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Flutuações da galera, (im)perfeições da pedagogia e outros mapas de navegação: a formação em serviço de professores no Espírito Santo (1930-1935)

Fluctuations of the galley, (im)perfections of pedagogy and other navigation maps: the in-service teacher training in the state of Espírito Santo (1930-1935)

Fluctuaciones de la galera, (im)perfecciones de la pedagogía y otros mapas de navegación: formación de profesores en ejercicio en el estado de Espírito Santo-Brasil (1930-1935)

Resumo:

Focaliza a formação de professores durante o Primeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico (1935), realizado no Espírito Santo. A partir da leitura dos anais e de matérias jornalísticas relativas ao evento, analisa as ‘novas’ diretrizes para a formação de docentes capixabas em serviço e os modos como os congressistas interagiram com as orientações para o aperfeiçoamento do ensino capixaba. Conclui que a organização do congresso em torno de aulas-modelo, ministradas por professores convidados, pretendia afastar controvérsias e teorizações tidas como ‘inúteis’, promovendo a modelização pedagógica. Nesse contexto, a anunciada perspectiva ‘renovadora’ do ensino reduzia-se à reprodução ‘eficiente’ de modelos práticos, que sequer poderiam ser colocados na prateleira das novidades.

Palavras-chave:
Primeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico; Espírito Santo; formação de professores em serviço

Abstract:

This paper focused on teacher training during the First Congress of Pedagogical Improvement (1935), held in Espírito Santo. From the reading of the Annals and journalistic materials related to the event, it analyzes the ‘new’ guidelines for the in-service teacher training and the ways in which the participants interacted with the guidelines for the improvement of teaching in Espírito Santo. We concluded that the organization of the congress around model classes, taught by invited teachers, sought to avoid controversies and theories considered as ‘useless’, promoting pedagogical modeling. In this context, the announced ‘renewing’ perspective of teaching was reduced to the ‘efficient’ reproduction of practical models, which could not even be considered a novelty.

Keywords:
First Congress of Pedagogical Improvement; Espírito Santo; In-service teacher training

Resumen:

Este artículo trata de la formación de profesores durante el Primer Congreso de Perfeccionamiento Pedagógico (1935), realizado en Espírito Santo-Brasil. A partir de la lectura de anales y materias periodísticas relativas al evento, analiza las ‘nuevas’ directrices para la formación de docente capixabas en ejercicio y las maneras que los congresistas interactuaron con las orientaciones para el perfeccionamiento de la enseñanza capixaba. Se concluye que la organización del congreso respecto las clases-modelo, impartidas por profesores invitados, pretendía distanciar controversias y teorizaciones consideradas como ‘inútiles’, promoviendo la modelización pedagógica. En este contexto, la anunciada perspectiva ‘renovadora’ de la enseñanza se reducía a la reproducción ‘eficiente’ de modelos prácticos, que ni siquiera podrían ser expuestos como novedad.

Palabras clave:
Primer Congreso de Perfeccionamiento Pedagógico; Espírito Santo; formación de profesores en ejercicio

Introdução

O Espírito Santo, ‘depois do seu Curso Superior de Cultura Pedagógica realizado ha seis anos passados’, acaba de levar a effeito o seu ‘1o Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico’, na florescente cidade de Alegre, ‘com apoio forte e estimulador do actual chefe do executivo estadual’, s. excia. o capitão ‘João Punaro Bley’. ‘A iniciativa’ sobremodo louvável, ‘é do prof. João Ribas da Costa, inspector technico de Ensino da 3a Região Escolar e do prof. José Celso Claudio, esforçado director do Grupo Escolar Professor Lellis em Alegre’ (Ribeiro, 1935Ribeiro, C. (1935) Congressos de Educação. Revista de Educação , 2(17-18-19), 1-2., p. 2, grifo nosso).

O primeiro congresso de ‘imperfeição pedagógica’ e outras cousas similares,ora reunido nesta cidade de ‘alegre’ e jovial população, não podia deixar de se divertir, como fazem todas as pessoas que se reunem em congressos, mesmo porque, segundo as observações scientificas do serodico professor Felix Cardoso da Silva, vulgo Gato Felix, feitas nas innumeras escolas porque tem passado nestes ultimos seculos (o professor Felix é anti-diluviano) ‘o prazer é uma necessidade natural da criança, a qual, por sua vontade, passaria a infancia a brincar, mandando ás favas toda essa gente que a tortura com methodos e processos de prisão’ [...] (O Congresso se diverte, 1935O congresso se diverte.(1935).Revista de Educação, 2(17-18-19), 191-195., p. 191, grifo nosso)1 1 Trecho da sátira apresentada por Oswaldo Marchiori e Sylvio Rocio na ‘Hora Litero-Musical’ do Primeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico do Espírito Santo. .

Os textos recortados acima indiciam pontos que demarcaram a configuração da formação de professores em serviço, no âmbito do Primeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico (CAP), realizado no município de Alegre, Espírito Santo, no ano de 1935. Na primeira epígrafe, o editor-chefe da edição especial da Revista de Educação (RE) - na qual os anais desse congresso foram publicados -destaca o Curso Superior de Cultura Pedagógica (CSCP) que, de 1928 a 1930, foi responsável pela formação de professores capixabas, segundo os preceitos da escola ativa (Berto & Simões, 2016Berto, R. C., & Simões, R. H. S. (2016). O Curso Superior de Cultura Pedagógica (1928-1930) como estratégia de formação de professores e difusão da escola ativa nas escolas capixabas. Cadernos de História da Educação, 15(1), 398-421.). Como veremos adiante, mais do que simples cronologia, o ‘depois’ do CSCP pode ser lido também como expressão da ideia de rompimento com ideias do educador paulista Deodato de Moraes - organizador e executor do CSCP, no contexto da reforma da escola ativa capixaba, realizada pelo governo anterior, deposto pelo movimento de 19302 2 Movimento que destituiu do poder o presidente Washington Luís e impediu a posse de Júlio Prestes, eleito em 1930. Em decorrência da denominada ‘revolução de 1930’, Getúlio Vargas assumiu a presidência do Brasil, que exerceu de 1930 a 1945. . Observamos, no entanto, que o destacado promotor do CAP, João Ribas da Costa3 3 Professor de concurso, nomeado em 1927, atuou na escola masculina de Divisa, no município de Alegre. Tornou-se inspetor escolar em 1929 (Secretaria da Instrução, 1929) e supervisionou a região escolar que compreendia o município de Alegre. , frequentara esse mesmo curso (Notas Oficiais, 1929Notas Oficiais. (1929, 7 de setembro).Diário da Manhã. ano XXII, n. 2128, p. 1. ). O outro professor citado, Jose Celso Claudio, lecionava na Escola Normal de Alegre - da qual era um ardoroso defensor- e,em 1935,ali exercia a função de fiscal. Paralelamente, ocupava o cargo de diretor do Grupo Escolar ‘Professor Lellis’, que sediou o CAP (Diário dos Municípios, 1935Diário dos Municípios. (1935, 8 de Outubro). Diário da Manhã. ano XXVIII, n. B03010, p. 8.).

No segundo recorte, a ideia de ‘imperfeição’, ironicamente contraposta à de aperfeiçoamento pedagógico pelos professores Sylvio Rocio e Oswaldo Marchiori, pareceu-nos emblemática, na medida em que deixa ver a crítica à escola ativa instituída no Espírito Santo entre 1928 e 1930, vis a vis as diretrizes ‘renovadoras’ que o CAP imprimia à formação de professores em serviço.

Outros pontos merecem destaque nas epígrafes:o deslocamento da formação de professores - até então centralizada em Vitória, capital do Espírito Santo - para um município do interior e a ênfase ao envolvimento ‘legitimador’ de profissionais da educação na organização do CAP, sempre associado ao forte ‘estímulo’ do governo Punaro Bley4 4 Jerônimo e seu irmão, Bernardino Monteiro,lideravam, respectivamente, o segmento agrofundiário e o segmento mercantil exportador, que comandou o processo sucessório estadual até 1930, quando a oposição jeronimistaaproveitou o clima revolucionário para pleitear o poder, já que Aristeu Borges Aguiar, governador do Espírito Santo de 1928 a 1930, apoiava a candidatura de Júlio Prestes. Na impossibilidade de um acordo local, Getúlio Vargas decidiu pelo capitão João Punaro Bley, indicado pela Associação Comercial de Vitória e considerado politicamente neutro no Espírito Santo (Silva, 1995; Oliveira, 1975).Bley tornou-se interventor federal (1930-1935 e 1937-1943) e governador eleito pela Assembleia Legislativa (1935-1937). Segundo ele, a sua nomeação, referendada pela Associação Comercial de Vitória, representaria uma “[...] alternativa alheia às questões regionais, capaz de ser aceita pelas facções em luta” (CPDOC, 2017). , cujo plano de ação compreendia, além do congresso de aperfeiçoamento, o envio de professores para realizarem estudos em outros Estados, a reformulação do currículo da Escola Normal Pedro II (ENPII) e a criação da Revista de Educação.Não por acaso, portanto, em 1935 encontramos uma edição especial da RE contendo os anais do CAP.

