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Concepções de professoras de ensino fundamental sobre os transtornos de aprendizagem

Resumos

Objetivo

investigar as concepções de professoras de ensino fundamental sobre as Dificuldades Escolares, o Distúrbio de Aprendizagem e a Dislexia.

Métodos

este é um estudo transversal, realizado com 31 professoras do ensino fundamental de uma cidade do interior do estado de São Paulo. Realizou-se um levantamento por meio de questionário com questões dissertativas. O questionário apresenta questões referentes ao conhecimento do professor em relação à definição, causa e manifestações dos Transtornos de Aprendizagem. Os dados foram analisados quantitativamente por meio da análise comparativa, utilizando-se o teste estatístico Qui-Quadrado, comparando-se o conhecimento de professores de escola pública e particular, e entre os professores com e sem conhecimento prévio sobre o assunto. Adotou-se o nível de significância de 5%.

Resultados

de maneira geral, as professoras demonstraram dificuldades para definir os transtornos, atribuir suas causas e pontuar as manifestações dos mesmos. Separando-se as professoras pelo tipo de escolas (pública e particular) e pelo conhecimento prévio sobre o assunto, não foi observada diferença estatisticamente significante na maioria das respostas.

Conclusão

as professoras possuem carência em seu repertório conceitual no que se refere às Dificuldades Escolares, os Transtornos de Aprendizagem e a Dislexia, e, portanto, precisam de orientação em relação ao trabalho efetivo com estes alunos.

Aprendizagem; Linguagem; Fonoaudiologia; Questionários


Purpose

to investigate the knowledge and concepts of elementary school teachers about learning difficulties, learning disabilities, and dyslexia.

Methods

this is a cross-sectional study with 31 elementary school teachers in a city in the interior of the state of São Paulo. A survey was conducted through a questionnaire with dissertative questions. The questionnaire has questions regarding the teacher’s knowledge about the definition, causes, and manifestations of learning disorders. Data were analyzed quantitatively by comparative analysis, using the Chi-Square Statistical Test to compare the knowledge of teachers in both public and private schools, and of teachers with and without prior knowledge on the topic. The significance level of 5% was adopted.

Results

in general, the teachers demonstrated difficulties for defining disorders, identifying their causes, and pointing out their manifestations. Separating the teachers by type of school (public or private) and prior knowledge of the subject, there was no statistically significant difference in most of the answers.

Conclusion

teachers lack knowledge about learning disorders and therefore need orientation to effectively work with these students.

Learning; Language; Speech; Language and Hearing Sciences; Questionnaries


INTRODUÇÃO

Devido aos avanços conquistados pela ciência fonoaudiológica no contexto educacional, entre outras considerações, o CFFa editou no dia 18 de setembro de 2010 a Resolução nº 387, que estabelece a Fonoaudiologia Escolar como nova especialidade. Entre as competências do profissional especialista em Fonoaudiologia Educacional está a atuação em parceria com os educadores visando contribuir para a promoção do desenvolvimento e da aprendizagem do escolar1. Conselho Federal de Fonoaudiologia. Resolução Nº 387 DE 18.09.2010. Dispõe sobre as atribuições e competências do profissional especialista em Fonoaudiologia Educacional reconhecido pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia, alterar a redação do artigo 1º da Resolução CFFa nº 382/2010, e dá outras providências. Brasília, 18 de set. 2010.. Desta forma, a parceria entre professores e fonoaudiólogos, buscando a integração de conhecimentos e experiências no ambiente escolar2. Freischmidt CC, Kay MRQ. A voz do dono e o dono da voz? Considerações sobre a saúde vocal do professor. Cad Centro Univ S Camilo. 2005;11(3):91-6., pode beneficiar toda esta comunidade, já que a atuação da fonoaudiologia neste âmbito visa à criação de condições favoráveis e eficazes para que as capacidades de todos os alunos possam ser desenvolvidas ao máximo3. Luzardo R, Nemr K. Instrumentalização fonoaudiológica para professores da educação infantil. Rev CEFAC. 2006;8(3):289-300. .

Apesar da importância da atuação conjunta entre esses profissionais, o trabalho do fonoaudiólogo não faz parte do cotidiano escolar de muitos professores4. Maranhão PCS, Pinto SMPC, Pedruzzi CM. Fonoaudiologia e educação infantil: uma parceria necessária. Rev. CEFAC. 2009;11(1):59-66. , o que pode explicar o desconhecimento dos educadores sobre as possibilidades de atuação fonoaudiológica5. Cristofolini C, Magni C. Audição: relatos e experiências de professores do ensino fundamental. Rev Fonoaudiol Bras. 2002;2(2):31-8.. Este fato pode ainda ser decorrente de outros fatores, como as deficiências dos cursos de formação do professor, que não têm abordado o trabalho do professor em sala de aula com crianças que apresentam problemas de comunicação oral e escrita, a falta de atenção da comunidade escolar5. Cristofolini C, Magni C. Audição: relatos e experiências de professores do ensino fundamental. Rev Fonoaudiol Bras. 2002;2(2):31-8. e a pouca atuação preventiva do fonoaudiólogo. Desse modo, a Fonoaudiologia tem a importante função de divulgar suas áreas e campos de trabalho no âmbito escolar. E para que o trabalho do fonoaudiólogo na escola tenha um enfoque preventivo, é necessária a valorização do professor em sala de aula6. Brasil CCP, Chiari BM. Integrando fonoaudiologia e escola: uma proposta para prevenção do distúrbio de leitura e escrita. Fono Atual. 2006;36(9):35-43. para que o mesmo atue de forma a observar os alunos que apresentam desenvolvimento de comunicação oral e escrita aquém dos demais e, a partir de atividades elaboradas e pensadas junto com o fonoaudiólogo, possam promover as potencialidades máximas do aluno7. Zorzi JL. Fonoaudiologia e educação: encontros, desencontros e a busca de uma atuação conjunta. In: Zorzi JL, editor. Aprendizagem e distúrbios da linguagem escrita: questões clínicas e educacionais. Porto Alegre: Artmed; 2003. p. 157-71..

