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ATIVIDADES DISCENTES E DOCENTES ORGANIZADAS A PARTIR DAS FUNÇÕES DA ENFERMEIRA DE PEDIATRIA

INTRODUÇÃO

O êxito de um programa implica num conjunto de variáveis atuantes sobre os estudantes, difíceis de identificar e controlar. A maneira que encontramos para resolver este problema foi enfrentá-lo. O presente estudo reflete uma etapa intermediária de decisões dos docentes da disciplina de enfermagem Pediátrica da Escola de Enfermagem da USP, relativas ao modo de conduzir as experiências de ensino. No momento, professoras antigas e novas, encontramo-nos diante da seguinte dúvida:

"de que maneira o pragrama influi na "adaptação" profissional das futuras enfermeiras, que têm oportunidade de assistir as crianças?"

Para melhor situar o problema, desdobramos a pergunta acima em três:

  1. os objetivos do programa de enfermagem pediátrica são relevantes diante das necessidades de assistência à criança em nosso meio

  2. qual o alcance real dos objetivos formulados?

  3. as atividades docentes e discentes estão organizadas de maneira que correspondam aos objetivos propostos no programa?

Diante da impossibilidade de responder às duas primeiras questões, sem dispender tempo razoável em pesquisas trabalhosas, resolvemos considerar a terceira pergunta a título da caracterização das linhas gerais do programa, para estudos posteriores.

FUNDAMENTAÇÃO

A organização - A análise das unidades do programa (4) apresentou-se-nos como não representativa do sentido real das experiências centrais da matéria. A influência direta de "Saúde e Sistemas" de CHAVES (2- nos alertou sobre a conveniência da identificação, dentro do sistema de ensino, dos processos aos quais o estudante é submetido durante uma disciplina. A visualização das etapas dos procEssos e o reconhecimento da interdependencia destes facilitam, sensivelmente, a análise da coerência entre um processo de aprendizagem e o objetivo proposto, a identificação de variáveis e dos parâmetros passíveis de mensuração, relativas a uma experiência de ensino. A compreensão da importância da percepção do plano de ensino, como um sistema, resultou na reorganização das unidades do programa em torno dos assuntos reais dominantes da disciplina.

A unidade - Parece-nos importante relembrar o significado, dado por Morrison, do termo unidade. Segundo CARVALHO (11 CARVALHO, I. M. - O ensino por unidades didáticas. 3.ª ed., Rio, Fundação Getúlio Vargas. 1962.) o sentido das unidades num programa é provocar o aparecimento de "adaptação" na personalidade do estudante, em resposta à vivência de experiências significativas integradas e organizadas dentro de um campo unitário de estudo. Com esses elementos, é inevitável que se pense em adaptação profissional e se imagine a integração de experiências significativas da disciplina apoiada nas funções da enfermeira de pediatria.

As funções - No passado, a perspectiva das responsáveis pela disciplina foi encontrar as dificuldades dos estudante no cuidado das crianças e descobrir os meios que facilitassem a aprendizagem. O resultado desta preocupação foi a elaboração dos guias de estudo (4). Hoje, o centro das indagações dos docentes prende-se à adequação do preparo dos estudantes de enfermagem para o desempenho da assistência à criança, na vida profissional. Em outras palavras, queremos conhecer de quanto estamos capacitando a futura enfermeira do ponto de vista de adptação profissional.

Por esses motivos, nomeamos as unidades do programa com cinco funções da enfermeira de pediatria consideradas importantes para a assistência à criança:

promover meios para o desenvolvimento da criança;

promover a adaptação da criança nas situações novas;

assistir a criança doente;

capacitar a família para cuidar da saúde da criança; e

planejar assistência de enfermagem à criança.

OBJETIVOS

A finalidade deste estudo, como já salientamos, é tentar descrever a realidade do desenvolvimento do programa de enfermagem pediátrica nos aspectos das atividades dos estudantes e dos docentes, para no futuro, examinando-o como um sistema, verificar o seu valor e adequação. No momento, a nossa preocupação foi, além da reorganização das unidades, determinar as experiências pelas quais todos os estudantes devem passar e planejar as horas necessárias para aquelas experiências centrais do programa, computadas em 17 créditos.

