Uso de podcasts para educação em saúde: uma revisão de escopo

RESUMO

Objetivos:

mapear as evidências científicas relacionadas às características, temáticas e desfechos do uso de podcasts de educação em saúde direcionados para indivíduos maiores de 18 anos nos ambientes intra ou extrahospitalares.

Métodos:

revisão de escopo, baseando-se no método do Joanna Briggs Institute, realizada em 11 bases de dados, incluindo estudos de 2004 a 2022.

Resultados:

foram selecionados 11 estudos, categorizados e destacando as características, desfechos avaliados, áreas e condições de aplicação do podcast, apontando-o como uma ferramenta eficaz para promover a mudança comportamental, a promoção da saúde e a interação social, evidenciando seu potencial para melhorar o bem-estar, qualidade de vida e autonomia dos usuários/clientes.

Conclusões:

o uso do podcast demonstra ser uma ferramenta eficaz, inovadora e de baixo custo, com impacto social significativo, sendo eficaz para mudança comportamental, satisfação e interação social. No entanto, a falta de estudos abrangentes sobre as metodologias de desenvolvimento de podcasts representam desafios a serem superados.

Descritores:
Educação em Saúde; Educação de Pacientes como Assunto; Webcast; Telemedicina; Recursos Audiovisuais

ABSTRACT

Objectives:

to map the scientific evidence related to the characteristics, themes, and outcomes of using health education podcasts aimed at individuals over 18 years of age in intra or extrahospital environments.

Methods:

a scoping review, based on the Joanna Briggs Institute method, conducted in 11 databases, including studies from 2004 to 2022.

Results:

11 studies were selected, categorized, highlighting the characteristics, evaluated outcomes, areas, and conditions of podcast application, indicating it as an effective tool for promoting behavioral change, health promotion, and social interaction, demonstrating its potential to improve well-being, quality of life, and user/client autonomy.

Conclusions:

the use of podcasts proves to be an effective, innovative, and low-cost tool, with a significant social impact, being effective for behavioral change, satisfaction, and social interaction. However, the lack of comprehensive studies on podcast development methodologies represents challenges to be overcome.

Descriptors:
Health Education; Patient Education as Topic; Webcasts; Telemedicine; Audiovisual Aids

RESUMEN

Objetivos:

mapear las evidencias científicas relacionadas con las características, temáticas y resultados del uso de podcasts de educación en salud dirigidos a individuos mayores de 18 años en entornos intra o extrahospitalarios.

Métodos:

revisión de alcance, basada en el método del Joanna Briggs Institute, realizada en 11 bases de datos, incluyendo estudios de 2004 a 2022.

Resultados:

se seleccionaron 11 estudios, categorizados y destacando las características, resultados evaluados, áreas y condiciones de aplicación del podcast, señalándolo como una herramienta eficaz para promover el cambio de comportamiento, la promoción de la salud y la interacción social, evidenciando su potencial para mejorar el bienestar, la calidad de vida y la autonomía de los usuarios/clientes.

Conclusiones:

el uso del podcast demuestra ser una herramienta eficaz, innovadora y de bajo costo, con un impacto social significativo, siendo eficaz para el cambio de comportamiento, la satisfacción y la interacción social. Sin embargo, la falta de estudios exhaustivos sobre las metodologías de desarrollo de podcasts representa desafíos a superar.

Descriptores:
Educación en Salud; Educación del Paciente como Asunto; Difusión por la Web; Telemedicina; Recursos Audiovisuales

INTRODUÇÃO

A educação em saúde emerge como um processo colaborativo que engloba a orientação dos profissionais de saúde aos indivíduos, com o intuito de fomentar o desenvolvimento de competências e comportamentos voltados para a otimização dos desfechos de saúde(¹). Por meio desta abordagem, a educação do paciente pode exercer influência direta sobre seus padrões comportamentais, incitando modificações nos domínios do conhecimento, atitude e aptidões indispensáveis para a melhoria do seu estado de saúde(²).