A partir desses anais, e de matérias sobre o congresso, publicadas no jornal governista Diário da Manhã5 5 Impresso de circulação diária no Espírito Santo. No período estudado, o redator-chefe, Ciro Vieira da Cunha, alinhava-se ao grupo conservador que defendia a pedagogia tradicional (Salim, 2009). no mesmo ano, este estudo investiga a formação em serviço de professores e professoras capixabas na ‘antessala’6 6 Termo utilizadopor Ângela Maria de Castro Gomes (1980) referente aos anos de 1930 a 1937, em que se lançavam as bases para a consolidação do Estado Novo. do Estado Novo brasileiro, em conexão com o projeto nacional de transformação da sociedade e da educação,desencadeado após a ‘revolução de 1930’. Para tanto, recortacomo marcos temporaisa interrupção da reforma da Escola Ativa no Espírito Santo - ocasionada pela deposição do governo local pela Revolução de 1930 - eas ‘novas’ diretrizes para a formação de professores, veiculadas no âmbito do CAP em 1935 (Lauff, 2018Lauff, R. (2018). Diretrizes para formação de professores espírito-santenses na antessala da ditadura do Estado Novo (1930-1937)(Tese de Doutorado em Educação).Programa de Pós-Graduação em Educação. Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória.).

Trata-se de um recorte especialmente importante, visto que, após 1930, o governo intervencionista, impulsionado principalmente por disputas políticas internas, intentara o ‘apagamento’ da referida reforma (Berto, 2013Berto, R. C.(2013). A constituição da escola activa e a formação de professores no Espírito Santo (1928-1930) (Tese de Doutorado em Educação). Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitoria.), cujos méritos remetiam ao grupo político rival, ao mesmo tempo em que se anunciavam ‘novas’ diretrizes para a formação de professores no Espírito Santo. Que diretrizes seriam essas? De que maneira os/as professores/as congressistas interagiam com as orientações teórico-práticas para o aperfeiçoamento do ensino capixaba?

Mais ainda, se levarmos em conta que muitosdosprofessores, diretores e inspetores do ensino que marcaram presençano CAP participaram também da reforma do ensino que instituíra a escola ativa no Espírito Santo (1928-1930)7 7 Alguns participaram do CSCP, que, durante nove meses, formou um grupo selecionado de professores multiplicadores das orientações teórico-práticas que conformaram a Escola Ativa local. , tendo atuado como mediadores culturais (Ginzburg, Castelnuovo, & Poni, 1989Ginzburg, C.,Castelnuovo, E., & Poni, C. (1989).A micro-história e outros ensaios. Lisboa, PT: Difel.), visto que filtravam ideias, conceitos e práticas pedagógicas veiculados em ambas as ocasiões, cabe indagar: quais seriam os sentidos atribuídos ao ‘velho’ e ao ‘novo’ no programa de aperfeiçoamento pedagógico de professores/as capixabas em serviço após 1930?

No livro A cultura brasileira,Fernando de Azevedo descreve o período investigado neste estudo(1930-1937) como “[...] zona de pensamento perigoso” (Azevedo apud Carvalho, 1989Carvalho, M. M. C. (1989). O novo, o velho, o perigoso: relendo a cultura brasileira. Caderno de Pesquisa, 71, 29-35., p. 30).Por outro lado, segundo Carvalho, a narrativadesse autor sobre a educação brasileira, modulada pelo antagonismo entre o velho - a ser superado - eo dinamismo das novas concepções de educação, teria ensejado uma historiografia da educação brasileira largamente influenciada por essa ‘matriz azevediana’ que obscurece questões críticas acerca da educação no Brasil“[...] ao expulsar do campo de investigação todo um debate que remete àquela zona perigosa” (Carvalho, 1989, p. 30). No raio dessa ‘zona de perigo’, interrogamos a configuração da formaçãode professores capixabas na antessala do Estado Novo, entre o aperfeiçoamento em serviço e (im)perfeições da pedagogia.

Anais do Primeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico do Espírito Santo: a formação de professores entre o aperfeiçoamento e imperfeições da pedagogia

Na capa da Revista de Educação dedicada ao CAP (Figura 1), uma aluna escreve no quadro de giz: “Só pela Educação se pode avaliar a pujança de um povo” (Revista de Educação, 1935Revista de Educação. (1935). 2(17-18-19).).

Figura 1
Capa da edição especial da Revista de Educação.

Fonte: Revista de Educação (1935Revista de Educação. (1935). 2(17-18-19).).

Em nossa leitura, a escolha dessa ilustração combinaria um apelo à forte presença feminina no magistério público primário capixaba, composto por 1.194 professores, dos quais 1.087 (91%) eram mulheres e 107 (9%), homens (Estatística Escolar do Espírito Santo, 1935Estatística escolar do Espírito Santo. (1935). Revista de Educação, 2(13), 24-30.), com o propósito de valorização da campanha de alfabetização conduzida pelo governo Punaro Bley, que multiplicaria o número de escolas primárias e grupos escolares no Espírito Santo, notadamente nas regiões rurais, além de criar cursos noturnos e técnicos profissionais. Acompanhando a expansão do atendimento escolar, o decreto nº 277, de 19..., regulamentara o acesso ao magistério público primário, com o objetivo de moralizar novos concursos (Coutinho, 1993Coutinho, J. M.(1993). Uma história da educação no Espírito Santo. Vitória, ES: Departamento Estadual de Cultura. Secretaria de Produção e Divisão Cultural UFES.). Bley considerava essencial “[...] selecionar o professorado, velar pela efficiência dos métodos de ensino, fiscalizar e estimular o cumprimento do dever [...]” (Espírito Santo, 1931Espírito Santo. Interventor Federal (1937-1943: Bley). (1931).Movimento financeiro de 24 de outubro de 1930 a 30 de junho de 1931: relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Getúlio Vargas, Chefe do Governo Provisório da República pelo Interventor Federal Capitão João Punaro Bley. Vitória, ES: Imprensa Oficial do Estado do Espírito Santo., p. 69).

Finalmente, a sentença escrita na lousa enuncia a associação da ‘Educação’ à potência que qualificaria ‘um povo’ ou pátria, remetendo à dimensão política do ensino e, consequentemente, à da formação de professores, traduzidas na chamada à unificação nacional, um tema amplamente debatido nas Conferências Nacionais de Educação (CFNE), promovidas pela Associação Brasileira de Educação de 1927 a 1934. Naquele momento, almejava-se a padronização doutrinária, tomando-se os educandários como elementos propulsores do patriotismo fundado na tradição católica (Carvalho,1998Carvalho, M. M. C. (1998). Molde nacional e fôrma cívica: higiene, moral e trabalho no projeto da Associação Brasileira de Educação (1924-1931). Bragança Paulista: Edusf.).

A partir dessa compreensão inicial, procedemos à leitura dessa edição ‘especial servindo de Annaes do 1º Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico da 3ª região escolar’, em cujo texto de abertura o redator-secretário, Claudionor Ribeiro, pontuava a necessidade de melhorias na educação mundial, ao mesmo tempo em que destacava a iniciativa ‘modesta’, mas no seu entendimento compensadora, da organização do CAP (Ribeiro, 1935Ribeiro, C. (1935) Congressos de Educação. Revista de Educação , 2(17-18-19), 1-2.). Seguia-se a transcrição do discurso proferido pelo diretor interino do Departamento de Ensino Público e redator-chefe da RE, João Bastos, assim como de um artigo escrito pelo presidente do Instituto Histórico Geográfico do Espírito Santo e diretor aposentado da Escola N Pedro II, Arnulpho Mattos. O quarto artigo foi escrito pelo professor Placidino Passos, assistente técnico de ensino que se destacava pela publicação de modelos de planos de aulas. O chefe da Seção de Estatística, Durval de Araújo, publicou dois textos, seguidos de artigo produzido pelo inspetor médico escolar, Arthur Meirelles. Em seguida - cumprindouma hierarquia administrativa- aparecemos trabalhos de inspetores escolares e professores (Figura 2).

