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Incubadora de Aprendizagem: tecnologia inovadora de ensino e aprendizagem na enfermagem

RESUMO

Objetivo:

Compreender o significado da Incubadora de Aprendizagem como tecnologia de ensino e aprendizagem na área de enfermagem.

Método:

Pesquisa qualitativa, apoiada na teoria fundamentada nos dados. A coleta de dados ocorreu entre março e novembro de 2019, por meio de entrevistas com questões norteadoras e hipóteses direcionadas a dois diferentes grupos. Considerou-se a técnica de análise comparativa dos dados, a partir da codificação aberta, axial e integralizada, conforme proposto pelo método, atingindo-se amostragem teórica com 23 participantes, os quais eram enfermeiros, técnicos e alunos de enfermagem.

Resultados:

A delimitação das categorias confluiu para o fenômeno, (Re)significando saberes e práticas por meio da Incubadora de Aprendizagem. Norteadas pelo modelo paradigmático, as categorias foram denominadas com base nos três componentes: Condição: Reconhecendo a indissociabilidade entre o ser e fazer profissional; Ação/interação: Revisitando posturas profissionais rotineiras e mecanicistas; Consequência: Remetendo-se às reflexões e aos saberes construídos na Incubadora de Aprendizagem.

Conclusão:

A Incubadora de Aprendizagem, conforme significado pelos participantes do estudo, não se reduz ao momento da Incubação ou às temáticas abordadas. Para além de espaço acolhedor, a incubadora amplia e traduz-se em ferramenta indutora de autorreflexão e autoavaliação de atitudes e posturas profissionais.

DESCRITORES
Educação em Enfermagem; Aprendizagem; Tecnologia; Educação Continuada

ABSTRACT

Objective:

To understand the meaning of the Learning Incubator as a teaching and learning technology in the nursing area.

Method:

Qualitative research, supported by grounded theory. Data was collected from March to November 2019, through interviews with guiding questions and hypotheses directed at two different groups. The analysis was done by comparative data analysis and included open, axial and integrated coding, as proposed by the method. The theoretical sample included 23 participants, which were nurses, technicians, and nursing students.

Results:

The delimitation of the categories converged in the phenomenon (Re)signifying knowledge and practices in the Learning Incubator. Guided by the paradigmatic model, the categories were named according to the three following components: Condition: Recognizing that the being and the professional practice are inextricable; Action/interaction: Revisiting professional practices that are repetitive and mechanic; Consequence: Referring to the reflections and knowledge constructed in the Learning Incubator.

Conclusion:

The Learning Incubator, as seen by the study participants, is not limited to the Incubator meetings or the themes addressed in it. Beyond a welcoming physical space, the Incubator expands itself and becomes a tool that promotes self-reflection and self-assessment of professional behaviors and attitudes.

DESCRIPTORS
Education, Nursing; Learning; Technology; Education, Continuing

RESUMEN

Objetivo:

Comprender el significado de la Incubadora de Aprendizaje como tecnología de enseñanza e instrucción en enfermería.

Método:

Es una investigación cualitativa basada en la teoría fundamentada en los datos, los cuales se recopilaron entre marzo y noviembre de 2019 mediante entrevistas compuestas por preguntas orientadoras e hipótesis dirigidas a dos grupos diferentes. Se consideró la técnica del análisis comparativo de los datos, a partir de la codificación abierta, axial e integral, propuesta por el método, llegando al muestreo teórico con 23 participantes enfermeros, técnicos y estudiantes de enfermería.

Resultados:

La delimitación de las categorías convergió en el fenómeno, (Re)significar el conocimiento y las prácticas a través de la Incubadora de Aprendizaje. A partir del modelo paradigmático, las categorías se denominaron en función de tres componentes: Condición: Reconocer la inseparabilidad entre el ser y el hacer profesional; Acción/interacción: Revisar las posturas profesionales rutinarias y mecanicistas; Consecuencia: Remitirse a las reflexiones y conocimientos construidos en la Incubadora de Aprendizaje.

Conclusión:

La Incubadora de Aprendizaje, tal y como la entienden los participantes del estudio, no se reduce al momento de la Incubación ni a los temas tratados. Además de ser un espacio acogedor, la incubadora se expande y se traduce en una herramienta que induce a la autorreflexión y a la autoevaluación de actitudes y posturas profesionales.

DESCRITORES
Educación en Enfermería; Aprendizaje; Tecnología; Educación Continua

INTRODUÇÃO

O termo tecnologia pode ser compreendido e definido sob várias perspectivas, dependendo da área de conhecimento. Entende-se, aqui, tecnologia como configuração complexa que depende de um conjunto de processos e produtos subjetivamente determinados, mas especificáveis. A tecnologia está associada à obtenção de um determinado resultado ou à resolução de certo problema, a partir de determinadas habilidades, saberes e práticas. Sob esse enfoque, a tecnologia não se reduz à produção e incorporação de produtos físicos, mas diz respeito à capacidade de inovar, (re)pensar ou (re)criar saberes, processos e práticas no cotidiano das relações humanas e sociais(11. Wahab SA, Rose RC, Osman SIW. Defining the concepts of technology and technology transfer: a literature analysis. Int Bus Res. 2012;5(1):61-71. http://dx.doi.org/10.5539/ibr.v5n1p61
http://dx.doi.org/10.5539/ibr.v5n1p61...
22. Halicka K. Main concepts of technology analysis in the light of the literature on the subject. Procedia Eng. 2017;182(2):291-8. https://doi.org/10.1016/j.proeng.2017.03.196
https://doi.org/10.1016/j.proeng.2017.03...
).

