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Em referência ao artigo: “Maximum phonation time in the pulmonary function assessment”

Prezado Editor da Revista CEFAC,

Esta carta ao editor leva em consideração o recente artigo publicado “Maximum phonation time in the pulmonary function assessment”11. Moreno EGH, Calassa BT, Oliveira DVS, Silva MIN, Albuquerque LCBB, Freitas-Dias R et al. Maximum phonation time in the pulmonary function assessment. Rev. CEFAC. 2021;23(4):e9720. que objetivou avaliar a concordância do tempo máximo de fonação com a Capacidade Vital Lenta (CVL), intra e interexaminador, por meio da técnica de contagem numérica em uma única respiração (TC), do fonema /a/ sustentado e da CVL. A principal contribuição desse artigo está relacionada à excelente concordância encontrada entre e intraexaminadores e o encaminhamento dessas técnicas para auxiliar o entendimento da função pulmonar, além de apresentar valores objetivos de erro padrão da medida em indivíduos sem doença pulmonar ou do parênquima. O artigo em questão abre possibilidades futuras para que a técnica de contagem numérica em uma única respiração possa ser utilizada na estimativa da CVL e acompanhamento da evolução da doença em pacientes com a COVID-19.

A TC é um exame em que é solicitado que o indivíduo inspire o máximo de ar possível e que, durante a expiração, comece a contar os números em ordem crescente, começando com o número um até o maior número que puder alcançar em uma única exalação devendo manter o tom e a intensidade de uma fonação habitual22. Escóssio AL, Araujo RC, Olive N, Costa EC, Rizzo JA, Sarinho ESC et al. Accuracy of single-breath counting test to determine slow vital capacity in hospitalized patients. Rev. CEFAC. 2019;21(2):e2119.,33. Palmeira AC, Araújo RC, Escossio AL, Sarinho SW, Rizzo JA, Andrade FMD et al. Use of the technique of counting numbers as a predictor of slow vital capacity in hospitalized individuals. Rev. CEFAC. 2015;17(2):559-66.. Como a função pulmonar está diretamente relacionada com a produção da voz, indivíduos com uma limitação da funcionalidade pulmonar podem ter a TC alterada22. Escóssio AL, Araujo RC, Olive N, Costa EC, Rizzo JA, Sarinho ESC et al. Accuracy of single-breath counting test to determine slow vital capacity in hospitalized patients. Rev. CEFAC. 2019;21(2):e2119.

3. Palmeira AC, Araújo RC, Escossio AL, Sarinho SW, Rizzo JA, Andrade FMD et al. Use of the technique of counting numbers as a predictor of slow vital capacity in hospitalized individuals. Rev. CEFAC. 2015;17(2):559-66.

4. Aelony Y, Correia Junior MAV. Correlation between slow vital capacity and the maximum phonation time in healthy adults. Rev. CEFAC. 2016;18(5):1031-4.

5. Cielo CA, Gonçalves BFT, Lima JPM, Christmann MK. Maximum phonation time of /a/, maximun phonation time predicted and respiratory type in adult women without laryngeal disorders. Rev. CEFAC. 2015;17(2):358-62.
-66. Cielo CA, Pascotini FS, Ribeiro VV, Gomes AM, Haeffner LSB. Vocal phonotheraphy and respiratory physical therapy with healthy elderly people: literature review. Rev. CEFAC. 2016;18(2):533-43.. Além disso, por ser uma técnica que possibilita avaliar a emissão de maneira quantitativa, é possível o desenvolvimento de pesquisas que comparem valores pré e pós-tratamento, em diferentes populações e no acompanhamento da evolução da doença.

Somados a essa problemática, o enfrentamento mundial da pandemia do novo corona vírus (COVID-19) tem levantado questionamentos importantes sobre isolamento social e a necessidade de uma avaliação pulmonar individual e sem riscos, que apresente bons resultados, sendo um bom exemplo enquanto o paciente estiver em quarentena e isolado77. Aquino EML, Silveira IH, Pescarini JM, Aquino R, Souza-Filho JA, Rocha AS et al. Social distancing measures to control the COVID-19 pandemic: potential impacts and challenges in Brazil. Cien Saude Colet. 2020;25(suppl 1):2423-46.,88. Ghodge S, Tilaye P, Deshpande S, Nerkar S, Kothary K, Manwadkar S. Effect of pulmonary telerehabilitation on functional capacity in COVID survivors; an initial evidence. Int J Health Sci Res. 2020;10(10):123-9.. Nesse sentido, levam vantagens técnicas mais seguras, no que se refere ao contágio e contaminação cruzada, no entanto precisam ser confiáveis e ter uma boa validação interna e externa. Mediante o quadro descrito, se percebe a necessidade de estudos que permitam uma avaliação da função pulmonar de maneira mais inclusiva e universal com boa confiabilidade e concordância. Além disso, apoia o profissional que não pode usar o teste formal devido ao medo de propagar a doença.