Igualmente reveladoras do posicionamento hierárquico em jogo são as fotografias de página inteira do presidente Getúlio Vargas, da comitiva do governador João Punaro Bley e de João Bastos, acompanhado de inspetores e diretores de ensino (Figura 2), estampadas em seguida ao artigo de Claudionor Ribeiro.Percebemos, desse modo, a capilaridade política e social do ‘modesto’ congresso de aperfeiçoamento pedagógico realizado na cidade de Alegre, no interior do pequeno Estado do Espírito Santo.

Figura 2
Comitivado governo e autoridades presentes ao congresso.

Fonte: Revista de Educação (1935Revista de Educação. (1935). 2(17-18-19).).

Ainda no campo das ilustrações, somente professoras- que, convém lembrar, compunham 91% do quadro docente das escolas capixabas -aparecem retratadas nas páginas 7 e 8, ao lado da fotografia destacada do secretário do Interior e Justiça, Carlos Gomes de Sá (Figura 3).

Figura 3
Professoras e Carlos Gomes de Sá.

Fonte: Revista de Educação (1935Revista de Educação. (1935). 2(17-18-19).).

Perto do final da edição, nas páginas 87 e 88, o secretário do governador do Estado - capitão Wolmar Carneiro da Cunha, que já havia chefiado a redação da RE -e João Bastos aparecem em fotografias de página inteira. Olívio Correia Pedrosa, prefeito municipal de Alegre, recebeu destaque ao lado de professoras congressistas. Logo abaixo, registrou-se a presença de alunos que compuseram as turmas formadas para a execução de aulas práticas, segundo a organização do evento, da qual trataremos mais à frente (Figura 4).

Figura 4
Professores e Olívio Correia Pedrosa.

Fonte: Revista de Educação (1935Revista de Educação. (1935). 2(17-18-19).).

Se, por um lado, a seleção e a distribuição das imagens deixam ver o jogo hierárquico que presidiu a organização do CAP, os títulos contidos na RE indiciam temas privilegiados no projeto de renovação da instrução pública capixaba em curso:

1. Importância da formação de professores, mesmo que ‘modesta’ (Ribeiro, 1935Ribeiro, C. (1935) Congressos de Educação. Revista de Educação , 2(17-18-19), 1-2.; Bastos, 1935Bastos, J. (1935). Discurso. Pronunciado na installação do 1º Congresso de Aperfeiçoamento Pedagogico da 3ª região escolar, com sede na cidade de Alegre. Revista de Educação, 2(17-18-19), 9-11.; Mattos, 1935Mattos, A. (1935). Em prol do ensino. Revista de Educação, 2(17-18-19), 12-18.);

2. Diretrizes da “[...] renovação educacional [...]” (Passos, 1935Passos, P. (1935). Educação pelo interesse. Revista de Educação, 2(17-18-19), 19-26., p. 19);

3. Estatística escolar - produção e medição de índices da educação (Araujo, 1935Araujo, D. (1935a). Estatística escolar: trabalho apresentado no 1º Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico. Revista de Educação, 2(17-18-19), 27-31.a,1935bAraujo, D. (1935b). Escripturação escolar e estatística. (contribuição ao 1º Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógicoda 3ª região escolar com séde na cidade de Alegre). Revista de Educação, 2(17-18-19), 32-40.);

4. Educação Sanitária (Meirelles, 1935Meirelles, A.(1935). A educação sanitaria e o futuro do Brasil: trabalho apresentado no 1º Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico da 3ª região escolar.Revista de Educação, 2(17-18-19), 41-47.);

5. Ensino das diversas disciplinas (demais artigos) e planos de aulas (29 modelos apresentados).

Na abertura do CAP, reforçou-se a valorização de autoridades capixabas de diferentes áreas, tendo o governador Punaro Bley presidido a sessão de abertura. Discursaram o prefeito de Alegre, o vigário da paróquia local,monsenhor José Alves de Lima, o inspetor João Ribas da Costa e o diretor da ENPII, de Vitória, Arnulpho Mattos (Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico, 1935Mattos, A. (1935). Em prol do ensino. Revista de Educação, 2(17-18-19), 12-18.a).

Para celebrar o evento, houve um jantar na residência do prefeito (Figura 5) que,ao som banda de música ‘Santo Antonio’, reuniu autoridades políticas e eclesiásticas e aqueles considerados “[...] de mais distincto na sociedade e de todos os congressistas [...]” (Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico, 1935aCongresso de Aperfeiçoamento Pedagógico. (1935a, 29 de agosto). Diário da Manhã. ano XXVIII, n. 3080, p. 1., p. 1), do comércio e da lavoura. Em mesa de destaque, reuniram-se representantes dos poderes secular e religioso: o governador do Estado, o próprio anfitrião, o juiz de direito da comarca, José Vieira Tatagiba, o deputado Mario Lopes de Rezende e o monsenhor Alves de Lima (Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico, 1935bCongresso de Aperfeiçoamento Pedagógico. (1935b, 27 de agosto). Diário da Manhã. ano XXVIII, n. 3078, p. 1. ).

Figura 5
Banquete oferecido pelo prefeito de Alegre.

Fonte: Revista de Educação (1935Revista de Educação. (1935). 2(17-18-19).).

Em linhas gerais, o modo como foi organizada a distribuição dos textos e das imagens ao longo da revista indica a hierarquização de ‘autoridades’ políticas e pedagógicas, aparentemente alinhadas com um discurso de ‘renovação’ do ensino e atenção à saúde dos estudantes que, ao mesmo tempo, elevasse os índices de alfabetização. No CAP, enfatizava-se a apresentação de aulas-modelo, com a finalidade de se compor um repertório rápido e prático visando à prática de professores e professoras em serviço. Nessa composição, por meio das descrições de planos de aula executados durante o evento e de comentários satíricos à sua execução, escutamos ‘partituras’ executadas por professoras e professores capixabas.

Repertório e partituras para/da formação de professores/as capixabas no CAP

A sede do CAP, Alegre - juntamente com Cachoeiro de Itapemirim -compunha um importante núcleo político, social e econômico sul espírito-santense no início do século XX. Tendo em vista a proximidade dessas cidades com o Rio de Janeiro, era usual que os filhos das famílias abastadas seguissem a vida acadêmica na capital brasileira até que,no desenrolar do século XX, passou-se a reivindicar a construção de escolas locais e ambas as cidades se destacaram como polos de formação de professores.

Por todo o Estado, especialmente no interior, o governo Bley erigiu escolas. Em 1933 foram criados 90 estabelecimentos de ensino primário, que, somados às 958 escolas primárias e grupos escolares, mais os 27 cursos noturnos existentes, perfaziam uma escola para cada 688 pessoas - diante de uma população de 701 mil habitantes no Espírito Santo (O Ensino no Espírito Santo, 1933O ensino no Espírito Santo. (1933, abril).Diário da Manhã. ano XXVI, n. 3180, p. 1, 5.). Além disso, o decreto nº 3. 246, de janeiro de 1933, reajustou o ensino rural criando escolas regionais com o objetivo de “[...] accelerar a obra de integração das populações ruraes nas realidades da vida brasileira e avigorar o sentimento de brasilidade e o espirito de unidade da patria [...]” (O Ensino no Espírito Santo, 1933O ensino no Espírito Santo. (1933, abril).Diário da Manhã. ano XXVI, n. 3180, p. 1, 5., p. 1).

Também nos pareceu emblemática a escolha do Grupo Escolar Professor Lellis para sediar o CAP, por se tratar de uma construção monumental, localizada no centro da cidade de Alegre e que remetia ao projeto republicano de renovação arquitetônica das escolas brasileiras (Locatelli, 2012Locatelli, A. B.(2012). Espaços e tempos de grupos escolares capixabas na cena republicana do início do século XX: arquitetura, memórias e história(Tese de Doutorado em Educação). Programa de Pós-Graduação em Educação. Universidade Federal do Espírito Santo, Vitoria.).

Realizado de 25 a 30 de agosto, o CAP foi patrocinado pelas prefeituras municipais de Alegre, Siqueira Campos e Rio Pardo, que compunham a 3a Região Escolar, na divisão administrativa relativa ao Serviço de Inspeção Médica e Educação Sanitária no Espírito Santo.

