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As lésbicas têm essa mania de sair daqui pra lá, daqui pra acolá...: entrevista com Heliana Hemetério

Lesbians Have This Habit of Going from Here to There, From Here to There...: interview with Heliana Hemetério

Las lesbianas tienen esta manía de ir de aquí para allá, de aquí para acolá...: entrevista con Heliana Hemetério

A afirmação escolhida para ser título é de Heliana Hemetério, lésbica, negra, feminista, que saiu do Rio de Janeiro para o Paraná, ao se casar com Ângela Maria Martins, como nos contou nesta entrevista pensada para a Revista de Estudos Feministas. Chamada de griô1 1 Griô representa um “abrasileiramento do termo Griot, definido como o arcabouço do universo da tradição oral africana” (SILVA, 2015, p. 14). (Ariana Mara da SILVA, 2015SILVA, Ariana Mara. Griôs Sapatonas Brasileiras e Lampião da Esquina: o contraste das questões de gênero, raça e sexualidade na fonte oral e na fonte escrita. 2015. Graduação (História da América Latina, Instituto Latino-Americano de Arte, Cultura e História) - Universidade Federal da Integração Latino-Americana, Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil.) em trabalhos acadêmicos e matérias da mídia alternativa, Heliana Hemetério iniciou sua militância em 1986 no movimento negro, depois passou a atuar no movimento de mulheres negras e feministas. Na década de 1990, passou a militar em coletivos LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros), atuando especialmente no combate ao racismo e à LGBTfobia. Historiadora, especialista em gênero e raça, participou do Conselho Nacional de Saúde representando o segmento LGBT. Em 2018, foi vice-presidenta da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Travestis e Transgêneros. No Fazendo Gênero 2017, foi palestrante na mesa LGBTfobia na Vida e na Saúde das Mulheres. Nesta entrevista, Heliana Hemetério, que está com 69 anos de idade, lembra que, historicamente, as lésbicas são lideranças do movimento feminista; reafirma o lugar das lésbicas no movimento de mulheres e nos conta quem é exemplo para essa griô. A entrevista foi realizada no dia 29 de março de 2021, em uma sala do google, na Internet. Na ocasião, também estiveram presentes a professora Daniela Auad, minha companheira nesta entrevista e em outras tantas searas da vida, e a professora e militante Ângela Maria Martins, companheira de Heliana.

Cláudia Lahni (CL): Heliana Hemetério, é uma alegria e uma honra conversar com você para a entrevista para a Revista de Estudos Feministas. Em tempos de pandemia, você já foi vacinada contra a Covid-19?

Heliana Hemetério (HH): Hoje. Exatamente hoje (29 de março de 2021).

CL: Que maravilha! Como você está vendo essa situação de pandemia pela qual o nosso país (o mundo, mas pensando especialmente a situação do Brasil) passa na atualidade?

HH: Olha, eu posso dizer a vocês que eu nunca pensei que eu fosse, na minha vida, passar por pandemia alguma. Isso era uma coisa que não existia na minha vida. E passar a pandemia dessa maneira que nós estamos passando é pior ainda, né? O presidente negacionista, uma população que ainda acredita nele... Isso é o que mais me incomoda. Ele tem um número enorme de pessoas que apoiam ele, que não são somente pessoas sem conhecimento, pessoas das igrejas neopentecostais... Exemplo: Eu tenho uma comadre. Eu sou madrinha de crisma da filha dela. Ela está hoje com 83 anos, professora de História. Eu tô rompida. Eu decidi esses dias e falei: “Não quero mais conversar com você”. Ela defende ele (o presidente Jair Bolsonaro) o tempo todo [...]. E ela não é a única, ela tem uma roda de amigas. Todas assim. Ela ficou danada e me chamou de comunista. Eu falei: “Eu não acredito, você esqueceu tudo o que você estudou nessa vida?”. Então, Cláudia, a gente tá perante um governo que a classe pobre neopentecostal elegeu e que a classe média também tá envolvida com ele. E a elite. Mas a elite a gente esquece. Que a elite é a elite. Os empresários tão aí, ganharam milhões, coisa e tal. Então pronto, faz parte do processo. E aí você fala em tempo de pandemia, o que é que eu penso? Eu fico pasma e fico com medo. Eu hoje sou uma pessoa amedrontada desse homem ser reeleito, porque a esquerda tá totalmente desorganizada, sabe? Eu acho um pecado, literalmente um pecado, essa coisa de Lula voltou. Deixa Lula em paz, deixa Lula envelhecer, deixa Lula viver a segunda esposa... Como ele disse no debate, ele perdeu a mulher dele com uma dor... Deixa Lula, vamos pensar o que é que essa esquerda vai fazer, né? Quem ela vai construir? Porque é uma construção pra você tentar, e tentar de maneira muito forte, derrubar Bolsonaro. A outra coisa, dando continuidade ao que você perguntou sobre como eu vejo a pandemia, é que eu tenho horror a essa história que tá ali no Facebook de que “nos tornamos pessoas melhores”, “a pandemia não poupou ninguém”, “os ricos não têm hospital”. Eles não têm, não têm mesmo. Agora, o fato de os ricos não terem leitos, não terem UTI, os planos de saúde não poderem dar atenção, não quer dizer, querida, que eles melhoraram não. Eles não vão melhorar nada. Não acredito em redenção. Então, a partir disso, eu posso começar a pensar como eu tô pensando, sobre a exclusão da pandemia, quem tá desempregado, onde estamos nós, as lésbicas, na pandemia... Quando você vê as campanhas de alimento, do desemprego, ninguém fala que, entre aquelas mulheres com crianças, existem mulheres lésbicas, existem mulheres bissexuais... Olha, ontem mesmo, quem olhou o Facebook, não sei se vocês são amigas dela, mas é uma menina de Natal, tá fazendo pós-graduação, é uma trans. A Rebeca de França. Tá lá na campanha desde que começou a pandemia, sabe? A instituição dela tá distribuindo bolsa de alimento pras companheiras trans. Trans distribuindo bolsa para trans. Ninguém inclui as trans que tão na calçada, que precisam trabalhar no trabalho do sexo. Como é que é isso? Se elas comem, se elas não comem... Porque elas também são chefes de família. Nós, que somos do movimento, nós sabemos da história delas. São chefes de família, muitas são mães, feito Bárbara Pestana, que é lá do Amazonas e que é a mãe do Joaquim. Se não é o filho, é o sobrinho. Se não é o sobrinho, é a mãe. Se não é a mãe, é a cunhada... Essas relações familiares que nós temos e ninguém lembra. Não se há um recorte, você não tem esse recorte. E mesmo quando se fala em mulheres necessitadas, ninguém fala das mulheres negras. Essas é que tão na base, são elas que tão se lascando. Nós que estamos sempre nos lascando. E ninguém fala disso. Eu acho que a pandemia traz hoje a oportunidade da gente reconstruir uma sociedade. Por exemplo, quem acompanha a plataforma política escuta muito: “Vamos fazer uma nova sociedade”. Mas como? Porque eu não vejo nada. O desenho da nova sociedade, quando você vai pra plataforma, não muda. E você não vê a inclusão da população negra. Eu quero falar da inclusão das mulheres negras. Quem tá segurando essa sociedade somos nós, mulheres negras. E aí, entre nós mulheres negras, somos nós as lésbicas, porque quando você vai olhar o movimento de mulheres negras, tá cheio de lésbica na liderança e visibilizada. Bom, eu tô falando por mim, né? Eu digo sempre aqui em casa: “Ângela, se eu fosse hétero, eu estaria num outro patamar de reconhecimento”. Porque eu era uma hétero. Então, eu sou conhecida como lésbica. Outro dia teve um debate parlamentar e aí a menina reclamou: “Heliana, a Erika Kokay se referiu a você como lésbica e não como mulher negra”. “Querida, a Erika Kokay me conhece do movimento de lésbicas. Ela sabe que eu sou do movimento de mulheres negras, mas o meu papel é falar enquanto lésbica negra”.

