Acessibilidade / Reportar erro

A perspectiva sistêmica no estudo do turismo

The systemic perspective in the study of tourism

La perspectiva sistémica em el estudio del turismo

Resumo

A perspectiva sistêmica visa explicar determinada realidade simplificando a sua representação a partir de modelos esquemáticos. Usualmente pauta-se nas diretrizes da Teoria Geral de Sistemas, mas não se restringe a ela. Reconhece-se a complexidade do ambiente e as características dos seus componentes. No caso do turismo, diversos modelos sistêmicos foram desenvolvidos objetivando representar o setor e sua complexidade. Dessa forma, neste trabalho apresentamos os principais modelos sistêmicos do turismo, seus elementos constituintes e seu processo de interação em três perspectivas cronológicas: de 1960 a 1980, de 1981 a 2000 e de 2001 a 2021. Em cada um desses grupos, mostramos o esquema gráfico de um dos sistemas mais presentes nos estudos turísticos. Nenhum modelo pode ser classificado como definitivo ou absoluto e, por isso, é importante conhecê-los para se avançar nos estudos sob tal perspectiva.

Palavras-chave
Teoria Geral de Sistemas; Perspectiva Sistêmica; Turismo

Abstract

The systemic perspective aims at explaining a given reality by simplifying its representation from schematic models. It is usually guided by the General Theory of Systems but it is not restricted to it. The complexity of the environment and the characteristics of its components are recognized. In the case of tourism several systemic models were developed aiming at representing the sector and its complexity. In this way, this paper presents the main systemic models of tourism, their constituent elements and their interaction process, in three chronological perspectives: from 1960 to 1980, from 1981 to 2000 and from 2001 to 2021. In each of these groups, the graphic scheme of one of the most present systems in tourism studies is shown. No model can be classified as definitive or absolute and, therefore, it is important to know them to move on in studies from this perspective.

Keywords
General Systems Theory; Systems Perspective; Tourism

Resumen

La perspectiva sistémica pretende explicar una realidad dada simplificando su representación a partir de modelos esquemáticos. Suele guiarse por los lineamientos de la Teoría General de Sistemas, pero no se restringe a ella. Se reconoce la complejidad del entorno y las características de sus componentes. En el caso del turismo se desarrollaron varios modelos sistémicos con el objetivo de representar el sector y su complejidad. De esta manera, este trabajo presenta los principales modelos sistémicos del turismo, sus elementos constitutivos y su proceso de interacción en tres perspectivas cronológicas: de 1960 a 1980, de 1981 a 2000 y de 2001 a 2021. En cada uno de estos grupos aparece el esquema gráfico de uno de los sistemas más presentes en los estudios turísticos. Ningún modelo puede catalogarse como definitivo o absoluto y, por tanto, es importante conocerlos para avanzar en los estudios desde esta perspectiva.

Palabras clave
Teoría General de Sistemas; Perspectiva de Sistemas; Turismo

1 INTRODUÇÃO

O turismo é um setor complexo e com um caráter multidisciplinar, dependendo da sinergia entre diversos setores para que se efetive. Para uma melhor estruturação do setor, demanda, oferta, espaço geográfico, comunidade, entre outros, precisam se articular de modo a manter a engrenagem funcionando. Por isso, o turismo ultrapassa os setores convencionais da economia, necessitando de aspectos de natureza econômica, social, cultural e ambiental, além dos dados das estruturas receptivas. Além disso, depende também da ação das operadoras turísticas e do processo de divulgação de destino, envolvendo a participação governamental, iniciativa privada e a comunidade local. Vale, ainda, destacar, que muitos dos equipamentos e infraestruturas utilizados pelo turismo não são de uso exclusivo desse setor, mas sim, apropriados por ele – como: estradas, rodoviárias, hospitais, bancos, entre outros.

Para tentar compreender essa complexidade e diversidade de setores – dentre os possíveis caminhos que a literatura científica pode seguir quando busca entender o turismo –, destaca-se a perspectiva sistêmica. Isso, porque, compreender o turismo exige entender como se dá a sua engrenagem, ou seja, como as diversas partes – independentes –, se articulam. É neste contexto que se ressalta a Teoria Geral de Sistemas (TGS) e a perspectiva sistêmica.

A TGS foi desenvolvida a partir de uma abordagem clássica, com a decomposição do sistema em partes menores e mais simples, que eram descritas profundamente e separadas do contexto dos outros objetos, concentrando-se no estudo dos elementos em si (Araújo & Gouveia, 2016Araújo, A. C. M., Gouveia, L. G. (2016). Uma revisão sobre os princípios da teoria geral de sistemas. Revista Estação Científica, 16, p. 1-14.; Oliveira & Portela, 2006Oliveira, J. P., & Portela, L. O. (2006). A cidade como um sistema: reflexões sobre a teoria geral de sistemas aplicado á análise urbana. Perspectivas contemporâneas . 1(2), p. 164-182.). Contudo, por pautar-se em uma excessiva cientificidade, considerando a exigência de uma adaptação constante do ambiente interno em relação às demandas do ambiente externo, uma nova abordagem começa a surgir, na tentativa de compreender como essas partes menores poderiam se encaixar no sistema. Dessa forma, a abordagem sistêmica apresenta a visão de sistema como um todo, com relacionamentos interdependentes. As interações entre os elementos se tornam o foco de compreensão, e não apenas os elementos em si. Visa compreender o todo, a partir da compreensão de suas particularidades, mas sem, necessariamente, seguir regras rígidas de definição – o que amplia a sua aplicação no campo teórico (Araújo & Gouveia, 2016Araújo, A. C. M., Gouveia, L. G. (2016). Uma revisão sobre os princípios da teoria geral de sistemas. Revista Estação Científica, 16, p. 1-14.; Martínez, 2005Martínez, A. J. J. (2005). Aproximação à Conceituação do Turismo a partir da Teoria Geral de Sistemas. In: Trigo, L. G. (ed.), Análises Regionais e Globais do Turismo Brasileiro. São Paulo: Roca, pp. 109–148.).

