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Corpo Discente do Curso de Mestrado em Medicina Interna da Universidade Federal da Bahia: análise de alguns aspectos, no período 1972-1981

Resumo:

O autor analisa número de candidatos inscritos no período considerado; proporção de selecionados e matriculados; número de graduados vinculados (aqueles que estão ainda cursando) e desistentes; qualificação dos alunos ao ingressar; sua absorção subseqüente por instituições de ensino superior; etapas do curso em que ocorreram as desistências; relação entre estas e a qualificação inicial dos alunos.

Summary:

The author analyses aspects related to all applicants, those registered and holders of a Master Degree in Internal Medicine at the Federal University of Bahia.

INTRODUÇÃO

O Curso de Mestrado em Medicina Interna (CMMI) da Universidade Federal da Bahia (UFBa) funciona desde 1972, sem solução de continuidade; foi credenciado pelo Conselho Federal de Educação, mediante os Pareceres 985/72 e 837/7911. BRASIL. MEC. CFE. Parecer n.o 985/72. Documenta, Brasília (142): 224-226, set. 1972.) (22. _____. _____. _____. Parecer n.o 837/79. Documenta, Brasília (223): 247-248, jun. 1979..

Tem sido procurado por muitos médicos, desejosos de participar de seu corpo discente. Seu desempenho em termos de número de candidatos inscritos, selecionados, graduados e desistentes tem sido periodicamente levantado, em seus relatórios anuais e em relatórios da CAPES. No conjunto destes nove e meio anos de funcionamento, entretanto, estes dados não estão analisados.

Ao lado do conhecimento destes, consideramos importantes outros dados, como, por exemplo, a qualificação dos alunos matriculados, o que evidencia o tipo de população que ingressa no curso.

O aproveitamento subseqüente dos graduados por instituições de ensino superior é outro ponto de importância e tem preocupado a todos que lidam com a pós-gradução. No particular deste curso, muitas dificuldades têm-se manifestado a respeito e, durante certo tempo, muitos graduados se mantiveram desligados da UFBa; recentemente, entretanto, houve grande número de contratos destes, na qualidade de “Professor Colaborador”. Estes e outros mais, anteriormente absorvidos por esta Instituição após aprovação em concurso para Auxiliar de Ensino e Professor Assistente, representam, sem dúvida, a colaboração deste curso para a formação do corpo docente de nossa Universidade.

As desistências representam outro aspecto importante. Elas têm preocupado sobremodo vários coordenadores e docentes deste curso. Temos procurado conhecê-las, diagnosticando suas causas, numa tentativa de reduzir ou mesmo evitar sua repetição futura.

Pretendemos, nesta análise, avaliar:

  1. aspectos quantitativos deste corpo discente, em termos do número de candidatos inscritos e selecionados; do número de alunos matriculados, graduados vinculados e desistentes;

  2. aspectos qualitativos referentes à qualificação dos alunos que se matriculam;

  3. aproveitamento, por instituições de ensino superior, dos graduados e daqueles ainda vinculados;

  4. aspectos referentes às desistências, a saber: etapa do curso em que ocorreram; sua relação com a qualificação do aluno ao ingressar no curso.

MATERIAL E MÉTODOS

Utilizamos dados do arquivo do curso; as informações referentes ao atual número de docentes, entretanto, foram obtidas por consulta direta a alunos e ex-alunos.

Visando estudar os aspectos quantitativos, levantamos o número de candidatos inscritos, selecionados e matriculados; o número de graduados, vinculados e desistentes.

Consideramos graduados àqueles que cumpriram com aprovação a totalidade dos créditos e obtiveram menção aprobatória na dissertação de conclusão; esta expressão não significa, necessariamente, que já se tenha concedido oficialmente o grau de Mestre.

O termo vinculados se refere àqueles que estão presentemente vinculados ao curso, cumprindo créditos e/ou elaborando a dissertação.

A palavra desistentes se aplica àqueles que, uma vez iniciado o curso, o interromperam em qualquer etapa.

Para estudar aspectos qualitativos, analisamos a qualificação do aluno ao ingressar, a qual denominamos qualificação inicial; esta foi agrupada em três categorias crescentes: recém-graduados (alunos graduados em Medicina um ou dois anos antes); ex-residentes; docentes (alunos com atividade docente em instituição reconhecida de ensino superior, seja como contratados, nomeados ou percebendo através de bolsas); para a inclusão do aluno em determinada categoria, foi considerada a sua qualificação mais elevada.

Para analisar o aproveitamento subseqüente de graduados e vinculados, determinamos sua qualificação no presente, a qual designamos de qualificação atual. Esta foi definida em docentes (aqueles vinculados atualmente a instituição de ensino superior, seja como Professor Auxiliar, Professor Assistente ou Professor Colaborador) e não docentes (aqueles em situação oposta).

Tentando caracterizar as desistências, determinamos sua ocorrência nas diversas etapas do curso; nas três categorias de qualificação inicial consideradas.