Daniela Auad (DA): O que é que a gente pode esperar dos movimentos sociais e dos partidos políticos, a partir do acirramento e do aprofundamento das desigualdades que a pandemia nos traz?

HH: Pra mim, tem uma coisa que tá muito nítida há muito tempo. Não conseguiremos uma aliança e um projeto pra todas - eu quero falar das mulheres, não quero falar dos homens, eu quero falar da inclusão de todas as mulheres - se a gente não sentar uma para outra e disser assim: “Vocês são racistas”, “vocês são lesbofóbicas”, “vocês são transfóbicas”, não vai adiantar o discurso teórico, porque a gente tem o discurso teórico há muito tempo. Mas a gente não consegue trazer pra prática. Agora se fala em branquitude. Tá na moda a branquitude. Mas eu quero saber o seguinte: Como nós vamos dar conta da branquitude? E como nós vamos dar conta do racismo e do antirracismo? Mas é dar conta, de fato, a partir de nós. E quando eu falo a partir de nós... Por exemplo, a gente tem o movimento LGBT, que discute a questão racial há muito pouco tempo. Dentro do Arco-Íris do Rio de Janeiro, eu fui a primeira a falar disso, em 2000. São 21 anos. Aí o Cláudio Nascimento era o presidente e dizia: “Eu também sou pardo”. Mas não era eu e o Cláudio Nascimento. Era eu, o Cláudio, o Getúlio... Uma porção de militantes ali dentro também eram negros. Vamos dizer negros. Que aí falavam: “Eu também sou negro”. Mas não é o negro com vergonha. Aí nós vamos ter que discutir esse Arco-Íris nascido para um grupo de gays brancos, de classe média, tijucanos... Você conhece a história do Arco-Íris, que não trabalhava com a questão racial, que não trabalhava com a questão de raça e classe. Você tem, aqui em Curitiba, o Dignidade. Olha, coisa mais branca, coisa mais curitibana que Dignidade não existe, entendeu? Então, como você vai ter uma aliança de fato? Se essas questões da interseccionalidade que existem na nossa vida... Porque eu não posso dormir, hoje, hétero e acordar lésbica. Não. Quando as pessoas perguntam: “Heliana, você foi casada, teve filho, como é que você se tornou lésbica?”. Aí eu brinco: “Não quero ser mais hétero. Vou à praia e, quando eu voltar, vou ser lésbica”. Gente, pelo amor de Deus. Aí você vê isso de pessoas que a gente chama de “estudadas”. Então, a questão racial, pra mim, hoje, é a questão mais séria que existe nessa sociedade. Ou a gente vai realmente se tornar pessoas antirracistas, num grande projeto de construção de uma sociedade com todas as mulheres inclusas, ou não vai dar. E nós tínhamos que fazer outra coisa. Nós não podemos ficar só no nosso quintal não. Nós vamos ter que sentar e escutar as mulheres evangélicas com as suas diversidades. Então você tem uma mulher... Por exemplo, na Rede de Mulheres Negras2 2 Disponível em https://rmnpr.org.br/. (RMNPR), aqui no Paraná, tem uma mulher evangélica, ela é Batista. O que ela sabe de feminismo e o trabalho dela de trazer o debate racista pra dentro da igreja dela é maravilhoso. Outro dia ela tava falando de Agar. Aí eu perguntei: “Mas quem é Agar?”. Aí ela me deu uma aula... Que Agar foi mulher de Abraão, foi discriminada o tempo todo, ignorada na história bíblica, porque era uma mulher preta, né? Então tem uma série de coisas pra gente resolver... E eu fui falar também outro dia, numa outra live, do racismo no candomblé. Claro que tem racismo no candomblé. Os brancos são tratados como referências - dependendo da casa de santo. Há uma referência aos brancos dentro dos candomblés. Então, a gente tem uma série de coisas de que a gente vai precisar falar. Quando você traz que as mulheres lésbicas e bissexuais estão lá nesses espaços de controle social e não se colocam, o que é que acontece? Se ela fala de direitos humanos (“Eu estou aqui em nome dos direitos humanos”), mas não fala dela, é impossível. É claro que ela não vai fazer um debate ali de lesbianidade ou de bissexualidade. Mas as pessoas que estão ali, naquele debate, precisam saber com quem estão falando. Estão falando com uma mulher branca, lésbica, da universidade ou não... Têm que saber. Você não pode simplesmente chegar lá no Conselho (de Direitos da Mulher)... Como é que você vai se colocar, né? Você não tem filho? Quem tem filho com a nossa lesbianidade... É um debate que não se tem. E não se tem de ambas as partes. Não se tem nem no movimento de mulheres porque, quando se discute direitos sexuais e reprodutivos, não se traz a pauta da maternidade das mulheres lésbicas, bissexuais e transexuais, e nem o movimento LGBT discute. Eu tenho uma grande amiga, somos amigas até hoje, que ela dizia: “Ai, Heliana, você é uma mulher kit completo”. Porque eu tinha gato, filho e cachorro. Um kit completo.

DA: Sobre o que você falava antes, parece que você está dizendo assim: “Já aceitam a minha negritude, não vão aceitar também a minha lesbianidade”...