Na área da saúde, as tecnologias de inovação são os aspectos que mais crescem e impactam na prática assistencial. Destaca-se, em âmbito de Brasil, o “Projeto Saúde Brasil 2030, que tem como principal objetivo a constituição de uma rede estratégica para a estruturação de um Sistema Nacional de Inovação”(33. Fundação Oswaldo Cruz. A Saúde no Brasil em 2030: diretrizes para a prospecção estratégica do Sistema de Saúde Brasileiro. Rio de Janeiro: Fiocruz/Ipea; 2012.). Tal aposta está centrada no desenvolvimento regional sustentável, a qual abrange a tecnologia e a inovação como determinantes estratégicos prospectivos para o enfrentamento das desigualdades regionais. Pretende-se, ainda, a integração e a cooperação interinstitucional e entre as diversas áreas do conhecimento, além da participação ativa dos diferentes atores sociais(44. Cha S. The impact of the worldwide Millennium Development Goals campaign on maternal and under-five child mortality reduction: ‘Where did the worldwide campaign work most effectively?’ Global Health Action. 2017;10(1):1267961. https://doi.org/10.1080/16549716.2017.1267961
https://doi.org/10.1080/16549716.2017.12...
).

Recomenda-se, nessa perspectiva, que as instituições de ensino e de saúde, em geral, invistam no desenvolvimento, na implementação e na avaliação de tecnologias de inovação que possam contribuir para a qualificação da assistência e a melhoria dos indicadores de cuidado em saúde. Como agente mediadora e transformadora do cuidado em saúde, a enfermagem não pode ficar alheia a esse processo. Para além de consumir e importar tecnologias, é fundamental que a enfermagem as protagonize a partir de demandas cotidianas e de referenciais que forneçam aporte teórico para a compreensão e a sistematização crítico-reflexiva de seus desfechos(55. Mesquita AC, Zamarioli CM, de Carvalho EC. The use of robots in nursing care practices: an exploratory-descriptive study. Online Braz J Nurs. 2016;15(3):404-13. https://doi.org/10.17665/1676-4285.20165395
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66. Boisvert S, Proulx-Belhumeur A, Gonçalves N, Doré M, Francoeur J, Gallani MC. An integrative literature review on nursing interventions aimed at increasing self-care among heart failure patients. Rev Latino Am Enfermagem. 2015;23(4):753-68. http://dx.doi.org/10.1590/0104-1169.0370.2612
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).

Além de protagonizar novas tecnologias, é importante que se associe o ensino à aprendizagem reflexiva da prática e vice-versa, no sentido de continuamente (re)significar a própria ação, independentemente do tempo e do espaço em que esta se insere(77. Andrade AM, Silva KL. Adaptations and inventions in the praxis of nurses in home care: implications of the reflective practice. Esc Anna Nery. 2018;22(3):e20170436. http://dx.doi.org/10.1590/2177-9465-ean-2017-0436
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). Nesse processo, a Incubadora de Aprendizagem configura-se como ferramenta tecnológica inovadora, capaz de potencializar iniciativas, desafiar o pensamento criativo e intuir ações proativas no cotidiano da prática profissional. A Incubadora de Aprendizagem, como tecnologia de ensino e aprendizagem, possibilita um processo de auto-organização reflexiva do próprio saber, a partir do distanciamento da ação e do confronto com novos saberes(88. Backes DS, Obem MK, Pereira SB, Gomes CA, Backes MTS, Erdmann AL. Learning Incubator: an instrument to foster entrepreneurship in nursing. Rev Bras Enferm. 2015;68(6):794-8. http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2015680615i
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).

Desenvolveu-se, com base nessa aposta, o projeto de extensão universitário denominado Incubadora de Aprendizagem, no sentido de agregar saberes e práticas por meio da ação-reflexão-ação. Tal projeto iniciou, no ano de 2012, sob o impulso da direção hospitalar e da pesquisadora coordenadora do projeto, com uma dupla finalidade: despertar o potencial inovador e empreendedor de estudantes de Enfermagem e possibilitar a (re)significação do cuidado de Enfermagem de profissionais já inseridos no serviço, por meio de abordagens interativas de ensino e aprendizagem na prática(88. Backes DS, Obem MK, Pereira SB, Gomes CA, Backes MTS, Erdmann AL. Learning Incubator: an instrument to foster entrepreneurship in nursing. Rev Bras Enferm. 2015;68(6):794-8. http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2015680615i
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). Os integrantes voluntários do projeto (docentes, bolsistas de iniciação científica e enfermeiros assistenciais), sob a coordenação e supervisão de um docente pesquisador, encontram-se regularmente para organizar, aprofundar e sistematizar as temáticas que serão dinamizadas na Incubadora de Aprendizagem, bem como para avaliar o processo de intervenção.

