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APRESENTAÇÃO DA ENFERMEIRA HOMENAGEADA COM O PRÊMIO ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENFERMAGEM

Saudação a Madre Domineuc

Madre Domineuc,

Coube-me, representando a Diretoria da ABEn e em nome de sua Presidente, Sra. Glete de Alcântara, a honrosa incumbência de apresentá-la como a homenagem de hoje, ganhadora do Prêmio Associação Brasileira de Enfermagem.

Sinto-me feliz e à vontade em fazê-lo, apezar de estar ciente das dificuldades que esta tarefa oferece. Apresentar Madre Domineuc? para quem? Será que ainda existem enfermeiras que desconheçam a grande colaboração que emprestou, principalmente a duas instituições de S. Paulo? Uma delas, a Escola de Enfermeiras do Hospital S. Paulo, hoje Escola Paulista de Enfermagem, que com ela nasceu; outra, a Associação Brasileira de Enfermagem, onde militou por muitos anos, ambas muito conhecidas em âmbito nacional. Entretanto, a notícia da excelência de sua atuação no Amparo Ma-ternal de S. Paulo talvez não tenha ainda transposto os limites daquela cidade, o que justifica o breve histórico de uma vida orientada para o ideal cristão de servir a todos, especialmente aos mais pequeninos e desvalidos dentre os filhos do Senhor.

Nascida na Bretanha, França, Madre Marie Domineuc concluiu o curso de Enfermagem na Escola de Enfermagem da Liga contra a Tuberculose, em Paris, recebendo o diploma de Enfermeira e Assistente Médico-Social, em 1932. Nessa mesma cidade fez, em 1933, um outro curso que lhe deu os títulos de Visitadora de Higiene Social e Enfermeira de Puericultura.

Ainda em 1933 entrou para a Congregação das Franciscanas Misisonárias de Maria, sendo enviada para S. Paulo onde fez a Profissão de Fé. Nessa cidade começou sua vida profissional do Dispensário de Puericultura da Liga das Senhoras Católicas. Foi ai que a encontrou o Prof. Álvaro Guimarães Filho, na época vice-diretor da Escola Paulista de Medicina e que estava procurando uma enfermeira para dirigir a Escola de Enfermagem que essa Instituição desejava criar junto ao Hospital S. Paulo. Dos entendimentos do Professor Guimarães Filho com o Arcebispo de S. Paulo e com a Congregação das Franciscanas Missionárias de Maria, resultaram dois fatos de grande importância: a colaboração desta última ao Hospital S. Paulo e a criação, instalação e manutenção da Escola de Enfermeiras desse hospital, autorizada a funcionar no dia 4 de outubro de 1938. Madre Domineuc, por ser estrangeira, não pode assumir oficialmente sua direção, mas sempre esteve à testa de suas atividades e sua influência junto às alunas foi acentuada e marcante. Criado o curso de enfermagem obstétrica, por iniciativa ainda do Prof. Guimarães Filho, Madre Domineuc por ele se diplomou, em 1952.

O Amparo Maternal, que atualmente dirige precedeu, na realidade, a criação da escola. Um acontecimento fortuito colocou a Madre e suas companheiras de congregação face a um dos mais graves problemas de nossa sociedade - o da assistência à mãe solteira. Uma gestante de 15 anos, que havia tentado o suicídio, depois de assistida no hospital, não tendo para onde ir e a quem recorrer, acabou sendo acolhida pela Congregação, que a abrigou num dos dois quartos que as Irmãs ocupavam, desalojando duas delas. Foi a semente do Amparo que logo após precisou acolher 6 puérperas nas mesmas condições e com alta da Clínica Obstétrica do Hospital S. Paulo - Madre Domineuc conseguiu uma casinhola nas imediaçeõs do hospital e convidou uma senhora da sociedade, mãe de 13 filhos, para dirigir a nova instituição.

Engolfada em suas múltiplas ocupações, a Madre só começou a se dedicar inteiramente ao Amparo a partir de 1955; desde essa época, o crescimento dessa instituição relativamente ao número de gestantes e crianças assistidas tem aumentado num crescendo assustador, desproporcional aos recursos materiais, financeiros e d pessoal que possui, ou não possui.

Mesmo assim, e à custa de muito trabalho e sacrifícios, premida pela necessidade de continuar dando assistência às mães psicopatas e seus filhos, fundou o Hospital Verde, em Mairinque onde, segundo diz, mora a caridade com a qual convivem, em 40 casas essas mães e suas crianças, sob a guarda de outras "mãezinhas", egressas dc Amparo.

Nunca se ouviu dizer que uma gestante tivesse batido à porta do Amparo Maternal sem ser atendida, viesse sozinha ou com um, dois ou quantos filhinhos já tivesse, não tendo com quem os deixar. A prática do amor pregado e vivido por Cristo sempre foi o mandamento a ser seguido. Dai o ter sido incompreendida por muitos, mas, em compensação, amada e respeitada por uma multidão.

Gerações de enfermeiras, a maioria formada pelas escolas de S. Paulo, incluindo a USP, foram beneficiadas com estágio de enfermagem obstétrica no Amparo Maternal ,onde aprenderam muito com seus professores, é verdade, mas muito mais com o exemplo da Madre.

E na ABEn, qual terá sido a sua contribuição? Nós, as antigas militantes podemos responder com segurança - foi de alta relevância, pela oportunidade de sua contribuição na solução de problemas cruciais, de legislação e de ensino.

Sua agressividade na defesa de suas convicções chegou a provocar, segundo ela mesma conta, o seguinte comentário de uma das líderes de enfermagem do País: "para a Associação, a presença da Madre Domineuc é um mal necessário"...

A proposta para que a ABEn realizasse o seu 1.º Congresso, em 1947, foi de sua autoria. Os prinmeiros números da Revista de Enfermagem trazem variada contribuição sua. Participou em diversas Comissões, tendo tido atuação destacada nas de Legislação e na Assistência e Proteção à Maternidade e Infância. Teve atuação decisiva na legislação de enfermagem, especialmente quando se tratava da enfermagem obstétrica. Foi defensora aguerrida da participação ativa das enfermeiras católicas no Comitê Internacional Católico de Enfermeiras e Assistentes Médico-Sociais, CICIAMS, do qual hoje a ABEn faz parte como membro efetivo. Participou dos primeiros Congressos e suas intervenções eram, ao mesmo tempo, desejadas e temidas; muitas vezes determinaram discusões nem sempre amenas; à expectativa de uma luta de opiniões seguiam-se a verdadeira guerra e, depois, momentos de reflexão e de reconsideração.

É por isto que hoje somos uma Associação forte e prestigiada. Criada por pioneiras, possui, gigantes na sua adolescência, dadas as circunstâncias precárias em que teve que se desenvolver; e contou sempre com a colaboração de membros como Madre Domineuc, que ajudou a engrandecê-la através de uma colaboração amadurecida e agressiva, mais no campo das idéias, do que, realmente, no campo de ação.

Imbuída do verdadeiro espírito cristão, sua vida e suas obras constituem exemplo de sublime amor ao próximo, traduzido no serviço desinteressado à maternidade e à infância desvalidas.

Por tudo isto, e pelo que realizou em silêncio, na modéstia de sua eixstência de religiosa-enfermeira, a ABEn hoje a homenageia e lhe concede o Prêmio Associação Brasileira de Enfermagem. Obrigada, Madre Domineuc.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 1974
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