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Ocorrência de rinite, respiração oral e alterações orofaciais em adolescentes asmáticos

Resumos

OBJETIVO: determinar a ocorrência de rinite, respiração oral e alterações orofaciais em adolescentes asmáticos. MÉTODO: estudo do tipo transversal, realizado com 155 adolescentes asmáticos de 12 a 15 anos e de ambos os sexos, atendidos no Instituto Materno Infantil Professor Fernando Figueira. O levantamento de dados consistiu de duas etapas: a primeira para análise dos prontuários dos pacientes e da realização de dois testes para avaliação adicional da função respiratória. Sendo um com o auxílio do espelho de Glatzel e o outro com a contagem do tempo de permanência da água na boca. A segunda por meio de exame clínico para identificação das alterações orofaciais. RESULTADOS: a frequência de rinite alérgica foi elevada (80,6%), não existindo diferença significante entre o sexo feminino (80,9%) e o masculino (80,5%). Quanto ao padrão de respiração 32,9% dos asmáticos apresentaram respiração oronasal. As alterações faciais mais frequentes para o sexo masculino foram: olheiras (93,1%), palato ogival (82,8%), lábios ressecados (70,1%), selamento labial inadequado (77,0%), olhos caídos (62,1%) e face alongada (57,5%). O sexo feminino apresentou as maiores frequências para as seguintes características: olheiras (91,2%), palato ogival (85,3%), selamento labial inadequado (67,6%), lábios ressecados (63,2%) face alongada (66,2%) e lábio superior estreito (57,4%). CONCLUSÃO: em adolescentes asmáticos a frequência de rinite alérgica foi alta, bem como a ocorrência de respiração oral e de alterações faciais.

Asma; Rinite; Respiração Bucal


PURPOSE: to determine the occurrence of rhinitis, mouth breathing and orofacial alterations in adolescents with asthma. METHOD: cross-sectional study was conducted with 155 adolescents with asthma from 12 to 15 years old and both sexes, treated at the Institute Professor Fernando Figueira. The survey consisted of two phases: the first to review patients' records and carrying out two tests for further evaluation of respiratory function, being one with the help of the Glatzel mirror and the other with the counting of time of water in the mouth; the second through identification of clinical examination for orofacial alterations. RESULTS: the frequency of allergic rhinitis was high (80.6%), with no significant difference between female (80.9%) and male (80.5%). Regarding the pattern of breathing, 32.9% of the patients presented oral breathing. The most common facial changes for males were dark circles (93.1%), high palate (82.8%), dry lips (70.1%), inadequate lip sealing (77.0%), droopy eyes (62.1%) and elongated face (57.5%). Females had the highest frequency for the following characteristics: dark circles (91.2%), high palate (85.3%), inadequate lip sealing (67.6%), dry lips (63.2%) elongated face (66.2%) and narrow upper lip (57.4%). CONCLUSION: in adolescents with asthma, the frequency of allergic rhinitis was high, as well as the occurrence of oral breathing and facial changes.

Asthma; Rhinitis; Mouth Breathing


Ocorrência de rinite, respiração oral e alterações orofaciais em adolescentes asmáticos

Occurrence of rhinitis, mouth breathing and orofacial alterations in adolescents with asthma

Valdenice Aparecida de MenezesI; Amanda Maria Ferreira BarbosaII; Rafaella Maria Silva de SouzaIII; Cinthia Vanessa Cavalcanti FreireIV; Ana Flávia Granville-GarciaV

ICirurgiã-dentista; Professora Doutora da Faculdade de Odontologia de Pernambuco – UPE/FOP, Recife, PE, Brasil; Doutora em Odontopediatria pela Faculdade de Odontologia de Pernambuco – UPE/FOP

IICirurgiã-dentista; Doutoranda pela Faculdade de Odontologia de Pernambuco – UPE/FOP, Recife, PE, Brasil; Mestre em Odontopediatria Faculdade de Odontologia de Pernambuco – UPE/FOP

IIICirurgiã-dentista graduada pela Faculdade de Odontologia de Pernambuco – UPE/FOP, Recife, PE, Brasil

IVCirurgiã-dentista graduada pela Faculdade de Odontologia de Pernambuco – UPE/FOP, Recife, PE, Brasil

VCirurgiã-dentista; Professora Doutora da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, Campina Grande, PB, Brasil; Doutora em Odontopediatria pela Faculdade de Odontologia de Pernambuco – UPE/FOP

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Valdenice Aparecida de Menezes Rua Carlos Pereira Falcão, 811/602 Boa Viagem – Recife/PE CEP: 51021-350 E-mail: valdmenezes@hotmail.com

RESUMO

OBJETIVO: determinar a ocorrência de rinite, respiração oral e alterações orofaciais em adolescentes asmáticos.

