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“Incômodo e assustador”: visitação e experiência no Museu da Loucura de Barbacena - MG (Brasil)

“Uncomfortable and scary”: visitation and experience at the Museum of Madness in Barbacena - MG (Brazil)

“Incómodo y aterrador”: visitación y experiencia en el Museo de la Locura de Barbacena – MG (Brasil)

Resumo

Os museus viabilizam a democratização do acervo como um direito social, enquanto o turismo assume parte do diálogo da instituição com a sociedade. Alguns museus remetem as exibições de Dark Tourism e possuem o objetivo de conscientizar o público. Esta pesquisa objetivou analisar a experiência de visitação no Museu da Loucura de Barbacena – MG, bem como identificar os componentes característicos e marcantes. Mediante abordagem qualitativa e delineamento de pesquisa documental, trabalhou a partir da análise de conteúdo aplicada a comentários e fotografias compartilhados por usuários do TripAdvisor e Google Local Guides. Para refletir sobre a experiência, foram considerados elementos da experiência museológica propostos por Falk e Dierking (2016) e dimensões da experiência de Pine e Gilmore (2011). Os resultados apontam que o museu proporciona a transformação pessoal, o que influencia no desejo de mudanças sociais e políticas. Afirma-se que museu é apto a proporcionar experiências memoráveis, devido a identificação de componentes que se relacionam com todas as dimensões propostas na pesquisa. O estudo demonstra relevância ao apresentar resultados provenientes de duas plataformas de compartilhamento e duas fontes de dados. O estudo também identifica elementos similares entre ambas as experiências: transformação pessoal, preservação patrimonial, boca-a-boca eletrônico e temporalidade.

Palavras-chave
Dark Tourism; Museu; Experiência; Conteúdo Gerado pelo Usuário (CGU); Museu da Loucura – MG

Abstract

Museums enable the democratization of the collection as a social right, while tourism assumes part of the institution's dialogue with society. Some museums can be related to Dark Tourism exhibitions and those aim to raise public awareness. The objective of this study is to analyze the visitation experience at the Museu da Loucura de Barbacena – MG, as well as to identify the characteristic and outstanding components of the visitation. The research has a qualitative approach and documental research design, and applied the analysis of content in comments and photographs shared by users of TripAdvisor and Google Local Guides. Elements of the museological experience (proposed by Falk and Dierking, 2016) and dimensions of the visitor’s experience (by Pine and Gilmore, 2011) were considered to reflect about the visitor’s experience. As a result, the museum provides personal transformation, which influences the desire for social and political changes. The museum is able to provide memorable experiences, due to the identification of components that relate to all the dimensions proposed in the research. The study demonstrates relevance by presenting results from two sharing platforms and two data sources. The study presents elements that are similar in both experiences: personal transformation, heritage preservation, electronic word-of-mouth and temporality.

Keywords
Dark Tourism; Museum; Experience; User-Generated Content; Museum of Madness – MG

Resumen

Los museos viabilizan la democratización del acervo como un derecho social, mientras el turismo asume parte del diálogo de la institución con la sociedad. Algunos museos remeten las exhibiciones de Turismo oscuro y poseen el objetivo de concientizar el público. Esta investigación objetivó analizar la experiencia de visitación en el Museo de la Locura de Barbacena – MG, bien como identificar los componentes característicos y marcantes. Por medio de un abordaje cualitativo y delineamiento de investigación documental, trabajó a partir del análisis de contenido aplicado a comentarios y fotografías compartidos por usuarios del TripAdvisor y Google Local Guides. Para reflexionar sobre la experiencia, fueron considerados elementos de la experiencia museológica propuestos por Falk y Dierking (2016) y dimensiones de la experiencia de Pine y Gilmore (2011). Los resultados apuntan que el museo proporciona la transformación personal, lo que influye en el deseo de cambios sociales y políticos. Se afirma que el museo es apto a proporcionar experiencias memorables, en razón de la identificación de componentes que se relacionan con todas las dimensiones propuestas en la investigación. El estudio demuestra relevancia al presentar resultados provenientes de dos plataformas de compartimiento y dos fuentes de datos. El estudio aún identifica elementos similares entre ambas las experiencias: transformación personal, preservación patrimonial, boca en boca y temporalidad.

Palabras clave
“Turismo oscuro”; Museo; Experiencia; Contenido Generado por el Usuario (CGU); Museo de Locura – MG

1 INTRODUÇÃO

Locais relacionados a tragédias e mortes têm recebido atenção em estudos do turismo a partir do conceito de Dark Tourism (Stone, 2006Stone, P. R. (2006). A dark tourism spectrum: Towards a typology of death and macabre related tourist sites, attractions and exhibitions. Tourism: An International Interdisciplinary Journal, 54(2), p. 145-160. http://clok.uclan.ac.uk/27720/
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; Santos & Joaquim, 2018Santos, E., & Joaquim, G. (2018). Experiência Turística, Autenticidade e Dark Tourism: reflexões em torno da Área Metropolitana de Lisboa. X Congresso Português de Sociologia (1-17). Covilhã.; Zanirato, 2019Zanirato, S. H. (2019). Turismo em “patrimônios de sofrimento”: história e memórias. Revista Confluências Culturais, 8(2), p. 9-18. https://doi.org/10.21726/rcc.v8i2.178
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) ou Turismo Sombrio, segundo empregado na língua portuguesa. Observado como segmento, o Turismo Sombrio possui atrativos e serviços articulados por um suposto e aparente interesse mórbido, todavia há um reconhecimento crescente da sua relevância social porque também representa potencial de ser compreendido como uma forma inovadora e humana de visitação de espaços (Stone, 2006Stone, P. R. (2006). A dark tourism spectrum: Towards a typology of death and macabre related tourist sites, attractions and exhibitions. Tourism: An International Interdisciplinary Journal, 54(2), p. 145-160. http://clok.uclan.ac.uk/27720/
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; Santos & Joaquim, 2018Santos, E., & Joaquim, G. (2018). Experiência Turística, Autenticidade e Dark Tourism: reflexões em torno da Área Metropolitana de Lisboa. X Congresso Português de Sociologia (1-17). Covilhã.). Os locais sombrios são reconhecidos por estimular reflexões pessoais acerca da vida e da sociedade (Freire-Medeiros et al., 2012Freire-Medeiros, B., Vilarouca, M. G., & Menezes, P (2012). Gringos no Santa Marta: quem são, o que pensam e como avaliam a experiência turística na favela. In A. P. Santos, G. Marafon & M. J. G. Sant’anna (Org.). Rio de Janeiro: Um território em mutação (pp. 183-205). Gramma Livraria e Editora.; Pereira & Limberger, 2020Pereira, T., & Limberger, P. F. (2020). Turismo Cemiterial: um estudo sobre as experiências no cemitério da Consolação a partir do Tripadvisor. Revista Reuna, 25(1), p. 1-19. http://dx.doi.org/10.21714/2179-8834/2020v25n1p1-19
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). Ultrapassa, portanto, um mero apelo turístico da morbidez para uma perspectiva ampliada, em que se revelam contradições, fatos e dramas da história humana.

No âmbito museológico, o Museu de Memória emerge como um campo de ação patrimonial dedicado à compreensão das memórias difíceis, que busca intermediar reflexões sobre o passado e futuro da sociedade (Bezerra & Serres, 2015Bezerra, D. B., & Serres, J. C. P. (2015). A estetização política dos lugares de memória. Revista história, histórias, 3(6), p. 173-188. https://doi.org/10.26512/hh.v3i6.10915
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). Estes museus são dispositivos culturais de reparação social, que promovem o desenvolvimento da socialização e memória coletiva no local a partir da formação de consciência histórica e interpretação patrimonial (Nogueira, 2020Nogueira, C. G. (2020). Museu dos Direitos Humanos do Mercosul: Perspectivas e fronteiras no processo de criação de uma instituição cultural mercosulina. Revista Latino-Americana de Estudos em Cultura e Sociedade, 6(3), p. 1-16. https://doi.org/10.23899/relacult.v6i3.2026
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; Zanirato, 2019Zanirato, S. H. (2019). Turismo em “patrimônios de sofrimento”: história e memórias. Revista Confluências Culturais, 8(2), p. 9-18. https://doi.org/10.21726/rcc.v8i2.178
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).

Um desafio comum aos ambientes sombrios e de memória sensível corresponde aos meios pelos quais se efetivam o apelo turístico e para visitação. A banalização e a espetacularização dos locais assim como de episódios brutais são problemas indesejados e ameaçadores. Por isso, a necessidade de análise minuciosa a respeito dos recursos, estratégias e modelos de comunicação e comercialização destes locais tão singulares, pois há um inafastável estímulo na carga emocional dos visitantes, com impactos na visitação e possível repercussão social desta experiência (Bezerra & Serres, 2015Bezerra, D. B., & Serres, J. C. P. (2015). A estetização política dos lugares de memória. Revista história, histórias, 3(6), p. 173-188. https://doi.org/10.26512/hh.v3i6.10915
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; Zanirato, 2019Zanirato, S. H. (2019). Turismo em “patrimônios de sofrimento”: história e memórias. Revista Confluências Culturais, 8(2), p. 9-18. https://doi.org/10.21726/rcc.v8i2.178
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).