Por ser uma teoria usada há anos pelos estudos do turismo, apresentam-se os principais modelos sistêmicos desenvolvidos sobre a temática. Esses modelos exploram diferentes perspectivas do sistema turístico e de como os elementos que o constituem se inter-relacionam e interagem. Cada modelo desenvolvido pode se adequar melhor ao estudo de determinada problemática e são dinâmicos; enquanto alguns concentram a análise no processo comunicacional, outros focam o deslocamento ou os atores envolvidos no processo relacional do turismo. Dessa forma, nenhum modelo pode ser classificado como definitivo ou absoluto e, por isso, é importante considerar as suas diferentes interpretações.

2 A TEORIA GERAL DOS SISTEMAS

Inicialmente, o conceito de “sistema” estava associado ao discurso na Grécia antiga, à comunicação, à tradição oral do conhecimento, formado por premissas e conclusão (Oliveira & Portela, 2006Oliveira, J. P., & Portela, L. O. (2006). A cidade como um sistema: reflexões sobre a teoria geral de sistemas aplicado á análise urbana. Perspectivas contemporâneas . 1(2), p. 164-182.). Entretanto, é a partir dos estudos de Ludwig von Bertalanffy, ocorridos entre 1950 e 1968, que a Teoria Geral de Sistemas (TGS) é desenvolvida e passa a ser considerada como norteadora para o estudo de diversas áreas. Para seu criador, essa perspectiva demonstra como o todo representa mais do que a soma das partes, concentrando-se numa variável de cada vez, preocupando-se com modelos e planos muito precisos e rigorosos (Beni & Moesch, 2017Beni, M. C., & Moesch, M. (2017). A teoria da complexidade e o ecossistema do turismo. Turismo – Visão e Ação, 19(3), p. 430-457. https://doi.org/10.14210/rtva.v19n3.p430-457
https://doi.org/10.14210/rtva.v19n3.p430...
; Araújo & Gouveia, 2016Araújo, A. C. M., Gouveia, L. G. (2016). Uma revisão sobre os princípios da teoria geral de sistemas. Revista Estação Científica, 16, p. 1-14.). O modelo foi concebido como um sistema aberto, entendido como um complexo de elementos em interação e em intercâmbio contínuo com o ambiente. Assim, qualquer recorte da realidade poderia ser um sistema sempre e quando estiverem definidos claramente os parâmetros dentro dos quais tal sistema se estabelece (Oliveira & Portela, 2006Oliveira, J. P., & Portela, L. O. (2006). A cidade como um sistema: reflexões sobre a teoria geral de sistemas aplicado á análise urbana. Perspectivas contemporâneas . 1(2), p. 164-182.; Martínez, 2005Martínez, A. J. J. (2005). Aproximação à Conceituação do Turismo a partir da Teoria Geral de Sistemas. In: Trigo, L. G. (ed.), Análises Regionais e Globais do Turismo Brasileiro. São Paulo: Roca, pp. 109–148.; Mota, 1971Motta, F. C. P. (1971). A teoria geral dos sistemas na teoria das organizações. Revista Administração de Empresas. 11(1). https://doi.org/10.1590/S0034-75901971000100003
https://doi.org/10.1590/S0034-7590197100...
).

A Teoria Geral de Sistemas (TGS) aborda os fenômenos de modo interdisciplinar, tornando-se modelo de interpretações aplicado a diversas áreas de conhecimento. Seu objetivo principal é o de estudar os elementos que compõem um sistema, permitindo analisar cada um dos sistemas de forma total ou dividi-lo em partes para facilitar a sua compreensão e o seu estudo (Araújo & Gouveia, 2016Araújo, A. C. M., Gouveia, L. G. (2016). Uma revisão sobre os princípios da teoria geral de sistemas. Revista Estação Científica, 16, p. 1-14.; Curvello & Scroferneker, 2008Curvello, J. J. A., & Scroferneker, C. M. A. (2008). A comunicação e as organizações como sistemas complexos: uma análise a partir das perspectivas de Niklas Luhmann e Edgar Morin. Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação, 2(3). https://doi.org/10.30962/ec.307
https://doi.org/10.30962/ec.307...
; Neves & Neves, 2006Neves, C. E. B., & Neves, F. M. (2006). O que há de complexo no mundo complexo? Nilhas Luhmann e a Teoria dos Sistemas Sociais. Sociologias. 15, p.182-207. https://doi.org/10.1590/S1517-45222006000100007
https://doi.org/10.1590/S1517-4522200600...
). De forma geral, o sistema é um conjunto de partes coordenadas para realizar um conjunto de finalidades, ou seja, um conjunto de partes que se interagem de modo a atingir um determinado fim, de acordo com um plano ou princípio. O maior problema, contudo, é conseguir decifrar o atual ambiente e visualizar quais são as partes constituintes do ambiente que serão analisados e considerados para o sistema.

Para Churchman (2015)Churchman, C. W. (2015). Introdução à teoria dos sistemas. Rio de Janeiro: Vozes., por objetivar diminuir a desordem ao organizar unidades sistêmicas integradas a um macrossistema, numa relação dinâmica com o ambiente, deve-se compreender que um sistema só será eficiente se tiver clareza quanto aos seus objetivos (reais); quanto ao seu ambiente (tudo o que circunda o sistema); quanto aos recursos (que auxiliam as ações específicas); quanto aos componentes (tarefas a serem executadas), e, finalmente, à administração (para identificar potenciais desvios). Assim, requer uma definição de conceitos e a descrição do modo como são aplicados, especificamente em relação aos componentes do fenômeno estudado e sua forma de funcionamento.

Para ser completo, deve possuir: o ambiente – local em que o sistema se encontra; unidades – suas partes; relações entre as unidades; qualidades das unidades e do sistema; processo de input, output, feedback e modelo. Na medida em que tais elementos são identificados, passa-se para uma complexidade menor da realidade analisada, caminhando para uma compreensão de todas as partes – ao mesmo tempo que isoladas, interrelacionadas.