HH: Nós passamos por isso (não aceitação da lesbianidade) no movimento negro e no movimento de mulheres negras. Hoje a gente já traz essa pauta. A gente estava fazendo uma avaliação de Durban. Vinte anos de Durban (Terceira Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância, promovida pela ONU, na cidade de Durban, na África do Sul - Conferência de Durban). Durban teve isso, ajudou muito nessa questão. Ajudou não, obrigou politicamente o movimento negro a dizer: “Existem negros e negras LGBTs”. Quando houve o primeiro Encontro Nacional de Mulheres Negras, em 1988, eles diziam que, para estar na coordenação, tinha que ser lésbica e gorda. Por quê? Naquele momento, na comissão organizadora do Encontro, 80% eram mulheres negras e lésbicas. Nós, que éramos do movimento, sabíamos. Mas elas não colocavam, porque a pauta, naquele momento, de importância - já fizemos essa avaliação -, era a questão do racismo e a questão de gênero. Essa interseccionalidade. Vamos falar da interseccionalidade, né? Porque nem todas eram de matriz africana, muitas eram evangélicas. Daquela comissão e das comissões regionais. E eles quando falavam... Eles - quando eu digo eles, eu digo os homens -, que andavam com (livros de Frantz) Fanon3 3 Frantz Omar Fanon (1925-1961), psiquiatra e filósofo político da Martinica, autor de Os Condenados da Terra (1968), entre outros. (Frantz FANON, 1968FANON, Frantz. Os Condenados da Terra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968.) debaixo do braço, eram assim os falantes do movimento. Eles diziam que, pra estar nessa coordenação, tem que ser gorda, né? E diziam assim na nossa cara. A gente não era gorda. A gente trabalhou muito, mas não éramos da comissão organizadora e eles diziam: “Vocês não são da comissão, né? Porque pra tá na comissão tem que ser gorda e lésbica”. A palavra não era lésbica. A palavra era sapatão, mas sapatão de maneira pejorativa, que depois a gente ressignificou, né? O movimento vem e ressignifica. Então, quando você fala do projeto maior, de como as lésbicas estarem inseridas, eu vou dizer pra você que há um espaço muito grande que a gente precisa resolver, que é o espaço das lésbicas brancas e das lésbicas negras. Por exemplo, embora eu seja uma mulher negra, eu sou uma mulher negra que vem de classe média, sou filha de dois professores, neta de professor. Então, como diz a terapia, eu tinha tudo o que os brancos tinham, eu só não era branca. Que é uma realidade, né? A minha família sabia que era negra. Nós - primos, tios e não sei quem mais - somos negros. Mas que negros nós éramos? Éramos esses negros que tínhamos tudo o que os brancos tinham, mas não éramos brancos. Então você tem essa coisa do negro de alma branca que volitava e era uma realidade. Nós não tínhamos a questão do embranquecimento. Por exemplo, não tínhamos a preocupação de casar com mulheres brancas e homens brancos. Isso não fazia parte da educação que nós recebemos. Nós éramos muito, nós nos sentíamos muito... Hemetério dos Santos, naquele tempo, já era nome de escola. Ele era um cara reconhecido, meu bisavô. Então, isso dava para a gente uma vaidade, uma vaidade muito positiva. Trouxe isso para nossa autoestima. Mas o racismo trouxe todos os pesos. Então, a gente não tinha essa coisa do tornar-se negro, que a Neusa Santos4 4 Neusa Santos Souza (1948-2008), psiquiatra e psicanalista brasileira, autora de Tornar-se negro (Rio de Janeiro, Editora Graal, 1990). (Neusa SOUZA, 1990SOUZA, Neusa Santos. Tornar-se negro. Rio de Janeiro: Editora Graal, 1990.) escreve muito bem. E você vê o preço que ela paga, né? Você nunca imagina que uma mulher que faz aquela elaboração, escreve aquilo tudo, se mata. Que peso era aquele, que peso! Desde que eu li aquele livro, eu sempre pensava: “meu Deus, ela escreveu tanto!”. A noção que ela tinha desse peso de ser negro era tanta, né? Eu fui uma mulher privilegiada, eu convivia com Lélia (Gonzalez)5 5 Ver Projeto Memória. Disponível em: http://www.projetomemoria.art.br/leliaGonzalez/vida/negritude-de-corpo-e-alma.jsp. dentro do IPCN (Instituto de Pesquisa das Culturas Negras).6 6 Fundado em 8 de junho de 1975, no Rio de Janeiro, o IPCN foi reconhecido como instituição de utilidade pública municipal pela lei 538, de 8 de junho de 1984. Disponível em http://institutodepesquisadasculturasnegras.blogspot.com/. Então Lélia era uma pessoa muito próxima de nós. Naquele tempo, a UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) tinha um curso chamado Sankofa, que Helena Theodoro7 7 Helena Theodoro é Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1967), tem mestrado em Educação pela UFRJ (1978) e doutorado em Filosofia pela Universidade Gama Filho (1985). Atuou como Coordenadora da Pós-Graduação de Figurino e Carnaval da Universidade Veiga de Almeida. é quem administrava o curso. Então eu venho de uma geração que eu pude pensar muito e aí a vantagem de ter um bom emprego - eu já era funcionária pública do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) - e poder fazer terapia. Então, você veja... Essa coisa que eu tô falando pra vocês... Quando perguntam pra mim: “Heliana, como é que foi pra você ser lésbica?”. Foi mole. Pra mim, foi mole. Duro foi ser negra. A construção da negritude não foi mole. Isso foi duro. Isso é você sair do lugar de conforto, porque a priori você tinha um lugar de conforto. Um lugar de conforto que, na realidade, na tua vivência, ele existe e não existe. Não é porque você tem o cabelo cortado de lado... Onde entra, você é sempre a pessoa olhada. Aqui (Curitiba) perguntam logo se eu sou do Rio ou da Bahia, porque daqui que eu não posso ser, né? Na minha idade, essas coisas todas... E você aprender a se defender sempre, né? Como é isso? Então, é disso que eu tô querendo conversar. E aí, eu conheço, quando eu vou pro movimento de mulheres negras, várias Joselina da Silva... Vou falar o nome das que se assumem, né? A Zezé, a falecida Malu, Joselina da Silva, Neusa das Dores, Rosângela Castro... E aí eu vou conhecer lésbicas negras e eu vou começar a me relacionar com mulheres negras afetivamente, porque meu marido também era branco. A minha primeira companheira era judia. Então você começa a ver o outro mundo e vivenciar uma outra relação. Então há realmente uma diferença... Eu não vou usar a palavra diferença não. Completamente diferencial de você estar no mundo como uma lésbica negra e como uma lésbica branca. O pacote. O pacote racial é um peso que não é brincadeira.

DA: Você sente que, a partir do momento que você vem com o dado da lesbianidade, e quando a lesbianidade é revelada, aí, então, aparece o preconceito?

HH: Exatamente, porque aí eu não tô discriminando você porque você é preta. “Não, eu não sou racista”. O meu problema é que você é lésbica. E aí você tem toda a questão religiosa junto, porque ser racista é muito feio. Nós estamos vivendo um momento que os racistas tão aí. Mas a priori ser racista é muito feio. Deus não gosta. Nós somos todos iguais. Perante a Deus, temos os mesmos direitos etc. etc. Todos esses discursos que a gente cresceu ouvindo. “Mas ser lésbica não”. E aí, nós somos fora do que Deus decidiu, nós somos fora da procriação, né? Como será o mundo se vocês todos virarem homossexuais? Não haverá mais ninguém, ninguém mais vai nascer, né? A Bíblia diz não sei o que lá... Tem uma série de coisas escritas na Bíblia pra justificar isso. E aí, junto com isso, eu aciono o racismo. [...] Eu tô aqui há doze anos. Eu sou uma lésbica pública. Eu sou uma lésbica negra pública. E isso traz um incômodo. Por exemplo, eu sou militante. Fui, inclusive, coordenadora, durante o ano, da Rede de Mulheres Negras do Paraná (RMNPR). Tô coordenando o projeto LBT Negras, financiado pelo Fundo Global dentro da Rede, mas é muito interessante o movimento das filiadas e das pessoas da coordenação. Nossa, como esse projeto incomoda. Como o projeto traz um incômodo pra todos. Tive uma reunião outro dia com a coordenadora e ela falou isso comigo. Claro que incomoda, porque eu sou uma lésbica, entendeu? Você sabe que... Tem dois anos que tá fazendo isso. Formaram uma lista tríplice pra poder fazer um equilíbrio e tentar botar uma pessoa da esquerda na ouvidoria. E queriam uma mulher negra. Tinham três candidatas, né? Duas acadêmicas e eu. Eu fui escolhida por unanimidade. Mas é muito interessante escolher por unanimidade eu que não sou acadêmica, porque eu tenho pós-graduação somente. As duas são doutoras, né? Doutoras héteros. E aí escolhem uma que é do movimento, que é uma referência e é uma lésbica assumida. Assumida. E vai pro debate e é a mais votada com um discurso: “Eu sou uma lésbica negra...”. E eu ia ser uma ouvidora desse lugar. Isso já tava posto, eu seria uma ouvidora lésbica. Não teria como não ser uma ouvidora lésbica. E é isso que você fala. E isso é o grande incômodo. Porque a questão racial nesse momento para eles... Eu sou preta mesmo. Aí eles fazem os discursos antirracistas o tempo todo e estão bem comigo. Eu vou dizer: “Não, o racismo tá aí”. Eles concordam que o racismo está aí. A gente consegue construir ações sobre o racismo, falar do racismo, né? Mas estar sentada naquele lugar como lésbica é um incômodo e, para mim, esse incômodo é ligado direto à sexualidade, que nessa sociedade não se discute. Não se discute. Parece que somos todos heteronormativos o tempo todo. Por quê? Quando você pega a história do movimento feminista, a cabeça do movimento feminista são as lésbicas, mas todo mundo sabe quem é quem. A gente namora entre si à vontade, mas as lésbicas somos nós, né? É muito interessante isso, porque aí você passa coisas... Você nota isso quando você tá em determinado galho. Por exemplo, o último Fórum, que foi lá na Bahia, quando mataram Marielle, né? Foi exatamente naquele momento que mataram a Marielle. Aí uma companheira nossa do movimento... Eu ia pra mesa, uma das pessoas que estava ali na mesa da abertura era eu. Aí no meio da conversa eu falei pra ela: “Mas você tá me pautando?”. Aí ela achou que eu não tava entendendo o que ia dizer. “Você tá me pautando?” “Não, não, Heliana, eu tô só falando...” “Não, porque eu não tenho como ir pra essa mesa de abertura se não for como lésbica”. Eu não tenho como, sabe? Qualquer pessoa do movimento de mulheres negras sabe que eu sou lésbica. Não tenho como, sabe? Eu não posso deixar de ser, certo? Agora, o que me faz muito feliz hoje é ver essas jovens lésbicas negras botando pra quebrar.

