Acessibilidade / Reportar erro

Mercado das viagens para concursos públicos no Brasil: perfil e experiências de concurseiros

Travel market for public service exams in Brazil: profile and experiences of applicants

Mercado de viajes para concurso público en Brasil: perfil y experiencias de los concurseiros

Resumo

Este estudo objetivou analisar o mercado das viagens para concursos públicos no Brasil, a partir do perfil e das experiências de concurseiros que viajam em busca de aprovação em cargo público. Os procedimentos metodológicos empregados para esta investigação, sob uma abordagem quali-quantitativa, exploratória e descritiva, se estabeleceram a partir de pesquisas bibliográfica, documental e de campo. Ao buscar estabelecer uma “netnografia” na ambiência cibernética da rede social Facebook, foram realizadas incursões virtuais, observações/acompanhamentos de interações, de postagens e de depoimentos entre internautas de grupos de estudo para concursos públicos. Ademais, conceberam-se conversas informais (bate-papos), capturas de tela (Print Screens) e aplicação de questionários. Os resultados obtidos permitiram depreender que as viagens a concursos públicos compreendem pessoas que viajam, em um espaço de tempo determinado, para concorrer a vagas no serviço público, mas que também realizam gastos para desfrutar de atividades de lazer e de turismo. Assim, identificou-se a existência de dois perfis de concurseiros que viajam: o viajante e o visitante. Com efeito, dada a demanda de inscritos, essas viagens estabelecem uma movimentação social e econômica nas destinações onde são aplicadas as provas, pois, tanto o mercado turístico quanto outros mercados, diretos ou indiretos, se beneficiam.

Palavras-chave
Viagem; Turismo; Mercado turístico; Concursos Públicos; Concurseiros

Abstract

The purpose of this study was to analyze the tourism market for public service examinations in Brazil, based on the profile and experiences of public service examiners who travel to be approved for public service. The methodological procedures used for this investigation, under a qualitative-quantitative, exploratory and descriptive approach, were established from bibliographical, documentary and field research. Seeking to establish a “netnography” in the cyber environment of the social network Facebook, virtual incursions, observations/follow-up of interactions, posts and testimonies were carried out among Internet users of study groups for public tenders. Furthermore, informal conversations (chats), print screens and questionnaires were designed. The obtained results allowed us to infer that those people who travel for this purpose, within a given period, also spend money to enjoy leisure and tourism activities. Thus, it was identified the existence of two profiles of applicants who travel: the traveler and the visitor. In fact, given the demand of the registered people, these trips establish a social and an economic movement in the destinations where the tests are applied, since both the travel market and other markets, direct or indirect, benefit from them.

Keywords
Travel; Tourism; Tourism Market; Public Service Exams; Applicants

Resumen

Este estudio tuvo como objetivo analizar el mercado de viajes para concursos públicos en Brasil, a partir del perfil y las experiencias de los concurseiros que viajan en busca de aprobación en el servicio público. Los procedimientos metodológicos utilizados para esta investigación, bajo un enfoque cualitativo-cuantitativo, exploratorio y descriptivo, se establecieron a partir de una investigación bibliográfica, documental y de campo. Buscando establecer una “netnografía” en el entorno cibernético de la red social Facebook, se realizaron incursiones virtuales, observaciones/seguimiento de interacciones, publicaciones y testimonios entre internautas de grupos de estudio para concursos públicos. Asimismo, se diseñaron conversaciones informales (chats), capturas de pantalla (Print Screens) y cuestionarios. Los resultados obtenidos permitieron inferir que los viajes para concursos públicos abarcan personas que viajan, dentro de un período de tiempo determinado, para concursar por vacantes en el servicio público, pero que también gastan para disfrutar de actividades de ocio y turismo. Así, se identificó la existencia de dos perfiles de concurseiros que viajan: el viajero y el visitante. De hecho, dada la demanda de los inscritos, estos viajes establecen un movimiento social y económico en los destinos donde se aplican las pruebas, ya que tanto el mercado turístico como otros mercados, directos o indirectos, se ven beneficiados.

Palabras clave
Viajes; Turismo; Mercado turístico; Concursos públicos; Concurseiros

1 INTRODUÇÃO

Em 2006, um estudo realizado pelo Centro de Seleção e Promoção de Eventos (CESPE), pertencente à Universidade de Brasília (UnB), identificou que aproximadamente 9% dos inscritos em seus concursos e suas seleções eram residentes de outros estados. Como a proporção de concursos públicos aumentou consideravelmente desde aquele ano (Fiuza, 2015Fiuza, M. V. (2015). Paralelo entre o concurso público brasileiro vigente e o concurso público originado na China Antiga: um estudo comparado de história do direito e legislação correspondente. Teresina: UESPI. https://doi.org/10.24824/978854440994.7
https://doi.org/10.24824/978854440994.7...
; Roza Pinel & Rêses, 2020Pinel, W. R. R., & Reses, E. D. S. (2020). Serviço público e a capital dos concursos: uma análise crítica da categoria concurseiro no Distrito Federal. Humanidades & Inovação, 7(7), p. 432-440. Recuperado de https://revista.unitins.br/index.php/humanidadeseinovacao/article/view/2541
https://revista.unitins.br/index.php/hum...
), presume-se que esse percentual também cresceu. Por conseguinte, em escala proporcional, se pressupõe que o número de candidatos que viajam para prestar certames se expandiu. Tais hipóteses, porém, estão longe de serem confirmadas em números percentuais e/ou absolutos, uma vez que nenhuma outra pesquisa similar foi realizada nessas proporções com vistas a mensurar e/ou demonstrar os quantitativos atuais de candidatos que têm o hábito de viajar para participar de concursos.

Nesse contexto, atualmente, a participação em concursos públicos tem sido uma das motivações entre as diferentes viagens domésticas realizadas pelo Brasil. Por meio dessas viagens, muitos brasileiros – motivados sobretudo pelas vantagens e benefícios inerentes a cargos específicos na Administração Pública – buscam realizar provas em outras cidades, que não as suas de origem (Lobato, Hamoy & Bahia, 2022Lobato, F. H. S., Hamoy, J. A., & Bahia, M. C. (2022). “A gente só tem lazer quando tem prova”: do cotidiano ao anticotidiano de concurseiros viajantes no Brasil. In: Tavares, G., Bahia, M. C., & Figueiredo, S. Turismo, lazer e patrimônio na Pan-Amazônia. Belém: Editora NAEA.). O investimento para alcançar a almejada nomeação em um cargo público, porém, implica uma preparação intensa e contínua (Fiuza, 2015Fiuza, M. V. (2015). Paralelo entre o concurso público brasileiro vigente e o concurso público originado na China Antiga: um estudo comparado de história do direito e legislação correspondente. Teresina: UESPI. https://doi.org/10.24824/978854440994.7
https://doi.org/10.24824/978854440994.7...
; Roza Pinel & Rêses, 2020Pinel, W. R. R., & Reses, E. D. S. (2020). Serviço público e a capital dos concursos: uma análise crítica da categoria concurseiro no Distrito Federal. Humanidades & Inovação, 7(7), p. 432-440. Recuperado de https://revista.unitins.br/index.php/humanidadeseinovacao/article/view/2541
https://revista.unitins.br/index.php/hum...
). Muitos candidatos, inclusive, privam-se de momentos de sociabilidade e de lazer em família, abandonam empregos, exercem duplas e até triplas jornadas diárias, bem como investem na compra de livros, em cursos específicos e até em viagens de longas distâncias (Lobato & Alberto, 2019Lobato, F. H. S., & Alberto, D. P. S. (2019). “O estudo é com você, a viagem é com a gente”: as agências de turismo especializadas em viagens a concursos públicos no Brasil. Turismo-Visão e Ação, 21(2), p. 82-101. DOI: https://doi.org/10.14210/rtva.v21n2.p82-101
https://doi.org/10.14210/rtva.v21n2.p82-...
).

No âmbito dessas viagens, o que se sabe até o presente é que muitos concurseiros – como são conhecidos os candidatos que se preparam e prestam concursos públicos – têm gastos com transporte, hospedagem e/ou alimentação nas cidades onde ocorrem as provas (Lobato, Hamoy & Bahia, 2022Lobato, F. H. S., Hamoy, J. A., & Bahia, M. C. (2022). “A gente só tem lazer quando tem prova”: do cotidiano ao anticotidiano de concurseiros viajantes no Brasil. In: Tavares, G., Bahia, M. C., & Figueiredo, S. Turismo, lazer e patrimônio na Pan-Amazônia. Belém: Editora NAEA.). Esses traslados, para além de materializar uma nova motivação para viajar, têm forjado novos produtos e serviços no mercado turístico brasileiro (Lobato & Alberto, 2019Lobato, F. H. S., & Alberto, D. P. S. (2019). “O estudo é com você, a viagem é com a gente”: as agências de turismo especializadas em viagens a concursos públicos no Brasil. Turismo-Visão e Ação, 21(2), p. 82-101. DOI: https://doi.org/10.14210/rtva.v21n2.p82-101
https://doi.org/10.14210/rtva.v21n2.p82-...
). Todavia, no que se refere à produção do conhecimento, desde Lobato (2016)Lobato, F. H. S. (2016). Concurseiros viajando pelo Brasil: uma nova segmentação do mercado turístico? Belém: UFPA., evidencia-se uma escassez na literatura sobre esse tema em particular, o que demonstra que os(as) estudiosos(as) do Campo de Estudos do Turismo parecem não ter notado essas viagens, especificamente elas, como possibilidades virtuosas de investigação.

Nesse sentido, o presente trabalho objetivou analisar o mercado das viagens para concursos públicos no Brasil, a partir do perfil e das experiências de concurseiros que viajam pelo País em busca de aprovação em cargo público. Convém pontuar que vestibulares e outros processos seletivos para cargos temporários ou certames de outros gêneros – que também podem efetivar-se enquanto motivos para viajar – não foram o foco deste estudo. Ademais, ressalta-se que este estudo não teve a pretensão de finalizar o debate acerca dessas viagens, mas contribuir com essa discussão propedêutica, seja por meio de apontamentos, seja a partir de insights para novos estudos.

No que concerne à orientação teórica, antes de apontá-la, cabe destacar que, no Campo de Estudos do Turismo no Brasil, é perceptível certa apreensão por parte dos(as) pesquisadores(as) em trabalhar perspectivas teórico-conceituais propositivas sobre do turismo, como os mais clássicos fizeram no passado (Andrade, 2000Andrade, J. V. (2000). Turismo: fundamentos e dimensões. São Paulo: Ática.; Barretto, 1995Barretto, M. (1995). Manual de iniciação ao estudo do turismo. Campinas: Papirus.; Beni, 2003Beni. M. C. (2003). Análise Estrutural do Turismo. São Paulo: SENAC.; Boullón, 2002Boullón, R. C. (2002). Planejamento do espaço turístico. Bauru/SP: Edusc.; Cunha, 2003Cunha, L. (2003). Introdução ao turismo. Lisboa: Verbo.; Padilla 1992Padilla, Ó. D. L. T. (1992). El turismo: fenómeno social. México: Fondo de Cultura Económica.; Moesch, 2002Moesch, M. M. (2002). A produção do saber turístico. São Paulo: Editora Contexto.). Logo, além de uma mera reprodução de proposições iniciais sobre o turismo, sobretudo as das décadas de 1970, 1980 e 1990 – algumas “vencidas” pelo tempo e pelas novas dinâmicas –, observa-se um foco em estudos de caso, conforme asseveram Panosso Netto, Tomillo Noguero e Jäger (2011)Panosso Netto, A., Tomillo Noguero, F., & Jäger, M. (2011). Por uma visão crítica nos estudos turísticos. Revista Turismo Em Análise, 22(3), p. 539-560. https://doi.org/10.11606/issn.1984-4867.v22i3p539-560
https://doi.org/10.11606/issn.1984-4867....
e Panosso Netto e Nechar (2014)Panosso Netto, A., & Nechar, M. C. (2014). Epistemologia do turismo: escolas teóricas e proposta crítica. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, 8(1), p. 120-144. https://doi.org/10.7784/rbtur.v8i1.719
https://doi.org/10.7784/rbtur.v8i1.719...
. Desse modo, por entender que alguns conceitos utilizados nesse campo não têm conseguido acompanhar as transformações da atividade, há a urgência e a emergência de uma produção mais crítica e sólida, que possibilite não dar conta de todas as complexidades que envolvem o campo, mas conceber novos (e mais firmes) parâmetros e direcionamentos aos seus estudos e estudiosos(as).