O Museu da Loucura de Barbacena, no estado de Minas Gerais, congrega aspectos ligados ao sombrio e memória sensível. Foi projetado para relembrar as ocorrências sociais da instituição psiquiátrica Hospital Colônia, fundada em 1903. Estima-se que cerca de 60 mil pessoas morreram neste local, em condições de fome, frio, doenças, lobotomias e eletrochoque (Arbex, 2012Arbex, D. (2012). Holocausto brasileiro. Intrinseca.). A proximidade temporal demonstra que os fatos são recentes, visto que o prédio começou a ser desativado somente em 1980 (Marzano, 2008Marzano, M. C. R (2008). Do Trem Dos Doidos Ao Memorial De Rosas: representações da loucura em Barbacena. [Dissertação de Mestrado não publicada]. Curso de Letras, Universidade Federal de São João Del-Rei.). O museu ocupa um dos prédios históricos do antigo Hospital Colônia, possui acesso gratuito e conta com um acervo de peças originais do Sanatório.

Este museu foi definido como objeto da pesquisa em razão das características históricas que o relacionam como atrativo do segmento de Turismo Sombrio e um bem e equipamento, no âmbito dos Museus de Memória. A importância nacional do museu é destacada por Borges (2012)Borges, V. T. (2012). A nossa sociedade produziu esse tipo de instituição: o Museu da Loucura e seu acervo. Casa Aberta Editora. e Arbex (2012)Arbex, D. (2012). Holocausto brasileiro. Intrinseca. que apontam a conivência do Estado, sociedade e comunidade acadêmica sobre o ocorrido e indicam que o museu expõe um fato pouco conhecido e potencializa o discurso de políticas públicas de saúde mental no país.

A investigação partiu da seguinte questão: como se apresenta a experiência de visitação no Museu da Loucura de Barbacena (MG) segundo relatos e fotografias compartilhados nos sites Google Local Guides e TripAdvisor? A pesquisa objetivou analisar a experiência de visitação neste museu. Objetivou também identificar os componentes marcantes e característicos da visitação e refletir sobre a experiência do visitante na perspectiva de interação entre experiência turística e experiência museológica.

Tratou-se de uma pesquisa documental, com abordagem qualitativa. A análise dos comentários e fotografias se efetivou com a Análise de Conteúdo (Bardin, 2011Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo. Edições 70.), mediante operacionalização de três Softwares: Webharvy, Iramuteq e MAXQDA1 1 O software Webharvy auxiliou na mineração dos dados das plataformas. O software Iramuteq permitiu analisar frequência de palavras e construções de vocabulário. O software MAXQDA auxiliou na codificação de características relevantes e organização de temas com ideias centrais compartilhadas. . Estes softwares são recomendados por possuir interface acessível e gratuita e proporcionar agilidade, eficiência e transparência no processo de análise de informações (Alonso et al., 2021Alonso, C., Brandão, C., & Gonçalves, S. (2021). Análise temática qualitativa com o apoio do MaxQda–O impacto da COVID-19 no setor da restauração. New Trends in Qualitative Research, 9(1), p. 312-319. https://doi.org/10.36367/ntqr.9.2021.312-319
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; Camargo & Justo, 2013Camargo, B. V., & Justo, A. M. (2013). Tutorial para uso do software de análise textual IRAMUTEQ. http://www.iramuteq.org/documentation/fichiers/tutoriel-en-portugais
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; Haddaway et al., 2015Haddaway, N. R., Collins, A. M., Coughlin, D., & Kirk, S. (2015). The role of Google Scholar in evidence reviews and its applicability to grey literature searching. PloS one, 10(9), p. 1-17. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0138237
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; Nascimento et al., 2019Nascimento, F. B. D., Flores, L. C. D. S., & Limberger, P. F. (2019). Análise do posicionamento dos restaurantes de São Paulo estrelados pelo guia Michelin com base nas On-line Travel Reviews (OTRS). Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, 13(2), p. 1-15.; Souza et al., 2018Souza, M. A. R. D., Wall, M. L., Thuler, A. C. D. M. C., Lowen, I. M. V., & Peres, A. M. (2018). O uso do software IRAMUTEQ na análise de dados em pesquisas qualitativas. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 52(1), p. 1-7. https://doi.org/10.1590/S1980-220X2017015003353
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).

Optou-se pela Análise do Conteúdo Gerado pelo Usuário (CGU) porque este recurso tem sido reconhecido por conter informações que auxiliam no monitoramento da qualidade do serviço, indicar particularidades do público e influenciar no processo de decisão do visitante (Medeiros et al., 2018Medeiros, M., Nascimento, D. S. C., Ferreira, L. V. F., & Dantas, A. S. (2018). Imagen del destino Natal, Brasil: un análisis a partir del contenido generado por los usuarios en Tripadvisor. Estudios y perspectivas en turismo, 27(3), p. 533-549. https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=6491081
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; Souza & Machado, 2017Souza, S. C., & Machado, D. F. C. (2017). Uso e influência das mídias sociais no planejamento de viagens: Um estudo quantitativo. Revista Turismo em Análise, 28(2), p. 254-270. https://doi.org/10.11606/issn.1984-4867.v28i2p254-270
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).

A análise da experiência dos visitantes exigiu conceitos trabalhados no campo do turismo e da museologia, o que possibilitou identificar características complementares e específicas de visitação de um público abrangente no museu (Gonçalves, 2015Gonçalves, A. (2015). A experiência turística e os museus a Sul. In Centro de Estudos em Património, Paisagem e Construção (Ed). Fragmentos para a História do Turismo no Algarve, (pp. 41-63). Universidade do Algarve.). A Experiência Turística foi analisada, sobretudo, a partir de Pine e Gilmore (2011)Pine, B. J., & Gilmore, J. H. (2011). The experience economy. Harvard Business Press. e a Experiência Museológica a partir de Falk e Dierking (2016)Falk, J. H., & Dierking, L. D. (2016). The museum experience revisited. Routledge..

Os resultados demonstram que a visitação no Museu da Loucura (MG) proporciona uma experiência memorável ao visitante. A contribuição teórica parte da identificação de quatro elementos similares entre a experiência turística e museológica: boca-a-boca eletrônico, temporalidade, preservação patrimonial e transformação pessoal. A pesquisa tem potencial colaboração teórica a partir do seu recorte particular na relação entre turismo e museus, visto que as exibições de Dark Tourism e os Museus de Memória Sensível possuem o mesmo objetivo de conscientização do público. Para fins práticos e gerenciais de instituições museológicas, a pesquisa fornece uma representação visual que auxilia na compreensão dos componentes e dimensões que atuam como marcantes na experiência do visitante.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Turismo e Museus

A relação entre turismo e museus é dinâmica e tende a atingir bons resultados, se equilibrada. O turismo emerge como um desafio para os museus, visto que atrai um público com diferentes motivações e pode ocasionar o aumento desenfreado do fluxo de visitantes, sem considerar o impacto social da instituição (Gonçalves, 2015Gonçalves, A. (2015). A experiência turística e os museus a Sul. In Centro de Estudos em Património, Paisagem e Construção (Ed). Fragmentos para a História do Turismo no Algarve, (pp. 41-63). Universidade do Algarve.; Borges & Almeida, 2016Borges, J. P. de A., & Almeida, M. M. (2016). Turismo e museus locais: Desafios e inovações contemporâneas. In T. P. Ribeiro, R. V. Ferreira, A. A. Alcântara, F. Coelhoso, N. Abranja, & A. R. Marques (Eds.), Produtos, Mercados e Destinos Turísticos (pp. 396–426). Edições Pedago.). Simultaneamente, o turismo atua como um agente de intercâmbio cultural e assume parte do diálogo entre a sociedade e a instituição, responsável pela atração de público e divulgação do local (Borges & Almeida, 2016Borges, J. P. de A., & Almeida, M. M. (2016). Turismo e museus locais: Desafios e inovações contemporâneas. In T. P. Ribeiro, R. V. Ferreira, A. A. Alcântara, F. Coelhoso, N. Abranja, & A. R. Marques (Eds.), Produtos, Mercados e Destinos Turísticos (pp. 396–426). Edições Pedago.). Por este motivo a relação entre turismo e museus auxilia na preservação patrimonial e possibilita o acesso à informação, a revitalização de saberes tradicionais e valorização da identidade local (Borges & Almeida, 2016Borges, J. P. de A., & Almeida, M. M. (2016). Turismo e museus locais: Desafios e inovações contemporâneas. In T. P. Ribeiro, R. V. Ferreira, A. A. Alcântara, F. Coelhoso, N. Abranja, & A. R. Marques (Eds.), Produtos, Mercados e Destinos Turísticos (pp. 396–426). Edições Pedago.; Gonçalves, 2015Gonçalves, A. (2015). A experiência turística e os museus a Sul. In Centro de Estudos em Património, Paisagem e Construção (Ed). Fragmentos para a História do Turismo no Algarve, (pp. 41-63). Universidade do Algarve.).

Segundo a UNESCO (2020)UNESCO (2020). COVID-19: UNESCO e ICOM preocupados com a situação enfrentada pelos museus do mundo. https://pt.unesco.org/news/covid-19-unesco-e-icom-preocupados-com-situacao-enfrentada-pelos-museus-do-mundo
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o interesse de visitantes por instituições museológicas se intensificou, acompanhando o crescimento de 60% no número de museus no mundo desde 2012. Entretanto, com a crise sanitária ocasionada pela pandemia do Covid-19, estima-se que 90% dos museus do mundo fecharam por tempo indeterminado e mais de 10% podem não reabrir (UNWTO, 2021UNWTO (2021). Tourism and COVID-19-unprecedented economic impacts. https://www.unwto.org/tourism-and-covid-19-unprecedented-economic-impacts
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). Avalia-se que essa situação tende a ser amenizada mediante estímulo da presença das instituições no meio digital (UNESCO, 2020UNESCO (2020). COVID-19: UNESCO e ICOM preocupados com a situação enfrentada pelos museus do mundo. https://pt.unesco.org/news/covid-19-unesco-e-icom-preocupados-com-situacao-enfrentada-pelos-museus-do-mundo
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; UNWTO, 2021UNWTO (2021). Tourism and COVID-19-unprecedented economic impacts. https://www.unwto.org/tourism-and-covid-19-unprecedented-economic-impacts
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).

