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Para: Epistaxe como complicação de tratamento com cânula nasal de alto fluxo em adultos

AO EDITOR

Lemos com grande interesse o artigo original de Veiga et al. intitulado “Epistaxe como complicação de tratamento com cânula nasal de alto fluxo em adultos”.(11 Veiga VC, Silva LM, Sady ER, Maia IS, Cavalcanti AB. Epistaxis as a complication of high-flow nasal cannula therapy in adults. Rev Bras Ter Intensiva. 2022;33(4):640-3.) Embora a epistaxe seja uma complicação pouco frequente, ela é muito interessante, uma vez que apresenta importantes repercussões clínicas. Os autores consideram que o uso de fluxo elevado (65L/minuto) e prongas de menor calibre aumentam a velocidade do gás, causando um efeito de jato. Embora os autores não tenham encontrado qualquer diferença nos fatores de risco para epistaxe, propomos vários fatores a serem considerados.

Em primeiro lugar, são cruciais as informações sobre o mecanismo associado e o tecido da mucosa das vias aéreas nasais. De um ponto de vista fisiológico, não dispomos de informações sobre o efeito da prevalência de respiração bucal. A respiração bucal é um fator crítico para o controle da umidade e da temperatura em relação ao nariz e à boca.(22 Spicuzza L, Schisano M. High-flow nasal cannula oxygen therapy as an emerging option for respiratory failure: the present and the future. Ther Adv Chronic Dis. 2020;11:2040622320920106.,33 Esquinas Rodriguez AM, Scala R, Soroksky A, BaHammam A, de Klerk A, Valipour A, et al. Clinical review: humidifiers during non-invasive ventilation-key topics and practical implications. Crit Care. 2012;16(1):203.) Consideramos a perda ou a ineficácia da umidade, que estão relacionadas com o ressecamento nasal, em conjunto com os efeitos combinados da oxigenação, serem o mecanismo fundamental.(44 Poiroux L, Piquilloud L, Seegers V, Le Roy C, Colonval K, Agasse C, et al. Effect on comfort of administering bubble-humidified or dry oxygen: the Oxyrea non-inferiority randomized study. Ann Intensive Care. 2018;8(1):126.)

Em segundo lugar, são essenciais informações sobre a avaliação e o tratamento da epistaxe (avaliação otorrinolaringológica). A epistaxe é um sinal e requer avaliação e tratamento mais precisos e objetivos.

Pode ser útil uma classificação ou tipo de pontuação (Escala de Gravidade da Epistaxe - Epistaxis Severity Score) que seja validada para a telangiectasia hemorrágica hereditária.(55 Liu J, Chen T, Lv Z, Wu D. Assessment of the use of humidified nasal cannulas for oxygen therapy in patients with epistaxis. ORL J Otorhinolaryngol Relat Spec. 2021;83(6):434-8.)

Também pode ser vantajoso realizar uma exploração da mucosa ou da cavidade nasal utilizando rinoscopia anterior, para identificar se os pacientes com epistaxe apresentam lesões unilaterais ou bilaterais.

Ainda, é importante saber que tratamento foi proposto para a epistaxe, como, por exemplo, cauterização (quer química, com ácido tricloroacético, ou elétrica, com pinças bipolares) juntamente de tamponamento nasal.

É igualmente interessante saber se, para além da epistaxe como sinal, há outros sintomas associados, como obstrução nasal, dor, lesão da mucosa, formação de crosta, rinorreia, nasalização exagerada da fala, hiposmia e dificuldades respiratórias.

Em terceiro lugar, também são importantes informações sobre a precisão do sistema nasal de alto fluxo. Os autores utilizaram o sistema nasal de alto fluxo da Vapotherm®, Inc., Exeter, que possui cânulas nasais com diâmetro reduzido (medindo 2,7mm e 4,8mm). Embora a temperatura tenha sido ajustada entre 35°C e 37°C, é importante considerar que alguns modelos de bancada de dispositivos de sistema nasal de alto fluxo podem perder a estabilidade de temperatura e umidade.(55 Liu J, Chen T, Lv Z, Wu D. Assessment of the use of humidified nasal cannulas for oxygen therapy in patients with epistaxis. ORL J Otorhinolaryngol Relat Spec. 2021;83(6):434-8.) Além disso, é possível que a temperatura externa da unidade de terapia intensiva influencie.

Esses fatores podem ajudar a compreender a epistaxe e a escolher uma abordagem racional para seu tratamento em pacientes com fragilidade da mucosa nasal.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Veiga VC, Silva LM, Sady ER, Maia IS, Cavalcanti AB. Epistaxis as a complication of high-flow nasal cannula therapy in adults. Rev Bras Ter Intensiva. 2022;33(4):640-3.
  • 2
    Spicuzza L, Schisano M. High-flow nasal cannula oxygen therapy as an emerging option for respiratory failure: the present and the future. Ther Adv Chronic Dis. 2020;11:2040622320920106.
  • 3
    Esquinas Rodriguez AM, Scala R, Soroksky A, BaHammam A, de Klerk A, Valipour A, et al. Clinical review: humidifiers during non-invasive ventilation-key topics and practical implications. Crit Care. 2012;16(1):203.
  • 4
    Poiroux L, Piquilloud L, Seegers V, Le Roy C, Colonval K, Agasse C, et al. Effect on comfort of administering bubble-humidified or dry oxygen: the Oxyrea non-inferiority randomized study. Ann Intensive Care. 2018;8(1):126.
  • 5
    Liu J, Chen T, Lv Z, Wu D. Assessment of the use of humidified nasal cannulas for oxygen therapy in patients with epistaxis. ORL J Otorhinolaryngol Relat Spec. 2021;83(6):434-8.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Nov 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    10 Fev 2022
  • Aceito
    17 Fev 2022
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