Muitos alunos são reprovados no sistema escolar, e outros evadem, por apresentarem transtornos de aprendizagem8. Tuleski SC, Eidt NM. Repensando os distúrbios de aprendizagem a partir da psicologia histórico-cultural. Psicol. estud. 2007;12(3):531-40.. Entretanto, o professor possui pouco conhecimento em relação às questões essenciais do processo de desenvolvimento da linguagem escrita, tais como quando se inicia esse processo, fatores que o favorece, origem das dificuldades e condutas diante destas9. Oliveira JP, Natal RMP. A linguagem escrita na perspectiva de educadores: subsídios para propostas de assessoria fonoaudiológica escolar. Rev. CEFAC. 2012;14(6):36-46..

Há na literatura uma imprecisão sobre a definição dos transtornos de aprendizagem1010 . Gimenez EHR. Dificuldades de aprendizagem ou distúrbio de aprendizagem? Revista de Educação. 2005;8(8):78-83. , que pode ser evidenciada pelos diversos nomes que recebem: problemas de aprendizagem, problemas escolares, etc. Dessa forma, o termo Transtornos de Aprendizagem será adotado neste trabalho, como um termo genérico, englobando, o Distúrbio de Aprendizagem e a Dislexia. As Dificuldades Escolares também serão abordadas e, para maior esclarecimento, serão apresentadas breves definições. No caso de Dificuldades Escolares, o rendimento e desempenho escolar podem ser influenciados tanto por problemas afetivos, como por problemas relacionados à escola. O aluno pode estar apresentando dificuldades escolares como consequência de não estar se adaptando à metodologia usada, ou por dificuldades na relação com o professor e com os colegas1111 . Osti A. As dificuldades de aprendizagem na concepção do professor [dissertação]. Campinas (SP): Universidade Estadual de Campinas; 2004.. Sendo assim, a causa da dificuldade está relacionada a fatores pedagógicos, não sendo classificada como transtorno.

O Distúrbio de Aprendizagem, por outro lado, traduz-se num conjunto de sinais sintomatológicos que provocam uma série de perturbações no aprender da criança, interferindo no processo de aquisição e manutenção de informações de uma forma acentuada. O Distúrbio de Aprendizagem é uma disfunção do sistema nervoso central. Portanto, um problema neurológico relacionado a uma falha na aquisição, no processamento, ou ainda, no armazenamento da informação, envolvendo áreas e circuitos neuronais específicos em determinado momento do desenvolvimento1212 . Ciasca SM. Distúrbios e dificuldades de aprendizagem: questão de nomenclatura. In: Ciasca SM, editora. Distúrbios de aprendizagem: proposta de avaliação interdisciplinar. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2003. p. 19-32..

Já a Dislexia é uma neurodisfunção que se caracteriza por um rendimento inferior ao esperado para a idade mental, nível socioeconômico e instrução escolar, e afeta os processos de decodificação e compreensão da leitura1313 . DSM-IV-TR. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. (4ª ed.). Porto Alegre: Artes Médicas; 2002.,1414 . Lozano A, Ramírez M, Ostrosky-Solís F. Neurobiología de la dislexia del desarrollo: una revisión. Rev Neurol. 2003;36(11):1077-82..

O estudo de Capellini e Rodrigues1515 . Capellini VLMF, Rodrigues OMPR. Concepções de professores acerca dos fatores que dificultam o processo da educação inclusiva. Educação. 2009;32(3):355-64. retratou que os professores possuem sua formação inicial e/ou continuada deficitária em relação aos Transtornos de Aprendizagem e, para Stefanini e Cruz1616 . Stefanini MCB, Cruz SAB. Dificuldades de Aprendizagem e suas causas: o olhar do professor de 1ª a 4ª séries do Ensino Fundamental. Educação. 2006; 58(1):85-105., os professores podem reconhecer que a causa de tais problemas podem estar na família, na criança e na própria escola. Sendo assim, é importante que o professor conheça de uma maneira mais detalhada as causas destes problemas, e mais ainda, reflita especialmente sobre as educacionais, aquelas que dependem especialmente dele. Além disso, ter conhecimento sobre os transtornos de aprendizagem pode ajudar o professor, pois este também é o intermediário da procura dos pais pelos serviços de saúde1717 . Ciasca SM, Rossini SDR. Distúrbios de aprendizagem: mudanças ou não? Correção de dados de uma década de atendimento. Temas sobre desenvolvimento. 2000;8(48):11-6..

