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EDITORIAL

No momento em que a comunidade cientifica brasileira se movimenta e se organiza para dar maior brilhantismo às comemorações do Centenário de Nascimento de Carlos Chagas, o notável descobridor da Tripanosomíase Americana, conhecida no mundo inteiro como Doença de Chagas, é oportuno que se medite sobre a qualidade da ciência médica que se pratica no Brasil. Antes de tudo é necessário que se repita que uma boa ciência só se faz com bons cérebros, reunindo inteligência, cultura e experiência a serviço dos interesses nacionais. Nos dias atuais, é importante também que se tenha bem clara a idéia de que ciência e pesquisa são atividades multidisciplinares, face à complexidade do conhecimento e à necessidade da divisão do trabalho para a melhor cobertura de todos os ângulos do assunto objeto da curiosidade científica. No campo médico-cientifico o Brasil já reúne homens e laboratórios para produzir em igualdade de condições com os países industrializados, desde que o desenvolvimento científico-tecnológico seja uma prioridade de Governo, que não faltem recursos e que se sedimente uma perfeita articulação entre institutos de pesquisa, universidades e agências governamentais coordenadoras do sistema.

A Fundação Oswaldo Cruz acredita que é chegada a hora da reafirmação da ciência que os brasileiros realizam e procura se estruturar para favorecer o produto dos cientistas e dos pesquisadores na área da saúde. A sua ação está apoiada em mandamentos bastante sólidos como as diretrizes básicas do Ministério da Saúde no que se refere à pesquisa (1979-1985) e nos seus próprios Estatutos.

No primeiro caso vale reproduzir aqui alguns pontos de real interesse - orientação da Pesquisa para a solução de problemas brasileiros, através de uma integração entre a pesquisa acadêmica e a pesquisa operacional, levando a uma aceleração da produção industrial nacional, à substituição e transferência de tecnologia em saúde, à exportação de resultados e ampla divulgação dos resultados obtidos. Ê imprescindível a articulação entre os Ministérios envolvidos, bem como a colaboração entre institutos, órgãos oficiais, Universidades, empresa privada e sociedades científicas, sem esquecer a plena liberdade que é devida ao pesquisador. Com relação aos seus estatutos, está a FIOCRUZ capacitada a participar da formulação, coordenação e execução do plano básico de pesquisa para a saúde, promover e realizar pesquisas fundamentais, preparar recursos humanos para a Saúde Pública, bem assim para as atividades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico em saúde.

Alicerçada legal e doutrinariamente, parle a FIOCRUZ para a elaboração do seu primeiro Plano de Desenvolvimento Integrado, com ampla reformulação programática. O primeiro passo desse trabalho foi a realização do Colóquio - O Papel da FIOCRUZ na Pesquisa Biomédica no Brasil, submetido a um debate em que participaram todas as instituições com responsabilidade na pesquisa e na ciência médicas no País.

A segunda medida foi o combate à concepção atomística de projetos isolados, reforçando- se a estrutura integrada de laboratórios, razão por que estão sendo reorganizados os laboratórios de protozoologia, helmintologia, entomologia, bacteriologia, malacologia, micologia, virologia, biologia molecular, patologia, imunologia, bioquímica, fisiologia, biofísica, farmacologia e terapêutica experimental, medicina tropical e laboratório de métodos especiais, (microscopia eletrônica, radioisótopos) etc.

Advoga-se uma administração participada, com descentralização de procedimentos administrativos. O ponto nuclear de toda a reformulação é a constituição de uma massa crítica de pesquisadores, docente s e tecnólogos, utilizando-se diversos mecanismos de recrutamento, formação e atualização de pessoal. Enfase será conferida na implantação do Laboratório Central de Controle de Qualidade de Drogas, Medicamentos e Alimento, ao Centro Internacional de Virologia Comparada, ao Centro Internacional de Imunologia, ao Centro de Biologia Molecular, Centro de Diagnóstico, Centro de Estudos e Pesquisas Aplicadas à Saúde (CEPAS), Núcleo de Informações em Saúde e regularização na publicação das Memórias do Instituto Oswaldo Cruz.

Metodologicamente procurar-se-à elaborar um documento básico de Pesquisa, Capacitação de Recursos Humanos, Desenvolvimento Tecnológico e Modernização Administrativa, o qual será submetido a um amplo debate com a participação das sociedades e instituiçõe s educacionais e cientificas, até que possa alcançar o Conselho do Desenvolvimento Social através do Ministério da Saúde. Ter-se-á finalmente um documento hábil conduzir as ações cientifico-tecnológicas em saúde para o período 1980-1985, voltadas para os interesses sócio-econômicos brasileiros, numa tentativa de conferir autonomia ao Pais e mais e melhor saúde para a sua população.

Guilardo Martins Alves
Presidente, FIOCRUZ

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Fev 2022
  • Data do Fascículo
    May-Aug 1979
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