O modelo esquemático caracteriza um ambiente, cuja realidade precisa ser compreendida. Para tal, precisa ter sua complexidade diminuída. Para que isso ocorra é preciso separar quais unidades sistêmicas compõem esse ambiente. Estas até podem ser avaliadas isoladamente, porém não contribuirão para entender o ambiente geral. É preciso identificar como elas se interrelacionam. Identificando o ambiente e as unidades sistêmicas, é preciso compreender como ocorre os processos de input, transformação, output e retroalimentação.

O input é o marco inicial definido para aquele ambiente, considerado como entrada ou estímulo para que o sistema possa ser iniciado. Assim que o sistema entra em operação, a partir das relações entre as unidades sistêmicas, ocorrerá uma transformação que gerará um resultado, o output, também reconhecido como resposta. Essa saída precisa ser compreendida, pois é ela que retroalimentará o sistema, gerando um novo estímulo ao sistema e assim contribuindo para a sua manutenção e/ou melhoria.

O foco principal desse processo é o de diminuir a complexidade, sem recorrer a explicações simplistas, mas sim, de poder compreender como o “todo” é formado e quais são as suas partes constituintes. Pode auxiliar na descoberta de padrões e dinâmicas, possibilitando a compreensão dos desvios que ocorrem em determinado ambiente, e, assim, buscar correções – que gerarão novas influências e transformações (North, 1993North, D. (1993). The new institutional economics and development. http://www2.econ.iastate.edu/tesfatsi/NewInstE.North.pdf
http://www2.econ.iastate.edu/tesfatsi/Ne...
). Vale reforçar que o foco principal dessa teoria é o de entender o todo a partir das relações estabelecidas entre as unidades. Por isso, definir as fronteiras do sistema é o principal desafio no processo de construção desse raciocínio, reconhecendo a influência dos aspectos externos. Envolve a compreensão de três premissas: todo sistema é constituído por subsistemas; os sistemas são abertos, ou seja, cada ambiente é formado por diversos sistemas, que são constituídos por subsistemas e unidades sistêmicas; cada sistema possui um objetivo, o que afeta a interação com os demais sistemas (Gomes, Bolze, Bueno, Crepaldi, 2014Gomes, L. B., Bolze, S. D., Bueno, R. K., & Crepaldi M. A (2014). As origens do pensamento sistêmico: das partes para o todo. Pensando fam. 18(2).).

A Teoria Geral dos Sistemas tem como mérito fornecer as bases para organizar a complexidade do ambiente analisado, permitindo uma visão ampla do todo, ao mesmo tempo em que reconhece as particularidades do ambiente analisado. Compreender esse conceito de sistema é o primeiro passo para se entender a construção de um pensamento sistêmico. Contudo, diante da já exposta complexidade do turismo e suas interfaces, os estudos sobre turismo não se restringiram unicamente a esta teoria, mas englobaram o modo de pensar sistêmico, como será exposto a seguir.

3 PERSPECTIVA SISTÊMICA DO TURISMO

O estudo do turismo se aproximou das interpretações sistêmicas desde a década de 1960, quando se dissemina a compreensão de que este setor é um sistema composto por diversos elementos que interagem entre si. O surgimento de modelos sistêmicos para o turismo representa um fortalecimento dos estudos acadêmicos, avançando a compreensão de que o turismo é dependente de uma relação entre os ambientes econômico, político, social, ambiental, entre outros. Diversos autores da área já aprofundaram os estudos sobre os modelos, como Beni e Moesch (2017)Beni, M. C., & Moesch, M. (2017). A teoria da complexidade e o ecossistema do turismo. Turismo – Visão e Ação, 19(3), p. 430-457. https://doi.org/10.14210/rtva.v19n3.p430-457
https://doi.org/10.14210/rtva.v19n3.p430...
; Panosso Netto (2011)Panosso Netto, A. (2011). Filosofia do Turismo: teoria e epistemologia. 2 ed. São Paulo: Aleph.; Palhares e Panosso Netto (2008)Palhares, G. L., Panosso Netto, A. (2008). Teoria do Turismo: conceitos, modelos e sistemas. São Paulo: Aleph. ; Martínez (2005)Martínez, A. J. J. (2005). Aproximação à Conceituação do Turismo a partir da Teoria Geral de Sistemas. In: Trigo, L. G. (ed.), Análises Regionais e Globais do Turismo Brasileiro. São Paulo: Roca, pp. 109–148.; entre outros. Essas obras apresentam uma ampla exposição sobre os autores que adotaram a perspectiva sistêmica para compreender o turismo e seus componentes e são essenciais para o aprofundamento da temática.

As principais vantagens de se estudar o turismo sob essa perspectiva são: tem-se a visão geral do todo; é possível separar o sistema turístico de outros sistemas; é possível segmentar o sistema em partes e estudá-las separadamente; possibilita o estudo interdisciplinar do turismo. Porém, também há desvantagens, como: ocasiona uma visão fragmentada do objeto, o turismo faz parte de um sistema maior e corre-se o risco de não reconhecer esse fato (Panosso Netto, 2011Panosso Netto, A. (2011). Filosofia do Turismo: teoria e epistemologia. 2 ed. São Paulo: Aleph.; Palhares & Panosso Netto, 2008Palhares, G. L., Panosso Netto, A. (2008). Teoria do Turismo: conceitos, modelos e sistemas. São Paulo: Aleph. ; Martínez, 2005Martínez, A. J. J. (2005). Aproximação à Conceituação do Turismo a partir da Teoria Geral de Sistemas. In: Trigo, L. G. (ed.), Análises Regionais e Globais do Turismo Brasileiro. São Paulo: Roca, pp. 109–148.).