Caracterizada como um espaço concreto de educação permanente(99. Carvalho WMES, Teodoro MDA. Health professionals’ education: the experience of the school for the improvement of the Unified Health System in the Federal District of Brazil. Ciênc Saúde Coletiva. 2019;24(6):2193-201. https://doi.org/10.1590/1413-81232018246.08452019
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1010. Costa CKF, Sena RR, Silva KL. Permanent professional education in healthcare services. Esc Anna Nery. 2017;21(4):e20160317. https://doi.org/10.1590/2177-9465-ean-2016-0317
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), a Incubadora de Aprendizagem pode ser considerada uma tecnologia indutora de autorreflexão e de aprendizagem significativa com potencial para (re)pensar as práticas profissionais, por meio da qualificação dos processos relacionais, interativos e assistenciais de cuidado em saúde. Diferentemente das Incubadoras Empresariais, a Incubadora de Aprendizagem configura-se como laboratório vivo, gerador de ideias e de novas possibilidades, pelo compartilhamento dinâmico e circular de saberes e práticas(88. Backes DS, Obem MK, Pereira SB, Gomes CA, Backes MTS, Erdmann AL. Learning Incubator: an instrument to foster entrepreneurship in nursing. Rev Bras Enferm. 2015;68(6):794-8. http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2015680615i
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).

A Incubadora de Aprendizagem está situada em um hospital de ensino, mais especificamente em um espaço físico de uma área de 230 m2, cuidadosa e esteticamente organizada para acolher os profissionais. Semestralmente é acordado um cronograma temático prévio com as lideranças locais, desdobrando-se em unidades de aprendizagem temática, as quais são dinamizadas, na Incubadora, por alunos bolsistas de Enfermagem (a partir do 7º semestre) e mestrandos, com grupos de até quinze colaboradores, sob a supervisão do enfermeiro responsável pelo programa de educação permanente na instituição. As incubações/encontros semanais, em torno de 80 minutos, são desenvolvidas a partir de metodologias de aprendizagem significativa enquanto premissas da educação permanente em saúde(99. Carvalho WMES, Teodoro MDA. Health professionals’ education: the experience of the school for the improvement of the Unified Health System in the Federal District of Brazil. Ciênc Saúde Coletiva. 2019;24(6):2193-201. https://doi.org/10.1590/1413-81232018246.08452019
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1010. Costa CKF, Sena RR, Silva KL. Permanent professional education in healthcare services. Esc Anna Nery. 2017;21(4):e20160317. https://doi.org/10.1590/2177-9465-ean-2016-0317
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), nas quais os colaboradores de enfermagem, organizados em pequenos grupos e por escalas, se reconhecem protagonistas de novos pactos de convivência e práticas. Em cada encontro é tratada uma temática, previamente acordada com as lideranças locais, sistematizada a partir de questões geradoras e indutoras de reflexão, que consideram a escuta, a troca de vivências e de novos aprendizados por parte de cada integrante.

Assim, considerando que a utilização de Incubadoras de Aprendizagem pelas instituições de ensino ainda se mostra insuficiente no que tange à institucionalização e à necessidade de contribuir para o alcance dos objetivos do Projeto Saúde Brasil 2030, bem como o avanço das tecnologias de inovação na área de enfermagem, questiona-se: qual é o significado da Incubadora de Aprendizagem como tecnologia de ensino e aprendizagem na área de enfermagem? Objetiva-se, assim, compreender o significado da Incubadora de Aprendizagem como tecnologia de ensino e aprendizagem na área de enfermagem.

MÉTODO

Tipo de Estudo

Trata-se de pesquisa qualitativa, apoiada na teoria fundamentada nos dados, cujo foco centra-se na compreensão dos fenômenos sociais a partir dos significados das relações, interações e associações entre as pessoas(1111. Corbin J, Strauss A. Basics of qualitative research: techniques and procedures for developing Grounded Theory. 4th ed. Los Angeles: Sage; 2015.).

População

Participaram do estudo 15 profissionais de enfermagem (enfermeiros e técnicos de enfermagem) e oito (8) bolsistas de enfermagem (a partir do 7º semestre), organizados em dois grupos amostrais. A coleta de dados ocorreu entre março e novembro de 2019, em uma Instituição Hospitalar de médio porte, por meio de entrevistas individuais, registradas em gravação de áudio digital de voz, com duração média de 50 minutos, e após transcritas para a análise simultânea e comparativa de dados pelos pesquisadores, conforme prevê o método. Os critérios de inclusão para os grupos amostrais foram os seguintes: enfermeiros e técnicos de enfermagem com regime de trabalho exclusivo na instituição e que, a priori, haviam participado colaborativamente (ambas as categorias) das atividades mensais na Incubadora de Aprendizagem; e bolsistas de enfermagem que haviam protagonizado tais atividades. Os critérios de exclusão para ambos os grupos foram: profissionais/bolsistas com menos de um ano de inserção nas atividades da Incubadora de Aprendizagem.