MÉTODO: estudo do tipo transversal, realizado com 155 adolescentes asmáticos de 12 a 15 anos e de ambos os sexos, atendidos no Instituto Materno Infantil Professor Fernando Figueira. O levantamento de dados consistiu de duas etapas: a primeira para análise dos prontuários dos pacientes e da realização de dois testes para avaliação adicional da função respiratória. Sendo um com o auxílio do espelho de Glatzel e o outro com a contagem do tempo de permanência da água na boca. A segunda por meio de exame clínico para identificação das alterações orofaciais.

RESULTADOS: a frequência de rinite alérgica foi elevada (80,6%), não existindo diferença significante entre o sexo feminino (80,9%) e o masculino (80,5%). Quanto ao padrão de respiração 32,9% dos asmáticos apresentaram respiração oronasal. As alterações faciais mais frequentes para o sexo masculino foram: olheiras (93,1%), palato ogival (82,8%), lábios ressecados (70,1%), selamento labial inadequado (77,0%), olhos caídos (62,1%) e face alongada (57,5%). O sexo feminino apresentou as maiores frequências para as seguintes características: olheiras (91,2%), palato ogival (85,3%), selamento labial inadequado (67,6%), lábios ressecados (63,2%) face alongada (66,2%) e lábio superior estreito (57,4%).

CONCLUSÃO: em adolescentes asmáticos a frequência de rinite alérgica foi alta, bem como a ocorrência de respiração oral e de alterações faciais.

Descritores: Asma; Rinite; Respiração Bucal

ABSTRACT

PURPOSE: to determine the occurrence of rhinitis, mouth breathing and orofacial alterations in adolescents with asthma.

METHOD: cross-sectional study was conducted with 155 adolescents with asthma from 12 to 15 years old and both sexes, treated at the Institute Professor Fernando Figueira. The survey consisted of two phases: the first to review patients' records and carrying out two tests for further evaluation of respiratory function, being one with the help of the Glatzel mirror and the other with the counting of time of water in the mouth; the second through identification of clinical examination for orofacial alterations.

RESULTS: the frequency of allergic rhinitis was high (80.6%), with no significant difference between female (80.9%) and male (80.5%). Regarding the pattern of breathing, 32.9% of the patients presented oral breathing. The most common facial changes for males were dark circles (93.1%), high palate (82.8%), dry lips (70.1%), inadequate lip sealing (77.0%), droopy eyes (62.1%) and elongated face (57.5%). Females had the highest frequency for the following characteristics: dark circles (91.2%), high palate (85.3%), inadequate lip sealing (67.6%), dry lips (63.2%) elongated face (66.2%) and narrow upper lip (57.4%).

CONCLUSION: in adolescents with asthma, the frequency of allergic rhinitis was high, as well as the occurrence of oral breathing and facial changes.

Keywords: Asthma; Rhinitis; Mouth Breathing

INTRODUÇÃO

As patologias respiratórias representam uma relevante causa de adoecimento e morte em adultos e adolescentes. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) demonstram que estas doenças representam cerca de 8% do total de mortes em países desenvolvidos e 5% dos países em desenvolvimento 1.

Estudos internacionais revelam que a prevalência média mundial de asma é de 11,6% em escolares, oscilando entre 2,4% e 37,6%. Nos adolescentes, é de 13,7% e varia entre 1,5% e 32,6%. No Brasil, os índices ainda permanecem elevados e ao redor de 20% para os dois grupos2.

Dados epidemiológicos sugerem a existência de uma relação entre rinite alérgica e asma. A literatura revela que 28% a 50% dos asmáticos têm rinite alérgica associada, enquanto que rinite alérgica isolada é encontrada em 20% da população. Vale salientar que a asma coexiste em 13% a 38% dos pacientes com rinite alérgica, ao passo que na população geral esta proporção varia entre 5% e 15%. Outros estudos demonstraram uma prevalência de até 98,9% de rinite em asmáticos com atopia e de até 78,4% em asmáticos sem atopia 3,4.