De acordo com Vasconcellos (2006)Vasconcellos, C. M (2006). Turismo e Museus. Aleph., o processo de construção da instituição museológica começou na Antiguidade Clássica, estimulado pelo interesse de comprazimento de divindades. Fernandes (2019)Fernandes, E. M. S (2019). Linhas Gerais de Gestão Museológica. Citalia restauro. indica que somente em 1683 foi criado o primeiro museu com a finalidade de educar o público. Mais tarde, segundo a autora, os Iluministas fortaleceram a ideia de museu como uma instituição cultural, pública e educativa.

Desta forma, os museus extraíram duas vertentes de apresentação: o poder da memória e a memória do poder. Os museus que celebram a memória do poder favorecem classes sociais privilegiadas, ao passo que possuem acervos que se baseiam em uma realidade etnocêntrica, monológica e concentrados em espaços pouco democráticos (Chagas, 1999Chagas, M. (1999). Há uma gota de sangue em cada museu: a ótica museológica de Mário de Andrade. Cadernos de Sociomuseologia, 13 (13), p. 1-134. https://revistas.ulusofona.pt/index.php/cadernosociomuseologia/issue/view/30
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). É necessário a exaltação do poder da memória, para que a instituição esteja a serviço da sociedade, como um direito de cidadania.

A abertura da instituição e a comunicação social permitiram aos museus passassem a atrair um público diversificado. Ademais, o Grand Tour e a Revolução Industrial alteraram concepções e padrões de acesso as instituições museológicas, que gradativamente passaram a ser alvos de objetivos de crescimento pessoal e lazer da população, respectivamente (Cisne & Gastal, 2010Cisne, R., & Gastal, S. (2010). Turismo e sua história: rediscutindo periodizações. Anais do VI Seminário de Pesquisa em Turismo do Mercosul. Caxias do Sul-RS.; Vasconcellos, 2006Vasconcellos, C. M (2006). Turismo e Museus. Aleph.). A aproximação entre práticas turísticas e museus contribuiu para o aumento do público nessas instituições, maior dinamismo socioeconômico e uma valorização do tema patrimonial (Gonçalves, 2015Gonçalves, A. (2015). A experiência turística e os museus a Sul. In Centro de Estudos em Património, Paisagem e Construção (Ed). Fragmentos para a História do Turismo no Algarve, (pp. 41-63). Universidade do Algarve.).

Chagas e Pires (2018)Chagas, M. D. S., & Pires, V. S. (2018). Território, museus e sociedade: práticas, poéticas e políticas na contemporaneidade. UNIRIO. indicam que a mudança principal da museologia “tradicional” para a “nova” museologia se concentrou no reconhecimento da função social do museu, representada em um ternário: sociedade, território e patrimônio. Os três vértices do ternário estão interligados e viabilizam a exposição do acervo e democratização do saber como um direito social (Chagas & Pires, 2018Chagas, M. D. S., & Pires, V. S. (2018). Território, museus e sociedade: práticas, poéticas e políticas na contemporaneidade. UNIRIO.; Poulot, 2013Poulot, D. (2013). Museu e museologia. Autêntica.).

Os recursos interpretativos emergiram como tendência e ferramenta para melhoria da comunicação e serviço prestado, redefinindo a interpretação da informação e o entendimento da relevância da mediação (Pimentel, 2018Pimentel, A. F. (2018). Os museus e o turismo. Forças, oportunidades, fraquezas e ameaças. Revista de Museus-RM, 1(1), pp. 98-111. http://hdl.handle.net/10316/85056
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; Piñol, 2011Piñol, C. M. (2011). Estudio analítico descriptivo de los centros de interpretación patrimonial en España. [Tese de Doutorado]. Curso de Didàctica de Les Ciències Socials, Universitat de Barcelona. https://www.tdx.cat/handle/10803/38355
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). Para Felicidade e Silva (2020)Felicidade, L. A., & da Silva, E. L. (2020). Experiência turística em cidades Patrimônio da Humanidade: a interpretação patrimonial e estudo de satisfação do turista cultural em Diamantina/Minas Gerais. In C. H. Henriques (Ed.). Turismo e História–Perspectivas sobre o Patrimônio da Humanidade no Espaço Ibero-Americano, p. 173-198. Educs., a mediação adequada entre o patrimônio cultural e o turismo promove qualidade na experiência turística e permite a interação do visitante, mediante estratégias lúdicas e estímulo de sensações, conhecimentos e curiosidade.

Com o interesse de promover o desenvolvimento econômico e contribuir para a valorização da cultura, os museus foram incorporados como atrativos turísticos ligados ao Turismo Cultural (Godoy & Morettoni, 2017Godoy, K. E., Morettoni, M. M. (2017). Aumento de público em museus: a visitação turística como realidade controversa. Caderno Virtual de Turismo, 17(2), p. 133-147. http://dx.doi.org/10.18472/cvt.17n2.2017.1163
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). Vasconcellos (2006, p. 38)Vasconcellos, C. M (2006). Turismo e Museus. Aleph. afirma que museus como o Louvre em Paris e Metropolitan em Nova York se tornaram referências obrigatórias para visitação, porque representam um troféu de viagem, em que pese o fato de que nem sempre os turistas observam o acervo e exibições detalhadamente. Richards (2009, p. 25)Richards, G. (2009) Turismo Cultural: Padrões e implicações. In Camargo, P., Cruz, G. (eds) Turismo Cultural: Estrategias, sustentabilidade e tendencias. UESC. também considera que o turismo proporcionou visitantes com motivações diferentes das motivações culturais, os definiu como “turistas culturais por acidente”, citando como exemplo o caso de quem visita museus em dias de chuva, quando passeios ao ar livre se mostram desfavoráveis.

2.2 Visitação, Experiência Turística e Experiência Museológica

O tema da visitação e experiência é pesquisado com intensidade no âmbito do turismo por conter um modelo de comunicação próprio e compreender um modo de gestão (Vergopoulos, 2016Vergopoulos, H. (2016). The tourist experience: an experience of the frameworks of the tourist experience? Tourism Review, 10(1), p. 1-14. https://doi.org/10.4000/viatourism.1352
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). Pesquisas anteriores indicam que o contexto de visitação, a atribuição de significados aos estímulos experenciais e as características específicas do destino impactam a experiência do visitante e promovem novos insights sobre o tema (Pedro, 2021Pedro, R. M. M. (2021). Sentidos das Emoções e das Memórias na Experiência Turística: Uma Revisão. Rosa Dos Ventos, 13(2), p. 538-563. http://dx.doi.org/10.18226/21789061.v13i2p538
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; Rasoolimanesh, et al., 2021Rasoolimanesh, S. M., Seyfi, S., Rather, R. A., & Hall, C. M. (2021). Investigating the mediating role of visitor satisfaction in the relationship between memorable tourism experiences and behavioral intentions in heritage tourism context. Tourism Review, 77(2), p. 687-709. https://doi.org/10.1108/TR-02-2021-0086
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). A capacidade de evidenciar novos componentes de visitação a partir de diferentes contextos afirma a necessidade de estudo constante e valida a multiplicidade de abordagens e enfoques para as pesquisas sobre experiência.

Estudos de Coelho e Gosling (2019)Coelho, M. F., & Gosling, M. S. (2019). Uma Revisão sobre Estudos de Experiência Turística (2005-2016). Caderno Virtual de Turismo, 19(2), p. 1-16. http://dx.doi.org/10.18472/cvt.19n2.2019.1485
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e Rasoolimanesh et al. (2021)Rasoolimanesh, S. M., Seyfi, S., Rather, R. A., & Hall, C. M. (2021). Investigating the mediating role of visitor satisfaction in the relationship between memorable tourism experiences and behavioral intentions in heritage tourism context. Tourism Review, 77(2), p. 687-709. https://doi.org/10.1108/TR-02-2021-0086
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falam de lacunas e pesquisa de experiência turística no que tange ao conhecimento de particularidades no setor museológico, especialmente relações entre experiência e transformação pessoal e impacto das dimensões e componentes da experiência turística memorável em turistas culturais.

Na concepção antropológica, a experiência turística é como um ritual. Segundo Pezzi e Santos (2012)Pezzi, E., & Santos, R. J. (2012). A experiência turística e o turismo de experiência: aproximações entre a antropologia e o marketing. In Anais do VII Seminário de pesquisa em turismo do Mercosul (pp. 1-13). Caxias do Sul., baseados na obra de Turner (1982), este ritual possui três estágios: separação ou ruptura, liminaridade e reincorporação. O estágio da separação ou ruptura consiste no afastamento do sujeito do que lhe é cotidiano, a partir do encontro com o desconhecido. O estágio da liminaridade é ambíguo e indeterminado, no qual há a evasão das classificações que normalmente determinam o sujeito. O terceiro estágio é a reincorporação, no qual o sujeito se reencontra consigo mesmo e é reintegrado no cotidiano com novas perspectivas.

Com relação as experiências, Pine e Gilmore (2011)Pine, B. J., & Gilmore, J. H. (2011). The experience economy. Harvard Business Press. definem que ofertar experiências não é entreter um público, e sim engajá-lo na visitação. Nesta condição, os autores definiram dimensões da experiência: entretenimento, evasão, estética e aprendizagem. A dimensão de entretenimento refere-se à ação de ocupar a atenção de uma pessoa. A dimensão de evasão exige mais imersão que experiências de entretenimento, na qual as pessoas se tornam atores da experiência e são capazes de afetar o desempenho real. A dimensão de aprendizagem visa informar as pessoas e aumentar seus conhecimentos ou habilidades. Por fim, a dimensão estética corresponde a observação, na qual o visitante se encontra imerso no ambiente visitado.

