Acessibilidade / Reportar erro

Compreendendo a “alta em hanseníase”: uma análise de conceito

Resumo

OBJETIVO

Analisar o conceito de alta em hanseníase.

MÉTODOS

Estudo teórico pautado no referencial metodológico de análise de conceito. Realizou-se levantamento bibliográfico, de dezembro de 2015 a janeiro de 2016, nas bases SCOPUS, CINAHL, PUBMED, LILACS, SCIELO e BDENF, mediante uso dos descritores “Hanseníase” e “Alta do Paciente”, obtendo-se 13 estudos.

RESULTADOS

Identificou-se alta por cura, alta medicamentosa, alta bacteriológica e pós-alta como possíveis usos do conceito. Os atributos definidos foram conclusão da poliquimioterapia, conclusão da poliquimioterapia para paucibacilares, conclusão da poliquimioterapia para multibacilares e cura da hanseníase. Como antecedentes, identificou-se infecção pelo M. leprae, acometimento de pele e de nervos periféricos, diagnóstico e tratamento e reações hansênicas. Saída do registro ativo de casos de hanseníase e continuidade de atenção em saúde foram os consequentes. Apresentou-se um caso modelo e um caso contrário.

CONCLUSÕES

A análise ampliou o conceito “alta em hanseníase”, para além da clínica focada na poliquimioterapia.

Palavras-chave:
Hanseníase; Alta do paciente; Formação de conceito; Enfermagem

Resumen

OBJETIVO

Analizar el concepto de alta lepra.

MÉTODOS

Análisis de concepto, propuesto por Walker y Avant. Literatura detenido en los meses de diciembre de 2015 y enero de 2016, las bases SCOPUS, CINAHL, PUBMED, LILACS, SCIELO y BDENF mediante el uso de descriptores "alta" del paciente asociados con el operador boleano AND, dando lugar a 13 estudios "lepra".

RESULTADOS

Se identificaron alta curación, drogas alta, alta bacteriológico y después del alta como posibles usos del concepto. Los atributos definidos eran finalización de la poliquimioterapia, la finalización de la poliquimioterapia para paucibacilar, la finalización de la poliquimioterapia para la curación de la lepra multibacilar y. Como antecedente, se identifico la infección por M. leprae, lapiel y La participación de los nervios periféricos, diagnóstico y tratamiento de las reacciones y la lepra. Activa La producción récord de casos de lepra, La continuidad del cuidado de la salud son consecuentes.

CONCLUSIONES

El término "alta lepra” se agranda, además de la terapia de múltiples fármacos.

Palabras clave:
Lepra; Alta del paciente; Formación de concepto; Enfermería

Abstract

OBJECTIVE

To analyze the concept of patient discharge in leprosy.

METHODS

Theoretical study guided in the methodological framework of concept analysis. A bibliographical survey was held from December 2015 to January 2016 using the following bases: SCOPUS, CINAHL, PubMed, LILACS, SCIELO and BDENF, by use of the descriptors "Leprosy" and "Patient Discharge", resulting in 13 studies.

RESULTS

The following were identified as possible uses for the concept: discharge by cure, drug use discharge, bacteriological discharge and post-discharge. The attributes defined were completion of multidrug therapy, completion of multidrug therapy for paucibacillary leprosy, completion of multidrug therapy for multibacillary leprosy and cure from leprosy. The presence of an M. leprae infection, symptoms present in skin and peripheral nerves, diagnosis and treatment and leprosy reactions were identified as antecedents. Consequents were exclusion from the active leprosy record and continuity of health care. One case model and one opposing case were presented.

CONCLUSIONS

The analysis broadened the concept “discharge in leprosy”, providing other meanings than the clinical definition of multidrug therapy.

Keywords:
Leprosy; Patient discharge; Concept formation; Nursing

Introdução

A hanseníase tem cura e o tratamento é ofertado gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que associada a revolução tecnológica mediada por avanços científicos proporcionou mudanças e inovações terapêuticas no processo de trabalho em saúde em geral, e particularmente para a atenção à hanseníase11. Souza IA, Ayres JA, Meneguin S, Spagnolo RS. Autocuidado na percepção de pessoas com hanseníase sob a ótica da complexidade. Esc Anna Nery. 2014;18(3):510-4.. Apesar da implementação de estratégias de controle e eliminação como problema de saúde pública, essa doença atinge cerca de 1.500.000 pessoas no mundo22. Rodrigues FF, Calou CGP, Leandro TA, Antezana FJ, Pinheiro AKB, Silva VM et al. Conhecimento e prática dos enfermeiros sobre hanseníase: ações de controle e eliminação. Rev Bras Enferm. 2015;68(2):297-304..

Destaca-se que dos casos novos detectados no mundo em 2011, a Índia foi responsável por 58%, ocupando o primeiro lugar no ranking mundial, seguida pelo Brasil, responsável por 16% dos novos casos notificados em 2011. Ao considerar o continente americano, o Brasil ocupa a primeira posição, com cerca de 33.955 casos novos segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS)33. World Health Organization (CH). Global leprosy situation, 2012. Wkly Epidemiol Rec. 2012;87(34):317-28..

Embora se tenha tratamento e cura, o pouco conhecimento da população, o diagnóstico tardio e a pouca estruturação da rede de atenção em prol da integralidade da assistência em saúde voltada para a hanseníase contribuem com o quantitativo de indivíduos vivendo com sequelas44. Santos KS, Fortuna CM, Santana FR, Gonçalves MFC, Marciano FM, Matumoto S. Significado da hanseníase para pessoas que viveram o tratamento no período sulfônico e da poliquimioterapia. Rev Latino-am Enfermagem. 2015;23(4);620-7.. Ressalta-se ainda que o acometimento neural periférico com consequente instalação de incapacidades físicas é potencializado pelas reações hansênicas55. Monteiro LD, Alencar CH, Barbosa JC, Novaes CCBS, Silva RCP, Heukelbach J. Pós-alta de hanseníase: limitação de atividade e participação social em área hiperendêmica do norte do Brasil. Rev Bras Epidemiol. 2014;17(1):91-104..

Estima-se uma média de dois a três milhões de indivíduos em todo o mundo vivendo com alguma sequela em decorrência da hanseníase11. Souza IA, Ayres JA, Meneguin S, Spagnolo RS. Autocuidado na percepção de pessoas com hanseníase sob a ótica da complexidade. Esc Anna Nery. 2014;18(3):510-4.. Essa é uma tendência preocupante, ao ressaltar a estimativa de que 20% de casos novos são diagnosticados com algum grau de incapacidade física, e outros 15% a desenvolverão durante ou após o tratamento com a poliquimioterapia (PQT) específica para hanseníase66. Ramos JMH, Souto FJD. Incapacidade pós-tratamento em pacientes hansenianos em Várzea Grande, Estado de Mato Grosso. Rev Soc Bras Med Trop. 2010;43(3):293-7..

Em decorrência da magnitude da problemática existente após a conclusão da PQT, associada à fragilidade de atenção do sistema de saúde para com aqueles indivíduos que carregam consigo as marcas deixadas pela hanseníase55. Monteiro LD, Alencar CH, Barbosa JC, Novaes CCBS, Silva RCP, Heukelbach J. Pós-alta de hanseníase: limitação de atividade e participação social em área hiperendêmica do norte do Brasil. Rev Bras Epidemiol. 2014;17(1):91-104., faz-se necessário ações mais efetivas no momento do diagnóstico e após o término do tratamento22. Rodrigues FF, Calou CGP, Leandro TA, Antezana FJ, Pinheiro AKB, Silva VM et al. Conhecimento e prática dos enfermeiros sobre hanseníase: ações de controle e eliminação. Rev Bras Enferm. 2015;68(2):297-304..

Ao considerar a presença do comprometimento neurológico e as consequentes deficiências nos indivíduos que concluíram a PQT para hanseníase, que constitui um sério problema a ser enfrentado77. Nardi SMT, Paschoal VDA, Chiaravalloti-Neto F, Zanetta DMT. Deficiências após a alta medicamentosa da hanseníase: prevalência e distribuição espacial. Rev Saúde Pública. 2012;46(6):969-77., ressalta-se a necessidade de acompanhamento com estruturação de ações bem definidas88. Lanza FM, Vieira NF, Oliveira MMC, Lana FCF. Avaliação das ações de hanseníase desenvolvidas na atenção primária: proposta de um instrumento para gestores. Rev Min Enferm. 2014;8(3):598-605..

Frente às conquistas e aos desafios que caracterizam a hanseníase em seu percurso histórico, social, e estigmatizante, circunscrita às doenças negligenciadas. O presente estudo de conceitos visa o esclarecimento e a reflexão a fim de buscar uma compreensão mais significativa e favorecer o entendimento da alta em hanseníase com vistas a organização da atenção em saúde para aqueles que concluíram a terapêutica medicamentosa justificando, assim, sua relevância para a prática clínica, epidemiológica e científica. Nesta perspectiva, questiona-se: qual o conceito de alta em hanseníase? Portanto, o presente trabalho tem por objetivo: analisar o conceito de alta em hanseníase.

