvolvimento da formação profissional transdisciplinar. Os projetos de extensão universitária favorecem a oportunidade de troca de conhecimentos e experiências entre profissionais, estudantes e a população atendida pelo serviço de saúde. Tais atividades proporcionam as condições necessárias para o processo de ensino-aprendizado por meio da problematização do cotidiano1717. Ferreira PB, Suriano MLF, Domenico EBL. Contribuição da extensão universitária na formação de graduandos em Enfermagem. Rev CiêncExt. 2018 [cited 2020 Sep 10];14(3):31-49. Available from: https://ojs.unesp.br/index.php/revista_proex/article/view/1874
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,1919. Rios DRS, Caputo MC. Para além da formação tradicional em saúde: experiência de educação popular em saúde na formação médica. Rev Bras Educ Med. 2019;43(3):184-95. doi: https://doi.org/10.1590/1981-52712015v43n3RB20180199
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. Na área da saúde, as relações na extensão atuam como um diferencial que permite novas experiências voltadas à humanização, ao cuidado e à qualificação da atenção em saúde, à aplicação do conceito ampliado de saúde1515. Santana RR, Santana CCAP, Costa Neto SB, Oliveira EC. University extension program as an educational practice for health promotion. Educ Real. 2021;46(2):e98702. doi: https://doi.org/10.1590/2175-623698702
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,1919. Rios DRS, Caputo MC. Para além da formação tradicional em saúde: experiência de educação popular em saúde na formação médica. Rev Bras Educ Med. 2019;43(3):184-95. doi: https://doi.org/10.1590/1981-52712015v43n3RB20180199
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. Uma revisão sistemática sobre a extensão universitária e promoção da saúde no Brasil selecionou as principais contribuições dessas atividades para a temática, dentre as quais se identificou: a criação e ampliação de redes de interação e apoio junto aos usuários, aos profissionais, serviços sociais, de saúde, a integração social e a formação de vínculos afetivos. Além destas, o estudo cita o fortalecimento da gestão participativa e do controle social, a identificação das demandas organizacionais dos serviços e dos profissionais de saúde, conscientização das determinações do processo saúde-doença e formação humanista2020. Sampaio JF, Bittencourt CCBLD, Porto VFA, Cavalcante JC, Medeiros ML. A extensão universitária e a promoção da saúde no brasil: revisão sistemática. Revist Port Saúde Sociedade. 2018[cited 2022 Apr 15];3(3):921-30. Available from: https://www.seer.ufal.br/index.php/nuspfamed/article/view/5282/4856
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. Iniciativas como a descrita neste estudo são particularmente importantes pela capacidade de fortalecer a tríade ensino-pesquisa-prática, transformando-se em um instrumento que potencializa a mudança nas ações educativas em saúde.

Conforme os relatos, a atividade de extensão universitária repercute positivamente no processo de trabalho na unidade, em especial para a equipe de enfermagem. Os depoimentos dos acadêmicos foram apresentados em reunião no Serviço de Radiologia; a partir dessa devolutiva, os profissionais demonstraram o desejo de aumentar o número de acadêmicos participantes pela ampliação da divulgação e do preenchimento de todas as vagas disponíveis por semestre. Estes achados são corroborados por outros estudos66. Figueiredo MO, Batistão R, Silva CR, Martinez CMS, Roiz RG.University outreach in occupational therapy:scoping review in Brazilian literature. CadBras Ter Ocup. 2022;30:e2908. doi: https://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAR21972908
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,1414. Paula DPS, Gonçalves MD, Rodrigues MGJ, Pereira RS, Fonseca JRO, Machado AS, et al. Integração do ensino, pesquisa e extensão universitária na formação acadêmica: percepção do discente de enfermagem. REAS. 2019;(33):e549. doi: https://doi.org/10.25248/reas.e549.2019
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,1515. Santana RR, Santana CCAP, Costa Neto SB, Oliveira EC. University extension program as an educational practice for health promotion. Educ Real. 2021;46(2):e98702. doi: https://doi.org/10.1590/2175-623698702
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que também apontam a contribuição significativa da extensão universitária sobre o aprendizado do estudante acerca da sua participação na assistência, na percepção sobre a relevância do trabalho em equipe, na integração entre ensino, extensão e pesquisa, permitindo a reflexão entre a teoria e a prática, repercutindo em profissionais cidadãos corresponsáveis por sua comunidade.

A participação dos acadêmicos no processo de trabalho diminuiu o quantitativo de profissionais alocados para o transporte de pacientes em maca, que requer duas pessoas, ou nos momentos em que dois ou mais pacientes em cadeira de rodas, provenientes da mesma unidade, são transportados. Dessa forma, os profissionais remanescentes podem realizar outras atividades e atender outros pacientes, aumentando a produtividade do setor, sendo benéfico à equipe de enfermagem por reduzir a demanda de trabalho, e aos pacientes, por diminuir o tempo de espera para realizar seu exame ou retornar ao seu leito.