Falk e Dierking (2016)Falk, J. H., & Dierking, L. D. (2016). The museum experience revisited. Routledge. definem que a experiência museológica envolve três domínios: físico, pessoal e sociocultural. O primeiro abrange aspectos físicos de museus, incluindo a arquitetura, objetos, ambiente, cheiros e sons. O domínio pessoal inclui as interações sociais durante a visitação, como as companhias, os atendentes, outros visitantes e demais funcionários. O domínio pessoal refere-se a ideia de que toda pessoa que descreve as memórias de uma visita ao museu promove insights do seu contexto pessoal, como conhecimentos prévios, sensações, motivações e identidade.

Tanto a experiência turística, quanto a experiência museológica possuem o envolvimento do presente, passado e futuro. Pezzi e Santos (2012)Pezzi, E., & Santos, R. J. (2012). A experiência turística e o turismo de experiência: aproximações entre a antropologia e o marketing. In Anais do VII Seminário de pesquisa em turismo do Mercosul (pp. 1-13). Caxias do Sul. afirmam que o que difere a “mera” experiência de “uma” experiência é a capacidade de desprender da temporalidade cronológica. Os autores indicam que a temporalidade remete a ideia de que o visitante deve estar em constante reflexão, mesmo após o fim da visita, período em que continua a experienciar, a recordar e a reviver o passado.

Coelho e Gosling (2019)Coelho, M. F., & Gosling, M. S. (2019). Uma Revisão sobre Estudos de Experiência Turística (2005-2016). Caderno Virtual de Turismo, 19(2), p. 1-16. http://dx.doi.org/10.18472/cvt.19n2.2019.1485
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indicam que a abordagem da experiência como um processo transformador apresenta-se de modo recente e tímido nos estudos da experiência turística. De acordo com as autoras, este processo promove “alterações em algum nível no aprendizado, comportamento, estilo de vida, padrões de consumo, qualidade de vida e bem-estar” (Coelho, Gosling, 2019Coelho, M. F., & Gosling, M. S. (2019). Uma Revisão sobre Estudos de Experiência Turística (2005-2016). Caderno Virtual de Turismo, 19(2), p. 1-16. http://dx.doi.org/10.18472/cvt.19n2.2019.1485
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, p. 10).

A transformação pessoal é um resultado almejado em ambas as experiências. Falk e Dierking (2016)Falk, J. H., & Dierking, L. D. (2016). The museum experience revisited. Routledge. entendem que a visita a uma instituição museológica induz a reflexões. A partir destas reflexões, o visitante é motivado a aplicar os conhecimentos adquiridos durante a visita em sua vida pessoal, no ambiente sociocultural e nas dimensões físicas da sua sociedade. A transformação pessoal também contribui para o desenvolvimento de uma experiência turística memorável, visto que instiga a atribuição de significados do visitante para a experiência vivenciada (Coelho & Gosling, 2020Coelho, M. F., & Gosling, M. S. (2020). The essence of memorable experience. In S. K. Dixit (Ed.). The Routledge Handbook of Tourism Experience Management and Marketing (pp. 88-98). Routledge.).

Fatores que interferem na experiência turística e museológica do visitante são variáveis. Estudos apontam que a propensão ao retorno e a recomendação são consequências da experiência positiva do visitante (Cruz & Freitas, 2021Cruz, F. M. D. S., & Freitas, A. A. F. D. (2021). Me senti em casa: análise das revisões de experiências de hospedagem colaborativa no site Airbnb sob o prisma da confiança. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, 15(3), p. 1-17. https://doi.org/10.7784/rbtur.v15i3.2026
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), as quais influenciam o visitante a avaliar atrativos e estabelecimentos ligados ao turismo em plataformas de compartilhamento (Silva et al., 2021Silva, E. M., Freitas, G. A. D., & Rebouças, S. M. D. P. (2021). Qualidade dos meios de hospedagem cearenses: Um estudo baseado nas avaliações do consumidor evidenciadas no site TripAdvisor. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, 15 (3), p. 1-21. https://doi.org/10.7784/rbtur.v15i3.2011
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).

2.3 Conteúdo Gerado pelo Usuário (CGU)

As experiências de visitação em atrativos turísticos são compartilhadas em redes sociais e plataformas de avaliação, gerando informações que podem ser denominadas como Conteúdo Gerado pelos Usuários (CGU). Este conteúdo é cada dia mais valorizado, entretanto encontra-se disperso em uma variedade de domínios, comentários e postagens, o que dificulta sua captura e análise (Buhalis, 2019Buhalis, D. (2019). Technology in tourism-from information communication technologies to eTourism and smart tourism towards ambient intelligence tourism: a perspective article. Tourism Review, 75(1), p. 267–272. https://doi.org/10.1108/TR-06-2019-0258
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).

Medeiros et al. (2018)Medeiros, M., Nascimento, D. S. C., Ferreira, L. V. F., & Dantas, A. S. (2018). Imagen del destino Natal, Brasil: un análisis a partir del contenido generado por los usuarios en Tripadvisor. Estudios y perspectivas en turismo, 27(3), p. 533-549. https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=6491081
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indicam que a gestão dos dados encontrados em ambiente virtual produz inovação nos serviços e cria uma rede de Network entre fornecedores, intermediários, setor público e consumidores. Por compreender informações qualitativas e quantitativas relacionadas a oferta e demanda do setor, o CGU emerge como fonte de dados relevante para a comunidade acadêmica, empreendedores e visitantes em potencial (UNWTO, 2021UNWTO (2021). Tourism and COVID-19-unprecedented economic impacts. https://www.unwto.org/tourism-and-covid-19-unprecedented-economic-impacts
https://www.unwto.org/tourism-and-covid-...
; Pereira & Limberger, 2020Pereira, T., & Limberger, P. F. (2020). Turismo Cemiterial: um estudo sobre as experiências no cemitério da Consolação a partir do Tripadvisor. Revista Reuna, 25(1), p. 1-19. http://dx.doi.org/10.21714/2179-8834/2020v25n1p1-19
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; Silva et al., 2021Silva, E. M., Freitas, G. A. D., & Rebouças, S. M. D. P. (2021). Qualidade dos meios de hospedagem cearenses: Um estudo baseado nas avaliações do consumidor evidenciadas no site TripAdvisor. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, 15 (3), p. 1-21. https://doi.org/10.7784/rbtur.v15i3.2011
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).

Dinis et al. (2016)Dinis, G., Costa, C., & Pacheco, O. (2016). Os canais de marketing digital no processo de tomada de decisão de compra em turismo. International Business and Economics Review: Revista Internacional de Gestão e Comunicação, 7(1), p. 49-61. http://hdl.handle.net/10437/8027
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afirmam que os turistas recorrem à internet em todo o processo da viagem, desde o planejamento até a avaliação da visita. Para os autores, redes sociais, e-mails, motores de pesquisas e anúncios pagos são elementos que influenciam no processo de compra dos usuários. Da mesma forma, Souza e Machado (2017)Souza, S. C., & Machado, D. F. C. (2017). Uso e influência das mídias sociais no planejamento de viagens: Um estudo quantitativo. Revista Turismo em Análise, 28(2), p. 254-270. https://doi.org/10.11606/issn.1984-4867.v28i2p254-270
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demonstram que turistas utilizam redes sociais em três momentos: pré-viagem, durante a viagem e pós viagem. Na pré-viagem o turista obtém consciência do produto ou serviço. Durante a viagem, o turista busca informações sobre atrações disponíveis no local através da internet. Após a viagem, o turista utiliza as redes sociais para compartilhar a experiência com amigos e usuários interessados.

Com relação a última fase de utilização das redes sociais, os visitantes refletem sobre a experiência vivenciada e compartilham informações que consideram relevantes em redes sociais e plataformas de compartilhamento. Neste momento, Cechinel e Santos (2018)Cechinel, E., & Santos, A. R. (2018). Comi, Gostei e Postei: Tripadvisor e Experiências Marcantes em Restaurantes. Rosa dos Ventos - Turismo e Hospitalidade, 10(3), p. 538-557. http://doi.org/10.18226/21789061.v10i3p538
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indicam que o boca-a-boca eletrônico (Bab-e) emerge como a modalidade em que uma comunicação informal fornece um comentário positivo ou negativo sobre um produto ou empresa.

Entre os elementos que influenciam nesta avaliação, o ambiente, os serviços oferecidos e as interações humanas contribuem para a recomendação do local (Cechinel & Santos, 2018Cechinel, E., & Santos, A. R. (2018). Comi, Gostei e Postei: Tripadvisor e Experiências Marcantes em Restaurantes. Rosa dos Ventos - Turismo e Hospitalidade, 10(3), p. 538-557. http://doi.org/10.18226/21789061.v10i3p538
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). Por este motivo, analisar CGU que resulta da visitação em locais com cargas emocionais intensas pode ser um desafio, visto que a atmosfera do local também interfere na percepção do visitante (Lozano & Malerba, 2017Lozano, Z. M., & Malerba, R. C. (2017). Turismo sombrio: análise da satisfação dos visitantes do Museu Estatal Auschwitz-Bierkenau com base em avaliações online. Revista Turismo & Desenvolvimento, 2(27/28), pp. 475-477. https://doi.org/10.34624/rtd.v2i27/28.20996
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).