No estudo de Lara et al.1818 . Lara ALF, Tanamachi ER, Junior JL. Concepções de desenvolvimento e de aprendizagem no trabalho do professor. Psicol em Estudo. 2006;11(3):473-82. nota-se muitas dúvidas e anseios por parte dos professores em relação a sua atuação perante os transtornos de aprendizagem.

Estudos anteriores1919 . Fernandes GB, Crenitte PAP. O conhecimento de professores de 1ª a 4ª série quanto aos distúrbios da leitura e escrita. Rev CEFAC. 2008;10(2):182-90.

20 . Guimarães KP, Saravali EG. Concepções de alunos do curso de psicopedagogia a respeito das dificuldades de aprendizagem. ETD - Educação Temática Digital. 2006;8(1):192-210.
-2121 . Nutti JZ. Concepções sobre as possibilidades de integração entre Saúde e Educação: um estudo de caso [dissertação]. São Carlos (SP): Universidade Federal de São Carlos; 1996. que abordaram o conhecimento do professor em relação às Dificuldades Escolares e os Transtornos de Aprendizagem mostraram que em relação às causas que justificam o distúrbio da leitura e escrita, a maioria aponta as causas intrínsecas (fisiológico, biológico) como justificativas para o distúrbio da leitura e escrita, enquanto que a minoria aponta causas extrínsecas, como o ambiente escolar, método de ensino e ambiente familiar.

Portanto, torna-se necessário orientar os professores sobre o tema, pois isto conduzirá sua ação na sala de aula. Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi investigar as concepções de professoras de ensino fundamental sobre as Dificuldades Escolares e os Transtornos de Aprendizagem.

MÉTODOS

O presente estudo obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Odontologia de Bauru – USP, sob o processo de número 003/2009.

Trata-se de um estudo transversal, no qual foram selecionadas duas escolas estaduais e uma escola particular de uma cidade de Bauru-SP. As escolas foram selecionadas por já terem realizado parcerias de pesquisas com a universidade. Em cada uma das escolas houve autorização do diretor, por meio da explicação detalhada dos objetivos da pesquisa e de seus procedimentos. A partir disso, as pesquisadoras se reuniram com as professoras das escolas, esclarecendo pontos importantes sobre a pesquisa e recrutando participantes.

Todas as professoras das escolas foram convidadas a participar do estudo, e as que espontaneamente demostraram interesse, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, firmando a participação na pesquisa.

Utilizou-se um questionário dissertativo para a verificação do conhecimento do professor sobre o tema, elaborado por Gonçalves2222 . Gonçalves TS. Desenvolvimento de material educacional interativo para orientação de professores do ensino fundamental quanto aos Distúrbios da Linguagem Escrita [dissertação]. Bauru (SP): Universidade de São Paulo; 2011., o qual aborda os pontos mais relevantes em relação às suas concepções e dúvidas sobre o assunto (Figura 1). Neste artigo, serão abordados apenas os resultados referentes ao conhecimento do professor em relação à distinção entre Dificuldades Escolares, Distúrbio de Aprendizagem e Dislexia, e também de suas definições, causas e manifestações. Pensou-se em utilizar questões abertas para que os professores respondessem aos questionamentos com suas próprias palavras, com a vantagem de se coletar uma quantidade maior de dados e estes não sofrerem influência de respostas predeterminadas, o que acontece nas questões objetivas2323 . O’Cathain A, Thomas KJ. “Any other comments?” Open questions on questionnaires - a bane or a bonus to research? BMC Med Res Methodol. 2004;4(25):1-7..

Figura 1
- Questionário referente à avaliação das concepções do Professor sobre as Dificuldades Escolares e Transtornos de Aprendizagem

Participaram do estudo 11 professoras de escola particular e 20 professoras de escola pública. Quanto à formação, as 31 professoras são licenciadas em pedagogia. Entre as professoras da escola pública, uma delas possui também a formação em psicologia.

Nas Tabelas 1 e 2, segue a caracterização da amostra em relação à idade, tempo que leciona, pós-graduação (nesta amostra observou-se somente pós-graduação em nível lato sensu) e conhecimento recebido sobre o tema abordado.

Tabela 1
Caracterização da amostra em relação à idade e ao tempo que leciona

Tabela 2
Caracterização da amostra em relação à pós-graduação (nível lato sensu)

Em relação às informações recebidas sobre o assunto antes do desenvolvimento desta pesquisa (em cursos, palestras, seminário e disciplinas de pós-graduação), obteve-se a seguinte caracterização, disposta na Tabela 3:

Tabela 3
Caracterização da amostra em relação ao conhecimento prévio sobre o assunto

Pelas características da amostra, foi possível separar os professores em dois grupos: Escola Pública X Escola Particular, e Com X Sem conhecimento prévio sobre o assunto.

Após a coleta de dados, as respostas foram organizadas por categorias temáticas. Posteriormente à categorização das respostas, analisou-se a presença de conceitos incorretos, e aquelas respostas que apresentaram um ou mais conceitos incorretos, foram classificadas como erradas. O estabelecimento das categorias e sua análise basearam-se nas definições do DSM-IV1313 . DSM-IV-TR. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. (4ª ed.). Porto Alegre: Artes Médicas; 2002. e nos estudos de Zorzi (2003)7. Zorzi JL. Fonoaudiologia e educação: encontros, desencontros e a busca de uma atuação conjunta. In: Zorzi JL, editor. Aprendizagem e distúrbios da linguagem escrita: questões clínicas e educacionais. Porto Alegre: Artmed; 2003. p. 157-71. e Ciasca (2003)1212 . Ciasca SM. Distúrbios e dificuldades de aprendizagem: questão de nomenclatura. In: Ciasca SM, editora. Distúrbios de aprendizagem: proposta de avaliação interdisciplinar. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2003. p. 19-32..

