Esforços para combater a mortalidade materna por COVID-19 no BRASIL

É com enorme satisfação que agradecemos o interesse pelo nosso artigo sobre mortalidade materna pela COVID-19 no Brasil.¹ Esclarecemos que apesar de o artigo ter sido publicado em 2021, os dados incluídos dizem respeito apenas a 2020, época em que foi aceito pela Revista, de forma que concordamos que esses dados realmente precisam ser atualizados, analisados e publicados tanto nas revistas nacionais como internacionais, para corrigir as inevitáveis lacunas temporais devido ao atraso entre submissão e publicação dos artigos científicos.

Depois de dois anos do início da pandemia, é fato que houve um grande avanço nas descobertas epidemiológicas, clínicas, obstétricas e relativas ao tratamento e à prevenção da COVID-19, incluindo o período gravídico-puerperal. Não há mais dúvidas sobre o inequívoco aumento da mortalidade pela COVID-19 em gestantes e puérperas,²,³ bem como acerca dos diversos desfechos maternos, fetais e neonatais desfavoráveis.²,⁴ De fato, os dados mais recentes do Observatório Obstétrico apontam para 1.966 gestantes e puérperas mortas pela COVID-19, sendo 1.506 mortes maternas em 2021 (227% a mais que em 2020).⁵

Tampouco restam dúvidas de que a vacinação pode e deve ser realizada, preferentemente com vacinas de RNAm, cuja efetividade e segurança tem sido demonstradas em diversos estudos que concluem não haver risco aumentado de perda gestacional ou efeitos adversos fetais.⁶,⁷ Infelizmente, no Brasil houve um retardo na tomada de decisão para a vacinação contra o SARS-CoV-2 em todas as gestantes e puérperas, posto que somente em 06 de julho de 2021 foi publicada a Nota Técnica 02/2021 com a recomendação de vacinar no país,⁸ o que levou a um enorme número de mortes maternas que poderiam ter sido prevenidas. Ressaltamos que das 1.506 mortes maternas ocorridas no Brasil, 1.153 ocorreram até julho, antes da Nota Técnica 02/2021,⁸ e 353 a partir de julho, sem nenhum registro no início de 2022 até o dia 15 de janeiro.⁵

Vale ainda destacar que até hoje a vacinação de gestantes caminha em ritmo mais lento em relação à população geral, verificando-se que apenas 55% das gestantes receberam uma dose e 45% receberam duas doses.⁵ Muitos obstáculos ainda são impostos à vacinação, quais sejam: persiste a exigência de prescrição médica (recomendada pela Nota Técnica 02/2021)⁸ em alguns estados, adolescentes não foram incluídas na recomendação inicial e infelizmente médicos cm posição antivacina que, a despeito das evidências científicas, têm desaconselhado a vacinação, sendo frequentes informações tipo fake news sobre seu uso na gravidez.

Apesar da menor adesão à vacinação por gestantes e puérperas, podemos perceber uma diminuição da taxa de letalidade da Síndrome Respiratória Aguada Grave devido à COVID-19. Em 2020 essa taxa era de 7,2%, aumentando para 13,7% em 2021, com variação de 5,0% a 14,0% até julho e passando para 1,0% ao final do ano de 2021. Até o momento, em que escrevemos esta Carta, há o registro de 829.603 gestantes e puérperas completamente imunizadas no Brasil.⁵

Concordamos com e louvamos a iniciativa do Observatório Obstétrico Brasileiro COVID-19 que tem sido de extrema importância para os pesquisadores e para o público geral, democratizando o acesso à Ciência de Dados e trazendoinformações importantes sobre a magnitude do efeito da COVID-19 no período gravídico-puerperal em termos de casos de SRAG, mortes maternas e também de dados sobre a vacinação.⁵

Irmanamo-nos aos pesquisadores do Observatório Obstétrico Brasileiro. Porquanto nosso próprio grupo tem enorme interesse no tema “COVID-19 e Gravidez” e desde o início da pandemia expressamos nossa preocupação com os possíveis efeitos da COVID-19 no ciclo gravídicopuerperal, tendo publicado o primeiro artigo a alertar sobre as mortes maternas por COVID-19 no Brasil⁹ e diversos outros que se seguiram analisando os fatores associados ao óbito, evidenciando além da desigualdade social e racial,¹⁰ importantes falhas da assistência, explicando grande parte dos óbitos maternos por COVID-19 no país.¹¹ Além da pesquisa, estamos juntos no objetivo maior de evitar que mais mortes aconteçam, tendo em vista que foram em sua imensa maioria, preveníveis.

References

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• ³
  Gonçalves BMM, Franco RPV, Rodrigues AS. Maternal mortality associated with COVID-19 in Brazil in 2020 and 2021: comparison with non-pregnant women and men. PLoS One. 2021 Dec; 16 (12): e0261492. DOI: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0261492
  » https://doi.org/10.1371/journal.pone.0261492
• ⁴
  Kasehagen L, Byers P, Taylor K, Kittle T, Roberts C, Collier C, et al COVID-19-associated deaths after SARS-CoV-2 infection during pregnancy - Mississippi, March 1, 2020 - October 6, 2021. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2021 Nov; 70 (47): 1646-8.
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  Rodrigues A, Lacerda L, Francisco RPV. ‘Brazilian Obstetric Observatory’ (OOBR) COVID-19 arXiv preprint arXiv:2105.06534 [Internet]. Brazil: OOBR; 2021; [access in 2022 Jan 18]. Available from: https://observatorioobstetrico.shinyapps.io/covid_gesta_puerp_br/
  » https://observatorioobstetrico.shinyapps.io/covid_gesta_puerp_br/
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  Santos DS, Menezes MO, Andreucci CB, Nakamura-Pereira M, Knobel R, Katz L, et al Disproportionate impact of coronavirus disease 2019 (COVID-19) among pregnant and postpartum black women in brazil through structural racism lens. Clin Infect Dis. 2021 Jun; 72 (11): 2068-9.
• ¹¹
  Takemoto MLS, Menezes MO, Andreucci CB, Knobel R, Sousa L, Katz L, et al Clinical characteristics and risk factors for mortality in obstetric patients with severe COVID-19 in Brazil: a surveillance database analysis. BJOG. 2020 Dec; 127 (13): 1618-26.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  05 Ago 2022
• Data do Fascículo
  Apr-Jun 2022

Histórico

• Recebido
  31 Jan 2022
• Revisado
  07 Fev 2022
• Aceito
  28 Fev 2022