Diante disso, a orientação teórico-metodológica deste estudo – para não correr o risco de se limitar tão apenas ao que é produzido dentro desse campo científico – está embasada por compreensões e procedimentos metodológicos de outras áreas de conhecimento, como a Antropologia. Nessa perspectiva, a pretensão foi relacionar categorias mais clássicas da área – como: “viagem”, “turismo” e “mercado turístico” (Andrade, 2000Andrade, J. V. (2000). Turismo: fundamentos e dimensões. São Paulo: Ática.; Barretto, 1995Barretto, M. (1995). Manual de iniciação ao estudo do turismo. Campinas: Papirus.; Lage & Milone, 2001Lage, B. H. G., & Milone, P. C. (2001). Economia do turismo. São Paulo: Atlas.; Padilla 1992Padilla, Ó. D. L. T. (1992). El turismo: fenómeno social. México: Fondo de Cultura Económica.; Ruschmann, 2001Ruschmann, D. V. D. M. (2001). Marketing turístico: um enfoque promocional. Campinas: Papirus.) – às novas dinâmicas apontadas por outros campos de estudo. Como destaca Dencker (2015)Dencker, A. F. M. (2015). Pesquisa de mercado em turismo: identificação de novos segmentos. In: Panosso Netto, A., & Ansarah, M. G. D. R. (Org.). Produtos turísticos e novos segmentos de mercado: planejamento, criação e comercialização. Barueri-SP: Manole, p. 35-54. https://doi.org/10.31692/2526-7701.iicointerpdvagro.2017.00107
https://doi.org/10.31692/2526-7701.iicoi...
, nas pesquisas em turismo voltadas à identificação de novas tendências de mercado, por exemplo, a “netnografia” tem sido um dos principais métodos adotados (Gondim, Bolzán, Espínola & Alexandre, 2020Gondim, C. B., Bolzán, R. E., Espínola, R. S., & Alexandre, M. L. O (2020). Netnografia como método de pesquisa em turismo: análise de estudos de pós-graduação no Brasil. Revista Turismo em Análise, 31(1), p. 19-36. https://doi.org/10.11606/issn.1984-4867.v31i1p19-36
https://doi.org/10.11606/issn.1984-4867....
; Silva, Arruda & Mariani, 2021Silva, M. B. D. O. D., Arruda, D. D. O., & Mariani, M. A. P. (2021). Boca a boca online no turismo: análise netnográfica de avaliações no setor hoteleiro. Revista Acadêmica Observatório de Inovação do Turismo, 15(1), p. 58-80. https://doi.org/10.17648/raoit.v15n1.6292.
https://doi.org/10.17648/raoit.v15n1.629...
; Silva, Mariani, Santos & Arruda, 2022Silva, M. B. D. O. D., Mariani, M. A. P., Santos, J. F. D. S., & Arruda, D. D. O. (2022). Como os turistas percebem os atributos de atrativos turísticos em Bonito (MS)? Uma análise calcada em princípios da netnografia. Turismo: Visão e Ação, 24, p. 92-111. https://doi.org/10.14210/rtva.v24n1.p92-111
https://doi.org/10.14210/rtva.v24n1.p92-...
).

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Viagem e Turismo: algumas questões conceituais

Desde Margarita Barretto (1995)Barretto, M. (1995). Manual de iniciação ao estudo do turismo. Campinas: Papirus., os(as) estudantes, os pesquisadores, as pesquisadoras, e os(as) entusiastas do turismo aprenderam que nem toda viagem pode ser considerada um fazer turístico. Afinal, há deslocamentos e/ou há viagens que não têm por objetivo (principal ou secundário) o turismo em si. Ao utilizar a teoria matemática dos conjuntos, para fins de exemplificação (Figura 1), tem-se que: 1) o deslocamento compreende um conjunto maior que engloba os subconjuntos menores da viagem e do turismo. Em outras palavras, apesar de a viagem e o turismo serem realizados a partir de deslocamentos, podem haver deslocamentos com outros fins que não esses; 2) a viagem, subconjunto do deslocamento (pois é por ele realizada), engloba o subconjunto turismo, mas não se limita a ele. Isto é, além de uma viagem turística, existem outros tipos de viagem; 3) o turismo, nessa relação, está dentro do subconjunto viagem que, por sua vez, está dentro do conjunto deslocamento. Dito de outra maneira, o turismo é um deslocamento e/ou uma viagem, mas nem todo deslocamento ou viagem são turísticos.

Figura 1
Representação conceitual dos conjuntos deslocamento, viagem e turismo

Acerca dessa representação conceitual, convém destacar ao menos três questões importantes: 1) o turismo compreende uma forma particular de viagem ou deslocamento que possui características próprias; 2) as viagens virtuais, embora não dependam de deslocamento físico, são oportunizados pelas “migrações” de dados na rede mundial de computadores, o que pressupõe, portanto, um movimentar-se; 3) em qualquer tipo de deslocamento ou viagem, nada impede o viajante de reservar algumas horas para conhecer e passear pela cidade visitada, ainda que essa não tenha sido a sua motivação inicial. Em uma viagem, portanto, podem existir motivações primárias, secundárias ou ocultas (Pereira & Gosling, 2019Pereira, G. D. A., & Gosling, M. (2019). Motivações push e pull de brasileiros que amam viajar. BBR. Brazilian Business Review, 16(1), p. 63-86. https://doi.org/10.15728/bbr.2019.16.1.5
https://doi.org/10.15728/bbr.2019.16.1.5...
).

Os deslocamentos e as viagens, nesse sentido, podem apresentar diferentes e específicas motivações e características. Logo, a depender de quais sejam elas, sobretudo, esses traslados podem ser considerados turísticos ou não. Assim, existem viagens com a finalidade de participação em reuniões e eventos, de realização de pesquisas, ou ainda, de visitas por motivos de saúde, como apontam Panosso Netto e Ansarah (2015)Panosso Netto, A., & Ansarah, M. G. D. R. (2015). Produtos turísticos e novos segmentos de mercado: planejamento, criação e comercialização. Barueri-SP: Manole.. Nessa perspectiva, de acordo com Pereira e Gosling (2019)Pereira, G. D. A., & Gosling, M. (2019). Motivações push e pull de brasileiros que amam viajar. BBR. Brazilian Business Review, 16(1), p. 63-86. https://doi.org/10.15728/bbr.2019.16.1.5
https://doi.org/10.15728/bbr.2019.16.1.5...
, nas investigações que abordam a categoria “motivação”, é comum observar que, mesmo dentro das diferentes bases da segmentação de mercado, podem haver variações quanto aos motivos e às características das viagens.

Feitas essas considerações, o que seria o turismo, afinal? Iniciar esta discussão implica certo cuidado, pois, desde a etimologia, notam-se divergências acerca do idioma de origem desse termo. É clássico: enquanto alguns pesquisadores defendem que o radical tour possui como língua materna o francês, outros argumentam o inglês, e há, ainda, aqueles que assinalam a origem do termo como advinda do hebraico. Por outro lado, entre os embates teóricos, ao menos se visualiza certa uniformidade quanto ao significado dos termos “tur”, “tornare” ou “tour” – “voltar”, “circular”, “andar em círculos”, “dar a volta”, “ir e voltar”, “deslocar-se” (Andrade, 2000Andrade, J. V. (2000). Turismo: fundamentos e dimensões. São Paulo: Ática.; Barretto, 1995Barretto, M. (1995). Manual de iniciação ao estudo do turismo. Campinas: Papirus.; Moesch, 2002Moesch, M. M. (2002). A produção do saber turístico. São Paulo: Editora Contexto.; Padilla 1992Padilla, Ó. D. L. T. (1992). El turismo: fenómeno social. México: Fondo de Cultura Económica.), ou ainda, viagem de descoberta, de exploração ou de reconhecimento, na concepção hebraica (Oliveira, 2001Oliveira, A. P. (2001). Turismo e desenvolvimento: planejamento e organização. São Paulo: Atlas.).

De todo modo, é necessário ressaltar que o turismo não constituiu seu significado de forma repentina. Desde sua aparição, que também é objeto de divergências, a ele foram conferidas diferentes concepções. Sua conceituação passou por algumas variações motivadas pelo próprio desenvolvimento da atividade. Contudo, a essência conceitual, aparentemente, se manteve: “[...] a de um conjunto de relações provenientes do deslocamento humano temporário [...]” (Rossetto Ferreira, 2007Rossetto Ferreira, L. (2007). A comunicação e o turismo sexual: as garotas do Brasil – um olhar hermenêutico. Porto Alegre: PUC-RS. https://doi.org/10.7784/rbtur.v2i2.104
https://doi.org/10.7784/rbtur.v2i2.104...
, p. 24), conforme o exposto no Quadro 1.

Quadro 1
Evolução da conceituação do turismo

Na análise dos conceitos acima apresentados, para além do deslocamento, outros elementos podem ser destacados enquanto componentes da base conceitual do turismo, a saber: “[...] o tempo de permanência, o caráter não lucrativo da visita e a procura do prazer por parte dos turistas [...]” (Barretto, 1995Barretto, M. (1995). Manual de iniciação ao estudo do turismo. Campinas: Papirus., p. 13). Em síntese, o turismo pode ser compreendido como o movimento de pessoas que saem de suas residências, temporariamente, almejando/buscando lazer, sem retorno financeiro, podendo também ser definido como atividade de transportar e de acomodar visitantes e colocar a sua disposição meios que possibilitem lazer, sempre com o objetivo principal de satisfazer as exigências e as necessidades do visitante (Andrade, 2000Andrade, J. V. (2000). Turismo: fundamentos e dimensões. São Paulo: Ática.; Barretto, 1995Barretto, M. (1995). Manual de iniciação ao estudo do turismo. Campinas: Papirus.; Beni, 2003Beni. M. C. (2003). Análise Estrutural do Turismo. São Paulo: SENAC.; Cunha, 2003Cunha, L. (2003). Introdução ao turismo. Lisboa: Verbo.; Moesch, 2002Moesch, M. M. (2002). A produção do saber turístico. São Paulo: Editora Contexto.; Padilla 1992Padilla, Ó. D. L. T. (1992). El turismo: fenómeno social. México: Fondo de Cultura Económica.; Panosso Netto, 2005Panosso Netto, A., & Ansarah, M. G. D. R. (2015). Produtos turísticos e novos segmentos de mercado: planejamento, criação e comercialização. Barueri-SP: Manole.).

Conquanto esta seja uma das definições convencionalmente aceitas, o turismo, na atualidade, ainda é alvo de muitos questionamentos, os quais incitam a produção de novos estudos ao seu respeito. Tais questionamentos são frutos de um campo do conhecimento em construção. As tendências e as dinamicidades do “fazer turístico”, da “atividade turística” ou do “fenômeno turístico”, pois, são múltiplas e se apresentam constantes – certamente, em razão disso, nem sempre são acompanhadas de perto pela produção científica. Afinal, essa prática humana possui características intrínsecas que “alimentam a fome” do saber a seu respeito, eis algumas delas: o poder de influenciar, de envolver, de se inter-relacionar e de transversalizar-se, de maneira recíproca e espontânea, por entre/com diferentes áreas do conhecimento, setores da economia e aspectos da vida em/na sociedade e da natureza. Por ser multifacetada e dinâmica, se observa que os conhecimentos acerca dessa prática ainda são permeados por questões nebulosas e incertas.

