Acessibilidade / Reportar erro

Cuidado integral na ótica de enfermeiros: uma abordagem ecossistêmica

RESUMO

Objetivos:

averiguar a percepção dos enfermeiros acerca do cuidado integral ao ser humano na perspectiva ecossistêmica, a partir da utilização do Toque Terapêutico.

Métodos:

estudo exploratório-descritivo, qualitativo, realizado com 11 enfermeiros que utilizam/utilizaram o Toque Terapêutico no cotidiano de trabalho. Os dados foram coletados por meio da técnica de entrevista semiestruturada e submetidos à Análise Textual Discursiva. Utilizou-se o referencial ecossistêmico.

Resultados:

os participantes discorreram acerca da temática de uma maneira polissêmica, mas entendem que o cuidado integral é inerente ao profissional enfermeiro, pois está intrínseco no seu ser e fazer, considerando as bases teórico filosóficas da profissão, que visam à integralidade do ser.

Considerações Finais:

o Toque Terapêutico foi considerado como uma forma de cuidar o ser humano na sua integralidade. O objetivo do estudo foi alcançado, contudo entende-se a necessidade de outras pesquisas que avancem nesse conhecimento e possibilite inovações nas práticas profissionais do enfermeiro.

Descritores:
Cuidados de Enfermagem; Toque Terapêutico; Terapias Complementares; Enfermagem; Ecossistema

ABSTRACT

Objectives:

to verify nurses’ perceptions about comprehensive care to human beings from the ecosystem perspective, with Therapeutic Touch use.

Methods:

an exploratory-descriptive, qualitative study, conducted with 11 nurses who use/used Therapeutic Touch in daily work. Data were collected through online semi-structured interviews and submitted to discursive textual analysis. The ecosystem framework was used.

Results:

participants talked about the theme in a polysemic way, but understand that comprehensive care is associated with nursing professionals and intrinsic in their being and doing, considering the philosophical theoretical bases of nursing, which aim at the comprehensiveness of being.

Final Considerations:

Therapeutic Touch was considered as a way to achieve comprehensive care caring to human being ins. The objective of the study was achieved; however, it is understood the need for other research to advance this knowledge and enable innovations in professional practice of nurses.

Descriptors:
Nursing Care; Therapeutic Touch; Complementary Therapies; Nursing; Ecosystem

RESUMEN

Objetivos:

conocer la percepción de los enfermeros sobre la atención integral al ser humano desde una perspectiva ecosistémica, a partir del uso del Tacto Terapéutico.

Métodos:

estudio exploratorio-descriptivo, cualitativo realizado con 11 enfermeras que usan/usaron Tacto Terapéutico en su trabajo diario. Los datos fueron recolectados mediante la técnica de entrevista semiestructurada y sometidos a Análisis Textual Discursivo. Se utilizó la referencia del ecosistema.

Resultados:

los participantes discutieron el tema de manera polisémica, pero entienden que el cuidado integral es inherente al profesional enfermero, ya que es intrínseco a su ser y hacer, considerando las bases teóricas y filosóficas de la profesión, que apuntan a la integralidad del ser.

Consideraciones finales:

se consideró el Tacto Terapéutico como una forma de cuidar al ser humano en su totalidad. El objetivo del estudio se logró, sin embargo, se entiende la necesidad de realizar más investigaciones que avancen en este conocimiento y posibiliten innovaciones en las prácticas profesionales de las enfermeras.

Descriptores:
Atención de Enfermería; Tacto Terapéutico; Terapias Complementarias; Enfermería; Ecosistema

INTRODUÇÃO

As discussões acerca do cuidado, na enfermagem, são uma prática contínua, por ser esse o foco principal da profissão. Contudo, observa-se que há uma necessidade de direcionar essas reflexões para um olhar ampliado, entendendo o que é preconizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em suas diretrizes e políticas públicas, bem como a complexidade do ser humano.

Esse contexto possibilita repensar sobre o cuidado integral, entendido como aquele que atende as diversas dimensões do ser humano, podendo ser considerado um fenômeno complexo que visa promover o mesmo como um ser singular e multidimensional, não acontecendo apenas por ação de um sujeito, mas de uma rede de cuidados que deve ir além das necessidades visíveis(11 Rangel RF, Backes DS, Pimpão FD, Costenaro RGS, Martins ESR, Diefenbach GDF. Concepções de Docentes de Enfermagem Sobre Integralidade. Rev Rene [Internet]. 2012 [2018 Sep 15];13(3):514-21. Available from: http://www.periodicos.ufc.br/rene/article/view/3969/3136.pdf
http://www.periodicos.ufc.br/rene/articl...
-22 Rangel RF, Backes DS, Ilha S, Siqueira HCH, Martins FDP, Zamberlan C. Cuidado integral: significados para docentes e discentes de enfermagem. Rev Rene [Internet]. 2017 [2018 Sep 15]; 18(1):43-50. Available from: http://www.periodicos.ufc.br/rene/article/viewFile/18866/29599.pdf
http://www.periodicos.ufc.br/rene/articl...
).

Nessa direção, compreende-se que, para a enfermagem, é necessário a sistematização e gerenciamento do cuidado nos diferentes cenários de atuação em saúde(22 Rangel RF, Backes DS, Ilha S, Siqueira HCH, Martins FDP, Zamberlan C. Cuidado integral: significados para docentes e discentes de enfermagem. Rev Rene [Internet]. 2017 [2018 Sep 15]; 18(1):43-50. Available from: http://www.periodicos.ufc.br/rene/article/viewFile/18866/29599.pdf
http://www.periodicos.ufc.br/rene/articl...
), pois ainda se observa nas práticas profissionais a predominância do modelo biomédico, que reforça as superespecializações, enfatiza o atendimento em agravos específicos centrado no profissional e desconsidera as necessidades das pessoas na sua singularidade e coletividade(33 Assis MMA, Nascimento MAA, Pereira MJB, Cerqueira EM. Comprehensive health care: dilemmas and challenges in nursing. Rev Bras Enferm [Internet]. 2015 [2018 Sep 16];68(2):333-8. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v68n2/en_0034-7167-reben-68-02-0333.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reben/v68n2/en_...
).