A literatura traz estudos11. Steigleder LI, Zucchetti DT, Martins RL. Trajetória para curricularização da extensão universitária: contribuições do fórum nacional de extensão das universidades comunitárias-forext e a definição de diretrizes nacionais. Rev Bras Ext Universit. 2019;10(3):167-74. doi: https://doi.org/10.36661/2358-0399.2019v10i3.10916
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,66. Figueiredo MO, Batistão R, Silva CR, Martinez CMS, Roiz RG.University outreach in occupational therapy:scoping review in Brazilian literature. CadBras Ter Ocup. 2022;30:e2908. doi: https://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAR21972908
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,1414. Paula DPS, Gonçalves MD, Rodrigues MGJ, Pereira RS, Fonseca JRO, Machado AS, et al. Integração do ensino, pesquisa e extensão universitária na formação acadêmica: percepção do discente de enfermagem. REAS. 2019;(33):e549. doi: https://doi.org/10.25248/reas.e549.2019
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,1515. Santana RR, Santana CCAP, Costa Neto SB, Oliveira EC. University extension program as an educational practice for health promotion. Educ Real. 2021;46(2):e98702. doi: https://doi.org/10.1590/2175-623698702
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,1717. Ferreira PB, Suriano MLF, Domenico EBL. Contribuição da extensão universitária na formação de graduandos em Enfermagem. Rev CiêncExt. 2018 [cited 2020 Sep 10];14(3):31-49. Available from: https://ojs.unesp.br/index.php/revista_proex/article/view/1874
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que evidenciam a extensão universitária como parte importante no processo de formação pessoal e profissional, assim como sua importância na integração entre ensino, assistência e pesquisa. Os hospitais são organizações de administração complexa, visto que necessitam ter um olhar humanizado; portanto, de grande sensibilidade durante a execução de suas várias atividades, dentre elas a transferência de cuidado de pacientes entre unidades. Sendo assim, é fundamental uma gestão que saiba conciliar essas atividades por meio do uso eficiente dos recursos disponíveis, minimizando possíveis falhas organizacionais que possam prejudicar seus pacientes ou os profissionais envolvidos.

As interações percebidas entre a atividade de extensão e a instituição vão ao encontro do que foi estabelecido pelo Art. 207 da Constituição Federal de 1988 e pelas DCN do Curso de Enfermagem, bem como pela Meta 12.7 do PNE (2014-2024), a qual definiu que as universidades devem assegurar - no mínimo - 10% do total de créditos curriculares exigidos para a graduação em programas e projetos de extensão universitária33. Presidência da República (BR). Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras providências. Diário Oficial União. 2014 jun 26 [cited 2022 Apr 30];151(120-A Seção 1):1-7. Available from: https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=26/06/2014&jornal=1000&pagina=1&totalArquivos=8
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. Recentemente, a Resolução nº 7 de 18 de dezembro de 2018 do Ministério da Educação regulamentou o PNE e estabeleceu as diretrizes para a Extensão na Educação Superior Brasileira, definindo que seja implementada em todos os currículos dos cursos de graduação até dezembro de 20212121. Ministério da Educação (BR). Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Resolução nº 7, de 18 de dezembro de 2018. Estabelece as Diretrizes para a Extensão na Educação Superior Brasileira e regulamenta o disposto na Meta 12.7 da Lei nº 13.005/2014, que aprova o Plano Nacional de Educação - PNE 2014-2024 e dá outras providências. Diário Oficial União. 2018 dez 19 [cited 2020 Jun 09];155(243 Seção 1):49-50. Available from: https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=19/12/2018&jornal=515&pagina=49
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. Este documento, além de gerar uma ampla mobilização das universidades para oferecer atividades teóricas e práticas em todas as etapas da graduação de forma integrada e interdisciplinar, é um avanço para a curricularização da extensão, desafio percebido na trajetória de luta pelo reconhecimento da extensão como função acadêmica11. Steigleder LI, Zucchetti DT, Martins RL. Trajetória para curricularização da extensão universitária: contribuições do fórum nacional de extensão das universidades comunitárias-forext e a definição de diretrizes nacionais. Rev Bras Ext Universit. 2019;10(3):167-74. doi: https://doi.org/10.36661/2358-0399.2019v10i3.10916
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.

