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Sintomas da mente: introdução à psicopatologia descritiva

Sintomas da mente: introdução à psicopatologia descritiva

Andrew Sims. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001. 376 páginas.

Há alguns anos, em reunião com estudantes de medicina, um psiquiatra com formação psicanalítica afirmou que, com o avanço da neurociência, a psiquiatria seria incluída na neurologia, e a psicanálise, classificada como um ramo das ciências humanas, ocupar-se-ia, por meio de seus postulados teóricos, em observar a dinâmica dos conflitos intrapsíquicos e sua relação com o mundo externo, além de intervir nesta. No entanto, a psiquiatria apresentava um modelo próprio de observação, descrição e sistematização do funcionamento psíquico, a partir da psicopatologia baseada nos fundamentos da fenomenologia. No primeiro capítulo de Sintomas da mente, o autor afirma que a psicopatologia descritiva é a ferramenta profissional fundamental e, possivelmente, exclusiva do psiquiatra. O ensino da psicopatologia deve se estender aos profissionais que atuam na área de saúde mental, possibilitando também uma linguagem comum entre os membros de uma equipe multidisciplinar.

O termo fenômeno, desde sua origem grega, tem um sentido ambíguo, oscilando entre a idéia de "aparecer com brilho" e a idéia de, simplesmente, "parecer". A fenomenologia, termo criado no século XVIII pelo filósofo Lambert, designa o estudo puramente descritivo do fenômeno tal qual se apresenta nessa experiência, denominando-a de "teoria da aparência".

Hegel emprega o termo em sua fenomenologia do espírito para designar aquilo que denomina de "ciência da experiência da consciência".

A fenomenologia, como corrente filosófica fundada por Husserl, visava estabelecer um método de fundamentação de ciência e de constituição da filosofia como ciência rigorosa. O projeto fenomenológico se define como uma "volta às coisas mesmas", isto é, coisas que se atingem pelos fenômenos, que aparecem à consciência e que se dão como seu objeto intencional. O conceito de intencionalidade ocupa, assim, um lugar fundamental na fenomenologia, que define a própria consciência como intencional e voltada ao mundo: "toda consciência é a Consciência de alguma coisa", afirmou Husserl.

Portanto, a fenomenologia é fundamentalmente um princípio metodológico, derivado das idéias de Husserl e definido por Jaspers como: "a fenomenologia tem a missão de nos apresentar intuitivamente os estados psíquicos, que realmente experimentam os enfermos, de considerá-los segundo as suas condições de afinidade, de delimitá-los e de distingui-los o mais exatamente possível e de aplicar-lhes termos precisos". O método recomendado por Jaspers é pela via puramente introspectiva. Ao propor esse enfoque para as enfermidades mentais, demonstrou maior interesse para a compreensão das relações significativas do indivíduo mentalmente enfermo com o mundo do que com as causas.

Sims, psiquiatra inglês, no primeiro capítulo, define a psicopatologia descritiva como a descrição e a categorização precisas de experiências anormais, informadas pelo paciente e observadas em seu comportamento, e a diferencia das psicopatologias explicativas, em que existem supostas explicações, de acordo com conceitos teóricos a partir de uma base psicodinâmica, comportamental ou existencial e assim por diante.

Nessa obra, as síndromes clássicas não estão concentradas em uma única seção. Estão difundidas em vários capítulos, de acordo com os diferentes elementos da psicopatologia de cada uma das funções psíquicas.

Trabalhos como esse, que tem como objeto de estudo a psicopatologia, enriquecem a formação daqueles que pretendem observar, descrever e diferenciar cuidadosamente as manifestações de adoecimento mental.

José C do Nascimento Pitta

Departamento de Psiquiatria da Unifesp/EPM

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Set 2001
  • Data do Fascículo
    Jun 2001
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