A REORGANIZAÇAO DAS UNIDADES

Distribuição das horas - Para se ter uma idéia da distribuição das 360 horas atribuídas à disciplina de Enfermagem Pediátrica, apresentamos no quadro 1 o número de horas de atividades discentes e docentes em cada unidade. Como a primeira é prioritária no programa, cabe a ela 36% das horas da disciplina. É interessante observar que, das horas em sala de aula, 62% ficam a cargo dos alunos e 38% a cargo dos docentes. Consirando-se os critérios "crédito-aula" (um crédito correspondente a 15 horas de aula) e "crédito-trabalho" (um crédito correspondente a 30 horas de trabalho) verifica-se que a carga horária de 360 horas resultam de 7 "créditos-trabalho" e 10 "créditos-aula".

Quadro 1
Distribuição de horas das atividades discentes e docentes

A articulação entre os objetivos e as atividades docentes e discentes

No anexo 1 ANEXO 1 PLANEJAMENTO DAS ATIVIDADES DISCENTES E DOCENTES PARA O DESENVOLVIMENTO DO PROGRAMA DE ENFERMAGEM PEDIÁTRICA DA ESCOLA DE ENFERMAGEM DA USP, EM 1973 apresentamos as unidades do programa com os respectivos objetivos, experiências dos estudantes e atividades docentes. Nele também são apresentadas as horas das atividades exceto as dispendidas no campo de experiência.

A experiência de campo - As experiências de campo são desenvolvidas em: Creche, Parque Infantil e em unidades do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da USP, a saber: Pediatra, Ortopedia, 3.ª Clínica Cirúrgica, Urologia, Cardiopatias Congênitas e Serviço de Assistência Pediátrica Intensiva.

Como as experiências dos estudantes seguem etapas de trabalho devantamento de dados da criança, identificação da situação-problema, decisão, execução e avaliação da assistência de enfermagem) planejamos hora aula no campo de experiência, todas as semanas, para o aluno estudar. Nestas horas o aluno observa a criança, entrevista a família, a equipe médica, consulta o prontuáriro, sob a orientação docente. O quadro 2 mostra como estas horas são planejadas semanalmente.

Quadro 2
Experiência em campo nas 8 semanas de estágio

Consideração sobre a reorganização - A reorganização das unidades resultou na definição dos seguintes elementos do programa passíveis de verificação posterior em pesquisa:

a) as unidades do programa de Enfermagem Pediátrica devem estar estruturadas com o objetivo de preparar o estudante para sua adaptação profissional no cuidado das crianças;

b) as variáveis identificadas para estudo seriam: as experiências de ensino; o período de experiência para a sua conclusão (20 ou 40 horas?); a supervisão (como deveria estar orientada para auxiliar a daptação do estudante nas experiências?); e os guias de estudo (auxiliam ou não a adaptação dos estudantes nas experiências?);

c) os parâmetros relevantes para avaliação do programa poderiam ser aspectos do comportamento da enfermeira determinantes de: desenvolvimento, adaptação e conforto da criança; mudanças de comportamento da família, orientadas para as necessidades da criança e a adequação dos planos de assistência de enfermagem.

CONCLUSÕES

As autoras do trabalho, dadas as limitações do estudo, apenas têm a salientar que a reflexão do programa em conjunto provocou maior participação das docentes no plano de ensino; permitirá no futuro maior controle da aprendizagem; padronizou um mínimo básico da orientação a ser dada em sala de aula e em campo de experiência. As dúvidas apresentadas no início do trabalho continuam, mas agora, na perspectiva de orientar pesquisas sobre o valor dos vários elementos do programa, a iniciar pelo estudo das funções da enfermeira de pediatria.

  • *
    Resolução n.º 35 de 5/9/72 fixa o valor dos "créditos-aula" e dos "créditos- trabalho", a que se refere o artigo 99 do Regimento Geral da Universidade de São Paulo.

ANEXO 1


PLANEJAMENTO DAS ATIVIDADES DISCENTES E DOCENTES PARA O DESENVOLVIMENTO DO PROGRAMA DE ENFERMAGEM PEDIÁTRICA DA ESCOLA DE ENFERMAGEM DA USP, EM 1973

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

  • 1
    CARVALHO, I. M. - O ensino por unidades didáticas. 3.ª ed., Rio, Fundação Getúlio Vargas. 1962.
  • 2
    CHAVES, M. M. - Saúde e Sistemas., Rio, Fundação Getúlio Vargas 1972.
  • 3
    MORAES. E. - Programação de experiências de alunos em Enfermagem Pediátrica. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 3 (2): 3-10. 1969.
  • 4
    MORAES, E. - Guias de estudo de Enfermagem Pediátrica. Revista da Escala de Enfermagem da USP, 6 (1-2): 1-128, 1972.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Oct-Dec 1973
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