Ao analisar os depoimentos dos participantes - com amparo da literatura - é perceptível a consonância do projeto de extensão em estudo com as diretrizes e princípios da Resolução2121. Ministério da Educação (BR). Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Resolução nº 7, de 18 de dezembro de 2018. Estabelece as Diretrizes para a Extensão na Educação Superior Brasileira e regulamenta o disposto na Meta 12.7 da Lei nº 13.005/2014, que aprova o Plano Nacional de Educação - PNE 2014-2024 e dá outras providências. Diário Oficial União. 2018 dez 19 [cited 2020 Jun 09];155(243 Seção 1):49-50. Available from: https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=19/12/2018&jornal=515&pagina=49
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, as quais definem que as atividades devem ser pautadas na interação dialógica entre a comunidade acadêmica e sociedade por meio da troca de conhecimentos e vivências do cotidiano, aspectos frequentemente ressaltados pelos acadêmicos. Além disso, o documento cita a contribuição para uma formação integral e generalista do estudante, de forma a contribuir no desenvolvimento de cidadãos críticos e responsáveis. Os diálogos construtivos entre os atores devem ser capazes de transformar as instituições e setores da sociedade, tal qual explicitado nos relatos dos profissionais com exemplos palpáveis das contribuições dos acadêmicos no Serviço de Radiologia.

Como limitações do estudo, evidencia-se a escassez de artigos que descrevem especificamente a iniciação de acadêmicos das etapas iniciais do curso na prática hospitalar, devido ao caráter inédito dessa experiência, dificultando uma descrição analítica mais aprofundada dos achados. Ainda, em relação ao número reduzido de profissionais e acadêmicos participantes atribuem-se fatores contribuintes: o não preenchimento dos critérios de inclusão e - principalmente - o período de coleta durante a pandemia de COVID-19. No entanto, acredita-se que divulgar uma estratégia de ensino universitário que contribui para a integração do ensino com a prática possibilita qualificar os cursos de graduação e a assistência ao paciente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As repercussões do projeto na perspectiva de acadêmicos(as) e equipe de enfermagem foram traduzidas nas categorias: “Conhecendo o ambiente/dinâmica hospitalar”, “Articulação entre teoria e prática”, “Vínculo entre acadêmicos e profissionais da saúde” e “Processo de trabalho da unidade”.Os depoimentos evidenciaram que a participação no projeto ampliou os conhecimentos técnico-científicos ao oportunizar o contato com os profissionais da saúde e a prática hospitalar.

Na percepção dos participantes deste estudo, a extensão oportunizou não apenas observar a realidade, mas vivenciar e participar do contexto em que estão inseridos, inclusive contribuindo com os processos de trabalho do Serviço de Radiologia, traduzido em troca positiva entre acadêmicos e profissionais da saúde. Além disso, possibilitou aos estudantes a aquisição de conhecimentos e experiências necessários sob a óptica da compreensão de mundo em que se inserem de forma a tornarem-se protagonistas em seu processo de ensino e aprendizagem. Dessa forma, reforça conceitos como o aprender fazendo, vivenciando as práticas na formação de novos profissionais o mais precocemente possível.

Por fim, a estratégia de formação/aprendizagem calcada em uma ação de extensão universitária desafiou os estudantes e profissionais a romperem a barreira acadêmica, por vezes limitada pelo ensino teórico, para adentrar em saberes que são pautados pelo contato com a realidade prática, que contribuem para a formação do pensamento crítico-reflexivo que podem ser aplicados na atuação profissional em suas diversas esferas.

Espera-se que essa experiência possa estimular a consecução de estudos relacionados à continuidade deste projeto de extensão, bem como incentivar o desenvolvimento de outras atividades extensionistas consoantes às diretrizes da curricularização da extensão nas instituições universitárias, expandindo - assim - essa iniciativa com potencial para fortalecer a tríade ensino-pesquisa-assistência e proporcionar a translação do conhecimento teórico para a prática assistencial do enfermeiro.

Agradecimentos:

Agradecemos à bolsa PIBIC CNPq-UFRGS, pelo amparo financeiro fornecido a esta produção cientifica, e à Natália Chies, por seu envolvimento e suas contribuições no início do projeto.

REFERENCES

  • 1. Steigleder LI, Zucchetti DT, Martins RL. Trajetória para curricularização da extensão universitária: contribuições do fórum nacional de extensão das universidades comunitárias-forext e a definição de diretrizes nacionais. Rev Bras Ext Universit. 2019;10(3):167-74. doi: https://doi.org/10.36661/2358-0399.2019v10i3.10916
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  • 3. Presidência da República (BR). Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras providências. Diário Oficial União. 2014 jun 26 [cited 2022 Apr 30];151(120-A Seção 1):1-7. Available from: https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=26/06/2014&jornal=1000&pagina=1&totalArquivos=8
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Editado por

Editor associado:

Rosana Maffacciolli

Editor-chefe:

João Lucas Campos de Oliveira

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jul 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    24 Maio 2022
  • Aceito
    27 Out 2022
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