CL: Você faz parte da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Intersexos. Como, historicamente, foi a atuação da ABGLT e como está sendo nesse momento de pandemia?

HH: A ABGLT hoje em dia... Eu confesso que eu tô afastada da ABGLT, eu tô totalmente dedicada ao Candaces, que é a Rede Nacional de Lésbicas Negras e Bissexuais. Isso é uma escolha política. Eu tô na ABGLT, vou encerrar esse mandato, mas tô afastada. A ABGLT, nesse momento da pandemia, continuou com uma pauta das lutas de direitos LGBT contra esse governo. Então você tem a ABGLT de um lado e a Aliança Nacional do outro, que o cabeça é o Toni Reis, que fecha com o governo. Ponto, não vamos discutir isso. Então, de um lado fica a ABGLT, lutando pra gente não ter perda de ganhos. Eu trabalhei muito. O Carlos Magno foi presidente. Foi quando eu fui pra ser Diretora de Direitos Humanos. Depois, no outro evento, eu vou ser a Coordenação de Lésbicas. [...] Lugar de lésbica é no movimento de mulheres. Acabou. Encerrou o assunto. Lugar de lésbica negra, bissexual negra é no meio de mulher negra. É com elas que nós vamos fazer aliança, porque o racismo pega a lésbica, pega todo mundo. O feminicídio nos mata todas, independente de cor. É claro que, quando se faz o recorte racial, são as mulheres negras. Quando se trata (do recorte) de lesbocídio, são as lésbicas negras. Se tiver (o recorte de) a transfobia, são... O racismo passa por isso tudo, mas lugar de mulher é no movimento de mulheres. É no movimento feminista. É ali que nós vamos ter que chegar e dizer: “Olha, companheira, tudo bem, vocês podem não entender muito bem que a gente gosta de colar velcro, mas nós estamos aqui. Esse é o nosso lugar”. Tenho falado isso o tempo todo. É aí que eu gosto das jovens. Porque aí elas vão lá pro Encontro das Negras Jovens Feministas... Eu fui convidada, porque elas fizeram uma coisa geracional muito boa, chamaram as antigas e as novas. Gente, foi excelente!

CL: Sobre as jovens, o que você considera necessário para essa formação de novas lideranças e militantes jovens nesses movimentos? Como integrar as mulheres lésbicas de variadas idades e gerações ao redor de temas potencialmente agregadores na militância?

HH: Quando eu falo formação, eu acho que tem uma coisa histórica aí. Elas precisam saber a história do movimento de lésbicas. Porque senão elas chegam nos lugares falando a novidade que não é nenhuma novidade. Elas não inventaram a roda. Elas podem ressignificar pra elas. Quando elas ressignificam o “sapatão”, que ótimo, né? Quando elas botam a pochete... A Rosângela Castro fala que a pochete é nossa. A pochete é nossa, a pochete vem do nosso tempo. Então, andar de pochete não é nenhuma novidade. Isso já existia. Agora, como foi usar a pochete há trinta anos e como é usar a pochete hoje? Então, quando eu falo da formação, eu acho que... A Rosângela tem, não sei se vocês já viram ela interpretando a senhora passado... É maravilhoso! Ela vai tirando a roupa conforme a época, conforme o que a gente usava. E é isso, é essa formação que essas meninas precisam. “Olha, tá tudo muito bom, mas vocês não tão inventando a roda.” Outra coisa é elas aprenderem a desvincular os momentos... Aí cabe a vocês que estão na Universidade - eu sempre penso nesse papel que vocês têm - desvincular como ter a teoria e a prática. Como estar no mundo, né? Como usar a teoria, o conhecimento a que, hoje, principalmente as negras, depois do advento das cotas, tiveram mais acesso? Como é pegar esse conhecimento e usar a favor delas? Mas entendendo que este conhecimento vai ajudá-las no cotidiano, mas não vai livrá-las da lesbofobia nem do racismo. Como criar mecanismos, né? Quando eu falo formação, é você resolver alguns equívocos. Eu, pelo menos, considero equívoco. No Arco-Íris, nós tivemos um projeto chamado “Laços e Acasos”. Eu não tava casada com a Ângela, olha o tempo que tem. Foi 2006. Eu vim pra cá em 2009.

CL: Quando vocês casaram?

HH: Nós somos casadas há... A gente casou que dia, Ângela? Eu sei que é maio.

Ângela Martins: No dia que aprovou a lei, 06 de maio de 2011, quando aprovou a lei oficial.8 8 Em 5 de maio de 2011, o Supremo Tribunal Federal conferiu aos casais homossexuais o direito à união estável. Em 15 de maio de 2013, o Conselho Nacional de Justiça editou uma resolução que autoriza o casamento entre pessoas do mesmo sexo, em todo o País.