O contexto apresentado é um desafio para a profissão, pois essa precisa se sensibiliza para um novo fazer embasado em referenciais teóricos filosóficos que sustentem a compreensão do ser humano em sua multidimensionalidade e em novas bases terapêuticas que se reportem ao cuidado integral(33 Assis MMA, Nascimento MAA, Pereira MJB, Cerqueira EM. Comprehensive health care: dilemmas and challenges in nursing. Rev Bras Enferm [Internet]. 2015 [2018 Sep 16];68(2):333-8. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v68n2/en_0034-7167-reben-68-02-0333.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reben/v68n2/en_...
). A partir dessas lacunas que direcionam a fragmentação do cuidado de enfermagem, optou-se, neste constructo, pela utilização do referencial ecossistêmico, em que ecossistema se refere a espaço, casa, lugar que o ser humano vive e se desenvolve, constituído pela totalidade de elementos que fazem parte desse espaço, sejam eles elementos bióticos (sociais) e abióticos (físicos), os quais interagem e realizam trocas entre si(44 Siqueira HCH, Thurow MRB, Paula SF, Zamberlan C, Medeiros AC, Cecagno D, et al. A saúde do ser humano na perspectiva ecossistêmica. Rev Enferm UFPE [Internet]. 2018 [2019 Jan 30];12(2):559-64. Available from: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/viewFile/25069/27888
https://periodicos.ufpe.br/revistas/revi...
).

Nessa perspectiva, destaca-se que o cuidado integral deve ser desenvolvido a partir dos elementos que compõem o ecossistema onde o ser humano está inserido, bem como as relações que se estabelecem durante o desenvolvimento desse cuidado, ou seja, um direcionamento que vai além da dimensão biológica do ser humano. Assim, objetivando um cuidado continuado, humanizado e integral em saúde, a fim de contribuir com a resolutividade e estimular novas alternativas que cooperem com o desenvolvimento sustentável das comunidades e estimulem o controle/participação social no Brasil, o Ministério da Saúde aprovou, em 2006, a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS(55 Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS - PNPIC-SUS[Internet]. Brasília, (DF): Ministério da Saúde; 2006 [2018 Sep 15]. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pnpic.pdf
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoe...
). Sendo assim, cabe destacar que o Toque Terapêutico direciona e delimita a investigação deste estudo, que tem como foco principal o cuidado integral desenvolvido por enfermeiros.

As Práticas Integrativas e Complementares (PICS), na enfermagem, podem contribuir de modo ímpar, pois são terapias naturais que têm como propósito o cuidado ao ser humano por meio de uma visão integral. As mesmas contrapõem-se ao modelo tecnicista e biomédico, em que se fragmenta o cuidado por meio de métodos medicamentosos e intervenções, por vezes desnecessários, focado apenas na dimensão biológica(66 Telesi Jr ET. Práticas integrativas e complementares em saúde, uma nova eficácia para o SUS. Estud. Av [Internet]. 2016 [2018 Sep 14];30(86):99-112. doi: 10.1590/S0103-40142016.00100007
https://doi.org/10.1590/S0103-40142016.0...
).

O Toque Terapêutico (TT) é uma técnica de imposição de mãos que objetiva a harmonização do Campo de Energia Humana (CEH), proposta pela enfermeira americana Dolores Krieger, juntamente com a terapeuta Dora Kunz, na década de 70, e que vem despertando interesse de pesquisadores por sua significância no cuidado ao ser humano. Originada a partir de modelos orientais de cura, está alicerçada na visão integral e científica que compreende a presença de campos energéticos contornando organismos(77 Sá AC. Toque Terapêutico, uma novidade chega ao Brasil. Rev Nurs [Internet]. 2018 [2018 Sep 17];21(236):2010-12. Available from: http://www.revistanursing.com.br/revistas/236-Janeiro2018/entrevistas.pdf
http://www.revistanursing.com.br/revista...
) justificando, assim, a importância de pesquisar e refletir acerca do mesmo no cuidado integral ao ser humano. Dessa forma, faz-se necessário incentivar as reflexões científicas, visando maior compreensão acerca das contribuições desses conhecimentos(88 Sousa RM, Guimarães CM. Aplicação do toque terapêutico na assistência complementar em enfermagem. Estudos [Internet]. 2014 [2018 Sep 17];41(Esp):151-63. Available from: http://seer.pucgoias.edu.br/index.php/estudos/article/view/3815/2179.pdf
http://seer.pucgoias.edu.br/index.php/es...
).

Cabe ressaltar que as práticas de imposição de mãos não estavam dispostas, inicialmente, na PNPIC. Contudo, essas foram incluídas no ano de 2018 por meio da Portaria nº 702, que alterou a Portaria de Consolidação nº 2 de 2017, no qual estava previsto, nessa modalidade, apenas o Reiki(99 Ministério da Saúde (BR). Portaria 702, de 21 de março de 2018. Altera a Portaria de Consolidação nº 2/GM/MS, de 28 de setembro de 2017, para incluir novas práticas na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares - PNPIC [Internet]. Brasília, (DF): Ministério da Saúde 2018 [2018 Sep 17] Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2018/prt0702_22_03_2018.html
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis...
).

OBJETIVOS

Averiguar a percepção dos enfermeiros acerca do cuidado integral ao ser humano na perspectiva ecossistêmica, a partir da utilização do TT.

MÉTODOS

Aspectos éticos

Para atender aos critérios éticos, o projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa na Área da Saúde (CEPAS) da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), com a finalidade de atender às exigências da Resolução 466/12 da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa/Ministério da Saúde (CONEP/MS) sobre pesquisa envolvendo seres humanos(1010 Conselho Nacional de Saúde (BR). Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa em seres humanos. Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012 [Internet]. Brasília, (DF): Ministério da Saúde 2012 [2018 Sep 14] Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2013/res0466_12_12_2012.html
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis...
). Visando manter o anonimato dos participantes, os mesmos foram identificados, ao longo do texto, pela letra “E”, seguida de um número ordinal.

Referencial teórico

Na presente pesquisa, utiliza-se o referencial ecossistêmico, que permite promover um pensamento integrativo, inter-relacional, circular, dinâmico, considerando as possibilidades interativas entre os elementos de um dado ambiente. O ser humano, na visão ecossistêmica, é compreendido como um sistema multidimensional, constituído pelas dimensões biológica, psicológica, social e espiritual. Essas interagem entre si, são interdependentes, estão interconectadas e se influenciam mutuamente, mantendo a dinamicidade da vida(44 Siqueira HCH, Thurow MRB, Paula SF, Zamberlan C, Medeiros AC, Cecagno D, et al. A saúde do ser humano na perspectiva ecossistêmica. Rev Enferm UFPE [Internet]. 2018 [2019 Jan 30];12(2):559-64. Available from: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/viewFile/25069/27888
https://periodicos.ufpe.br/revistas/revi...
,1111 Capra F, Luisi PL. A visão sistêmica da vida: uma concepção unificada e suas implicações filosóficas, políticas, sociais e econômicos. São Paulo: Cultrix; 2014.). Assim, a utilização deste referencial teórico filosófico se mostra adequado para abordagem do cuidado integral desenvolvido pelo enfermeiro e investigado por meio da prática do TT.