Nesse contexto, a participação ativa do indivíduo no processo educativo, seguindo abordagens pedagógicas e andragógicas, emerge como uma ferramenta valiosa no gerenciamento das condições de saúde. Entretanto, as ações implementadas e os processos propostos até o momento não têm demonstrado a eficácia necessária(³).

Assim, a implementação de estratégias voltadas para o engajamento do paciente, capazes de promover um entendimento aprofundado do binômio saúde-doença e viabilizar a aplicação precisa do conhecimento adquirido, emergem como uma abordagem de grande potencial nesse processo educativo(⁴). Destaca-se, ainda, a necessidade premente de repensar as abordagens educacionais convencionais, à medida que os métodos tradicionais têm apresentado limitações em atender às exigências contemporâneas(⁵).

As formas digitais, como vídeos ou podcasts, têm sido cada vez mais exploradas como recursos de comunicação narrativa e educação em saúde para adultos e idosos(⁶). Isso ocorre porque, ao imergir o indivíduo em histórias, tais recursos auxiliam no processamento de informações e na superação de obstáculos comportamentais(⁷). Nesse contexto, as narrativas são capazes de evocar respostas emocionais mais intensas em comparação com a mera apresentação de informações(⁸), além de aumentar a capacidade de escuta do paciente(⁹) e acionar o efeito de autorreferência, facilitando a lembrança de fatos nos quais o indivíduo estava envolvido(¹⁰). Assim, de acordo com a teoria de Fisher(¹¹), pesquisas têm demonstrado que a transmissão de informações por meio de narrativas envolve os participantes de forma mais profunda, promovendo atitudes positivas, aumentando o conhecimento e fortalecendo a intenção comportamental de adotar mudanças saudáveis(⁷,¹²-¹⁴).

Neste cenário, surge com grande relevância a tecnologia do podcast, uma mídia de comunicação digital que possibilita a gravação de locuções ou entrevistas similares a programas de rádio(¹⁵), apresentando-se como um recurso versátil e dinâmico para o compartilhamento de informações em saúde(¹⁶). Todavia, enquanto há inúmeros podcasts relacionados à saúde disponíveis para baixar, pouco se sabe sobre seu uso(¹⁷).

Portanto, o podcast tem potencial para se configurar como um recurso promissor no aprimoramento e eficácia das estratégias educativas em saúde; no entanto, este é um recurso ainda subutilizado e pouco explorado na literatura. Neste sentido, propôs-se realizar uma revisão de escopo com vistas a explorar a literatura disponível para mapear as evidências científicas relacionadas ao uso de podcasts na educação em saúde de adultos e idosos.

OBJETIVOS

Mapear as evidências científicas relacionadas às características, temáticas e desfechos do uso de podcasts de educação em saúde direcionados para indivíduos maiores de 18 anos nos ambientes intra ou extra hospitalar.

MÉTODOS

Aspectos éticos

Como o presente estudo é uma revisão, a apreciação pelo Comitê de Ética em Pesquisa não se aplica.

Tipo de estudo

Esta revisão de escopo foi desenvolvida conforme a metodologia da JBI para revisões de escopo(¹⁸) e seguiu os padrões de relatórios Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses for Scoping Reviews (PRISMA-ScR)(¹⁹). É um estudo derivado de uma dissertação de mestrado e foi realizada nas seguintes etapas, de julho a setembro de 2022: revisão preliminar da literatura; desenvolvimento do título, questão de pesquisa e objetivos; determinação dos critérios de elegibilidade; elaboração do protocolo de revisão; desenvolvimento da estratégia de busca; seleção dos estudos; extração de dados; análise crítica dos estudos; apresentação dos resultados; e discussão dos achados.