Critérios de seleção

O primeiro grupo amostral foi composto por profissionais de enfermagem (enfermeiros e técnicos de enfermagem), a partir de sua vinculação ativa nas atividades mensais realizadas na Incubadora de Aprendizagem. Os profissionais são, na sua maioria, do sexo feminino, com idade entre 24 e 48 anos, casados e com renda entre R$ 1.800 (técnicos) e R$ 4.700 (enfermeiros). Os participantes foram convidados, por meio de convite genérico enviado aos setores de enfermagem, por e-mail, e as entrevistas foram previamente agendadas e realizadas no local de trabalho com os primeiros manifestantes favoráveis. Com base nas respostas a uma questão ampla e central, novos questionamentos e hipóteses emergiram e direcionaram a coleta de dados para um segundo grupo.

O segundo grupo amostral foi composto pelos oito (8) bolsistas de enfermagem (a partir do 7º semestre) que integram o projeto de extensão Incubadora de Aprendizagem e que haviam participado das atividades mensais na Incubadora, no ano em curso. Dos oito (8) bolsistas, todos do sexo feminino e com idade entre 20 e 25 anos, seis (6) são voluntários e dois (2) com bolsa de iniciação científica no valor de R$ 400,00. Os bolsistas foram convidados e todos responderam afirmativamente ao convite nominal. Assim, as entrevistas foram previamente agendadas conforme a disponibilidade de cada estudante e realizadas em um dos laboratórios da Universidade.

Coleta e análise dos dados

As etapas de coleta, análise e categorização dos dados ocorreram de forma simultânea com a análise comparativa dos dados, conforme prevê a teoria fundamentada nos dados(1212. Strauss A, Corbin J. Pesquisa qualitativa: técnicas e procedimentos para o desenvolvimento de teoria fundamentada. Porto Alegre: Artmed; 2008.). Identificou-se, com base na análise do primeiro grupo amostral, que o significado da Incubadora de Aprendizagem estava fortemente associado ao espaço físico, considerado pelos profissionais como instigador, agregador e potencializador de reflexões possibilitadas pela vinculação com os bolsistas de enfermagem durante o processo de incubação. Assim, a análise dos dados do primeiro grupo sugeriu novos questionamentos, tais como: qual significado os bolsistas de enfermagem, como protagonistas do processo, têm atribuído à Incubadora de Aprendizagem? O que o processo de incubação despertou nos bolsistas e como avaliam a sua inserção neste projeto? Teve-se, com base nestes questionamentos, a hipótese: A proximidade, a empatia e a autonomia dos bolsistas de enfermagem despertam reflexões do vivido sobre o ser e fazer dos profissionais. Conduziu-se, assim, nova coleta de dados, conforme propõe o método, com oito bolsistas, dando origem ao segundo grupo amostral, conforme detalhamento a seguir: 1º grupo (4 Enfermeiros e 11 Técnicos de Enfermagem, com a seguinte questão: Qual significado você atribui à Incubadora de Aprendizagem? O que este processo despertou em você?) e 2º grupo (8 bolsistas de enfermagem a partir do 7º semestre, com a seguinte questão, elaborada com base na hipótese prévia: Qual o significado que você atribui à Incubadora de Aprendizagem, hoje, após a sua inserção como protagonista, e o que este processo despertou em você?).

O processo de análise seguiu a codificação aberta, a codificação axial e a integralização dos dados, conforme proposto pelo método da teoria fundamentada nos dados, de modo que na codificação aberta os dados foram analisados linha por linha para o reconhecimento dos códigos e a composição dos conceitos. Prosseguiu-se com o reagrupamento dos dados – codificação axial, no sentido de clarificar o fenômeno. O processo de refinamento das categorias e subcategorias esteve apoiado no modelo paradigmático, conforme previsto pelo método(1111. Corbin J, Strauss A. Basics of qualitative research: techniques and procedures for developing Grounded Theory. 4th ed. Los Angeles: Sage; 2015.). Por meio da integração, última fase, realizou-se o refinamento das categorias, de modo que se conseguiu delimitar o fenômeno.

A saturação teórica dos dados foi alcançada com a repetição das informações e a ausência de novos elementos de significado relacionados ao objeto sob investigação. Foram elaborados, no decorrer do processo de construção da teoria, memorandos e diagramas com base nos registros e insight dos pesquisadores(1111. Corbin J, Strauss A. Basics of qualitative research: techniques and procedures for developing Grounded Theory. 4th ed. Los Angeles: Sage; 2015.1212. Strauss A, Corbin J. Pesquisa qualitativa: técnicas e procedimentos para o desenvolvimento de teoria fundamentada. Porto Alegre: Artmed; 2008.). Utilizou-se o software NVIVO® para auxiliar na organização e codificação dos dados.