Tipo de estudo

Pesquisa de abordagem qualitativa, descritiva e exploratória.

Seleção dos participantes, coleta e organização dos dados

Os dados foram coletados por meio de uma entrevista semiestruturada, que explorou a percepção dos enfermeiros acerca da possibilidade de alcance do cuidado integral ao ser humano, na perspectiva ecossistêmica, utilizando o TT.

Participaram do estudo 11 enfermeiros que utilizam/utilizaram o TT no cotidiano de seu trabalho profissional nos diferentes cenários de saúde. Para a seleção dos participantes, foi utilizada a técnica Snowball (“Bola de Neve”). Assim, para encontrar os primeiros participantes do estudo, foi realizada uma busca no banco de teses da CAPES no mês de janeiro de 2018, realizando o levantamento das teses que utilizaram a temática “Toque Terapêutico”, por meio da leitura dos resumos.

A partir dessa etapa, foi construído um banco com o nome dos pesquisadores, buscando-se o currículo na plataforma CurriculumLattes visando obter o endereço profissional para o primeiro contato. Nessa busca, foram encontradas três teses, sendo uma do ano de 1999 e duas de 2011. A partir dessa busca, identificou-se a semente do estudo, ou seja, o primeiro participante, sendo que esse indicou os próximos que foram chamados de frutos/filhos.

O primeiro contato foi realizado via e-mail com a autora da tese com a data mais antiga encontrada, convidando-a a participar do estudo, manifestando interesse, mas não retornou aos e-mails. Assim, aguardou-se por um mês, realizando um contato semanal para reforçar a necessidade de marcar a entrevista. Como não houve retorno, foi realizado contato com a autora da segunda tese mais antiga.

A autora retornou ao e-mail, porém não aceitou participar da pesquisa. Assim, realizou-se o contato com a autora da terceira tese mais antiga, via e-mail, a qual aceitou participar da presente pesquisa. Essa pesquisadora foi a semente que, posteriormente, indicou os próximos participantes, ou seja, os seis frutos/filhos.

Na sequência, foi enviado, via e-mail, conforme preferência da semente, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e agendada a entrevista. Após, foi realizado o contato com os seis frutos/filhos via e-mail e/ou telefone. Como citado anteriormente, foram convidados a participarem da pesquisa, assinaram o TCLE e foi agendada a entrevista. Conforme os mesmos responderam as entrevistas, também foram convidados a indicar os próximos frutos/filhos. Assim, obteve-se mais quatro frutos/filhos indicados. As entrevistas foram realizadas entre os meses de fevereiro e julho de 2018, por meio de chamada de vídeo via WhatsApp, Skype e telefone, sendo que os participantes escolheram a forma de realização para responder conforme consideraram pertinente. Ressalta-se que essa conduta foi adotada de acordo com as distâncias geográficas dos participantes encontrados na busca, bem como disponibilidades de horário dos mesmos.

Os critérios de inclusão, para a semente, foi: enfermeiro que utiliza na prática profissional o TT, que defendeu tese utilizando a temática TT e que possuí curriculumlattes com endereço profissional. Os critérios de exclusão foram: os afastados das atividades profissionais por problemas de saúde, licença maternidade, aposentadoria. Os critérios de inclusão para os filhos/frutos: enfermeiros que utilizam/utilizaram o TT no cotidiano de trabalho profissional nos diferentes cenários de saúde. Os de exclusão foram: enfermeiros que, no período da coleta de dados, estavam afastados das atividades profissionais por problemas de saúde, licença maternidade, entre outros motivos. A finalização da coleta de dados se deu no momento em que os participantes não tinham mais indicações de frutos/filhos.

Análise dos dados

Os dados foram analisados e interpretados conforme a Análise Textual Discursiva. Essa trabalha com significados construídos a partir do conjunto de textos analisados, o corpus, que foi delineado pelas transcrições das entrevistas realizadas. A Análise Textual Discursiva, ainda que composta de elementos racionalizados e em certa medida planejados, em seu todo constitui um processo auto-organizado do qual emergem novas compreensões, partindo de uma sequência, qual seja: a unitarização, o estabelecimento de relações e a comunicação(1212 Moraes R, Galiazzi MC. Análise textual discursiva. 2ª ed. Ijuí: Editora Unijuí, 2011.).

Na unitarização, examinaram-se os textos em detalhes, fragmentando-os no sentido de atingir unidades de significado. Essa etapa foi realizada com intensidade e profundidade. Na categorização, reuniram-se as unidades de significado semelhantes, que geraram níveis de categorias de análise. Na comunicação, foram expressas as compreensões atingidas a partir dos dois focos anteriores. Constituiu-se, no último elemento do ciclo de análise proposto, resultando em metatextos, que foram constituídos de descrição e interpretação, representando o conjunto, um modo de teorização sobre os fenômenos investigados(1212 Moraes R, Galiazzi MC. Análise textual discursiva. 2ª ed. Ijuí: Editora Unijuí, 2011.).

RESULTADOS

Dos 11 participantes da pesquisa, 10 eram do sexo feminino e um do masculino, com idades entre 31 e 61 anos. Quanto à atuação, cinco eram exclusivamente docentes, duas atuavam na assistência, três exerciam ambas as atividades concomitantemente e um era enfermeiro coaching. Desses, dois possuíam especialização, quatro, mestrado e cinco, doutorado. Quanto ao tempo de atuação com o TT, variou de nove meses a 25 anos. Sete residiam no estado de São Paulo e quatro no estado do Mato Grosso do Sul.

Da análise dos dados, emergiram seis categorias, sendo que, neste artigo, será apresentada a categoria intitulada “Cuidado integral na ótica dos enfermeiros a partir do TT: uma compreensão polissêmica”.

Cuidado integral na ótica dos enfermeiros a partir do TT: uma compreensão polissêmica

Os participantes, por meio de seus estudos/vivências com o TT, entendem que o cuidado integral é inerente ao profissional enfermeiro, está intrínseco no seu ser e fazer, considerando as bases teórico filosóficas da profissão que visam à integralidade do ser humano.