Considerando a importante contribuição dos pesquisadores anteriormente citados, esse artigo tem como objetivo apresentar alguns dos autores mais discutidos na área do turismo quando se aborda o sistemismo. Reconhece-se que há uma infinidade de outros modelos, mas uma delimitação se fez necessária. Dessa forma, considerou-se a organização das propostas em três abordagens. A primeira abordagem (1960 a 1980) contempla as perspectivas sistêmicas iniciais, compreendendo o turismo como um fenômeno amplo e tendo como marco a publicação de Neil Leiper, considerada a introdução da teoria sistêmica na área do Turismo (Machado & Gosling, 2006Machado, D. F. C., Gosling, M. A. (2009). Teoria Geral do Sistema na Ótica do Turismo: uma Revisão dos Modelos de Sistemas Turísticos. In: Seminário da Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo, 6., Universidade Anhembi Morumbi.). A segunda abordagem (1981 a 2001) aborda as perspectivas sistêmicas avançadas, caracterizando o aprofundamento da teoria sistêmica na área, diante da preocupação de estabelecer um desenvolvimento regional pelo turismo (Beni & Moesch, 2017Beni, M. C., & Moesch, M. (2017). A teoria da complexidade e o ecossistema do turismo. Turismo – Visão e Ação, 19(3), p. 430-457. https://doi.org/10.14210/rtva.v19n3.p430-457
https://doi.org/10.14210/rtva.v19n3.p430...
), adotando como marco a publicação de Mário Beni, com a sua proposta de Sistur, contribuindo com o avanço dos estudos nacionais sobre o turismo. A terceira abordagem (2002 a 20221 1 Conteúdo avaliado até março de 2022. ) discorre sobre os novos estudos que ampliam o uso da abordagem sistêmica no turismo, contemplando o aprofundamento da compreensão do turismo e seus impactos.

Os suíços Walter Hunziker e Kurt Krapf, em 1942, forneceram uma compreensão elaborada do significado de turismo, reforçando-o como um conjunto de relações e fenômenos, assemelhando-se as bases da TGS ao enfatizarem as diversas partes que se relacionam para que o turismo se efetive – como deslocamento, turista, permanência, entre outras. A partir desses autores outros surgem favoráveis ao uso da TGS aplicada ao campo do turismo, como segue no quadro 1. Ressalta-se, contudo, que a maioria se utilizou da perspectiva sistêmica para a construção de seu raciocínio, não se prendendo aos rigores conceituais da TGS.

Quadro 1
As perspectivas sistêmicas iniciais nos estudos do turismo 1960-1980

Raymundo Cuervo (1967)Cuervo, R. (1967). Estudios y Desarollo de las Zonas Turísticas. Cuadernos Técnicos de Turismo. Instituto Mexicano de Ivestigaciones Turisticas. México. se utilizou da TGS, baseando-se no pressuposto de que o turismo é um conjunto cuja função é a comunicação. Provavelmente, por ter dado um tratamento matemático ao seu sistema, provocou um distanciamento por parte da academia. Independentemente de seu sistema ter ou não se perpetuado, reforça-se o mérito de ter reconhecido a complexidade do turismo compreendendo-o como um sistema, o que permitiu uma análise mais profunda sobre ele do que ocorria até então.

Fernández Fúster (1975)Fúster, L. F. (1975). Teoría y técnica del turismo. 2 ed. Madri: Nacional., baseando-se em experiência da Espanha, desenvolveu um modelo de mensuração de impacto que identifica as fases do crescimento turístico. Porém, acabou por isolar muito os ambientes de cultura, ambiente, economia, entre outros, não conseguindo contribuir com uma visão sistêmica – o todo na união de cada parte analisada.

Salah-Eldin Abdel Wahab (1977)Wahab, S. A. (1977). Introdução à administração do turismo. São Paulo: Pioneira. defendia o turismo como um fenômeno que envolve o deslocamento de pessoas, enfatizando o lado humano do fenômeno e o seu papel na formação de um elo de comunicação. Seu sistema é composto por duas partes: uma estática e outra dinâmica. A primeira contempla a permanência no local de destino e a segunda, as dimensões de espaço e tempo as quais o turista está sujeito a partir do momento em que decide viajar.

Pode-se perceber que os modelos descritos até o momento colocam a comunicação como um fator essencial no sistema, entendendo que o turismo é capaz de levar o mundo a um sistema de tranquilidade. Entretanto, faz-se mais uma ressalva quanto aos modelos até então apresentados, pois eles demonstram o pensamento sistêmico – a tentativa de se diminuir a complexidade do universo observado –, contudo, não apresentam a modelagem sistêmica esperada, entendendo os processos de entrada, transformação, saída e retroalimentação.

O quarto modelo de sistema do turismo a ser considerado nos estudos sistêmicos iniciais sobre turismo é o de Neil Leiper (1979)Leiper, N. (1979). The framework of tourism: towards a definition of tourism, tourist, and the tourist industry. In: Annals of Tourism Research, 6(4), p. 390-407. https://doi.org/10.1016/0160-7383(79)90003-3
https://doi.org/10.1016/0160-7383(79)900...
. A comunicação não foi a norteadora desse modelo, mas sim os componentes geográficos, comportamentais, industriais e ambientais. Diante de sua importância para os estudos sistêmicos e sua constante reprodução em estudos posteriores, considerou-se esse modelo como o marco final do grupo dos estudos iniciais do turismo sob a perspectiva sistêmica. Com o objetivo de entender as destinações turísticas, áreas de transição, o ambiente e os fluxos em um contexto mais amplo, reforça a importância tanto da área geradora quanto do destino do fluxo turístico (figura 1). Enfatiza os componentes: pessoas, atrações, serviços e facilidades, transporte, informação e direção, mas faz a crítica de que o pesquisador não considerou as interações dos ambientes. Por ser de fácil compreensão, tal sistema é referenciado até hoje, principalmente em função da interação entre os componentes.