3 ESTRATÉGIAS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A investigação caracterizou-se pela abordagem qualitativa e delineamento de pesquisa documental. A abordagem qualitativa corresponde a processo de interpretação e compreensão, cuja realidade é múltipla e subjetiva, construída a partir das percepções dos sujeitos (Araújo et al., 2017Araújo, C. M. D., Oliveira, M. C. S. L. D., & Rossato, M. (2018). O sujeito na pesquisa qualitativa: desafios da investigação dos processos de desenvolvimento. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 33(1), p. 1-7. https://doi.org/10.1590/0102.3772e33316
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; Patias & Hohendorff, 2019Patias, N. D., & Hohendorff, J. V. (2019). Critérios de qualidade para artigos de pesquisa qualitativa. Psicologia em estudo, 24(2), p. 1-14. https://doi.org/10.4025/psicolestud.v24i0.43536
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). Sobre o interesse da pesquisa qualitativa nos sujeitos e suas subjetividades, Bauer e Gaskell (2017) indicam que as escolhas teóricas, metodológicas e éticas demandam precisão no alinhamento dos objetivos da pesquisa, visto que influenciam na relação entre pesquisador e participante, assim como na compreensão da realidade. Araújo et al. (2017)Araújo, C. M. D., Oliveira, M. C. S. L. D., & Rossato, M. (2018). O sujeito na pesquisa qualitativa: desafios da investigação dos processos de desenvolvimento. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 33(1), p. 1-7. https://doi.org/10.1590/0102.3772e33316
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apontam que este alinhamento é um desafio, pois as metodologias das pesquisas qualitativas consideram a dinamicidade, evolução constante e complexidade do sujeito social.

A pesquisa documental é frequente em investigações científicas qualitativas (Nunes et al., 2020Nunes, D. B., Simeão, E., & Pereira, O. (2020) A prática da pesquisa documental em Psicologia. Revista Ibero-Americana de Ciência da Informação, 13(1), p. 339–359. https://doi.org/10.26512/rici.v13.n1.2020.29608
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; Proetti, 2018Proetti, S. (2018). As pesquisas qualitativa e quantitativa como métodos de investigação científica: Um estudo comparativo e objetivo. Revista Lumen, 2(4), p. 1-23. http://dx.doi.org/10.32459/revistalumen.v2i4.60
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) sendo reconhecida como recurso para diversas frentes de produção de conhecimento em temas relacionados ao turismo (Costa et al. 2018Costa, W. F., Tito, A. L. A., Brumatti, P. N. M., & Alexandre, M. L. O. (2018). Uso de instrumentos de coleta de dados em pesquisa qualitativa: um estudo em produções científicas de turismo . Turismo-Visão e Ação, 20(1), p. 02-28. https://www.redalyc.org/journal/2610/261058528001/movil/
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). Neste contexto, a investigação optou pela análise a partir de comentários e fotografias, devido à possibilidade múltipla de combinações acerca dos registros e testemunhos (Nunes et al., 2020Nunes, D. B., Simeão, E., & Pereira, O. (2020) A prática da pesquisa documental em Psicologia. Revista Ibero-Americana de Ciência da Informação, 13(1), p. 339–359. https://doi.org/10.26512/rici.v13.n1.2020.29608
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).

3.1 Coleta e tratamento de dados

A investigação considerou dados de CGU como fonte, nomeadamente comentários e fotografias compartilhados por usuários. Optou-se pelo uso de fotografias pois estas representam acontecimentos reais e desempenham papel relevante no processo da visitação, razão pela qual são aceitas para interpretação e resolução de questões teóricas, abstratas e práticas (Donaire & Galí, 2011Donaire, J. A., & Galí, N. (2011). La imagen turística de Barcelona en la comunidad de flickr. Cuadernos de turismo, 27(1), p. 291-303. https://revistas.um.es/turismo/article/view/139961
https://revistas.um.es/turismo/article/v...
; Oliveira & Frossard, 2017Oliveira, G. C. D., & Frossard, M. S. (2017). A sociedade do espetáculo e o ato de fotografar nas viagens. PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 15(1), p. 261-272. http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=88149387016
http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=88...
). Comentários possuem dados qualiquantitativos e informações socioculturais que contribuem para a análise do público e reflexão científica (Medeiros et al., 2018Medeiros, M., Nascimento, D. S. C., Ferreira, L. V. F., & Dantas, A. S. (2018). Imagen del destino Natal, Brasil: un análisis a partir del contenido generado por los usuarios en Tripadvisor. Estudios y perspectivas en turismo, 27(3), p. 533-549. https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=6491081
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; Schoab et al., 2020)

As plataformas escolhidas foram o TripAdvisor e o Google Local Guides. A escolha destas plataformas deriva da sua relevância no meio digital. O TripAdvisor possui 859 milhões de avaliações e opiniões sobre 8,6 milhões de acomodações, restaurantes, experiências, companhias aéreas e cruzeiros, recebendo visualização de mais de 463 milhões de viajantes todos os meses (Tripadvisor, 2019Tripadvisor (2019). Sobre o Tripadvisor. https://tripadvisor.mediaroom.com/br-about-us
https://tripadvisor.mediaroom.com/br-abo...
). Já o Google Local Guides é uma ferramenta de cartografia digital colaborativa. É considerado uma das maiores iniciativas de mapeamento científico, contabilizando aproximadamente 50 milhões de voluntários, em 2017, ano de lançamento da ferramenta (Mazumdar et al., 2018Mazumdar, S., Ceccaroni, L., Piera, J., Hölker, F., Berre, A., Arlinghaus, R., & Bowser, A. (2018). Citizen science technologies and new opportunities for participation. In S. Hecker, M. Haklay, A. Bowser, Z. Makuch, J. Vogel & A. Bonn. (eds.) Citizen Science - Innovation in Open Science, Society and Policy (pp. 303-320). UCL Press.).

3.1.1 Comentários

Em sua área virtual, o Museu da Loucura, no Google Local Guides possuía 848 avaliações registradas até o dia 03/08/2020, distribuídas entre os anos 2017 a 2020. Destas avaliações, 436 estavam tipificadas com registro de textos, as demais somente como atribuição de nota. O TripAdvisor dispunha de 159 avaliações, no período entre outubro de 2013 a abril de 2020, nas quais todas contavam com textos. O conjunto final totalizou 595 avaliações, todas consideradas apropriadas para análise.

A extração das plataformas mencionadas seguiu a técnica de mineração de dados da web denominada como Scraping. O procedimento realizou-se com o auxílio do Software Webharvy, indicado por Marres e Weltevrede (2012)Marres, N., & Weltevrede, E. (2012). Scraping the social? Issues in real-time research. Journal of Cultural Economy, 6(3), pp. 313-335. https://doi.org/10.1080/17530350.2013.772070
https://doi.org/10.1080/17530350.2013.77...
e Haddaway et al. (2015)Haddaway, N. R., Collins, A. M., Coughlin, D., & Kirk, S. (2015). The role of Google Scholar in evidence reviews and its applicability to grey literature searching. PloS one, 10(9), p. 1-17. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0138237
https://doi.org/10.1371/journal.pone.013...
por gerenciar informações em tempo real, possuir interface acessível e gratuita, proporcionar transparência e eficiência e facilitar a organização das informações.

Em um primeiro momento de análise, dedicada à identificação dos temas recorrentes em cada plataforma, os comentários minerados foram operacionalizados no Software Iramuteq, versão 0.7 alpha 2, com o auxílio do software R versão 3.6.1. O software Iramuteq atua como ferramenta de apoio no processamento de dados das pesquisas qualitativas, auxilia na organização e separação de informações e proporciona agilidade e eficiência no processo de codificação (Camargo & Justo, 2013Camargo, B. V., & Justo, A. M. (2013). Tutorial para uso do software de análise textual IRAMUTEQ. http://www.iramuteq.org/documentation/fichiers/tutoriel-en-portugais
http://www.iramuteq.org/documentation/fi...
; Nascimento et al., 2019Nascimento, F. B. D., Flores, L. C. D. S., & Limberger, P. F. (2019). Análise do posicionamento dos restaurantes de São Paulo estrelados pelo guia Michelin com base nas On-line Travel Reviews (OTRS). Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, 13(2), p. 1-15.; Souza et al., 2018Souza, M. A. R. D., Wall, M. L., Thuler, A. C. D. M. C., Lowen, I. M. V., & Peres, A. M. (2018). O uso do software IRAMUTEQ na análise de dados em pesquisas qualitativas. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 52(1), p. 1-7. https://doi.org/10.1590/S1980-220X2017015003353
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).

O segundo momento de análise, dedicado à codificação e categorização, foi desenvolvido com auxílio do software MAXQDA versão 2020. Este software é recomendado por Alonso et al., (2021)Alonso, C., Brandão, C., & Gonçalves, S. (2021). Análise temática qualitativa com o apoio do MaxQda–O impacto da COVID-19 no setor da restauração. New Trends in Qualitative Research, 9(1), p. 312-319. https://doi.org/10.36367/ntqr.9.2021.312-319
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por possuir uma interface que auxilia nas tarefas de identificação, análise e interpretação de padrões. O processo consistiu em identificar códigos com características relevantes e organizá-los em temas com uma ideia central compartilhada.

3.2.2 Fotografias

Foram levantadas 110 fotografias no site TripAdvisor, postadas até o dia 10 de outubro de 2020. A somatória de fotografias compartilhadas nos comentários do Google Local Guides totalizou 311 fotografias, postadas até o dia 20 de outubro de 2020.