Na organização do evento, professores chefiavam as comissões de Ensino Primário, de Organizações Complementares da Escola, de Transportes, de Excursões Pedagógicas e Propaganda e de Recepção e Hospedagem. O governador e o prefeito de Alegre exerceram, respectivamente, a presidência de honra e a presidência do congresso. O diretor interino do Departamento de Ensino Público, João Bastos, garantiu o abono das faltas dos professores congressistas, considerando que “[...] deverão tomar parte todos os professores em exercicio subordinados a esta Inspectoria [...]” (Primeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico da 3a Região Escolar, 1935aPrimeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico. (1935a, 22 de junho). Diário da Manhã. ano XXVIII, n. A03025, p. 3., p. 6). Para aqueles que tivessem dificuldade com deslocamento e estadia, os organizadores providenciaram, junto às prefeituras locais, hospedagem e transporte gratuitos. Desse modo, a ausência só se justificaria por motivo de doença grave ou força maior (Primeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico da 3a Região Escolar, 1935aPrimeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico. (1935a, 22 de junho). Diário da Manhã. ano XXVIII, n. A03025, p. 3.). Os congressistas que apresentaram trabalhos receberam passagem e estadia custeadas pela organização do congresso.

Participaram do CAP-como ouvintes ou apresentando trabalhos encomendados - 150 professores vindos de diferentes municípios capixabas e mais de 40 docentes da cidade de Alegre (Cooperação e Extensão Cultural, 1935Cooperação e Extensão Cultural. (1935). Primeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico. Revista de Educação, 2(17-18-19), 164-178. ). Compareceram representantes de 26 municípios e de todas as prefeituras do Estado. Além disso, setores responsáveis pela educação espírito-santense indicaram técnicos em diferentes ramos de atuação para ministrarem palestras e aulas-modelo. Dentre eles, destacamos: Inspetoria de Educação Física, Serviço de Inspeção Médica e Educação Sanitária Escolar, Federação Espírito-Santense de Escoteiros, Serviço de Educação pelo Rádio e Cinemas Escolares, Serviço de Cooperação e Extensão Cultural. Importante assinalar que alguns desses órgãos, novamente convocados à renovação da educação espírito-santense, haviam desempenhado papel importante na reforma educacional que instituiu a Escola Ativa no Estado. Também enviaram representantes ao CAP a Federação Espírito-Santense de Bandeirantes Escolares; Faculdade de Direito do Espírito Santo; Liga Espírito-Santense Contra a Tuberculose; Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo (Primeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico, 1935bPrimeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico. (1935b, 23 de agosto). Diário da Manhã. ano XXVIII, n. A03075, p. 1.).

Pelo exposto, ainda que o CAP fosse descrito como um evento ‘modesto’, os seus idealizadores e organizadores relatavam um

[...] grande enthusiasmo pelo importante certame, apresentando a cidade movimento desusado, pois que de todos os pontos do sul do Estado chegam, a cada momento, pessôas que vão tomar parte no Congresso, estando os hoteis e varias casas particulares repletas de visitantes. O Congresso de Aperfeiçoamento Pedagogico, o primeiro que se realisa [sic] no Estado, está, como se vê, interessando a todo o Estado (Primeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico, 1935bPrimeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico. (1935b, 23 de agosto). Diário da Manhã. ano XXVIII, n. A03075, p. 1., p. 1).

As demonstrações práticas- realizadas de 08h às 16 h, com intervalo de 2 horas para o almoço - predominaram (Primeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico, 1935aPrimeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico. (1935a, 22 de junho). Diário da Manhã. ano XXVIII, n. A03025, p. 3.). A cada manhã, a uma preleção de 30 a 50 minutos, seguiam-se aulas modelo facultativas. À tarde, as explanações sobre assuntos especializados eram mais curtas, de modo a conceder mais espaço para aulas práticas, dirigidas a turmas organizadas pela direção do CAP. À noite, realizaram-se conferências das 19h30 às 20h30 (Primeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico, 1935aPrimeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico. (1935a, 22 de junho). Diário da Manhã. ano XXVIII, n. A03025, p. 3.). As conferências e as preleções para todos os congressistas eram abertas ao público em geral. O mesmo não acontecia com as preleções especializadas e as aulas-modelo, às quais, além dos congressistas, somente eram admitidas pessoas convidadas pelos organizadores do CAP. Um ponto a ser observado com relação aos palestrantes e conferencistas diz respeito à participação de alguns deles - leiam-se Placidino Passos, Oswaldo Marchiori, Sylvio Rocio, Rita Torres, Custodia Gomes de Souza, Maria Magdalena Pisa, Alfredo Lemos, Luiz Edmundo Malisek, Néa Morgade de Miranda - no CSCP, cujos ensinamentos, como discutiremos adiante, foram alvo de críticas ao longo do congresso.

Segundo os organizadores do CAP, o objetivo a ser alcançado deveria ser “[...] uma ‘radical’ e ‘rapidarenovação’ nos methodos e processos de ensino empregados pelo magisterio primario [...]” (Primeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico, 1935aPrimeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico. (1935a, 22 de junho). Diário da Manhã. ano XXVIII, n. A03025, p. 3., p. 3, grifo nosso). Essa renovação, por sua vez, teria como base a “[...] salutar assimilação de conhecimentos ‘novos’ e uma pratica intensiva dos mais ‘modernos’ e ‘efficientes’ processos ‘didaticos’[...]” (Primeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico, 1935aPrimeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico. (1935a, 22 de junho). Diário da Manhã. ano XXVIII, n. A03025, p. 3., p. 3, grifo nosso).

Além da ênfase às questões práticas, a organização deixava claro que as finalidades estabelecidas para o evento excluíam discussões, controvérsias ou contribuições não solicitadas:

I) - ‘não haverá theses nem discussões de pontos controversos’;

II) - não serão acceitas contribuições em conferencias, prelecções ou aulas modelos, ‘quando não solicitadas’;

III) - asprelecções especializadas serão acompanhadas da ‘respectiva parte pratica’ sempre que o assumpto a comportar (Primeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico, 1935aPrimeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico. (1935a, 22 de junho). Diário da Manhã. ano XXVIII, n. A03025, p. 3., p. 3, grifo nosso).

Desse modo, sob o argumento de que “[...] discussões theoricas que redundam, quasi sempre, ‘na mais pura das inutilidades’ [...]” (Primeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico, 1935bPrimeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico. (1935b, 23 de agosto). Diário da Manhã. ano XXVIII, n. A03075, p. 1., p. 1, grifo nosso), os professores demonstrariam as suas práticas de ensino, observações e experimentações pedagógicas do dia a dia na escola. Priorizavam-se, dessa maneira, as aulas-modelo (Primeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico, 1935bPrimeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico. (1935b, 23 de agosto). Diário da Manhã. ano XXVIII, n. A03075, p. 1.), ministradas pelos professores de “[...] maior destaque entre o magistério no Estado [...]” (Primeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico da 3a Região Escolar, 1935aPrimeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico da 3a Região Escolar. (1935a, 14 de julho). Diário da Manhã. ano XXVIII, n. A03044, p. 6., p. 6). Essas aulas - em número de 40, de acordo com a projeção dos organizadores do CAP - deveriam obedecer aos “[...] ‘modernos principios pedagogicos’ preferencialmente ‘intuitivos-activos’ [...]” (Primeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico da 3a Região Escolar, 1935aPrimeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico da 3a Região Escolar. (1935a, 14 de julho). Diário da Manhã. ano XXVIII, n. A03044, p. 6., grifo nosso).

Do que tratavam essas aulas? Como foram desenvolvidas?Nos anais do CAP, a seção intitulada ‘Resenha de Aulas Padrão’ registra 103 aulas demonstradas por 25 professores convidados, dos quais nove tiveram os seus planos de aula publicados na edição especial da RE. As aulas práticas apresentadas abrangeram os seguintes conteúdos e temas: aritmética, matemática, geometria, ciências físicas e naturais, linguagem, alfabetização, história, geografia, educação física, saúde, orfeão, escotismo, bandeirantismo, moral e cívica, educação pelo cinema e jogos educativos.

Dentre os registros dos anais, a fotografia (Figura 6) da aula prática executada pelo professor e inspetor de ensino Placidino Passos- sobre o sistema métrico decimal -enquadrava um ponto evidenciado pelos expositores em geral:a atividade discente como pressuposto do dinamismo e da eficácia pedagógica.Como observamos,o professor Passos e os alunos calcularam juntos a medida de superfície da sala de aula:

Figura 6
Aula prática de sistema métrico por Placidino Passos.

Fonte: Revista de Educação (1935Revista de Educação. (1935). 2(17-18-19).).

Esse professor defendia que os planos de aula deveriam conter “[...] assunto, material, parte ativa ou funcional, lição, relatório coletivo - ou - assunto, observação, associação, expressão - ou - assunto, material, preparo mental, ou lição, acompanhado de associação, observação, finalisando com a expressão” (Passos, 1934Passos, P. (1934, abril). Instruções ao professorado. Revista de Educação,1(1), 28-35., p. 28-29).