Figura 1
Sistema Turístico de Leiper

A partir desses quatro modelos principais e da expansão do conhecimento proporcionado outros estudos começaram a surgir. Porém, não com o foco na comunicação, mas sim no aspecto econômico, principalmente sob a perspectiva da oferta e da demanda. O segundo grupo de estudos sistêmicos sobre o turismo (quadro 2) passa a reforçar, assim, a análise econômica. É um período no qual os estudos reconhecem a importância do turismo como contribuidor para o desenvolvimento local (econômico), como também passa a reconhecer a existência de impactos da atividade. Os impactos do turismo são considerados – sejam positivos ou negativos –, também na perspectiva social e ambiental, além da econômica, cerne das análises.

Quadro 2
As perspectivas sistêmicas avançadas nos estudos do turismo 1981-2001

A proposta de Mathieson e Wall (1982)Mathieson, A., & Wall, G. (1982). Tourism: Economic, physical, and social impacts. London, New York: Longman. considera os aspectos socioculturais do turismo em uma época em que só os aspectos econômicos eram considerados e estudados. Também contemplou a análise dos turistas e da destinação, assim como o controle dos impactos gerados pela atividade turística, sendo esse o grande avanço do modelo.

Cohen (1984)Cohen, E. (1984). The sociology of tourism: Approaches, issues and findings. Annual Review of Sociology, 10, p. 373–392. https://doi.org/10.1146/annurev.so.10.080184.002105
https://doi.org/10.1146/annurev.so.10.08...
traz para a discussão aspectos essenciais para o turismo. Além da autenticidade, assunto com o qual vinha trabalhando nos últimos anos ao se considerar a experiência, engloba o sistema, a relação entre comunidade local e turista, as motivações e os impactos do turismo, notadamente os socioeconômicos e os socioculturais. Já Sessa (1988)Sessa, A. (1988). The Sicence of Systems for Tourism Development. Annals of Tourism Research, 15, p. 219-235. https://doi.org/10.1016/0160-7383(88)90084-9
https://doi.org/10.1016/0160-7383(88)900...
, considerado como um grande incentivador do olhar sistêmico na Europa, manteve-se atrelado à visão econômica do turismo. Reforça a necessidade de seguir procedimentos lógicos e planejados em uma busca de conexões que representam o todo.

Boullón (1985)Boullón, R. C. (1985). Planificción Del Espacio Turístico. México, Trillas., por sua vez, contempla a vertente oferta-demanda, antropológico-social, e turismo industrial. Contudo, seu foco recai com maior ênfase na primeira, formada pela oferta (bens e serviços), demanda (os serviços solicitados pelo consumidor), produto (que satisfaz o consumo), infraestrutura que apoia o funcionamento do setor, além da superestrutura. O modelo proposto de oferta-demanda apresenta uma clara organização sistêmica, reforçando a conexão entre os seus componentes para que o turismo funcione como se espera.

Getz (1986)Getz, D. (1986). Models in Tourism Planning: towards integration of theory and practice. Tourism Management, 7 (1), p. 21-36. https://doi.org/10.1016/0261-5177(86)90054-3
https://doi.org/10.1016/0261-5177(86)900...
, a partir de um levantamento teórico sobre as publicações do turismo, identifica que os modelos desenvolvidos podem ser classificados em três grandes grupos: modelos teóricos, processos de planejamento e gerenciamento e modelos de previsão. É no primeiro grupo que se encontram os modelos sistêmicos. Essa diversidade representa como a construção de um sistema é permeado pelas observações do pesquisador, que considera elementos diferentes como integrantes do sistema de turismo.

Molina (1991)Molina, E. S. (1991). Conceptualización del turismo. México-DF: Limusa. contempla a união do turismo, planejamento e meio-ambiente. Considera, em seu modelo, a infraestrutura, superestrutura, demanda, comunidade receptora, atrativos, equipamentos e instalações. A principal crítica em relação a essa organização recai no fato de manter o turista no centro e de não demonstrar como os subconjuntos se relacionam.

Acerenza (1994)Acerenza, M. A. (1994). Administração do Turismo. Bauru: Universidade do Sagrado Coração. defende que o sistema de turismo funciona a partir do turista, seu deslocamento e ponto de partida. Contempla os subconjuntos de transporte, alojamento, alimentação, lazer, estabelecimentos direta e indiretamente relacionados. Por considerar o turista como o principal componente para o funcionamento do sistema, explora, ainda, a temática do comportamento do consumidor.

O modelo de Mill e Morrison (1998)Mill, R., & Morrison, A. (1998). The Tourism System: an introductory text. Dubuque, IA: Kendell/Hunt Publishing CO. inclui as dimensões de mercado, viagens, destino e comércio, reforçando a interconexão entre eles, aspecto essencial para a satisfação dos visitantes. Assim como os outros modelos, sua ênfase recai na perspectiva econômica, ressaltando-a como a base para o sucesso do destino turístico.

Figura 2
Modelo do Sistema de Turismo SISTUR

Em território nacional destaca-se o sistema proposto por Beni (1990)Beni, M. C. (1990). Sistema de Turismo – SISTUR: estudo do turismo face à moderna teoria de sistemas. Revista Turismo em Análise . p. 15-34. https://doi.org/10.11606/issn.1984-4867.v1i1p15-34
https://doi.org/10.11606/issn.1984-4867....
, para quem a Teoria dos Sistemas tem como foco identificar os seus elementos com os respectivos atributos e as relações de causa e efeito. Reforça que, com a soma das partes, é possível obter um diagnóstico de todo o sistema turístico. Suas relações internas e externas a um sistema podem depender do sistema em si ou de seu ambiente, introduzindo a noção de regulação e de controle. Nesse sentido, deve apresentar uma real consolidação, ordenada e estruturada dos componentes do turismo, nomeado como SISTUR. Esse sistema contempla o conjunto das relações ecossistêmicas (ecológico, cultural, social, econômico), o conjunto das ações operacionais (mercado, distribuição, oferta, demanda), o conjunto da organização estrutural (com a infraestrutura e a superestrutura) (figura 2).