Nesse tempo de pandemia, muitos pacientes evoluem com deterioração da função respiratória, com redução de volumes e capacidades pulmonares99. Gattinoni L, Chiumello D, Caironi P, Busana M, Romitti F, Brazzi L et al. COVID-19 pneumonia: different respiratory treatment for diferent phenotypes? Intensive Care Med. 2020;46(6):1099-02., sendo difícil realizar um diagnóstico precoce a nível domiciliar, e até acompanhar a evolução do quadro clínico1010. Savassi LCM, Reis GVL, Dias MB, Vilela LO, Ribeiro MTAM, Zachi MLR et al. Recomendações para a Atenção Domiciliar em período de pandemia por COVID-19. Rev Bras Med Fam Comunidade. 2020;15(42):1-21.. Além disso, o número limitado de setores específicos, para internamento de pacientes positivos para a COVID-19, tornou-se a base para controlar o contato e, portanto, a infecção77. Aquino EML, Silveira IH, Pescarini JM, Aquino R, Souza-Filho JA, Rocha AS et al. Social distancing measures to control the COVID-19 pandemic: potential impacts and challenges in Brazil. Cien Saude Colet. 2020;25(suppl 1):2423-46.. Isso limita o acesso e a avaliação do pacientes à beira leito com a ultilização de equipamentos específicos para a verificação da função pulmonar, como o espirômetro e ventilômetro, que requeiram profissionais habilitados a aplicar, desinfecção do aparelho e até descarte de materiais, tornando mais onerosa e de difícil aplicação44. Aelony Y, Correia Junior MAV. Correlation between slow vital capacity and the maximum phonation time in healthy adults. Rev. CEFAC. 2016;18(5):1031-4.,88. Ghodge S, Tilaye P, Deshpande S, Nerkar S, Kothary K, Manwadkar S. Effect of pulmonary telerehabilitation on functional capacity in COVID survivors; an initial evidence. Int J Health Sci Res. 2020;10(10):123-9.,1111. Wild LB, Dias AS, Fischer GB, Rech DR. Pulmonary function tests in asthmatic children and adolescents: Comparison between a microspirometer and a conventional spirometer. J Bras Pneumol. 2005;31(2):97-102..

Há mais de 10 anos, um grupo de pesquisadores brasileiros tem estudado a relação entre a CVL e TC22. Escóssio AL, Araujo RC, Olive N, Costa EC, Rizzo JA, Sarinho ESC et al. Accuracy of single-breath counting test to determine slow vital capacity in hospitalized patients. Rev. CEFAC. 2019;21(2):e2119.

3. Palmeira AC, Araújo RC, Escossio AL, Sarinho SW, Rizzo JA, Andrade FMD et al. Use of the technique of counting numbers as a predictor of slow vital capacity in hospitalized individuals. Rev. CEFAC. 2015;17(2):559-66.
-44. Aelony Y, Correia Junior MAV. Correlation between slow vital capacity and the maximum phonation time in healthy adults. Rev. CEFAC. 2016;18(5):1031-4.,1212. Cardoso NFB, Araújo RC, Palmeira AC, Dias RF, França EET, Andrade FMD et al. Correlação entre o tempo máximo de fonação e a capacidade vital lenta em indivíduos hospitalizados. ASSOBRAFIR Ciênc. 2013;4(3):9-17.,1313. Lima DCB, Palmeira AC, Costa EC, Mesquita FOS, Andrade FMD, Correia Júnior MAV. Correlation between slow vital capacity and the maximum phonation time in healthy adults. Rev. CEFAC. 2014;16(2):592-7., identificando uma correlação positiva tanto em pacientes hospitalizados1212. Cardoso NFB, Araújo RC, Palmeira AC, Dias RF, França EET, Andrade FMD et al. Correlação entre o tempo máximo de fonação e a capacidade vital lenta em indivíduos hospitalizados. ASSOBRAFIR Ciênc. 2013;4(3):9-17., quanto em jovens sem queixas respiratórias1313. Lima DCB, Palmeira AC, Costa EC, Mesquita FOS, Andrade FMD, Correia Júnior MAV. Correlation between slow vital capacity and the maximum phonation time in healthy adults. Rev. CEFAC. 2014;16(2):592-7.. Outro importante estudo do grupo33. Palmeira AC, Araújo RC, Escossio AL, Sarinho SW, Rizzo JA, Andrade FMD et al. Use of the technique of counting numbers as a predictor of slow vital capacity in hospitalized individuals. Rev. CEFAC. 2015;17(2):559-66. avaliou uma estimativa da CVL a partir da TC em 221 indivíduos hospitalizados. Por meio da regressão linear simples foram verificadas equações das retas analisadas de forma absoluta, CVL=55TC + 735 (R22. Escóssio AL, Araujo RC, Olive N, Costa EC, Rizzo JA, Sarinho ESC et al. Accuracy of single-breath counting test to determine slow vital capacity in hospitalized patients. Rev. CEFAC. 2019;21(2):e2119.=0,56; p<0,0001) e relativa, CVL=0,84TC + 14 (R22. Escóssio AL, Araujo RC, Olive N, Costa EC, Rizzo JA, Sarinho ESC et al. Accuracy of single-breath counting test to determine slow vital capacity in hospitalized patients. Rev. CEFAC. 2019;21(2):e2119.=0,57; p<0,0001). Os autores33. Palmeira AC, Araújo RC, Escossio AL, Sarinho SW, Rizzo JA, Andrade FMD et al. Use of the technique of counting numbers as a predictor of slow vital capacity in hospitalized individuals. Rev. CEFAC. 2015;17(2):559-66. chamam atenção para identificar precocemente uma limitação da função respiratória pela TC, a apartir de uma equação matemática, utilizando apenas a voz, cujo a técnica pode ser realizada em qualquer ambiente.