Indivíduos com rinopatia alérgica podem apresentar hipertrofia de adenóides, de amígdalas, do tecido conjuntivo que reveste as conchas nasais e desvio de septo, levando à alteração do padrão respiratório para uma respiração predominantemente oral. Esta, dependendo de sua duração, pode acarretar alterações funcionais, estruturais, patológicas, oclusais e de comportamento 5,6.

Dentro deste contexto, o objetivo do presente trabalho é determinar a ocorrência de rinite alérgica, respiração oral ou oronasal e alterações orofaciais em pacientes asmáticos.

MÉTODO

O estudo transversal em questão, que representa uma parte da pesquisa intitulada "Prevalência de cárie dentária e fatores associados em adolescentes asmáticos", foi realizado no Instituto Materno Infantil Professor Fernando Figueira (IMIP), situado na região metropolitana da cidade do Recife, no estado de Pernambuco. A amostra utilizada foi de 155 adolescentes.

Foram incluídos na pesquisa adolescentes na faixa etária de 12 a 15 anos e os que apresentaram ao longo da infância/adolescência episódios característicos de asma (aperto no peito, tosse, chiado e falta de ar), com diagnóstico confirmado pelo médico responsável. O registro da função respiratória e da presença de rinite alérgica foi obtido por meio da análise do prontuário. Os critérios de exclusão foram adolescentes portadores de outras doenças sistêmicas e de distúrbios psiquiátricos, neurológicos e necessidades especiais.

Como parâmetros de avaliação adicional da função respiratória foram realizados dois testes:

  • TESTE 1: Espelho de Glatzel para aferir a permeabilidade nasal devido à obstrução de vias aéreas superiores, sintoma comum de indivíduos que têm o modo respiratório oral 7,8.

  • TESTE 2: Prova da água, foi solicitado ao próprio adolescente para manter um gole de água na boca, permanecendo com os lábios em contato e, sem engolir, pelo tempo de 3 minutos cronometrados, observando por meio da comissura labial, se havia esforço no decorrer do tempo.

A calibração inter-examinadoras consistiu de uma atividade clínica na qual houve a participação de um "padrão ouro". Foram realizados testes individuais (Teste 1 e Teste 2) em 15 adolescentes. Com relação à observação das alterações orofaciais foram utilizadas 17 fotografias de adolescentes que continham ou não estas características. Para garantir a confiabilidade dos dados foi aplicado o teste Kappa, cujo valor de concordância intra-examinador foi de 0,84 e inter-examinador de 0,73.

Os responsáveis pelos sujeitos envolvidos no presente estudo autorizaram a participação dos mesmos por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do IMIP sob o protocolo de número 1176/08.

Para análise dos dados utilizou-se métodos de estatística descritiva e inferencial. Na análise descritiva foram obtidas distribuições absolutas e percentuais uni e bivariadas e medidas estatísticas. Na análise inferencial foram utilizados os testes: t-Student para duas amostras independentes com variâncias iguais ou desiguais e o teste Qui-quadrado de Pearson. Para a verificação da hipótese de igualdade de variâncias, entre dois grupos independentes, será realizada por meio do teste F. A margem de erro utilizada na decisão dos testes estatísticos foi de 5,0%.

RESULTADOS

Na Tabela 1 destaca-se principalmente que a presença de associação significante com a faixa etária ao nível de significância considerado (5,0%) foi verificada com cada uma das variáveis: rinite alérgica, tipo de respirador e mordida cruzada.

Destaca-se na Tabela 2 que as maiores diferenças percentuais entre gênero ocorreram nas variáveis: lábios hipotônicos, que foi 17,3% mais elevado no sexo feminino do que masculino; respirador oral, 14,8% mais elevado no sexo feminino e olhos caídos, com valor 12,1% mais elevado no sexo masculino, entretanto a única associação significante foi registrada para o tipo de respirador (p < 0,05).