2.2 Mercado turístico: breves e importantes considerações

Beni (2003, p. 145)Beni. M. C. (2003). Análise Estrutural do Turismo. São Paulo: SENAC. inicia a discussão sobre mercado turístico questionando: “Que conceito fazemos do mercado?”. Afinal, o termo, em/para diversos contextos econômicos e socioculturais, apresenta diversificadas representações ao longo da história. A literatura que se ocupa do estudo dessa categoria atenta para a existência de três questões (Beni, 2003Beni. M. C. (2003). Análise Estrutural do Turismo. São Paulo: SENAC.) ou problemas econômicos fundamentais (Lage & Milone, 2001Lage, B. H. G., & Milone, P. C. (2001). Economia do turismo. São Paulo: Atlas.) que caracterizam um mercado, quais sejam: 1) o que produzir?, 2) como produzir? e 3) para quem produzir?. Logo, o mercado possui condicionantes específicas para se consolidar enquanto tal. Para além dessas condicionantes, um mercado deve possuir as eficiências atributiva, produtiva e distributiva (Beni, 2003Beni. M. C. (2003). Análise Estrutural do Turismo. São Paulo: SENAC.). No mais, segundo Lage e Milone (2001)Lage, B. H. G., & Milone, P. C. (2001). Economia do turismo. São Paulo: Atlas., em se tratando do turismo, o mercado pode ser classificado sob dois prismas: o mercado direto e o mercado indireto, nos quais são ofertados e consumidos produtos e/ou serviços relacionados à atividade turística.

Autores como Lage e Milone (2001, p. 11)Lage, B. H. G., & Milone, P. C. (2001). Economia do turismo. São Paulo: Atlas. postulam que o mercado turístico compreende “[...] uma rede de informações que permite os agentes econômicos — consumidores (turistas) e produtores (empresas de turismo) — tomarem decisões para solucionar os problemas econômicos fundamentais do setor”. Dito de outro modo, o mercado é, portanto, o palco de interação entre a oferta e a demanda: a primeira compreende os produtos (serviços e bens) turísticos; e a última se estabelece pelos turistas, os consumidores. Dessa maneira, a importância de conhecer o mercado turístico está em entender as diversidades existentes entre demanda e oferta. Com base na literatura, a seguir (Quadro 2) são apresentadas definições sobre alguns elementos basilares que compõem esse mercado.

Quadro 2
Elementos básicos do mercado turístico

Na esteira dessa discussão, o turismo, enquanto atividade econômica, possui um mercado bem característico (Kotler, Bowen & Makens, 2008Kotler, P., Bowen, J., & Makens, J. (2008). Marketing para turismo. Madrid. Pearson Educación.). Contudo, inobstante seja um mercado com produtos padronizados, eles nunca são iguais, uma vez que é a diferença que garante a competitividade. Assim, a distinção é justamente o que vai caracterizar um serviço, um produto, um nicho ou segmento. Nesse mercado heterogêneo, de acordo com Ruschmann (2001)Ruschmann, D. V. D. M. (2001). Marketing turístico: um enfoque promocional. Campinas: Papirus., um único produto/serviço prestado pode gerar nos consumidores diferentes expectativas e sensações, assim como satisfações ou frustrações. Desse modo, ao se pensar em mercado, produção e oferta, além da variabilidade, deve-se considerar os efeitos que os serviços/produtos podem (ou não) causar na demanda que vai consumi-los.

Diante disso, um serviço ou produto consumido por um público no passado, certamente, não terá o mesmo impacto na atualidade. Panosso Netto e Ansarah (2015, p. 24)Panosso Netto, A., & Ansarah, M. G. D. R. (2015). Produtos turísticos e novos segmentos de mercado: planejamento, criação e comercialização. Barueri-SP: Manole. refletem que: “O mercado turístico é dinâmico. As pessoas continuam a viajar pelos mais diversos (e recônditos) motivos. Os destinos mudam, as formas de viajar mudam, os anseios dos turistas mudam. Os produtos ofertados mudam. As estratégias de marketing mudam e se atualizam”. Nesse sentido, consoante Barretto e Rejowski (2009, p. 16)Barretto, M., & Rejowski, M. (2009). Considerações epistemológicas sobre segmentação: das tipologias turísticas à segmentação de mercado. In: Panosso Netto, A., & Ansarah, M. G. D. R. (Org.). Segmentação do mercado turístico: estudos produtos e perspectivas. 1. ed. Barueri-SP: Manole, p. 3-18. https://doi.org/10.11606/t.12.2009.tde-30062009-161308
https://doi.org/10.11606/t.12.2009.tde-3...
, “[...] não existe o turista, mas turistas, no plural”. Não obstante eles dediquem “[...] um pouco do tempo, ou grande parte dele, para desfrutar do principal atrativo, [...] praticam também outros tipos de turismo ao mesmo tempo” (Barretto & Rejowski, 2009Barretto, M., & Rejowski, M. (2009). Considerações epistemológicas sobre segmentação: das tipologias turísticas à segmentação de mercado. In: Panosso Netto, A., & Ansarah, M. G. D. R. (Org.). Segmentação do mercado turístico: estudos produtos e perspectivas. 1. ed. Barueri-SP: Manole, p. 3-18. https://doi.org/10.11606/t.12.2009.tde-30062009-161308
https://doi.org/10.11606/t.12.2009.tde-3...
, p. 15). Desse modo, os visitantes de uma cidade não limitam seu tempo de estada para experienciar tão somente um aspecto oportunizado pela viagem, mesmo entre aqueles com perfis mais homogêneos pode haver diferenças nas práticas vivenciadas.

No entender de Panosso Netto e Gaeta (2010, p. 7)Panosso Netto, A., & Gaeta, C. (2010). Turismo de experiência. São Paulo: Editora Senac São Paulo. https://doi.org/10.11606/9786588503270
https://doi.org/10.11606/9786588503270...
, no livro “Turismo de Experiência”, o “[...] turista de hoje quer mais do que apenas alguns dias para descansar. Ele deseja que sua vontade e suas expectativas sejam atendidas, ele busca viagens que o faça passar por sensações ímpares [...] que lhe proporcionem uma experiência marcante”. Nessa esteira, Trigo (2013, p. 157)Trigo, L. G. G. (2013). A viagem: caminho e experiência. São Paulo: Aleph., no livro “A viagem: caminho e experiência”, assinala que: “Enquanto viajamos, nos transformamos em algo diferente. [...] Adquirimos mais conhecimento e experiência. Então viajamos novamente, nos transformamos outra vez. Acumulamos outras histórias. E mudamos uma vez mais”. Ao levar esses postulados em consideração, entende-se que, como a cada viagem o indivíduo volta diferente, suas necessidades, seus desejos e suas vontades tendem a se modificar, o que traz novos desafios para a oferta e, por conseguinte, o mercado turístico.

Mais recentemente, acerca das experiências oportunizadas pelo turismo, os debates teóricos, nacional (Guissoni, Alencar, & Gândara, 2019Guissoni, R., Alencar, D. G., & Gândara, J. M. (2019). O turismo de experiência no Paraná-Brasil: uma análise sobre os turistas que procuram por experiências em negócios, meio urbano e esportes. Revista Turismo & Desenvolvimento, 32, p. 235-253. https://doi.org/10.34624/rtd.v0i32.20495.
https://doi.org/10.34624/rtd.v0i32.20495...
; Silva & Trentin, 2018Silva, E. M. C., & Trentin, F. (2018). Turismo de Experiência: L ‘Arte Ceccato Vila Flores. Caderno Virtual de Turismo, 18(3), p. 178-192. http://dx.doi.org/10.18472/cvt.18n3.2018.1351.
https://doi.org/10.18472/cvt.18n3.2018.1...
) e internacional (Godovykh & Tasci, 2020Godovykh, M., & Tasci, A. D. (2020). Customer experience in tourism: a review of definitions, components, and measurements. Tourism Management Perspectives, 35, p. 100694. https://doi.org/10.1016/j.tmp.2020.100694.
https://doi.org/10.1016/j.tmp.2020.10069...
; Sugathan & Ranjan, 2019Sugathan, P., & Ranjan, K. R. (2019). Co-creating the tourism experience. Journal of Business Research, 100, p. 207-217. https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2019.03.032.
https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2019.0...
), vêm demonstrando como essa temática tem sido importante para os turistas, pois compreende um elemento basilar capaz de definir a qualidade de um produto ou serviço, assim como a satisfação do consumidor. O estudo de Sugathan & Ranjan (2019)Sugathan, P., & Ranjan, K. R. (2019). Co-creating the tourism experience. Journal of Business Research, 100, p. 207-217. https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2019.03.032.
https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2019.0...
, a exemplo, demonstrou que a cocriação – enquanto processo que envolve outras pessoas na idealização e no desenvolvimento de um projeto –, a depender da intensidade (alta ou baixa), pode apresentar influência na experiência turística, tendo em vista que se configura, em alguns casos, como um medidor e, em outros, como incentivador do retorno de clientes. Godovykh & Tasci (2020)Godovykh, M., & Tasci, A. D. (2020). Customer experience in tourism: a review of definitions, components, and measurements. Tourism Management Perspectives, 35, p. 100694. https://doi.org/10.1016/j.tmp.2020.100694.
https://doi.org/10.1016/j.tmp.2020.10069...
, ao analisar criticamente a literatura sobre experiência, identificaram algumas recorrências que possibilitaram a proposição de modelo de experiência turística, o qual se estabelece a partir de quatros componentes, são eles: emocional, cognitivo, sensorial e conativo. A combinação desses componentes, segundo as pesquisadoras mencionadas, possibilita a captura da totalidade de uma experiência antes, durante e após uma viagem.

Nesse sentido, Lobato e Alberto (2019, p. 84)Lobato, F. H. S., & Alberto, D. P. S. (2019). “O estudo é com você, a viagem é com a gente”: as agências de turismo especializadas em viagens a concursos públicos no Brasil. Turismo-Visão e Ação, 21(2), p. 82-101. DOI: https://doi.org/10.14210/rtva.v21n2.p82-101
https://doi.org/10.14210/rtva.v21n2.p82-...
ressaltam “[...] a necessidade da produção de pesquisas que sejam capazes de entender as viagens e o turismo, bem como as suas interfaces e as suas contínuas e novas demandas”. Com base nessa afirmação, fica evidente a relevância de investigar e acompanhar constantemente os novos serviços e produtos turísticos, pois, como visto anteriormente, o turismo está em constante transformação. Com efeito, na conjuntura atual, alguns estudiosos têm buscado acompanhar essas transformações, ao investigar o mercado turístico sob diferentes ângulos de análise, a saber: a partir da globalização turística (Alcobia, 2021Alcobia, O. (2021). O mercado turístico global na perspectiva geográfica de Milton Santos. Ateliê Do Turismo, 5(2), p. 245-264. Recuperado de: https://periodicos.ufms.br/index.php/adturismo/article/view/13703
https://periodicos.ufms.br/index.php/adt...
), da inovação e criatividade como instrumentos de competitividade (Crespi Vallbona & Mascarilla Miró, 2021Crespi Vallbona, M., & Mascarilla Miró, O. (2021). Innovación en el mercado turístico: experiencias en arte urbano. Cuadernos de Turismo, 48, p. 25–48. https://doi.org/10.6018/turismo.492651
https://doi.org/10.6018/turismo.492651...
), da segmentação e dos novos produtos e serviços turísticos (Reinoso, 2019Reinoso, N. G. (2019). Segmentación y valoración del mercado turístico: Estudio del destino Patrimonio de la Humanidad Trinidad de Cuba. Revista Venezolana de Gerencia, 24(87), p. 785-806. https://doi.org/10.37960/revista.v24i87.24637
https://doi.org/10.37960/revista.v24i87....
) etc.