Aspectos éticos

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, sob o Parecer n. 2.766.732, de 2018. A fim de garantir o anonimato, os participantes foram identificados com a letra “E” seguida do número correspondente à ordem de realização das entrevistas e da indicação do referido grupo amostral “G”, como, por exemplo, E1G1... E15G1, E1G2...E8G2.

RESULTADOS

A análise comparativa dos dados possibilitou a delimitação de três categorias que confluíram para a delimitação do fenômeno: (Re)significando saberes e práticas por meio da Incubadora de Aprendizagem. Norteado pelo modelo paradigmático, as categorias foram denominadas com base nos três componentes, conforme ilustra a Figura 1: Condição: Reconhecendo a indissociabilidade entre o ser e fazer profissional; Ação/interação: Revisitando posturas profissionais rotineiras e mecanicistas; Consequência: Remetendo-se às reflexões e aos saberes construídos na Incubadora de Aprendizagem.

Figura 1
Fenômeno: (Re)significando saberes e práticas por meio da Incubadora de Aprendizagem – Santa Maria, RS, Brasil, 2019.

A categoria condição “Reconhecendo a indissociabilidade entre o ser e fazer profissional” é apoiada por duas subcategorias e possibilita um movimento que conflui para o fenômeno central. Na primeira subcategoria, “Percebendo a necessidade de evoluir como pessoa e profissional”, os participantes destacaram que o aprendizado se dá de forma integral e ao longo da vida. Nessa mesma direção, os participantes percebem-se como aprendizes, por vezes, necessitados de acolhimento e cuidado, além de se mostrarem ávidos por novos saberes e/ou simplesmente trocas significativas para associar o ser ao fazer e vice-versa.

Sempre temos coisas novas e diferentes para aprender e ensinar. Nunca estamos prontos... é preciso estar sempre envolvido e buscar novos horizontes, novos aprendizados. A cada dia, temos que evoluir como pessoa e profissional e buscar (re)significar o que já sabemos (E2G1).

Com o projeto da Incubadora eu cresci em todos os sentidos e amadureci muito como pessoa e profissional. Os professores percebem, na sala de aula, os alunos que estão envolvidos na Incubadora... no contato com os profissionais, a gente ensina muito, mas aprende muito mais (E1G2).

A subcategoria “Atentando para o modo de fazer as coisas” está relacionada ao fazer profissional, evidenciada pelos participantes de ambos os grupos. Na visão dos bolsistas, a rotina do dia a dia massifica/engessa o fazer profissional de enfermagem, os quais acabam por desempenhar, frequentemente, um cuidado acrítico e pontual. Os participantes de ambos os grupos reconhecem que o cuidado de enfermagem vai muito além do fazer técnico rotineiro e despersonalizado, necessitando, por isso, de espaços favoráveis à reflexão e autoavaliação. Defendem, nessa direção, que o cuidado de enfermagem requer, por parte do profissional, atenção e um estado de presença vigilante para estar inteiramente com o outro – ser cuidado.

O cuidado vai muito além da realização de medicamentos, dar banho... ele compreende a integralidade do profissional que precisa estar aí por inteiro. Como profissionais do cuidado, nós marcamos a vida das pessoas de forma positiva ou negativa (E4G1).

Percebo que a rotina do dia a dia mecaniza o fazer de alguns profissionais de enfermagem... alguns agem de forma involuntária e acabam prestando um cuidado muito técnico (E3G2).

A categoria ação/interação “Revisitando posturas profissionais rotineiras e mecanicistas” é sustentada por duas subcategorias que retratam os movimentos interativos e dinâmicos realizados pelos participantes, no sentido de (re)organizar a própria dinâmica de trabalho. Na primeira subcategoria, “Refletindo sobre o cotidiano do ser e fazer profissional”, os participantes enunciaram que, por vezes, a sua prática não condiz com os seus princípios e valores, limitando-se, por vários motivos, a reproduzir técnicas e afazeres cotidianos. Percebem que o profissional de enfermagem, por ser o profissional do cuidado, necessita de constante autorreflexão e autoavaliação para não se reduzir à máquina, que atua de forma automática e despersonalizada.

As atividades na Incubadora serviram para eu me analisar e refletir sobre as minhas ações. Às vezes, eu me torno bem mecânico naquilo que faço e tudo se torna rotina. Aí, com estas intervenções na incubadora, eu pude refletir na forma como eu venho realizando o cuidado (E11G1).

Eu pude perceber que na Incubadora os profissionais refletem muito, se emocionam e também partilham de forma intensa as suas experiências pessoais. Todos gostam de estar aí e sempre reforçam a necessidade de falarem sobre as coisas do dia a dia... aprendemos a ver as coisas de outro jeito e não só julgar (E4G2).

A subcategoria “Atentando para a singularidade do paciente” revela que o cuidado de enfermagem não se reduz ao fazer despersonalizado e descontextualizado. Para os participantes, o cuidado, no verdadeiro sentido da palavra, envolve relações humanas e requer olhar diferenciado, escuta atenta e sensibilidade para apreender a singularidade do outro. Reconhecem, portanto, que o cuidado não se efetiva nas relações verticalizadas e impositivas, mas por meio da abertura às demandas singulares dos pacientes e familiares.