Para viabilizar a exploração e codificação de dados, informações como endereço URL da imagem, data de postagem e origem de compartilhamento foram dispostos em uma planilha do Excel. Fotografias que não pertenciam ao local indicado ou de conteúdo repetido pelo mesmo usuário foram desconsideradas, o que resultou em 379 fotografias analisadas. Das fotografias compartilhadas na plataforma Google Local Guides, 15 não contemplam o Museu da Loucura e 27 eram repetidas. Não foram detectadas fotografias com estas características na plataforma TripAdvisor.

3.3 Análise e interpretação

A processo de análise e interpretação de dados se efetivou com a Análise de Conteúdo - AC (Bardin, 2011Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo. Edições 70.), seguindo caminhos distintos para comentários e fotografias, todavia, equivalentes e coerentes com as técnicas da AC, aplicada para interpretação de informações através de palavras, imagens e textos (Sampaio et al., 2021Sampaio, R. C., Lycarião, D., Codato, A., Marioto, D., Bittencourt, M., & Nichols, B. (2021). Uma técnica parada no tempo? Mapeamento da produção científica baseada em análise de conteúdo na SciELO Brasil (2002-2019). SciELO Preprints. https://doi.org/10.1590/SciELOPreprints.1913
https://doi.org/10.1590/SciELOPreprints....
; Silva & Fossá, 2015Silva, A. H., & Fossá, M. I. T. (2015). Análise de conteúdo: exemplo de aplicação da técnica para análise de dados qualitativos. Qualitas Revista Eletrônica, 17(1), p. 1-14. https://doi.org/10.18391/qualitas.v16i1.2113
https://doi.org/10.18391/qualitas.v16i1....
). A análise foi composta das seguintes fases: exploração, codificação, categorização e interpretação.

Em relação aos comentários, na fase de exploração, mediante leitura flutuante do conjunto para conhecimento do material, considerou-se a estratégia de análise em duas etapas, complementares entre si. A primeira dedicada à identificação dos temas recorrentes em cada plataforma, a segunda para compreender a influência dos elementos na experiência do visitante e identificação dos componentes característicos e marcantes.

Na codificação, a unidade de registro da análise foi determinada por trechos que caracterizam o mesmo tema. Os temas foram escolhidos a priori e se orientam no ternário museológico: Sociedade, Território e Patrimônio (Chagas & Pires, 2018Chagas, M. D. S., & Pires, V. S. (2018). Território, museus e sociedade: práticas, poéticas e políticas na contemporaneidade. UNIRIO.). Determinadas unidades de registro exigiram um quarto tema, denominado como Boca-a-boca Eletrônico.

As fotografias foram analisadas a partir de uma técnica proposta por Donaire e Gali (2011)Donaire, J. A., & Galí, N. (2011). La imagen turística de Barcelona en la comunidad de flickr. Cuadernos de turismo, 27(1), p. 291-303. https://revistas.um.es/turismo/article/view/139961
https://revistas.um.es/turismo/article/v...
, adaptada e ampliada, mediante complementação de tópicos de análise relacionados com o objeto e presentes no referencial teórico. O Quadro 1 sintetiza a análise de fotografias derivadas de visitação em instituições museológicas.

Quadro 1
Temas para análise de fotografias

As estratégias e procedimentos descritos permitiram a identificação dos componentes característicos e marcantes da visitação. Os componentes, assim como a reflexão sobre a experiência do visitante, são expostos a seguir.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Os componentes característicos e marcantes da visitação

Os comentários minerados foram organizados em um conjunto de textos e operacionalizados no Software Iramuteq. A operacionalização possibilitou a identificação dos temas recorrentes em cada plataforma e componentes marcantes da visitação.

O Método da Classificação Hierárquica Descendente (CHD) do Iramuteq apresenta a partição do conjunto de textos e a geração de classes com vocabulários semelhantes entre si (Salviati, 2017). O Software também indica termos recorrentes e gera uma representação gráfica de palavras que se relacionam.

No caso do TripAdvisor, foram analisados 159 textos que foram divididos em 228 segmentos de textos. Destes 228 segmentos, 198 foram classificados, possibilitando uma retenção de 86,84% do corpus. A operacionalização apresentou 4 classes estáveis: a classe 1, denominada como Recomendação (26,8%), a classe 2, denominada como Reflexões (19,7%), a classe 3, denominada como Acervo em Exposição (28,3%) e a classe 4, denominada como Avaliação (25,2%) (Figura 2).

Figura 2
Filograma: comentários do Google Local Guides

As Classes 1 e 4, denominadas respectivamente como Recomendação e Avaliação, possuem semelhanças por retratarem a fase final da visitação. Na Classe 1, os visitantes expõem a opinião acerca dos públicos recomendados para a visitação do local e indicam recursos audiovisuais complementares ao tema do museu. Na Classe 4 são exaltados os elementos positivos da avaliação da visita, tais quais a gratuidade e o atendimento.

Figura 1
Filograma - comentários do TripAdvisor

As Classes 2 e 3, denominadas respectivamente como Reflexões e Acervo em Exposição, expressam a opinião dos visitantes no âmbito do fato histórico ou dos objetos do acervo que auxiliam na conscientização sobre o tema. Os comentários da Classe 2 exprimem o incômodo dos visitantes com relação aos familiares das vítimas e sociedade pela exclusão destes indivíduos. A classe 3 agrupa comentários que afirmam que os objetos em exposição são agentes transformadores dos visitantes e facilitam a compreensão sobre os métodos de tratamentos das doenças mentais adotados na época em que o hospital esteve ativo.

Com relação aos comentários do Google Local Guides, foram analisados 357 textos, que continham 6.836 verbetes e que foram divididos em 400 segmentos de textos. Destes 400 segmentos, 367 foram classificados, possibilitando uma retenção de 91,75% do corpus. Este corpus foi dividido em 5 classes estáveis (Figura 3): classe 1, denominada Aprendizagem (27,5%); classe 2, denominada Entretenimento (23,7%); classe 3, denominada Atendimento e Acesso (18,5%); classe 4, denominada Temporalidade (18,3%); e classe 5, denominada Acervo em Exposição (12%).

Figura 3
Framework - componentes e dimensões da experiência

A classe 1, denominada Aprendizagem, abrange comentários que percorrem reflexões sobre os conhecimentos adquiridos pelo público na visita e demonstram a empatia dos visitantes com os indivíduos que vivenciaram o período em que o hospital esteve em funcionamento, o que é entendido como Aprendizagem. A Classe 4, denominada Temporalidade, indica que o museu é reconhecido como um elo entre o passado e futuro, pois preserva a história e fornece informações para reflexões e discursos de mudança para o futuro.

As classes 2 e 3 são as classes mais semelhantes entre si, denominadas respectivamente como Entretenimento e Atendimento e Acesso. Isto ocorre, pois, as duas classes relatam sobre a avaliação da visita. Na Classe 2, são citadas as características de entretenimento da visita e afirma-se que a visita é recomendada. Já na Classe 3, os visitantes indicam que os fatores de acesso e atendimento são essenciais para a boa avaliação do local.

Por fim, a Classe 5, denominada como Acervo em Exposição, é a classe de menor representação do corpus. Esta classe engloba os comentários que afirmam que os objetos em exposição são capazes de ampliar sensações, contribuem para o impacto emocional dos visitantes e agregam valor à visitação, nomeadamente valor histórico.

Para complementar a análise da visitação e experiência no Museu da Loucura, optou-se por analisar as fotografias compartilhadas pelos visitantes. A análise das fotografias permitiu identificar características específicas da visitação, enquadradas em três temas: sociedade, patrimônio e território.

Os registros que priorizam o enquadramento fotográfico de detalhes dos objetos em exposição foram analisados no tema Patrimônio, no qual verificou-se uma representação constante de elementos do acervo diretamente ligados com a morte. Registrados sob diferentes ângulos, as imagens indicam uma observação atenta dos visitantes sobre os recursos disponíveis, bem como suas funções. Estes objetos são os equipamentos de eletrochoque e o crânio humano.

No entanto, fotografias humanizadas também foram identificadas e analisadas na pesquisa, relacionadas ao tema Sociedade. No museu, as fotografias em grupo são preferencialmente registradas em frente a fachada do prédio, enquanto as fotografias individuais são registradas em salas de exposição. Isto ocorre, pois, a fachada do museu atua como um marco do local e possibilita um enquadramento maior para o registro. Já as salas de exposição evidenciam o tema da exposição e são registradas em conjunto dos objetos que os visitantes julgam marcantes para sua experiência.

O tema território é caracterizado pelo ambiente e espaço físico do museu. Neste tema, a fachada do museu é registrada com frequência devido a suas características arquitetônicas históricas que destoam de um entorno modernizado.

A relação da análise de comentários e fotografias possibilitou um conjunto articulado de componentes da visitação no Museu da Loucura, conforme sintetiza o Quadro 2.

Quadro 2
Componentes característicos e marcantes da visitação

A análise dos comentários permitiu identificar que a maioria do público do Museu da Loucura é local, caracterizado majoritariamente por moradores de Barbacena e cidades vizinhas. Apesar de não identificar impacto de visitação de outras regiões do país nas fontes de dados, o Museu da Loucura é um atrativo turístico com potencial nacional por representar a Luta Antimanicomial e a Reforma Psiquiátrica no Brasil. A inclusão de relatos de moradores e visitantes locais na análise de comentários permitiu a identificação de componentes de visitação que não foram identificados na análise de relatos de turistas, tais quais: memórias de infância e sentimento de pertencimento à cidade.