[...] creio que seja o olhar próprio do enfermeiro em seu fazer [...] pois o modelo e a visão de mundo da enfermagem são holísticas [...] o cuidado integral é inerente ao fazer do enfermeiro [...]. (E. 1)

Para os enfermeiros entrevistados que utilizam/utilizaram o TT, o cuidado integral é conseguir transcender necessidades visíveis do corpo físico, é cuidar considerando todas as dimensões humanas, na singularidade de cada ser. Para haver esse cuidado, é preciso compreender o ser como parte integrante do universo e que está continuamente interagindo com o meio, influenciando e sendo influenciado mutuamente em um processo de cooperação. É ter clareza do que a pessoa entende por saúde, em que contexto ela está inserida e, a partir disso, oferecer possibilidades que visem à qualidade de vida dentro do que realmente é importante para ela.

É você perceber não somente o físico, mas também o emocional e a energia que para mim também é espiritual. Então, cuidado integral é você estar atento a essas questões, uma pessoa que está triste, doente ou feliz ela sempre vai ter uma questão da energia junto com ela, um emocional junto dela, uma questão fisiológica também. (E. 2)

Cuidar do ser no mundo, ou seja, conhecer e compreender o mundo vida do sujeito e a partir daí oferecer possibilidades de promoção de qualidade de vida, prevenção de doenças e agravos, cuidados paliativos e cura, através de educação, orientação biopsicosocioespiritual, acolhimento, compreensão, conhecimento, amor, empatia, escuta ativa, intervenções adequadas e eficientes. (E. 3)

Essa é minha visão, é muito relacionada a visão ecossistêmica. Faz parte de um sistema, com vulnerabilidades e, assim, por diante [...] então, essa teia da relação do meio ambiente com esse indivíduo e com as modificações em que o planeta terra tem passado mediante até as questões humanas de destruição, o sentido do ambiente mesmo e das modificações que fizemos [...] a minha visão é essa do indivíduo com a questão energética dele com o meio externo [...]. (E. 4)

Por haver mais de um significado para a palavra “integral’ no contexto trabalhado, pode acontecer de os profissionais divergirem nas suas condutas quando visam realizar o cuidado nessa perspectiva. Isso faz com que o cuidado seja oferecido de diferentes maneiras. Os participantes do estudo entendem que, quando se utiliza o TT, o cuidado integral ocorre por meio da intuição, do entendimento de que as dimensões se entrelaçam, são interdependentes e que o visível relatado nem sempre é a causa do desequilíbrio no CEH. É cuidar considerando que o ser humano é constituído de dimensões que interagem, fazem interconexões e estão influenciando e sendo influenciadas dinamicamente e continuamente. É entender que há troca de energias entre quem cuida e quem é cuidado e com o cosmos, visando um equilíbrio dinâmico, em uma visão ecossistêmica.

Penso, assim que é essa questão do integral é uma palavra polissêmica. É uma concepção muito ampla, pode ser entendida como o trabalho multiprofissional em diferentes níveis de atenção aquelas questões todas que nós estudamos na nossa profissão. Mas, especificamente, no contexto do TT, no momento dessa forma de cuidar não dá para separar o ser humano em partes. Quando nos colocamos frente a pessoa que vai ser cuidada com o TT, as nossas percepções têm que ser do todo. Às vezes, a pessoa pode vir reclamando no braço, mas nós vamos fazer avaliação do campo como um todo, sem desvalorizar sua queixa, obviamente, mas não estamos voltados só para a dimensão biológica, fisiológica. Na nossa concepção, existe ali um ser com dimensões, que talvez de uma forma simples podemos dizer corpo, mente, energia ou como queira denominar campos energéticos, a mente e o campo físico. Não tem como separar essas dimensões na hora do TT. (E. 5)

Na visão de um dos entrevistados, o cuidado integral é um caminho que pode não ser alcançado considerando a visão reducionista do modelo ocidental. Essa é influenciadora do meio em que os profissionais são formados e realizam suas práticas cotidianas. Para que o cuidado seja realizado na ótica da integralidade, a mesma entende que é preciso uma mudança na visão do que é o ser humano, saúde e cuidado.

Eu creio que é um pouco utópico, que nós nunca alcançaremos esse cuidado integral [...] esse cuidado integral está relacionado a essa visão de como eu vejo o ser humano, de como vejo a doença e nesse contexto nosso ocidental eu acredito que é uma utopia, muito diferente da visão oriental em relação ao cuidado com o ser humano. Aqui, fala-se muito do ser bio-psico-social como se fossem coisas separadas o bio, o psico e o social. Então, não vejo que está tudo separado e sim interligado, e o cuidado integral pelo próprio sistema que a gente vive, esse modelo econômico social ele não permite que isso seja alcançado, essa visão, esse cuidado integral, porque é algo que a gente idealiza, mas que para você conseguir esse cuidado integral, você precisa realmente se moldar, mudar sua visão primeiro, mudar sua visão de ser humano, de cuidado, de saúde, para você conseguir aplicar esse cuidado integral [...] é vê-lo na sua totalidade [...]. (E. 6)

Na fala dos entrevistados com base no TT, é possível perceber que, para o cuidado integral acontecer, é preciso entender a constituição do ser humano na totalidade, bem como a interconexão que essa estabelece e as influências no seu modo de viver a vida. Isso deve ser entendido e aplicado no cuidado com o outro. É preciso enxergar muito além da matéria.

[...] é vê-lo na totalidade [...]. (E. 7)

[...] é você conseguir perceber essa interligação, justamente entre corpo, mente, espírito e emoções que influenciam no dia a dia, no modo de vida do indivíduo só ser humano [...] é preciso se considerar o todo durante a avaliação da pessoa, porque as coisas estão interligadas e quando a gente tem um olhar muito para a matéria, algumas coisas deixam de ser percebidas [...]. (E. 8)

Para os entrevistados, o cuidado integral considera o que realmente é significativo para a pessoa, dentro dos valores de vida dela. É realizar a escuta e entender o que faz sentido para a vida de quem está sendo cuidado.

[...] é perfeito. Você tem que conhecer integral aquela pessoa, aquele indivíduo; de preferência, você tem que entender um pouco do contexto dele de vida, de inserção de trabalho para você poder chegar perto dessa pessoa e conversar, fazer um diagnóstico do que ele está necessitando naquele momento [...] esse é o cuidado integral. Você conhecer bem aquela pessoa [...] conhecer realmente para saber o que você pode fazer, como você pode ajudar, como você pode trabalhar com ele, o que você pode fazer e o que você não pode fazer [...] é o respeitar o outro [...] a gente respeitar o indivíduo, respeitar suas crenças, suas vontades e no meio desse contexto todo você se colocar e aí a gente ter uma conversa legal e ambos aprenderem um com o outro. (E. ٩)

É cuidar utilizando a sensibilidade e o respeito. É entender que o cuidado acontece ao mesmo tempo para o profissional e a pessoa, sendo que, no encontro com o outro, há interação e influências mútuas. É compreender que, a partir dessa cooperação, há possibilidade de um equilíbrio dinâmico.