Eu sinto que o cuidado de enfermagem exige abertura constante para o outro para não impor. Eu preciso pensar sempre na singularidade de cada pessoa, sobretudo da pessoa doente que já está numa situação vulnerável. Talvez o que seja singular para o paciente não seja para mim (E12G1).

A maior parte dos temas trabalhados não são novos para os profissionais... a Incubadora de Aprendizagem consegue fazer com que eles parem para pensar em si e no outro, na forma como vem acontecendo este cuidado... muitos se dão conta que precisam rever a sua forma pensar e agir (E5G2).

A categoria consequência “Remetendo-se às reflexões e saberes construídos na Incubadora de Aprendizagem” apoia-se em duas subcategorias. A primeira subcategoria, “Reportando-se ao ambiente da Incubadora”, faz referência à importância da Incubadora de Aprendizagem como espaço formativo e autoavaliativo. Embora, muitas vezes, não lembrem das temáticas e dos conteúdos nela abordados, o espaço acolhedor e instigador da Incubadora induz os participantes a reflexões que transcendem os conteúdos e/ou temáticas trabalhadas. Nessa relação, deixaram claro que a Incubadora lhes possibilita insights que induzem a novas reflexões e condutas profissionais.

Muitas vezes acontece que eu não consigo lembrar o assunto discutido, mas quando penso na Incubadora de Aprendizagem eu consigo ter um pensamento rápido e refletir sobre as minhas ações e ter uma conduta melhor (E9G1).

Estar participando do projeto da Incubadora me possibilitou empoderamento e mais discernimento. Eu aprendo não só com os conteúdos nela trabalhados, mas ela me possibilita uma construção coletiva de aprendizados que eu levo para a vida (E7G2).

A subcategoria “Cultivando saberes e práticas apreendidas na Incubadora de Aprendizagem” demostra que os participantes empreendem esforços para traduzir, no cotidiano, os ensinamentos compartilhados na incubadora. Demostra, ainda, que a Incubadora, por vezes, se constitui alavanca prospectiva que possibilita um movimento formativo autônomo e responsável por parte dos profissionais.

Este processo me despertou a vontade de buscar novos conhecimentos e melhorar as minhas ações. Tentei repensar o modo de exercer as coisas e tento me policiar para fazer tudo da melhor forma (E11G1).

Inserida neste projeto da Incubadora, eu preciso estudar muito todos os dias. Preciso ter um conhecimento avançado para poder discutir com os profissionais. Com os trabalhos já realizados foi possível um crescimento na leitura e na escrita e, consequentemente, um melhor aproveitamento em todos os trabalhos acadêmicos (E8G2).

A Incubadora de Aprendizagem, com base nos resultados alcançados, não se reduz ao evento na Incubadora e/ou às temáticas nela discutidas. Para além de um espaço físico acolhedor, a Incubadora amplia-se e traduz-se em ferramenta indutora de autorreflexão e autoavaliação das atitudes e posturas profissionais no cotidiano das práticas. Nesse processo, as percepções dos técnicos, embora em maior número que os Enfermeiros, estiveram muito próximas. Tanto os técnicos quanto os Enfermeiros demostraram profundo desejo e impulso para (re)pensar atitudes e posturas profissionais.

Já em relação aos bolsistas de enfermagem, a Incubadora de Aprendizagem apresentou-se como um laboratório vivo, no qual se desafiaram para o aprendizado autônomo, ampliaram conhecimentos, avaliaram atitudes e posturas e, sobretudo, se instigaram para a leitura, a escrita e a reflexão. Os resultados demostram, em geral, que os bolsistas se sentem interpelados, como participantes do projeto, a transcenderem conteúdos e atividades propostas em sala de aula.

DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo permitem argumentar que a Incubadora, uma tecnologia de ensino e aprendizagem, se configura como um espaço significativo para o (re)pensar de saberes e práticas de enfermagem/saúde. Além de tecnologia inovadora, a Incubadora pode ser caracterizada como estratégia empreendedora, pela possibilidade de gerar e integrar a inovação, a tecnologia e a educação permanente na realidade concreta dos profissionais, conforme já evidenciado em outros estudos(88. Backes DS, Obem MK, Pereira SB, Gomes CA, Backes MTS, Erdmann AL. Learning Incubator: an instrument to foster entrepreneurship in nursing. Rev Bras Enferm. 2015;68(6):794-8. http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2015680615i
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,1313. Cecagno D, Siqueira de HCH, Calvetti A, Castro LQ, Erdmann AL. Incubate of learning in nursing: an innovation in teaching the care. Rev Bras Enferm. 2009;62(3):463-6. https://doi.org/10.1590/S0034-71672009000300021
https://doi.org/10.1590/S0034-7167200900...
).