Na Tabela 3 apresenta-se o estudo da associação entre a ocorrência de rinite alérgica com os resultados do tipo de respirador e cada uma das alterações faciais. Desta tabela destaca-se que as maiores diferenças percentuais entre os que tinham ou não rinite alérgica ocorreram para aqueles que apresentaram face alongada, com valor 23,2% mais elevado entre o grupo dos que não tinham rinite alérgica e os classificados como nasal – oral, segundo o teste do espelho; 20,7% mais elevado entre os que tinham rinite alérgica, sendo estas as duas únicas variáveis nas quais se comprova associação significante com a ocorrência de rinite alérgica (p < 0,05 e intervalos para OR que excluem o valor 1,00).

Observam-se na Tabela 4 os resultados das alterações faciais segundo o tipo de respirador. Nela, destaca-se que: as maiores diferenças no percentual de classificados como respirador oral ocorreram entre os que tinham e entre os que não tinham: nariz estreito, selamento labial inadequado, lábio superior estreito, olheiras e olhos caídos. Com exceção de olheiras verifica-se associação significante entre o tipo de respiração com cada uma das outras variáveis citadas (p < 0,05 e intervalos para OR que excluem o valor 1,00).

DISCUSSÃO

A principal limitação do presente estudo relaciona-se ao fato do mesmo ser composto de uma população de conveniência. Portanto, os resultados obtidos devem ser interpretados cuidadosamente, respeitando-se essa particularidade. Assim, deve-se levar em consideração o fato da pesquisa ter sido desenvolvida em um centro de referência para o tratamento de asma, fazendo com que os pacientes tenham acesso a tratamento e acompanhamento adequados, levando a um controle melhor da asma, da rinite e das alterações provocadas por essas patologias.

A validade externa corresponde à capacidade de generalizar os resultados de um estudo particular, aplicando-os para a população da qual a amostra foi retirada, ou para outras populações9. Sendo assim, no presente estudo os resultados não podem ser generalizados para todos os adolescentes asmáticos, pois trata-se de uma população específica, fazendo-se necessário que outros estudos sejam realizados para assegurar a validade externa. Apesar de o estudo ter sido realizado quando os adolescentes consultavam um serviço de saúde, o IMIP é uma referência estadual no atendimento de adolescentes asmáticos, justificando-se assim a escolha desse local para a realização da pesquisa.

A rinite alérgica representa um problema de saúde pública, apresentando, portanto, um impacto econômico e social. Esta patologia afeta a qualidade de vida dos pacientes, causando desconforto físico, emocional e múltiplas enfermidades10-12. Dessa forma, a exploração desse assunto relacionando a ocorrência de rinite e de respiração oral em adolescentes asmáticos contribui para o desenvolvimento de políticas de saúde direcionadas a este grupo da sociedade, visando, diagnóstico, acompanhamento e tratamento multidisciplinar adequados.

Assim, foram inseridas, neste estudo, as seguintes variáveis: sexo, idade, tipo de respiração, ocorrência ou não de rinite alérgica e a presença ou ausência de alterações faciais (face alongada, olhos caídos, narinas estreitas, selamento labial inadaquado, lábios hipotônicos, lábios ressecados, lábio superior estreito, mordida aberta anterior, mordida cruzada e palato ogival).

A literatura evidencia que a relação entre rinite e asma não está completamente estabelecida: estas patologias podem representar duas entidades distintas ou uma doença que envolve ambas as vias aéreas. A rinite alérgica representa um fator de risco para o desenvolvimento da asma 3,13-16, conclui-se, portanto, que a maioria dos pacientes com asma tem rinite.

A literatura tem demonstrado que a rinite alérgica é uma doença de alta prevalência. O International Study of Asthma and Allergies in Childhood (ISAAC) no final da década de 90, demonstrou que a co-morbidade entre asma e rinite alérgica pode alcançar até 80%17. Os dados obtidos na presente pesquisa corroboram com o ISAAC, provando que 80,6% dos adolescentes asmáticos (Tabela 1) possuíam rinite alérgica. Resultados semelhantes foram obtidas em levantamento realizado no município de Belo Horizonte, que mostrou que entre 560 crianças e adolescentes com asma, o diagnóstico de rinite alérgica foi confirmado em 65% 3, bem como nos achados de Imbaud et al. (2006)18, que encontraram 69,1%, ao avaliarem 136 pacientes asmáticos de sete a 15 anos, representando, portanto, valores epidemiologicamente consideráveis.