[...] não é cuidar como você gostaria de ser cuidado, mas sim como o outro gostaria de ser cuidado, é fundamental e extremamente importante questionar de verdade o que faz mais sentido para a pessoa que está dentro dos ambientes assistenciais [...] é cuidar de todo mundo com simples gestos. (E. 10)

Escuta sensível e acolhedora, buscar fornecer orientações, reflexões e cuidados de acordo com as informações e queixas prestadas e percepções obtidas por observação do verbal e não verbal. (E. 11)

DISCUSSÃO

O cuidado é uma prática inerente ao ser humano, contudo, quando atrelado as ações dos profissionais da saúde, necessita ser realizado considerando a complexidade humana, bem como o contexto em que esse está inserido e as conexões e inter-relações que ele estabelece, pois são elas que influenciarão o modo de ser, pensar, agir e sentir de cada um(1313 Zamberlan C, Medeiros AC, Dei Svaldi IJ, Siqueira HCH. Ambiente, saúde e enfermagem no contexto ecossistêmico. Rev Bras Enferm. [Internet]. 2013 [2018 Set 15];66(4):603-6. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v66n4/v66n4a21.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reben/v66n4/v66...
).

Nessa direção, faz-se necessário a utilização de referenciais que possibilitem a compreensão do ecossistema que o ser humano se encontra. Assim, na enfermagem, estudos têm sido alicerçados no referencial ecossistêmico, pois esse ultrapassa o cuidado baseado apenas na dimensão biológica do ser humano, considerando, além dessa, as dimensões socioculturais, ambientais e espirituais, bem como as interações que se estabelecem entre elas(1414 Medeiros AC, Siqueira HCH, Zamberlan C, Cecagno D, Nunes SS, Thurow MRB. Comprehensiveness and humanization of nursing care management in the Intensive Care Unit. Rev Esc Enferm USP. 2016;50(5):816-2. doi: 10.1590/s0080-623420160000600015
https://doi.org/10.1590/s0080-6234201600...
) possibilitando, assim, o desenvolvimento do cuidado integral.

O TT é uma técnica que equilibra o campo energético, proporcionando a harmonização das dimensões humanas. A partir disso, é possível o despertar de sensações, emoções e sentimentos, como bem-estar, tranquilidade, autoconhecimento, fortalecimento de vínculos, reflexões acerca de escolhas a serem tomadas, do real sentido da vida, entre outras, visto que esse é um processo subjetivo. Desta maneira, compreende-se a perspectiva de integralidade dos participantes desta pesquisa, a partir das suas vivências na utilização do TT e discutidas com base no referencial ecossistêmico, sustentáculo teórico do presente estudo(1515 Rangel RF, Medeiros AC, Oliveira ACC, Rodrigues ST, Scarton J, Siqueira HCH. Effects of therapeutic touch on integral care to humans in the light of Ecosystem Thinking. Res, Soc Develop [Internet]. 2020 [2020 Jun 23];9(4):e176942421. Available from: https://rsd.unifei.edu.br/index.php/rsd/article/view/2421/2730
https://rsd.unifei.edu.br/index.php/rsd/...
).

Os participantes compreendem que o cuidado integral é inerente ao profissional enfermeiro, já está intrínseco nas suas ações, considerando as bases teórico filosóficas da profissão que visam à integralidade do ser. Nessa direção, pesquisa realizada com sete docentes do Curso de Enfermagem de uma Instituição de Ensino Superior do Rio Grande do Sul, que objetivou conhecer como os docentes percebiam a abordagem do cuidado integral no processo ensino-aprendizagem, encontrou resultados semelhantes, pois os participantes referiram que esse cuidado deve estar na essência do profissional enfermeiro(1616 Rangel RF, Costenaro RGS, Ilha S, Zamberlan C, Siqueira HCH, Backes DS. Training for integral care: perception of nursing teachers and students. Rev Pesqui: Cuid Fundam[Internet] 2017 [2018 Sep 15];9(2):488-94. Available from: http://seer.unirio.br/index.php/cuidadofundamental/article/view/5450/pdf
http://seer.unirio.br/index.php/cuidadof...
).

Neste constructo, salienta-se um estudo que objetivou apresentar uma reflexão analítica sobre o cuidado em enfermagem, no cenário atual da saúde, segundo a essência do cuidado de Martin Heidegger. Os autores discutem que, embora a enfermagem possua na sua base o cuidado, por vezes, observa-se o mesmo sendo realizado de forma automática, mecanicista, desconsiderando o real sentido de cuidar(1717 Santos AGS, Monteiro CFS, Nunes BMVT, Benício CDAV, Nogueira LT. O cuidado em enfermagem analisado segundo a essência do cuidado de Martin Heidegger. Rev Cubana Enferm [Internet]. 2017 [2018 Sep 15];33(3):1-11. Available from: http://www.ufjf.br/pgenfermagem/files/2018/04/O-cuidado-em-enfermagem-analisado-segundo-a-ess%C3%AAncia-do-cuidado-de-Martin.pdf
http://www.ufjf.br/pgenfermagem/files/20...
). Esse pensar foi observado na fala de um dos entrevistados, pois, para ele, o cuidado integral é um caminho que pode não ser alcançado considerando a visão reducionista do modelo ocidental. Essa é influenciadora do meio em que os profissionais são formados e realizam suas práticas cotidianas. Para que o cuidado seja realizado na ótica da integralidade, é preciso uma mudança na visão do que é ser humano, saúde e cuidado. Ainda, enfatiza que o TT possibilita essa ampliação de olhar no que tange aos referidos conceitos.

Nessa perspectiva, estudo documental realizado com base em documentos oficiais do Ministério da Saúde, que teve por objetivo identificar os elementos capazes de promover a integralidade e humanização na gestão do cuidado de enfermagem na Unidade de Terapia Intensiva, com enfoque ecossistêmico, corrobora resultados encontrados na presente pesquisa, pois o mesmo aborda a necessidade de inovação no processo de trabalho em saúde, considerando que o modelo biomédico não é suficiente para compreender a totalidade das dimensões que compõem o ser humano, bem como sua interação com o meio(1414 Medeiros AC, Siqueira HCH, Zamberlan C, Cecagno D, Nunes SS, Thurow MRB. Comprehensiveness and humanization of nursing care management in the Intensive Care Unit. Rev Esc Enferm USP. 2016;50(5):816-2. doi: 10.1590/s0080-623420160000600015
https://doi.org/10.1590/s0080-6234201600...
). Dessa forma, aponta-se que vislumbrar o ser humano em uma concepção sistêmica é uma maneira de contemplar o desenvolvimento do cuidado integral.