Procedimento metodológico

Para o desenvolvimento deste estudo, foi realizada uma busca preliminar nas bases de dados MEDLINE, Cochrane Database of Systematic Reviews e JBI Evidence Synthesis, da qual não foram identificadas revisões sistemáticas ou de escopo, realizadas ou em andamento, relacionadas ao uso do podcast como estratégia de educação do paciente.

Em seguida, o protocolo dessa revisão de escopo foi elaborado e publicado na Open Science Framework (OSF) em agosto de 2022 com o identificador DOI 10.17605/OSF.IO/DQ4J7(²⁰). Para a presente revisão, pequenas alterações foram realizadas em relação à população, objetivo, questão de revisão e fonte de evidência, em conformidade com a metodologia da JBI, na qual devido ao caráter iterativo da revisão de escopo, mudanças do protocolo podem ser necessárias(¹⁸).

O título, os objetivos e a questão da revisão foram elaborados conforme o mnemônico População, Conceito e Contexto (PCC). Assim, a questão norteadora do estudo foi: Quais são as características, temáticas e desfechos relacionados ao uso de podcasts de educação em saúde direcionados para indivíduos maiores de 18 anos nos ambientes intra ou extra hospitalar?

Critérios de Inclusão

Tipos de Participante

Como população-alvo, optou-se por incluir evidências de estudos com indivíduos com mais de 18 anos(²⁰).

Conceito

Foram incluídos estudos que consideraram o desenvolvimento e/ou uso de podcasts para a educação em saúde, levando em consideração as características da ferramenta, as temáticas de saúde direcionadas pelo podcast e os desfechos avaliados após a intervenção(²⁰).

Contexto

Foram incluídos estudos que abordaram a educação em saúde nos ambientes intra ou extrahospitalares, sem distinção de gênero, etnia ou local de execução(²⁰).

Tipos de Fontes de Evidência

Foram considerados para inclusão estudos disponíveis gratuitamente, bem como de acesso pago, apenas no formato online, tais como revisões sistemáticas, integrativas, de escopo, estado da arte, estudos de pesquisa primária, meta-análises, guidelines, estudos experimentais e epidemiológicos, incluindo ensaios clínicos randomizados e não randomizados controlados, quasi-experimentais, estudos antes e depois, coortes prospectivas e retrospectivas, caso-controle, estudos transversais, artigos de opinião, estudos qualitativos, revisões, teses e dissertações(²⁰), publicados nos idiomas inglês, português e espanhol, no período de 2004 a 2022. Resumos de conferências, protocolos de estudo, editoriais, comentários, resenhas, cartas, websites, blogs e estudos não disponíveis na íntegra foram excluídos(²⁰).

Estratégia de Busca

A estratégia de busca visou localizar estudos tanto publicados quanto de literatura cinzenta e foi realizada em agosto de 2022.

Inicialmente, foi realizada uma primeira busca limitada com as palavras-chave “patient education” AND “podcast” nas bases Pubmed e Portal BVS para identificar potenciais estudos por dois revisores de maneira independente. Após essa seleção, foi realizada nova leitura dos títulos, resumos e palavras-chave, considerando os termos indexados e descritores DeCS/MeSH para o desenvolvimento da estratégia de busca adaptada a cada base de dados(¹⁹): (“Webcasts as Topics” OR “Podcasts as Topic” OR “Podcasts as Topics” OR “media”) AND (“health information” OR “knowledge” OR “learning” OR “communication”) AND (“Education, Patient” OR “Patient Education” OR “Education of Patients” OR “Education, Health” OR “Community Health Education” OR “Education, Community Health” OR “Health Education, Community”). As bases de dados utilizadas foram Cochrane Library, Portal BVS, PubMed, CINAHL, Web of Science, Sistema de Informação de literatura cinzenta na Europa Open Grey, a Biblioteca Brasileira de Teses e Dissertações, Catálogo de Teses e dissertações, Open Access Theses and Dissertations e Networked Digital Library of Theses and Dissertations.