4.2 Experiência turística

A reflexão da experiência turística partiu da representação de quatro dimensões: entretenimento, evasão, aprendizagem e estética (Pine & Gilmore, 2011Pine, B. J., & Gilmore, J. H. (2011). The experience economy. Harvard Business Press.). Na análise de comentários e fotografias do Museu da Loucura, identificaram-se elementos relacionados a todas as dimensões citadas.

Quanto à dimensão do entretenimento, verificou-se um conjunto das representações que lhe firmam como um sítio de memória sensível, capaz de estimular as contradições emocionais próprias desses ambientes. O museu é utilizado em momentos de lazer dos visitantes, o que conduz a uma indicação de sentimentos opostos, sensações desiguais e inquietantes. Uma das dificuldades é tratar desse estilo de experiência, simultaneamente próxima e distante. Próxima porque decorre da visita em si ao local do fato que sustenta a concretude do sítio; distante porque a cronologia é imperativa, opera como um bloqueio instransponível à vivencia dos fatos e acontecimentos que renderam a imagem do apelo inicial.

No caso da visitação e da experiência turística há um componente a mais no adensamento da questão. O entretenimento, marcante e presente nas dinâmicas do turismo, mostra-se impertinente a este tipo de ambiente, visto mais como educativo do que lúdico. A visitação no Museu da Loucura, embora seja realizada no período de lazer, nomeadamente hedonístico, introduz outros ângulos típicos dos sítios sensíveis:

Quem disse que todos os locais devem apenas causar apenas sensações de bem-estar? O Museu da Loucura é excelente justamente pelo contrário: causa desconforto e embrulha o estômago, mas cumpre seu papel de não se fazer perder na história um trágico momento do cuidado e tratamento da saúde mental no Brasil

(Google Local Guides, nº 178).

A dimensão de evasão está ligada a autenticidade e a sensação de estar em um local denso do ponto de vista histórico e de acontecimentos incomuns e apelativos. Visitantes indicam que estes componentes influenciaram na experiência vivenciada: “Ver a história de um local, no local, é impactante” (Google Local Guides, nº 363) e “Seria interessante, se não fosse real e horripilante o que aconteceu naquele local. É um lugar com uma energia péssima, onde eu jamais quero voltar” (Tripadvisor, nº 19). Trata-se de evidências de que o museu comunica características que atendem a sua função.

Na dimensão de aprendizagem, a curadoria é apresentada como fator de relevância para a experiência do visitante. Aspectos como sonorização, linha do tempo dos acontecimentos e a riqueza de informações presentes no acervo são motivos de recomendação do Museu da Loucura. A sonorização busca estimular os sentidos dos visitantes, inferindo novos conhecimentos e atraindo a atenção do público. Já a linha do tempo, respeita uma ordem cronológica dos fatos e estimula a compreensão articulada do assunto em questão.

A aprendizagem também está relacionada ao uso de painéis interpretativos. Os painéis apresentam informações de fácil compreendimento para o público:

Cortar o branco: o cérebro é composto de dois tipos de massa: cinzenta e branca. A massa cinzenta inclui os neurônios. A massa branca compreende as fibras nervosas, que ligam as áreas da massa cinzenta e conduzem as mensagens entre elas através de impulsos elétricos. Então, uma lobotomia era feita para separar a massa branca entre as diferentes áreas da massa cinzenta. Outro nome para a lobotomia é leucotomia, ou ‘cortar o branco’

(Museu da Loucura, 2017).

Neste painel não são utilizados termos científicos ou mencionadas etapas cirúrgicas do procedimento. No caso do Museu da Loucura isto é especialmente relevante porque o tema central é da área da saúde, com conceitos distantes do cotidiano de maior parte da população e que necessitam de uma tradução eficaz. Sendo assim, a linguagem utilizada pela instituição integra diferentes públicos, ampliando a divulgação para a população em geral.

A arquitetura e a edificação são os principais fundamentos da dimensão estética. A plasticidade arquitetônica da fachada atua como um cenário típico de “foto troféu”, utilizada para comprovar a visitação. Para Oliveira e Frossard (2017)Oliveira, G. C. D., & Frossard, M. S. (2017). A sociedade do espetáculo e o ato de fotografar nas viagens. PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 15(1), p. 261-272. http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=88149387016
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, a fotografia é responsável por “imortalizar” os sentimentos vividos, o que envolve naturalmente a ancoragem dos sentimentos aos ambientes de apoio e registro. Ao mesmo tempo, os autores indicam que a fotografia é utilizada como troféu, uma comprovação de visitação do indivíduo, também revelador de significados atribuídos ao local por meio da imagem.

4.3 A Experiência Museológica

Por compreender um ambiente múltiplo, o museu também proporciona uma experiência museológica que apresenta similaridades com a experiência turística e recorrências de comentários. A Experiência Museológica apresenta três domínios básicos: aspectos físicos, socioculturais e pessoais (Falk & Dierking, 2016Falk, J. H., & Dierking, L. D. (2016). The museum experience revisited. Routledge.). Nesta análise, percebe-se que as relações interpessoais e reflexões individuais estão presentes na experiência do visitante.

Com relação ao domínio Físico, um componente que foi identificado como marcante tanto em comentários, como em fotografias, são os objetos do acervo em exposição. O Museu da Loucura apresenta cenários que alinham objetos do acervo em exposição e fotografias antigas dos pacientes ou instituição. A articulação dos objetos, fotografias e textos interpretativos, concebe um cenário de imersão no tema, valorizando o acervo e possibilitando a reflexão. Este fato corresponde as novas formas de apresentação do acervo: “as obras expostas nos museus atuais, quando pretendem prender a atenção do espectador, transformam suas peças em interativas e atrativas ao olhar - e à câmera” (Dogo, 2015Dogo, G. (2015). O jornalismo cultural e o espetáculo dos museus no século XXI. Anais do III Seminário Comunicação, Cultura e Sociedade Do Espetáculo. Faculdade Cásper Líbero., p. 10).

Com relação a categoria Pessoal, foram identificadas “selfies” dos visitantes em diferentes cenários do museu. Nessas fotografias, o visitante é apresentado em primeiro plano e o acervo em exposição é apresentado ao fundo. O registro destas fotografias é discutido na literatura do Dark Tourism, na qual são apontados os aspectos de vaidade, superficialidade e narcisismo dos usuários. Estas fotografias são caracterizadas como uma ferramenta utilizada para ganhar visualizações na internet através de acontecimentos desagradáveis e indicam que a sociedade está presenciando um fenômeno novo, no qual a tecnologia diminui a representação e a curadoria da memória de locais como estes (Hodalska, 2017Hodalska, M. (2017). Selfies at horror sites: Dark tourism, ghoulish souvenirs and digital narcissism. Zeszyty Prasoznawcze, 2(230), pp. 405-423. https://doi.org/10.4467/22996362PZ.17.026.7306
https://doi.org/10.4467/22996362PZ.17.02...
; Zalewska, 2017Zalewska, M. (2017). Selfies from Auschwitz: Rethinking the relationship between spaces of memory and places of commemoration in the digital age. Studies in Russian, Eurasian and Central European New Media, 18(1), p. 95-116. https://www.digitalicons.org/wp-content/uploads/2018/06/DI18_6_Zalewska.pdf
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).

Ambiguidades foram identificadas nas reflexões dos visitantes que exprimiam o sentimento de empatia, sendo representadas pelos seguintes comentários: a) “Um ser humano não merece, em nenhuma situação, o tratamento recebido por aqueles” (Google Local Guides, nº 140); e b) “Médicos desumanos, deveriam ser torturados como torturaram os que ali estavam. Pois, eles sim, pela tamanha crueldade, eram psicopatas e mereciam.” (Google Local Guides, nº 121).

Os trechos citados representam os sentimentos opostos que a visitação pode proporcionar aos visitantes. Em um primeiro momento, os indivíduos podem desenvolver o sentimento de empatia pelo próximo e desejar que as ações cometidas no passado não sejam repetidas em um futuro. Para outros visitantes, a visitação desenvolve a ideia de proporcionar justiça às vítimas, recriando a situação ocorrida com os opressores. Isto indica que as individualidades dos visitantes, tais quais vivências, aspectos socioculturais e emoções, provocam respostas opostas diante de um mesmo estímulo.

Com relação ao aspecto Sociocultural da Experiência Museológica, compreende-se que o comportamento durante a visitação influencia na absorção de conhecimento: “Pelas avaliações anteriores, algumas pessoas visitam o local, mas nada entenderam. Pelo comportamento dos visitantes, que tive a infelicidade de presenciar, não é de se esperar outra coisa” (Tripadvisor, nº 7)”. Comentários como este indicam a necessidade da mediação para que a visitação atue em prol da aprendizagem e desenvolvimento da empatia.

4.4 Aproximações entre Experiência Turística e Museológica

O turismo representa parte do intercâmbio cultural da instituição museológica e sociedade, o que fortalece a preservação patrimonial por meio da comunicação e divulgação da informação (Borges & Almeida, 2016Borges, J. P. de A., & Almeida, M. M. (2016). Turismo e museus locais: Desafios e inovações contemporâneas. In T. P. Ribeiro, R. V. Ferreira, A. A. Alcântara, F. Coelhoso, N. Abranja, & A. R. Marques (Eds.), Produtos, Mercados e Destinos Turísticos (pp. 396–426). Edições Pedago.). Neste aspecto, identificou-se que o museu é um marco histórico da cidade na qual está instalado, por atuar em memória aos internos do Hospital Colônia e preservar a história dos procedimentos médicos utilizados na época. A investigação demonstra que o museu é considerado um marco turístico, por comunicar e interpretar os fatos para visitantes de outras regiões. Isto demonstra a importância da instituição para ambas as áreas e para a sociedade na qual está abrigado.