Método

Estudo teórico pautado no referencial metodológico de análise de conceito. Concorda-se que um conceito é definido como uma construção mental acerca de determinado fenômeno, identificado mediante a apresentação de certos atributos, que o diferencia de outros conceitos. São considerados essenciais para o desenvolvimento de pesquisas99. Walker LO, Avant KC. Strategies for theory construction in nursing. 5th ed. Upper Saddle River: Pearson Education; 2011..

A análise de conceito se dá em processo e transcorre de forma randômica, obedecendo às seguintes etapas: identificação do conceito; definição do objetivo da analise conceitual; verificação dos possíveis usos do conceito; identificação dos atributos definidores; estabelecimento de um caso modelo; determinação de casos borderline, contrários, inventados e ilegítimos; definição dos termos antecedentes e consequentes ao conceito; e determinação de referentes empíricos. Ressalta-se que, a depender do conceito em análise, algumas destas podem ser suprimidas99. Walker LO, Avant KC. Strategies for theory construction in nursing. 5th ed. Upper Saddle River: Pearson Education; 2011..

Nesta perspectiva heurística e polissêmica da intenção de analisar um determinado conceito, alguns cuidados de validade, fidedignidade e confiabilidade, faz-se necessário realizar uma ampla busca na literatura de estudos relacionados ao conceito em análise99. Walker LO, Avant KC. Strategies for theory construction in nursing. 5th ed. Upper Saddle River: Pearson Education; 2011.. Recomenda-se ainda, para evitar a superficialidade, o desenvolvimento de uma revisão integrativa de literatura, seguindo as etapas: identificação da questão de pesquisa e objetivo do estudo, busca da literatura, avaliação dos dados, análise dos dados e apresentação1010. Whittemore R, Knafl K. The integrative review: updated methodology. J Adv Nurs. 2005;52(5):546-53..

Dessa articulação teórico-conceitual, possibilita a identificação dos elementos textuais relacionados à alta do paciente de hanseníase e a operacionalização da análise de conceito. Guiando-se pelas recomendações metodológicas, desenvolveu-se a seguinte questão: qual o conhecimento produzido na literatura sobre a alta do paciente de hanseníase?

A recuperação e seleção dos estudos publicados e definidores da revisão atendeu ao seguinte critério de elegibilidade: artigos completos disponíveis mediante o uso do proxy da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, nos idiomas português, espanhol e inglês, e que abordem conteúdo referente à temática em estudo. Excluiu-se publicações referentes aos editoriais, cartas ao editor, resumos, opinião de especialistas, revisões, teses e dissertações. Ressalta-se que para efetivação da busca dos periódicos não foi estabelecido recorte temporal concernente ao ano de publicação.

O levantamento bibliográfico ocorreu nos meses de dezembro de 2015 e janeiro de 2016, nas bases de dados SCOPUS, Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), e PUBMED, acessadas através do Portal de Periódicos da Capes, utilizando descritores indexados no Medical Subject Headings (MeSH); além de utilizar as bases de dados Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e Base de dados de Enfermagem (BDENF), acessados por meio da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) com Descritores em Ciências da Saúde (DeCS).

Os descritores não controlados Hanseníase e Alta do Paciente (ou Leprosy e Patient Discharge, para seleção via MeSH), associados ao operador boleano AND, foram utilizados para efetivação da busca da literatura. O processo de busca das publicações está representado na Figura 1.

Figura 1:
Fluxograma da estratégia de busca de artigos incluídos na revisão integrativa

Definidas as referências para análise, realizou-se a leitura de todo o material para a extração de dados que caracterizam a publicação (base de dados, periódico, título, autor, ano de publicação e idioma), além da identificação dos elementos referentes ao conceito (uso, atributos, antecedentes e consequentes). A apresentação dos resultados no que tange ao objetivo deste trabalho se dá de forma descritiva, mediante a discussão dos passos selecionados para a análise do conceito de alta em hanseníase, seguindo as etapas do referencial utilizado99. Walker LO, Avant KC. Strategies for theory construction in nursing. 5th ed. Upper Saddle River: Pearson Education; 2011..

Resultados e Discussão

Analisando os artigos selecionados, observou-se uma predominância das publicações em língua portuguesa66. Ramos JMH, Souto FJD. Incapacidade pós-tratamento em pacientes hansenianos em Várzea Grande, Estado de Mato Grosso. Rev Soc Bras Med Trop. 2010;43(3):293-7.,1111. Monteiro LD, Alencar CHM, Barbosa JC, Braga KP, Castro MD, Heukelbach J. Incapacidades físicas em pessoas acometidas pela hanseníase no período pós-alta da poliquimioterapia em um município no Norte do Brasil. Cad Saúde Pública. 2013;29(5):909-20.

12. Souza LWF. Reações hansênicas em pacientes em alta por cura pela poliquimioterapia. Rev Soc Bras Med Trop . 2010;43(6):737-9.

13. Silva Sobrinho RA, Mathias TAF, Gomes EA, Lincoln PB. Avaliação do grau de incapacidade em hanseníase: uma estratégia para sensibilização e capacitação da equipe de enfermagem. Rev Latino-Am Enfermagem. 2007;15(6):1125-30.

14. Rodrigues ANP, Almeida AP, Rodrigues BF, Pinheiro CA, Borges DS, Mendonça MLH, et al. Ocorrência de reações em pacientes pós-alta por cura de hanseníase: subsídios para implementação de um programa de atenção específica. Hansen Int. 2000;25(1):7-16.

15. Nardi SMT, Paschoal VDA, Chiaravalloti-Neto F, Zanetta DMT. Deficiências após a alta medicamentosa da hanseníase: prevalência e distribuição espacial. Rev Saúde Pública . 2012;46(6):969-77.

16. Barbosa JC, Ramos Júnior AN, Alencar MJF, Castro CGJ. Pós-alta em hanseníase no Ceará: limitação da atividade funcional, consciência de risco e participação social. Rev Bras Enferm . 2008;61(esp):727-33.
-1717. Sangi KCC, Miranda LF, Spíndola T, Leão AMM. Hanseníase e estado reacional: história de vida de pessoas acometidas. Rev Enferm UERJ. 2009;17(2):209-14., totalizando 61,53% (8 artigos), e os demais1818. Enwereji E. Assessing psychological rehabilitation of leprosy patients discharged home in Abia and Ebonyi States of Nigeria. Eur J Gen Med. 2011;8(2):110-6.

19. Brito MFM, Ximenes RAA, Gallo MEN. O retratamento por recidiva em hanseníase. An Bras Dermatol. 2005;80(3):255-60.

20. Veen NHJV, Hemo DA, Bowers BL, Pahan D, Negrini JF, Velema JP, et al. Evaluation of activity limitation and social participation, and the effects of reconstructive surgery in people with disability due to leprosy: a prospective cohort study. Disabil Rehabil. 2011;33(8)667-74.

21. Castro LE, Cunha AJ, Fontana AP, Halfoun VLC, Gomes MK. Physical disability and social participation in patients affected by leprosy after discontinuation of multidrug therapy. Lepr Rev. 2014;85(3):208-17.
-2222. Sales AM, Campos DP, Hacker MA, Nery JAC, Düppre NC, Rangel E, et al. Progression of leprosy disability after discharge: is multidrug therapy enough? Trop Med Int Health. 2013;18(9):1145-53.) em língua inglesa, com destaque para o periódico com maior número de publicações a Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical com um total de 15,38% (2 artigos)66. Ramos JMH, Souto FJD. Incapacidade pós-tratamento em pacientes hansenianos em Várzea Grande, Estado de Mato Grosso. Rev Soc Bras Med Trop. 2010;43(3):293-7.,1212. Souza LWF. Reações hansênicas em pacientes em alta por cura pela poliquimioterapia. Rev Soc Bras Med Trop . 2010;43(6):737-9..

Com base na visibilidade obtida pela revisão, percorrem-se as etapas propostas pelo Modelo de Análise do Conceito99. Walker LO, Avant KC. Strategies for theory construction in nursing. 5th ed. Upper Saddle River: Pearson Education; 2011.: seleção do conceito; determinação dos objetivos da análise conceitual; identificação dos possíveis usos do conceito; determinação dos atributos; identificação dos antecedentes e consequentes do conceito; apresentação de um caso modelo e de um caso contrário.

Ressalta-se que o presente estudo não efetuou a realização das etapas de identificação de casos borderline, inventados e ilegítimos, procedendo-se às demais exigências metodológicas, que foram suficientes à análise do conceito alta em hanseníase. Análogo, por se tratar de um conceito abstrato, não foi operacionalizada a descrição de referentes empíricos.