A Incubadora de Aprendizagem, portanto, (re)cria possibilidades e desperta atitudes empreendedoras e transformadoras, na medida em que induz à autorreflexão e transcende o fazer rotineiro e mecanicista do dia a dia que engessa o pensar e paralisa a criatividade, conforme mencionado pelos participantes do estudo e defendido por estudo anterior(88. Backes DS, Obem MK, Pereira SB, Gomes CA, Backes MTS, Erdmann AL. Learning Incubator: an instrument to foster entrepreneurship in nursing. Rev Bras Enferm. 2015;68(6):794-8. http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2015680615i
http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2015...
). Com base nas atividades desenvolvidas na Incubadora de Aprendizagem, o profissional motiva-se e determina-se à formação crítica e reflexiva para lidar com a realidade e transformá-la. Nesse processo, a educação permanente propicia, por meio de reflexão coletiva, a aprendizagem no trabalho, pelo trabalho e para o trabalho, a partir dos problemas enfrentados na realidade dos serviços(1414. Sade SPMC, Peres AM, Zago DPL, Matsuda LM, Wolff LDG, Bernardino E. Assessment of continuing education effects for nursing in a hospital organization. Acta Paul Enferm. 2020;33:eAPE20190023. http://dx.doi.org/10.37689/acta-ape/2020AO0023
http://dx.doi.org/10.37689/acta-ape/2020...
).

Os resultados deste estudo demostram, também, que não basta conceber novas políticas, a exemplo da política de educação permanente em saúde. Para além de sua concepção, é preciso o protagonismo das tecnologias que fazem sentido no cotidiano das práticas profissionais. Como tecnologia indutora de ensino e aprendizagem significativa, a Incubadora permite transcender as tradicionais reuniões e/ou palestras e possibilita o aprendizado colaborativo, por meio de abordagens que potencializam as interações, as associações e as relações interprofissionais(88. Backes DS, Obem MK, Pereira SB, Gomes CA, Backes MTS, Erdmann AL. Learning Incubator: an instrument to foster entrepreneurship in nursing. Rev Bras Enferm. 2015;68(6):794-8. http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2015680615i
http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2015...
).

Trata-se, portanto, de um processo formativo complexo que requer o desenvolvimento, desde a graduação, de habilidades profissionais capazes de iniciar processos ao invés de apenas consumir e/ou se adequar às propostas previamente concebidas. Requer-se, para tanto, “um processo de ensino e aprendizagem em que o aluno, como ser biopsicossocial e participante ativo”, se instigue ao aprendizado autônomo e seja capaz de modificar os “significados existentes, por meio da organização e integração na estrutura cognitiva dos conceitos prévios e novos, tornando-os significativos”(1515. Glenda A, Formiga NS, Oliveira PS, Costa MML, Fernandes MGM, Nóbrega MML. Analysis of the concept of Meaningful Learning in light of the Ausubel’s Theory. Rev Bras Enferm. 2019;72(1):248-55. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0691
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0...
). Sob esse enfoque, estudo demostra que um currículo direcionado para o desenvolvimento de habilidades empreendedoras entre os alunos aumenta as perspectivas profissionais e o alcance de resultados mais efetivos e transformadores na prática(1616. Copelli FHS, Erdmann AL, Santos JL. Entrepreneurship in nursing: an integrative literature review. Rev Bras Enferm. 2019;72 Suppl 1:289-98. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0523
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0...
).

Destaca-se, nesse contexto de discussões, a ideia demostrada pelos participantes deste estudo de que a Incubadora os induz a reflexões que transcendem o espaço físico ou os conteúdos/temáticas nela abordadas, ou seja, possibilita-lhes insights que induzem a reflexões sobre a postura e as condutas profissionais. Evidencia-se, com esse pensar, que para além dos conteúdos temáticos se destacam, cada vez mais, as tecnologias interativas que permitem conexões dinâmicas entre o ser e o fazer, entre a teoria e a prática, e o vivido na prática do dia a dia(1717. Braten I, Ferguson LE. Beliefs about sources of knowledge predict motivation for learning in teacher education. Int J Res Stud. 2015;50:13-23. https://doi.org/10.1016/j.tate.2015.04.003
https://doi.org/10.1016/j.tate.2015.04.0...
1818. Jo Lunn B, Leila EF, Mary R. Changing teachers’ epistemic cognition: a new conceptual framework for epistemic reflexivity. Educ Psychol. 2017;52(4):242-52. https://doi.org/10.1080/00461520.2017.1333430
https://doi.org/10.1080/00461520.2017.13...
).

A educação permanente em saúde tem por objetivo central a transformação do trabalho. Espera-se, por meio dela, o desenvolvimento de atitudes profissionais críticas e conscientes tanto no campo do ser quanto do fazer profissional, em prol do desenvolvimento de uma práxis transformadora, conforme demonstrado pelos participantes deste estudo. Corroborando esses achados, um estudo recente demonstra que o trabalho extrapola a atividade laboral e se constitui, sobremaneira, como um espaço de formação e educação permanente da força de trabalho em saúde. Essa perspectiva demanda, no entanto, mudanças na forma de pensar e organizar os processos de ensino e aprendizagem, a partir de alternativas metodológicas coerentes com e para esse mundo do trabalho(1919. Leite CM, Pinto ICM, Fagundes TLQ. Educação permanente em saúde: reprodução ou contra- hegemonia. Trab Educ Saúde. 2020;18 Suppl. 1:e0025082. http://dx.doi.org/10.1590/1981-7746-sol00250
http://dx.doi.org/10.1590/1981-7746-sol0...
).