Foram considerados os estudos publicados nos idiomas em inglês, português e espanhol, publicados entre 2004 à 2022, pois o termo podcast surgiu apenas a partir de 2004, desde então considerado uma mídia descentralizada gratuita para comunicação independente(¹⁵,²¹).

Seleção de estudos

Após a busca em todas as bases de dados, todos os estudos encontrados foram depositados na plataforma Rayyan(²²), para triagem, leitura do texto integral e seleção dos estudos, por dois revisores independentes. Após a seleção dos estudos, a lista de referências de todos os estudos incluídos foi analisada para busca de estudos adicionais. Quaisquer discordâncias entre os revisores foram resolvidas por meio de discussão e consenso entre os mesmos e um terceiro revisor mais experiente(²⁰).

Extração de dados

A extração de dados dos estudos incluídos foi realizada por um revisor, utilizando o instrumento padronizado da JBI(¹⁸) revisado e modificado pelos revisores, conforme a pergunta do estudo, de agosto a setembro de 2022. O outro revisor fez a análise subsequente para verificação dos dados.

Análise crítica dos estudos

Para verificar a qualidade metodológica dos estudos, confiança, relevância e resultado, foi utilizado o JBI Critical appraisal checklist(²³) para suportar a análise do desenho e condução do estudo e ajudar na interpretação dos resultados, já que permite o cálculo do percentual de risco de viés(²⁴-²⁵). De acordo com a metodologia da JBI, esta análise não é obrigatória, porém confere maior confiabilidade aos resultados(¹⁸).

Para essa revisão, dois revisores utilizaram quatro checklists que contemplam os tipos de estudos incluídos: checklist para estudos transversais analíticos, checklist para estudos quasi-experimentais, ferramenta de avaliação crítica JBI para ensaios clínicos randomizados e checklist para texto e opinião(²³).

RESULTADOS

Após o processo de identificação e triagem de 1.654 estudos, foram selecionados 11 estudos para análise e inclusão, conforme apresentado no fluxograma baseado no PRISMA-ScR(¹⁹), na Figura 1.

Figura 1
Fluxograma de identificação e seleção de estudos em bases de dados

O Quadro 1 apresenta a caracterização dos estudos incluídos, considerando critérios como ano de publicação, país de origem, idioma, desenho do estudo, temática abordada, principais resultados e risco de viés.

Quadro 1
Caracterização dos estudos incluídos, São Paulo, São Paulo, Brasil, 2023