Seleção do conceito e determinação dos objetivos da análise conceitual

A hanseníase como doença infectocontagiosa de notificação compulsória e de investigação obrigatória é causada pela ação do agente etiológico Mycobacterium leprae, provoca comprometimento na pele e em nervos periféricos com concludentes incapacidades e deformidades físicas quando não diagnosticada e tratada em seu estágio inicial, incapacidades estas avaliadas através do exame neurológico de olhos, mãos e pés2323. Pinheiro MGC, Silva SYB, Silva FS, Ataide CAV, Lima IB, Simpson CA. Conhecimento sobre prevenção de incapacidades em um grupo de autocuidado em hanseníase. Rev Min Enferm. 2014;18(4):895-900.. As sequelas hansênicas podem surgir antes, durante ou após o tratamento da hanseníase com a PQT específica, com possibilidade da piora do quadro por ocasião de possíveis reações imunológicas2424. Araújo AERA, Aquino DMC, Goulart IMB, Pereira SRF, Figueiredo IA, Serra HO, et al. Complicações neurais e incapacidades em hanseníase em capital do nordeste brasileiro com alta endemicidade. Rev Bras Epidemiol. 2014;17(4)899-910.-2525. Barbosa JC, Ramos Junior AN, Alencar OM, Pinto MSP, Castro CGJ. Atenção pós-alta em hanseníase no Sistema Único de Saúde: aspectos relativos ao acesso na região Nordeste. Cad Saúde Colet. 2014;22(4):351-8..

Os indicadores epidemiológicos da hanseníase no Brasil apontam um total de 127.083 casos novos diagnosticados nos anos de 2011 a 2015, dos quais 28.761 identificados em 2015. Neste ano também obteve-se um alto coeficiente detecção geral, ao apresentar taxa de 14,07 casos por 100 mil habitantes; bem como um percentual de 83,5% de curados entre os casos novos, tido como um parâmetro de estratificação classificado como regular diante das metas de controle da doença2626. Ministério da Saúde (BR). Indicadores epidemiológicos e operacionais de hanseníase: Brasil 2000-2015. Brasília (DF); 2016..

Ao considerar a conjuntura que envolve o processo de adoecimento à alta do paciente com hanseníase, faz-se necessário uma análise do conceito de “alta em hanseníase”. Na perspectiva da saúde como um processo historicamente construído, que envolve elementos para além clínica biologicista, a atenção à saúde prestada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) requer a consideração das necessidades de saúde da população com estruturação de ações e serviços que impactem positivamente no processo de saúde e doença2727. Gomes ECS. Conceitos e ferramentas da epidemiologia. Recife: Ed. Universitária da UFPE; 2015..

Na hanseníase, o adoecimento depende de uma interação entre o agente biológico M. leprae com o homem, a qual é condicionada por elementos ambientais, socioeconômico, social e psíquico. Diante do adoecimento, o tratamento também perpassa por esses determinantes, associado à estruturação e implementação de políticas de saúde2828. Lopes VAS, Rangel EM. Hanseníase e vulnerabilidade social: uma análise do perfil socioeconômico de usuários em tratamento irregular. Saúde Debate. 2014;38(103):817-29.. A forma como os serviços de saúde estão organizados, em conjunto com o tipo de moradia, condições socioeconômicas desfavoráveis e o sistema imunológico do indivíduo são elementos que mantêm relação direta com os casos de recidiva em hanseníase2929. Ferreira SMB, Ignotti E, Gamba MA. Fatores associados à recidiva em hanseníase em Mato Grosso. Rev Saúde Pública . 2011;45(4):756-64..

No tocante à alta em hanseníase, de um lado cita-se a possibilidade de desenvolver danos neurais e incapacidades físicas após a conclusão do tratamento específico e, do outro, a organização burocrática do manejo do usuário até a exclusão do registro ativo do Ministério da Saúde e, portanto, não mais considerado um caso de hanseníase. Este fato não está de acordo com a literatura e a experiência que recomenda a necessidade de acompanhamento do usuário e estruturação de serviços de saúde, com vistas ao cuidado integral após o tratamento com a PQT2525. Barbosa JC, Ramos Junior AN, Alencar OM, Pinto MSP, Castro CGJ. Atenção pós-alta em hanseníase no Sistema Único de Saúde: aspectos relativos ao acesso na região Nordeste. Cad Saúde Colet. 2014;22(4):351-8.,3030. Monteiro LD, Martins-Melo FR, Brito AL, Lima MS, Alencar CH, Heukelbach J. Tendências da hanseníase no Tocantins, um estado hiperendêmico do Norte do Brasil, 2001-2012. Cad Saúde Pública. 2015;31(5):971-80..

Usos do conceito de alta em hanseníase

Os usos do conceito fazem inferência às variadas maneiras de expressar o termo em análise, identificados mediante a estratégia de busca e leitura de diversas fontes99. Walker LO, Avant KC. Strategies for theory construction in nursing. 5th ed. Upper Saddle River: Pearson Education; 2011.. Na revisão realizada para este caso específico, identificou-se quatro possibilidades de uso referente ao termo alta em hanseníase: alta por cura1212. Souza LWF. Reações hansênicas em pacientes em alta por cura pela poliquimioterapia. Rev Soc Bras Med Trop . 2010;43(6):737-9.,1414. Rodrigues ANP, Almeida AP, Rodrigues BF, Pinheiro CA, Borges DS, Mendonça MLH, et al. Ocorrência de reações em pacientes pós-alta por cura de hanseníase: subsídios para implementação de um programa de atenção específica. Hansen Int. 2000;25(1):7-16.,2121. Castro LE, Cunha AJ, Fontana AP, Halfoun VLC, Gomes MK. Physical disability and social participation in patients affected by leprosy after discontinuation of multidrug therapy. Lepr Rev. 2014;85(3):208-17., alta medicamentosa66. Ramos JMH, Souto FJD. Incapacidade pós-tratamento em pacientes hansenianos em Várzea Grande, Estado de Mato Grosso. Rev Soc Bras Med Trop. 2010;43(3):293-7.,1515. Nardi SMT, Paschoal VDA, Chiaravalloti-Neto F, Zanetta DMT. Deficiências após a alta medicamentosa da hanseníase: prevalência e distribuição espacial. Rev Saúde Pública . 2012;46(6):969-77.,1919. Brito MFM, Ximenes RAA, Gallo MEN. O retratamento por recidiva em hanseníase. An Bras Dermatol. 2005;80(3):255-60., alta bacteriológica2121. Castro LE, Cunha AJ, Fontana AP, Halfoun VLC, Gomes MK. Physical disability and social participation in patients affected by leprosy after discontinuation of multidrug therapy. Lepr Rev. 2014;85(3):208-17.-2222. Sales AM, Campos DP, Hacker MA, Nery JAC, Düppre NC, Rangel E, et al. Progression of leprosy disability after discharge: is multidrug therapy enough? Trop Med Int Health. 2013;18(9):1145-53. e pós-alta1111. Monteiro LD, Alencar CHM, Barbosa JC, Braga KP, Castro MD, Heukelbach J. Incapacidades físicas em pessoas acometidas pela hanseníase no período pós-alta da poliquimioterapia em um município no Norte do Brasil. Cad Saúde Pública. 2013;29(5):909-20.,1515. Nardi SMT, Paschoal VDA, Chiaravalloti-Neto F, Zanetta DMT. Deficiências após a alta medicamentosa da hanseníase: prevalência e distribuição espacial. Rev Saúde Pública . 2012;46(6):969-77.

16. Barbosa JC, Ramos Júnior AN, Alencar MJF, Castro CGJ. Pós-alta em hanseníase no Ceará: limitação da atividade funcional, consciência de risco e participação social. Rev Bras Enferm . 2008;61(esp):727-33.
-1717. Sangi KCC, Miranda LF, Spíndola T, Leão AMM. Hanseníase e estado reacional: história de vida de pessoas acometidas. Rev Enferm UERJ. 2009;17(2):209-14..

Os quatro termos (alta por cura, alta medicamentosa, alta bacteriológica e pós-alta) remetem à construção mental de alta em hanseníase e fazem referência ao período que se inicia após conclusão da PQT, cujo esquema padrão é composto por dois grupos de fármacos à depender da classificação operacional dos casos de hanseníase: dapsona e rifampicina ou dapsona, rifampicina e clofazimina3131. Lastória JCL, Abreu MAMM. Hanseníase: diagnóstico e tratamento. Dermatologia. 2012;17(4):173-9..

Gramaticalmente classificado como substantivo, que nomeia os seres, o termo “alta” é descrito como determinação do término do tratamento3232. Ferreira ABH. Dicionário da língua portuguesa. Curitiba: Positivo; 2010.. Nessa perspectiva, entende-se que não há mais necessidade de intervenções terapêuticas. No entanto, enfatiza-se que os referidos usos do conceito de alta em hanseníase definem apenas a conclusão da terapêutica medicamentosa como critério para alta, desconsiderando as sequelas instaladas ou a possibilidade de ocorrência de episódios reacionais2121. Castro LE, Cunha AJ, Fontana AP, Halfoun VLC, Gomes MK. Physical disability and social participation in patients affected by leprosy after discontinuation of multidrug therapy. Lepr Rev. 2014;85(3):208-17..