Os visitantes manifestam a importância do museu no contexto nacional: “As políticas públicas de saúde ditadas por governantes norteavam não só este ‘manicômio’, mas vários outros no Brasil e no mundo” (Tripadvisor, nº 159). Este reconhecimento nacional está interligado com a crítica ao governo e a evolução das políticas públicas de saúde do país.

O museu foi estabelecido como um marco turístico devido os seguintes fatores identificados nos comentários: o museu localiza-se em trajetos para cidades vizinhas, está inserido em rotas turísticas da região e é considerado um elemento de visita obrigatória em Barbacena. O título de visitação obrigatória pode ser identificado nos trechos: “Ir em Barbacena e não passar no Museu da Loucura é como nunca ter ido em Barbacena” (Google Local Guides, nº 217) e “O Museu da Loucura é um dos melhores pontos turísticos pra se visitar em Barbacena” (Tripadvisor, nº 78). Isto ocorre devido ao museu contemplar parte da construção da identidade local e desenvolvimento territorial, o que o torna intrínseco na paisagem urbana de Barbacena.

A transformação pessoal ocorre tanto na experiência turística, quanto na experiência museológica, e o visitante que vivencia essa dimensão está mais propenso a desfrutar de uma experiência memorável. No âmbito dos comentários que indicavam um choque de realidade, os visitantes afirmam que conhecer a verdade é como um “soco no estômago” (Google Local Guides, nº 119) que auxilia no desejo de efetivar mudanças: “Devemos nos chocar com a realidade para colocar seguirmos produzir mudanças. [...] É incômodo e assustador. Repensamos nossa vida” (Google Local Guides, nº 86). Isto indica que o desenvolvimento de sensações negativas nos visitantes não induz necessariamente a uma avaliação negativa da experiência, mas sim, contribui para o desdobramento da transformação pessoal individual ao final da experiência.

Pesquisas semelhantes revelam que atrativos de Turismo Sombrio permitem a reflexão social e estimulam a transformação pessoal do visitante. Freire-Medeiros et al. (2012)Freire-Medeiros, B., Vilarouca, M. G., & Menezes, P (2012). Gringos no Santa Marta: quem são, o que pensam e como avaliam a experiência turística na favela. In A. P. Santos, G. Marafon & M. J. G. Sant’anna (Org.). Rio de Janeiro: Um território em mutação (pp. 183-205). Gramma Livraria e Editora., que discutem sobre a experiência na favela Santa Marta, afirmam que a visitação permitiu que a imagem da favela como um ambiente de pobreza e violência fosse substituída por uma imagem positiva. Pereira e Limberger (2020)Pereira, T., & Limberger, P. F. (2020). Turismo Cemiterial: um estudo sobre as experiências no cemitério da Consolação a partir do Tripadvisor. Revista Reuna, 25(1), p. 1-19. http://dx.doi.org/10.21714/2179-8834/2020v25n1p1-19
https://doi.org/10.21714/2179-8834/2020v...
examinaram a experiência do turismo em cemitérios e concluíram que a visita ao cemitério não é guiada pela morbidez, mas pelo âmbito cultural, artístico e educativo.

As experiências em museus, apesar de ocorrerem em um período de tempo específico e limitado, proporcionam o escapismo e abstração temporal nos visitantes. A temporalidade no Museu da Loucura é representada em passagens a este estilo: “Foi uma experiência muito forte, você se sente lá na época em que o lugar estava ativo” (Google Local Guides, nº 69) e “[...] Foi como um mergulho ao passado não tão distante e um reconhecimento de como a humanidade é frágil” (Tripadvisor, nº 48). A capacidade de evocar o passado parte, em sua maioria, da exposição de fotografias e objetos do Hospital Colônia. Isto ocorre, pois, estes componentes solidificam as condições da época no imaginário do visitante, conectam a história com o presente e induzem a pensar nas ações do futuro.

Os comentários elucidam que o Museu da Loucura possui a capacidade de desprender o pensamento do visitante por um período de tempo. Este deslocamento temporal imaginário auxilia para que a dimensão de entretenimento seja contemplada, ao passo que o visitante está absorto durante a experiência. Chagas (2011, p. 7)Chagas, M. S. (2011). Museus, memórias e movimentos sociais. Cadernos de sociomuseologia, 41(41), pp. 5-16. https://revistas.ulusofona.pt/index.php/cadernosociomuseologia/article/view/2654
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afirma que os museus são como uma nave, a qual: “promove deslocamentos imaginários e memoráveis no rio da memória e do tempo”. O sentimento de deslocamento imaginário condiz com a atribuição dos museus como mediadores entre o passado e o presente, garantindo a continuidade dos aspectos identitários através do tempo.

Por fim, a articulação entre o aporte conceitual, teórico e os resultados da investigação sobre o Museu da Loucura, considerando (i) os componentes identificados na análise das fotografias e comentários dos visitantes, (ii) a interpretação de aspectos da experiência turística e museológica, possibilita expressar como síntese o seguinte framework (Figura 4).

A relação dos componentes com as dimensões evidencia que o Museu da Loucura de Barbacena é representado tanto em imagens como nos comentários que caracterizam CGU de modo a demonstrar ser um local de experiências memoráveis. Isto ocorre, pois, uma experiência memorável estima a surpresa e oferece uma nova dimensão de experiência inesperada (Pine & Gilmore, 2011Pine, B. J., & Gilmore, J. H. (2011). The experience economy. Harvard Business Press.).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os objetivos da presente pesquisa foram concretizados a partir da identificação dos componentes que atuam como marcantes e característicos da visitação. O estudo proporcionou compreensão da experiência de visitação a partir da reflexão em âmbito museológico e turístico.

A reflexão da experiência é resultado da convergência dos apontamentos de Pine e Gilmore (2011)Pine, B. J., & Gilmore, J. H. (2011). The experience economy. Harvard Business Press., que representaram as dimensões da experiência turística, e de Falk e Dierking (2016)Falk, J. H., & Dierking, L. D. (2016). The museum experience revisited. Routledge., que representaram as dimensões da experiência museológica. A partir dos apontamentos e da reflexão teórica, o estudo caracterizou mais quatro dimensões similares entre as experiências citadas, sendo elas: transformação pessoal, preservação patrimonial, boca-a-boca eletrônico e temporalidade.

Neste sentido, entende-se que o estudo é relevante para a afirmação da complexidade e compatibilidade da relação entre turismo e museus, na medida que aponta as semelhanças no processo de experiência de visitação. A relevância pode ser destacada a partir de dois argumentos.

O primeiro argumento tange a reflexão de que o turismo colabora na comunicação entre a sociedade e o museu, o que facilita o desenvolvimento das funções sociais da instituição. No âmbito do Museu da Loucura, esta comunicação auxilia no resgate da história nacional, ao representar e divulgar os acontecimentos do local para um público mais amplo. Este resgate possibilita a divulgação da informação e a transformação pessoal do visitante, o que influencia no desejo de mudanças sociais e de políticas públicas de saúde mental no país.

O segundo argumento consiste em afirmar que o público do Museu da Loucura é heterogêneo, pois compreende a comunidade local, turistas e comunidade acadêmica. Neste estudo, o desenvolvimento do framework permitiu visualizar as diferentes dimensões e componentes que influenciam na experiência do público do museu de modo dinâmico. Por recorrer a duas frentes de reflexão, a museológica e a turística, o framework é qualificado para atender um público com diferentes motivações de visitação.

Apesar de o modelo sugerir uma equidade das dimensões propostas, percebe-se que as instituições museológicas exigem ênfase em determinadas dimensões de acordo com sua tipologia de acervo e exposição. Entretanto, é recomendado que as demais dimensões sejam contempladas para que a expectativa seja superada e a experiência do visitante seja memorável.

A partir destes argumentos, avalia-se que o Museu da Loucura de Barbacena é apto a proporcionar experiências memoráveis, devido a identificação de componentes em comentários e fotografias que se relacionam com todas as dimensões propostas na pesquisa.

A pesquisa também demonstra relevância ao apresentar resultados provenientes de duas plataformas de compartilhamento, o TripAdvisor e o Google Local Guides. De acordo com a análise, considerou-se que os comentários da plataforma TripAdvisor possuem maior conteúdo ligado as características do turismo no local. A pesquisa também utilizou duas fontes de dados, as fotografias e os comentários. Observa-se que as fotografias representam os componentes marcantes visuais e relevam as características estéticas do local, atuando como complementares as informações registradas nos comentários compartilhados.

Como limitação, sustenta-se que o estudo foi condicionado a obter dados em plataformas virtuais devido as condições adversas decorrentes da eclosão da pandemia de COVID-19. Observa-se que outras metodologias, tais quais a pesquisa de campo, entrevistas e questionários, acarretariam em resultados distintos e complementares dos atuais. Ainda assim, as fontes selecionadas para o recolhimento de dados julgaram-se eficientes para o desenvolvimento dos objetivos da pesquisa.

  • 1
    O software Webharvy auxiliou na mineração dos dados das plataformas. O software Iramuteq permitiu analisar frequência de palavras e construções de vocabulário. O software MAXQDA auxiliou na codificação de características relevantes e organização de temas com ideias centrais compartilhadas.
  • Como Citar: Pinheiro, A. L.; Chemin, M. (2022). “Incômodo e assustador”: visitação e experiência no Museu da Loucura de Barbacena - MG (Brasil). Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, São Paulo, 16, e-2634, 2022. https://doi.org/10.7784/rbtur.v16.2634

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Editado por

Editor:

Leandro B. Brusadin.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Mar 2023
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    03 Mar 2022
  • Aceito
    17 Maio 2022
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