Escóssio et al.22. Escóssio AL, Araujo RC, Olive N, Costa EC, Rizzo JA, Sarinho ESC et al. Accuracy of single-breath counting test to determine slow vital capacity in hospitalized patients. Rev. CEFAC. 2019;21(2):e2119. avaliaram a acurácia da TC para determinar a CVL em pacientes hospitalizados. Para isso, a CVL foi fixada em 20ml/kg para considerar pacientes que apresentavam limitação da função respiratória e foi verificado um ponto de corte de 21 para TC(sensibilidade=94,44% e especificidade=76,62%). A partir desses resultados, os autores concluíram que a TC pode ser uma boa opção de rastreamento e triagem para um teste mais específico.

Uma discussão muito interessante sobre a primeira pesquisa do grupo brasileiro foi publicada recentemente em formato de carta ao editor44. Aelony Y, Correia Junior MAV. Correlation between slow vital capacity and the maximum phonation time in healthy adults. Rev. CEFAC. 2016;18(5):1031-4.. Nela, o pesquisador Yossef Aelony comenta a importância da técnica em pacientes com doenças contagiosas como a tuberculose e discute uma publicação que ocorreu em 1962, em que jovens do sexo masculino, provavelmente caucasianos, contaram em inglês até 100+201414. Olsen CR. The match test. A measure of ventilatory function. Am Rev Respir Dis.1962;86(1):37-40.. A discussão levanta importantes questionamentos e ideias para pesquisas futuras, como a questão da TC ser diferente em outras línguas e as diferentes estruturas corporais encontradas nos povos ao redor do mundo.

Por tudo que foi apresentado, a TC tem sido proposta como uma alternativa na avaliação da CVL, no entanto o objetivo não é substituir a espirometria, mas somar no entendimento das informações fisiopatológicas. Esse tipo de estudo abre possibilidades para futuras pesquisas envolvendo crianças e/ou mesmo pacientes que não conseguem realizar a técnica de espirometria de forma adequada, por cansaço, ou dificuldades de manobra. Também é precursor para possibilidades de comparações multicêntricas envolvendo outros idiomas, além de poder ser realizada por teleconferência e por pacientes que precisem de um acompanhamento a distância, com aplicabilidade clínica no contexto atual.

Agradecimentos

Os autores gostariam de agradecer a Christopher Storey pela ajuda na revisão do inglês.

REFERENCES

  • 1
    Moreno EGH, Calassa BT, Oliveira DVS, Silva MIN, Albuquerque LCBB, Freitas-Dias R et al. Maximum phonation time in the pulmonary function assessment. Rev. CEFAC. 2021;23(4):e9720.
  • 2
    Escóssio AL, Araujo RC, Olive N, Costa EC, Rizzo JA, Sarinho ESC et al. Accuracy of single-breath counting test to determine slow vital capacity in hospitalized patients. Rev. CEFAC. 2019;21(2):e2119.
  • 3
    Palmeira AC, Araújo RC, Escossio AL, Sarinho SW, Rizzo JA, Andrade FMD et al. Use of the technique of counting numbers as a predictor of slow vital capacity in hospitalized individuals. Rev. CEFAC. 2015;17(2):559-66.
  • 4
    Aelony Y, Correia Junior MAV. Correlation between slow vital capacity and the maximum phonation time in healthy adults. Rev. CEFAC. 2016;18(5):1031-4.
  • 5
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  • 7
    Aquino EML, Silveira IH, Pescarini JM, Aquino R, Souza-Filho JA, Rocha AS et al. Social distancing measures to control the COVID-19 pandemic: potential impacts and challenges in Brazil. Cien Saude Colet. 2020;25(suppl 1):2423-46.
  • 8
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  • 9
    Gattinoni L, Chiumello D, Caironi P, Busana M, Romitti F, Brazzi L et al. COVID-19 pneumonia: different respiratory treatment for diferent phenotypes? Intensive Care Med. 2020;46(6):1099-02.
  • 10
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  • 12
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  • 14
    Olsen CR. The match test. A measure of ventilatory function. Am Rev Respir Dis.1962;86(1):37-40.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Set 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    06 Jun 2021
  • Aceito
    24 Jun 2021
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