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EDITORIAL

O preparo didático - pedagógico do docente de Medicina tem sido preocupação constante da ABEM, refletida na continuidade do programa com tal objetivo.

Existe, hoje, viva consciência da necessidade de preparação especial que capacite o professor universitário para as tarefas de transmissão de conhecimentos, experiências, atitudes e valores, a fim de que a educação superior proporcione, a todos os estudantes, formação ajustada às corretas exigências do exercício profissional.

A área médica tem-se mostrado aberta ao trabalho dos especialistas da educação, com os quais vem desenvolvendo esforço conjugado no sentido do aperfeiçoamento do processo ensino-aprendizagem em suas escolas. Nesse sentido. tem sido variada a oferta de cursos que costumavam versa r objetivos educacionais, métodos de ensino, tecnologia educacional, medida e avaliação do desempenho escolar, planejamento de ensino, sem descuidar dos fundamentos teóricos necessários ao entendimento das atividades inerentes ao processo de educação.

Entre os docentes que participam de tais cursos, são freqüentes as manifestações de maior compromisso e envolvimento com encargos didáticos, não raro expressas pela aceitação de responsabilidades diretas nos projetos de ensino da instituição.

Verifica-se, entretanto, que o trabalho aperfeiçoado desses professores permanece a serviço de uma prática de ensino tradicional, cujas distorções não compete relembrar no momento.

Na tentativa de impedir que o ensino médico deixe de ser esse processo de auto perpetuação, torna-se indispensável incluir, em programas de atualização, ou preparo pedagógico, a discussão acerca das funções atuais da Universidade, das políticas de educação e de saúde, das interrelações das práticas de ensino e de assistência médica.

Sem ampliar a dimensão pedagógica do ensino da Medicina, sem tornar clara a noção de que o curso de graduação é o instrumento para preparar o continente dos recursos humanos para o setor saúde do País, permanecerão estéreis os trabalhos de análise crítica e reformulação dos currículos. Continuarão os inconvenientes da dicotomia entre ensino e assistência, da ausência de responsabilidade dos estudantes nas ações assistenciais, do anonimato na relação professor-aluno, da despreocupação do docente com a formação de atitudes e hábitos de estudo dos alunos.

É preciso combater essa atividade docente que se resume em contatos episódicos com grupos de alunos desconhecidos, no âmbito exclusivo de uma determinada disciplina, na qual a tarefa de ensino é um fim em si mesma, que se esgota no procedimento didático realizado na enfermaria, no ambulatório, ou na sala de aula. É indispensável que os docentes sejam estimulados a conhecer a organização curricular do curso médico e as práticas de ensino e de avaliação das várias disciplinas e a ler critérios para avaliar continuamente essas práticas. Só assim será possível selecionar e interrelacionar experiências de aprendizagem produtivas , capazes de formar profissionais habilitados a produzir, ou catalisar transformações necessárias no exercício da Medicina.

Sem a redefinição da pratica educacional e dos papéis na relação professor­ aluno, os egressos de nosso sistema de ensino, pela fragilidade de seus conhecimentos, técnicas e valores permanecerão vulneráveis às conformações e deformações da prática médica.

O relatório da Comissão Internacional para o Progresso da Educação, da UNESCO, concluído em 1972 com o título Apprendre à être, assinala:

"Les éducateurs, dont l'une des tâches essentielles est actuel lement de transformer les mentalités et les qualifications inherentes à toutes les professions, devraient être les premiers disposés à repenser et transformer les critéres et les données de la profession enseignante, dans laquelle les fonctions d'éducation et d'animation prennent de plus en plus le pas sur les fonctions d' instruction"

Alice Reis Rosa
Da diretoria da ABEM

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Fev 2022
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 1979
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