Outro expositor destacado do CAP, Oswaldo Marchiori (1935Marchiori, O. (1935). Planos de aulas. Revista de Educação, 2(17-18-19), 137-139.), elaborou aulas-modelo de aritmética, linguagem, conhecimentos gerais, desenho e trabalhos manuais, nas quais os alunos participariam de jogos, medições, pesagens, ditados, redações, conversações, desenhos e construções. Para o desenvolvimento da aula, o professor sugeria palestra preparatória, segmento dinâmico (jogos ou observações), lição e exercícios.

O Quadro 1, apresentado a seguir, ilustra a configuração de aulas práticas de matemática demonstradas pelos dois professores durante o CAP.

Quadro 1
Planos de aula - aritmética.

Fonte: As autoras.

Na aula-modelo de história pátria, a professora do Grupo Escolar Marcondes de Souza,do município de Muqui, Enoe Bruzzi Vieira, utilizou o recurso do teatro (Figura 7). O planejamento desenvolvido seguia princípios do método ativo pelo processo intuitivo. Por exemplo, em uma de suas lições de história, para despertar a curiosidade infantil, os alunos preparariam uma taba indígena, cujos habitantes eram representados por bonecos. Nessa atividade, os questionamentos dos estudantes desencadeariam explicações acerca dos conteúdos tratados.

Figura 7
Aula de história pátria - Enoe Bruzzi Vieira.

Fonte: Revista de Educação (1935Primeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico da 3a Região Escolar. (1935b, 10 de agosto). Diário da Manhã. ano XXVIII, n. A03064, p. 6.).

O desenho - considerado elemento chave nas metodologias escolanovistas - fazia-se presente em muitos planos de aula para o ensino primário.Por meio desse exercício elaboravam-se cartazes, ilustrações de capas de cadernos e de álbuns, monogramas para roupinhas, enfim, trabalhos manuais que provocassem o interesse e a ação das crianças. Segundo Feu Rosa (1935Feu Rosa, A. (1935). O desenho applicado ás diversas disciplinas. Revista de Educação, 2(17-18-19), 97-101., p. 98), professor do curso de Adaptação à ENPII, o uso do desenho possibilitaria “[...] unir a arte à utilidade [...]”, além disso, contribuiria para o desenvolvimento motor da criança.

Em linhas gerais, os professores formadores enfatizavam o dinamismo envolvendo o movimento das crianças, preferencialmente ao ar livre. Dentre os autores referenciados em trabalhos apresentados no CAP, destacamos Rousseau, Claparè de, Montessori, Decroly, Dewey, Durkheim, Spencer, Pestalozzi, Thordinke, Farias de Vasconcelos, Gaupp Lourenço Filho, Fernando de Azevedo, Alba Canizares Nascimento e Jonathas Serrano (Vieira, 1935Vieira, E. B. (1935). Planos de aulas. Revista de Educação, 2(17-18-19), 158-160.; Passos, 1935; Meirelles, 1935Meirelles, A.(1935). A educação sanitaria e o futuro do Brasil: trabalho apresentado no 1º Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico da 3ª região escolar.Revista de Educação, 2(17-18-19), 41-47.; Souza, 1935Souza, C. G. (1935). O ensino das sciencias physicas e naturaes na escola primaria. Revista de Educação, 2(17-18-19), 80-86.).

Se levarmos em conta que, em contraposição à reforma da Escola Ativa capixaba (1928-1930), concebida e executada pelo paulista Deodato de Moraes, o ‘modesto’ CAP foi concebido e organizado em torno de exposições de aulas práticas, ministradas por professores que atuavam em escolas locais, e que esses mesmos professores permaneceram em seus postos após a destituição do governo anterior, podemos indagar: o que sustentava a pretendida renovação pedagógica, defendida pelo governo pós 1930? Essa pergunta torna-se ainda mais instigante quando nos deparamos com o comentário de autoria dos professores Sylvio Rocio e Oswaldo Marchiori que satirizava as aulas modelares apresentadas durante o congresso, comparando-as a espetáculos circenses nos quais professores atuariam como artistas, eventualmente como palhaços. Em sua apresentação, os autores definiram a peça satírica da seguinte maneira:

Argumento concebido pelos meninos Sylvinho Rocio e Oswaldinho Marchiori, com 10 e 12 annos de idade, respectivamente - de uma comedia a ser filmada pelo conhecido poeta Luiz Edmundo, que também attende pela alcunha de Malisek, chefe, nas horas vagas, de um serviço volátil de gramophones e lanternas magicas, especialmente contractado para esse fim, que dizem ser um meio de educação (O Congresso se diverte, 1935O congresso se diverte.(1935).Revista de Educação, 2(17-18-19), 191-195., p. 191).

Desse argumento, por meio do qual buscamos aproximar um pouco mais as nossas lentes das aulas práticas trabalhadas durante o congresso, trataremos no item a seguir.

Cenas de um picadeiro? As aulas-modelo pelo olhar da sátira de professores

Nós vivemos debaixo do pano

Entre espadas e rodas de fogo

Entre luzes e a dança das cores

Onde estão os atores

[...]

Nós vivemos debaixo do pano

Pelo truque malfeito dos magos

Pelo chicote dos domadores

E o rufar dos tambores

[...]

Pede a banda

Pra tocar um dobrado

Vamos entrar mais uma vez

(Lins & Martins, 1977Lins, I., & Martins, V. (1977). Somos todos iguais nesta noite (É o circo de novo). In Somos todos iguais nesta noite. EMI, Warner/Chappell Music, Inc.)

Na sátira às aulas-modelo apresentadas durante o CAP, Sylvio Rocio8 8 Durante o governo Aguiar, foi chefe do gabinete do secretário da Instrução, Attilio Vivacqua. No CSCP apresentou a tese A educação na escola nova(Berto, 2013). e Oswaldo Marchiori9 9 Em 1929, apresentou a tese A escola activa educa para a vida no CSCP (Berto, 2013). Na época do CAP, dirigia o Grupo Escolar ‘Bernardino Monteiro’, de Cachoeiro de Itapemirim. as compararam a picadeiros, nos quais professores indicados pelos organizadores do evento executavam ‘truques pedagógicos’, difundidos pela modernização do ensino. Desse modo, o “[...] serviço volátil de gramofones e lanternas mágicas” (O Congresso se diverte, 1935O congresso se diverte.(1935).Revista de Educação, 2(17-18-19), 191-195., p. 191), apontado pelos dois autores, dizia respeito ao cinema escolar, elemento que compusera a reforma da Escola Ativa de AttílioVivacqua. O ‘circo’, por conseguinte, teria sido iniciado por Deodato de Moraes, no curso superior de Cultura Pedagógica:

O congresso se diverte com a parte pyrotechnica, confiada a um punhado de artistas de circo, concentrados em circulo concentricos, á moda da escola brasileira de Victoria, na expressão scientifica do Deodato, o mestre incomparavel dos picadeiros pedagogicos (O Congresso se diverte, 1935O congresso se diverte.(1935).Revista de Educação, 2(17-18-19), 191-195., p. 191).

Dessa crítica, ainda que bem-humorada, não escapou o campeão de publicações de modelos de planos de aulas dirigidos ao professorado espírito-santense, Placidino Passos, cuja aula, executada no CAP, descrevemos no item anterior. Aos 68 anos de idade, Placidino aparece no texto de Rocio e Marchiori como a “[...] a figura technicamente pedagogica de Comenios [...]”, que conseguira “[...] ser um educador modernissino, digno da escola do futuro [...]”, mas cujas aulas causaram “[...] hilariedade, principalmente as de systema metrico, pela sua apparelhagem de pregos, martellos, serrotes, formões, etc.” (O Congresso se diverte, 1935O congresso se diverte.(1935).Revista de Educação, 2(17-18-19), 191-195., p. 191-192).

Pouco affeito, [...] ao manejo desse material pedagogico, o ilustre educador terantez quasi impoz um minuto de silencio aos congressistas (aos homens pelo menos) pois que, cerrando uma carteira, por um triz deixou um dêdo como documentação das suas aulas. Os seus alumnos segundo afirmam, vão fazer um metro cubico, com os quadros-negros do estabelecimento [...] (O Congresso se diverte, 1935O congresso se diverte.(1935).Revista de Educação, 2(17-18-19), 191-195., p. 191-192).

Como veremos em seguida, a ideia de espetáculo, mais ou menos atraente ou bem-sucedida, permeou os comentários satíricos, socializados com os demais congressistas. Assim, a aula teatral da professora Enoe Bruzzi Vieira, abordada anteriormente, não escapou à ironia de Sylvinho e Oswaldinho:

O congresso se diverte com a Enoe, apezar da sua tendencia pronunciada para os dramas de capa e espada [...] O seu numero sobre a cathechese dos indios, com aquelle pequeno todo enfeitado de pennas e berloques, teve o effeito de uma tragédia [...]