Mediante a compreensão da história natural da hanseníase, faz-se necessário estruturar meios para intervir na possibilidade de complicação da doença após a alta da PQT, impedindo o processo de instalação e agravamento das incapacidades físicas a partir do planejamento e desenvolvimento de intervenções necessárias, de acordo com a peculiaridade de cada indivíduos, nos diversos níveis de atenção e de assistência em saúde2828. Lopes VAS, Rangel EM. Hanseníase e vulnerabilidade social: uma análise do perfil socioeconômico de usuários em tratamento irregular. Saúde Debate. 2014;38(103):817-29..

Determinação dos atributos, antecedentes e consequentes do conceito alta em hanseníase

Os atributos são considerados termos ou palavras empregadas com a finalidade de descrever as características do conceito, permitindo que o autor tenha uma visão ampla sobre o que está em análise99. Walker LO, Avant KC. Strategies for theory construction in nursing. 5th ed. Upper Saddle River: Pearson Education; 2011.. Para a identificação dos atributos inerentes ao conceito de alta em hanseníase, utilizou-se a seguinte questão: quais as características do conceito são apontadas pelos autores na literatura pesquisada?

Como resposta à indagação, elencou-se alguns atributos do conceito de alta em hanseníase: conclusão da PQT66. Ramos JMH, Souto FJD. Incapacidade pós-tratamento em pacientes hansenianos em Várzea Grande, Estado de Mato Grosso. Rev Soc Bras Med Trop. 2010;43(3):293-7.,1111. Monteiro LD, Alencar CHM, Barbosa JC, Braga KP, Castro MD, Heukelbach J. Incapacidades físicas em pessoas acometidas pela hanseníase no período pós-alta da poliquimioterapia em um município no Norte do Brasil. Cad Saúde Pública. 2013;29(5):909-20.-1212. Souza LWF. Reações hansênicas em pacientes em alta por cura pela poliquimioterapia. Rev Soc Bras Med Trop . 2010;43(6):737-9.,1717. Sangi KCC, Miranda LF, Spíndola T, Leão AMM. Hanseníase e estado reacional: história de vida de pessoas acometidas. Rev Enferm UERJ. 2009;17(2):209-14.-1818. Enwereji E. Assessing psychological rehabilitation of leprosy patients discharged home in Abia and Ebonyi States of Nigeria. Eur J Gen Med. 2011;8(2):110-6.,2121. Castro LE, Cunha AJ, Fontana AP, Halfoun VLC, Gomes MK. Physical disability and social participation in patients affected by leprosy after discontinuation of multidrug therapy. Lepr Rev. 2014;85(3):208-17.; conclusão do esquema de PQT para casos paucibacilares (PB)66. Ramos JMH, Souto FJD. Incapacidade pós-tratamento em pacientes hansenianos em Várzea Grande, Estado de Mato Grosso. Rev Soc Bras Med Trop. 2010;43(3):293-7.,1414. Rodrigues ANP, Almeida AP, Rodrigues BF, Pinheiro CA, Borges DS, Mendonça MLH, et al. Ocorrência de reações em pacientes pós-alta por cura de hanseníase: subsídios para implementação de um programa de atenção específica. Hansen Int. 2000;25(1):7-16.,1717. Sangi KCC, Miranda LF, Spíndola T, Leão AMM. Hanseníase e estado reacional: história de vida de pessoas acometidas. Rev Enferm UERJ. 2009;17(2):209-14.; conclusão do esquema de PQT para casos multibacilares (MB)66. Ramos JMH, Souto FJD. Incapacidade pós-tratamento em pacientes hansenianos em Várzea Grande, Estado de Mato Grosso. Rev Soc Bras Med Trop. 2010;43(3):293-7.,1414. Rodrigues ANP, Almeida AP, Rodrigues BF, Pinheiro CA, Borges DS, Mendonça MLH, et al. Ocorrência de reações em pacientes pós-alta por cura de hanseníase: subsídios para implementação de um programa de atenção específica. Hansen Int. 2000;25(1):7-16.,1717. Sangi KCC, Miranda LF, Spíndola T, Leão AMM. Hanseníase e estado reacional: história de vida de pessoas acometidas. Rev Enferm UERJ. 2009;17(2):209-14.,2222. Sales AM, Campos DP, Hacker MA, Nery JAC, Düppre NC, Rangel E, et al. Progression of leprosy disability after discharge: is multidrug therapy enough? Trop Med Int Health. 2013;18(9):1145-53.; e cura da hanseníase66. Ramos JMH, Souto FJD. Incapacidade pós-tratamento em pacientes hansenianos em Várzea Grande, Estado de Mato Grosso. Rev Soc Bras Med Trop. 2010;43(3):293-7.,1111. Monteiro LD, Alencar CHM, Barbosa JC, Braga KP, Castro MD, Heukelbach J. Incapacidades físicas em pessoas acometidas pela hanseníase no período pós-alta da poliquimioterapia em um município no Norte do Brasil. Cad Saúde Pública. 2013;29(5):909-20.-1212. Souza LWF. Reações hansênicas em pacientes em alta por cura pela poliquimioterapia. Rev Soc Bras Med Trop . 2010;43(6):737-9.,1717. Sangi KCC, Miranda LF, Spíndola T, Leão AMM. Hanseníase e estado reacional: história de vida de pessoas acometidas. Rev Enferm UERJ. 2009;17(2):209-14.,2121. Castro LE, Cunha AJ, Fontana AP, Halfoun VLC, Gomes MK. Physical disability and social participation in patients affected by leprosy after discontinuation of multidrug therapy. Lepr Rev. 2014;85(3):208-17.-2222. Sales AM, Campos DP, Hacker MA, Nery JAC, Düppre NC, Rangel E, et al. Progression of leprosy disability after discharge: is multidrug therapy enough? Trop Med Int Health. 2013;18(9):1145-53..

Considera-se casos PB aqueles com até 5 leões corpórea, baciloscopia negativa e que não transmitem o bacilo. O esquema padrão de PQT para estes casos envolve doses de dapsona (tomadas diariamente) e rifampicina (dose supervisionada), distribuídas em 6 cartelas que devem ser tomadas em até 9 meses3131. Lastória JCL, Abreu MAMM. Hanseníase: diagnóstico e tratamento. Dermatologia. 2012;17(4):173-9.,3333. Crespo MJI, Gonçalves A, Padovani CR. Hanseníase: pauci e multibacilares estão sendo diferentes? Medicina. 2014;47(1):43-50..

Aqueles classificados como MB possuem mais de 5 lesões, baciloscopia positiva e são fonte de transmissão do M. leprae. Seu tratamento inclui a dapsona e clofazimina (tomadas diariamente), além da dose mensal supervisionada de rifampicina, cuja recomendação é de 12 cartelas em até 18 meses3131. Lastória JCL, Abreu MAMM. Hanseníase: diagnóstico e tratamento. Dermatologia. 2012;17(4):173-9.,3333. Crespo MJI, Gonçalves A, Padovani CR. Hanseníase: pauci e multibacilares estão sendo diferentes? Medicina. 2014;47(1):43-50.. O número de doses administradas e a duração da terapia multidroga, preconizada para tratar a hanseníase, é considerado o único critério para a alta por cura da doença2222. Sales AM, Campos DP, Hacker MA, Nery JAC, Düppre NC, Rangel E, et al. Progression of leprosy disability after discharge: is multidrug therapy enough? Trop Med Int Health. 2013;18(9):1145-53..

Com relação aos antecedentes, estes se referem aos acontecimentos que se apresentam antes ocorrência do conceito99. Walker LO, Avant KC. Strategies for theory construction in nursing. 5th ed. Upper Saddle River: Pearson Education; 2011., e foram identificados na literatura pesquisada a partir do seguinte questionamento: quais os eventos ou situações estão presentes antes da alta em hanseníase?

Verificou-se a ocorrência de alguns elementos caracterizados como antecedentes do conceito de alta em hanseníase. Inicialmente, tem-se a infecção pelo Mycobacterium leprae, através das vias aéreas superiores, podendo haver acometimento de pele e de nervos periféricos com alterações motoras e sensoriais1212. Souza LWF. Reações hansênicas em pacientes em alta por cura pela poliquimioterapia. Rev Soc Bras Med Trop . 2010;43(6):737-9.

13. Silva Sobrinho RA, Mathias TAF, Gomes EA, Lincoln PB. Avaliação do grau de incapacidade em hanseníase: uma estratégia para sensibilização e capacitação da equipe de enfermagem. Rev Latino-Am Enfermagem. 2007;15(6):1125-30.

14. Rodrigues ANP, Almeida AP, Rodrigues BF, Pinheiro CA, Borges DS, Mendonça MLH, et al. Ocorrência de reações em pacientes pós-alta por cura de hanseníase: subsídios para implementação de um programa de atenção específica. Hansen Int. 2000;25(1):7-16.