HH: A lei oficial, 06 de maio. E aí, o que é que acontece? Qual foi a nossa intenção naquele momento? Nós já éramos todas lésbicas coroas... Eu, Jussara, Vanderli e Vera éramos todas lésbicas já cinquentonas, éramos todas lésbicas coroas e tínhamos essa preocupação. Aí eu digo a vocês que a diferença do patriarcado gay é outra. Nesse momento, tinha lá dentro Cláudio, Márcio Caetano indo pra Universidade, indo fazer mestrado e doutorado, tinha o outro que foi embora pra Itália, tinha o Marco... Então, era bem interessante o Arco-Íris, sempre carregando a voz política, sem sombra de dúvida nenhuma, no Rio de Janeiro. Não tiro isso. Eu tenho um agradecimento muito grande ao Arco-Íris. O Cláudio Nascimento tinha plena confiança - ele dizia - no meu talento. E aí, a gente faz o “Laços e Acasos”. Qual era a nossa intenção? Falando corretamente, era o “Laços e Acasos” e o “Entre Garotos”. O “Entre Garotos” para jovens gays e o “Laços e Acasos” para jovens lésbicas. Eram de 18 a 35 anos na época. Elas iam trabalhar com agente de saúde, na questão do HPV. Isso era o mote do projeto. Era um projeto financiado pela Holanda. A nossa intenção era trazer os pobres e os pretos pro Arco-Íris. Não é possível esse Arco-Íris aqui cheio de todo mundo pensante, todo mundo palestrante... Nós tínhamos as reuniões às sextas-feiras, que enchiam muito. Era uma beleza, era um momento muito bom, mas era um momento que eram os gays e as lésbicas majoritariamente da Universidade. Não, não. Existem outros que não são da Universidade. E aí, nós levávamos toda quarta-feira pra um local no Rio de Janeiro, em Madureira, que é um subúrbio... A gente levava uma barraca e ficava em frente a uma boate. Você acredita que o nome da rua dessa boate era Rua da Lama?! Não tinha lama nenhuma. Era uma rua normal. Não tinha nenhuma lama. A lama era exatamente a frequência da boate. Pra você ver a questão de classe. A questão de classe e de raça. Você não pode esquecer de raça. Era o lugar onde estavam os gays e as lésbicas. Trabalhamos dois anos nesse projeto. Tínhamos financiamento, porque aí tinha a questão do dinheiro da passagem pra eles irem e voltarem do curso, que era todo sábado, o dia inteiro. Então, tinha o almoço, tinha o dinheiro da passagem, tinha o lanche da tarde. Hoje em dia você não tem mais isso. Eu não acredito que a gente consiga fazer isso, tem que se pensar. Mas foi uma formação exatamente disso. O que é que era raça, classe, tudo... Todos os recortes: raça, classe, religião, a questão da saúde... Foram dois anos. Esse projeto da LBT Negras dura dois anos, mas não dá pra fazer dessa maneira. É um projeto para dentro da Rede de Mulheres Negras, pra dizer: “Olha, vocês são mulheres negras, pobres, do interior, quilombolas, todo mundo cis-hétero, mas a coordenação desta Rede...”. A Ângela foi coordenadora, foi vice e foi coordenadora. Eu também fui. As lésbicas é que deram norte, né? Aí eu falo isso muito... Eu digo: a Ângela é a voz política dessa Rede no Paraná. Ela organizou a Marcha de Mulheres Negras em 2015. Aqui. E é uma lésbica. Então todo mundo acha a Ângela maravilhosa, ela é uma liderança, mas a palavra lésbica, se não disser “eu sou”, passa despercebida.

CL: Mas nós falamos, né?

HH: É. A gente tem que incomodar, né? Pois é, eu “lamento”, sou casada com ela. E eu sempre falei: “Eu vim pro Paraná pra casar com a Ângela”. Porque eu vim pra cá pra casar com ela. Foi ela que me trouxe pra cá. Eu não teria vindo pro Paraná, né? Eu vim pro Paraná pra casar com ela. As lésbicas têm essa mania, de sair daqui pra lá, daqui pra acolá. [...] E dando continuidade ao que tava falando... A formação é essa. É elas saberem que nós existimos antes delas, entendeu? É verdade. Tem umas que parece que inventaram a roda. Não, nada é novidade. Agora, o diálogo entre as gerações, pra mim, é fundamental.

CL: Heliana, lembrando que você fez parte do Conselho Nacional de Saúde representando o segmento LGBTI e, também, em entrevista para a ONU Brasil, em 2018, você apontou a existência de políticas públicas de saúde para a população LGBT, população negra, população em situação de rua, do campo e outras minorias. Com o atual governo, que inclusive tem agido contra os Conselhos, como é que estão as políticas públicas de saúde para a população LGBT, negra e em situação de rua?

HH: Sem funcionar. Mas não é de agora não, viu? E, quando saiu o kit LGBT, falar em LGBT no Ministério foi proibido. Se houve um avanço no ministério, foi graças a uma mulher chamada Kátia Souto9 9 Kátia Souto é doutoranda em Saúde Pública (ENSP/Fiocruz), mestre em Sociologia (UnB), Tecnologista em Gestão de Políticas Públicas em Saúde do Ministério da Saúde e Membro do comitê do PCdoB no DF. (Kátia SOUTO, 2020SOUTO, Kátia. “Saúde pública é estratégica para construção da cidadania”. PCdoB - Partido Comunista do Brasil. Brasília, 7 de abril de 2020. Disponível em Disponível em https://pcdob.org.br/noticias/katia-souto-saude-publica-e-estrategica-para-construcao-da-cidadania/ . Acesso em 30/04/2021.
https://pcdob.org.br/noticias/katia-sout...
). A Kátia assumiu o DAGEP10 10 Departamento de Apoio à Gestão Participativa e ao Controle Social da Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde (DAGEP/SGEP/MS). e botou pra quebrar. Ela é do PCdoB. A Kátia foi maravilhosa! Povos de rio e floresta, a população negra, a população LGBT... Ela fez uma reviravolta. É claro que ela tomou um tranco, mas mesmo assim ela bancava, né? E depois, quando o Temer veio, acabou. Nesse momento, não tem nada. [...] Eu, Rosângela e Virgínia Figueiredo. A gente sabe de histórias do Rio de Janeiro pra tudo quanto é lado. E a gente passa por essas questões todas. A gente vivenciou e vivenciou da pior maneira.

CL: Heliana, ainda em relação à saúde. Nesse momento, que você citou, de mais fortalecimento dos Conselhos e das políticas públicas... Portanto, até 2016, porque de 2016 pra cá, com o impeachment, a gente vem tendo um desmonte, infelizmente. Nesse momento anterior, existiu política pública para a saúde das mulheres lésbicas?

HH: Existia. Existiu no sentido dela tá pronta. E aí você tem o tripartite, né? O ministério realmente fazia um bom trabalho. Fazia. Agora, você não dá conta dos estados e muito menos dos municípios, né? Você não dá conta dos estados e dos municípios. O ministério fez a construção. Ele investiu bastante, viu? Inclusive na questão das Conferências. Mas você dar conta dos estados e dos municípios... Você viu a questão do processo transexualizador. Ele podia ter avançado muito. Porque eu digo que é imperdoável pra uma sociedade machista você nascer homem e querer ser mulher. Você sair desse lugar de privilégio pra um lugar de subalternidade. Porque é por isso também que elas optam, né? Pra vir pra um lugar de subalternidade. Passar o que elas passam. Vivenciar o que elas vivenciam. A vida delas corre risco todos os dias.

CL: Heliana, como é a questão do envelhecimento para as lésbicas? Como é a menopausa para as mulheres lésbicas?