A seguir estão descritas as categorias temáticas para as definições, causas e manifestações das Dificuldades Escolares, Distúrbios de Aprendizagem e Dislexia, e quais categorias foram consideradas incorretas.

Dificuldades Escolares: Definição e Causas

As respostas dos professores em relação à definição deste transtorno foram separadas nas seguintes categorias:

  1. Não definiu

  2. Lacuna entre a habilidade de aprendizagem e o sucesso escolar

  3. Dificuldade para acompanhar e fixar os conteúdos propostos

  4. As categorias B e C foram consideradas corretas, e, no entanto, a amostra foi dividida em “Definiu” e “Não Definiu” o problema.

Em relação às causas, as respostas quanto a esse questionamento foram separadas nas seguintes categorias:

  1. Não definiu as causas/não respondeu

  2. Origem pedagógica

  3. Problemas no ambiente familiar

  4. Problemas emocionais e psicológicos

  5. Estimulação desfavorável

  6. Falta de interesse, atenção

  7. Provenientes de algum distúrbio

  8. Problema genético

  9. Imaturidade neurológica

  10. Orgânicas

Considerou-se como errada as respostas que continham as categorias G, H, I, J.

Distúrbio de Aprendizagem: Definição, Causas e Manifestações

Em relação à definição de Distúrbio de Aprendizagem, observaram-se as seguintes categorias de respostas:

  1. Não definiu/não sei

  2. Alteração do processo de aprendizagem

  3. Limitações da criança pra aprender

  4. Dificuldades de audição

  5. Dificuldades de raciocínio

  6. Dificuldades de leitura/escrita

  7. Problema neurológico/cognitivo

  8. Alteração de linguagem

As respostas que continham a categoria D foram consideradas incorretas.

Quanto às causas dos Distúrbios de Aprendizagem, dividiram-se as respostas nas seguintes categorias:

  1. Não definiu as causas/não sei

  2. Problemas físicos, sensoriais

  3. Problemas emocionais/psicológicos

  4. Problemas cognitivos/neurológicos

  5. Falta de estimulação adequada

  6. Métodos de ensino inadequados

  7. Diferenças culturais/sociais

  8. Deficiência Mental

Desta forma, foram consideradas incorretas as respostas que continham as categorias B, C, E, F, G, H.

A respeito das manifestações dos Distúrbios de Aprendizagem, as seguintes categorias foram encontradas como respostas a esta questão:

  1. Dificuldades para ler e escrever

  2. Não retém/compreende os conteúdos

  3. Problemas no raciocínio lógico-matemático

  4. Problemas comportamentais

  5. Problemas cognitivos (atenção, memória, percepção)

  6. Problemas sensoriais (audição, visão)

  7. Problemas na fala

  8. Problemas emocionais

Foram consideradas como incorretas as questões nas quais a categoria F esteve presente.

Dislexia: Definição, Causas e Manifestações

As categorias encontradas nas respostas das professoras para a definição da dislexia foram:

  1. Não sei

  2. Dificuldade na aquisição e desenvolvimento de fala e linguagem

  3. Falha no processamento da leitura e escrita

  4. Falta de habilidade na linguagem que se reflete na leitura

  5. Dificuldade na leitura e na escrita

  6. Distúrbio

  7. Troca e inversão de letras na escrita

  8. Dificuldade na compreensão da leitura

  9. Dificuldade no cálculo matemático

Classificou-se como errada a resposta em que a categoria I estava presente.

Quanto às causas, as respostas desta questão foram divididas nas seguintes categorias:

  1. Não identificou as causas

  2. Genética

  3. Problemas nas conexões cerebrais/causa neurológica

  4. Falta de interesse/motivação

As respostas classificadas como incorretas foram as que incluíram a categoria D.

Quanto às manifestações da dislexia, encontraram-se as seguintes categorias:

  1. Não respondeu/ Não sei

  2. Dificuldade na leitura

  3. Dificuldade na escrita

  4. Dificuldade na compreensão da leitura

  5. Responde bem às questões oralmente

  6. Dificuldade de memória

  7. Desorganização

  8. Problemas de concentração e atenção

  9. Dificuldades no raciocínio matemático

As respostas consideradas como erradas foram aquelas que continham as categorias A e I.

Após esta etapa, realizou-se a análise estatística quantitativa comparativa, e os dados foram tratados pelo programa estatístico SPSS (Statistical Package for Social Science, versão 17.0), utilizando-se o Teste Qui-Quadrado, adotando-se o nível de significância de 5%.

RESULTADOS

Distinção entre os Transtornos

As professoras foram questionadas se para elas há diferenças entre Dificuldades Escolares, Distúrbio de Aprendizagem e Dislexia. Observa-se na Tabela 4 que 100% das professoras da escola particular acreditam que há diferença entre os transtornos, enquanto que 70% das professoras da escola pública relataram haver diferença, sendo esta uma diferença estatisticamente significante. Ao comparar as professoras com e sem conhecimento prévio sobre o assunto, esta diferença não foi estatisticamente significante.