15. Nardi SMT, Paschoal VDA, Chiaravalloti-Neto F, Zanetta DMT. Deficiências após a alta medicamentosa da hanseníase: prevalência e distribuição espacial. Rev Saúde Pública . 2012;46(6):969-77.

16. Barbosa JC, Ramos Júnior AN, Alencar MJF, Castro CGJ. Pós-alta em hanseníase no Ceará: limitação da atividade funcional, consciência de risco e participação social. Rev Bras Enferm . 2008;61(esp):727-33.
-1717. Sangi KCC, Miranda LF, Spíndola T, Leão AMM. Hanseníase e estado reacional: história de vida de pessoas acometidas. Rev Enferm UERJ. 2009;17(2):209-14.,2222. Sales AM, Campos DP, Hacker MA, Nery JAC, Düppre NC, Rangel E, et al. Progression of leprosy disability after discharge: is multidrug therapy enough? Trop Med Int Health. 2013;18(9):1145-53..

Define-se um caso de hanseníase o indivíduo que apresente de forma isolada ou simultânea, uma ou mais das características: lesão na pele com comprometimento da sensibilidade, espessamento neural e baciloscopia positiva para hanseníase. A negativação da baciloscopia não exclui o caso como sendo de hanseníase3333. Crespo MJI, Gonçalves A, Padovani CR. Hanseníase: pauci e multibacilares estão sendo diferentes? Medicina. 2014;47(1):43-50.. Em 2015, a hanseníase apresentou o coeficiente de prevalência de 1,01 casos por 10 mil habitantes, com um total de 20.702 casos em registro ativo no dia 31 de dezembro do referido ano, mantendo-se portanto, acima da meta mundial de eliminação da hanseníase (menos de um caso a cada 10 mil habitantes) proposta pela OMS, com alto coeficiente de detecção em menores de 15 anos (4,46 por 100 mil habitantes)2626. Ministério da Saúde (BR). Indicadores epidemiológicos e operacionais de hanseníase: Brasil 2000-2015. Brasília (DF); 2016..

As alterações dermatoneurológicas são as principais manifestações clínicas e possuem elevado potencial incapacitante3333. Crespo MJI, Gonçalves A, Padovani CR. Hanseníase: pauci e multibacilares estão sendo diferentes? Medicina. 2014;47(1):43-50.. As lesões na pele mais comuns são: manchas esbranquiçadas ou avermelhadas, placas, infiltrações, tubérculos e nódulos. Os principais ramos nervosos periféricos acometidos são trigêmio, facial, ulnar, radial, mediano, fibular comum e tibial posterior. Com relação às incapacidades físicas, podem ser classificas em grau 0 (não há comprometimento neural nos olhos, nas mãos ou pés); grau I (indica presença de alteração na sensibilidade); e grau II (instaladas as incapacidades e deformidades como lagoftalmo, garras, reabsorção óssea, mãos e pés caídos, entre outros)3434. Ministério da Saúde (BR) , Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis . Diretrizes para vigilância, atenção e eliminação da hanseníase como problema de saúde pública. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2016..

As incapacidades físicas podem ser pioradas por ocasião das reações hansênicas, caracterizadas pela ação do sistema imunológico sobre o bacilo, podendo ser: do tipo 1 (reação reversa), desencadeada pela imunidade celular; ou do tipo 2 (eritema nodoso hansênico), relacionada à imunidade humoral3535. Ribeiro MDA, Oliveira SB, Filgueiras MC. Pós-alta em hanseníase: uma revisão sobre qualidade devida e conceito de cura. Rev Saúde Santa Maria. 2015;41(1):9-18.. O desenvolvimento de reações hansênicas antes da conclusão da PQT foi citado em alguns estudos1212. Souza LWF. Reações hansênicas em pacientes em alta por cura pela poliquimioterapia. Rev Soc Bras Med Trop . 2010;43(6):737-9.,1616. Barbosa JC, Ramos Júnior AN, Alencar MJF, Castro CGJ. Pós-alta em hanseníase no Ceará: limitação da atividade funcional, consciência de risco e participação social. Rev Bras Enferm . 2008;61(esp):727-33.-1717. Sangi KCC, Miranda LF, Spíndola T, Leão AMM. Hanseníase e estado reacional: história de vida de pessoas acometidas. Rev Enferm UERJ. 2009;17(2):209-14.,2020. Veen NHJV, Hemo DA, Bowers BL, Pahan D, Negrini JF, Velema JP, et al. Evaluation of activity limitation and social participation, and the effects of reconstructive surgery in people with disability due to leprosy: a prospective cohort study. Disabil Rehabil. 2011;33(8)667-74..

Contudo, faz-se necessário reforçar a importância do diagnóstico precoce, por ser o meio de controle da realidade brasileira, e início imediato do tratamento a fim de reduzir as sequelas e quebrar a cadeia de transmissão2121. Castro LE, Cunha AJ, Fontana AP, Halfoun VLC, Gomes MK. Physical disability and social participation in patients affected by leprosy after discontinuation of multidrug therapy. Lepr Rev. 2014;85(3):208-17.. Tais medidas foram identificadas em algumas publicações selecionadas para a presente análise de conceito66. Ramos JMH, Souto FJD. Incapacidade pós-tratamento em pacientes hansenianos em Várzea Grande, Estado de Mato Grosso. Rev Soc Bras Med Trop. 2010;43(3):293-7.,1313. Silva Sobrinho RA, Mathias TAF, Gomes EA, Lincoln PB. Avaliação do grau de incapacidade em hanseníase: uma estratégia para sensibilização e capacitação da equipe de enfermagem. Rev Latino-Am Enfermagem. 2007;15(6):1125-30.-1414. Rodrigues ANP, Almeida AP, Rodrigues BF, Pinheiro CA, Borges DS, Mendonça MLH, et al. Ocorrência de reações em pacientes pós-alta por cura de hanseníase: subsídios para implementação de um programa de atenção específica. Hansen Int. 2000;25(1):7-16.,1717. Sangi KCC, Miranda LF, Spíndola T, Leão AMM. Hanseníase e estado reacional: história de vida de pessoas acometidas. Rev Enferm UERJ. 2009;17(2):209-14.-1818. Enwereji E. Assessing psychological rehabilitation of leprosy patients discharged home in Abia and Ebonyi States of Nigeria. Eur J Gen Med. 2011;8(2):110-6.,2121. Castro LE, Cunha AJ, Fontana AP, Halfoun VLC, Gomes MK. Physical disability and social participation in patients affected by leprosy after discontinuation of multidrug therapy. Lepr Rev. 2014;85(3):208-17.-2222. Sales AM, Campos DP, Hacker MA, Nery JAC, Düppre NC, Rangel E, et al. Progression of leprosy disability after discharge: is multidrug therapy enough? Trop Med Int Health. 2013;18(9):1145-53., e constitui um antecedente do diagnóstico alta em hanseníase.

Reconhece-se que quanto maior o tempo de evolução da doença, maior será o grau de incapacidade adquirido, portanto quanto mais cedo diagnosticada e indicado o tratamento, maior a probabilidade de prevenção de incapaciades físicas. Reforça-se a necessidade de desenvolver ações de educação em saúde como um meio de divulgar os sinais e sintomas da hanseníase a fim de de favorecer o diagnóstico precoce2222. Sales AM, Campos DP, Hacker MA, Nery JAC, Düppre NC, Rangel E, et al. Progression of leprosy disability after discharge: is multidrug therapy enough? Trop Med Int Health. 2013;18(9):1145-53.,3434. Ministério da Saúde (BR) , Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis . Diretrizes para vigilância, atenção e eliminação da hanseníase como problema de saúde pública. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2016.

35. Ribeiro MDA, Oliveira SB, Filgueiras MC. Pós-alta em hanseníase: uma revisão sobre qualidade devida e conceito de cura. Rev Saúde Santa Maria. 2015;41(1):9-18.
-3636. Pinheiro MGC, Medeiros IBG, Monteiro AI, Simpson CA. O enfermeiro e a temática da hanseníase no contexto escolar: relato de experiência. Rev Pesqui Cuid Fundam. 2015;7(3):2774-80.. Nesse sentido, os contatos familiares recentes ou antigos de pacientes MB e PB devem ser examinados, independente do tempo de convívio3434. Ministério da Saúde (BR) , Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis . Diretrizes para vigilância, atenção e eliminação da hanseníase como problema de saúde pública. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2016..

Dando continuidade às etapas de análise, os consequentes do conceito são definidos como um elemento resultante da ocorrência do conceito99. Walker LO, Avant KC. Strategies for theory construction in nursing. 5th ed. Upper Saddle River: Pearson Education; 2011.. Os consequentes “saída do registro ativo de caso de hanseníase” “continuidade da atenção em saúde” foram identificados neste estudo a partir da seguinte indagação: quais os eventos resultantes da alta em hanseníase?