HH: Eu acho que aí depende das lésbicas. Isso depende muito das lésbicas, né? Depende muito da lésbica. A lésbica que vive a vida dela... “Eu tô envelhecendo, eu menstruo, eu tô na menopausa, eu sinto calor, eu cuido disso, eu cuido daquilo...” Aqui em casa a Ângela cobre, descobre, cobre, descobre, cobre, descobre... Isso é o tempo todo. E lida com isso. Cobre, descobre, cobre, descobre... Isso é a menopausa. E tem aquelas que passam a vida inteira querendo acabar com a menstruação porque não aguentam isso. Essa rejeição a essa menstruação, que é o que determina que eu sou mulher, eu sempre me lembro da (Monique) Wittig quando a Wittig (Monique WITTIG, 1992WITTIG, Monique. The Straight Mind and other Essays. Boston: Beacon Press, 1992) fala que “lésbicas não são mulheres”. São essas que lutam o tempo todo contra esses vestígios de feminilidade. É um vestígio da feminilidade porque a menstruação mostra que você tem ovários, que você menstrua, que você pode procriar. Então há uma rejeição muito grande disso. E eu acho que é um outro tema de que a gente precisa falar. Inclusive falar de todo o processo do envelhecer. Como é que você vai lidar com o corpo? O peito caiu, o pentelho tá branco, a artrose tá no joelho... Isso existe. Quando eu falo que isso é complexo, eu não sei como vocês veem isso, eu reparo que as lésbicas mais masculinizadas têm uma dificuldade enorme de se assumirem envelhecidas. Aí começa a ter um discurso de macho, né? “Não, porque eu tô velha, mas tô podendo.” “Eu sou velha, mas eu sou a mesma.” É a mesma conversa, minha filha. Você tá dormindo muito mais. Vamos parar de conversa fiada que a gente não é mais aquela. Vamos parar. O tempo desgasta. O tempo é isso. Viver o tempo é isso. E aí eu percebo que há um determinado tipo de lésbica que não quer falar disso, né? Não falam da questão da doença. Elas não ficam doentes, não têm pressão alta, não têm artrose, não têm nada. Elas não têm coisíssima alguma. Eu acho que vai chegar um momento que elas vão ficar perdidas. Afinal de contas, quem sou eu nessa história aqui? E isso não tá só entre as mais velhas não. Tem um grupo das mais novas que também é assim. Aí que eu digo a você, Cláudia... A questão da formação. E aí novamente vão voltar as diferenças raciais. Entre as lésbicas negras isso é muito mais forte. Uma das questões que eu acho é que, como elas vêm de um segmento muito pobre e um segmento muito machista, das classes mais populares, em que quem gosta de mulher é homem e quem gosta de homem é mulher, isso é muito forte. A Ângela tá aqui falando. [...] A Ângela traz sempre isso. A questão de elas serem pobres, morarem sempre com a família, não terem dinheiro pra terem autonomia. Não terem trabalho, né? Então essa coisa do pensar, do elaborar fica difícil.

CL: Como historiadora, na sua avaliação, como está a produção científica e a participação de mulheres negras e LBT na Universidade? Como é que está se dando esse encontro entre mulheres LBT militantes e produção acadêmica? E também como isso pode influenciar na implantação de políticas públicas?

HH: Quando você traz isso, eu fico muito feliz que vocês tenham esse interesse. Em primeiro lugar, que vocês acolham essas meninas que querem falar delas, porque nem todo orientador... Então, se você tem uma aluna lésbica e negra que quer falar disso... É acolher para que ela faça a produção acadêmica e traga isso pro movimento. Porque dentro do movimento a gente tem falado isso pra elas: “Vocês têm que ir pra Universidade, produzir e trazer de volta”. Aí vai voltar o que eu disse inicialmente. Há uma diferença, uma nuance entre ser lésbica negra e lésbica branca. Há uma necessidade muito grande entre as lésbicas negras de se fortalecerem dentro do movimento de mulheres negras e de mulheres lésbicas. Nós temos dois momentos. A gente tá na construção das mulheres negras dizendo: “Estamos construindo aqui um novo formato civilizatório em que as mulheres negras precisam ser reconhecidas como protagonistas”. Porque são as mulheres negras que alimentam tudo. Alimentam o capital. O capital vive às nossas custas. O racismo alimenta o capital. Eu acho que, pra nós, não há mais dúvida disso, né? O racismo alimenta o capital. Agora, como falar com as mulheres negras sendo que nós - as lésbicas negras e as bissexuais - estamos lá entre elas? Então essas meninas precisam validar isso junto às mulheres negras héteros. E nós precisamos validar isso dentro do movimento de lésbicas urgentemente. Porque quando você tem o primeiro Seminário de Lésbicas, em 1996, ele é pensado por duas mulheres negras: Neusa das Dores e Elizabeth Calvet. Depois, ele vai aí pra Minas Gerais e você tem a Soraya Menezes. Negra. E aí, você vai pra Bahia e elas são negras também. A Jane Pantel. E aí, quando vai pra São Paulo, ele muda. A LBL (Liga Brasileira de Lésbicas) assume junto com o PT. Aí se torna um espaço da esquerda, da LBL. E aí muda. Quando chega em Recife, há um fato racista e aí as lésbicas negras se juntam e criam a primeira Rede Nacional de Lésbicas Negras, que depois nós continuamos com o Candaces. Então isso, para nós, lésbicas negras, é importante. A nossa história tem que ser respeitada. E elas precisam falar disso. [...] Vocês, como orientadoras, têm que ter essa sensibilidade. Vocês não estão falando com uma lésbica branca. Ela tá vindo desse espaço que a Ângela trouxe. Ela mora com a família, ela não tem grana. Essa coisa de sair de casa, morar com amiga... Não. É totalmente diferente. Ângela se lembrou da evasão escolar. E vocês duas têm um papel fundamental. É claro que vocês vão encontrar as pretas que vão dizer assim: “Você é branca, você não pode falar”. É, eu não posso falar como preta, mas eu posso falar do lugar de uma branca antirracista ocupando esse lugar de luta que eu acredito, que eu luto e é o lugar em que eu quero estar. Eu falo: “Não precisa ser preta pra ser antirracista. Não precisa ser lésbica pra lutar contra a lesbofobia”. Não, não precisa. Pra mim, enquanto militante, é o meu grande sonho que a gente consiga construir uma aliança... Para mim, é impossível uma sociedade equânime se brancas e negras não estiverem juntas. Temos que estar juntas. [...] Quando eu falei, lá no princípio, tem uma série de coisas. Por exemplo, as pessoas ficam assim: “Porque o Bolsonaro...”. Gente, olha, enquanto você diz que é contra a lesbofobia e é racista, você tá apoiando o (Jair) Bolsonaro (presidente da República eleito em 2018). Quando você não é racista e não gosta de veado, você também tá apoiando o Bolsonaro. Quando você não gosta do povo de santo, da umbanda, tá apoiando o Bolsonaro. Tô falando indiretamente, entendeu? [...] O machismo eu nem sei de onde ele veio. Na realidade, a gente não sabe de onde veio. Você vê todas as civilizações completamente machistas. Até o mundo religioso.

CL: Queria que você nos contasse se faltou falar alguma coisa sobre essa relação entre feminismos e lesbianidades, quais são as alegrias que a gente já pode dizer que teve, como menciona bell hooks (2018hooks, bell. O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras. 1. ed. Tradução de Ana Luiza Libânio. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2018.), na Alegria Completa do encontro do feminismo com a lesbianidade? E queria saber também quais são os pontos desafiadores, ainda, que a gente tem que continuar batendo, construindo e resistindo? Falta reforçar alguma coisa?

