Acessibilidade / Reportar erro

As dores orofaciais e o Ano Mundial

Caros leitores,

Estamos no Ano Mundial contra a Dor Orofacial. Sem dúvida uma das áreas que mais apresenta diagnósticos relacionados ao sintoma álgico, pois há mais de 300 causas. Apresenta prevalência que varia entre 10 e 30% na população geral e, não bastasse isso, inclui estruturas anatômicas e histológicas de alta complexidade e de importância para o convívio social e para a sobrevivência, o que faz com que sejam necessários diversos especialistas como cirurgiões-dentistas, otorrinolaringologistas, oftalmologistas, fonoaudiólogas, além de outros profissionais que fazem parte das equipes interdisciplinares para a dor11. Teixeira MJ, Siqueira SRDT, Kosminsky M, Monteiro AA. Epidemiologia da dor. In: Teixeira MJ e Siqueira JTT. Dores orofaciais: diagnóstico e tratamento. São Paulo: Artes Médicas; 2012. 46-59p. .

Apesar desta relevância, ainda são pobres os currículos acadêmicos para a formação de profissionais da saúde em dor ainda na graduação, e a Odontologia não é diferente neste aspecto. Neste Ano, temos pela primeira vez uma disciplina optativa que contempla o assunto na Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, resultado da visão do Prof. Victor Arana Chavez sobre esta necessidade. Desejamos que esta iniciativa se torne obrigatória e se espalhe por todas as universidades.

A Revista Dor tradicionalmente reserva seu espaço para a Dor Orofacial, e em particular as disfunções temporomandibulares (DTM) estão contempladas por dois artigos nesta edição. Trata-se de um grande grupo de doenças relacionadas ao aparelho mastigatório, musculares, articulares ou mistas, que perdem apenas para as dores dentoalveolares em prevalência. Podem afetar diversas faixas etárias e são comorbidades de outros diagnósticos como neuralgia do trigêmeo, pulpites, migrânea e fibromialgia22. de Siqueira SR, da Nóbrega JC, Teixeira MJ, de Siqueira JT. Masticatory problems after balloon compression for trigeminal neuralgia: a longitudinal study. J Oral Rehabil. 2007;34(2):88-96.,33. Bernstein JA, Fox RW, Martin VT, Lockey RF. Headache and facial pain: differential diagnosis and treatment. J Allergy Clin Immunol Pract. 2013;1(3):242-51.. Assim, precisam de avaliação cuidadosa para o diagnóstico preciso e escolha das terapêuticas com evidência científica.

Dentre os tratamentos, há procedimentos invasivos e não invasivos, que incluem placas de mordida, acupuntura, fisioterapia, fármacos, terapia cognitivo comportamental, cirurgias e viscossuplementação. Quando bem indicados, os tratamentos são eficazes, e assim destaco o estudo retrospectivo sobre a viscossuplementação, técnica importante no tratamento de desarranjos internos da articulação temporomandibular (ATM)44. Long X, Chen G, Cheng AH, Cheng Y, Deng M, Cai H, et al. A randomized controlled trial of superior and inferior temporomandibular joint space injection with hyaluronic acid in treatment of anterior disc displacement without reduction. J Oral Maxillofac Surg. 2009;67(2):357-61..

Comorbidades psicológicas e psiquiátricas também fazem parte do conjunto de morbidades associadas à dor na face, e atenção aos sofredores é necessária no papel do cuidar. A dor facial atípica, por exemplo, apresenta alta frequência de sintomas emocionais associados, que precisam ser abordados55. Madland G, Feinmann C. Chronic facial pain: a multidisciplinary problem. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 2001;71(6):716-9.. Os pacientes com neuralgia do trigêmeo ficam frequentemente isolados e acabam por apresentar depressão. E dor de dente comum, quando referida, pode demorar meses para ser diagnosticada e levar o paciente ao afastamento total de todas as suas atividades familiares, profissionais e de lazer, mesmo em tão pequeno espaço de tempo.

Não deixo de destacar o papel importante que a dor no idoso apresenta em uma sociedade atual em processo de envelhecimento, e que busca por qualidade de vida em qualquer faixa etária. Idosos e crianças são grupos especiais que precisam de cuidados apropriados à condição clínica que apresentam, e por vezes tratamentos como a acupuntura podem auxiliar no alívio de sintomas com poucos efeitos adversos.

Por fim, desejo boa leitura, e que muitos avanços científicos e acadêmicos possam acontecer no universo da Dor Orofacial neste Ano Mundial.

Um abraço!

REFERÊNCIAS

  • 1
    Teixeira MJ, Siqueira SRDT, Kosminsky M, Monteiro AA. Epidemiologia da dor. In: Teixeira MJ e Siqueira JTT. Dores orofaciais: diagnóstico e tratamento. São Paulo: Artes Médicas; 2012. 46-59p.
  • 2
    de Siqueira SR, da Nóbrega JC, Teixeira MJ, de Siqueira JT. Masticatory problems after balloon compression for trigeminal neuralgia: a longitudinal study. J Oral Rehabil. 2007;34(2):88-96.
  • 3
    Bernstein JA, Fox RW, Martin VT, Lockey RF. Headache and facial pain: differential diagnosis and treatment. J Allergy Clin Immunol Pract. 2013;1(3):242-51.
  • 4
    Long X, Chen G, Cheng AH, Cheng Y, Deng M, Cai H, et al. A randomized controlled trial of superior and inferior temporomandibular joint space injection with hyaluronic acid in treatment of anterior disc displacement without reduction. J Oral Maxillofac Surg. 2009;67(2):357-61.
  • 5
    Madland G, Feinmann C. Chronic facial pain: a multidisciplinary problem. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 2001;71(6):716-9.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2014
Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 937 cj 2, 04014-012 São Paulo SP Brasil, Tel.: (55 11) 5904 3959, Fax: (55 11) 5904 2881 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: dor@dor.org.br