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Produto nacional fino: nossos mestres e doutores

Thin national product: our teachers and doctors

EDITORIAL

Produto nacional fino: nossos mestres e doutores

Thin national product* * Editor's note: in portuguese gross and thin have also the meaning of not intelligent and educated person respectively. This title uses irony. : our teachers and doctors

TCCBC Carlos Alberto Basilio-de-Oliveira

Departamento de Patologia (UNIRIO)

Educação e Saúde andam juntas, os problemas e as soluções se aproximam. Não se pode pensar diferente, ao tentar resolver questões tão ligadas. O crescimento e o desenvolvimento de um país que deseja socialmente ser correto com seus cidadãos, tem por obrigação cuidar de seu maior tesouro: a saúde do povo. Deve também manter o ensino público, digno e gratuito para todos. No momento, está o governo aplicado no fator de crescimento de universidades, principalmente orientado por interesses políticos. Quanto à área médica, pode-se dizer que basta. Atualmente são cerca de 155 escolas médicas, para uma população de 186 milhões de habitantes; a China tem 150 escolas para 1,3 bilhão; enquanto a Índia 140 escolas para 1,07 bilhão e o EUA 125 escolas de medicina para 278 milhões de habitantes. No Brasil, do século 21, mais de uma escola médica foi aberta por mês, fato que se intensificou no ano pré-eleitoral que se passou. Não é inteligente aumentar o número de universidades. É preciso isto sim, administra-lás bem, em obediência a progressiva identificação de prioridades. Faz-se necessário atualizar o currículo, atender aos alunos na sala de aula e, principalmente promover o professor, através de exigências na qualificação. Há de se optar pela qualidade de ensino, com produção científica, ao lado de especial atenção aos hospitais universitários.

A universidade brasileira será novamente legítima quando selecionar seus alunos através de vestibular coerente ao grau de aproveitamento escolar e realizar concurso público para as muitas vagas em aberto para as disciplinas do currículo acadêmico, algumas em franca extinção. Estamos atingindo a meta de um professor por disciplina, por que não dizer até menos, fato demagógico com a própria sobrevivência da espécie. Desta forma, perde-se a essência da vida acadêmica, que consiste na permanente renovação e conseqüente passagem de experiências de geração para geração, mantendo a universidade como instituição maior, na capacitação e como agente de conhecimentos estratégicos.

Observa-se, atualmente, até mesmo, alteração da conduta médica, ligada tanto ao diagnóstico, quanto à terapêutica pelas implicações da organização administrativa, na compra de equipamentos e de material de consumo, tão necessários no ambulatório, no centro cirúrgico e nos laboratórios. Se não fosse a abnegação, sacrifício e amor profissional dos médicos, muitas das instituições públicas teriam suas portas fechadas, sem condições para o adequado atendimento de emergência ou os benefícios da unidade de tratamento intensivo.

Se os médicos passam por essa situação profissional constrangedora diante dos pacientes, os hospitais muitas vezes sucateados, com equipamentos improvisados ou deficitários, diante de tecnologias mais modernas, o que não dizer, do final de linha desse cortejo – a Universidade – ponto mais frágil e sensível da cadeia de formação e criação, com seus cursos de graduação e pós-graduação, que necessitam da sensibilidade de nossos governantes, que não cumprem os seus compromissos.

Apesar desta situação, pode-se sentir a força da universidade brasileira, que sobrevive à trabalhar, exercendo suas múltiplas atividades – o ensino, a pesquisa e a extensão. Não pára de produzir, com inúmeros trabalhos científicos, teses e monografias. Atende sem distinção, recebe todos os que a procuram: Pela atenção dos hospitais universitários, realiza consultas, internações, faz cirurgias de alta complexidade e transplantes, além dos atendimentos nos setores especializados para a infância e no cuidado de problemas médicos dos idosos.

Quantos mestres e doutores são graduados todos os anos, criando excelente produção científica, em vários setores da atividade acadêmica nacional, com pequena ajuda governamental ou das próprias agências de fomento à pesquisa. A política para o ensino superior com a liberação de pequeno número de vagas pelo Ministério da Educação, visando os concursos públicos das universidades brasileiras, impede a renovação do quadro docente, com perdas para o ensino e a pesquisa. É também urgente a promoção à novos pesquisadores, que certamente se formam nos próprios bancos universitários, cativados pela vida acadêmica, embalados nos sonhos e conquistas de seus mestres.

O governo preocupa-se naturalmente com o Produto Nacional Bruto pelo forte impacto sobre o capital, pagamento de suas contas e redução da dívida pública. A universidade, por sua vez é bem mais sutil, no silêncio dos seus laboratórios, na atividade das salas de aula, ao lado de seus pesquisadores, pontificando na produção científica incessante, acalentada por seus mestres e doutores. Este é o Produto Nacional Fino (PNF), sem o qual não existe país que possa sustentar o desenvolvimento continuado e atingir o milagre do crescimento econômico. Que seja o PNF reconhecido como peça fundamental para a vida do próprio governo, e o bem-estar do brasileiro, com saúde e educação.

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    Editor's note: in portuguese gross and thin have also the meaning of not intelligent and educated person respectively. This title uses irony.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      16 Maio 2007
    • Data do Fascículo
      Abr 2007
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