Autor, ano, país, idioma	Desenho de estudo	Temática	Principais resultados	Risco de viés
Kamel, 2006 Reino Unido Inglês(26)	Estado da arte	Inovações tecnológicas para educação em saúde	1) A essência do podcasting é criar conteúdo para ser consumido quando, onde e como o ouvinte quiser. 2) Os usuários podem ouvir podcasts no computador ou em um dispositivo portátil. 3) Os podcasts podem ser criados com softwares de fala ou com voz humana real. 4) Podcasts usam Rich Site Summary (RSS). 5) Podcasts relacionados à saúde estão disponíveis para pacientes e público em geral.	Baixo
Kamel, 2007 Reino Unido Inglês(27)	Estado da arte	Inovações tecnológicas para educação em saúde	1) Podcasts são arquivos digitais independentes de hora e local, que podem ser acessados gratuitamente por meio de inscrição em feeds de podcasts ou por meio da transferência automática para um computador ou dispositivo portátil para ouvir ou assistir em outro momento. 2) Podcasts de saúde também estão sendo usados para a comunicação com idosos mais experientes no uso de tecnologias nos EUA. 3) Existem ferramentas de busca de podcast. 4) As falas dos ouvintes geram uma experiência de comunicação bidirecional, mas essa interatividade instantânea ainda é ilusória.	Nenhum
Turner-McGrievy, 2009 EUA Inglês(28)	ECR	Obesidade	1) Ouvir podcasts, provocou mudanças saudáveis em 91% dos ouvintes. 2) Não houve diferença no nível de condutância da pele. 3) O grupo do website achou esta ferramenta menos inovadora do que o grupo do podcast. 4) O grupo intervenção teve maior perda de peso e maior conhecimento sobre perda de peso, elaboração, controle de usuário e menos carga cognitiva ao final da intervenção.	Moderado
Turner-McGrievy, 2011 EUA Inglês(29)	ECR	Obesidade	1) Não houve diferença na perda de peso, automonitoramento relatado de consumo alimentar ou atividade física entre os grupos aos 6 meses. 2) O grupo intervenção fazia mais downloads por episódio do que o grupo controle. 3) O número de podcasts baixados teve relação moderada com a perda de peso nos dois grupos.	Moderado
Ko, 2014 EUA Inglês(30)	ECR	Obesidade	1) Modelos conceituais foram desenvolvidos e o estudo comprovou o efeito positivo de um podcast baseado em teoria na perda de peso. 2) A teoria do controle da informação e a teoria da carga cognitiva foram relacionadas à elaboração, e a elaboração foi associada à perda de peso. 3) Os construtos da teoria cognitiva social não mediam a perda de peso.	Moderado
Hales, 2015 EUA Inglês(31)	ECR	Obesidade	1) O total de pontos ganhados teve relação estatisticamente significante com o percentual de perda de peso. 2) A conscientização predisse maior ganho de pontos.	Moderado
Williams, 2015 EUA Inglês(32)	Revisão integrativa	Consumo de bebidas alcoólicas	1) Não foram localizados estudos sobre o tema. 2) Podcasts de saúde são viáveis e custo-efetivo, mas podem consumir mais tempo. 3) O humor e o uso de narrativa podem entreter mais o ouvinte.	Nenhum
Schroyen, 2017 França Inglês(33)	Estudo transversal	Orientações do profissional de saúde População idosa	1) As explicações para pacientes mais velhos tinham enunciados menores e mais repetições, e menos efeitos adversos citados, tais como questões relacionadas ao sexo. 2) Profissionais com visão positiva do envelhecimento reduziram o tamanho dos enunciados e o ritmo de palavras por minuto nas explicações para a paciente mais idosa, mas quando o profissional tinha uma visão negativa desse processo, esses fatores foram observados em ambas as explicações.	Moderado
Dahl, 2018 EUA Inglês(34)	ECR	Ganho de peso na gestação	1) A diferença de ganho de peso adequado entre os grupos não foi significativa. 2) Houve diferença significativa na alimentação saudável, com pontuações de alimentação mais saudável no grupo intervenção.	Moderado
Huberty, 2020 EUA Inglês(35)	Estudo de viabilidade grupo único	Câncer	1) A média de consumo foi de 103,2 min/semana. 2) Quase metade dos participantes relataram ter gostado dos podcasts de educação em saúde e ficaram satisfeitos com a intervenção. 3) Não houve mudanças significativas nos desfechos relacionados ao câncer desde o início até a pós-intervenção.	Moderado
Silva, 2021 Brasil Português(36)	Estudo de desenvolvimento metodológico	Hipertensão arterial sistêmica População idosa	Desenvolvimento de um podcast assistencial de enfermagem como instrumento de educação em saúde para a pessoa idosa, com instruções sobre o autocuidado, ações para melhorar a qualidade de vida, provisão de conhecimento sobre a doença, incentivo à adesão às terapias medicamentosas e não medicamentosas.	Nenhum

RSS - Really Simple Syndication; EUA - Estados Unidos da América; ECR - Ensaio clínico randomizado.

Em relação às fontes de dados, 54% dos estudos selecionados se encontram na Pubmed (n=6)(²⁶-²⁷,²⁹-³⁰,³³,³⁵) e 46% em bases de literatura cinzenta - Open Thesis and Dissertations (n=4)(²⁸,³¹-³²,³⁴) e Catálogo de Teses e Dissertações (n=1)(³⁶).