Tabela 4
Respostas das professoras quanto à distinção dos transtornos

Dificuldades Escolares: Definição e Causas

Nota-se na Tabela 5 que 65% das professoras da escola pública relataram corretamente a definição de Dificuldades Escolares, enquanto que 36% das professoras da escola particular fizeram o mesmo. Ainda 59% das professoras com conhecimento prévio definiram corretamente o problema contra 50% das professoras sem conhecimento prévio. Estes dados não diferiram estatisticamente.

Tabela 5
Respostas das professoras quanto à definição e causas das dificuldades escolares

A Tabela 5 mostra também que 45% das professoras da escola particular acertaram as causas das Dificuldades Escolares, enquanto que 25% das professoras de escola pública o fizeram. Em relação aos professores com conhecimento prévio, 35% acertaram as causas, e 29% dos professores sem conhecimento prévio também acertaram. Estas diferenças também não foram estatisticamente significantes.

Distúrbio de Aprendizagem: Definição, Causas e Manifestações

Em relação à definição de Distúrbio de Aprendizagem, observa-se na Tabela 6 que 82% das professoras da escola particular acertaram a questão, contra 30% das professoras da escola pública. Quanto às professoras que relataram ter conhecimento prévio sobre o assunto, 41% delas acertaram a definição do distúrbio, e 58% das professoras que não tiveram conhecimento prévio também acertam. Tais diferenças não foram estatisticamente significantes.

Tabela 6
Respostas das professoras quanto à definição, causas e manifestações dos distúrbios de aprendizagem

No que se refere às causas do transtorno, houve um baixo nível de acerto em todos os grupos. Sendo assim, a Tabela 6 mostra que acertaram a questão apenas 15% das professoras da escola pública, 0% da escola particular, 6% com conhecimento prévio e 14% sem conhecimento prévio, o que não diferiu estatisticamente.

Ainda na Tabela 6 pode-se observar que quanto às manifestações do Distúrbio de Aprendizagem, 45% das professoras da escola pública acertaram a questão e 36% das professoras da escola particular fizeram o mesmo. Já em relação às professoras com e sem conhecimento prévio, 59% e 21%, respectivamente, acertam a questão. Também não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes nesta questão.

Dislexia: Definição, Causas e Manifestações

Quanto à definição da dislexia, nota-se na Tabela 7 que 100% das professoras da escola particular e 75% das professoras da escola pública definiram corretamente o distúrbio. Em relação às professoras com e sem conhecimento prévio sobre o assunto, 88% e 79% das professoras, respectivamente, acertaram a questão. Tais diferenças não foram estatisticamente significantes.

Tabela 7
Respostas das professoras quanto à definição, causas e manifestações da dislexia

Na definição das causas do distúrbio, A Tabela 7 mostra também que 64% das professoras da escola particular e 30% das professoras da escola pública acertaram a questão. Ainda, 50% das professoras sem conhecimento prévio e 35% das professoras com conhecimento prévio também acertaram. Nenhuma dessas diferenças foi estatisticamente significante.

Já em relação às manifestações da dislexia, notaram-se diferenças estatisticamente significantes entre os grupos, tanto entre as professoras de escola pública e particular, quanto entre as professoras com e sem conhecimento prévio sobre o assunto. Dessa forma, observa-se na Tabela 7 que 80% das professoras de escola pública acertaram, contra 36% da escola particular, e, ainda, 94% das professoras com conhecimento prévio acertaram a questão, contra 29% das professoras sem conhecimento prévio.

DISCUSSÃO

Os resultados obtidos nesta pesquisa, em relação ao conhecimento do professor sobre as dificuldades escolares e os transtornos de aprendizagem, permitem que diversas análises sejam feitas, como por exemplo, em relação à qualidade das informações que estão sendo fornecidas para esses profissionais. Considerando que a maioria das professoras (55%) relatou ter tido informações a respeito deste assunto, ao comparar este grupo de professores com aqueles que não tinham recebido nenhum tipo de informação, praticamente não houve diferenças estatisticamente significantes. Ainda, as professoras das escolas particular e pública, embora possuam dificuldades conceituais, demonstraram desempenho semelhante na maioria das questões. Desta forma, independentemente do tipo de escola, ou se o professor teve conhecimento prévio ou não sobre o assunto, foram observadas dificuldades conceituais em todos os casos.

Neste estudo, a maioria das professoras assume que há diferença entre as dificuldades escolares e os transtornos de aprendizagem (82%). Ao fazer a comparação entre o tipo de escola, esta clareza esteve mais presente entre as professoras da escola particular (100%), do que entre as da escola pública (70%), sendo esta uma diferença estatisticamente significante. Em relação às professoras com e sem conhecimento prévio sobre o assunto, não houve diferença, e, portanto, as respostas quanto à afirmação de que há diferenças entre os transtornos, foram semelhantes neste grupo, ou seja, a maioria afirmou que os transtornos se diferem.

