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O ESPÍRITO ASSOCIATIVO E O ENFERMEIRO NO RIO DE JANEIRO

1 - INTRODUÇÃO

Verificando a disparidade entre o número de enfermeiros em exercício no Brasil, cerca de 8.000, com o número de associados da ABEn, pouco mais de 2.000,* decidimos estudar como se comporta este problema no Rio de Janeiro.

Também sentimos que seria oportuno incluir nesta pesquisa de opinião dados comparativos sobre o Conselho e o Sindicato pois, se a ABEn, apesar de existir há quarenta e seis anos e ter prestado inúmeros e inestimáveis serviços à classe conta com tão poucos sócios o modo como se sentirão as colegas em relação a essas outras associações é, justificadamente motivo de indagações.

Os objetivos propostos foram:

a) verificar se determinados aspectos da enfermagem como profissão são conhecidos dos enfermeiros

b) conhecer o conceito no qual as enfermeiras têm a ABEn;

c) apurar o conhecimento por parte dos enfermeiros em relação às finalidades da ABEn, Sindicato e Conselho de Enfermagem.

2 - REVISÃO BLIOGRÁFICA

A literatura sobre o assunto é escassa.

RESENDE (1957)2 RESENDE, Marina de Andrade, Significação da Vida Associativa em Enfermagem. Rev. Bras. Enf., 4, 1957: 375-394. lembrava que: "Dar, traduz plenitude no que concretiza suas dádivas, por sermos, no momento, tão crianças ou tão pobres somos ainda gente de pouco dar.

Existe um egoísmo coletivo como existe o individual. A predominância do RECEBER, como valor atribuído à associação e como razão para pertencer à ABEn, revela ou esse egoísmo ou a fase ainda infantil da nossa vida associativa.

Aos olhos de muitas enfermeiras, a vida associativa NÃO TEM VALOR e não merece nem mesmo ser compartilhada.

Aos olhos de outras, a vida associativa constitui um "dever".

A Revista Brasileira de Enfermagem vem publicando anualmente o número de sócios desde a época do trabalho acima referido, apesar de algumas lacunas.

Podemos verificar que os números flutuam de ano a ano mas sem grandes diferenças.


A situação encontrada é essa. Estima-se o número de enfermeiros no Brasil em 10.000 e o número de associados, segundo os últimos relatórios da Sra. Presidente da ABEn está em torno de 2482 (1969, 1970, 1972, conforme demonstra o quadro

Constatamos portanto que apenas 25% são sócias.

3. MATERIAL E MÉTODO

3.1 População - enfermeiras em atividade no Rio de Janeiro, representadas por amostragens.

Foram incluídos na amostragem os hospitais que contavam com mais de 15 enfermeiras, ficando por isso excluídas todas as Casas de Saúde e Hospitais particulares.

Vale lembrar que muitas enfermeiras que trabalham em serviços particulares o faz como segunda opção, sendo a primeira o Serviço Público.

Foram incluídos os Hospitais Estaduais, os do INPS, o do IPASE e do IASEG e os Universitários.

Foi consultado 10% do número de enfermeiras de cada hospital, Escolas de Enfermagem e Centros de Saúde, incluindo no estudo, o que somar um total de 125 enfermeiras, portanto cerca de 7% do número presumível existente no Estado.

Escolhemos aleatoriamente o número 6 e seus múltiplos para o sorteio da candidata a participar da amostra. Esse sorteio era feito por meio de lista fornecida pela Chefe do Serviço de Enfermagem, organizada por ordem alfabética ou antigüidade.


SERVIÇOS DE ENFERMAGEM REPRESENTADOS NA AMOSTRA E NÚMERO DE RESPONDENTES

3.2 Instrumento: o questionário foi elaborado tendo em vista os fatores que seriam usados como indicadores do espírito associativo.

Consideramos que seriam pontos positivos:

a) ser sócio da ABEn;

b) valorizar a freqüência às reuniões da Associação;

c) ter participado pelo menos em algum Congresso de Enfermagem;

d) Valorizar o poder de reivindicação do grupo;

e) Conhecer a finalidade das três associações: Cultural, Conselhos e Sindicato;

f) Concordar com a existência das três.