A Figura 2 sintetiza as características do podcast relacionadas à audiência, conveniência, consumo, benefícios, conteúdo e desenvolvimento, abordados nos estudos incluídos nesta revisão(²⁷-²⁸,³⁴).

Figura 2
Características do podcast de acordo com os estudos incluídos

Na Figura 3, são retratados os desfechos estudados, relacionados ao uso do podcast, avaliados nos estudos analisados(²⁶-³⁶).

Figura 3
Desfechos relacionados ao uso do podcast

DISCUSSÃO

As qualidades e vantagens do podcast vêm sendo discutidas há mais de uma década(²⁷). Com o aumento do uso da rede mundial de computadores, observou-se também um crescimento no uso de smartphones e tecnologias móveis, assim como no acesso e na popularização dos podcasts(³⁰). Ao analisar os estudos, verifica-se que o crescimento do uso de estratégias de eHealth na população exige a identificação de canais de comunicação e intervenções efetivas(³⁴). O podcast tem sido estudado como uma dessas estratégias inovadoras em crescente demanda, apresentando características positivas para seu uso na educação em saúde(²⁶-³⁶).

Nesse contexto, considerando o aumento do consumo deste produto, o podcast emerge como uma ferramenta de comunicação disponibilizada por meio de mídias digitais(¹⁵,³⁷-³⁸), e devido à facilidade de sua utilização(²⁸-³³,³⁶), apresenta-se como uma alternativa promissora para auxiliar o processo educacional(³⁷). Os autores ressaltam a importância do podcast como uma ferramenta crucial na disseminação de informações, ampliando significativamente o alcance e a acessibilidade de intervenções(³⁴), dada sua capacidade de superar barreiras geográficas(²⁷) e a conveniência do formato de áudio(²⁸).

Por sua vez, essas características conferem ao podcast um papel transformador na promoção do conhecimento em saúde e no empoderamento dos indivíduos na gestão de suas próprias condições de saúde(¹⁵,¹⁸). Contudo, embora o podcast seja uma estratégia viável para motivar o usuário e complementar o conhecimento à distância(³⁹-⁴⁰), Abreu destaca que a orientação presencial é essencial e pode auxiliar o indivíduo em seu autocuidado e adesão ao tratamento. Nesse contexto, o podcast serviria como material adicional educativo(³⁷), preciso e estruturado(²⁸). Corroborando essa afirmação, um estudo de equivalência com 225 mulheres de meia idade mostrou que os grupos que envolveram consultas com enfermeiras tiveram resultados melhores em atividades físicas do que o grupo que recebeu orientações apenas pela web(⁴¹). Portanto, é relevante refletir sobre o papel do podcast como ferramenta auxiliar na educação em saúde, uma vez que essa diferença (presencial versus a distância) justifica a necessidade de novos estudos com períodos mais extensos de acompanhamento, comparando a orientação presencial com a intervenção via podcast.

Apesar de sua importância, a presente revisão revelou que a área de pesquisa de podcasts para educação em saúde é limitada(²⁸,³²,³⁶), mesmo sendo uma estratégia com diversas características facilitadoras para seu desenvolvimento e uso(²⁷-³⁶). Além disso, estudos concluíram que a maioria dos podcasts desenvolvidos é utilizada como tecnologia educacional para estudantes e desenvolvimento profissional, havendo poucas evidências do uso dessa mídia para melhorar a saúde pública ou como tecnologia da informação para profissionais no processo educativo em saúde(³²,³⁶).

Consequentemente, a falta de evidências estende-se ao desenvolvimento desses recursos, uma vez que estudos sugerem que a maioria dos podcasts é criada para profissionais de saúde ou estudantes da área(³²,³⁶), indicando a necessidade de mais pesquisas sobre o tema entre os profissionais da saúde(³⁶), especialmente porque intervenções educacionais custo-efetivas e viáveis podem reduzir o impacto das doenças no mundo(⁴²). A utilização de teorias comportamentais(³⁰) e de comunicação(³²) no desenvolvimento de podcasts tem o potencial de fortalecer a autoeficácia, a capacidade comportamental e as expectativas de resultados(³⁰), além de contribuir positivamente para a satisfação do usuário(²⁸). Além disso, essa abordagem também foi associada a resultados mais eficazes no aumento do conhecimento do ouvinte(³¹).