2.3 Viagens a concursos públicos no Brasil: o que se sabe até aqui (?!)

Concebido na China Antiga, o concurso público configura-se na atualidade como o sistema oficial de seleção de candidatos a cargos públicos efetivos no Brasil (Fiuza, 2015Fiuza, M. V. (2015). Paralelo entre o concurso público brasileiro vigente e o concurso público originado na China Antiga: um estudo comparado de história do direito e legislação correspondente. Teresina: UESPI. https://doi.org/10.24824/978854440994.7
https://doi.org/10.24824/978854440994.7...
), inclusive balizado pela Constituição Federal de 1988 e por outros dispositivos infraconstitucionais (Brasil, 1988Brasil. (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 15 out. 1988. https://doi.org/10.11606/d.2.2010.tde-13122010-160747
https://doi.org/10.11606/d.2.2010.tde-13...
, 1990Brasil. (1990). Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 12 dez. 1990. https://doi.org/10.22239/2317-269x.01505
https://doi.org/10.22239/2317-269x.01505...
). Ao se considerar, de um lado, a precarização do trabalho no setor privado, permeada pelas instabilidades das crises econômicas, e, de outro, os diversificados benefícios intrínsecos aos cargos públicos, sobretudo a estabilidade e a segurança econômico-social, historicamente, se acompanha no País um crescimento exponencial de pessoas que prestam concursos públicos (Roza Pinel & Rêses, 2020Pinel, W. R. R., & Reses, E. D. S. (2020). Serviço público e a capital dos concursos: uma análise crítica da categoria concurseiro no Distrito Federal. Humanidades & Inovação, 7(7), p. 432-440. Recuperado de https://revista.unitins.br/index.php/humanidadeseinovacao/article/view/2541
https://revista.unitins.br/index.php/hum...
). Como tela exemplar desse contexto, destaca-se o certame do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS)Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2010). Censo 2010. https://doi.org/10.52041/srap.15308
https://doi.org/10.52041/srap.15308...
, de 2016, que apresentou um recorde no número de inscritos: foram mais de 1 milhão de candidatos na disputa.

Para além das questões anteriormente elencadas, esse quadro é reflexo da “cultura” dos concursos públicos. O brasileiro, desde muito cedo, é incentivado pela família e conhecidos a prestar concursos. Nessa “cultura”, acredita-se que ter um emprego no setor público é o melhor caminho para ser bem-sucedido e ter prestígio social. Além de sinônimo de inteligência, o “concursado”, aquele que toma posse em um cargo público, é visto como aquele que, pelos próximos dias da sua vida, dispensará as preocupações por justamente possuir segurança e estabilidade financeiras (Fiuza, 2015Fiuza, M. V. (2015). Paralelo entre o concurso público brasileiro vigente e o concurso público originado na China Antiga: um estudo comparado de história do direito e legislação correspondente. Teresina: UESPI. https://doi.org/10.24824/978854440994.7
https://doi.org/10.24824/978854440994.7...
). Motivadas, também e principalmente, por isso, pessoas de diferentes idades e lugares buscam, diariamente, cumprir e ultrapassar metas de preparação para as provas – as quais dão acesso à “vida de concursado” concebida por essa “cultura”.

Com o crescimento e a qualificação da concorrência no Brasil (Roza Pinel & Rêses, 2020Pinel, W. R. R., & Reses, E. D. S. (2020). Serviço público e a capital dos concursos: uma análise crítica da categoria concurseiro no Distrito Federal. Humanidades & Inovação, 7(7), p. 432-440. Recuperado de https://revista.unitins.br/index.php/humanidadeseinovacao/article/view/2541
https://revista.unitins.br/index.php/hum...
), os concurseiros têm encontrado dificuldades em conseguir aprovação, sobretudo nos grandes centros urbanos. Em face disso, a busca por vagas em cargos públicos tem ultrapassado fronteiras municipais, estaduais e regionais. Os candidatos, pois, têm planejado e organizado viagens para diferentes lugares do País, especialmente aqueles que, segundo Lobato (2016)Lobato, F. H. S. (2016). Concurseiros viajando pelo Brasil: uma nova segmentação do mercado turístico? Belém: UFPA.: a) estão distantes das capitais; b) apresentam um quantitativo expressivo de vagas; c) possuem cargos com ótimos salários e vantagens; d) têm possibilidade de transferência ou de remoção, a depender do órgão e de sua esfera pública; e) apresentam uma menor concorrência; e f) têm as pontuações são mais baixas de aprovação. Considerar esses fatores na escolha do destino da viagem, segundo os candidatos, implica maiores chances de aprovação e de classificação. O curioso é que esses destinos são, em geral, cidades interioranas das regiões Norte e Nordeste, com deficiente infraestrutura urbana, que jamais se imaginou visitar. Logo, há uma disputa não apenas pelas vagas, mas pelas cidades de investidura dos cargos.

Diante disso, em Lobato (2016)Lobato, F. H. S. (2016). Concurseiros viajando pelo Brasil: uma nova segmentação do mercado turístico? Belém: UFPA. e Lobato e Alberto (2019)Lobato, F. H. S., & Alberto, D. P. S. (2019). “O estudo é com você, a viagem é com a gente”: as agências de turismo especializadas em viagens a concursos públicos no Brasil. Turismo-Visão e Ação, 21(2), p. 82-101. DOI: https://doi.org/10.14210/rtva.v21n2.p82-101
https://doi.org/10.14210/rtva.v21n2.p82-...
, nota-se que os concurseiros compõem um grupo particular de viajantes, isto é, com demandas gerais e, ao mesmo tempo, diferentes de outras modalidades de viagem. Portanto, é um mercado, segundo o estudo de Lobato (2016)Lobato, F. H. S. (2016). Concurseiros viajando pelo Brasil: uma nova segmentação do mercado turístico? Belém: UFPA., passível de obter rentabilidade e estabelecer uma distribuição econômica – a partir do efeito multiplicador do turismo. Embora exista a disposição de bens e serviços (Lobato & Alberto, 2019Lobato, F. H. S., & Alberto, D. P. S. (2019). “O estudo é com você, a viagem é com a gente”: as agências de turismo especializadas em viagens a concursos públicos no Brasil. Turismo-Visão e Ação, 21(2), p. 82-101. DOI: https://doi.org/10.14210/rtva.v21n2.p82-101
https://doi.org/10.14210/rtva.v21n2.p82-...
), bem como a procura de uma demanda específica por essa oferta especializada, esse tipo de viagem ainda possui um mercado em escala diminuta, com um trade turístico limitado e um poder de compra ainda pouco expressivo (Lobato, 2016Lobato, F. H. S. (2016). Concurseiros viajando pelo Brasil: uma nova segmentação do mercado turístico? Belém: UFPA.). Logo, certamente, há uma rentabilidade reduzida em relação a viagens com outras motivações, o que vai ao encontro do que Lobato e Alberto (2019)Lobato, F. H. S., & Alberto, D. P. S. (2019). “O estudo é com você, a viagem é com a gente”: as agências de turismo especializadas em viagens a concursos públicos no Brasil. Turismo-Visão e Ação, 21(2), p. 82-101. DOI: https://doi.org/10.14210/rtva.v21n2.p82-101
https://doi.org/10.14210/rtva.v21n2.p82-...
observaram sobre as empresas que trabalhando com essas viagens personalizadas: são pequenas e precisam trabalhar com serviços variados e alternativos para se manterem competitivas no mercado.

3 METODOLOGIA

A metodologia empreendida por este estudo parte de uma abordagem quali-quantitativa. Estas abordagens foram empregadas de forma conjunta porque, conforme a literatura metodológica advoga, oportunizam coletar e cruzar dados diversos de modo complementar, o que seria dificultoso alcançar com a utilização delas separadamente. Essas abordagens, embora durante muito tempo tenham sido vistas de maneira polarizada, têm revelado como a perspectiva quantitativa é capaz de apontar questões que podem ser analisadas qualitativamente, e o contrário também tem se mostrado possível (Marconi & Lakatos, 2011). Nessa esteira, em uma perspectiva exploratória e descritiva, utilizou-se de pesquisas bibliográfica, documental e de campo. Estas últimas, ambientadas na rede social Facebook, realizaram-se mediante a adoção da “netnografia”, conforme pormenorizado na subseção a seguir.

3.1 “Netnografia”: um olhar sobre os grupos para concursos públicos do Facebook

O etnógrafo levanta, mas se encontra em sua casa, liga o computador, digita o endereço da comunidade virtual no browser e já está no campo. Lá, já transcritos e em farta quantidade, estão os discursos dos membros da comunidade. Uma comunidade da internet, cujo interesse comum é o consumo de algo. Opiniões, reclamações, dicas, sugestões, palpites. Um conjunto de discursos permeando o mesmo tema. Sujeitos de pesquisa: homens, mulheres e anônimos. Uma coleta de dados de pesquisa pronta e praticamente organizada para a análise do pesquisador

(Noveli, 2010Noveli, M. (2010). Do off-line para o online: a netnografia como um método de pesquisa ou o que pode acontecer quando tentamos levar a etnografia para a Internet? Organizações em Contexto, 6(12), p. 107-133. https://doi.org/10.15603/1982-8756/roc.v6n12p107-133
https://doi.org/10.15603/1982-8756/roc.v...
, p. 108-109).

Conquanto alguns autores discordem, genericamente, esta é a pesquisa netnográfica: a transposição da pesquisa etnográfica para a ambiência virtual, ou ainda, uma tecnologia da etnografia. O verbete neológico “netnografia”, formado pela junção dos termos “net” e “ethnography” (nethnography), de acordo com Braga (2006, p. 04)Braga, A. (2006). Técnica etnográfica aplicada à comunicação online: uma discussão metodológica. UNIrevista, 1(3), p. 1-15., fora forjado, em 1995, por pesquisadores estadunidenses (Bishop, Star, Neumann, Ignacio, Sandusky e Schatz), preocupados em nomear e perfilar uma nova vertente metodológica: a que buscava “[...] preservar os detalhes ricos da observação em campo etnográfico usando o meio eletrônico para ‘seguir os atores’”.

A “netnografia” é, portanto, um método de pesquisa em que o pesquisador “[...] se transforma num experimentador do campo, engajado na utilização do objeto pesquisado enquanto o pesquisa” (Kozinets, 2007Kozinets, R. V. (2007). Netnography 2.0. In: Belk, R. W. (Ed.). Handbook of Qualitative Research Methods Marketing. Edward Elgar Publishing, p. 142-155. Recuperado de: https://cstn.files.wordpress.com/2009/10/qualitative-research.pdf.
https://cstn.files.wordpress.com/2009/10...
, p. 147), ou seja, o “netnográfo” navega e imerge no mundo virtual enquanto, simultaneamente, o investiga. À vista disso, a pesquisa “netnográfica” possui, em certa medida, conforme Kozinets (2014)Kozinets, R. V. (2014). Netnografia: realizando pesquisa etnográfica online. Penso Editora., praticidade em termos de tempo e de trabalho. Além disso, ao “netnografar”, é possível examinar comportamentos, ações, ideias, bem como fotografias, vídeos, textos, fontes, espaçamento, símbolos etc. (Kozinets, 2010Kozinets, R. V. (2014). Netnografia: realizando pesquisa etnográfica online. Penso Editora.), de maneira menos invasiva e, inclusive, sem aquele que é observado ter conhecimento.