A rinite alérgica representa um importante fator etiológico da respiração oral10, 19,20. Trabalhos que se referem à prevalência da respiração oral são poucos na literatura e apresentam percentuais que variam em torno de 58 a 75%6. Quanto ao modo respiratório, expresso na Tabela 1, obteve-se uma maior prevalência para a respiração nasal (67,1%) quando comparada a oral (32,9%). Tais dados entram em desacordo com os obtidos no estudo de Lemos et al. (2007) 21 que encontraram para o grupo dos adolescentes, uma porcentagem de aproximadamente 60% para o padrão oral, entretanto, justifica-se a diferença de valores pela distinção das populações envolvidas em ambos os estudos. Ressalta-se também, o fato de que existem poucos trabalhos na literatura relacionando a prevalência de respiração oral em adolescentes que apresentem concomitantemente asma e rinite alérgica, o que dificulta comparações.

Pode-se definir respirador oral como o indivíduo que apresenta capacidade respiratória nasal restrita, precisando suprir essa deficiência com o auxílio da respiração oral. A Síndrome do respirador oral apresenta vários sintomas, destacando-se dentre eles, alterações orofaciais (face longa e estreita, lábios entreabertos, com superior curto, maxilares atrofiados, musculatura orofacial com tônus diminuído, cianose infraorbitária, dentre outros eventos) 19, 22-24. As principais alterações encontradas neste estudo, foram: olheiras (92,3%), palato ogival (83,9%), selamento labial inadequado (72,9%), lábios ressecados (67,1%), face alongada (61,3%), lábio superior estreito (57,4%) e olhos caídos (56,8%), corroborando com grande parte dos achados literários. Destas variáveis citadas, lábios hipotônicos e olhos caídos, representaram valores mais elevados no gênero feminino (42,6%) e masculino (62,1%), respectivamente (Tabela 2).

Quanto à análise da associação entre a ocorrência de rinite alérgica com os resultados do tipo de respirador e cada uma das alterações faciais, destaca-se, neste estudo, que as maiores diferenças percentuais entre os que tinham ou não rinite alérgica ocorreram para os que tinham lábios ressecados (67,2%), lábio superior estreito (58,4%), mordida aberta anterior (36,8%) e palato ogival (84,8%) (Tabela 3). Não foram encontrados na literatura pesquisada, estudos que tenha observado este mesmo resultado, porém Júnior, Ezequiel e Gazêta (2006) 25 encontraram valores em torno de 62,50% para o aprofundamento do palato.

Quanto às alterações faciais que acometem os indivíduos portadores de respiração oral, em estudo realizado na cidade do Recife, por Menezes et al., (2006) 6, os maiores percentuais verificados foram para mordida aberta anterior (60%), selamento labial inadequado (58,8%) e palato ogival (38,8%). Esses dados são semelhantes aos da presente pesquisa na qual os maiores percentuais ocorreram para face alongada (66,3%), olheiras (65,7%), mordida aberta anterior (67,3%), lábios ressecados (65,4%) e palato ogival (65,4%) (Tabela 4). Ao compararem-se os dois estudos, evidentemente, observam-se algumas diferenças nos valores percentuais, entretanto, não foram encontradas na literatura pesquisas similares.

O impacto da asma, rinite alérgica e respiração oral afetam diretamente a qualidade de vida do indivíduo não só pela alteração respiratória, mas, também pelos prejuízos comportamentais, funcionais e físicos que ocasionam, destacando-se, principalmente as alterações orofaciais desses pacientes a fim de proporcioná-los maior integração social e melhor qualidade de vida. Diante deste quadro, percebe-se a necessidade de um correto diagnóstico, tratamento e atendimento multidisciplinar (equipes compostas por médicos, cirurgiões-dentistas e fonoaudiólogos) para essa população 26-28.

CONCLUSÃO

A frequência de rinite alérgica na população estudada foi alta, obtendo-se também valores consideráveis para a ocorrência de respiração oral e de alterações faciais.

Recebido em: 20/12/2011

Aceito em: 09/04/2012

Fonte de Auxílio: Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE)

Conflito de interesses: inexistente

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  • Endereço para correspondência:
    Valdenice Aparecida de Menezes
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    Boa Viagem – Recife/PE
    CEP: 51021-350
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      26 Mar 2013
    • Data do Fascículo
      Jun 2013

    Histórico

    • Recebido
      20 Dez 2011
    • Aceito
      09 Abr 2012
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