Considerando o contexto histórico da enfermagem, em que se visualizava a mesma como profissão subalterna à uma ciência com seus referenciais próprios, sabe-se que houve um significativo avanço(1818 Donoso MTV, Donoso MD. O cuidado e a enfermagem em um contexto histórico. Rev Enferm UFJF [Internet]. 2016 [2018 Sep 16];2(1):51-5. Available from: https://enfermagem.ufjf.emnuvens.com.br/enfermagem/article/view/71/40
https://enfermagem.ufjf.emnuvens.com.br/...
), contudo entende-se que, na prática do cuidado integral, ainda são muitos os desafios a serem superados, pois é preciso que esse profissional o insira no seu ser e fazer(33 Assis MMA, Nascimento MAA, Pereira MJB, Cerqueira EM. Comprehensive health care: dilemmas and challenges in nursing. Rev Bras Enferm [Internet]. 2015 [2018 Sep 16];68(2):333-8. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v68n2/en_0034-7167-reben-68-02-0333.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reben/v68n2/en_...
).

Para os enfermeiros entrevistados, o cuidado integral é conseguir ir além das necessidades visíveis, apenas do corpo físico, é cuidar considerando todas as dimensões humanas, na singularidade de cada ser. Para haver esse cuidado, é preciso compreender o ser como parte do universo e que está continuamente interagindo com o meio, influenciando e sendo influenciado mutuamente em um processo de cooperação. É ter clareza do que a pessoa entende por saúde, em que contexto ela está inserida, e, a partir disso, oferecer possibilidades que visem à qualidade de vida dentro do que é importante para ela.

Esse pensar vem ao encontro do discutido em um estudo de reflexão no qual os autores referem que é preciso conhecer o outro dentro das suas necessidades, ou seja, escutá-lo, ir além de uma assistência pontual. Faz-se necessário conhecer a essência humana de quem busca do cuidado e precisa desse constantemente(1919 Petersen CB, Lima RAG, Boemer MR, Rocha SMM. Health needs and nursing care. Rev Bras Enferm. 2016;69(6):1168-71. doi: 10.1590/0034-7167-2016-0128
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0...
).

Neste arcabouço, concerne o cuidado integral a partir do referencial ecossistêmico, pois o ser humano e suas dimensões (intrínsecas a ele) são considerados como parte de um ecossistema formado por elementos bióticos (com vida) e abióticos (sem vida), onde todos estão interligados, são interdependentes e se influenciam mutuamente. A partir desta vertente, compreende-se que o cuidado integral pode ser obtido pelo equilíbrio dinâmico entre todos os elementos pertencentes ao ecossistema, possibilitando ao ser humano uma saúde integral e condições para a manutenção da vida(44 Siqueira HCH, Thurow MRB, Paula SF, Zamberlan C, Medeiros AC, Cecagno D, et al. A saúde do ser humano na perspectiva ecossistêmica. Rev Enferm UFPE [Internet]. 2018 [2019 Jan 30];12(2):559-64. Available from: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/viewFile/25069/27888
https://periodicos.ufpe.br/revistas/revi...
,1616 Rangel RF, Costenaro RGS, Ilha S, Zamberlan C, Siqueira HCH, Backes DS. Training for integral care: perception of nursing teachers and students. Rev Pesqui: Cuid Fundam[Internet] 2017 [2018 Sep 15];9(2):488-94. Available from: http://seer.unirio.br/index.php/cuidadofundamental/article/view/5450/pdf
http://seer.unirio.br/index.php/cuidadof...
).

O enfermeiro, ao realizar o cuidado por meio do TT na perspectiva ecossistêmica, está se reportando ao ser humano na sua integralidade, pois amplia sua visão, o que possibilita entender as relações ambientais, físicas, mentais, espirituais, dentre outras(44 Siqueira HCH, Thurow MRB, Paula SF, Zamberlan C, Medeiros AC, Cecagno D, et al. A saúde do ser humano na perspectiva ecossistêmica. Rev Enferm UFPE [Internet]. 2018 [2019 Jan 30];12(2):559-64. Available from: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/viewFile/25069/27888
https://periodicos.ufpe.br/revistas/revi...
,1313 Zamberlan C, Medeiros AC, Dei Svaldi IJ, Siqueira HCH. Ambiente, saúde e enfermagem no contexto ecossistêmico. Rev Bras Enferm. [Internet]. 2013 [2018 Set 15];66(4):603-6. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v66n4/v66n4a21.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reben/v66n4/v66...
-1414 Medeiros AC, Siqueira HCH, Zamberlan C, Cecagno D, Nunes SS, Thurow MRB. Comprehensiveness and humanization of nursing care management in the Intensive Care Unit. Rev Esc Enferm USP. 2016;50(5):816-2. doi: 10.1590/s0080-623420160000600015
https://doi.org/10.1590/s0080-6234201600...
,2020 Severo DF, Siqueira HCH. Interconnection between the history of Brazilian nursing education and the ecosystem thoughts. Rev Bras Enferm. 2013;66(2):278-81. doi: 10.1590/S0034-71672013000200019
https://doi.org/10.1590/S0034-7167201300...
). Nessa ótica, compreende-se que, por meio do cuidado integral, é possível o emergir de novas bifurcações nas práticas dos profissionais enfermeiros, visto as flutuações que esse possibilita, pois, por vezes, observa-se a prática sendo realizada em um modelo focado na doença e no profissional(33 Assis MMA, Nascimento MAA, Pereira MJB, Cerqueira EM. Comprehensive health care: dilemmas and challenges in nursing. Rev Bras Enferm [Internet]. 2015 [2018 Sep 16];68(2):333-8. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v68n2/en_0034-7167-reben-68-02-0333.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reben/v68n2/en_...
,1313 Zamberlan C, Medeiros AC, Dei Svaldi IJ, Siqueira HCH. Ambiente, saúde e enfermagem no contexto ecossistêmico. Rev Bras Enferm. [Internet]. 2013 [2018 Set 15];66(4):603-6. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v66n4/v66n4a21.pdf
http://www.scielo.br/pdf/reben/v66n4/v66...
).