Nesse sentido, na “netnografia”, dependendo dos objetivos da pesquisa e da complexidade do campo, o pesquisador não precisa necessariamente conversar e se inter-relacionar com os participantes do grupo. Isto é, é possível se manter “invisível”, observar e investigar sem fazer-se ser notado pelos pesquisados. Em termos científicos, essa possibilidade é profícua, tendo em vista que há uma propensão de pesquisar os sujeitos “libertos” das “pressões” estabelecidas pelos papéis inerentes das relações pesquisado-pesquisador, por justamente as desconhecerem. Entrementes, esse método de pesquisa pode apresentar algumas limitações ou ressalvas, apontadas nos trabalhos de Amaral, Natal e Viana (2008)Amaral, A., Natal, G., & Viana, L. (2008). Netnografia como aporte metodológico da pesquisa em comunicação digital. Revista Sessões do Imaginário, 20(1), p. 34-40. e Noveli (2010)Noveli, M. (2010). Do off-line para o online: a netnografia como um método de pesquisa ou o que pode acontecer quando tentamos levar a etnografia para a Internet? Organizações em Contexto, 6(12), p. 107-133. https://doi.org/10.15603/1982-8756/roc.v6n12p107-133
https://doi.org/10.15603/1982-8756/roc.v...
, dentre elas: por vezes, as pessoas são falseadas por personagens (fakes) criados pelos internautas, bem como suas mensagens aparecerem nebulosas e incertas nas entrelinhas dos posts, das publicações, dos comentários e dos emoticons (Amaral, Natal & Viana, 2008Amaral, A., Natal, G., & Viana, L. (2008). Netnografia como aporte metodológico da pesquisa em comunicação digital. Revista Sessões do Imaginário, 20(1), p. 34-40.).

Nas pesquisas em turismo, Dencker (2015)Dencker, A. F. M. (2015). Pesquisa de mercado em turismo: identificação de novos segmentos. In: Panosso Netto, A., & Ansarah, M. G. D. R. (Org.). Produtos turísticos e novos segmentos de mercado: planejamento, criação e comercialização. Barueri-SP: Manole, p. 35-54. https://doi.org/10.31692/2526-7701.iicointerpdvagro.2017.00107
https://doi.org/10.31692/2526-7701.iicoi...
aponta que – na busca por prognosticar novas segmentações de mercado, bem como se planejar e estruturar-se para potenciais mudanças que essas tendências podem gerar – diversas empresas têm recorrido às “netnografias” como metodologias de investigação, a fim de captar, analisar e interpretar dados e/ou fluxos de informações que trasladam nas redes on-line, conforme demonstram os estudos de Gondim et al. (2020)Gondim, C. B., Bolzán, R. E., Espínola, R. S., & Alexandre, M. L. O (2020). Netnografia como método de pesquisa em turismo: análise de estudos de pós-graduação no Brasil. Revista Turismo em Análise, 31(1), p. 19-36. https://doi.org/10.11606/issn.1984-4867.v31i1p19-36
https://doi.org/10.11606/issn.1984-4867....
, Silva, Arruda e Mariani (2021)Silva, M. B. D. O. D., Arruda, D. D. O., & Mariani, M. A. P. (2021). Boca a boca online no turismo: análise netnográfica de avaliações no setor hoteleiro. Revista Acadêmica Observatório de Inovação do Turismo, 15(1), p. 58-80. https://doi.org/10.17648/raoit.v15n1.6292.
https://doi.org/10.17648/raoit.v15n1.629...
e Silva et al. (2022)Silva, M. B. D. O. D., Mariani, M. A. P., Santos, J. F. D. S., & Arruda, D. D. O. (2022). Como os turistas percebem os atributos de atrativos turísticos em Bonito (MS)? Uma análise calcada em princípios da netnografia. Turismo: Visão e Ação, 24, p. 92-111. https://doi.org/10.14210/rtva.v24n1.p92-111
https://doi.org/10.14210/rtva.v24n1.p92-...
.

À luz dessas compreensões, a pesquisa de campo deste trabalho se ambientou na rede social virtual Facebook, tendo como enfoque análises concernentes aos conhecimentos e às vivências de concurseiros que viajam pelo País prestando concursos públicos. Tais análises se estabeleceram a partir de acompanhamentos, de observações, de conversas e de interações em/com diversos grupos de concursos públicos e perfis privados do Facebook, além de capturas de tela (Print Screens) de postagens e de informações divulgadas pelos perfis individuais de concurseiros e nos grupos de concursos – que ajudaram na coleta de dados.

Por entender que o simples fato de a coleta de dados ocorrer no ambiente digital não caracteriza uma “netnografia”, cabe destacar que a pesquisa de campo iniciou, de modo embrionário, no final de 2014, momento no qual o pesquisador direcionou seus “olhares” para essa possibilidade de investigação. Contudo, a pesquisa “netnográfica” somente começou a ser utilizada no início de 2015. A observação participante, enquanto técnica, se intensificou a partir de setembro de 2015, com o pesquisador participando e interagindo, diariamente, em mais de cem (100) grupos de concursos públicos do Facebook – essa fase foi finalizada somente em março de 2016. Conquanto tenham sido acompanhados diversos grupos voltados a trocas de informações sobre concursos públicos, foram privilegiados os grupos de certames federais e de tribunais estaduais, a fim de garantir a participação de uma amostra considerável da população brasileira concurseira na pesquisa.

A aplicação dos questionários ocorreu entre 16 de janeiro e 03 de março de 2016, de forma on-line, ora nos grupos e nas comunidades, ora por mensagens enviadas diretamente aos perfis dos participantes da rede social, alcançando o número total de 674 respondentes. Excetuando-se a regra de que somente os concurseiros que viajavam poderiam participar da pesquisa, nenhum outro critério para o preenchimento foi adotado. As perguntas foram elaboradas de maneira a objetivar as respostas, mas, ao mesmo tempo, criar oportunidades para os sujeitos também expressarem opiniões/percepções mais subjetivas e complexas.

A composição e o preenchimento dos questionários, bem como a validação e o tratamento dos dados se deram por meio da plataforma SurveyMonkey – ferramenta de coleta de dados utilizada em pesquisas como esta por apresentar, dentre outras vantagens, certa praticidade quanto à tabulação e ao cruzamento de dados. Dos 674 questionários preenchidos pelos concurseiros na plataforma, por motivos de preenchimento parcial, “invasões” ou pessoas que nunca viajaram a concursos e mesmo assim responderam, 174 foram invalidados. Logo, os 500 questionários validados constituíram a amostra da pesquisa.

Cumpre ressaltar que, em face de não existir um estudo antecedente que tenha delimitado o número de candidatos que prestam provas de concursos públicos no Brasil (universo) ou, especificamente, daqueles que viajam fazendo certames (população), optou-se por não determinar uma amostra probabilística para esta investigação. Diante disso, utilizou-se uma amostra aleatória e não-probabilística por conveniência, tendo em vista que é a mais adequada para pesquisas exploratórias, em que o objetivo inicial é tão apenas gerar uma base mínima, ou ainda, hipóteses e insights para novos estudos acerca de um dado tema (Oliveira, 2009).

Os resultados quantitativos foram analisados qualitativamente à luz de referenciais teóricos clássicos e de trabalhos recentes especializados e empíricos, assim como mediante a aplicação da estatística descritiva, a qual se focalizou na frequência e nos percentuais encontrados pelo estudo. A adoção dessa construção metodológica possibilitou coletar dados de grande relevância para o entendimento desse novo tipo de viagem.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

No que tange à aplicação do questionário1 1 É oportuno salientar que esta pesquisa, por ser inicial e conformada por uma abordagem quali-quantitativa, necessita de outras investigações específicas capazes de mostrar novos dados que ampliem o escopo desta primeira. , realizada junto a 500 participantes, os resultados (Tabela 1) revelaram que os participantes da pesquisa tinham o seguinte perfil: eram tanto do sexo feminino (59,20%) quanto masculino (40,80%). Eles e elas tinham idades entre 21 e 40 anos (91,00%), sendo a maioria solteiro(a) (70,40%), com um nível de escolaridade bem elevado: 13,80%, ensino superior incompleto; 47,80%, ensino superior completo e 35,60% pós-graduação. Normalmente, esses candidatos tinham renda per capita de 1 a 3 salários mínimos (33,60%) e de 4 a 6 salários mínimos (22,00%), havendo também um grupo que não possuía renda (29,60%) e outro com renda entre 7 e mais de 10 salários mínimos (11,20%). De modo geral, a amostra era formada por estudantes, desempregados(as), empregados do setor privado, além do maior grupo ser de servidores públicos (32,20%), os quais almejavam maiores salários ou a investidura de um cargo em suas cidades de origem.

Tabela 1
Perfil socioeconômico dos concurseiros viajantes no Brasil

Fonte: Elaboração própria (2022).

No que se refere aos locais onde residiam os concurseiros que participaram da pesquisa, 14,40% eram do Norte, 27,80% do Nordeste, 9,20% do Centro-Oeste, 30,60% do Sudeste e 18,00% do Sul. Nesse sentido, as regiões Nordeste e Sudeste apresentaram o maior número de participantes, somando juntas mais de 50% do total dos pesquisados. Essas distribuições demográficas são quase diretamente proporcionais às populações reais dessas regiões, conforme demonstram os dados do último censo brasileiro (IBGE, 2010). Como não há uma diferença desproporcional e significativa entre as regiões de origem dos candidatos, os dados indicam ainda que “o Brasil” quer adentrar no serviço público. Tais dados são reflexo, como mencionado precedentemente, de uma “cultura” dos concursos públicos forjada historicamente no País (Fiuza, 2015Fiuza, M. V. (2015). Paralelo entre o concurso público brasileiro vigente e o concurso público originado na China Antiga: um estudo comparado de história do direito e legislação correspondente. Teresina: UESPI. https://doi.org/10.24824/978854440994.7
https://doi.org/10.24824/978854440994.7...
).

No que concerne às viagens, as experiências de concurseiros desvelaram que eles haviam viajado, em média, 5 vezes para participar de certames. Nos primeiros anos, eles viajam com maior frequência, mas esse índice declina com as aprovações e as nomeações que vão ocorrendo. As viagens, normalmente, são organizadas a partir de informações adquiridas com amigos e parentes, em agências de viagens e turismo, em guias turísticos e, em maior número, na internet (94,80%) (Tabela 2) – principalmente, nos grupos e/ou comunidades da rede social Facebook. Na extensão desses ciberespaços, as viagens são organizadas pelos próprios concurseiros ou por meio de empresas e de outras pessoas físicas. O perfil da amostra deste estudo, porém, tem preferência por viajar sozinho (90,40%).

As experiências dos candidatos, conforme a Tabela 2, indicaram ainda que estes viajavam de ônibus (57,00%) ou avião (75,00%), ficavam hospedados em: 76,00% hotéis; 43,00% casas de familiares e de amigos; 26,40% albergues; e 24,00% pousadas, havendo também aqueles (4,40%) que preferiam não se hospedar, ou seja, ir e voltar no mesmo dia de aplicação das provas. As estadas nas cidades variavam entre algumas horas e mais de 5 dias, sendo mais comum a permanência por 2 (41,40%) ou 3 (33,00%) dias, com chegadas entre 1 ou 2 dias antes das provas ocorrerem. Quanto aos gastos, os valores giravam em torno de R$ 100,00 e R$ 3.500,00, sendo a média de custos de R$ 884,32 nessas viagens – os montantes menores, certamente, seriam de viagens próximas, entre municípios, os maiores corresponderiam a deslocamentos mais longos, interestaduais e/ou inter-regionais. Os custos dessas viagens foram, basicamente, com meios de hospedagem, alimentação e transporte, bem como, em menores vezes, com compras pessoais e visitas a atrativos turísticos das cidades.