Como evidenciado, as publicações anteriores avançaram na compreensão do turismo sob a perspectiva sistêmica – não necessariamente usando a Teoria Geral dos Sistemas. O foco principal foi o econômico e a posição do turista como ator principal para o funcionamento do sistema turístico. Esses modelos serviram como base para diversos outros estudos, contribuindo para o desenvolvimento científico. Conhecê-los é essencial para compreender muitas discussões atuais – sobre a estruturação do turismo e sua organização, assim como a influência deles no processo de análise sobre as publicações acadêmicas do turismo. Mas, mais importante, é valorizar a base teórica desenvolvida por eles, permitindo que novos estudos aprofundassem a perspectiva sistêmica na área.

A partir de 2005 evidenciam-se modelos com diferentes enfoques como vantagem competitiva, hospitalidade, qualidade, entre outros (quadro 3). Esses estudos demonstram a ampliação dos estudos sobre o turismo e a necessidade de reavaliar os impactos gerados, assim como todos os atores envolvidos, com destaque para a comunidade local.

Quadro 3
As novas perspectivas sistêmicas nos estudos do turismo 2002- 2022

Martínez (2005)Martínez, A. J. J. (2005). Aproximação à Conceituação do Turismo a partir da Teoria Geral de Sistemas. In: Trigo, L. G. (ed.), Análises Regionais e Globais do Turismo Brasileiro. São Paulo: Roca, pp. 109–148. propõe que o sistema turístico necessita proporcionar condições satisfatórias para o deslocamento do turista, dividindo-o em escalas: subsistema, sistema, supersistema e hipersistema. O primeiro representa o impacto dos fluxos turísticos, o segundo o efeito dos fluxos turísticos nos recursos naturais e culturais e a percepção dos turistas. Já o terceiro contempla os efeitos da ação turística com o impacto nas comunidades locais, enquanto o quarto reconhece os impactos na sociedade global.

Prats, Guia e Molina (2008)Prats, L., Guia, J., & Molina, F. X. (2008). How tourism destinations evolve: the notion of Tourism Local Innovation System. Tourism and Hospitality Research, 8(3), p. 178-191. https://doi.org/10.1057/thr.2008.24
https://doi.org/10.1057/thr.2008.24...
desenvolvem a proposta de sistema como resultado da integração do aspecto territorial, ao fornecer elementos de aproximação e interação entre os atores e do capital social, cuja ênfase recai na estrutura de laços sociais que podem explicar aspectos de natureza competitiva em diversos cenários turísticos. Sua proposta é formada por quatro componentes. O primeiro envolve os agentes do turismo – públicos, privados, centros de pesquisa, comunidade local –, além de agentes auxiliares e externos. O segundo componente refere-se aos elementos relacionais – por relações estruturadas ou pela qualidade dos laços desenvolvidos. O terceiro componente é o macroambiente – em sua dimensão política, econômica, tecnológica, social, histórica. E o último componente representa o resultado, tendo como principal consequência o desenvolvimento de uma dinâmica capaz de inovar o sistema.

Hernández e Casimiro (2012)Hernández, J. M., & Casimiro, L. A. (2012). Simulation model for a joint mass/rural tourism system. Tourism and Hospitality Research, 12(1), p. 5–14. https://doi.org/10.1177/1467358411429525
https://doi.org/10.1177/1467358411429525...
trabalham com um sistema unificador de dois tipos de turismo: o rural e o massivo. O modelo parte da compreensão de que a chegada de turistas a um destino turístico depende de dois fatores: a quantidade de infraestrutura disponível e a qualidade ambiental dos arredores. Para o modelo, entende-se o potencial ambiental da região visitada e seus arredores, assim como reconhece os possíveis impactos que o turismo massivo pode provocar no espaço rural. A partir da análise pode-se destacar as medidas econômicas necessárias que o mercado deveria tomar para que o número de visitantes possa ser mantido/aumentado no futuro.

Velasquez e Oliveira (2018)Velasquez, G. G., & Oliveira, J. P. (2018). O sistema Flexível de Turismo: avanço na análise sistêmica de turismo. Revista Turismo Visão e Ação, 20(2), p. 343-360. https://doi.org/10.14210/rtva.v20n2.p343-360
https://doi.org/10.14210/rtva.v20n2.p343...
apresentam o Sistema Flexível de Turismo, que propicia a compreensão da complexidade e da dinâmica da atividade turística a partir da interconexão de elementos, forças ambientais; da mesma maneira, salientam a necessidade de transformação de determinadas forças ambientais em elementos e em ocasiões específicas. Consideraram o destino turístico a partir dos limites geográficos fronteiriços a ele imposto e definiram o turista como aquele elemento externo que, ao inserir-se no sistema, traz energia e serve de combustível para todas suas interconexões responsáveis por gerar a experiência, consumida por ele mesmo. O morador está presente em todas as camadas do sistema, mas pode-se observar que este não aparece com ênfase no sistema proposto.

Beni (2019)Beni, M. C. (2019). Análise estrutural do turismo. São Paulo: Senac. 15 ed. atualiza a sua proposta anterior, compreendendo o turismo como uma amálgama de tempo, espaço, diversão, economia, tecnologia, imaginário, comunicação, diversão, ideologia, hospitalidade – tendo o sujeito como protagonista, seja como produtor ou consumidor. A proposta atual considera o sistema como vivo, que se auto-organiza e realiza sua autoprodução e autoeco-organização.

Mendes, Cavenaghi e Marques (2021)Mendes, B. C., Cavenaghi, A. J., & Marques, R. B. (2021). Building hospitality institutionality in Campos do Jordão/Brazil, Current Issues in Tourism, 24(2), p. 264-278. https://doi.org/10.1080/13683500.2020.1713059
https://doi.org/10.1080/13683500.2020.17...
consideram a comunidade local como ponto central para discutir sobre a hospitalidade em espaços turísticos. Baseando-se na Teoria de Sistema Social de Niklas Luhmann, defendem que o capital cultural da comunidade local precisa ser reconhecido e valorizado, antes que ela esteja preparada para receber visitantes em seu espaço de morada. Esse sentimento, numa perspectiva autopoiética, irá provocar mudanças internas que possibilitarão o autorreconhecimento da comunidade como cidadã e responsável pela localidade. Assim, relações de hospitalidade serão estabelecidas, aspecto essencial para a efetivação das experiências de hospitalidade, o que pode se tornar um diferencial para o destino turístico (figura 3).