Se os congressistas não estivessem dispostos a se divertir, teriam sahido da sala mergulhados em pranto [...]

Mas, felizmente, todos sahiram alegres [...] (O Congresso se diverte, 1935, p. 193O congresso se diverte.(1935).Revista de Educação, 2(17-18-19), 191-195.).

Rita Torres10 10 Em 1929, apresentou a tese Terrários e Herbários no CSCP (Berto, 2013). ,professora do Grupo Escolar Deocleciano Oliveira (localizado em Siqueira Campos), embora elogiada pelo seu trabalho, também recebeu críticas pela espetacularização da aula ministrada.

O congresso se diverte com a Rita Torres. É a transformista da companhia. Os seus trabalhos têm merecido o mais justo e enthusiasticos applausos. Dos seus trabalhos, porém, merece um registro especial a transformação do alcool em fogo e do fogo em agua.

A technica com que foi feita essa ‘magica consolidou os dotes da notavel transformista, colocando-a mesmo num plano destacada entre seus colegas de picadeiro’ (O Congresso se diverte, 1935O congresso se diverte.(1935).Revista de Educação, 2(17-18-19), 191-195., p. 193, grifo nosso).

E o próprio Sylvio Rocio teve as suas aulas criticadas pelo excesso de ‘dinamismo’ e pela pirotecnia:

O congresso se diverte com o trabalho do ‘ilusionista’ Sylvio Rocio, que é um ‘artista de palco e picadeiro’. A sua magica de pião foi muito apreciada, bem como a do copo d'água, a qual segundo um technico presente, pode ser considerada como um processo original de irrigação [...]

Dos trabalhos desse artista, todavia, o que mais me agradou foi o da vela. Trata-se, na verdade, de um numero de grande effeito, já pela technica demonstrada pelo artista, já pelo desfecho imprevisto da magica. Esse trabalho, no entanto, deu a impressão de que o ilusionista estava morrendo em pleno picadeiro, tanto mais que, no momento em que elle empunhava a vela, accesa, as meninas do côro opheonico, ensaiando o programma da noite, entoaram uma especie de canto de chão [...]11 11 Em alusão ao ‘cantochão’, como também se denomina o canto gregoriano, utilizado na liturgia católica romana.

A impressão desse quadro chegou mesmo a provocar um movimento de pezar entre os que assistiam os trucs pedagogicos do excelente artista (O Congresso se diverte, 1935O congresso se diverte.(1935).Revista de Educação, 2(17-18-19), 191-195., p. 192).

Ainda que menos ‘pirotécnico’, o uso aparentemente excessivo de cartazes pela professora Madalena Pisa foi igualmente ironizado:

O congresso se diverte com a Magdalena. ‘Arrependida do tempo em que ensinou pelos velhos processos’, essa artista, que é um bom elemento no picadeiro, deu a sua aula o aspecto reclamista das Casas Pernambucanas. O cartaz é o seu meio de ensino. Na sala em que ella tem se exhibido não há mais parede. É só cartaz. Deante disto, affirma-se, e com razão, que o seu methodo de analfabetizar crianças foi concebido em uma loja de turco, em liquidação [...]

O que é certo, porém, é que seu conceito de educadora passou muito além da Taprobana, como diria Camões, se também fosse congressista, sendo mesmo considerada, pela sua ‘technica cartaziana’, uma professora do outro mundo, embora por lá não existam senão professores em disponibilidade [...] (O Congresso se diverte, 1935O congresso se diverte.(1935).Revista de Educação, 2(17-18-19), 191-195., p. 191, grifo nosso).

No contexto do CAP,qual o significado da associação do (ab)uso de cartazes ao ‘arrependimento’ da professora por um passado vinculado à ‘velha’ pedagogia, ironizando, ao mesmo tempo, a ‘técnica cartaziana’ como passaporte para a qualificação profissional? A resposta não é tão simples, tendo em vista que, na visão dos propositores do congresso, o domínio das técnicas de ensino constituía exatamente o alvo explícito para a formação dos professores capixabas em serviço. Por outro lado, observamos que o afã de desmontar os alicerces da reforma da escola ativa e as ideias de Attílio Vivacqua e Deodato de Moraes, cuja motivação se situava predominantemente no campo da política, mais do que a superação de ‘velhos’ modos de ensinar e aprender, demandava a ‘renovação’ da recém ‘renovada’ educação capixaba, segundo os princípios da Escola Ativa. Daí a crítica não aos princípios que orientavam as técnicas de ensino, mas aos seus abusos.De fato, possíveis embates teóricos haviam sido cuidadosamente afastados do CAP:

O Congresso que hora se instala, não foi convocado para uma exhibição inútil de conhecimentos científicos e literários, nem para uma exposição de doutrinas engendradas pelo intelectualismo luxuoso e sem objetivo pratico. Aqui, certamente, serão abordados assumptos de indiscutível interesse social e resolvidas questões que dizem respeito á diffícil arte de educar, ‘expondo cada qual, sob um ponto de vista prático e utilitário, a farta colheita da sua experiência e dos seus estudos’ [...] (Bastos, 1935Bastos, J. (1935). Discurso. Pronunciado na installação do 1º Congresso de Aperfeiçoamento Pedagogico da 3ª região escolar, com sede na cidade de Alegre. Revista de Educação, 2(17-18-19), 9-11., p. 9, grifo nosso).

Nesteponto, vale a pena acrescentar que, assim como Sylvinho (Rocio), Oswaldinho (Marchiori) não escapou à crítica por aplicar à sua aula modelo o princípio da ‘ação vivificadora’12 12 Princípio que tem como base aulas dinâmicas em qualquer ambiente de ensino: “[...] ainda que não se disponha de logares espaçosos e apropriados ás diversas actividades da escola activa, pode-se muito bem desterrar o ensino verbalista e livresco e substituil-o pela ação vivificadora [...]” (Mallart Y Cutó apud Vivacqua, 1930, p. 17). , com o objetivo de torná-la dinâmica. Surpreendentemente, porém, a referência a Marchiori assume um contorno nada técnico, na medida em que, ao apontar a atividade comercial, mais ‘segura e rentável’, exercida pelo professor,desnuda a insegurança e os baixos rendimentos do magistério.

O congresso se diverte com o Marchiori. É um ‘optimo artista’. Os seus ‘recursos acrobaticos’ o colocam numa posição de destaque entre os melhores elementos da companhia.

Mas, tencionando ingressar na ‘vida commercial’, que julga ‘menos arriscada e mais rendonsa’ [sic] que o picadeiro, esse artista, ‘burlando o seu contracto com os directores do circo’, experimenta, com as crianças, os seus pendores para o malabarismo do balcão, pondo-se á frente de um armazem quebrado, que melhor seria se lhe chamasse quintanda.

Assim, improvisado em taverneiro, aquelle que o surprehende, na sua engenhoca commercial, tem a impressão de vel-o de tamancos, em manga de camisa, o ventre crescido, cavando a vida como o Vaptista alli [sic] da esquina [...] (O Congresso se diverte, 1935O congresso se diverte.(1935).Revista de Educação, 2(17-18-19), 191-195., p. 193, grifo nosso).

Eis então que, por meio da crítica bem-humorada, dirigida às aulas-modelo exemplificadas durante o congresso, às encenações e aos ‘truques’ pedagógicos que tornavam as aulas um espetáculo, eventualmente de comédia ou circo, o comentário arranha uma aparente assepsia sustentada pela prescrição modelar de práticas tidas como eficientes e eficazes. Uma provocação escapa: “E, como todos os artistas são muito engraçados, a empreza não teve necessidade de contractar um palhaço [...]” (O Congresso se diverte, 1935O congresso se diverte.(1935).Revista de Educação, 2(17-18-19), 191-195., p. 195).

Também não escapou à observação dos comentaristas a vigilância de João Bastos no sentido de que os professores deveriam realizar com eficiência as suas tarefas, sob pena de serem privados dos seus salários e voltarem a pagar o aluguel das casas onde ministravam aulas.

O congresso se diverte desde sua installação, quando o João Bastos, commentando a tabella Arnulpho Mattos, affirmou, ‘entre um sorriso maldoso’, que os professores incluidos na letras da famosa tabella (os que nada têm, nada dão e não se afogam porque não deixam a galera do professor Arnulpho) serão obrigados a trabalhar de graça, pagando ainda o aluguer da casa, ‘como se isso tivesse graça e não fizesse a desgraça dos taes coitados que cavam a vida da melhor maneira [...]’ (O Congresso se diverte, 1935O congresso se diverte.(1935).Revista de Educação, 2(17-18-19), 191-195., p. 191, grifo nosso).