As etapas do curso foram classificadas em etapa I (correspondente à desistência durante o cumprimento da primeira metade dos créditos); etapa II (desistência durante a segunda metade dos créditos; etapa III (desistência após o cumprimento do total de créditos, quando o aluno só tem atividades em sua dissertação). Vale referir que ao considerarmos cumprimento de créditos, estamos incluindo os créditos de disciplinas e de tirocínio docente orientado.

Determinamos as proporções de desistentes nas três categorias de qualificação inicial consideradas e as comparamos mediante o “teste de Z”33. SPIEGEL, M. R. Estatística. 4. ed. São Paulo, Ed. McGraw-Hill do Brasil, 1972, p. 282-3..

RESULTADOS

No período considerado, houve 124 candidatos inscritos a este curso, o que corresponde à média anual de 13; 65,3% (81) destes lograram aprovação na seleção, mas somente 62,9% (78) se matricularam subseqüentemente; desde 78, 32 conseguiram conclui-lo (tabela 1).

TABELA 1
SEGUIMENTO DOS CANDIDATOS INSCRITOS NO CURSO DE MESTRADO EM MEDICINA INTERNA DA UFBa (1972-81)

Destes 78 matriculados, 32 graduados correspondem a 41,0%; 34,7% (27) destes estão no grupo vinculados e 24,3% (19), no grupo desistentes (gráfico 1 e tabela 2).

TABELA 2
DISTRIBUIÇÃO DE ALUNOS MATRICULADOS NO CURSO DE MESTRADO EM MEDICINA INTERNA DA UFBa, SEGUNDO O GRUPO CONSIDERADO E A CATEGORIA DE QUALIFICAÇÃO INICIAL (1972-81)

GRÁFICO 1
DISTRIBUIÇÃODE ALUNOS MATRICULADOS NO CURSO DE MESTRADO EM MEDICINA INTERNA DA UFBa, CONFORME OS TRÊS DIFERENTES GRUPOS CONSIDERADOS (1972-81)*

Vale referir que no grupo vinculados, 2 alunos já cumpriram todos os créditos e concluíram sua dissertação, estando atualmente aguardando o julgamento desta. O grupo desistentes inclui 1 aluno desligado do curso, por parte do Colegiado, devido a ter sido reprovado por faltas em duas disciplinas e assim o determinar as Normas Complementares para a Pós-Graduação da UFBa44. UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA. CÂMARA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA. Normas complementares para os cursos de pós­ graduação. Salvador, 1980..

A tabela 2 mostra também que a categoria recém-graduados participou com 16,7% (13) dos matriculados; a categoria ex-residentes, com 73,1% (57) e a categoria docentes com 10,2% (8).

DISCUSSÃO

O arquivo do CMMI tem sido objeto de atenção cuidadosa por parte de sua coordenação; ele se encontra atualmente bem estruturado dispondo de normas definidas para catalogação de todo o seu material o que permite um levantamento seguro de dados.

Na análise desta tabela ainda verificamos que os recém-graduados se distribuem entre os grupos graduados e desistentes, não havendo nenhum ele mento desta categoria no grupo vinculados. A categoria ex-residentes predomina nos três grupos considerados e seus elementos se concentram mais no grupo vinculados. A categoria docentes se distribui, também, nos três grupos.

A tabela 3 e o gráfico 2 mostram a participação das categorias docentes e não-docentes, como qualificação inicial e atual nos grupos graduados e vinculados; observamos em ambos os grupos que a proporção de docentes cresce muito, quando comparamos as qualificações inicial e atual: de 15,6% para 90,6% nos graduados e de 3,7% para 33,3% nos vinculados.

TABELA 3
PERCENTUAL DAS CATEGORIAS. DOCENTES E NÃO-DOCENTES NA QUALIFICAÇÃO INICIAL E ATUAL DE DOIS GRUPOS DO CORPO DISCENTE DO CURSO DE MESTRADO EM MEDICINA INTERNA DA UFBa (1972-81)

GRÁFICO 2
PROPORÇÃO DE PARTICIPAÇÃO DA CATEGORIA DOCENTE COMO QUALIFICAÇÃO INICIAL E QUALIFICAÇÃO ATUAL DE DOIS GRUPOS DO CORPO DISCENTE DO CMMI (1972-81)*

A análise das desistências revelou que 36,8% (7) dos desistentes abandonaram o curso na etapa I; 15,8 % (3), na etapa II; e 47,4% (9), na etapa III; o gráfico 3 ilustra este achado.

GRÁFICO 3
DISTRIBUIÇÃO DE DESISTENTES DO CURSO DE MESTRADO EM MEDICINA INTERNA DA UFBa, CONFORME A ETAPA DO CURSO EM QUE OCORREU A DESISTÊNCIA (1972-81)*

A tabela 4 mostra a distribuição de gradua­ dos e desistentes nas três categorias de qualificação inicial consideradas. Observamos maior percentual de desistentes entre os ex-residentes e o menor entre os docentes. A comparação estatístisca efetuada entre a proporção de desistentes nas três categorias, entre tanto, não foi significante (p > 0,05).

