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Carta do Editor

Carta do Editor

Editor's Note

É com imensa satisfação que apresento ao leitor o segundo número do volume 7 de nossa Revista Brasileira de Lingüística Aplicada. Os dez artigos que compõem o volume que ora lhes chega às mãos cobrem uma gama ampla e variada de assuntos e temas, estabelecem diálogos com uma variedade de outros textos e quadros teóricos, assentam-se em estudos orientados por uma variedade de aportes metodológicos e modelos de produção do conhecimento. São, portanto, ilustrativos da intensa atividade que caracteriza os estudos em Lingüística Aplicada no Brasil, refletindo bem a riqueza da disciplina e dos olhares daqueles que através dela contemplam questões relacionadas à linguagem.

A contribuição que abre o número é o trabalho de Jaçanã Ribeiro. O autor apresenta uma reflexão acerca de propostas de políticas educacionais voltadas aos alunos índios. A partir de uma análise do Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas, o autor problematiza as propostas pedagógicas de leitura e escrita contidas no documento a partir das noções de escrita e poder. O artigo nos conduz à consideração dos problemas em torno da especificidade cultural das práticas letradas frente ao multiculturalismo próprio das contingências da educação indígena.

A avaliação é o tema de dois dos trabalhos deste número. O segundo artigo, assinado por Laura Miccoli e Cristina Porto, apresenta um recorte de estudo de caso que fez emergir a experiência com avaliação de três professoras de inglês em contexto universitário. As autoras nos guiam em seu texto pela reflexão de que a prática da avaliação, por exigir conhecimentos não plenamente difundidos entre professores de línguas estrangeiras, é ainda um componente da prática educacional que impõe desafios a serem superados para que a avaliação seja re-significada por estudantes e professores como parte relevante dos processos de ensino e aprendizagem. No terceiro texto do número, o trabalho de Celso Tumolo e Leda Tomitch, os autores nos oferecem especificamente uma análise de itens de testes que avaliam a habilidade da leitura em inglês como língua estrangeira, à luz de um exame de sua adequação ao construto cuja verificação é almejada. Os autores se valem de um procedimento interpretativo de investigação da validade do construto subjacente a testes de leitura e tecem reflexões que visam ao auxílio no desenvolvimento de instrumentos de avaliação de níveis de confiabilidade mais desejáveis.

Outra temática que se faz presente neste número, também através de duas contribuições distintas, é a questão das crenças de professores de línguas. O primeiro destes dois textos é o trabalho de Márcia Carazzai e Glória Gil. O artigo de Carazzai e Gil relata e discute os resultados de um estudo empírico, de natureza qualitativa, que enfocou as crenças de uma professora de língua inglesa como idioma estrangeiro e suas contextualizações em episódios efetivos em sala de aula. O estudo revelou alta freqüência de foco na gramática nas aulas da professora, fato que é discutido sob o ponto de vista de fatores cognitivos, experienciais e contextuais que o moldaram. O segundo texto apresentando reflexões sobre crenças é assinado por Ana Maria Barcelos. A autora trata das mudanças de crenças acerca do ensino e da aprendizagem de línguas, problematizando a própria noção de mudança de crenças, frente à complexidade constitutiva das mesmas, e apontando fatores e condições capazes de conduzir aos processos de mudança. O artigo culmina com considerações sobre as implicações da questão da mudança de crenças no contexto do professor formador de professores de línguas.

O sexto artigo do presente volume, assinado por Tony Berber Sardinha, oferece-nos uma análise do uso de metáforas que aplica métodos próprios da Lingüística de Corpus. Especificamente, o autor desenvolve sua análise valendo-se de um corpus de transcrições dos debates entre Luis Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin, quando candidatos às eleições presidenciais brasileiras em 2006. O autor nos convida a considerar sobre a relevância do exame das metáforas lingüísticas que podem dar suporte às metáforas conceituais, tal como proposta no quadro teórico desenvolvido por Lakoff e Johnson (revisado pelo autor), apresentando-nos um trabalho que ilustra, na análise do discurso político, as possibilidades metodológicas de tratamento empírico da linguagem efetivamente usada.

O sétimo trabalho investiga a relação entre o emprego de estratégias de comunicação e a fluência em produção oral em língua estrangeira e é assinado por Gicele Prebianca e Mailce Mota Fortkamp. As autoras buscam suprir a lacuna de estudos que forneçam evidências robustas acerca da relação entre estratégias de comunicação e fluência oral. No estudo, as pesquisadoras analisaram a fluência oral através da determinação da velocidade de fala, valendo-se, ainda, de transcrições e classificação de dados coletados por procedimentos de eliciação aplicados a aprendizes de inglês em três diferentes níveis de proficiência, dados estes que foram tratados estaticamente. Prebianca e Fortkamp oferecem-nos uma discussão detalhada dos resultados do estudo.

Em seguida, o trabalho assinado por Luiz Antônio Andrade lança um olhar sobre o processo de aprendizagem de línguas estrangeiras que contempla a dimensão da construção de identidade do aprendiz. O autor se apóia em uma reflexão sobre o valor da narrativa autobiográfica como manifestação da identidade construída, valendo-se, então, de exemplares de narrativas de aprendizagem que compõem o corpus do projeto "Aprendendo com memórias de falantes e de aprendizes de línguas estrangeiras (AMFALE)", conduzido no âmbito da UFMG, para elaborar uma análise de histórias de aprendizes à luz de categorias propostas no trabalho de Leppäne e Kajala, revisado pelo autor, que se inspiram na análise dos temas e alegorias presentes em contos de fadas.

O nono texto, de autoria de Antônio Carlos Martins e Júnia Braga, propõe uma reflexão filosófico-epistemológica que nos convida a operar leituras sobre a aprendizagem de segunda língua e os ambientes interacionais de aprendizagem à luz das teorias do Caos e da Complexidade. Resgatando a emergência de uma epistemologia da complexidade no quadro geral da história da ciência no ocidente, os autores nos oferecem um rico e detalhado panorama da crescente produção de estudos em Lingüística Aplicada que se pautam pelo reconhecimento da complexidade como baliza filosófica e modelo de construção do saber.

Encerra o presente número o artigo de Tommaso Raso. O texto apresenta alguns resultados de uma pesquisa, somada a atividade didática, de grandes proporções cujo escopo foi a formação de educadores de escrita profissional no contexto italiano. Raso nos oferece elementos conceituais para a delimitação da problemática relativa à aprendizagem de escrita competente em situações e para fins profissionais, e descreve detalhadamente intervenções didáticas voltadas para a formação do educador que se encarregará do desenvolvimento de tal competência. Trata-se de um relato certamente inspirador para aqueles que, no contexto brasileiro, se envolvem com iniciativas semelhantes, ou que a elas aspiram.

Como causa da satisfação em apresentar-lhes este número, à qualidade dos textos ora reunidos soma-se a alegria por ter a Revista Brasileira de Lingüística Aplicada alçado à classificação QUALIS Nacional A, segundo os critérios da CAPES. Resta-me a plena convicção de que a revista encontra-se consolidada como um relevante órgão de uma área de conhecimento em clara ebulição.

Boa leitura!

Ricardo Augusto de Souza

Faculdade de Letras da UFMG

Editor Assistente

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Abr 2013
  • Data do Fascículo
    2007
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