Figura 3
Modelo do Sistema Social de Hospitalidade

Os modelos apresentados nesse último quadro evidenciam a expansão dos estudos acadêmicos a partir de olhares complementares. Existem vários outros disponíveis para leitura, reforçando as diferentes abordagens utilizadas pela área – o que representa, ao mesmo tempo, um potencial de expansão e um dificultador de aprofundamento dos debates.

A demonstração dos principais estudos atrelados à perspectiva sistêmica do turismo é o primeiro passo para entender uma área que ainda avança teoricamente. Os modelos compartilham a preocupação de se estabelecer certa ordem para se entender o universo do turismo e sua complexidade. No início procuraram entender o turismo, enquanto na segunda etapa prevaleceu a análise econômica. Já na terceira análise, a expansão da interpretação sobre o turismo se evidencia, abrindo diversas portas para interpretação.

4 CONSIDERAÇÕES

Para que possamos aprimorar e atualizar o conhecimento, é preciso conhecer o que já foi pesquisado e os principais resultados conquistados. Diante de uma área de estudo tão ampla e complexa como o turismo, esse conhecimento é essencial para que possamos entender os aspectos teóricos utilizados nas análises acadêmicas e, assim, avançar. Para tal, é preciso organizar as principais obras, pontuando suas observações.

Com o objetivo de apresentar os principais modelos sistêmicos do turismo, seus elementos constituintes e seu processo de interação, a partir da perspectiva sistêmica, mapeou-se os principais autores que contribuíram com o desenvolvimento dessa perspectiva. Uma perspectiva cronológica foi construída, identificando três grupos: de 1960 a 1980, de 1981 a 2001 e de 2002 a 2022. A perspectiva sistêmica tem o potencial de atenuar a complexidade de determinado ambiente, contribuindo com a análise de resultados e ajustes necessários para a manutenção da atividade e, por isso, foi um dos caminhos escolhidos para se buscar entender o turismo e suas interfaces.

O primeiro período (1960 a 1980) pode ser considerado como o início do uso da perspectiva sistêmica para entender o turismo. As análises desenvolvidas foram amplas e sem seguir um único padrão de organização de informação, destacando-se uma ênfase no processo de comunicação. Entretanto, o grande destaque, Neil Leiper (1979)Leiper, N. (1979). The framework of tourism: towards a definition of tourism, tourist, and the tourist industry. In: Annals of Tourism Research, 6(4), p. 390-407. https://doi.org/10.1016/0160-7383(79)90003-3
https://doi.org/10.1016/0160-7383(79)900...
, abordou aspectos geográficos em sua proposta de sistema e por sua importância para os estudos posteriores, foi considerado como um marco final dos anos iniciais dos estudos sob essa perspectiva. O segundo período (1981 a 2001) representa o período com maior aprofundamento dos estudos, o que permitiu a construção de modelos mais detalhados – muitos a partir da Teoria Geral de Sistemas. O modelo de Mário Carlos Beni (1988) merece o destaque dessa fase, cuja perspectiva continua a ser utilizada até os dias atuais. O destaque nesse período recaiu na análise econômica do turismo, aspecto que começa a ser atenuado no terceiro período (2002 a 2022) com alguns autores que agregaram novas perspectivas, contemplando aspectos sociais, culturais e ambientais em seus estudos.

Porém, o aprofundamento da teoria sistêmica no turismo não para aqui. Esses modelos não fornecem uma compreensão completa e definitiva – até pelo processo de output e retroalimentação inerentes ao sistema. É preciso continuar a busca por compreender o turismo e suas interfaces, o que exige um embasamento teórico e prático. Há muito ainda a se pesquisar e ampliar a compreensão do turismo, sendo que a perspectiva sistêmica pode auxiliar nesse processo.

  • 1
    Conteúdo avaliado até março de 2022.

AGRADECIMENTOS

Por toda conversa, sugestões, apontamentos e ideias compartilhadas, agradeço à Mirian Rejowski, Airton José Cavenaghi e Roseane Barcellos Marques.

  • Como Citar: Mendes, B. C. (2022). A perspectiva sistêmica no estudo do turismo. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, São Paulo, 16, e-2615, 2022. https://doi.org/10.7784/rbtur.v16.2615