Tabela 2
Perfil das viagens dos concurseiros viajantes no Brasil

Acerca destes dados, a pesquisa de Lobato e Alberto (2019)Lobato, F. H. S., & Alberto, D. P. S. (2019). “O estudo é com você, a viagem é com a gente”: as agências de turismo especializadas em viagens a concursos públicos no Brasil. Turismo-Visão e Ação, 21(2), p. 82-101. DOI: https://doi.org/10.14210/rtva.v21n2.p82-101
https://doi.org/10.14210/rtva.v21n2.p82-...
constatou a existência de uma oferta de produtos e serviços especializados em viagens de concurseiros. Segundo os autores, essa oferta compreende

[...] modelos de negócios gestados por pequenos empreendedores ou por empresas tradicionais, que viram nas necessidades de uma demanda, em notório crescimento, uma oportunidade profícua de ganhos econômicos. As empresas caracterizam-se como micros, pequenas e médias, que planejam, se entre articulam e comercializam produtos e serviços, como transporte entre cidades e estados, reservas de hospedagens, transfers para realização das provas e roteiros turísticos (City Tours). Nesse sentido, evidencia-se que os serviços e os produtos dessas empresas, mesmo que pensados e comercializados para um público específico, são característicos de outras tipologias de agências - com exceção do serviço de transfer entre os meios de hospedagem e os locais de prova

(Lobato & Alberto, 2019Lobato, F. H. S., & Alberto, D. P. S. (2019). “O estudo é com você, a viagem é com a gente”: as agências de turismo especializadas em viagens a concursos públicos no Brasil. Turismo-Visão e Ação, 21(2), p. 82-101. DOI: https://doi.org/10.14210/rtva.v21n2.p82-101
https://doi.org/10.14210/rtva.v21n2.p82-...
, p. 99).

Para além de estudar, dormir, assistir TV e navegar na internet, os respondentes relataram que, nessas experiências, costumavam conhecer, passear ou “turistar” pelas cidades onde realizavam as provas. Majoritariamente, eles reconheceram esses traslados enquanto oportunidades de conhecer novos lugares e culturas. Para eles, essas viagens oportunizaram, em verdade, uma multiplicidade de experiências, que vão desde fazer novos amigos e reencontrar familiares até conhecer novas opções de destinações para as férias. Por outro lado, um grupo de participantes alegou que o curto tempo e o pouco recurso financeiro são condições que inviabilizam fazer turismo nas cidades onde ocorrem as provas, por isso muitos chegam e retornam no mesmo dia. Contudo, 86,00% deles manifestou interesse em retornar às cidades nas quais participaram dos concursos.

De acordo com as experiências vivenciadas pelos interlocutores da pesquisa, essas viagens, em diferentes intensidades, possibilitaram a eles: enriquecimento cultural, conhecer o novo, o inusitado, o diferente, o igual ou semelhante. Eis, algumas respostas dos sujeitos da pesquisa: “As viagens em si já são investimentos culturais”; “Toda viagem é uma oportunidade de mudar de ares e conhecer algo diferente”; “Uma estadia de alguns dias, em uma região diferente daquela que você vive, traz um crescimento cultural mesmo que pequeno”; “Sim, porque você já está automaticamente inserido em uma nova cultura. Logo, mesmo não sendo a principal motivação da viagem essa é uma consequência natural”; “Sempre é bom conhecer novos lugares, pessoas e culturas. Isso nos enriquece culturalmente e proporciona um grande lazer”; “Viajar é sempre renovação de energias e de conhecer novas culturas e pessoas” [sic]. Analogicamente, estas respostas remetem às escritas de pensadores e pensadoras das viagens e do turismo (Andrade, 2000Andrade, J. V. (2000). Turismo: fundamentos e dimensões. São Paulo: Ática.; Barretto, 1995Barretto, M. (1995). Manual de iniciação ao estudo do turismo. Campinas: Papirus.; Beni, 2003Beni. M. C. (2003). Análise Estrutural do Turismo. São Paulo: SENAC.; Cunha, 2003Cunha, L. (2003). Introdução ao turismo. Lisboa: Verbo.; Moesch, 2002Moesch, M. M. (2002). A produção do saber turístico. São Paulo: Editora Contexto.; Padilla 1992Padilla, Ó. D. L. T. (1992). El turismo: fenómeno social. México: Fondo de Cultura Económica.; Panosso Netto, 2005), do mesmo modo que desvelam a heterogeneidade das práticas turísticas destacada pela literatura sobre o turismo de experiência (Godovykh & Tasci, 2020Godovykh, M., & Tasci, A. D. (2020). Customer experience in tourism: a review of definitions, components, and measurements. Tourism Management Perspectives, 35, p. 100694. https://doi.org/10.1016/j.tmp.2020.100694.
https://doi.org/10.1016/j.tmp.2020.10069...
; Panosso & Gaeta, 2010Panosso Netto, A., & Gaeta, C. (2010). Turismo de experiência. São Paulo: Editora Senac São Paulo. https://doi.org/10.11606/9786588503270
https://doi.org/10.11606/9786588503270...
; Sugathan & Ranjan, 2019Sugathan, P., & Ranjan, K. R. (2019). Co-creating the tourism experience. Journal of Business Research, 100, p. 207-217. https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2019.03.032.
https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2019.0...
; Trigo, 2013Trigo, L. G. G. (2013). A viagem: caminho e experiência. São Paulo: Aleph.).

As experiências que os concurseiros costumam ter nas cidades durante as provas, assim como os gastos demandados por elas, possibilitaram identificar nessas viagens diferentes setores que compõem e estruturam a atividade turística, quais sejam: hotelaria, agenciamento, hospitalidade, transporte, alimentos e bebidas (gastronomia) etc. Tais setores, certamente, movimentaram (e continuam a movimentar) socioeconomicamente muitos destinos onde ocorrem as provas. Desse modo, como a inerente característica da atividade turística, nota-se que essa modalidade de viagem é capaz de beneficiar economicamente inúmeros agentes, seja no mercado formal, seja no informal, de maneira direta e indireta, em um efeito cascata ou dominó – conhecido pelos estudiosos da área como efeito multiplicador do turismo (Beni, 2003Beni. M. C. (2003). Análise Estrutural do Turismo. São Paulo: SENAC.; Cunha, 2003Cunha, L. (2003). Introdução ao turismo. Lisboa: Verbo.; Lage & Milone, 2001Lage, B. H. G., & Milone, P. C. (2001). Economia do turismo. São Paulo: Atlas.).

Nessa direção, em uma perspectiva dialógica com as compreensões teóricas clássicas do turismo (Andrade, 2000Andrade, J. V. (2000). Turismo: fundamentos e dimensões. São Paulo: Ática.; Barretto, 1995Barretto, M. (1995). Manual de iniciação ao estudo do turismo. Campinas: Papirus.; Beni, 2003Beni. M. C. (2003). Análise Estrutural do Turismo. São Paulo: SENAC.; Cunha, 2003Cunha, L. (2003). Introdução ao turismo. Lisboa: Verbo.; Panosso Netto, 2005), as viagens para concursos públicos podem ser caracterizadas por uma demanda real e crescente que se movimenta, em certa temporalidade, almejando participar de provas de concursos públicos, mas que também pode buscar lazer sem lhe trazer, não pelo menos naquele momento (e pode ser que em nenhum outro), retorno financeiro. Ademais, há custos com transportes, meios de hospedagem e alimentação. Além disso, pode haver gastos com experiências turísticas, de lazer e entretenimento nas cidades e proximidades onde são realizados os certames.

De posse dessas discussões e ao identificar a existência de diferentes perfis de consumidores nesse mercado, mapearam-se dois tipos de concurseiro que viajam, conforme disposto no Quadro 3:

Quadro 3
Tipos de Concurseiros que viajam para prestar concursos públicos

Por entender que as práticas turísticas, em muitos casos, estão condicionadas à existência de uma oferta especializada, inovadora e competitiva (Crespi Vallbona & Mascarilla Miró, 2021Crespi Vallbona, M., & Mascarilla Miró, O. (2021). Innovación en el mercado turístico: experiencias en arte urbano. Cuadernos de Turismo, 48, p. 25–48. https://doi.org/10.6018/turismo.492651
https://doi.org/10.6018/turismo.492651...
), Lobato e Alberto (2019)Lobato, F. H. S., & Alberto, D. P. S. (2019). “O estudo é com você, a viagem é com a gente”: as agências de turismo especializadas em viagens a concursos públicos no Brasil. Turismo-Visão e Ação, 21(2), p. 82-101. DOI: https://doi.org/10.14210/rtva.v21n2.p82-101
https://doi.org/10.14210/rtva.v21n2.p82-...
identificaram que há certa vontade e interesse em atividades de lazer e turismo por parte dos concurseiros (demanda), mas não há um leque de serviços específicos (oferta) que tragam comodidade, praticidade e segurança ao consumidor dessas viagens. É provável que isto seja um reflexo da invisibilidade dessas viagens, pois muitos agentes do próprio trade turístico ainda não percebem nelas oportunidades empreendedoras profícuas (Reinoso, 2019Reinoso, N. G. (2019). Segmentación y valoración del mercado turístico: Estudio del destino Patrimonio de la Humanidad Trinidad de Cuba. Revista Venezolana de Gerencia, 24(87), p. 785-806. https://doi.org/10.37960/revista.v24i87.24637
https://doi.org/10.37960/revista.v24i87....
). Brasil (2010, p. 9)Brasil. (2010). Segmentação do turismo e o mercado. Brasília: Ministério do Turismo. sinaliza que na atual conjectura globalizadora “[...] se diferenciar adquire importância a cada dia”. É preciso, portanto, ter a expertise de visualizar oportunidades inovadoras de negócio (Crespi Vallbona & Mascarilla Miró, 2021Crespi Vallbona, M., & Mascarilla Miró, O. (2021). Innovación en el mercado turístico: experiencias en arte urbano. Cuadernos de Turismo, 48, p. 25–48. https://doi.org/10.6018/turismo.492651
https://doi.org/10.6018/turismo.492651...
), a partir de necessidades da demanda ainda não sanadas.

Ao se correlacionar a literatura com os resultados encontrados, se pôde compreender que as viagens e turismo de concursos públicos concebem um novo mercado. No entanto, como retrodito, para se configurar como tal, um mercado precisa responder três questões (Beni, 2003Beni. M. C. (2003). Análise Estrutural do Turismo. São Paulo: SENAC.) ou problemas econômicos fundamentais (Lage & Milone, 2001Lage, B. H. G., & Milone, P. C. (2001). Economia do turismo. São Paulo: Atlas.), a saber: 1) O que produzir?; 2) Como produzir? e 3) Para quem produzir?. As respostas a essas indagações puderam ser reveladas aos poucos ao longo deste estudo, mas para esclarecê-las e, consequentemente, não as deixar à disposição das interpretações humanas, elas são apresentadas na Figura 2.

Figura 2
Questões ou problemas do mercado das viagens a concursos públicos

Nesse mercado específico das viagens para concursos no Brasil, consoante Lobato e Alberto (2019, p. 89)Lobato, F. H. S., & Alberto, D. P. S. (2019). “O estudo é com você, a viagem é com a gente”: as agências de turismo especializadas em viagens a concursos públicos no Brasil. Turismo-Visão e Ação, 21(2), p. 82-101. DOI: https://doi.org/10.14210/rtva.v21n2.p82-101
https://doi.org/10.14210/rtva.v21n2.p82-...
, as empresas atuantes “[...] oferecem uma combinação diversa, empreendedora e inovadora de serviços e de produtos por intermédio de uma rede de colaboração particular”. Tal rede colaborativa, contudo, ainda se estabelece de maneira tácita e informal, não sendo, por vezes, conhecida e reconhecida por “[...] uma parcela da demanda, por gestores, por pesquisadores, pelo próprio trade turístico, assim como pela sociedade em geral”. Embora a oferta de serviços de agências de viagem e até de hostel para concurseiros seja pouco conhecida, ela é multissituada, isto é, está presente em diferentes destinos do País. Ademais, como nos demais mercados, “[...] a transação mercadológica, o encontro entre a demanda e a oferta são marcados pela dinâmica da internet nas redes sociais” (Lobato & Alberto, 2019Lobato, F. H. S., & Alberto, D. P. S. (2019). “O estudo é com você, a viagem é com a gente”: as agências de turismo especializadas em viagens a concursos públicos no Brasil. Turismo-Visão e Ação, 21(2), p. 82-101. DOI: https://doi.org/10.14210/rtva.v21n2.p82-101
https://doi.org/10.14210/rtva.v21n2.p82-...
).