Neste contexto, informações detalhadas sobre a metodologia de criação de tecnologias de saúde são raras. Um exemplo notável é o estudo de Knudsen et al., no qual foi descrita a criação de uma intervenção complexa para artrite reumatoide(⁴³). Neste estudo, o desenvolvimento dos recursos de e-learning, incluindo o podcast, seguiu várias etapas, desde uma revisão de literatura, discussões com grupos focais de pacientes até a transcrição e adaptação de conteúdo(²⁸,³⁰,³³-³⁴). É importante destacar que podcasts aprimorados, bem estruturados e baseados em teoria, podem facilitar o aprendizado(²⁸,³⁰).

Em relação ao uso do podcast como mídia, este se mostrou eficaz para desfechos como senso de controle do ritmo de aprendizado, interação social(²⁸), conhecimento(³¹), satisfação(²⁸), motivação, mudança comportamental e perda de peso(³⁰-³¹). Adicionalmente, foi indicado como promotor de bem-estar, qualidade de vida, autonomia, autoestima e pertencimento(⁴⁴). Assim, o podcast deve ser considerado como estratégia para aumentar a adesão ao tratamento e o comprometimento do indivíduo, especialmente em populações mais vulneráveis(²⁹).

Concomitantemente, para educar o paciente sobre mudança comportamental, devemos incluir mais itens além da adesão medicamentosa, dieta e atividade física, pois existem outros fatores ainda pouco difundidos por esta mídia que contribuem para condições desafiadoras à saúde pública em todo o mundo, como o tabagismo, uma temática não abordada nos podcasts aplicados(⁴²). Nesta revisão, observou-se que os podcasts contemplaram majoritariamente temáticas como obesidade, consumo de bebidas alcoólicas, hipertensão arterial, câncer e população idosa. Portanto, infere-se que novos temas devem ser explorados no ensino ao paciente, garantindo a integralidade das orientações pertinentes às populações.

Neste cenário, apesar da relevância do podcast como mídia de massa e da eficácia do áudio para entregar informações de saúde(²⁶-³⁶), profissionais e pacientes ainda não estão plenamente habituados com esta ferramenta(³³). Por isso, os profissionais são encorajados a se conectarem socialmente, já que iniciativas que transcendem as atuais barreiras de comunicação tendem a impactar a saúde dos pacientes, assim como o modo de trabalho desses profissionais(²⁷).

Em relação aos podcasts de saúde para consumo popular, análises prévias de conteúdo de saúde em plataformas da Web sugeriram a presença de informações incorretas, sendo desconhecida a acurácia de podcasts de saúde gerados por usuários(³²). No entanto, é crucial que o maior interessado no consumo da mídia, ou seja, o paciente(³¹) e/ou o familiar/cuidador, participe da construção dela, demonstrando a parceria entre profissional e paciente na criação dessa tecnologia sociável em saúde(²⁷), e um produto educativo de qualidade que faça sentido ao usuário final, podendo ajudar no engajamento e satisfação deste.

Os estudos encontrados apontam limitações nas amostras(²⁸-²⁹,³³,³⁵), destacando-se tamanhos pequenos e falta de diversidade em aspectos demográficos(²⁹,³⁴-³⁵), além de serem heterogêneas(²⁸,³³). Essas características impedem a generalização e, consequentemente, a reprodutibilidade dos resultados. Devido a essa limitação, surgiu a questão de se as características da amostra poderiam ter influenciado no uso da ferramenta, no conhecimento e na compreensão das orientações, levantando a hipótese de que usuários de outras etnias, rendas e níveis de escolaridade poderiam obter resultados semelhantes(²⁸,³³).