As três primeiras questões foram propostas no sentido de se avaliar se o enfermeiro está satisfeito com o que faz e se sente ajustado à profissão.

A quarta questão, assim como a décima oitava e a décima nona, foram elaboridas visando verificar se o enfermeiro está consciente do seu valor como profissional e como acompanha a evolução da classe.

Da quinta à décima sexta procuramos conhecer a opinião de cada um sobre a sua associação de classe. Como no trabalho de Marina de Andrade Resende destacou-se a falta de divulgação da ABEn, incluimos dois quesitos relativos a este ponto.

A décima oitava questão teve a finalidade de verificar a aceitação da carteira da ABEn como condição para admissão em emprego e que já é adotada em alguns hospitais.

O questionário foi testado em um grupo de alunos do 4.° ano de uma Escola de Enfermagem sediada no Estado Rio de Janeiro, sendo considerado satisfatório na ocasião, embora, durante a tabulação fossem evidenciadas algumas falhas.

A devolução dos questionários distribuídos às 125 enfermeiras foi integral, para o que muito contribuiu a participação de duas colegas que colaboraram na coleta de dados.

4. Resultados

a) Ajustamento à Profissão: Dizem-se ajustadas 115 enfermeiras, 92%: 99-79% não gostariam de ter escolhido outras profissão e 17-13% gostariam de ter escolhido outra profissão.

b) Conceito de Profissão Liberal: 20 enfermeiras, 16% das respondentes consideram profissional liberal aquele que trabalha por conta própria; 1-0,8% cita o consultório como característica do profissional liberal; 49 respondentes, 39% entendem como liberal aquele profissional que tem curso universitário; 26-12% responderam que o curso universitário e a pesquisa caracterizam a profissão liberal; 16-12% assinalam que a pesquisa é que é característica do profissional liberal.

c) Conhecimento do Status da Profissão: 91 respondentes, 72% sabem da classificação como profissional liberal no Enquadramento Sindical; 29 enfermeiras, 23% não sabem; 54-43% acham que todos os enfermeiros estão integrados no nível universitário; 33-26% acham que muitos enfermeiros estão integrados e 3-2,4% respondem que apenas alguns se integraram ao nível superior.

d) Conhecimento das Associações: Conhecem a finalidade de cada uma das três associações 56 enfermeiras -45%; 24-19% não conhecem e 43-34% informaram conhecer mais ou menos.

Quanto a conveniência dap três existindo simultaneamente (o Sindicato, o Conselho e a ABEn), 57-46% concordaram e 14-11% não concordaram; 35-26% não sabem e 19-15% deixaram a resposta em branco.

e) Filiação a ABEn. São sócias da ABEn 66 enfermeiras, 51%; 35-20% não são sócias e 24-19% deixaram de ser sócias, perfazendo um total de 59 não sócias.

Verificando o motivo de não se associarem à ABEn, encontrou-se: 15 enfermeiras, 43% não são sócias por desinteresse e deixaram de ser sócias, pelo mesmo motivo 10-42%; deixaram de ser sócias por decepção, citando como razões o pouco que a ABEn fez pelos enfermeiros, 4 respondentes, 17%. A falta de divulgação alcança apenas 8 enfermeiras, 23%; o problema financeiro é citado por 1 enfermeira, 3%, como razão para não se associar e 3-12% para deixar de ser sócia. Outros motivos citados para não se associar: falta de tempo, ser sócio de outra associação e mudanças.

f) Importância da ABEn: Em relação as reivindicações 79 enfermeiras, 63% responderam "não" às possibilidades de sucesso de reivindicações por enfermeiros isolados, enquanto, 17-14% responderam "sim" e 18-14,5% as vezes.

Sobre o valor dos trabalhos de Congressos Brasileiros de Enfermagem 100-80% responderam positivamente e 3,2% responderam não: 17-14% não sabem.

A importância de freqüentar reuniões da ABEn é confirmada por 98-78%: 6%, 8 respondentes, acham que não é importante e 16 enfermeiras, 13% não sabem.