A tabela apresentada por Arnulpho Mattos referia-se à classificação dos profissionais com base nos seus conhecimentos pedagógicos, dividindo-os em

a)- Professores que muito têm e muito dão; b) - Professores que muito têm e pouco dão; c) professores que pouco têm e muito dão; d) - Professores que pouco têm e pouco dão; e) professores que nada tem e nada absolutamente dão [...] (Mattos, 1935Mattos, A. (1935). Em prol do ensino. Revista de Educação, 2(17-18-19), 12-18., p. 17).

Segundo ele, com exceção daqueles classificados na letra ‘e’, os demais serviriam bem à educação, contanto que estivessem bem fundamentados pedagogicamente. Notemos, porém, que o conhecimento profissional, defendido por Mattos (1935Mattos, A. (1935). Em prol do ensino. Revista de Educação, 2(17-18-19), 12-18.), dizia respeito à compreensão biológica e psicológica da criança. Aos professores, que deveriam ser escolhidos entre os ‘realmente vocacionados’, recomendava a observância estrita à hierarquia institucional e a aproximação das famílias e estudantes, com o objetivo de conquistar a sua adesão, afeição e interesse pela educação.

Para explicar o seu ponto de vista, ele cunhou uma metáfora curiosa, por meio da qual comparava a instrução a uma galera, “[...] que, fluctuando sobre as aguas de um grande e mysterioso lago, de quando em vez sobe ao estaleiro para uma pintura externa, de accordo com os sonhos futuristas ou passadistas do seu comandante” (Mattos, 1935Mattos, A. (1935). Em prol do ensino. Revista de Educação, 2(17-18-19), 12-18., p. 13). Para ele, uma navegação segura dependeria da ‘rota certa’, traçada pelo comandante, e do afastamento dos professores “[...] dos movimentos partidários, para evitarem os casos políticos”. Nas suas palavras,

O commandante é, pois, o dirigente da Instrucção; os officiaes são os membros do magistério; os aspirantes são os educandos; o lago mysterioso é a sociedade; as algas, que o povoam, são as resistencias dos retrógrados; os baixios são os movimentos politicos e, finalmente, os canaes são as leis e regulamentos escolares (Mattos, 1935Mattos, A. (1935). Em prol do ensino. Revista de Educação, 2(17-18-19), 12-18., p. 13).

Mas como sabemos que todo corpo necessita de uma força para se movimentar, direi mais: ‘os ventos que enfunam as velas são os actos dos Governos, emquanto que a calmaria é a indifferença dos paes’.

Qual será, meus senhores, o destino da Galéra se, apezar de bons ventos, ‘o seus comandante e officialidade não souberem, porventura,determinar uma róta certa’, para evitar que ella se prenda ás algas ou se encalhe sobre taes baixios?

Em tal caso, poderemos affirmar que ella chegue ao porto do destino, sem avaria? A resposta ficará ao vosso criterio.

As nomeações para os cargos do magistério devem recahir em pessoas que tenham, realmente, ‘vocação’ e interesse pelo desenvolvimento do ensino, porque só assim poderemos colher resultados satisfatórios.

[...]

É, portanto, de grande alcance pedagogico que os educadores estejam sempre em ‘contacto respeitoso com seus superiores hierarchicos’ para coordenarem as suas idéas; ‘que se abstenham dos movimentos partidários’, para evitarem os casos políticos; que se congreguem á sociedade, para conhecerem melhor o meio social; que se approximem o mais possível, dos chefes de família, ‘para lhes dissiparem a indifferença e conhecerem os seus princípios e sentimentos e que’, finalmente se associem com seus alunos para lhes conquistarem confiança absoluta e affeição sincera (Mattos, 1935Mattos, A. (1935). Em prol do ensino. Revista de Educação, 2(17-18-19), 12-18., p. 14, grifo nosso).

Ao ironizarem a maldade do sorriso de João Bastos, quando se referia à tabela e à galera de Arnulpho Mattos, para ameaçar os professores que não ‘servissem’ à educação, os comentários satíricos abriram janelas com vista para lugares de fala diretamente associados ao controle do exercício do magistério, e não necessariamente ao aperfeiçoamento dos professores capixabas.

Tendo em vista a concepção inicial do CAP, que se pretendia um espaço impermeável às críticas, controvérsias e manifestações não solicitadas, quais as leituras possíveis do comentário satírico apresentado na Hora Litero Musical do CAP?Seria a hora literária e musical um espaço de crítica ‘autorizada’? Neste estudo, trabalhamos com a hipótese de que a oposição do governo Punaro Bley à reforma do ensino promovida pelo governo anterior demandava a crítica à escola ativa instituída no Espírito Santo em 1928, que deveria ser substituída pelas ‘novas’ diretrizes do governo instaurado após omovimento de 1930. Não por acaso, a sátira recaía, em grande escala, sobrea atividade e xcessiva em sala de aula ou sobre os denominados ‘malabarismos circenses’ das aulas espetáculo. Para não fugirmos à metáfora circense, poderíamos comparar Oswaldinho e Sylvinho com atiradores de facas certeiras que miravam o coração da pedagogia ativa, disseminada a partir do CSCP - concebido, dirigido e ministrado pelo paulista Deodato de Moraes em 1929. Abriram-se, dessa maneira, espaços para a crítica mais do que consentida, útil aos propósitos dos organizadores do CAP. Com relação aos professores, porém, a questão parece mais complexa, considerando que ambos, assim como vários outros congressistas, haviam participado com destaque da reforma da escola ativa e até mesmo do CSCP, de cujo ‘desmonte’ eram de certo modo convidados a participar13 13 Os autores do comentário satírico - Sylvio Rocio e Oswaldo Marchiori - assim como professores responsáveis pelas aulas satirizadas - dentre eles, Arnulpho Mattos, Americo Oliveira, Placidino Passos, Luiz Malisek, Ananias Netto, Claudionor Ribeiro, Oswaldo Marchiori, Rita Torres, José Elias de Queiroz, Magdalena Pisa, Ernani Souza (Primeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico da 3a Região Escolar, 1935b), participaram do CSCP, que objetivou implementar a pedagogia da Escola Ativa no ensino capixaba (Berto, 2013). .

Considerações finais

Um ano antes do Primeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico,Eliseu Lofêgo, professor da Escola Normal Pedro II, alertava para o fato de que o ensino no Espírito Santo precisava de mudanças e de que os professores necessitavam de liberdade de cátedra para inovarem em seu trabalho:

[...] Nunca houve ‘uma liberdade propriamente de cathedra’, seguindo o lente, em geral, ‘determinações impostas pelo officialismo dominante’. Felizmente agora, com a ‘propagação de modernas feições do ensino’, ja se vem criando, em torno dos mestres, uma ‘necessidade de permuta de idéas para a organização de programas’ (Lofêgo, 1934Lofêgo, E. (1934). Programmas de ensino. Revista de Educação, 1(6), 9., p. 9, grifo nosso).

Segundo Lofêgo, “[...] a normalização do ensino tem sido puramente theorica. O programa dos educandarios fortemente abstractos [...]” (Lofêgo, 1934Lofêgo, E. (1934). Programmas de ensino. Revista de Educação, 1(6), 9., p. 9). Assim, unia-se a vozes que defendiam uma urgente renovação no ensino capixaba:

[...] Urge, pois, que demos ‘outra orientação aos programas educacionaes’. A materia deve revestir-se de ‘caracter menos abstracto, predominantemente’. A ‘technica deverá ser mais de efficiencia concreta, alliando-se quanto possa á theoria’ - imprescindível, aliás, á formação mental, completa do alumno. Lutemos, por conseguinte, pela implantação ‘de idéas novas que façam uma adopção renovadora do ensino’ (Lofêgo, 1934Lofêgo, E. (1934). Programmas de ensino. Revista de Educação, 1(6), 9., p. 9, grifo nosso).

Lidas pela ótica prescritiva do CAP, as reivindicações do professor Lofêgo reverberam nas seguintes diretrizesque orientaram o programa de formação em serviço em curso no Espírito Santo: a afirmação da ‘inutilidade’ das teorizações e a formação em serviço pela modelização prática, em benefício da aprendizagem. Induziu-se, dessa maneira, um ambiente avesso ao debate teórico, assim como a qualquer tipo de controvérsia. Nesse contexto, a perspectiva renovadora do ensino estaria reduzida à reprodução eficiente de modelos práticos, que sequer poderiam ser colocadas na prateleira das novidades.