Analisando os dados obtidos, a definição dos transtornos e as causas dos mesmos foram relatadas de maneira incorreta pela maioria das professoras, não havendo diferença estatisticamente significante entre os grupos. Dessa forma, 55% das professoras erraram no que diz respeito à definição das dificuldades escolares, 51% do Distúrbio de Aprendizagem e, por outro lado, a maioria (84%) acertou a definição de Dislexia. Quanto às causas, 52% erraram as causas das Dificuldades Escolares, 88% do Distúrbio de Aprendizagem, e 58% da Dislexia.

Em um estudo semelhante2424 . Pereira LV, Simões MG, Siqueira CM, Alves LM. Estudo investigativo sobre o conhecimento da dislexia em educadores da rede pública e privada dos municípios de Belo Horizonte e de Nova Lima. Revista Tecer. 2011;4(6):26-40., aplicou-se um questionário em professores de 14 instituições públicas e privadas, e constatou-se que 64% cursaram disciplina relacionada com o tema durante a graduação, 50% souberam conceituar a dislexia e 98% identificaram corretamente suas causas. Os resultados apontaram que a maior parte apresenta conhecimento sobre a dislexia, o que lhes permite a identificação correta do conceito, suas principais características, suas causas e capacidade de reconhecimento dos profissionais envolvidos em todo processo, sendo estes resultados bastante diferentes quando comparados aos desta pesquisa.

Ainda, no estudo citado, não houve correlação entre o fato de os professores terem cursado algum tipo de disciplina na sua formação profissional (relacionada às dificuldades de aprendizagem com o conhecimento dos aspectos principais da dislexia) com as outras variáveis do estudo, como a identificação, definição e manifestações da dislexia. Esses resultados vêm ao encontro dos dados encontrados nesta pesquisa, em que não houve diferenças estatisticamente significantes nas respostas das professoras com e sem conhecimento prévio sobre o assunto, exceto em relação às manifestações da dislexia, o que será discutido adiante.

Outro estudo mostrou que, na concepção dos professores, os aspectos familiares centram as causas das dificuldades de aprendizagem e, consequentemente, os professores atribuíram à família a maior parcela de responsabilidade na resolução de tais situações2525 . Oliveira JP, Santos SA, Aspilicueta P. Cruz GC. Concepções de professores sobre a temática das chamadas dificuldades de aprendizagem. Rev bras educ espec. 2012;18(1):93-112..

Quanto às manifestações da Dislexia e do Distúrbio de Aprendizagem, a maioria das professoras acertou este aspecto, sendo 64% e 58%, respectivamente. Nesta questão, em relação à Dislexia, houve diferenças estatisticamente significantes ao separar os professores pelo tipo de escola (80% de acerto na escola pública e 36% na particular) e quanto ao tipo de conhecimento prévio (94% e 29% das professoras com e sem o conhecimento acertaram, respectivamente).

Em relação a esse achado, pode-se refletir que o fato de o professor estar diariamente em sala de aula trabalhando o ensino da leitura e da escrita, faz com que este detecte algumas manifestações não esperadas, quando comparadas com os demais alunos. Nesta pesquisa, nota-se que, embora as professoras observem as manifestações, muitas vezes não sabem definir e identificar as causas dos transtornos. Ianhez e Nico2626 . Ianhes ME, Nico MA. Nem sempre é o que parece: Como enfrentar a dislexia e os fracassos escolares. 10ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2002 relataram que há muito tempo havia uma falta de conscientização por parte dos educadores e profissionais sobre os distúrbios de aprendizagem, ou seja, os professores já conheciam os “atrasos” na escola. Hoje, este é um tema que está sendo bem divulgado pelos meios de comunicação, e os educadores estão buscando se informar sobre os distúrbios de aprendizagem, para que não corra mais a exclusão desses alunos. Este distúrbio é mais fácil de descrever do que denominar, como se pode notar no comentário feito por Ianhez e Nico2222 . Gonçalves TS. Desenvolvimento de material educacional interativo para orientação de professores do ensino fundamental quanto aos Distúrbios da Linguagem Escrita [dissertação]. Bauru (SP): Universidade de São Paulo; 2011., e, contudo, o importante é identificar a verdadeira causa do problema para que se possa ajudar e ensinar adequadamente os que necessitam.

No estudo realizado por Fernandes e Crenitte1919 . Fernandes GB, Crenitte PAP. O conhecimento de professores de 1ª a 4ª série quanto aos distúrbios da leitura e escrita. Rev CEFAC. 2008;10(2):182-90., em relação às causas que justificam o distúrbio da leitura e escrita, 82% dos professores apontaram causas intrínsecas (fisiológico, biológico) como justificativas para o distúrbio da leitura e escrita; e apenas 38% apontaram causas extrínsecas – ambiente escolar, método de ensino, ambiente familiar. Quando questionados “Como nomeia esse problema?”, notou-se que o nome “Dislexia”, foi bastante comum entre os professores, pois 46% atribuíram ser este o “nome” dado a crianças com distúrbio da leitura e escrita. As autoras concluíram que os professores logram um saber pouco fundamentado a respeito do distúrbio da leitura e escrita, sendo que, as dificuldades giraram em torno da identificação real do problema, de quais manifestações caracterizam esse problema e de como intervir e prevenir.