Ao se tomar como base a perspectiva de Beni (2003)Beni. M. C. (2003). Análise Estrutural do Turismo. São Paulo: SENAC. e de Cunha (2003)Cunha, L. (2003). Introdução ao turismo. Lisboa: Verbo., visualiza-se que as viagens ou o turismo de concursos públicos, para “acontecerem”, envolve-se e transversaliza-se por/com variados elementos de diferentes esferas. Visualiza-se uma rede de colaboração em que órgãos e entidades públicas, empresas e as camadas sociais articulam-se, em meio a uma relação, comumente, tácita, em prol de uma atividade econômica. Entretanto, muitas vezes, esses agentes não percebem que estão envoltos a esse complexo processo, pois, as viagens e o turismo de concursos públicos compreendem uma segmentação que ainda não é, de fato, reconhecida pela sociedade.

Importa discorrer que essas viagens (e seus números), apesar de não serem devidamente reconhecidas pelos instrumentos de ordenamento, de fiscalização e de regulamentação da atividade turística no Brasil, são catalogadas desapercebidamente nas estatísticas de embarques e de desembarques registradas pelas Secretarias Estaduais de Turismo (SETUR), pelo Ministério do Turismo (MTUR) e pela própria Organização Mundial do Turismo (OMT). E como nos últimos anos presencia-se um crescimento exponencial de participações em concursos públicos, os números das viagens domésticas, computadas pelo MTUR, decorrem também dessa nova vertente do setor das viagens. Dessa maneira, esses números, ainda desconhecidos, provavelmente corroboram com a dinamização do turismo no País.

5 CONCLUSÃO

As viagens para participação em concursos públicos compreendem fluxos de pessoas que transladam pelo País, em um tempo/espaço determinado, com a motivação de concorrer a vagas em certames públicos, mas que também desfrutam de experiências de lazer e de turismo. Além da utilização das infraestruturas básica e turística, há gastos com o trade turístico: alimentação, meios de hospedagens, transportes, lazer. Por conseguinte, dada a demanda de inscritos, essas viagens estabelecem uma movimentação social e econômica nas destinações onde são aplicadas as provas, pois, tanto o mercado turístico quanto outros mercados – formais, informais, diretos ou indiretos – são beneficiados.

Nos termos da literatura sobre mercado turístico, esta pesquisa conseguiu verificar que os concurseiros compõem um grupo de viajantes particular, com demandas próprias e diferentes de outras modalidades. Nesse sentido, foram mapeados dois tipos de concurseiro que viajam, quais sejam: 1) o “concurseiro viajante”, que viaja sem fins turísticos, apenas para realizar as provas; e 2) o “concurseiro visitante”, que viaja para prestar os concursos, mas também aproveita sua estada para realizar passeios turísticos, conhecer a cidade e a cultura local. Este último perfil, o “concurseiro visitante” pode ser identificado como um “concurseiro turista”, que viaja por mais de 24 horas, ou um “concurseiro excursionista”, que tem a sua estada no destino por um período inferior a 24 horas. Embora essa demanda seja real e potencial, a partir de alguns relatos, constatou-se que, em face de haver uma disposição restrita de serviços e de produtos especializados, algumas necessidades desses viajantes, em particular, ainda não foram atendidas, muito menos potencializadas, pela oferta desse novo mercado.

Essas viagens conformam uma ramificação do mercado turístico que possui indicadores de desenvolvimento. Entrementes, esse mercado ainda é desconhecido por uma parcela da demanda, por gestores, por pesquisadores, até mesmo pelo trade turístico, assim como pela sociedade em geral. Tal fato é visto como um empecilho para o crescimento e a dinamização desse mercado no Brasil, tendo em vista que, certamente, há uma demanda real e uma demanda potencial em crescimento. Logo, abre-se aqui caminhos para quem visa empreender no mercado turístico e para que os órgãos oficiais de planejamento, gestão e fomento do turismo possam abarcar essa nova modalidade de viagem nas suas ações, podendo maximizar e dinamizar esse mercado, seus benefícios e beneficiários.

A pesquisa se deparou com alguns entraves para se concretizar. Adiantada na introdução, a escassez na literatura foi a principal dificuldade encontrada. Conquanto existam estudos com categorias adjacentes ou transversais, como “motivação” ou “experiência” em diferentes tipos de viagem, a diminuta produção sobre as viagens a concursos públicos é uma realidade, a qual dificultou pensar uma estruturação lógica de argumentação a ser seguida pelo estudo. Do ponto de vista procedimental, outro grande desafio encontrado foi a definição de uma amostra, tendo em vista que não há conhecimento da população ou do universo amostral. Além disso, no decorrer da aplicação do questionário on-line, algumas pessoas o responderam apenas a título de curiosidade ou sem ter viajado anteriormente para participar de concursos públicos, o que representou um esforço maior na validação dos participantes. Assim, realizou-se uma análise minuciosa, em alguns casos até demais, para encontrar e invalidar alguns questionários.

Esta investigação, dado o seu ineditismo, certamente traz avanços aos estudos em turismo e ao planejamento da atividade, mais especificamente desse mercado. O estudo oferece a estudantes, a pesquisadores(as), a gestores(as) e ao empresariado embasamentos inovadores, que podem motivar a realização de novas pesquisas – sejam na mesma, sejam em novas abordagens –, levantando a importância da discussão do tema na academia, no mercado e na gestão pública. Ademais, este é passível de estimular insights, que podem fomentar, porventura, a implementação, o planejamento, o desenvolvimento e a consolidação de uma atividade turística empreendedora, centrada também nessa modalidade, em diversas cidades, estados ou regiões do Brasil.

Neste estudo, deu-se conta que, acerca das viagens de concursos públicos e de seus viajantes, muito há a ser descortinado. Abre-se aqui, portanto, um leque frutífero de possibilidades outras de investigação. Ao entender que não há como um único estudo abarcar todas as complexidades que envolvem um objeto, nessa escrita buscou-se tão somente focalizar a demanda dos viajantes dessa modalidade de viagem, a fim de contribuir com a construção teórica e, quiçá, prática dessa inovadora face do mercado turístico. Contudo, para fomentar um continuum investigativo, como indicações para novas pesquisas, sugere-se: estudos concernentes à oferta especializada existente e o seu crescimento, bem como sobre os impactos socioeconômicos dessas viagens nos polos de emissão, de transição e de recepção desses viajantes. Decerto, essas indicações trarão contribuições importantes em direção ao avanço científico de um escopo teórico desse tipo de viagem.

  • 1
    É oportuno salientar que esta pesquisa, por ser inicial e conformada por uma abordagem quali-quantitativa, necessita de outras investigações específicas capazes de mostrar novos dados que ampliem o escopo desta primeira.
  • Como Citar: Lobato, F. H. S. (2023). Mercado das viagens para concursos públicos no Brasil: perfil e experiências de concurseiros. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, São Paulo, 17, e-2690, 2023. https://doi.org/10.7784/rbtur.v17.2690

