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Terapia com células-tronco: esperança ou novo marketing?

EDITORIAL EDITORIAL

Terapia com células-tronco: esperança ou novo marketing?

O uso de células-tronco embrionárias tem sido mostrado como a próxima fase na luta contra as doenças degenerativas e debilitantes, tais como diabetes, doenças cardíacas ou doença de Parkinson. Freqüentemente temos na mídia, nos websites notícias novas e promocionais sempre transmitindo de alguma maneira que essa terapia é segura e já disponível para uso imediato.

A RBR inicia neste número, com o artigo do Prof. Dr. Júlio C. Voltarelli e colaboradores, "Transplante de Células-Tronco Hematopoéticas em Doenças Reumáticas — Parte 1: Experiência Internacional"(1) apresentando os resultados, nacionais e internacionais, desta nova e valiosa ferramenta no manuseio de doenças reumatológicas graves e refratárias à terapia tradicional, especialmente no lúpus eritematoso sistêmico, na artrite reumatóide e na esclerose sistêmica, um momento para reflexão desse procedimento.

Em junho deste ano foi realizado na Europa um plebiscito para o uso da terapia com células-tronco. Anteriormente, ocorreu um amplo debate com discussão do significado desse novo manuseio terapêutico, nos diversos veículos de comunicação. Em muitos países não foi aprovado o uso de células-tronco embrionárias, especialmente porque não estavam suficientemente claras as implicações éticas devidas, por exemplo, à globalização de espermatozóides tornando possível e questionável esse tratamento, como também a própria expressão genética não definida nas células embrionárias (doenças auto-imunes, malignidades, etc.) e finalmente o uso prematuro dessa nova terapia pode colocar pacientes em risco de doenças viróticas: uma cultura de células-tronco permitiria que uma linhagem singular de células fosse utilizada em centenas de pacientes ampliando assim o risco de transmissão.

Atualmente, as indústrias de pesquisas farmacêuticas não trabalham mais com um produto feito. Em vez disso, a grande maioria pesquisa em um nível mais básico, procurando alvos potenciais, sintetizando substâncias que atuam em tais alvos terapeuticamente e finalizam fazendo um composto aceitável(2). Porém, a segurança e qualidade devem ser bem avaliadas antes que esse tratamento possa realmente beneficiar o paciente.

Seria proveitosa a formação de um grupo colaborativo usando um sistema de codificação específica (eventos adversos, doadores, receptores e testes laboratoriais) com a finalidade de orientar a formação de diretrizes para divulgar e aplicar os resultados. Assim, evita-se o que ocorre na Índia(3) e na Rússia(4) com a existência de diversas clínicas oferecendo cura pela terapia das células-tronco para um número infinito de doenças.

A urgência não é desculpa para a ciência. Em outras palavras, esperamos que um possível insucesso financeiro de alguma indústria farmacêutica na pesquisa com células-tronco não derrube tão promissora tecnologia terapêutica.

Fernando S. Cavalcanti

Presidente da

Sociedade Brasileira de Reumatologia

REFERÊNCIAS

1. Voltarelli JC, Stracieri ABPL, Oliveira MCB, et al: Transplante de células-tronco hematopoéticas em Doenças Reumáticas — Parte 1: experiência internacional. Rev Bras Reumatol 45: 229-41, 2005.

2. Mervis J: The hunt for a new drug: five views from inside. Science 309: 5735, 722-5, 2005.

3. Jayarama, KS: Indian regulations fail to monitor growing stem-cell use in clinicas. Nature 17: 434, 259, 2005.

4. Danilova M: Stem cell craze spreads in Russia. Associated Press: http://apnews.myway.com/articles/20050314/D88QNPG80.html

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Dez 2005
  • Data do Fascículo
    Ago 2005
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