Na fala dos entrevistados, é possível perceber que, para o cuidado integral acontecer, é preciso entender a constituição do ser humano na totalidade, bem como a interconexão que ele estabelece e as influências no seu modo de viver a vida. Isso deve ser entendido e aplicado no cuidado com o outro. É preciso enxergar muito além da matéria. Deve-se considerar o que realmente é significativo para a pessoa, dentro dos valores de vida dela. Deve-se realizar a escuta e entender o que faz sentido para a vida de quem está sendo cuidado. Deve-se cuidar utilizando a sensibilidade e o respeito, entender que o cuidado acontece ao mesmo tempo para profissional e pessoa, sendo que, no encontro com o outro, há interações e influências mútuas. Deve-se compreender que, a partir dessa cooperação, há possibilidade de um equilíbrio dinâmico.

Portanto, entende-se que o ser humano é uma teia energética interligada e interconectada, amparada pelos sistemas energéticos sutis que entrelaçam força vital e corpo. Os mesmos sofrem influência; a partir disso, os padrões de crescimento celular são afetados positiva ou negativamente, sendo originado a partir desses a saúde e a doença(2121 Gerber R. Medicina vibracional: uma medicina para o futuro. 9ª ed. São Paulo: Cultrix, 2007).

Para os enfermeiros participantes do estudo, por haver mais de um significado para a palavra “integral” no contexto trabalhado, pode acontecer de os profissionais divergirem nas suas condutas quando visam realizar o cuidado nessa perspectiva. Isso faz com que o cuidado seja oferecido de diferentes maneiras; por essa razão, é necessário haver um referencial teórico filosófico. Um dos participantes faz referência ao cuidado realizado utilizando o TT como uma possibilidade de alcançar a integralidade.

Quando o cuidado acontece associado ao TT, utiliza-se a intuição e entende-se que as dimensões se entrelaçam, são interdependentes e que o visível relatado nem sempre é a causa do desequilíbrio no campo de energia. É cuidar considerando que o ser humano é constituído de dimensões que interagem, fazem interconexões e estão influenciando e sendo influenciadas continuamente. É entender que há troca de energias entre quem cuida e quem é cuidado e com o cosmo, visando um equilíbrio dinâmico e que os sistemas e subsistemas estão em um processo de cooperação.

Nesse sentido, um estudo que objetivou analisar o emprego do TT pela enfer­magem abordou que, por meio dessa técnica, o cuidado é realizado salientando os valores que constituem o ser humano na sua singularidade(88 Sousa RM, Guimarães CM. Aplicação do toque terapêutico na assistência complementar em enfermagem. Estudos [Internet]. 2014 [2018 Sep 17];41(Esp):151-63. Available from: http://seer.pucgoias.edu.br/index.php/estudos/article/view/3815/2179.pdf
http://seer.pucgoias.edu.br/index.php/es...
). O estudo demonstra, ainda, a necessidade de abordar acerca da temática no cenário de formação, sensibilizando os futuros profissionais para a importância e relevância do mesmo no contexto de saúde na busca do cuidado integral ao ser humano na enfermagem.

Limitações do estudo

As limitações deste estudo referem-se à escassez de pesquisas acerca da compreensão do cuidado integral por enfermeiros que trabalham utilizando a técnica do TT. Outra limitação é o número reduzido de profissionais de enfermagem que utilizam e divulgam o trabalho com o tema.

Contribuição para a área da enfermagem

Considera-se como principal contribuição a socialização da percepção dos enfermeiros que trabalham com o TT acerca do cuidado integral, pois, por meio dessa, é possível compartilhar o conhecimento da técnica ainda pouco discutida e utilizada na profissão. Também, o referencial ecossistêmico, que norteou a discussão do estudo, devido à possibilidade de, por meio dele, visualizar o ser humano na sua multidimensionalidade, bem como as interações e influências entre os elementos que o constituem, o ambiente e o próprio cosmo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados permitiram descrever a percepção dos enfermeiros acerca do cuidado integral ao ser humano, considerando suas vivências/estudos com o TT. Esses discorreram sobre a temática de uma maneira polissêmica, pois entendem o cuidado integral como algo inerente ao profissional enfermeiro e que está intrínseco no seu ser e fazer, como ir além das necessidades visíveis e cuidar considerando todas as dimensões humanas considerando que as dimensões interagem, fazendo interconexões e influenciando, ao mesmo tempo em que são influenciadas. Considera-se o que realmente é significativo para a pessoa, dentro dos valores de vida dela.

É necessário entender que as ações de cuidado com foco apenas na dimensão biológica ainda são consideradas barreiras a serem ultrapassadas em diversos contextos, devido à visão reducionista do modelo ocidental. No entanto, salienta-se que o TT foi citado como uma possibilidade de cuidar do ser humano na sua integralidade.

Considera-se que o objetivo do estudo foi alcançado, contudo entende-se a necessidade de outras pesquisas que avancem nesse conhecimento e utilizem o referencial ecossistêmico, para que o mesmo propicie inovações nas práticas profissionais do enfermeiro em diferentes contextos.