A exclusão de pacientes do registro ativo de casos de hanseníase é um dos consequentes encontrados66. Ramos JMH, Souto FJD. Incapacidade pós-tratamento em pacientes hansenianos em Várzea Grande, Estado de Mato Grosso. Rev Soc Bras Med Trop. 2010;43(3):293-7.,1111. Monteiro LD, Alencar CHM, Barbosa JC, Braga KP, Castro MD, Heukelbach J. Incapacidades físicas em pessoas acometidas pela hanseníase no período pós-alta da poliquimioterapia em um município no Norte do Brasil. Cad Saúde Pública. 2013;29(5):909-20.. Enfatiza-se que a conclusão da PQT está intrinsecamente relacionada à exclusão do usuário do registro ativo, deixando de ser sistematicamente monitorado e acompanhado pelos serviços de saúde1111. Monteiro LD, Alencar CHM, Barbosa JC, Braga KP, Castro MD, Heukelbach J. Incapacidades físicas em pessoas acometidas pela hanseníase no período pós-alta da poliquimioterapia em um município no Norte do Brasil. Cad Saúde Pública. 2013;29(5):909-20..

Uma vez excluído do registro ministerial, destaca-se a continuidade da atenção em saúde1111. Monteiro LD, Alencar CHM, Barbosa JC, Braga KP, Castro MD, Heukelbach J. Incapacidades físicas em pessoas acometidas pela hanseníase no período pós-alta da poliquimioterapia em um município no Norte do Brasil. Cad Saúde Pública. 2013;29(5):909-20.,1414. Rodrigues ANP, Almeida AP, Rodrigues BF, Pinheiro CA, Borges DS, Mendonça MLH, et al. Ocorrência de reações em pacientes pós-alta por cura de hanseníase: subsídios para implementação de um programa de atenção específica. Hansen Int. 2000;25(1):7-16.

15. Nardi SMT, Paschoal VDA, Chiaravalloti-Neto F, Zanetta DMT. Deficiências após a alta medicamentosa da hanseníase: prevalência e distribuição espacial. Rev Saúde Pública . 2012;46(6):969-77.
-1616. Barbosa JC, Ramos Júnior AN, Alencar MJF, Castro CGJ. Pós-alta em hanseníase no Ceará: limitação da atividade funcional, consciência de risco e participação social. Rev Bras Enferm . 2008;61(esp):727-33.,1818. Enwereji E. Assessing psychological rehabilitation of leprosy patients discharged home in Abia and Ebonyi States of Nigeria. Eur J Gen Med. 2011;8(2):110-6.,2020. Veen NHJV, Hemo DA, Bowers BL, Pahan D, Negrini JF, Velema JP, et al. Evaluation of activity limitation and social participation, and the effects of reconstructive surgery in people with disability due to leprosy: a prospective cohort study. Disabil Rehabil. 2011;33(8)667-74.

21. Castro LE, Cunha AJ, Fontana AP, Halfoun VLC, Gomes MK. Physical disability and social participation in patients affected by leprosy after discontinuation of multidrug therapy. Lepr Rev. 2014;85(3):208-17.
-2222. Sales AM, Campos DP, Hacker MA, Nery JAC, Düppre NC, Rangel E, et al. Progression of leprosy disability after discharge: is multidrug therapy enough? Trop Med Int Health. 2013;18(9):1145-53., considerado outro consequente do conceito de alta em hanseníase. A necessidade de acompanhamento se dá por ocasião da possibilidade do agravamento do grau de incapacidade física66. Ramos JMH, Souto FJD. Incapacidade pós-tratamento em pacientes hansenianos em Várzea Grande, Estado de Mato Grosso. Rev Soc Bras Med Trop. 2010;43(3):293-7.,1111. Monteiro LD, Alencar CHM, Barbosa JC, Braga KP, Castro MD, Heukelbach J. Incapacidades físicas em pessoas acometidas pela hanseníase no período pós-alta da poliquimioterapia em um município no Norte do Brasil. Cad Saúde Pública. 2013;29(5):909-20.,1313. Silva Sobrinho RA, Mathias TAF, Gomes EA, Lincoln PB. Avaliação do grau de incapacidade em hanseníase: uma estratégia para sensibilização e capacitação da equipe de enfermagem. Rev Latino-Am Enfermagem. 2007;15(6):1125-30.

14. Rodrigues ANP, Almeida AP, Rodrigues BF, Pinheiro CA, Borges DS, Mendonça MLH, et al. Ocorrência de reações em pacientes pós-alta por cura de hanseníase: subsídios para implementação de um programa de atenção específica. Hansen Int. 2000;25(1):7-16.

15. Nardi SMT, Paschoal VDA, Chiaravalloti-Neto F, Zanetta DMT. Deficiências após a alta medicamentosa da hanseníase: prevalência e distribuição espacial. Rev Saúde Pública . 2012;46(6):969-77.
-1616. Barbosa JC, Ramos Júnior AN, Alencar MJF, Castro CGJ. Pós-alta em hanseníase no Ceará: limitação da atividade funcional, consciência de risco e participação social. Rev Bras Enferm . 2008;61(esp):727-33.,2121. Castro LE, Cunha AJ, Fontana AP, Halfoun VLC, Gomes MK. Physical disability and social participation in patients affected by leprosy after discontinuation of multidrug therapy. Lepr Rev. 2014;85(3):208-17.-2222. Sales AM, Campos DP, Hacker MA, Nery JAC, Düppre NC, Rangel E, et al. Progression of leprosy disability after discharge: is multidrug therapy enough? Trop Med Int Health. 2013;18(9):1145-53., desenvolvimento de reações hansênicas1212. Souza LWF. Reações hansênicas em pacientes em alta por cura pela poliquimioterapia. Rev Soc Bras Med Trop . 2010;43(6):737-9.,1414. Rodrigues ANP, Almeida AP, Rodrigues BF, Pinheiro CA, Borges DS, Mendonça MLH, et al. Ocorrência de reações em pacientes pós-alta por cura de hanseníase: subsídios para implementação de um programa de atenção específica. Hansen Int. 2000;25(1):7-16.,1717. Sangi KCC, Miranda LF, Spíndola T, Leão AMM. Hanseníase e estado reacional: história de vida de pessoas acometidas. Rev Enferm UERJ. 2009;17(2):209-14.,2121. Castro LE, Cunha AJ, Fontana AP, Halfoun VLC, Gomes MK. Physical disability and social participation in patients affected by leprosy after discontinuation of multidrug therapy. Lepr Rev. 2014;85(3):208-17.-2222. Sales AM, Campos DP, Hacker MA, Nery JAC, Düppre NC, Rangel E, et al. Progression of leprosy disability after discharge: is multidrug therapy enough? Trop Med Int Health. 2013;18(9):1145-53. e eventuais episódios de recidiva1212. Souza LWF. Reações hansênicas em pacientes em alta por cura pela poliquimioterapia. Rev Soc Bras Med Trop . 2010;43(6):737-9.,1717. Sangi KCC, Miranda LF, Spíndola T, Leão AMM. Hanseníase e estado reacional: história de vida de pessoas acometidas. Rev Enferm UERJ. 2009;17(2):209-14.,1919. Brito MFM, Ximenes RAA, Gallo MEN. O retratamento por recidiva em hanseníase. An Bras Dermatol. 2005;80(3):255-60..

Os profissionais, incluindo os gestores, frequentemente associam a alta medicamentosa à alta dos serviços para acompanhamento do usuário que concluiu o tratamento para hanseníase, na medida em que estão orientados para a gestão, planejamento e avaliação, numa perspectiva processual3434. Ministério da Saúde (BR) , Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis . Diretrizes para vigilância, atenção e eliminação da hanseníase como problema de saúde pública. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2016.. Nesse sentido, espera-se da rede de atenção uma estrutura para dar seguimento adequado, com agendamento de retorno, mesmo estando fora do registro ativo de casos de hanseníase77. Nardi SMT, Paschoal VDA, Chiaravalloti-Neto F, Zanetta DMT. Deficiências após a alta medicamentosa da hanseníase: prevalência e distribuição espacial. Rev Saúde Pública. 2012;46(6):969-77.,1111. Monteiro LD, Alencar CHM, Barbosa JC, Braga KP, Castro MD, Heukelbach J. Incapacidades físicas em pessoas acometidas pela hanseníase no período pós-alta da poliquimioterapia em um município no Norte do Brasil. Cad Saúde Pública. 2013;29(5):909-20.,3737. Queiroz TA, Carvalho FPB, Simpson CA, Fernandes ACL, Figueirêdo DLA, Knackfuss MI. Perfil clínico e epidemiológico de pacientes em reação hansênica. Rev Gaúcha Enferm. 2015;36(esp):185-91..