Assim como a teoria, a prática precisa ser revisitada e (re)significada permanentemente. Nessa relação, toda e qualquer circunstância precisa ser potencializada com base em processos reflexivos e dialógicos refletores da prática, a fim de não reproduzir fazeres estéreis. O mediador necessita, para tanto, “ser dialogante, crítico e reflexivo, bem como ter consciência das intencionalidades que presidem da sua prática, no sentido de a subjetividade construir a realidade, que se modifica mediante a interpretação coletiva”(2020. Franco MARS. Prática pedagógica e docência: um olhar a partir da epistemologia do conceito. Rev Bras Estud Pedag. 2016;97(247):534-51. http://dx.doi.org/10.1590/s2176-6681/288236353
http://dx.doi.org/10.1590/s2176-6681/288...
2121. Lomba MLLF, Toson M, Weissheimer AS, Backes MTS, Büscher A, Backes DS. Empreendedorismo social: translação de saberes e práticas em estudantes de enfermagem no Brasil. Rev Enf Ref. 2018;serIV(19):107-15. https://doi.org/10.12707/RIV18064
https://doi.org/10.12707/RIV18064...
).

O processo de educação permanente, mediado pela Incubadora de Aprendizagem, pressupõe necessariamente o pensamento crítico propositivo dos trabalhadores, dos gestores, dos usuários e das instituições de ensino. Tal pensar foi incorporado pelos participantes deste estudo ao mencionarem que, para além dos conteúdos trabalhados na Incubadora, o aprendizado e a construção colaborativa possibilitaram o repensar de atitudes e posturas profissionais. É premente, sob esse enfoque, superar a reprodução de saberes pontuais focados na transmissão de conteúdos com temas pré-definidos e abordagens tradicionais. É preciso, conforme estudos previamente realizados, possibilitar novas formas de ensinar e aprender, a fim de que os atores, nesse caso os profissionais e estudantes, se sintam interpelados a (re)construir saberes e práticas de forma autônoma e corresponsável(2222. Mello AL, Backes DS, Terra MG, Rangel RF, Nietsche EA, Salbego C. (Re)pensando a educação permanente com base em novas metodologias de intervenção em saúde. Rev Cubana Enferm [Internet]. 2017 [citado 2021 jan. 10];33(3):1-10. Disponível em: http://www.revenfermeria.sld.cu/index.php/enf/article/view/1104/285
http://www.revenfermeria.sld.cu/index.ph...
2323. Dorneles LL, Martins VP, Morelato CS, Goes FSN, Fonseca LMM, Camargo RAA. Development of an animated infographic on permanent health education. Rev Latino Am Enfermagem. 2020;28:e3311. http://dx.doi.org/10.1590/1518-8345.3536.3311
http://dx.doi.org/10.1590/1518-8345.3536...
).

A partir deste estudo, evidenciou-se, como limitação, a discreta utilização da Incubadora de Aprendizagem pela Enfermagem, o que pode refletir em uma caracterização superficial do estado da arte dessa tecnologia. Sugerem-se, para tanto, novos estudos na área de enfermagem/saúde que associem a educação permanente, mediada pelas metodologias significativas de ensino e aprendizagem, às Incubadoras de Aprendizagem, no sentido de ampliar e validar teorias e práticas.

Defende-se, portanto, que a compreensão do significado da Incubadora de Aprendizagem como tecnologia de ensino e aprendizagem, na área de enfermagem, ampliará a sua utilização por pesquisadores, professores e enfermeiros. Dessa forma, potencializará novas iniciativas tecnológicas e possibilitará o avanço para a área de enfermagem.

CONCLUSÃO

A Incubadora de Aprendizagem como tecnologia de ensino e aprendizagem na área de enfermagem pode ser caracterizada, na percepção dos participantes, como um espaço de encontro, diálogo e (re)significação do ser e fazer profissional. Aliada à educação permanente em saúde, a Incubadora de Aprendizagem possibilita a problematização do processo de trabalho, com vistas à transformação das práticas profissionais e da própria organização do trabalho.

A Incubadora de Aprendizagem, conforme significada pelos participantes do estudo, não se reduz ao evento da Incubadora ou às temáticas nela abordadas. Para além de um espaço físico acolhedor, essa tecnologia amplia e traduz-se em ferramenta indutora de autorreflexão e autoavaliação das atitudes e posturas profissionais cristalizadas pela rotina do dia a dia.

A Incubadora de Aprendizagem constitui-se, em suma, como tecnologia prospectiva para o fomento da educação permanente em saúde. Considera-se relevante que os profissionais de enfermagem não se limitem a consumir e a reproduzir práticas instituídas, mas que se desafiem ao protagonismo dos novos processos e produtos que contribuem para a (re)significação da prática profissional.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Ago 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    08 Fev 2020
  • Aceito
    04 Mar 2021
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