REFERÊNCIAS

  • Alcobia, O. (2021). O mercado turístico global na perspectiva geográfica de Milton Santos. Ateliê Do Turismo, 5(2), p. 245-264. Recuperado de: https://periodicos.ufms.br/index.php/adturismo/article/view/13703
    » https://periodicos.ufms.br/index.php/adturismo/article/view/13703
  • Amaral, A., Natal, G., & Viana, L. (2008). Netnografia como aporte metodológico da pesquisa em comunicação digital. Revista Sessões do Imaginário, 20(1), p. 34-40.
  • Andrade, J. V. (2000). Turismo: fundamentos e dimensões São Paulo: Ática.
  • Barretto, M., & Rejowski, M. (2009). Considerações epistemológicas sobre segmentação: das tipologias turísticas à segmentação de mercado. In: Panosso Netto, A., & Ansarah, M. G. D. R. (Org.). Segmentação do mercado turístico: estudos produtos e perspectivas 1. ed. Barueri-SP: Manole, p. 3-18. https://doi.org/10.11606/t.12.2009.tde-30062009-161308
    » https://doi.org/10.11606/t.12.2009.tde-30062009-161308
  • Barretto, M. (1995). Manual de iniciação ao estudo do turismo. Campinas: Papirus.
  • Beni. M. C. (2003). Análise Estrutural do Turismo São Paulo: SENAC.
  • Boullón, R. C. (2002). Planejamento do espaço turístico. Bauru/SP: Edusc.
  • Braga, A. (2006). Técnica etnográfica aplicada à comunicação online: uma discussão metodológica. UNIrevista, 1(3), p. 1-15.
  • Brasil. (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 15 out. 1988. https://doi.org/10.11606/d.2.2010.tde-13122010-160747
    » https://doi.org/10.11606/d.2.2010.tde-13122010-160747
  • Brasil. (1990). Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990 Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 12 dez. 1990. https://doi.org/10.22239/2317-269x.01505
    » https://doi.org/10.22239/2317-269x.01505
  • Brasil. (2010). Segmentação do turismo e o mercado. Brasília: Ministério do Turismo.
  • Crespi Vallbona, M., & Mascarilla Miró, O. (2021). Innovación en el mercado turístico: experiencias en arte urbano. Cuadernos de Turismo, 48, p. 25–48. https://doi.org/10.6018/turismo.492651
    » https://doi.org/10.6018/turismo.492651
  • Cunha, L. (2003). Introdução ao turismo Lisboa: Verbo.
  • Dencker, A. F. M. (2015). Pesquisa de mercado em turismo: identificação de novos segmentos. In: Panosso Netto, A., & Ansarah, M. G. D. R. (Org.). Produtos turísticos e novos segmentos de mercado: planejamento, criação e comercialização Barueri-SP: Manole, p. 35-54. https://doi.org/10.31692/2526-7701.iicointerpdvagro.2017.00107
    » https://doi.org/10.31692/2526-7701.iicointerpdvagro.2017.00107
  • Fiuza, M. V. (2015). Paralelo entre o concurso público brasileiro vigente e o concurso público originado na China Antiga: um estudo comparado de história do direito e legislação correspondente Teresina: UESPI. https://doi.org/10.24824/978854440994.7
    » https://doi.org/10.24824/978854440994.7
  • Godovykh, M., & Tasci, A. D. (2020). Customer experience in tourism: a review of definitions, components, and measurements. Tourism Management Perspectives, 35, p. 100694. https://doi.org/10.1016/j.tmp.2020.100694.
    » https://doi.org/10.1016/j.tmp.2020.100694
  • Gondim, C. B., Bolzán, R. E., Espínola, R. S., & Alexandre, M. L. O (2020). Netnografia como método de pesquisa em turismo: análise de estudos de pós-graduação no Brasil. Revista Turismo em Análise, 31(1), p. 19-36. https://doi.org/10.11606/issn.1984-4867.v31i1p19-36
    » https://doi.org/10.11606/issn.1984-4867.v31i1p19-36
  • Guissoni, R., Alencar, D. G., & Gândara, J. M. (2019). O turismo de experiência no Paraná-Brasil: uma análise sobre os turistas que procuram por experiências em negócios, meio urbano e esportes. Revista Turismo & Desenvolvimento, 32, p. 235-253. https://doi.org/10.34624/rtd.v0i32.20495.
    » https://doi.org/10.34624/rtd.v0i32.20495
  • Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2010). Censo 2010 https://doi.org/10.52041/srap.15308
    » https://doi.org/10.52041/srap.15308
  • Kotler, P., Bowen, J., & Makens, J. (2008). Marketing para turismo. Madrid. Pearson Educación.
  • Kozinets, R. V. (2007). Netnography 2.0. In: Belk, R. W. (Ed.). Handbook of Qualitative Research Methods Marketing Edward Elgar Publishing, p. 142-155. Recuperado de: https://cstn.files.wordpress.com/2009/10/qualitative-research.pdf
    » https://cstn.files.wordpress.com/2009/10/qualitative-research.pdf
  • Kozinets, R. V. (2014). Netnografia: realizando pesquisa etnográfica online Penso Editora.
  • Lage, B. H. G., & Milone, P. C. (2001). Economia do turismo São Paulo: Atlas.
  • Lobato, F. H. S. (2016). Concurseiros viajando pelo Brasil: uma nova segmentação do mercado turístico? Belém: UFPA.
  • Lobato, F. H. S., & Alberto, D. P. S. (2019). “O estudo é com você, a viagem é com a gente”: as agências de turismo especializadas em viagens a concursos públicos no Brasil. Turismo-Visão e Ação, 21(2), p. 82-101. DOI: https://doi.org/10.14210/rtva.v21n2.p82-101
    » https://doi.org/10.14210/rtva.v21n2.p82-101
  • Lobato, F. H. S., Hamoy, J. A., & Bahia, M. C. (2022). “A gente só tem lazer quando tem prova”: do cotidiano ao anticotidiano de concurseiros viajantes no Brasil. In: Tavares, G., Bahia, M. C., & Figueiredo, S. Turismo, lazer e patrimônio na Pan-Amazônia. Belém: Editora NAEA.
  • Moesch, M. M. (2002). A produção do saber turístico. São Paulo: Editora Contexto.
  • Noveli, M. (2010). Do off-line para o online: a netnografia como um método de pesquisa ou o que pode acontecer quando tentamos levar a etnografia para a Internet? Organizações em Contexto, 6(12), p. 107-133. https://doi.org/10.15603/1982-8756/roc.v6n12p107-133
    » https://doi.org/10.15603/1982-8756/roc.v6n12p107-133
  • Oliveira, A. P. (2001). Turismo e desenvolvimento: planejamento e organização São Paulo: Atlas.
  • Padilla, Ó. D. L. T. (1992). El turismo: fenómeno social. México: Fondo de Cultura Económica.
  • Panosso Netto, A., & Ansarah, M. G. D. R. (2015). Produtos turísticos e novos segmentos de mercado: planejamento, criação e comercialização Barueri-SP: Manole.
  • Panosso Netto, A., & Gaeta, C. (2010). Turismo de experiência. São Paulo: Editora Senac São Paulo. https://doi.org/10.11606/9786588503270
    » https://doi.org/10.11606/9786588503270
  • Panosso Netto, A., & Nechar, M. C. (2014). Epistemologia do turismo: escolas teóricas e proposta crítica. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, 8(1), p. 120-144. https://doi.org/10.7784/rbtur.v8i1.719
    » https://doi.org/10.7784/rbtur.v8i1.719
  • Panosso Netto, A., Tomillo Noguero, F., & Jäger, M. (2011). Por uma visão crítica nos estudos turísticos. Revista Turismo Em Análise, 22(3), p. 539-560. https://doi.org/10.11606/issn.1984-4867.v22i3p539-560
    » https://doi.org/10.11606/issn.1984-4867.v22i3p539-560
  • Pereira, G. D. A., & Gosling, M. (2019). Motivações push e pull de brasileiros que amam viajar. BBR. Brazilian Business Review, 16(1), p. 63-86. https://doi.org/10.15728/bbr.2019.16.1.5
    » https://doi.org/10.15728/bbr.2019.16.1.5
  • Pinel, W. R. R., & Reses, E. D. S. (2020). Serviço público e a capital dos concursos: uma análise crítica da categoria concurseiro no Distrito Federal. Humanidades & Inovação, 7(7), p. 432-440. Recuperado de https://revista.unitins.br/index.php/humanidadeseinovacao/article/view/2541
    » https://revista.unitins.br/index.php/humanidadeseinovacao/article/view/2541
  • Reinoso, N. G. (2019). Segmentación y valoración del mercado turístico: Estudio del destino Patrimonio de la Humanidad Trinidad de Cuba. Revista Venezolana de Gerencia, 24(87), p. 785-806. https://doi.org/10.37960/revista.v24i87.24637
    » https://doi.org/10.37960/revista.v24i87.24637
  • Rossetto Ferreira, L. (2007). A comunicação e o turismo sexual: as garotas do Brasil – um olhar hermenêutico Porto Alegre: PUC-RS. https://doi.org/10.7784/rbtur.v2i2.104
    » https://doi.org/10.7784/rbtur.v2i2.104
  • Ruschmann, D. V. D. M. (2001). Marketing turístico: um enfoque promocional. Campinas: Papirus.
  • Silva, E. M. C., & Trentin, F. (2018). Turismo de Experiência: L ‘Arte Ceccato Vila Flores. Caderno Virtual de Turismo, 18(3), p. 178-192. http://dx.doi.org/10.18472/cvt.18n3.2018.1351.
    » https://doi.org/10.18472/cvt.18n3.2018.1351
  • Silva, M. B. D. O. D., Arruda, D. D. O., & Mariani, M. A. P. (2021). Boca a boca online no turismo: análise netnográfica de avaliações no setor hoteleiro. Revista Acadêmica Observatório de Inovação do Turismo, 15(1), p. 58-80. https://doi.org/10.17648/raoit.v15n1.6292.
    » https://doi.org/10.17648/raoit.v15n1.6292
  • Silva, M. B. D. O. D., Mariani, M. A. P., Santos, J. F. D. S., & Arruda, D. D. O. (2022). Como os turistas percebem os atributos de atrativos turísticos em Bonito (MS)? Uma análise calcada em princípios da netnografia. Turismo: Visão e Ação, 24, p. 92-111. https://doi.org/10.14210/rtva.v24n1.p92-111
    » https://doi.org/10.14210/rtva.v24n1.p92-111
  • Sugathan, P., & Ranjan, K. R. (2019). Co-creating the tourism experience. Journal of Business Research, 100, p. 207-217. https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2019.03.032.
    » https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2019.03.032
  • Trigo, L. G. G. (2013). A viagem: caminho e experiência São Paulo: Aleph.

APÊNDICE A Qquestionário aplicado junto aos concurseiros

  1. Sexo:

    ( ) Masculino ( ) Feminino

  2. Pessoa com Deficiência (PCD) ? ( )Sim ( )Não

    Se Sim, Qual(is)?: ________________________________________

  3. Idade:

    ( ) 18 a 20 anos;

    ( ) 21 a 30 anos;

    ( ) 31 a 40 anos;

    ( ) 41 a 50 anos;

    ( ) Acima de 50.

  4. Estado Civil:

    ( ) Solteiro(a)

    ( ) Casado(a)

    ( ) Divorciado(a)

    ( ) União Estável ( ) Viúvo(a)

    ( ) Outros: ________________________________________

    - Escolaridade:

    ( ) Fundamental Incompleto;

    ( ) Fundamental Completo;

    ( ) Médio Incompleto;

    ( ) Médio Completo;

    ( ) Superior Incompleto;

    ( ) Superior Completo;

    ( ) Pós-Graduação.

  5. Local de Residência:

    6.1- Cidade: ________________________________________

    6.2- Estado:________________________________________

  6. Renda:

    ( ) Não recebe nenhuma renda;

    ( ) Menos de 1 salários mínimos;

    ( ) De 1 a 3 salários mínimos;

    ( ) De 4 a 6 salários mínimos;

    ( ) De 7 a 9 salários mínimos;

    ( ) 10 ou mais de 10 salários mínimos:

    ( ) Acima de 16 sm;

  7. Ocupação:

    ( ) Estudante;

    ( ) Desempregado(a);

    ( ) Empregado(a)

    ( ) Servidor(a) Público;

    ( ) Autônomo(a)/Profissional Liberal;

    ( ) Aposentado(a);

    ( ) Outros :________________________________________

  8. Qual o motivo que leva você a prestar concursos públicos? ( ) Estabilidade Financeira;

    ( ) Bom Salários;

    ( ) Horário de Trabalho Fixo;

    ( ) Aposentadoria;

    ( ) Vagas para Deficientes;

    ( ) Outros: ________________________________________

  9. Tempo de participação de Concursos Públicos?

    ( ) Menos de 1 Ano;

    ( ) De 1 a 3 anos;

    ( ) De 4 a 5 anos;

    ( ) De 6 a 7 anos:

    ( ) Mais de 7 anos.

  10. Nível de preferência de Concursos Públicos ( ) Municipais;

    ( ) Estaduais:

    ( ) Federais.

  11. De quantos Concursos Públicos você já participou?

  12. Quantas viagens você já fez para participar de Concursos Públicos?

  13. Geralmente, quais são as suas principais fontes de informação ao preparar esse tipo de viagem?

    ( ) Parentes e Amigos;

    ( ) Internet;

    ( ) Agência de Viagens;

    ( ) Guias Turísticos (Folders, Informativos Impressos...)

    ( ) Outros. ________________________________________

  14. Prefere:

    ( ) Viajar em grupo; ( ) Viajar sozinho(a)

  15. Quais os meios de transporte você costuma utilizar para esse tipo de Viagem:

    ( ) Ônibus;

    ( ) Van;

    ( ) Carro;

    ( ) Avião;

    ( )Barco Ou Navio;

    ( ) Outro.________________________________________

  16. Quando você realiza uma viagem para fazer provas de concursos, onde você costuma se hospedar?

    ( ) Casa de Parentes / Amigos

    ( ) Imóvel Alugado;

    ( ) Hotéis

    ( ) Pousadas;

    ( ) Albergues/Hostel

    ( ) Outros:________________________________________

  17. Em média, quantos dias você costuma ficar na cidade de realização da prova?

    ( ) 1 dia;

    ( ) 2 dias;

    ( ) 3 dias;

    ( ) 4 dias;

    ( ) 5 dias;

    ( ) Mais de 5 dias

  18. Quantos dias antes da prova, você costuma chegar à cidade onde o certame será realizado?

    ( ) No dia da Prova;

    ( ) 1 dia antes;

    ( ) 2 dias antes;

    ( ) 3 dias antes;

    ( ) 4 dias antes;

    ( ) Mais de 4 dias;

  19. Quanto em média você gasta com esse tipo de viagem?

    R:________________________________________(Essa questão aceita apenas respostas em forma de numerais).

  20. Com o que você costuma gasta?

    ( ) Hospedagem;

    ( ) Alimentação;

    ( )Transporte Interno;

    ( ) Compras Pessoais;

    ( ) Atrativos e Passeios;

    ( )Outros:________________________________________

  21. O que você costuma fazer antes e/ou após a realização das provas?

    ( ) Ler/estudar;

    ( ) Dormir;

    ( ) Assistir Tv;

    ( ) Conhecer e passear pelas cidades;

    ( ) Outros:________________________________________

  22. Essas viagens seriam oportunidades para conhecer outras cidades, regiões e culturas.

    ( ) Sim ( ) Não

    Justifique: _________________________________________________________________________________

  23. Já visitou ou tem vontade de visitar alguma cidade onde realizou prova de concurso, a turismo?

    ( ) Sim ( ) Não

  24. Para você, as viagens realizadas para a participação em concursos públicos, podem ser consideradas como uma nova forma de se fazer turismo (novo nicho/segmento)?

    ( ) Sim ( )Não

    Justifique: _________________________________________________________________________________

    Caso queria receber posteriormente os resultados da pesquisa, informe seu contato a seguir:

    E-mail: ________________________________________

Editado por

Editor:

Glauber Eduardo de Oliveira Santos.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Maio 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    29 Jul 2022
  • Aceito
    24 Out 2022
Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo Rua Silveira Martins, 115 - cj. 71, Centro, Cep: 01019-000, Tel: 11 3105-5370 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: edrbtur@gmail.com