Na perspectiva de prestar uma atenção integral, faz-se necessário a estruturação de uma equipe multiprofissional capacitada para o acompanhamento conforme a individualidade dos pacientes que concluíram o tratamento com a PQT22. Rodrigues FF, Calou CGP, Leandro TA, Antezana FJ, Pinheiro AKB, Silva VM et al. Conhecimento e prática dos enfermeiros sobre hanseníase: ações de controle e eliminação. Rev Bras Enferm. 2015;68(2):297-304.. Para tanto, estima-se a relevância em se conhecer os determinantes sociais que envolvem o processo saúde-doença entorno da hanseníase a fim de garantir a integralidade da atenção à saúde e dar resposta às iniquidades sociais2828. Lopes VAS, Rangel EM. Hanseníase e vulnerabilidade social: uma análise do perfil socioeconômico de usuários em tratamento irregular. Saúde Debate. 2014;38(103):817-29..

A Portaria nº 149/2016 do Ministério da Saúde, estabelece as diretrizes para vigilância, atenção e eliminação da hanseníase como um problema de saúde pública com o fortalecimento das ações de vigilância e atenção da hanseníase, a organização da rede de atenção integral e promoção da saúde, com base na comunicação, educação e mobilização social3434. Ministério da Saúde (BR) , Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis . Diretrizes para vigilância, atenção e eliminação da hanseníase como problema de saúde pública. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2016..

No que concerne ao enfermeiro, cabe a prestação de um plano de cuidados que integre o reconhecimento da subjetividade dos indivíduos, em face ao contexto histórico de segregação e estigma em volta da hanseníase, indo além do reconhecimento enquanto corpo biológico3737. Queiroz TA, Carvalho FPB, Simpson CA, Fernandes ACL, Figueirêdo DLA, Knackfuss MI. Perfil clínico e epidemiológico de pacientes em reação hansênica. Rev Gaúcha Enferm. 2015;36(esp):185-91.

38. Pinheiro MGC, Simpson CA, Tourinho FSV. Análise contextual do atendimento aos portadores de hanseníase na atenção primária à saúde. Rev Pesqui Cuid Fundam. 2014;6(supl):187-95.
-3939. Pinheiro MGC, Miranda FAN, Simpson CA, Vitor AF, Lira ANBC. Limitações e incapacidades físicas no pós-alta em hanseníase: uma revisão integrativa. Rev Baiana Enferm. 2016;30(2):1-11..

Os atributos antecedentes e consequentes do conceito “alta em hanseníase”, os quais se complementam e ampliam a compreensão do conceito, estão apresentados no quadro 1. Neste sentido, atende à recomendação da produção e a divulgação das informações sobre tratamento/cura/alta em hanseníase através das análises e das avaliações da efetividade das intervenções como subsídios para o planejamento de novas ações e recomendações a serem implementadas nas esferas da atenção em saúde.

Quadro 1:
Atributos, antecedentes e consequentes do conceito de alta em hanseníase. Natal/RN, 2015-2016

Caso modelo de alta em hanseníase

O caso modelo tem por finalidade fazer uma ilustração paradigmática do conceito, mediante a exemplificação de um caso que apresente atributos definidores99. Walker LO, Avant KC. Strategies for theory construction in nursing. 5th ed. Upper Saddle River: Pearson Education; 2011..Como modelo para o conceito de alta em hanseníase, cita-se o caso seguinte.

Paciente feminino, 37 anos, compareceu ao serviço de saúde com machas hipocoradas na pele (totalizando 8), ditas como dormentes. Também apresentava espessamento do nervo ulnar. Ao realizar baciloscopia para hanseníase, apresentou resultado positivo. Foi diagnosticada como caso de hanseníase e iniciou a PQT para casos MB. Durante nove meses realizou o tratamento com PQT específica para hanseníase, com acompanhamento mensal para tomada de dose supervisionada. Ao concluir o tratamento no prazo, foi considerado curado e recebeu alta em hanseníase, saindo do registro ativo de caso de casos. Porém, por apresentar incapacidade física em grau I, continuou recebendo acompanhamento pelos serviços de saúde.

Este caso fictício apresenta os atributos inerentes ao conceito de alta em hanseníase, como conclusão do tratamento e cura em hanseníase, bem como antecedentes e elementos consequentes ao conceito.

Caso contrário de alta em hanseníase

Caso contrário constitui exemplo claro daquilo que não representa o conceito99. Walker LO, Avant KC. Strategies for theory construction in nursing. 5th ed. Upper Saddle River: Pearson Education; 2011.. A seguir, apresenta-se um caso contrário do conceito de alta em hanseníase.

Paciente masculino, 28 anos, foi diagnosticado como caso de hanseníase PB por apresentar penas uma mancha hipocorada, porém com alteração de sensibilidade, além de baciloscopia negativa. Iniciou a PQT específica para casos PB e após 4 meses de tratamento referiu melhora da sensibilidade, deixando de fazer uso da medicação.

Este caso contrário fictício contradiz os atributos essenciais para identificação do conceito de alta em hanseníase. Embora diagnosticado, iniciado o tratamento com apresentação de melhora clínica, o paciente não concluiu o esquema completo da PQT para casos PB, não obtendo a cura em hanseníase.

Considerações Finais

O conceito de “alta em hanseníase”, resultante da presente análise conceitual, se inscreve como uma condição clínica na qual o paciente, inicialmente infectado pelo M. leprae e diagnosticado como um caso de hanseníase, iniciou e concluiu o tratamento, quer seja para caso PB, quer seja para MB no prazo estimado pela OMS. Chama-se a atenção para o fato de que após a conclusão da PQT e da exclusão do registro ativo de casos de hanseníase a pessoa atingida pela doença, geralmente, continua recebendo acompanhamento em decorrência das incapacidades físicas adquiridas, ou pela possibilidade de apresentar uma reação hansênica.

Considera-se que o conceito “alta na hanseníase” ultrapassa os limites da concepção simplificada da alta da pessoa atingida pela doença. A concepção restrita e conclusiva da terapia medicamentosa é apenas um aspecto dimensional da problemática, que carece de mais estudos, dada a sua complexidade. Portanto, a alta do paciente é um fenômeno relatado na literatura de forma equivocada, simplista e unilateral, que focaliza a conclusão da PQT/OMS para hanseníase com concludente inatividade do bacilo de Hansen.

Nesse sentido, a pessoa atingida pela hanseníase migra da circunscrição das doenças negligenciadas e se insere no rol das doenças crônicas e incapacitantes. Dito de outra forma, ela deixa de ser uma doença infectocontagiosa e passa a uma condição crônica de incapacidades, além da possibilidade do surgimento de reações imunológicas nos indivíduos que receberam alta.

O consequente ao conceito de alta de hanseníase, “continuidade da atenção em saúde”, apresenta relevância à prática clínica, para além da vigilância, atenção e eliminação da hanseníase como problema de saúde pública no Brasil. Destarte, requer e espera-se agilidade nas reorientações de ações e serviços em saúde vistas a uma atenção qualificada àquele que concluiu o tratamento específico para hanseníase e que, embora se encontre em alta, requer cuidados específicos em saúde.

Por conseguinte, o conceito de “alta em hanseníase” se torna ampliado, para além da clínica focada na eliminação e controle, para a vigilância, atenção e eliminação da hanseníase como um problema de saúde pública, pela estratégia de saúde da família e centros de referência, que a seu turno irá exigir um redesenho da postura e ação profissionais de saúde, em particular do enfermeiro e da sociedade.

Este estudo pode contribuir com o ensino de saúde/enfermagem no sentido de apontar que a assistência à saúde não pode ser interrompida e a responsabilidade pelo paciente não pode ser esquecida pela estratégia saúde da família ou pelos serviços especializados, mesmo à luz da denotação semântica do substantivo “alta”, ferindo o princípio da integralidade da atenção à saúde.

A educação para o SUS não pode se ater a manuais e normas reducionistas, de encontro à formação de profissionais críticos e reflexivos, os quais ensejam uma visão ampliada para além do corpo biológico, ao considerar também as necessidades de saúde da população sob sua responsabilidade, pautada não apenas no paradigma da cura, mas na promoção à saúde dos indivíduos e da população, bem como prevenção de agravos.

Como limitação do estudo, cita-se a restrição das publicações nos idiomas em português, inglês e espanhol, deixando de incluir outros possíveis estudos nas demais línguas; além das bases de dados utilizadas, que poderia ser expandido para outras relevantes, o que reforça a tese da indexação da hanseníase como doenças negligenciadas ou aquelas negligenciadas em tratamento.