REFERENCES

  • 1
    Rangel RF, Backes DS, Pimpão FD, Costenaro RGS, Martins ESR, Diefenbach GDF. Concepções de Docentes de Enfermagem Sobre Integralidade. Rev Rene [Internet]. 2012 [2018 Sep 15];13(3):514-21. Available from: http://www.periodicos.ufc.br/rene/article/view/3969/3136.pdf
    » http://www.periodicos.ufc.br/rene/article/view/3969/3136.pdf
  • 2
    Rangel RF, Backes DS, Ilha S, Siqueira HCH, Martins FDP, Zamberlan C. Cuidado integral: significados para docentes e discentes de enfermagem. Rev Rene [Internet]. 2017 [2018 Sep 15]; 18(1):43-50. Available from: http://www.periodicos.ufc.br/rene/article/viewFile/18866/29599.pdf
    » http://www.periodicos.ufc.br/rene/article/viewFile/18866/29599.pdf
  • 3
    Assis MMA, Nascimento MAA, Pereira MJB, Cerqueira EM. Comprehensive health care: dilemmas and challenges in nursing. Rev Bras Enferm [Internet]. 2015 [2018 Sep 16];68(2):333-8. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v68n2/en_0034-7167-reben-68-02-0333.pdf
    » http://www.scielo.br/pdf/reben/v68n2/en_0034-7167-reben-68-02-0333.pdf
  • 4
    Siqueira HCH, Thurow MRB, Paula SF, Zamberlan C, Medeiros AC, Cecagno D, et al. A saúde do ser humano na perspectiva ecossistêmica. Rev Enferm UFPE [Internet]. 2018 [2019 Jan 30];12(2):559-64. Available from: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/viewFile/25069/27888
    » https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/viewFile/25069/27888
  • 5
    Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS - PNPIC-SUS[Internet]. Brasília, (DF): Ministério da Saúde; 2006 [2018 Sep 15]. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pnpic.pdf
    » http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pnpic.pdf
  • 6
    Telesi Jr ET. Práticas integrativas e complementares em saúde, uma nova eficácia para o SUS. Estud. Av [Internet]. 2016 [2018 Sep 14];30(86):99-112. doi: 10.1590/S0103-40142016.00100007
    » https://doi.org/10.1590/S0103-40142016.00100007
  • 7
    Sá AC. Toque Terapêutico, uma novidade chega ao Brasil. Rev Nurs [Internet]. 2018 [2018 Sep 17];21(236):2010-12. Available from: http://www.revistanursing.com.br/revistas/236-Janeiro2018/entrevistas.pdf
    » http://www.revistanursing.com.br/revistas/236-Janeiro2018/entrevistas.pdf
  • 8
    Sousa RM, Guimarães CM. Aplicação do toque terapêutico na assistência complementar em enfermagem. Estudos [Internet]. 2014 [2018 Sep 17];41(Esp):151-63. Available from: http://seer.pucgoias.edu.br/index.php/estudos/article/view/3815/2179.pdf
    » http://seer.pucgoias.edu.br/index.php/estudos/article/view/3815/2179.pdf
  • 9
    Ministério da Saúde (BR). Portaria 702, de 21 de março de 2018. Altera a Portaria de Consolidação nº 2/GM/MS, de 28 de setembro de 2017, para incluir novas práticas na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares - PNPIC [Internet]. Brasília, (DF): Ministério da Saúde 2018 [2018 Sep 17] Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2018/prt0702_22_03_2018.html
    » http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2018/prt0702_22_03_2018.html
  • 10
    Conselho Nacional de Saúde (BR). Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa em seres humanos. Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012 [Internet]. Brasília, (DF): Ministério da Saúde 2012 [2018 Sep 14] Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2013/res0466_12_12_2012.html
    » http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2013/res0466_12_12_2012.html
  • 11
    Capra F, Luisi PL. A visão sistêmica da vida: uma concepção unificada e suas implicações filosóficas, políticas, sociais e econômicos. São Paulo: Cultrix; 2014.
  • 12
    Moraes R, Galiazzi MC. Análise textual discursiva. 2ª ed. Ijuí: Editora Unijuí, 2011.
  • 13
    Zamberlan C, Medeiros AC, Dei Svaldi IJ, Siqueira HCH. Ambiente, saúde e enfermagem no contexto ecossistêmico. Rev Bras Enferm. [Internet]. 2013 [2018 Set 15];66(4):603-6. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v66n4/v66n4a21.pdf
    » http://www.scielo.br/pdf/reben/v66n4/v66n4a21.pdf
  • 14
    Medeiros AC, Siqueira HCH, Zamberlan C, Cecagno D, Nunes SS, Thurow MRB. Comprehensiveness and humanization of nursing care management in the Intensive Care Unit. Rev Esc Enferm USP. 2016;50(5):816-2. doi: 10.1590/s0080-623420160000600015
    » https://doi.org/10.1590/s0080-623420160000600015
  • 15
    Rangel RF, Medeiros AC, Oliveira ACC, Rodrigues ST, Scarton J, Siqueira HCH. Effects of therapeutic touch on integral care to humans in the light of Ecosystem Thinking. Res, Soc Develop [Internet]. 2020 [2020 Jun 23];9(4):e176942421. Available from: https://rsd.unifei.edu.br/index.php/rsd/article/view/2421/2730
    » https://rsd.unifei.edu.br/index.php/rsd/article/view/2421/2730
  • 16
    Rangel RF, Costenaro RGS, Ilha S, Zamberlan C, Siqueira HCH, Backes DS. Training for integral care: perception of nursing teachers and students. Rev Pesqui: Cuid Fundam[Internet] 2017 [2018 Sep 15];9(2):488-94. Available from: http://seer.unirio.br/index.php/cuidadofundamental/article/view/5450/pdf
    » http://seer.unirio.br/index.php/cuidadofundamental/article/view/5450/pdf
  • 17
    Santos AGS, Monteiro CFS, Nunes BMVT, Benício CDAV, Nogueira LT. O cuidado em enfermagem analisado segundo a essência do cuidado de Martin Heidegger. Rev Cubana Enferm [Internet]. 2017 [2018 Sep 15];33(3):1-11. Available from: http://www.ufjf.br/pgenfermagem/files/2018/04/O-cuidado-em-enfermagem-analisado-segundo-a-ess%C3%AAncia-do-cuidado-de-Martin.pdf
    » http://www.ufjf.br/pgenfermagem/files/2018/04/O-cuidado-em-enfermagem-analisado-segundo-a-ess%C3%AAncia-do-cuidado-de-Martin.pdf
  • 18
    Donoso MTV, Donoso MD. O cuidado e a enfermagem em um contexto histórico. Rev Enferm UFJF [Internet]. 2016 [2018 Sep 16];2(1):51-5. Available from: https://enfermagem.ufjf.emnuvens.com.br/enfermagem/article/view/71/40
    » https://enfermagem.ufjf.emnuvens.com.br/enfermagem/article/view/71/40
  • 19
    Petersen CB, Lima RAG, Boemer MR, Rocha SMM. Health needs and nursing care. Rev Bras Enferm. 2016;69(6):1168-71. doi: 10.1590/0034-7167-2016-0128
    » https://doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0128
  • 20
    Severo DF, Siqueira HCH. Interconnection between the history of Brazilian nursing education and the ecosystem thoughts. Rev Bras Enferm. 2013;66(2):278-81. doi: 10.1590/S0034-71672013000200019
    » https://doi.org/10.1590/S0034-71672013000200019
  • 21
    Gerber R. Medicina vibracional: uma medicina para o futuro. 9ª ed. São Paulo: Cultrix, 2007

Editado por

EDITOR CHEFE: Antonio José de Almeida Filho
EDITOR ASSOCIADO: Priscilla Valladares Broca

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Dez 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    10 Fev 2019
  • Aceito
    27 Jul 2020
Associação Brasileira de Enfermagem SGA Norte Quadra 603 Conj. "B" - Av. L2 Norte 70830-102 Brasília, DF, Brasil, Tel.: (55 61) 3226-0653, Fax: (55 61) 3225-4473 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: reben@abennacional.org.br