Além disso, alguns estudos apontaram a superficialidade na análise dos dados(²⁸), a ausência de pesquisas sobre o tema(³⁶) e a escolha dos estudos e a síntese das evidências com um certo grau de subjetividade(³²).

Por fim, foram sugeridos, para estudos futuros, pesquisas com maior tempo de intervenção e acompanhamento(²⁸), bem como o uso de outras ferramentas e estratégias em comparação com o podcast(²⁸,³⁰), com o objetivo de verificar resultados a longo prazo e o impacto de cada estratégia(³⁰).

Limitações do estudo

Este estudo apresenta algumas limitações que devem ser consideradas ao interpretar seus resultados. A heterogeneidade nos estudos incluídos, tanto em termos de desenhos de pesquisa quanto de populações de estudo, pode ter impactado a capacidade de realizar análises comparativas robustas.

As limitações relacionadas à qualidade dos estudos individuais também devem ser consideradas, uma vez que a falta de padronização na medição de desfechos e a possibilidade de viés de seleção podem ter afetado a validade dos resultados.

Por fim, as conclusões deste estudo são baseadas em uma revisão da literatura existente até a data de corte, e novos desenvolvimentos ou pesquisas publicadas após esse período podem não ter sido abordados.

Contribuições para as Áreas de Pesquisa e Saúde

Este estudo abrangente de revisão agregou conhecimento ao campo emergente da utilização de podcasts na educação em saúde, oferecendo uma síntese das evidências disponíveis até o momento. A pesquisa demonstra as possibilidades promissoras, inovadoras e eficazes no desenvolvimento e uso desta mídia como estratégia no processo educacional em saúde, revelando que, embora seja uma ferramenta valiosa, ainda não é amplamente adotada nem reconhecida.

Dessa forma, o estudo serve como um ponto de partida valioso para pesquisadores interessados em explorar ainda mais essa estratégia educacional inovadora.

CONCLUSÕES

No que se refere às características dos podcasts como ferramenta educacional em saúde, fica evidente que, no contexto educativo, essa mídia não apenas transcende limitações de espaço e tempo, mas também se revela como uma intervenção inovadora, de custo acessível e fácil implementação. Quando estruturado de maneira adequada, o podcast tem impacto social, simplificando o processo educativo e a disseminação de informações sobre saúde.

Apesar da escassez de evidências, o uso do podcast como ferramenta se mostrou eficaz para desfechos como mudança comportamental, perda de peso, satisfação e interação social. Contudo, suas virtudes vão além, sendo identificado como um recurso promotor de bem-estar, qualidade de vida, autonomia, autoestima e pertencimento. Assim, deve ser considerado como estratégia para aumento da adesão ao tratamento e comprometimento do indivíduo, especialmente em populações mais vulneráveis.

Diante da limitação de estudos sobre o tema, muitas lacunas ainda persistem, especialmente porque o conhecimento e descrição das metodologias de desenvolvimento de podcast ainda são campos pouco explorados. Além disso, a análise dos estudos selecionados destaca que as temáticas abordadas têm sido restritas, sugerindo estudos futuros considerando a relevância dessa mídia em gerar satisfação e aprimorar experiências de aprendizagem dos principais atores do processo: o profissional e o paciente.

AGRADECIMENTOS

Aos Professores Doutores Camila Takáo Lopes, Marciel Aparecido Consani, Walckiria Garcia Romero Sipolatti e Caroline Bublitz Barbosa, pelas sugestões valiosas a este estudo.

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Editado por

EDITOR CHEFE: Dulce Barbosa

EDITOR ASSOCIADO: Rosane Cardoso

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  15 Mar 2024
• Data do Fascículo
  2024

Histórico

• Recebido
  15 Maio 2023
• Aceito
  02 Nov 2023