TABELA 4
DISTRIBUIÇÃO DOS GRUPOS GRADUADOS E DESISTENTES NAS CATEGORIAS CONSIDERADAS DE QUALIFICAÇÃO INICIAL DOS ALUNOS DO CURSO DE MESTRADO EM MEDICINA INTERNA DA UFBa (1972-81)

Registramos a de manda a este mestrado. O número de candidatos a um curso depende, naturalmente, de vários fatores; queremos referir, dentre estes, que o número anual de vagas para novos alunos, neste curso, tem variado de seis a dez.

O número de selecionados, por sua vez, varia também na dependência de vários elementos; queremos referir que este curso não se sente comprometido a absorver quantos o procuram, como bem o indica o percentual de selecionados, inferior a cem por cento; houve mesmo períodos em que o número de inscritos foi igual ao de vagas e, ainda nestes, não foi aproveitada a totalidade dos candidatos.

Dentre os selecionados, três não chegaram a matricular-se; não analisamos os motivos de tal comportamento. Como estes não chegaram a iniciar o curso, eles não foram incluídos no grupo desistentes.

Registramos o percentual de graduados e desistentes deste mestrado. Acreditamos que o número de vinculados seria menor - e conseqüentemente seria maior o de graduados - se o Regimento Interno do Curso não exigisse dissertações de conclusão de caráter prospectivo, que requerem longo tempo para a sua execução. Consideramos, entretanto, esta exigência muito correta; ela representa um dos elementos mais importantes para a qualificação das dissertações deste curso.

Mostramos que o grande contingente de alunos deste mestrado esteve representado por ex­residentes. O pequeno número de docentes que participou deste corpo discente pode decorrer do fato de se solicitar do aluno uma dedicação de aproximadamente 40 horas semanais, durante os dois primeiros anos de curso; até pouco se exigia, mesmo, regime de dedicação exclusiva.

A participação da categoria recém-graduados é explicada pelo fato de, até 1974, não ser necessário o pré-requisito de residência médica para o aluno ingressar no curso; em 1975, entretanto, instituiu-se este pré-requisito. Isto explica também a falta desta categoria no grupo vinculados e a maior concentração da categoria ex-residentes nesse mesmo grupo.

Os graduados deste curso estão atualmente, em sua quase totalidade, absorvidos pela UFBa, embora muitos deles se encontrem ainda como Professores Colaboradores; muitos vinculados já participam, também do corpo docente da Universidade; se observarmos o pequeno número que ingressa como docente, percebemos melhor o nível de aproveitamento dos alunos e ex-alunos deste curso.

Registramos que as desistências ocorreram principalmente no início e no fim do curso. Dificuldades iniciais tipo adaptação à carga horária solicitada pelo mestrado e ao valor financeiro da bolsa concedida provavelmente justifiquem o percentual elevado de desistências na etapa I. Vencidas estas dificuldades iniciais, o número de abandonos cai nitidamente na etapa II. Na etapa III, já cumpridos todos os créditos e já iniciada a dissertação, o aluno geralmente não recebe bolsas, de vez que o número destas não permite distribui-las a todos os mestrandos; também, nesta etapa, já não se requer do aluno a dedicação ao curso de 40 horas semanais; os seus compromissos extra-mestrado crescem, então, aí, estes fatos, possivelmente, se somam - e pesam muito - às dificuldades naturais que se interpõem à execução de qualquer trabalho científico, sobretudo nas áreas em desenvolvimento. Acreditamos que a isso se deva o elevado índice de abandono na etapa III. Recentemente temos redobrado nossos esforços no sentido de continuar a concessão de bolsas aos mestrandos nesta última etapa do curso.

Não encontramos evidências de que as desistências possam depender do nível de amadurecimento do aluno ao ingresso, uma vez que não houve diferença estatisticamente significante entre as proporções de desistentes nas três categorias de qualificação inicial consideradas. Isso não permite, porém, admitir que a residência médica não deva constituir um pré-requisito a este curso; evidentemente, muitos outros fatores não analisados contribuem para as desistências.

CONCLUSÕES

Da análise efetuada, concluímos:

  1. O CMMI tem sido procurado por uma média anual de 13 candidatos.

  2. O percentual de selecionados é 65,3%.

  3. O percentual de graduados é 41,0% e o de desistentes, 24,3%.

  4. Os ex-residentes representam o principal componente do seu corpo discente, embora recém-graduados em Medicina e docentes também participem dele.

  5. O atual percentual de docentes, dentre aqueles que se graduaram é 90,6%; dentre aqueles ainda vinculados é de 33,3%.

  6. As desistências foram consideravelmente mais numerosas nas etapas inicial e final do curso.

  7. Não há evidências de que exista relação entre desistências e qualificação do aluno ao ingressar ao curso.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • 1
    BRASIL. MEC. CFE. Parecer n.o 985/72. Documenta, Brasília (142): 224-226, set. 1972.
  • 2
    _____. _____. _____. Parecer n.o 837/79. Documenta, Brasília (223): 247-248, jun. 1979.
  • 3
    SPIEGEL, M. R. Estatística 4. ed. São Paulo, Ed. McGraw-Hill do Brasil, 1972, p. 282-3.
  • 4
    UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA. CÂMARA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA. Normas complementares para os cursos de pós­ graduação. Salvador, 1980.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jan 2022
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 1982
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