HH: A única coisa que eu reforço mesmo é a necessidade da luta antirracista e da luta anticlassista. Isso é importantíssimo, tá? É impossível a gente ter uma aliança se a gente não trabalhar o antirracismo e se não reconhecer o papel das mulheres negras e, entre as mulheres negras, as lésbicas, entendeu? À frente, sempre à frente, né? Outro dia, nós fomos ver no MNB... A coordenação sou eu, Naiara, Valdeci, Maria Malcher... Todas lésbicas. Duas héteros e quatro lésbicas. E aí tem uma coisa muito interessante. Algumas instituições ligadas ao MNB têm uma postura que a gente sabe que é da lesbofobia. É como se elas fizessem... Não apoiam diretamente. Fazem um contraponto exatamente porque tem tanta lésbica naquela coordenação. É interessante isso e a gente sabe disso. O que incomoda é tanta lésbica ali. E quando a gente tá junto, como, por exemplo, na assembleia, quando foi eleita essa última coordenação, a gente ri. Aquilo incomoda, né? É um trabalho, o que eu falei com você, de ambos os lados, sabe? É um trabalho, por um lado, do movimento de lésbicas e, por um lado, do movimento de mulheres. E a gente fica, eu confesso, chateada. Eu fui a um Seminário no Rio tem dois anos. Uma pessoa que eu admiro muito é um ícone das mulheres negras, teve uma atitude completamente lesbofóbica. [...] A postura dela, pra mim, é absurda. O papel que ela tem, nesse momento, dentro do movimento... Com o papel que ela ocupa dentro do movimento de mulheres negras, ela ter falado isso, sabe? Absurdo. Pra você ver como a gente tem trabalho pela frente.

CL: Heliana, eu e a professora Daniela Auad temos trabalhado e refletido nessa temática dos Feminismos, da Educação e da Comunicação. E aí, queria saber: como você vê a presença ou a ausência de lésbicas na Comunicação? Na mídia, na sua opinião, onde as mulheres lésbicas podem se ver retratadas?

HH: Você tá falando duma mídia geral, porque as lésbicas gostam muito de trabalhar com Comunicação, mas elas nunca se colocam como lésbicas. Eu vejo sempre a mesma coisa. Eu conheço várias. Por exemplo, ano passado, as lives que eu fiz... Fiz várias, mas eu fiz umas três que eram todas (organizadas por) lésbicas. Preparando aquelas lives sobre vários assuntos que não eram lesbianidade e elas eram lésbicas. A Comunicação é um campo de que as lésbicas gostam muito, mas elas não falam. E aí, eu acho que a lesbofobia tem muito a ver com isso, né? Se eu digo que sou lésbica, eu não tenho trabalho. Isso eu percebo. A “necessidade” desse silenciamento. É um campo muito preconceituoso. Embora a gente ache que a Comunicação é um campo moderníssimo, não é assim não. Não é assim não.

CL: Você, Heliana, é exemplo, inspiração, griô...

HH: Eu gosto bastante disso, porque pra gente significa a sabedoria.

CL: Preparando essa entrevista, eu encontrei pelo menos três textos acadêmicos que fazem essa referência a você. Então, pergunto: quem é exemplo para você?

HH: Para mim, hoje, exemplos... eu diria a Neusa das Dores.11 11 Sobre Neusa das Dores, ver Revista Brejeiras (2018). Disponível em https://www.facebook.com/revistabrejeiras/posts/363179444193225/. Foi a primeira lésbica negra, no meio daqueles machos pretos, a dizer: “Eu sou lésbica negra”. A Rosângela Castro12 12 Feminista lésbica negra. Ver Menezes (2017). (Jamile MENEZES, 2017MENEZES, Jamile. “I Seminário ‘Lésbicas Negras em Pauta’ trará a ativista feminista Rosângela Castro”. SoteroPreta, Salvador, 18 de agosto de 2017. Disponível em Disponível em https://portalsoteropreta.com.br/i-seminario-lesbicas-negras-em-pauta-trara-ativista-feminista-rosangela-castro/ . Acesso em 30/04/2021.
https://portalsoteropreta.com.br/i-semin...
) é uma referência. Eu digo que ela é a mãe da saúde das lésbicas, sabe? Tô falando das negras. Das brancas... Das brancas do movimento, a Alice Oliveira13 13 Fundadora do Somos, primeira organização LGBT do Brasil da década de 1970 e fundadora do PT (Agência Todas, 2020). (AGÊNCIA TODAS, 2020AGÊNCIA TODAS. “TVPT Elas por Elas: Conheça a trajetória do movimento lésbico no Brasil”. PT, 27/08/2020. Disponível em Disponível em https://pt.org.br/tvpt-elas-por-elas-conheca-a-trajetoria-do-movimento-lesbico-no-brasil/ . Acesso em 30/04/2021.
https://pt.org.br/tvpt-elas-por-elas-con...
) é uma pessoa por quem eu tenho profunda admiração. É uma branca antirracista de que eu gosto muito. Eu tenho uma admiração pela Sueli Oliveira,14 14 Feminista, militante do PT, da Secretaria de Mulheres. ex-mulher do Humberto Costa. Você imagina ser uma ex-mulher de ministro e você ser uma lésbica. Hoje, ali na cidade do Recife, sabe? Isso é coragem. E eu também gosto muito da postura antirracista dela. Gosto das jovens, admiro bastante. Na Bahia, (tem) a Naiara Leite, que é do Odara.15 15 Odara - Instituto da Mulher Negra. Disponível em https://institutoodara.org.br/quem-somos/. Como ela é segura e segura desse lugar, sabe? Das mais novas, eu gosto muito da Naiara Leite. A Jéssica Ipólito (2016IPÓLITO, Jéssica. “Enegrecendo o 29 de agosto: negras lésbicas na construção da visibilidade”. Brasil de Fato, 29 de agosto de 2016. Disponível em Disponível em https://www.brasildefato.com.br/2016/08/29/enegrecendo-o-29-de-agosto-negras-lesbicas-na-construcao-da-visibilidade . Acesso em 30/04/2021.
https://www.brasildefato.com.br/2016/08/...
)16 16 Militante feminista negra lésbica (IPÓLITO, 2016). eu gosto muito. Ela tem um potencial, né? Ela é negra, gorda, lésbica... Tudo isso, né? Eu diria que, neste momento, só. Ai, e a Rivânia Rodrigues. A Rivânia17 17 Lésbica, negra e feminista. (Ana Carla LEMOS; Rivânia RODRIGUES, 2021LEMOS, Ana Carla; RODRIGUES, Rivânia. “Covid19: a importância das lutas lésbicas na construção de políticas de saúde LBT” (webpalestra). UNA-SUS, Brasília, 2021. Disponível em Disponível em https://ares.unasus.gov.br/acervo/handle/ARES/20500 . Acesso em 30/04/2021.
https://ares.unasus.gov.br/acervo/handle...
) tá no Candaces comigo, é do PT. Ela é uma lésbica do PT, entendeu? Assim, petista até a alma, mas eu gosto. E, pra finalizar, a minha companheira, que assume o papel de lésbica numa cidade feito Curitiba, o que não é pouca coisa, dentro da Rede que ela ajudou a fundar e que resiste. E que você tem que dizer o tempo todo: “Eu sou lésbica”. Ter coragem de ter casado comigo porque, se ela tinha alguma dificuldade, de se assumir lésbica, casando comigo não poderia ter. Porque eu sou uma lésbica pública, né? Parece que não, mas é uma razão. Casar comigo é dizer: “Estou casando com sapatão”. Eu não tenho outra identidade. Eu digo isso - dessa coragem que ela tem - e eu diria que ela é o meu lado pé no chão. A Ângela é o meu lado pé no chão. [...] Ângela Maria Martins. São as pessoas por quem eu, nesse momento, tenho profunda admiração. E vocês duas. Eu sempre falo muito na Dani, porque eu vejo mais a Dani, né? Eu vejo mais a Dani. Essa questão de vocês bancarem isso. Eu poderia citar... pra trabalhar tem a Eide Paiva.18 18 Professora da UNEB, lésbica militante da LBL (Liga Brasileira de Lésbicas). E tem a Valdecir Nascimento,19 19 Membro do Odara - Instituto da Mulher Negra. Disponível em https://institutoodara.org.br/quem-somos/. que é atual coordenadora da AMNB (Articulação de Mulheres Negras Brasileiras), que está sofrendo lesbofobia e xenofobia, é lésbica e é baiana.