No trabalho de valorização do "status" 95-76% atribuem-no à ABEn e 4%, 5 enfermeiras acham que a ABEn e algumas enfermeiras contribuíram; 19-15% acham que o trabalho foi feito por algumas enfermeiras isoladas e 2-16% respondem que ninguém fez nada até hoje.

g) Divulgação das Associações de Classe: Afirmaram que a Escola divulgava a atuação da ABEn 88 enfermeiras, 70%; 24-19% respondem que as Escolas divulgavam superficialmente. Em 8 instituições 7%, a chefe não divulga.

h) Participação em Congressos de Enfermagem: Nunca participaram de Congressos 53 respondentes; 43% e apenas 15-12% compareceram a muitos; 23-19% participaram de poucos e 31-34% participaram apenas uma vez.

i) Valor da Carteira da ABEn: 79 respostas, 63% favoráveis à exigência da carteira de sócia da ABEn para candidatas a emprego e 31-24%, desnecessária e 8,7% acharam errada a exigência.

j) Número de Sócias por Escola

- Da Escola Ana Neri responderam 32 enfermeiras, das quais 18-56% são sócias e 14-43% não são sócias.

- Da Faculdade de Enfermagem da UEG, 19 são sócias-63% e 11-37% não são associadas, do total de 30 enfermeiras que responderam.

- Da Escola Alfredo Pinto aparece com 17 enfermeiras, das quais 5-30% são sócias e 12-70% não são.

- Da Escola Luiza de Marilac, 9 respondentes, 4-44% são sócias e 5-56% não o são.

- Da Escola de Enfermagem da Cruz Vermelha Brasileira 7 responderam ao questionário sendo 3-43% sócias e 457% não sócias.

A Escola de Enfermagem da Universidade Federal Fluminente entrou no levantamento com 13 representantes das quais: 9-69% são sócias e 4-31% não o são.

As demais pouco representativas.

1) Número de Sócias por Grupo Etário

- De 26 a 39 anos responderam 60 enfermeiras das quais 35 são sócias 58% e 25-42% não o são.

- Entre 40 e 49 anos - 48 enfermeiras responderam ao questionário; dessas 20-42% são sócias e 28-58% não o são.

- Do grupo etário mais alto - 50 a 66 anos responderam 17 profissionais, sendo 11 sócias 64% e 6-36% não são sócias.

m) Na distribuição percentual, em relação ao número de anos de formada, a moda fica entre as que têm 18 anos de profissão, 12 enfermeiras-9,6%, seguindo-se as que tem 21 anos, 9 enfermeiras, 7,2 % e depois as que têm 14 e 15 anos de exercício com 8 enfermeiras cada um, 6,4%.

CONCLUSÕES

Apesar de a amostra não ser rigorosamente representativa, julgamos poder tirar as seguintes conclusões do estudo:

1 - Há ainda um grande número de enfermeiras que desconhecem as características do profissional liberal e o número que desconhece o enquadramento do enfermeiro como profissional liberal é considerável.

2 - A maior razão para a não filiação e o desinteresse e não a falta de divulgação, conforme relatado em trabalho anterior; vem a seguir a decepção.

3 - As Escolas e os Serviços são núcleos de divulgação das associações; especialmente da ABEn.

4 - Os trabalhos de Congressos têm repercussão mesmo junto às enfermeiras que não comparecem a Congressos de Enfermagem.

5 - A importância da freqüência às reuniões da ABEn é reconhecida mesmo pelas enfermeiras que não as freqüentam.

6 - mais da metade das enfermeiras não conhece, ou conhece mal as finalidades de cada uma das três associações (Sindicato, Conselho e Associação Cultural).

7 - A maioria das enfermeiras coloca a Associação em primeiro lugar como responsável pela melhoria do "Status" profissional.

8 - Cerca de dois terços das enfermeiras não discordam do processo de exigir carteira da ABEn às candidatas a emprego.

  • HEREDIA, M . E . M & VIEIRA, H . A . - o espírito associativo e o enfermeiro no Rio de Janeiro. Rev. Bras. Enf.; Rio de Janeiro, 28 : 79-84, 1975.

BIBLIOGRAFIA

  • 1
    ABEn - Relatórios das Presidentes à AD referentes aos anos de 1962, 1963, 1967, 1968, 1969, 1970, 1971 e 1972.
  • 2
    RESENDE, Marina de Andrade, Significação da Vida Associativa em Enfermagem. Rev. Bras. Enf., 4, 1957: 375-394.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 1975
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