Referências

  • 1
    Souza IA, Ayres JA, Meneguin S, Spagnolo RS. Autocuidado na percepção de pessoas com hanseníase sob a ótica da complexidade. Esc Anna Nery. 2014;18(3):510-4.
  • 2
    Rodrigues FF, Calou CGP, Leandro TA, Antezana FJ, Pinheiro AKB, Silva VM et al. Conhecimento e prática dos enfermeiros sobre hanseníase: ações de controle e eliminação. Rev Bras Enferm. 2015;68(2):297-304.
  • 3
    World Health Organization (CH). Global leprosy situation, 2012. Wkly Epidemiol Rec. 2012;87(34):317-28.
  • 4
    Santos KS, Fortuna CM, Santana FR, Gonçalves MFC, Marciano FM, Matumoto S. Significado da hanseníase para pessoas que viveram o tratamento no período sulfônico e da poliquimioterapia. Rev Latino-am Enfermagem. 2015;23(4);620-7.
  • 5
    Monteiro LD, Alencar CH, Barbosa JC, Novaes CCBS, Silva RCP, Heukelbach J. Pós-alta de hanseníase: limitação de atividade e participação social em área hiperendêmica do norte do Brasil. Rev Bras Epidemiol. 2014;17(1):91-104.
  • 6
    Ramos JMH, Souto FJD. Incapacidade pós-tratamento em pacientes hansenianos em Várzea Grande, Estado de Mato Grosso. Rev Soc Bras Med Trop. 2010;43(3):293-7.
  • 7
    Nardi SMT, Paschoal VDA, Chiaravalloti-Neto F, Zanetta DMT. Deficiências após a alta medicamentosa da hanseníase: prevalência e distribuição espacial. Rev Saúde Pública. 2012;46(6):969-77.
  • 8
    Lanza FM, Vieira NF, Oliveira MMC, Lana FCF. Avaliação das ações de hanseníase desenvolvidas na atenção primária: proposta de um instrumento para gestores. Rev Min Enferm. 2014;8(3):598-605.
  • 9
    Walker LO, Avant KC. Strategies for theory construction in nursing. 5th ed. Upper Saddle River: Pearson Education; 2011.
  • 10
    Whittemore R, Knafl K. The integrative review: updated methodology. J Adv Nurs. 2005;52(5):546-53.
  • 11
    Monteiro LD, Alencar CHM, Barbosa JC, Braga KP, Castro MD, Heukelbach J. Incapacidades físicas em pessoas acometidas pela hanseníase no período pós-alta da poliquimioterapia em um município no Norte do Brasil. Cad Saúde Pública. 2013;29(5):909-20.
  • 12
    Souza LWF. Reações hansênicas em pacientes em alta por cura pela poliquimioterapia. Rev Soc Bras Med Trop . 2010;43(6):737-9.
  • 13
    Silva Sobrinho RA, Mathias TAF, Gomes EA, Lincoln PB. Avaliação do grau de incapacidade em hanseníase: uma estratégia para sensibilização e capacitação da equipe de enfermagem. Rev Latino-Am Enfermagem. 2007;15(6):1125-30.
  • 14
    Rodrigues ANP, Almeida AP, Rodrigues BF, Pinheiro CA, Borges DS, Mendonça MLH, et al. Ocorrência de reações em pacientes pós-alta por cura de hanseníase: subsídios para implementação de um programa de atenção específica. Hansen Int. 2000;25(1):7-16.
  • 15
    Nardi SMT, Paschoal VDA, Chiaravalloti-Neto F, Zanetta DMT. Deficiências após a alta medicamentosa da hanseníase: prevalência e distribuição espacial. Rev Saúde Pública . 2012;46(6):969-77.
  • 16
    Barbosa JC, Ramos Júnior AN, Alencar MJF, Castro CGJ. Pós-alta em hanseníase no Ceará: limitação da atividade funcional, consciência de risco e participação social. Rev Bras Enferm . 2008;61(esp):727-33.
  • 17
    Sangi KCC, Miranda LF, Spíndola T, Leão AMM. Hanseníase e estado reacional: história de vida de pessoas acometidas. Rev Enferm UERJ. 2009;17(2):209-14.
  • 18
    Enwereji E. Assessing psychological rehabilitation of leprosy patients discharged home in Abia and Ebonyi States of Nigeria. Eur J Gen Med. 2011;8(2):110-6.
  • 19
    Brito MFM, Ximenes RAA, Gallo MEN. O retratamento por recidiva em hanseníase. An Bras Dermatol. 2005;80(3):255-60.
  • 20
    Veen NHJV, Hemo DA, Bowers BL, Pahan D, Negrini JF, Velema JP, et al. Evaluation of activity limitation and social participation, and the effects of reconstructive surgery in people with disability due to leprosy: a prospective cohort study. Disabil Rehabil. 2011;33(8)667-74.
  • 21
    Castro LE, Cunha AJ, Fontana AP, Halfoun VLC, Gomes MK. Physical disability and social participation in patients affected by leprosy after discontinuation of multidrug therapy. Lepr Rev. 2014;85(3):208-17.
  • 22
    Sales AM, Campos DP, Hacker MA, Nery JAC, Düppre NC, Rangel E, et al. Progression of leprosy disability after discharge: is multidrug therapy enough? Trop Med Int Health. 2013;18(9):1145-53.
  • 23
    Pinheiro MGC, Silva SYB, Silva FS, Ataide CAV, Lima IB, Simpson CA. Conhecimento sobre prevenção de incapacidades em um grupo de autocuidado em hanseníase. Rev Min Enferm. 2014;18(4):895-900.
  • 24
    Araújo AERA, Aquino DMC, Goulart IMB, Pereira SRF, Figueiredo IA, Serra HO, et al. Complicações neurais e incapacidades em hanseníase em capital do nordeste brasileiro com alta endemicidade. Rev Bras Epidemiol. 2014;17(4)899-910.
  • 25
    Barbosa JC, Ramos Junior AN, Alencar OM, Pinto MSP, Castro CGJ. Atenção pós-alta em hanseníase no Sistema Único de Saúde: aspectos relativos ao acesso na região Nordeste. Cad Saúde Colet. 2014;22(4):351-8.
  • 26
    Ministério da Saúde (BR). Indicadores epidemiológicos e operacionais de hanseníase: Brasil 2000-2015. Brasília (DF); 2016.
  • 27
    Gomes ECS. Conceitos e ferramentas da epidemiologia. Recife: Ed. Universitária da UFPE; 2015.
  • 28
    Lopes VAS, Rangel EM. Hanseníase e vulnerabilidade social: uma análise do perfil socioeconômico de usuários em tratamento irregular. Saúde Debate. 2014;38(103):817-29.
  • 29
    Ferreira SMB, Ignotti E, Gamba MA. Fatores associados à recidiva em hanseníase em Mato Grosso. Rev Saúde Pública . 2011;45(4):756-64.
  • 30
    Monteiro LD, Martins-Melo FR, Brito AL, Lima MS, Alencar CH, Heukelbach J. Tendências da hanseníase no Tocantins, um estado hiperendêmico do Norte do Brasil, 2001-2012. Cad Saúde Pública. 2015;31(5):971-80.
  • 31
    Lastória JCL, Abreu MAMM. Hanseníase: diagnóstico e tratamento. Dermatologia. 2012;17(4):173-9.
  • 32
    Ferreira ABH. Dicionário da língua portuguesa. Curitiba: Positivo; 2010.
  • 33
    Crespo MJI, Gonçalves A, Padovani CR. Hanseníase: pauci e multibacilares estão sendo diferentes? Medicina. 2014;47(1):43-50.
  • 34
    Ministério da Saúde (BR) , Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis . Diretrizes para vigilância, atenção e eliminação da hanseníase como problema de saúde pública. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2016.
  • 35
    Ribeiro MDA, Oliveira SB, Filgueiras MC. Pós-alta em hanseníase: uma revisão sobre qualidade devida e conceito de cura. Rev Saúde Santa Maria. 2015;41(1):9-18.
  • 36
    Pinheiro MGC, Medeiros IBG, Monteiro AI, Simpson CA. O enfermeiro e a temática da hanseníase no contexto escolar: relato de experiência. Rev Pesqui Cuid Fundam. 2015;7(3):2774-80.
  • 37
    Queiroz TA, Carvalho FPB, Simpson CA, Fernandes ACL, Figueirêdo DLA, Knackfuss MI. Perfil clínico e epidemiológico de pacientes em reação hansênica. Rev Gaúcha Enferm. 2015;36(esp):185-91.
  • 38
    Pinheiro MGC, Simpson CA, Tourinho FSV. Análise contextual do atendimento aos portadores de hanseníase na atenção primária à saúde. Rev Pesqui Cuid Fundam. 2014;6(supl):187-95.
  • 39
    Pinheiro MGC, Miranda FAN, Simpson CA, Vitor AF, Lira ANBC. Limitações e incapacidades físicas no pós-alta em hanseníase: uma revisão integrativa. Rev Baiana Enferm. 2016;30(2):1-11.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Jun 2018
  • Data do Fascículo
    2017

Histórico

  • Recebido
    23 Mar 2016
  • Aceito
    21 Mar 2017
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Escola de Enfermagem Rua São Manoel, 963 -Campus da Saúde , 90.620-110 - Porto Alegre - RS - Brasil, Fone: (55 51) 3308-5242 / Fax: (55 51) 3308-5436 - Porto Alegre - RS - Brazil
E-mail: revista@enf.ufrgs.br