Agradecimentos

À Ryan Brandão, que fez a transcrição da gravação da entrevista, bem como sua revisão textual

Referências

  • AGÊNCIA TODAS. “TVPT Elas por Elas: Conheça a trajetória do movimento lésbico no Brasil”. PT, 27/08/2020. Disponível em Disponível em https://pt.org.br/tvpt-elas-por-elas-conheca-a-trajetoria-do-movimento-lesbico-no-brasil/ Acesso em 30/04/2021.
    » https://pt.org.br/tvpt-elas-por-elas-conheca-a-trajetoria-do-movimento-lesbico-no-brasil/
  • FANON, Frantz. Os Condenados da Terra Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968.
  • hooks, bell. O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras 1. ed. Tradução de Ana Luiza Libânio. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2018.
  • IPÓLITO, Jéssica. “Enegrecendo o 29 de agosto: negras lésbicas na construção da visibilidade”. Brasil de Fato, 29 de agosto de 2016. Disponível em Disponível em https://www.brasildefato.com.br/2016/08/29/enegrecendo-o-29-de-agosto-negras-lesbicas-na-construcao-da-visibilidade Acesso em 30/04/2021.
    » https://www.brasildefato.com.br/2016/08/29/enegrecendo-o-29-de-agosto-negras-lesbicas-na-construcao-da-visibilidade
  • LEMOS, Ana Carla; RODRIGUES, Rivânia. “Covid19: a importância das lutas lésbicas na construção de políticas de saúde LBT” (webpalestra). UNA-SUS, Brasília, 2021. Disponível em Disponível em https://ares.unasus.gov.br/acervo/handle/ARES/20500 Acesso em 30/04/2021.
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  • MENEZES, Jamile. “I Seminário ‘Lésbicas Negras em Pauta’ trará a ativista feminista Rosângela Castro”. SoteroPreta, Salvador, 18 de agosto de 2017. Disponível em Disponível em https://portalsoteropreta.com.br/i-seminario-lesbicas-negras-em-pauta-trara-ativista-feminista-rosangela-castro/ Acesso em 30/04/2021.
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  • SILVA, Ariana Mara. Griôs Sapatonas Brasileiras e Lampião da Esquina: o contraste das questões de gênero, raça e sexualidade na fonte oral e na fonte escrita 2015. Graduação (História da América Latina, Instituto Latino-Americano de Arte, Cultura e História) - Universidade Federal da Integração Latino-Americana, Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil.
  • SOUTO, Kátia. “Saúde pública é estratégica para construção da cidadania”. PCdoB - Partido Comunista do Brasil Brasília, 7 de abril de 2020. Disponível em Disponível em https://pcdob.org.br/noticias/katia-souto-saude-publica-e-estrategica-para-construcao-da-cidadania/ Acesso em 30/04/2021.
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  • SOUZA, Neusa Santos. Tornar-se negro Rio de Janeiro: Editora Graal, 1990.
  • WITTIG, Monique. The Straight Mind and other Essays Boston: Beacon Press, 1992
  • 1
    Griô representa um “abrasileiramento do termo Griot, definido como o arcabouço do universo da tradição oral africana” (SILVA, 2015, p. 14).
  • 2
    Disponível em https://rmnpr.org.br/.
  • 3
    Frantz Omar Fanon (1925-1961), psiquiatra e filósofo político da Martinica, autor de Os Condenados da Terra (1968), entre outros.
  • 4
    Neusa Santos Souza (1948-2008), psiquiatra e psicanalista brasileira, autora de Tornar-se negro (Rio de Janeiro, Editora Graal, 1990).
  • 5
    Ver Projeto Memória. Disponível em: http://www.projetomemoria.art.br/leliaGonzalez/vida/negritude-de-corpo-e-alma.jsp.
  • 6
    Fundado em 8 de junho de 1975, no Rio de Janeiro, o IPCN foi reconhecido como instituição de utilidade pública municipal pela lei 538, de 8 de junho de 1984. Disponível em http://institutodepesquisadasculturasnegras.blogspot.com/.
  • 7
    Helena Theodoro é Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1967), tem mestrado em Educação pela UFRJ (1978) e doutorado em Filosofia pela Universidade Gama Filho (1985). Atuou como Coordenadora da Pós-Graduação de Figurino e Carnaval da Universidade Veiga de Almeida.
  • 8
    Em 5 de maio de 2011, o Supremo Tribunal Federal conferiu aos casais homossexuais o direito à união estável. Em 15 de maio de 2013, o Conselho Nacional de Justiça editou uma resolução que autoriza o casamento entre pessoas do mesmo sexo, em todo o País.
  • 9
    Kátia Souto é doutoranda em Saúde Pública (ENSP/Fiocruz), mestre em Sociologia (UnB), Tecnologista em Gestão de Políticas Públicas em Saúde do Ministério da Saúde e Membro do comitê do PCdoB no DF.
  • 10
    Departamento de Apoio à Gestão Participativa e ao Controle Social da Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde (DAGEP/SGEP/MS).
  • 11
    Sobre Neusa das Dores, ver Revista Brejeiras (2018). Disponível em https://www.facebook.com/revistabrejeiras/posts/363179444193225/.
  • 12
    Feminista lésbica negra. Ver Menezes (2017).
  • 13
    Fundadora do Somos, primeira organização LGBT do Brasil da década de 1970 e fundadora do PT (Agência Todas, 2020).
  • 14
    Feminista, militante do PT, da Secretaria de Mulheres.
  • 15
    Odara - Instituto da Mulher Negra. Disponível em https://institutoodara.org.br/quem-somos/.
  • 16
    Militante feminista negra lésbica (IPÓLITO, 2016).
  • 17
    Lésbica, negra e feminista.
  • 18
    Professora da UNEB, lésbica militante da LBL (Liga Brasileira de Lésbicas).
  • 19
    Membro do Odara - Instituto da Mulher Negra. Disponível em https://institutoodara.org.br/quem-somos/.
  • Como citar esse artigo de acordo com as normas da revista:

    LAHNI, Cláudia Regina. “As lésbicas têm essa mania de sair daqui pra lá, daqui pra acolá...”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 29, n. 3, e83445, 2021
  • Financiamento:

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  • Consentimento de uso de imagem:

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  • Aprovação de comitê de ética em pesquisa:

    Não se aplica

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Nov 2021
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2021

Histórico

  • Recebido
    18 Ago 2021
  • Revisado
    09 Set 2021
  • Aceito
    13 Set 2021
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