REFERÊNCIAS

  • Acerenza, M. A. (1994). Administração do Turismo Bauru: Universidade do Sagrado Coração.
  • Araújo, A. C. M., Gouveia, L. G. (2016). Uma revisão sobre os princípios da teoria geral de sistemas. Revista Estação Científica, 16, p. 1-14.
  • Beni, M. C. (1990). Sistema de Turismo – SISTUR: estudo do turismo face à moderna teoria de sistemas. Revista Turismo em Análise . p. 15-34. https://doi.org/10.11606/issn.1984-4867.v1i1p15-34
    » https://doi.org/10.11606/issn.1984-4867.v1i1p15-34
  • Beni, M. C. (1998). Análise estrutural do turismo São Paulo: Senac. 1 ed.
  • Beni, M. C. (2019). Análise estrutural do turismo São Paulo: Senac. 15 ed.
  • Beni, M. C., & Moesch, M. (2017). A teoria da complexidade e o ecossistema do turismo. Turismo – Visão e Ação, 19(3), p. 430-457. https://doi.org/10.14210/rtva.v19n3.p430-457
    » https://doi.org/10.14210/rtva.v19n3.p430-457
  • Boullón, R. C. (1985). Planificción Del Espacio Turístico México, Trillas.
  • Churchman, C. W. (2015). Introdução à teoria dos sistemas Rio de Janeiro: Vozes.
  • Cohen, E. (1984). The sociology of tourism: Approaches, issues and findings. Annual Review of Sociology, 10, p. 373–392. https://doi.org/10.1146/annurev.so.10.080184.002105
    » https://doi.org/10.1146/annurev.so.10.080184.002105
  • Cuervo, R. (1967). Estudios y Desarollo de las Zonas Turísticas. Cuadernos Técnicos de Turismo Instituto Mexicano de Ivestigaciones Turisticas. México.
  • Curvello, J. J. A., & Scroferneker, C. M. A. (2008). A comunicação e as organizações como sistemas complexos: uma análise a partir das perspectivas de Niklas Luhmann e Edgar Morin. Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação, 2(3). https://doi.org/10.30962/ec.307
    » https://doi.org/10.30962/ec.307
  • Fúster, L. F. (1975). Teoría y técnica del turismo 2 ed. Madri: Nacional.
  • Getz, D. (1986). Models in Tourism Planning: towards integration of theory and practice. Tourism Management, 7 (1), p. 21-36. https://doi.org/10.1016/0261-5177(86)90054-3
    » https://doi.org/10.1016/0261-5177(86)90054-3
  • Gomes, L. B., Bolze, S. D., Bueno, R. K., & Crepaldi M. A (2014). As origens do pensamento sistêmico: das partes para o todo. Pensando fam. 18(2).
  • Hernández, J. M., & Casimiro, L. A. (2012). Simulation model for a joint mass/rural tourism system. Tourism and Hospitality Research, 12(1), p. 5–14. https://doi.org/10.1177/1467358411429525
    » https://doi.org/10.1177/1467358411429525
  • Leiper, N. (1979). The framework of tourism: towards a definition of tourism, tourist, and the tourist industry. In: Annals of Tourism Research, 6(4), p. 390-407. https://doi.org/10.1016/0160-7383(79)90003-3
    » https://doi.org/10.1016/0160-7383(79)90003-3
  • Lohmann, G., & Panosso Netto, A. (2012). Teoria do turismo: conceitos, modelos e sistemas São Paulo: Aleph.
  • Machado, D. F. C., Gosling, M. A. (2009). Teoria Geral do Sistema na Ótica do Turismo: uma Revisão dos Modelos de Sistemas Turísticos. In: Seminário da Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo, 6., Universidade Anhembi Morumbi.
  • Martínez, A. J. J. (2005). Aproximação à Conceituação do Turismo a partir da Teoria Geral de Sistemas. In: Trigo, L. G. (ed.), Análises Regionais e Globais do Turismo Brasileiro. São Paulo: Roca, pp. 109–148.
  • Mathieson, A., & Wall, G. (1982). Tourism: Economic, physical, and social impacts London, New York: Longman.
  • Mendes, B. C., Cavenaghi, A. J., & Marques, R. B. (2021). Building hospitality institutionality in Campos do Jordão/Brazil, Current Issues in Tourism, 24(2), p. 264-278. https://doi.org/10.1080/13683500.2020.1713059
    » https://doi.org/10.1080/13683500.2020.1713059
  • Mill, R., & Morrison, A. (1998). The Tourism System: an introductory text. Dubuque, IA: Kendell/Hunt Publishing CO.
  • Molina, E. S. (1991). Conceptualización del turismo México-DF: Limusa.
  • Motta, F. C. P. (1971). A teoria geral dos sistemas na teoria das organizações. Revista Administração de Empresas. 11(1). https://doi.org/10.1590/S0034-75901971000100003
    » https://doi.org/10.1590/S0034-75901971000100003
  • Neves, C. E. B., & Neves, F. M. (2006). O que há de complexo no mundo complexo? Nilhas Luhmann e a Teoria dos Sistemas Sociais. Sociologias 15, p.182-207. https://doi.org/10.1590/S1517-45222006000100007
    » https://doi.org/10.1590/S1517-45222006000100007
  • North, D. (1993). The new institutional economics and development. http://www2.econ.iastate.edu/tesfatsi/NewInstE.North.pdf
    » http://www2.econ.iastate.edu/tesfatsi/NewInstE.North.pdf
  • Oliveira, J. P., & Portela, L. O. (2006). A cidade como um sistema: reflexões sobre a teoria geral de sistemas aplicado á análise urbana. Perspectivas contemporâneas . 1(2), p. 164-182.
  • Palhares, G. L., Panosso Netto, A. (2008). Teoria do Turismo: conceitos, modelos e sistemas. São Paulo: Aleph.
  • Panosso Netto, A. (2011). Filosofia do Turismo: teoria e epistemologia. 2 ed. São Paulo: Aleph.
  • Prats, L., Guia, J., & Molina, F. X. (2008). How tourism destinations evolve: the notion of Tourism Local Innovation System. Tourism and Hospitality Research, 8(3), p. 178-191. https://doi.org/10.1057/thr.2008.24
    » https://doi.org/10.1057/thr.2008.24
  • Sessa, A. (1988). The Sicence of Systems for Tourism Development. Annals of Tourism Research, 15, p. 219-235. https://doi.org/10.1016/0160-7383(88)90084-9
    » https://doi.org/10.1016/0160-7383(88)90084-9
  • Velasquez, G. G., & Oliveira, J. P. (2018). O sistema Flexível de Turismo: avanço na análise sistêmica de turismo. Revista Turismo Visão e Ação, 20(2), p. 343-360. https://doi.org/10.14210/rtva.v20n2.p343-360
    » https://doi.org/10.14210/rtva.v20n2.p343-360
  • Wahab, S. A. (1977). Introdução à administração do turismo São Paulo: Pioneira.

Editado por

Editores:

Mirian Rejowski;
Carlos Eduardo Silveira;
Rafaela Camara Malerba;
Glauber Eduardo de Oliveira Santos.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Mar 2023
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    21 Jan 2022
  • Aceito
    29 Jul 2022
Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo Rua Silveira Martins, 115 - cj. 71, Centro, Cep: 01019-000, Tel: 11 3105-5370 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: edrbtur@gmail.com