Ao mesmo tempo em que se queixava da ausência de liberdade de cátedra e do oficialismo prevalente na educação, Lofêgo apostava na modernização do ensino que, na sua perspectiva, demandaria a participação dos professores em decisões sobre a organização dos programas de ensino. A questão é: como conciliar a participação de professores - traduzida por Lofêgo como liberdade de cátedra -coma metáfora da galera de Arnulpho Mattos, à qual nos referimos em outro momento?Afinal, nessa metáfora, a hierarquia de bordo, simbolizando o sistema de ensino, não deixava dúvida sobre a posição de professores e estudantes embarcados, submetidos ao comando dos dirigentes da instrução pública. No mistério do lago social, Mattos (1935Mattos, A. (1935). Em prol do ensino. Revista de Educação, 2(17-18-19), 12-18.) identificava a ‘resistência dos retrógados, movimentos políticos e leis e regulamentos escolares’. Na sua visão, as ações governamentais corresponderiam ao vento que impulsionava o barco, enquanto a indiferença dos pais, equivalente à calmaria, estagnaria a navegação. Ao final, um alerta à tripulação: o posicionamento político poderia encalhar ou danificar a galera da educação em sua “[...] sacrossanta cruzada [...]” (Mattos, 1935Mattos, A. (1935). Em prol do ensino. Revista de Educação, 2(17-18-19), 12-18., p. 13).

Seguindo essa linha de raciocínio, podemos deduzir que a redução do aperfeiçoamento docente à modelização possibilitaria a flutuação ‘segura’ da galera segundo os ventos das ações governamentais e os sonhos retrógados ou futuristas do comandante da embarcação. Aos professores, caberia remar a favor da maré, ao largo de zonas de perigo. Para tanto, o Primeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico poderia parecer um estaleiro ideal.

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  • Vivacqua, A. (1930).Educação brasileira: directrizes e soluções do problema educacional no Espírito Santo Vitoria, ES: Vida Capichada.
  • 1
    Trecho da sátira apresentada por Oswaldo Marchiori e Sylvio Rocio na ‘Hora Litero-Musical’ do Primeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico do Espírito Santo.
  • 2
    Movimento que destituiu do poder o presidente Washington Luís e impediu a posse de Júlio Prestes, eleito em 1930. Em decorrência da denominada ‘revolução de 1930’, Getúlio Vargas assumiu a presidência do Brasil, que exerceu de 1930 a 1945.
  • 3
    Professor de concurso, nomeado em 1927, atuou na escola masculina de Divisa, no município de Alegre. Tornou-se inspetor escolar em 1929 (Secretaria da Instrução, 1929Secretaria da Instrução. (1929, 11 de agosto). Diário da Manhã. ano XXII, n. 2106, p. 5.) e supervisionou a região escolar que compreendia o município de Alegre.
  • 4
    Jerônimo e seu irmão, Bernardino Monteiro,lideravam, respectivamente, o segmento agrofundiário e o segmento mercantil exportador, que comandou o processo sucessório estadual até 1930, quando a oposição jeronimistaaproveitou o clima revolucionário para pleitear o poder, já que Aristeu Borges Aguiar, governador do Espírito Santo de 1928 a 1930, apoiava a candidatura de Júlio Prestes. Na impossibilidade de um acordo local, Getúlio Vargas decidiu pelo capitão João Punaro Bley, indicado pela Associação Comercial de Vitória e considerado politicamente neutro no Espírito Santo (Silva, 1995Silva, M. Z.(1995). Espírito Santo: Estado, interesses e poder. Vitória, ES: FCAA/SPDC.; Oliveira, 1975 Oliveira, J. T. (1975). História do Estado do Espírito Santo(2a ed.). Vitória, ES: Fundação Cultural.).Bley tornou-se interventor federal (1930-1935 e 1937-1943) e governador eleito pela Assembleia Legislativa (1935-1937). Segundo ele, a sua nomeação, referendada pela Associação Comercial de Vitória, representaria uma “[...] alternativa alheia às questões regionais, capaz de ser aceita pelas facções em luta” (CPDOC, 2017CPDOC. (2017). João Punaro Bley. Recuperado de: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/joao-punaro-bley-1
    http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionari...
    ).
  • 5
    Impresso de circulação diária no Espírito Santo. No período estudado, o redator-chefe, Ciro Vieira da Cunha, alinhava-se ao grupo conservador que defendia a pedagogia tradicional (Salim, 2009Salim, M. A. A. (2009).Encontros e desencontros entre o mundo do texto e o mundo dos sujeitos nas práticas de leitura desenvolvidas em escolas capixabas na Primeira República(Tese de Doutorado em Educação).Programa de Pós-Graduação em Educação. Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória.).
  • 6
    Termo utilizadopor Ângela Maria de Castro Gomes (1980Gomes, A. C. (1980). Introdução. In A.C. Gomes (Ed.), Regionalismo e centralização política: partidos e constituintes nos anos 30. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira.) referente aos anos de 1930 a 1937, em que se lançavam as bases para a consolidação do Estado Novo.
  • 7
    Alguns participaram do CSCP, que, durante nove meses, formou um grupo selecionado de professores multiplicadores das orientações teórico-práticas que conformaram a Escola Ativa local.
  • 8
    Durante o governo Aguiar, foi chefe do gabinete do secretário da Instrução, Attilio Vivacqua. No CSCP apresentou a tese A educação na escola nova(Berto, 2013Berto, R. C.(2013). A constituição da escola activa e a formação de professores no Espírito Santo (1928-1930) (Tese de Doutorado em Educação). Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitoria.).
  • 9
    Em 1929, apresentou a tese A escola activa educa para a vida no CSCP (Berto, 2013Berto, R. C.(2013). A constituição da escola activa e a formação de professores no Espírito Santo (1928-1930) (Tese de Doutorado em Educação). Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitoria.). Na época do CAP, dirigia o Grupo Escolar ‘Bernardino Monteiro’, de Cachoeiro de Itapemirim.
  • 10
    Em 1929, apresentou a tese Terrários e Herbários no CSCP (Berto, 2013Berto, R. C.(2013). A constituição da escola activa e a formação de professores no Espírito Santo (1928-1930) (Tese de Doutorado em Educação). Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitoria.).
  • 11
    Em alusão ao ‘cantochão’, como também se denomina o canto gregoriano, utilizado na liturgia católica romana.
  • 12
    Princípio que tem como base aulas dinâmicas em qualquer ambiente de ensino: “[...] ainda que não se disponha de logares espaçosos e apropriados ás diversas actividades da escola activa, pode-se muito bem desterrar o ensino verbalista e livresco e substituil-o pela ação vivificadora [...]” (Mallart Y Cutó apud Vivacqua, 1930Vivacqua, A. (1930).Educação brasileira: directrizes e soluções do problema educacional no Espírito Santo. Vitoria, ES: Vida Capichada., p. 17).
  • 13
    Os autores do comentário satírico - Sylvio Rocio e Oswaldo Marchiori - assim como professores responsáveis pelas aulas satirizadas - dentre eles, Arnulpho Mattos, Americo Oliveira, Placidino Passos, Luiz Malisek, Ananias Netto, Claudionor Ribeiro, Oswaldo Marchiori, Rita Torres, José Elias de Queiroz, Magdalena Pisa, Ernani Souza (Primeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico da 3a Região Escolar, 1935bPrimeiro Congresso de Aperfeiçoamento Pedagógico da 3a Região Escolar. (1935b, 10 de agosto). Diário da Manhã. ano XXVIII, n. A03064, p. 6.), participaram do CSCP, que objetivou implementar a pedagogia da Escola Ativa no ensino capixaba (Berto, 2013Berto, R. C.(2013). A constituição da escola activa e a formação de professores no Espírito Santo (1928-1930) (Tese de Doutorado em Educação). Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitoria.).
  • 16
    Como citar este artigo: Lauff, R. F., & Simões, R. H. S.Flutuações da galera, (im)perfeições da pedagogia e outros mapas de navegação:a formação em serviço de professores no Espírito Santo (1930-1935).(2019). Revista Brasileira de História da Educação, 19. DOI: http://dx.doi.org/10.4025/rbhe.v19.2019.e086
  • 17
    Este artigo é publicado na modalidade Acesso Aberto sob a licença Creative Commons Atribuição 4.0 (CC-BY 4).

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CPDOC. (2017). João Punaro Bley Recuperado de: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/joao-punaro-bley-1

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Nov 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    04 Jul 2019
  • Aceito
    13 Ago 2019
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