No estudo realizado por Rodrigues2727 . Rodrigues MZ. Dislexia: Distúrbio de aprendizagem da leitura e escrita no Ensino Fundamental [monografia de conclusão de curso]. Montes Claros (MG): Instituto Superior de Educação de Montes Claros; 2008., a pergunta feita para professores de escola pública e particular, sobre o que é Dislexia, foi respondida por alguns professores como sendo uma doença grave, para outros, é um distúrbio de aprendizagem. Para os professores que responderam que é uma doença grave, estes ainda não têm nenhuma noção do problema que eles lidam todos os dias, e precisam se inteirar do assunto para ajudar seus alunos para que estes não sofram tanto em sala de aula. Todos os professores consideraram a Dislexia como um distúrbio congênito, não sendo adquirida. Ainda, na pergunta feita aos professores, se na escola já perceberam alunos com dificuldade na aquisição da leitura e escrita, todos os professores entrevistados responderam que sim, que já perceberam, embora alguns não saibam qual o procedimento adequado para a solução do problema, e isso ocorreu em ambas as escolas (pública e particular). Para os professores esta é uma tarefa muito difícil.

Uma pesquisa2020 . Guimarães KP, Saravali EG. Concepções de alunos do curso de psicopedagogia a respeito das dificuldades de aprendizagem. ETD - Educação Temática Digital. 2006;8(1):192-210. abordou o conhecimento de 52 professores, estudantes de um curso de especialização em Psicopedagogia. Observou-se que, quando questionados sobre “O que é dificuldade de aprendizagem?” (termo utilizado como sinônimo de transtorno de aprendizagem), foram encontradas cinco categorias de respostas. A identificação das dificuldades como sendo problemas específicos e inerentes aos alunos foi a resposta dada por 56% dos sujeitos, sendo que em várias respostas observou-se o uso de terminologias recorrentes atualmente, tais como hiperatividade, déficit, dislexia etc. Somente seis sujeitos chegam a relacionar aspectos pedagógicos com os transtornos, questionando a atuação docente e 6% dos entrevistados consideram problemas no desenvolvimento cognitivo como geradores de dificuldades. As autoras relatam que esta é uma explicação simples que pode e vem sendo dada rapidamente, tornando o aluno o maior responsável pela não aprendizagem. As autoras refletem ainda que seriam justamente esses profissionais, que estão se especializando em psicopedagogia, que deveriam ter um olhar crítico que evitasse toda e qualquer rotulação prévia, e salientam que estes professores, deveriam ao menos equilibrar em suas respostas a existência de fatores externos e internos e, inclusive, questionar ou refletir sobre o papel da escola nesse processo.

Ainda, a pesquisa dessas autoras considerou que, dos 52 sujeitos, 47 conhecem e identificam crianças com dificuldades de aprendizagem, sendo avaliado pelas autoras como um número alto. Por outro lado, o grande questionamento das autoras é justamente se o fato desses futuros psicopedagogos, diante desta pergunta, não deveria relutar em classificar tão facilmente os problemas no aprendizado. E, de acordo com o relato destes professores, os problemas de aprendizado sempre, ou em sua grande maioria, são inerentes do próprio discente. As autoras procuraram causar uma reflexão a respeito da facilidade com que as desordens inerentes aos próprios alunos são apontadas. O rótulo traz consequências para a criança e, estas consequências podem não permanecer somente relacionadas ao aprender/não aprender na escola. Diante disso, as autoras relatam que se torna interessante observar o que caracterizaria um aluno com Transtornos de Aprendizagem sob a ótica de quem o rotula e o encaminha.

O estudo de Torres e Ciasca2828 . Torres DI, Ciasca SM. Correlação entre a queixa do professor e a avaliação psicológica em crianças de primeira série com dificuldades de aprendizagem. Rev Assoc Bras Psic. 2007;24(73):18-29. mostrou que, de maneira geral, os professores não são sensíveis na discriminação de alunos que estejam se desenvolvendo conforme o esperado daqueles que apresentam dificuldades de leitura e escrita. Porém, algumas discordâncias encontradas sugerem que outros fatores, além dos específicos relacionados à aprendizagem da leitura e da escrita, podem influenciar na classificação feita pelos professores ou que estes não estão bem preparados para detectar as diferenças mais sutis nessas habilidades.

A possibilidade de reflexão conjunta entre profissionais de saúde e professores (os maiores responsáveis pelos encaminhamentos) poderia suscitar uma nova compreensão da problemática da “patologização” da aprendizagem e agilizar a busca de novas soluções institucionais2121 . Nutti JZ. Concepções sobre as possibilidades de integração entre Saúde e Educação: um estudo de caso [dissertação]. São Carlos (SP): Universidade Federal de São Carlos; 1996.. Além disso, é necessário que os professores reflitam sobre a sua prática diante da problemática do fracasso escolar e sobre as implicações ideológicas desta prática, ou seja, reflitam sobre a possibilidade de estarem reforçando a estigmatização, a discriminação e a segregação de uma parcela da população que, normalmente, não se insere no modelo de indivíduo valorizado pela sociedade.

Dessa forma, salienta-se que neste estudo, 52% das professoras erraram as causas das Dificuldades Escolares, implicando no fato de que tais professoras não reconhecem a influência do professor e da própria escola na causa das dificuldades, e, muitas vezes, tais alunos passam a ter sua dificuldade rotulada ou “patologizada”, sendo atribuída ao próprio aluno a causa de tais dificuldades, como descrito nos estudos citados anteriormente.

Seguindo este raciocínio, Carvalho, Crenitte e Ciasca2929 . Carvalho FB, Crenitte PAP, Ciasca SM. Distúrbios de aprendizagem na visão do professor. Rev Psicopedagogia. 2007;24(75):229-39. analisaram as respostas descritivas de professores do ensino fundamental e foi constatado que 22% deles diferenciavam distúrbio de aprendizagem de dificuldade escolar, e 78% não o faziam. Ao abordar o conhecimento do professor em relação ao Distúrbios de Aprendizagem, pôde-se afirmar que 47% dos pesquisados responderam corretamente. Estes responderam que alunos com tal distúrbio são aqueles que apresentam incapacidade de aprender por algum motivo neurológico (déficit de atenção, memória, percepção, problemas de linguagem oral, escrita, leitura, raciocínio matemático e comportamento social inapropriado), assim sendo, quase metade dos professores conheceu o assunto. Entretanto, havia outras duas questões envolvidas, que deveriam ter a mesma resposta. Foi solicitado ao professor, que descrevesse o distúrbio, na mesma questão (pois a questão abordada anteriormente era objetiva). Outro resultado então foi obtido, sendo que 78% não descreveram o distúrbio adequadamente. E quanto à questão, onde os professores assinalaram as causas dos distúrbios de aprendizagem, às vezes corretos, não coincidiam com as justificativas. Pôde-se fazer a mesma leitura, porém com dados estatísticos diferentes, ao analisar as questões em conjunto do mesmo professor, ou seja, ao se considerar que o professor que tem conhecimento do assunto é aquele que respondeu corretamente todas as questões, e, no entanto, foi observado um total de 11% de professores que tinham conhecimento adequado sobre o tema.

As autoras também salientam que, embora os dados estatísticos mostrem que os professores pesquisados não apresentavam conhecimento frente ao tema, algumas questões justificam esta defasagem, como, por exemplo, a questão da educação e a formação dos professores. Os problemas educacionais não estão apenas sobre a vertente do aluno que não aprende, mas também com relação à formação do professor. Há, ainda, a problemática da própria formação quanto a investimentos públicos.

Salles e Parente3030 . Salles JF, Parente MAMP. Relação entre desempenho infantil em linguagem escrita e percepção do professor. Cadernos de Pesquisa. 2007;37(132):687-709. e Rodrigues2727 . Rodrigues MZ. Dislexia: Distúrbio de aprendizagem da leitura e escrita no Ensino Fundamental [monografia de conclusão de curso]. Montes Claros (MG): Instituto Superior de Educação de Montes Claros; 2008. também colocam que alguns professores de séries iniciais do ensino fundamental não têm conhecimento ou formação que lhes permita avaliar criteriosamente o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita de seus alunos, e identificar com precisão aqueles que têm dificuldades nesses processos.

O estudo realizado pela Fundação Carlos Chagas3131 . Davis C, Nunes M, Almeida PA. Formação continuada de professores: uma análise das modalidades e das práticas em estados e municípios brasileiros. Relatório de Pesquisa. São Paulo, Fundação Carlos Chagas, 2011., que avaliou as ações de formação continuada dos estados e municípios brasileiros, aborda que uma das principais metas da formação continuada é suprir as lacunas deixadas pela formação inicial recebida. No estudo ficou claro que as secretarias estaduais de educação não avaliam os professores após sua participação em atividades de formação continuada, ou, quando muito, essa avaliação é feita de forma indireta, via resultados obtidos pelos alunos e/ou relatos do coordenador pedagógico ou da equipe docente.

O estudo ainda relata que a avaliação das ações de formação e seu acompanhamento nas escolas constituem aspectos fundamentais para o aperfeiçoamento dos professores, a melhoria da qualidade do ensino e a maior coesão da equipe docente, no que tange à aprendizagem dos alunos. Desta forma, uma das proposições do estudo para a formação continuada de professores é o investimento maciço na formação inicial dos professores, de modo que a formação continuada não precise atuar retrospectivamente e, portanto, de forma compensatória, encarregando-se do desenvolvimento profissional dos docentes. Isso significa uma formação continuada prospectiva, por meio da qual o professor ganha em autonomia, inclusive para opinar em que aspectos e de que modo entende ser preciso aprimorar-se.

Diante das discussões apresentadas, fica clara a necessidade de que todos os professores tenham compreensão sobre o tema, para que eles possam refletir sobre as causas dos problemas de aprendizagem, incluindo as educacionais, e possam lidar com as dificuldades apresentadas por estes alunos em sala de aula, a fim de extrair o máximo de suas potencialidades.

CONCLUSÃO

As conclusões que podem ser feitas por meio de todas as informações levantadas é que os professores, indiferente do tipo de escola ou se receberam ou não conhecimento prévio sobre o assunto, possuem carência em seu repertório conceitual no que se referem às definições, manifestações e principalmente em relação às causas das Dificuldades Escolares e dos Transtornos de Aprendizagem, e, portanto, precisam de orientação em relação ao trabalho efetivo com estes alunos.

AGRADECIMENTO

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP, pelo apoio financeiro em forma de bolsa de mestrado e auxílio para execução da pesquisa.

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  • Fonte de auxílio: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - Fapesp

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    may-jun 2014

Histórico

  • Recebido
    29 Nov 2012
  • Aceito
    07 Maio 2013
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